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O Justo Viverá da Fé 1

O JUSTO VIVERÁ DA FÉ

"Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está


escrito: Mas o justo viverá da fé." Romanos 1:17.

Era um jovem estudante com um elevado quociente de inteligência.


Acompanhando seu progresso intelectual, os professores anteciparam-lhe
um futuro promissor e brilhante. Depois de haver concluído os estudos
secundários, ingressou na universidade com o propósito de se
especializar em leis.
Enquanto estudava na Universidade, um problema que o angustiava
se intensificou: a ausência de paz interior. Perturbado por grandes
inquietudes religiosas, sentia a consciência acicatada por um constante e
esmagador sentimento de culpa.
Posteriormente, contrariando as aspirações de seu pai, abandonou a
Universidade e entrou para um mosteiro, animado pelo anseio de
encontrar a paz tão indispensável para o coração perturbado e aflito.
Ele cria em um Deus iracundo, severo e inclemente, cuja ira só
podia ser aplacada através de rígida penitência e constante disciplina
pessoal.
Passava dias incontáveis imerso no mundo do silêncio, absorto em
profundas reflexões sobre a natureza de Deus e Seu relacionamento com
o homem. Jejuava pelo menos cem dias por ano. No inverno dormia
desnudo sobre o piso frio, sem cobertor ou agasalho. Levantava-se duas
ou três vezes durante a noite para orar a Deus em silêncio.
Conhecendo as tensões e angústias que o oprimiam, seus superiores
lhe recomendaram a leitura dos escritos de Pedro Lombardo, João Duns
Escoto e Tomás de Aquino, teólogos intérpretes do pensamento
escolástico-medieval. Vendo-o frustrado em seus esforços por encontrar
a paz, enviaram-no a Roma.
Pensando poder calar o clamor angustioso da alma, ele subiu sobre
suas mãos e joelhos a legendária escada de Pilatos, situada em uma das
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basílicas patriarcais em Roma. Repetindo o Pater Noster (Pai Nosso), e
beijando cada degrau, alimentava a esperança de assim liberar uma alma
do purgatório. Ao chegar ao topo da escada, entretanto, sua mente foi
iluminada por um pensamento que mudou o curso de sua vida e,
posteriormente, modificou a corrente da História.
". . . de súbito " – escreveu Ellen G. White - "uma voz semelhante a
trovão pareceu dizer-lhe: 'O justo viverá da fé.' Romanos 1:17 Ergueu-se de
um salto e saiu apressadamente do lugar, envergonhado e horrorizado. Esse
texto nunca perdeu a força sobre sua alma." 1
Certamente a dramática experiência de Lutero se assemelha em
alguns aspectos à experiência vivida por muitos adventistas durante os
anos formativos da Igreja.

Quatro Décadas de História

Os pioneiros do movimento adventista, Tiago White, José Bates,


Hirã Edson e outros, criam na suficiência do sacrifício vicário de Cristo.
Antes de se identificarem com o adventismo, haviam experimentado o
gozo da conversão em suas igrejas de origem. Temas fundamentais como
o arrependimento, novo nascimento, justificação pela fé, a graça
redentora, etc., eram considerados por eles como preciosas verdades
evangélicas.
Não obstante, em seu ministério, davam especial realce às doutrinas
que nos são peculiares, verdades que haviam sido então restauradas.
Devido à ausência de ênfase na pregação dos grandes temas do
evangelho, foram rotulados como legalistas e judaizantes pregadores da
lei de Moisés, como instrumento de salvação.
As razões que justificavam este destaque na proclamação das
doutrinas caracteristicamente adventistas eram evidentes. À medida que
a igreja crescia, multiplicavam-se os ataques contra ela. Proliferavam por
toda a parte um sem-número de publicações denunciando as "heresias"
adventistas. A observância do sábado passou a ser o ponto focal das
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investidas adversárias. Para invalidar a importância do quarto
mandamento, os pregadores protestantes elaboraram argumentos
especiosos e refinados sofismas, em um esforço inútil por provar que
Deus modificou a lei ou proscreveu a vigência do Decálogo.
Refutando tais argumentos, os pregadores e escritores adventistas
dedicaram demasiada atenção às doutrinas controvertidas, relegando
inconscientemente a um plano secundário, temas vitais como Cristo e
Sua justiça, a conversão, a justificação e a santificação.
Os artigos publicados em nossos periódicos, e os sermões pregados
em nossas cruzadas de evangelização se inspiravam em um estilo
polêmico e combativo. Alguns de nossos ministros se tornaram hábeis
polemistas. Em debates memoráveis, com talento e brilho, logravam
neutralizar os argumentos antinominianos, silenciando a arrogância
adversária. Porém, estas polêmicas produziam resultados escassos e
limitados.
Preocupada com os constantes debates nos quais se envolviam
nossos ministros, escreveu a serva do Senhor: "Estas discussões, orais ou
escritas, produzem mais danos que benefícios."2
Em histórico sermão, pregado em 1888, a Sra. White exortou:
"Abandonai o espírito de controvérsia, no qual vos estais educando
durante anos."3
Com efeito, nestas inflamadas discussões públicas, os relâmpagos
do Sinai ofuscavam com freqüência os fulgores do Calvário.
Os triunfos pessoais alcançados nestes debates alimentavam um
espírito de suficiência própria, responsável pelo naufrágio espiritual de
alguns de nossos mais talentosos obreiros.
Hirã S. Case, após um ministério efêmero, caracterizado por
exaltadas confrontações com os adversários da Igreja, renunciou ao
adventismo em 1854.
Moisés Hull, talentoso e eloqüente evangelista, escritor prolífico,
após inúmeras vitórias conquistadas em memoráveis debates públicos,
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defendendo a fé adventista, abandonou a Igreja e se identificou com o
espiritismo.
B. F. Snook e W. H. Brinkerhoff, respectivamente presidente e
secretário da Associação de Iowa, jamais dissimularam o espírito
polêmico e combativo que os animava. Em 1886, entretanto, deixaram a
Igreja e fundaram um movimento dissidente proclamando entre outras
excentricidades, a teoria universalista segundo a qual todos os seres
humanos serão salvos.
D. M. Canright, no calor de ásperos debates, revelou brilho, retórica
e eloqüência. Mas permitiu-se, como resultado, ser dominado por um
espírito enfatuado e arrogante, convertendo-se, após sua apostasia em
1887, em um mordaz, amargo e implacável adversário da Igreja.
"Aqueles que gostam de estar em tais dissensões " – escreveu E. G.
White – "em geral perdem a espiritualidade. Não confiam em Deus como
deveriam. Usam a teoria da verdade para fustigar seus oponentes. Os
sentimentos próprios de um coração pecaminoso produzem os argumentos
sarcásticos, usados como aporte para irritar e provocar os opositores. O
espírito de Cristo nada tem em comum com isto." 4
O destaque que os adventistas davam nestes debates à lei e ao
sábado, produzia a convicção generalizada de que criam mais na
salvação por obras meritórias que pela fé em Cristo Jesus.
É certo que haviam aceitado a Jesus quando desfrutaram o gozo da
conversão. A graça redentora era-lhes, pois, uma experiência viva,
irradiante e pessoal. Entretanto, sem se aperceberem, começaram a dar
um tratamento preferencial aos temas que nos são peculiares, e
inconscientemente relegaram a um plano secundário a proclamação de
Cristo e Sua justiça. A preeminência de Jesus foi imperceptivelmente
ignorada. Os sermões, artigos e editoriais obedeciam a uma orientação
gradualmente argumentativa e cada vez menos cristocêntrica.
Como resultado a Igreja sofreu as conseqüências nefastas de um
grande torpor espiritual, que precipitou a crise de 1888, um dos capítulos
mais sombrios da história do adventismo.
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Se os ministros adventistas houvessem proclamado os trovões do
Sinai e sua relação com os fulgores do Gólgota, não teriam sido atacados
com tanta veemência por adversários gratuitos, e as quatro primeiras
décadas de nossa história seriam agora consideradas pelos historiadores
como um período fecundo, caracterizado pela piedade, fervor e
dedicação de seus membros aos ideais da cruz.

A Crise Entre Duas Revistas

A tendência legalista revelada no púlpito e na experiência dos


adventistas em geral, se refletia também nos livros, periódicos e folhetos
publicados por nossas editoras.
A vigência da lei de Deus, a santidade do sábado, a imortalidade
condicional, profecias e escatologia, eram os temas preferidos pelos
escritores adventistas. A justificação pela fé, embora considerada como
importante verdade bíblica, não recebeu entre eles um tratamento
prioritário.
Investigando as cópias da revista oficial da igreja – Review and
Herald – publicadas durante aquele período, descobrimos uma alarmante
e sintomática pobreza de artigos sobre Cristo e Sua obra redentora.
Em 1877 saiu à luz o livro The Biblical Institute (O Instituto
Bíblico). Era uma obra de 352 páginas, publicada com o propósito de
explicar em forma sistemática a teologia adventista. Porém,
surpreendentemente, não encontramos neste livro nenhuma menção à
salvação pela fé em Jesus.
Despontou, entretanto, no seio da Igreja, um homem que prestou
relevante e inolvidável contribuição à causa do adventismo: Harvey
Waggoner. Com apenas seis meses de educação formal, revelou-se
extraordinário autodidata. Compensou suas limitações acadêmicas
mediante intenso e disciplinado programa de estudo pessoal.
Antes de aceitar a mensagem adventista, havia sido batista e editor
de um pequeno diário de orientação política no Estado de Wisconsin.
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Como adventista, revelou-se talentoso evangelista e escritor
versátil. Deplorando a ausência de ênfase na proclamação de Cristo e
Seu poder redentor, escreveu em 1874 uma série de artigos na revista
The Signs of the Times, sobre Cristo, a esperança do mundo.
Em 1881, substituindo o falecido editor da revista, Pastor Tiago
White, decidiu como parte de sua política editorial publicar, se possível,
em cada número um artigo sobre a graça redentora de Cristo. Para ajudá-
lo, convocou os serviços de dois novos assistentes: seu filho médico,
Ellet J. Waggoner, com pouco entusiasmo pela medicina e acentuado
interesse pelos temas teológicos; e Alonzo T. Jones, um ex-militar que se
converteu a Cristo.
Ambos determinaram exaltar em seus escritos os "atrativos
incomparáveis de Cristo. "Ninguém terá acesso ao Céu, sem o manto
imaculado da justiça de Cristo", reiteravam convictos. "Este manto não
pode ser comprado, e tão pouco obtido por obras meritórias." "Somos
salvos pela fé, sem as obras da leí'',5 acentuavam em seus artigos e
editoriais.
Esta ênfase reproduzida nas páginas da revista The Signs of the
Times, suscitou uma crescente preocupação e alarme no seio da Igreja.
Muitos entre os adventistas (e até mesmo entre os dirigentes) se haviam
identificado inconscientemente com o pensamento de que somos
justificados pela fé em Cristo e mais as obras da lei.
Como resultado, um abismo se interpôs entre a Review and Herald,
revista oficial da Igreja, e The Signs of the Times, nossa publicação
missionária.
Sob a orientação editorial de Uriah Smith, a Review and Herald
defendia uma posição legalista, uma espécie de sinergismo ou
semipelagianismo. A revista The Signs of the Times, sob a direção de J.
H. Waggoner, e seus dois assistentes, defendendo uma posição
diametralmente oposta, exaltava o princípio sola fide (somente por fé)
aclamado pelos pregadores da Reforma.
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Em 1886, Uriah Smith publicou um artigo escrito por O. A.
Johnson, no qual, consoante o autor, a lei mencionada na carta aos
Gálatas, era a legislação cerimonial.
A interpretação de Johnson foi imediatamente refutada com ardor
por E. J. Waggoner, em um artigo publicado nas páginas da revista The
Signs of the Times, defendendo a exegese de que a lei apresentada por
Paulo nessa epístola não era a legislação levítica, mas sim o Decálogo
proclamado no Sinai.
E assim desatou uma acirrada controvérsia entre dois periódicos
denominacionais, dividindo a Igreja em partidos antagônicos.
Alarmada com o debate e seus ruinosos efeitos, a Sra. White, que se
achava então na Europa, escreveu aos dois grupos litigantes,
repreendendo-os por divulgar suas diferenças. Em uma carta dirigida ao
Dr. Waggoner, assim se expressou:
"Não vacilo em dizer que o irmão cometeu um erro. Apartando-se das
diretrizes positivas que Deus deu sobre este assunto, teremos como
resultado apenas prejuízo. ...
"Devemos manter perante o mundo uma frente unida. Satanás triunfará
vendo diferenças entre os adventistas do sétimo dia. . . .
"Que pensa o irmão acerca dos seus sentimentos ao ver nossos dois
principais periódicos envolvidos em controvérsia? Conheço como eles
vieram à existência e sei o que sobre eles Deus tem dito, que não deve
haver distensões entre estas duas instrumentalidades divinas. Devem
permanecer unidas, respirando o mesmo espírito, exercitando-se no mesmo
trabalho, preparando um povo para subsistir no dia do Senhor, unido na fé,
unido no propósito."6
Com efeito, a semeadura da controvérsia produziu, pouco depois,
na Assembléia Geral de 1888, uma colheita amarga e dolorosa.

Um estudo da história durante as quatro décadas que antecederam o


momentoso encontro de 1888, nos permitem as seguintes conclusões:
1. Que a doutrina da justificação pela fé, conquanto jamais refutada,
não ocupou um lugar conspícuo no arcabouço doutrinário adventista,
durante aqueles anos.
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2. Que as exortações da Sra. White contra os perigos de um
evangelho carente de Cristo, não encontraram no seio da Igreja a
ressonância que seria de se esperar.
3. Que os ensinos que se inspiravam no princípio protestante, sola
fide, foram recebidos com preocupação e desconfiança, até mesmo por
alguns líderes da Associação Geral.
4. Que estas circunstâncias conjugadas precipitaram a eclosão da
crise de Minneapolis, encontro histórico carregado de conflitos, tensões e
emoções.

A Assembléia de 1888

A crescente controvérsia entre o inconsciente legalismo de alguns e


o princípio sola fide, defendido por outros, encontrou o seu clímax na
histórica assembléia de Minneapolis, celebrada entre os dias 17 de
outubro e 4 de novembro de 1888.
Reuniram-se naquela oportunidade noventa delegados (incluindo
três procedentes da Europa), representando 27.000 adventistas dispersos
no velho e novo continentes.
O encontro foi precedido por um concilio ministerial, realizado
entre os dias l0 e 17 de outubro. Esta reunião preparou a arena para a
grande e exacerbada batalha que quase fraturou a unidade da Igreja.
A divergência de idéias e a radicalização de conceitos se evidenciou
até mesmo na discussão de temas não relacionados com a justificação
pela fé. Em um estudo sobre o capítulo 7 de Daniel, contrariando a
opinião defendida por A. T. Jones, Uriah Smith afirmou que os hunos
representavam um dos dez reinos simbolizados pelas dez pontas do
"animal terrível e espantoso". Jones rejeitou com energia as conclusões
de Smith, insistindo que uma correta exegese excluiria os hunos e em seu
lugar porra os alamanos.
Smith declarou com modéstia que sua interpretação não era
original, pois se estribava na opinião de vários eruditos. Diante desta
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afirmação, Jones, com rispidez e cortante ironia, declarou: "O Pastor
Smith confessou que nada sabe sobre o assunto. Porém, eu conheço o
tema, e não quero que me façam responsável pelas coisas que ele
desconhece."7
O aparte de Jones foi qual faísca inflamando os ânimos, separando
de forma mais definida os grupos antagônicos. A Sra. White repreendeu
Jones por haver-se expressado de forma tão áspera, e exortou os
delegados a manifestarem uma atitude mais tolerante, cordial e cristã.
Porém, seu apelo não encontrou a ressonância que seria de se esperar.
Divididos entre "hunos" e "alamanos" (estas duas expressões
passaram a ser usadas para identificar os dois grupos litigantes), eles
terminaram os trabalhos do concilio ministerial e, logo após, iniciaram,
na assembléia da Associação Geral, o estudo e discussão do tema a
justificação pela fé, no contexto da tríplice mensagem angélica. Os
ânimos, entretanto, pareciam demasiado exacerbados para um estudo
sereno do grande tema que então dividia a Igreja de forma aparentemente
inconciliável. Era evidente que os delegados estavam divididos em três
grupos, a saber:
1. Aqueles que aceitaram a mensagem sola fide (somente por fé) ou
sola gratia (somente por graça) como preciosa experiência religiosa, e
julgavam imperativo partilhar com outros o gozo e as alegrias resultantes
da compreensão deste tema.
2. Aqueles que resistiam à mensagem e consideravam perigosas as
"novas idéias" fermentadas nas páginas da revista The Signs of the
Times. Criam que a mensagem da justificação pela fé, tal como estava
sendo interpretada, poderia ser o começo do fim do movimento
adventista. "Permaneçamos fiéis aos marcos antigos", repetiam com
vigor.
3. Um terceiro grupo se caracterizou pela neutralidade ou indecisão.
Procurando concordar a princípio com um lado e depois com outro,
concluíram confusos, perplexos e desorientados.
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Os dois principais expoentes da pregação "somente pela fé",
representantes do primeiro grupo, se caracterizavam pela diversidade. O
Dr. Waggoner era de baixa estatura, introspectivo, refinado e erudito.
Jones, ao contrário, era alto, rude e impetuoso – um autodidata, com a
mente cheia de erudição bíblica e histórica. Waggoner era suave e
afetuoso; Jones era precipitado e sutil.
Uriah Smith, veterano escritor e redator-chefe da Review and
Herald, líder do segundo grupo, considerava as idéias apresentadas por
estes dois pregadores como séria ameaça à Igreja. Para ele o problema
era basicamente filosófico. Se somos salvos somente pela fé, que
necessidade temos de guardar a lei? Não podendo discernir a diferença
entre a fé e as obras, concluiu afirmando que a interpretação de Jones e
Waggoner militava contra a importância da lei e a instituição do sábado.
G. I. Butler, presidente da Associação Geral, não assistiu à
Assembléia de Minneapolis. Sua esposa havia sofrido um derrame
cerebral, e ele próprio sentia-se física e mentalmente alquebrado.
Entretanto, embora ausente, não ocultou sua enorme preocupação com a
nova ênfase dada pelos redatores da revista The Signs of the Times à
justificação pela fé. Enviou cartas e telegramas a todos os amigos
delegados, instando-os a rejeitar as "novas idéias". "Permanecei firmes
ao lado dos marcos antigos'', repetia em cada carta.
O encontro se caracterizou por um conflito de personalidades,
motivado não tanto por diferenças doutrinárias inconciliáveis, mas pela
vaidade, egoísmo e dureza de coração. Quando, mais tarde, se mostraram
dispostos a ouvir a voz de Deus e se humilharam, as diferenças
teológicas desapareceram.
Após vários dias de estudos e discussões a assembléia foi
encerrada, deixando no ar um sombrio sentimento de confusão e pesar.
Em uma carta escrita posteriormente, assim se expressou a mensageira
de Deus:
"Foi-me mostrado que a terrível experiência de Minneapolis é um dos
capítulos mais tristes na história dos crentes na verdade presente" 8
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Mas, apesar das tensões, conflitos e frustrações, essa assembléia
passou para a história como um evento memorável. Produziu uma grande
reforma na Igreja, um efervescente reavivamento entre aqueles que se
dispuseram a aceitar os benefícios sublimes da justificação em Cristo.

Depois de 1888

Alguns saíram desse encontro com amargura, dispostos a


neutralizar o efeito da pregação de Jones e Waggoner. Houve inclusive
uma tentativa para impedir que eles pregassem no Tabernáculo de Battle
Creek.
Porém, com o transcurso do tempo a paz e a unidade foram
restauradas. A Sra. White e os dois editores da revista The Signs of the
Times, visitaram as igrejas por toda a parte, pregando sobre a justificação
pela fé. No ano seguinte, assistindo às reuniões gerais de reavivamento
em todo o país, deram especial ênfase a este mesmo tema, proclamando
"Cristo é tudo em todos''.
Em 1890, um Instituto Bíblico foi celebrado, e nele Jones e Waggoner
tiveram uma participação destacada. Produziu-se como conseqüência um
notável reavivamento espiritual. Diversos pastores que se haviam
manifestado hostis às "novas idéias", aceitaram a mensagem e,
publicamente, confessaram-se arrependidos por haverem rejeitado a luz
de Deus.
No dia 31 de dezembro de 1890, a Sra. White enviou a Uriah Smith
um testemunho particular de 13 páginas, denunciando a debilidade de sua
experiência cristã. Uma semana após, Smith pediu uma reunião especial
com Ellen G. White e alguns dirigentes da Associação Geral. Neste
encontro leu o testemunho que lhe foi enviado e, pedindo que o perdoassem
por sua obstinada resistência, revelou-se então disposto a proclamar com
renovado fervor os "encantos incomparáveis" de Cristo e Sua justiça .9
Em 1893, o Pastor G. I. Butler, ex-presidente da Associação Geral,
em um artigo publicado na Review and Herald, sob o título ''Pessoal",
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confessou sua errônea atitude mental frente á mensagem proclamada em
Minneapolis.10
Jones e Waggoner, que antes da Assembléia de Minneapolis haviam
sido acusados como perturbadores de Israel, passaram a ser aceitos como
lídimos mensageiros, suscitados pela Providência para despertar a Igreja
e livrá-la dos efeitos entorpecedores de um legalismo vazio, destituído de
poder.
A Sra. White, animada pelo afã de salvaguardar a Igreja contra os
riscos de cair outra vez nas malhas de um evangelho sem Cristo,
consagrou sua pena à produção de cinco preciosos livros: Patriarcas e
Profetas, Caminho a Cristo, O Desejado de Todas as Nações, O Maior
Discurso de Cristo, e Parábolas de Jesus. A influência extraordinária
destes livros, reconhecidos como clássicos na literatura evangélica, tem
modelado o pensamento adventista, e preservado a Igreja contra os riscos
de um culto semelhante à oferta de Caim.

Referências:

1. Ellen G. White, O Grande Conflito, pág. 125.


2. Ellen G. White, Testimonies, vol. 3, pág- 213.
3. Ellen G. White - Excertos de um sermão inédito pronunciado na
assembléia de Minneapolis, Estado de Minnesota, em 1888;
Citado por Norval Pease, em By Faith Alone, pág. 138.
4. Ellen G. White, Testimonies, vol. 3, pág. 285.
5. Romanos 3:28.
6. Ellen G. White, Counsels to Writers and Editors, págs. 75-80.
7. Citado por Norval Pease, em Solamente por Fe, pág. 113.
8. Ellen G. White, Carta 179, 1902; Citado por A. V. Olson, em
1888-1901 – 13 Crisis Years, pág. 43.
9. A. V. Olson, em 1888-1901 – 13 Crisis Years, págs. 97-107.
10. Idem, págs. 91.93.

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