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FACULDADE MAÇICO DO BATURITÉ – FMB

TEOLOGIA E HISTÓRIA COM ÊNFASE NO ARMINIANISMO


CLÁSSICO

TEOLOGIA CONTEMPORÂNEA

PROFESSOR PAULO MAURÍCIO

MARACANAÚ – CE
2021
ESBOÇANDO A TEOLOGIA BARTHIANA

JOSE THIAGO DA SILVA

MARACANAÚ – CE
2021
A história da teologia caminhou de mãos dadas com a própria
história da humanidade, a cada mudança comportamental e social se via
reflexos no pensamento religioso. As mudanças culturais e de padrões
fizeram com que os construtores da dogmática reavaliassem certas
premissas impostas pelas instituições que representavam o cristianismo.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, vemos surgir com um
pastor suíço chamado Karl Barth, uma escola de pensamento contra o
naturalismo liberal de Schleiermacher, cuja premissa maior fundamentava
o cristianismo na experiência humana considerando a fé em elemento na
vida espiritual do homem, ou seja uma participação intrínseca humana. No
seu comentário da Carta aos Romanos, Barth engloba também um protesto
vigoroso contra aquelas escolas já existentes que tinham transformado a
teologia em ciência da religião e tinham apresentado a análise histórico –
crítica da Bíblia como a única interpretação possível. Mais tarde, em 1922,
Barth publica a segunda edição desse material totalmente revisado, onde
podemos considerar o surgimento de uma escola que seria conhecida como
Escola Dialética. Barth também se envolveu em questões políticas, sendo
um dos líderes da igreja confessante, um importante documento que serviu
de base no conflito da igreja contra hitlerismo, a declaração de Barmen,
baseou – se em sua teologia.
A teologia dialética de Barth surgiu em resposta a crise cultural
que respingava na vida religiosa da Europa, resultante da primeira guerra
mundial, entre outras coisa fazia uma violenta critica a escola da história
das religiões, mesmo que não rejeitando a interpretação histórico – crítica
da Bíblia em si, mas acreditou que essa deixava de cumprir seu papel se
ocupando de questões periféricas e deixando de enfrentar os problemas
reais dos textos em consideração. No seu comentário da Carta aos Romanos,
Barth se dispõe a substituir a interpretação meramente filosófica e histórica
por uma exposição dialética mais profunda do material bíblico.
Encontrando sua inspiração principalmente nos clássicos da
tradição cristã, como Lutero e Calvino. Entretanto, Barth não estava
reproduzindo meras cópias do material dos reformadores, a dialética que
encontrou na Bíblia não é como acontece com Lutero, o contraste entre a
ira e a graça de Deus, entre o pecado do homem e a justiça providenciada
por Deus, é antes o contraste fundamental entre eternidade e tempo, Deus
como Deus e o homem como o homem. Pegando como gancho a teologia
de Kierkegaard em sua diferenciação qualitativa infinita entre o tempo e
eternidade “Deus está no céu, e tu estás na terra”, dizia que a relação deste
Deus com este homem, e a relação deste homem com este Deus é o tema da
Bíblia como também a totalidade da filosofia.
Barth acreditava que a única fonte da teologia consistia na palavra
de Deus, que essa é apresentada de três formas; a primeira, é Jesus Cristo;
a segunda é a Bíblia e a terceira a proclamação do evangelho pela igreja,
sendo que essas duas últimas são instrumentais tornando – se palavra de
Deus por revelar a Jesus Cristo. Essa estruturação da teologia barthiana
denota uma notória distinção entre o humano e o divino, dando assim uma
ênfase para a revelação divina aos que em espírito de humildade mostram –
se receptivos as ações divinas e a mensagem da igreja.
A ideia de revelação ou palavra de Deus barthiana como
apresentada em suas duas obras dogmáticas de 1932 e 1938, reforçam este
contraste entre humanidade e eternidade, sendo que o conceito de eterno
nesse contexto não sugere prolongamento do tempo, ou eternidade no
sentido bíblico de nova era, como Barth usa o termo refere – se ao
puramente transcendental que nada tem em comum com o tempo e que
portanto pode estar igualmente presente em todas as épocas.
Também a ideia de proclamação, ou quérigma constitui ponto de
partida para a teologia e fundamento do pensamento de Barth, e muitos
outros teólogos modernos tomaram de empréstimo essa ideia, essa
proclamação assume posição central nessa conjuntura objetivando a
atividade teológica e mais ainda, a palavra de Deus confronta a congregação
ouvinte hoje. Assim é que o encontro divino – humano ocorre, conduzindo
a decisão de fé. Entendendo esses conceitos da teologia barthiana, podemos
destacar a característica acentuadamente cristológica de seu pensamento.
Para Karl Barth, o começo, meio e fim da doutrina bíblica é Jesus
Cristo, sua vida, morte, ressurreição e exaltação, é Ele que torna justificado
todo o empreendimento humano em uma busca pela a aproximação do
divino. Nas encruzilhadas doutrinarias, e nos dilemas da fé deveríamos
fazer o seguinte questionamento: O que isso significa a luz do Cristo? Para
ele, a Bíblia e a pregação são testemunhas fieis do Ser transcendental que
comunicou – se com sua criação, em Cristo e esse revelado através da
revelação especial (Bíblia) e querigmaticamente. Com isso o divino não
pode ser de nenhum modo colocado no mesmo nível com qualquer coisa
temporal ou humana, podendo esta apenas apontar na direção Daquele,
existindo um abismo entre Deus e o homem que foi ultrapassado em um
ponto. Isso ocorre na encarnação, quando a eterna Palavra de Deus ver por
bem assumir a natureza humana, e o fez em Jesus Cristo. Essa aproximação
evidenciou expressivamente a liberdade soberana de Deus, ação que
ocorreu exclusivamente dessa liberdade. Barth encontra isto ilustrado no
nascimento através da virgem: o milagre da encarnação teve lugar sem
qualquer cooperação humana.
Deste modo, explicando melhor a cristologia barthiana, visto não
ser possível qualquer contato entre o divino e o humano a não ser na
encarnação, o resultado é que todas as questões no campo da dogmática são
relacionadas ao estudo da cristologia. A exemplo, a relação entre Deus e o
homem, que é tema básico da teologia, foi demonstrado de forma exemplar
através de Cristo, nele vemos refletido o modo de Deus tratar com o homem
e a obediência do homem e sua elevação à semelhança com Deus. Sendo
assim, a criação não tem outro significado senão o de prefigurar a ação de
Deus que seria realizada em Jesus.
A eclesiologia de Barth, bem como sua ética, também foram
desenvolvidas a partir de sua cristologia, supunha ele, que ambas servem
para explicar a relação entre Deus e os homens sendo ilustrada na pessoa e
obra de Cristo.
Barth relaciona a doutrina da predestinação a sua cristologia de
modo esclarecedor, como a linha reformada a qual pertence, ele acredita em
uma predestinação dupla, mas não da forma convencional, que crer que uns
foram escolhidos para serem salvos e outros para serem condenados. Em
vez disso, coloca em Cristo a representação dessa escolha e rejeição.
O destino sofrido por Cristo reflete um processo intratrinitário
com o qual Deus escolhe o Filho, e nele a espécie humana, e que rejeitou o
Filho e permitiu que se submetesse a morte a fim de que pudesse ser
ressuscitado para a glória eterna na ressurreição e através dela. A
predestinação é, pois, uma decisão eterna feita por Deus, significando que
os homens, todos os homens, são admitidos a salvação, enquanto que o
próprio Deus, na forma de Filho, toma sobre si mesmo a condenação. Isso
significa para Barth que o relato do Novo Testamento referente a Jesus de
Nazaré não é em si só mensagem de salvação, mas apenas uma referência
a, ou imagem de, algo que teve lugar na esfera eterna como processo dentro
da divindade.
Barth vê a morte e a ressurreição de Jesus como analogia ao
processo eterno de Deus rejeitar e escolher o Filho, a luz dessa interpretação
a vida terrena de Jesus, em sua maior parte, é de importação secundaria, a
rejeição de Cristo por parte de Deus não fica clara até o momento de sua
morte, sendo sua eleição eterna revelada na ressurreição. Ao mesmo tempo
o que ocorreu na vida de Cristo serve como paradigma para a salvação de
toda a humanidade. Chegando a perceber a salvação eterna, o homem vem
a participar nela. Esta percepção chega ao homem através da pregação do
evangelho de Cristo, através da Palavra proclamada. Concluindo, Karl
Barth em sua teologia repudia por completa toda a teologia naturalista de
seus dias.

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