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FACULDADE MAÇICO DO BATURITÉ – FMB

TEOLOGIA E HISTÓRIA COM ÊNFASE NO ARMINIANISMO


CLÁSSICO

FILOSOFIA DO CONHECIMENTO

PROFESSOR ME. GEILSON ROCHA

MARACANAÚ – CE
2021
FILOSOFIA DO CONHECIMENTO

JOSE THIAGO DA SILVA

MARACANAÚ – CE
2021
A atitude filosófico – crítica a serviço da teologia cristã

Antes de entrarmos propriamente no assunto devemos analisar a


seguinte premissa: o exercer da fé anula o uso do intelecto e do senso
reflexivo nato no homem? Jonh Stott em seu livro “Crer também é pensar”
corrobora com o que irá ser defendido nesse texto declarando que ao criar o
homem a sua imagem e semelhança, a característica mais nobre dessa
semelhança é a capacidade de pensar. Também justifica a necessidade dos
cristãos usarem suas mentes em prol da proclamação do evangelho
declarando o seguinte:
“A primeira razão se apresentará a todo crente que deseja ver o
evangelho proclamado e Jesus Cristo reconhecido no mundo todo. Trata-se
do poder do pensamento humano na concretização de ações. A História está
repleta de exemplos da influência que grandes idéias exercem. Todo
movimento de poder teve a sua filosofia que se apossou da mente, inflamou
a imaginação e capacitou a devoção de seus seguidores”.
O evangelho nunca foi antintelectualista, os autores bíblicos
sempre estiveram aliando a porção que receberam da revelação com a
produção do pensamento humano existente em seus dias, uma prova cabivel
se expressa na apresentação joanina de Cristo no prólogo de seu evangelho
descrevendo – o como o Logos que trouxe a existencia todo o universo e
havia encarnado para redimir sua criação prima, o homem, pecepção essa
que tem seu berço na filosofia grega sendo Heráclito o primeiro proponente
do termo para algo semelhante a estrutura cosmológica esboçada por João
aqui. Para ele, logos era o conceito responsável por prover a conexão entre o
discurso racional e a estrutura racional do mundo. Heráclito sugere a
existência do logos como uma entidade universal independente. Paulo
também em sua visita a Atenas durante seu discurso faz citação de filosofos
cretenses, o mesmo apóstolo aconselha o estimo da mente quando escreveu
aos filipenses “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que
é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo
o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor,
nisso pensai”. Podemos dizer também que uma atitude reflexiva e
questionadora faz parte do processo de aceitação, isso é visto em Bereia,
durante a exposição de Paulo os irmãos bereanos esboçaram uma atitude
analitica e de ponderação para comprovar o que Paulo discorria. Jesus
também apresentou uma defesa apurada ao uso do raciocínio no estudo das
Escrituras quando em Jo 5:39 usou a termo “examinai”, pois está atitude
demanda uma apreensão racional, critica, parcial e municiada de uma
bagagem intelectual sólida na obtenção de prognosticos e diagnosticos sobre
um assunto, no caso aqui a palavra de Deus. Esses são apenas alguns dos
varios exemplos das escrituras que atestam a participação da nossa mente no
processo construtivo da nossa fé.
Agora entendamos o que seria uma atitude filosofica e uma atitude
crítica, e como essas podem ser adequadamente aplicadas no exercicio do
viver cristão. Quando buscamos respostas para as crenças e sentimentos que
alimentamos, quando há uma recusa do obvio, gerando um senso
investigativo dos fatos, teses e pensamentos a nós apresentados como
evidentes, a isso chama – se atitude filosofica. A critica é a negativa as
preconcepções, os preconceitos e pré – juizos que se imponhem no cotidiano.
É essa atitude crítica que estimula as indagações e a
investigação.
As nossas próprias atitudes filosóficas aplicadas
inconscientemente no cotidiano, como nossas negações, indagações e
preferencias também tornam justificada e explicada o uso do senso critico e
o exercicio do pensar filosofico para assuntos mais complexos, como a nossa
fé por exemplo. Claro que ao defendermos esse uso do metodo filosofico em
questão, não estamos dizendo ser esse o determinante para a obtenção e
compreensão da fé, ou dizendo pretenciosamente que nossa mente é capaz
de se equiparar a mente que originou o material escrito da nossa fé, a Bíblia.
Reconhecemos piamente que nossa mente material e limitada de
criaturas não alcançam a mente sempiterna do nosso Criador e Senhor, como
o mesmo declarou pelo seu profeta Isaias 55:8,9 “Pois os meus pensamentos
não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus
caminhos, declara o Senhor...” mas como expuseram alguns nomes da
teologia que também fizeram uso da filosofia, a exemplo Tomás de Aquino,
que a fé não é inimiga da razão, a razão é serva da teologia.
Argumentando a partir da própria história cristã, podemos
conceber como justificado essa atitude filosófica – critica, imaginemos por
exemplo que se os reformadores e os pré reformadores antes deles não
tivessem começado a pensar e a questionar os dogmas impostos como
verdadeiros naqueles dias nossas mentes ainda estariam debaixo julgo
religioso extremista e fechado e a ignorância teria vencido. Em vários
momentos da nossa história mentes pensantes tiveram que entrar em ação
para combater algum excesso doutrinário ou teológico alguma discrepância
de momento e estabelecer uma teologia sadia e equilibrada. A exemplo
podemos citar o racionalismo como um movimento cultural situado entre os
séculos XVI e XIX. Mais do que uma doutrina gnosiológica ou teoria do
conhecimento, o Racionalismo foi uma perspectiva cultural global. Foi uma
das correntes filosófico-científicas do homem da Idade Moderna. Para o
Racionalismo, o homem pode chegar pela razão, a verdades de valor
absoluto. Seja a partir de fatos, os quais, ultrapassando a mera força dos
sentidos, o homem pode, com a força da razão, abstrair e atingir condições
transcendentais do mundo; seja a partir da pura intuição, que prescinde dos
fatos. Essa corrente de pensamento tinha René Descartes, como seu pai e
idealizador. Descartes defendia a ideia de que a razão absoluta é a única
forma possível para o desenvolvimento da vida humana. Reagindo ao
racionalismo iluminista de Descartes, surgiu o Liberalismo Teológico,
propondo uma teologia natural, ou seja, diante dos questionamentos da
historicidade das Escrituras pelos racionalistas, argumentava que a
verdadeira religião seria dependente do sentimento humano da comunhão
com Deus. Deus só poderia ser experimentado por meio do sentimento, não
através da razão, pois a humanidade ao ser consciente de seu próprio pecado
e de sua necessidade de redenção, que só pode ser realizada por Jesus Cristo,
deveria renunciar-se a ele. O pensador mais importante e defensor desse
movimento foi Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (Breslau, 21 de
novembro de 1768 – Berlim, 12 de fevereiro de 1834) foi pregador
em Berlim na Igreja da Trindade e professor de Filosofia
da Teologia na Universidade de Berlim. Traduziu as obras de Platão para
o alemão. Podemos citar também outro teólogo, Albrecht Ritschl (1822-
1889), que impulsionou a teologia liberal. Ritschl discordava da ênfase de
Schleiermacher no sentimento, pois isso levaria a um sentimentalismo, um
misticismo ou um subjetivismo. Antes, a crença religiosa deveria ser baseada
objetivamente nos eventos históricos registrados no Novo Testamento, pois
seria o testemunho da missão divina de Jesus. Todo o conhecimento
disponível da história, da linguística e arqueologia deveria ser recrutado para
o estudo da Bíblia. Veja que diante desses dois exemplos a jornada do
cristianismo através dos séculos foi marcada por ações e reações do intelecto
em busca de apreensão das verdades da fé universalmente reveladas, mas
que complexamente se apresentam. A conclusão é: não dar para anular o
processo intelectual, pois o mesmo está essencialmente ligado ao espiritual,
na realidade os dois estão sediados no mesmo âmago da existência humana.
Que não podemos é confundir quem deve reger o processo, a
Teologia deve sempre reger os processos filosóficos e humanísticos, e onde
esses se limitarem devemos ficar com a fé, nossa inteligência espiritual
graciosamente concedida pelo calvário.

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