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CAPÍTULO 11

Desenvolvimento doutrinário
(1849-1888)

Os adventistas do sétimo dia não e dos eventos que precedem a segunda


estavam surpresos com o crescimen- vinda se ampliaram consideravelmente.
to contínuo de sua igreja em seguida à Embora pelo final de 1848 eles tivessem
morte de Tiago White. Conquanto re- concordado sobre doutrinas fundamen-
conhecessem o papel importante que tais, que sempre seriam consideradas
ele havia desempenhado em sua organi- como as colunas de sua fé, também re-
zação, eles viam seus triunfos não como conheciam que o estudo minterrupto
resultado do esforço humano, mas da poderia levar a uma compreensão mais
decisão divina de apresentar uma última completa dessas “verdades”. Assim, eles
mensagem de advertência ao mundo. O resistiram com firmeza à formulação ou
estudo intensivo da Bíblia em seguida à apropriação de um credo doutrinário
ao Grande Desapontamento os levou a específico e abrangente.
se identificarem como os arautos divi- Vários outros fatores predispuseram
namente comissionados das três mensa- os adventistas do sétimo dia a suspei-
gens angélicas retratadas em Apocalipse tarem de credos formais. Em diversas
14:6-12. Eles eram o povo da profecia; ocasiões, durante a fase final do mo-
Deus estava ao seu lado. “Nós temos a vimento milerita, os adventistas foram
verdade”, escreveu Ellen G. White, com excluídos da comunhão de suas igrejas
confiança, em 1850. “Sabemos disto.” por causa de suas opiniões mileniais.
Estas tinham sido interpretadas como
Rejeitado o credo formal contrárias aos credos denominacionais
Ao mesmo tempo, os líderes adven- oficiais. Sem dúvida, as experiências de
tistas do sétimo dia tinham aprendido José Bates e Tiago White em suas liga-
de sua experiência milerita os perigos de ções com a Conexão Cristã reforçaram
explicitar suas crenças, ao menos no to- uma suspeita dos credos. No início do
cante ao tempo, com precisão exagerada. século 19, essa denominação tinha as-
Nos anos que se seguiram a 1844, seus sumido a posição de que a Bíblia seria
conceitos da obra expiatória de Cristo o seu único credo, e o caráter cristão, a
sua única prova de comunhão. Postu- linguagem ofensiva usada por muitos
ra semelhante foi adotada pelos líderes dos preeminentes ministros do início
adventistas do sétimo dia durante sua do adventismo, é surpreendente que
luta organizacional de 1861. Quando, não apareça uma clara condenação do
mais de uma década depois, finalmente trinitarianismo.
os adventistas do sétimo dia publicaram Da mesma forma, talvez a ligação
uma declaração de crenças fundamen- de José Bates e Tiago White com a Co-
tais, anunciaram cuidadosamente que nexão Cristã possa explicar sua rejer-
eles não tinham “nenhum artigo de fé, ção do trinitarianismo. À crença geral
credo, ou disciplina fora da Bíblia”. nos círculos da Conexão Cristã era que
Um pequeno panfleto categorizan- Cristo era Filho de Deus e Salvador do
do as crenças fundamentais adventis- homem, mas não coeterno com Deus o
tas do sétimo dia foi publicados em 25 Par. O Espírito Santo era considerado
artigos, em 1872, não para “assegurar como uma “santa influência” em vez de
uniformidade”, mas antes “para res- como uma pessoa da Divindade. Já em
ponder a indagações”, “corrigir falsas 1848, Tiago White havia se referido ao
declarações”, e “remover impressões conceito trinitariano como “não escri-
errôneas”. Os líderes adventistas do turístico”. Loughborough, Uriah Smith,
sétimo dia estavam particularmente J. H. Waggoner e D. M. Canright eram
ansiosos de diferençar seus pontos de apenas os mais preeminentes teólogos
vista daqueles mantidos por outras cor- adventistas do sétimo dia que concor-
porações adventistas, “alguns dos quais, davam com White e Bates, que o trint-
pensamos, são subvertedores dos mais tarianismo era contrário ao bom senso
claros e mais importantes princípios e de origem pagã. Eles o consideravam
apresentados na Palavra de Deus”. Es- simplesmente um outro exemplo, com-
ses 25 princípios fundamentais, reim- parável ao domingo e à imortalidade
pressos posteriormente na Review e no natural do homem, de que a Igreja Ca-
Sions of the Times, formam um tram- tólica havia pervertido os claros ensinos
polim adequado para a discussão dos das Escrituras. Durante sua comparati-
avanços da teologia adventista do séti- vamente breve permanência entre os
mo dia durante os primeiros 25 anos de adventistas sabatistas, J. M. Stephenson
existência organizada da denominação. promoveu acentuadamente as opiniões
arianas da Divindade. O próprio uso
Conceitos trinitarianos dos termos “Par” e “Filho”, defendia
As duas primeiras proposições dos Stephenson, ressaltava o absurdo da
Fundamental Principle [Princípios Fun- coeternidade; os filhos são sempre mais
damentais] de 1872 proclamavam a novos do que seus pais.
crença em “um só Deus” e “um só Em parte, a posição dos pioneiros
Senhor Jesus Cristo”, mas não havia adventistas do sétimo dia era determi-
nenhuma afirmação do conceito tri- nada pela variedade de opiniões trinita-
nitartano de Deus, comum à maioria tianas então em voga. Homens como
das declarações dos credos. À omis- White, Bates e Canright se opunham a
são parece deliberada, em vez de aci- qualquer conceito trinitariano que inter-
dental. De fato, quando se considera a pretasse os três membros da Divinda-
de como desprovidos de personalidade diante de Deus. Portanto, arrazoavam
individual e “sem forma ou aparência”. Eles, a expiação não ocorreu na cruz,
Para os intérpretes da Bíblia somente, mas no santuário celestial em seguida à
tais noções eram “nauseantes”. Uriah ascensão de Cristo.
Smith arrazoava que as referências bíbli- Foi O. R. L. Crosier que, em seu ar-
cas ao Espírito Santo aparecendo como tigo no Day-Star Extra de 1846, iniciou
uma pomba ou como fendidas línguas a nítida diferenciação sobre o tempo da
de fogo mostravam que Ele não podia expiação. Embora os líderes adventistas
ser uma pessoa. Ainda em 1891, ele sabatistas se beneficiassem grandemente
definiu o Espírito Santo como “aquela da exposição de Croster sobre o santuá-
emanação divina e misteriosa por meio rio celestial, eles recuaram de sua inter-
da qual eles [o Pai e o Filho] levam avan- pretação da “era vindoura” da expiação,
te sua grande e infinita obra”. pois, de acordo com ela, terminaria so-
Pelo final do século, o ministério ad- mente no final do milênio. Às opiniões
ventista tinha em grande parte mudado da “porta fechada” de José Bates e Tiago
de direção, passando a ter uma opinião White fizeram com que eles tendessem
da Trindade como três membros da Di- a pensar que Jesus não estava mais 1n-
vindade coiguais e coeternos, unidos tercedendo pelas multidões após a sua
em substância, propósito e caráter, mas mudança para o lugar santíssimo em 22
cada um com sua própria personalidade de outubro de 1844. As únicas exceções
e obra. Essa mudança de ponto de vista que eles reconheciam eram por aqueles
parece atribuível grandemente a opini- que não tinham conscientemente rejeita-
ões expressas por Ellen G. White com do, e posteriormente acettariam, as men-
crescente frequência. Suas declarações sagens de Apocalipse 14. Tais pessoas
tornaram-se muito específicas durante a tinham seus nomes guardados no lugar
década de 1890. Nunca houve um tem- santíssimo sobre a couraça da justiça.
po em que Cristo não existisse, escreveu Como cada vez mais pessoas eram
ela em sua biografia de Jesus, O Desejado acrescentadas às fileiras dos adventistas
de Todas as Nações. Quanto ao Espírito sabatistas durante a década de 1850, um
Santo, Ele era uma “pessoa” e “Deus estudo adicional do sistema levítico con-
em todos os sentidos”. venceu Hiram Edson e J. N. Andrews de
que o início do grande dia antitípico da
A expiação expiação não limitava aqueles que pode-
Os pioneiros adventistas do sétimo riam aceitar as últimas mensagens divinas
dia mantinham uma opinião peculiar so- e ser cobertos pelo sangue expiatório de
bre a expiação. Muitos acreditavam que Cristo. Eles notaram que os sacrifícios
os teólogos contemporâneos estavam expiatórios regulares continuavam mes-
equivocados em enfatizar que a expia- mo no décimo dia do sétimo mês.
ção tinha ocorrido na cruz. Isso para Restava a J. H. Waggoner e Urah
eles, era simplesmente “o oferecimento Smith explicar uma detalhada teologia
do sacrifício”. Seu estudo dos tipos le- adventista do sétimo dia da expiação
víticos convenceu-os de que a expiação em numerosos artigos da Review e em
ocorria somente quando o sacerdote extensas obras monográficas. Smith era
apresentava o sangue da vítima sacrifical particularmente inflexível em negar a ex-
piação na cruz. Tal opinião, afirmava ele, intimamente relacionada que tratava
conduzia ou ao universalismo (salvação do juízo investigativo, os conceitos ali
para todos) ou ao extremo calvinismo afirmados apresentam a mais distintiva
(salvação somente para os eleitos pre- contribuição adventista do sétimo dia
destinados). Ele via a cruz como o sacri- para a teologia cristã.
ficio que satisfazia as demandas de uma
lei transgredida. À expiação acontecia O santuário celestial
quando os pecadores conscientemente Sua fé na validade e importância de
aceitavam aquele sacrifício em seu favor 22 de outubro de 1844, confirmada pela
e mudavam de vida pela obediência aos explicação de Crosier da mudança da
mandamentos de Deus. Isto pôde ocor- obra de Cristo no santuário celestial nes-
rer somente quando Cristo, em seguida sa data e pelas visões de Ellen G. White,
à sua ressurreição, iniciou a sua obra no os adventistas sabatistas tinham ainda a
lugar santo do santuário celestial. explicar precisamente o que estava ocor-
Um exame dos escritos de Ellen rendo agora no lugar santíssimo. Crosier
G. White indica que no transcurso das salientava que Cristo conclutria o seu mi-
décadas de 1850 e 1860 seus conceitos nistério expiatório com o “apagamento
de expiação foram gradualmente am- dos pecados”. Ele descrevia isso como
pliados. Em muitos aspectos, ela esta- um processo que incluía a purificação do
va indo além de seus contemporâneos santuário e do povo de Deus e terminava
adventistas. Em 1864, ela se referiu ao colocando-se a penalidade dos pecados
sacrificio de Cristo na cruz como expia- confessados sobre a cabeça de Satanás, o
ção pelo pecado; sua obra no santuário autor do pecado. Em geral, essa idéia era
celestial “vertia sobre seus discípulos aceita por José Bates e outros.
os benefícios de sua expiação”. Mais e Bates foi um dos primeiros adventis-
mais, a cruz de Cristo veto a ocupar um tas sabatistas a ver o período pós-1844
lugar central em seus escritos. Ela via o como um tempo de juízo investigativo,
sacrificio de Cristo como “a grande ver- um período em que os casos de todos os
dade em torno da qual se agrupam to- que já haviam professado a Cristo como
das as outras verdades”. Cada doutrina Salvador seriam examinados. Duran-
extraída da Palavra de Deus precisava te esse processo, os registros celestiais
“ser estudada à luz que emana da cruz mostrariam ao Universo clara evidência
do Calvário”. de que Jesus estava agindo com justiça
A ênfase progressiva de Ellen G. ao recompensar ou punir por ocasião de
White sobre a cruz não ofuscou o in- seu segundo advento.
teresse dos adventistas do sétimo dia Bates não via tudo 18so claramen-
no santuário celestial ou sua compreen- te, e Tiago White, a princípio, rejeitou
são da importância da obra que ali tem sem rodeios a 1déia de um juízo “inves-
prosseguimento. À proposição 10 da tigativo”. Ao longo da década de 1850,
declaração de Princípios Fundamentais de porém, primeiro J. N. Loughborough
1872 abrangia a doutrina do santuário. e então Urah Smith sistematizaram
Era a mais longa das 25 proposições. esta doutrina com base em um exame
Isso parecia especialmente apropriado minucioso da purificação do santuá-
porque, juntamente com a proposição tio terrestre no típico dia da expiação.
Também vincularam esse conceito à com esse juízo. Pelo final da década de
mensagem do primeiro anjo de Apoca- 1860, alguns escritores adventistas es-
lipse 14, que proclamava: “é chegada a tavam ampliando sua compreensão do
hora do seu juízo”. Por volta de 1857, apagamento dos pecados para incluir a
Tiago White aceitou esse argumento eliminação do pecado da vida dos san-
lógico, inclusive a crença de que os ca- tos que aguardavam o advento, 1déia que
sos dos justos mortos eram os primei- José Bates havia sugerido 20 anos antes.
ros a serem considerados. À qualquer
momento, o juízo poderia passar para O sábado
os cristãos vivos. Foi White quem, ao O pecado, como sabia todo bom ad-
que parece, ctiou o termo “Juízo inves- ventista, era a transgressão da lei divina
tigativo”. R. F. Cottrell, posteriormen- dos dez mandamentos. Os adventistas
te, aplicou o termo “Juízo executivo” à viam o quarto mandamento, ou o sába-
real concessão de recompensas e puni- do, como o mais flagrantemente viola-
ções no segundo advento. do, mesmo por cristãos professos. Na
O que dizer do “apagamento dos opinião dos adventistas do sétimo dia,
pecados”, sobre o qual Crosier havia uma parte importante de sua obra era
escrito como um importante aspecto chamar a atenção para o verdadeiro sá-
da obra de Cristo no lugar santíssimo? bado. Desse modo, sua observância se
Durante o final da década de 1840, a tornaria um teste claro da completa leal-
opinião prevalecente entre os adven- dade de um indivíduo a Deus durante a
tistas sabatistas parecia ser que Cristo hora final da Terra.
estava “apagando” os “pecados de 1ig- Levou tempo para pioneiros como
norância” que o seu povo inconscien- Bates e White, desenvolverem esta opi-
temente tinha cometido. Estes, é claro, nião completa da importância central do
deveriam ser procurados e confessados. sábado. À princípio, seus pontos de vista
Durante a década de 1850, o conceito acerca do sábado não diferiam grande-
foi ampliado; o apagamento dos peca- mente daqueles dos batistas do sétimo
dos era visto como um ato judicial em dia, a quem eles, por longo tempo, conti-
que a responsabilidade individual pelos nuaram considerando como mais verda-
pecados confessados era posta à conta deiramente seus irmãos do que os mem-
de Satanás precisamente antes do se- bros de outras denominações cristãs.
gundo advento. Essa transação celestial Pela conexão de Apocalipse 11:19 com
ocorreria ao mesmo tempo em que o 22 de outubro de 1844, Bates concluiu já
Espírito de Deus fosse derramado na em 1847 que depois de 1844 nova aten-
“chuva serôdia”, habilitando os santos ção deveria ser dada para a lei de Deus
a suportar o conflito final. Aconteceria e especialmente para o mandamento do
depois de Cristo haver terminado a sua sábado. Isso proveria um novo teste do
obra mediadora no santuário. amor e lealdade do povo de Deus. Pou-
Com o refinamento do conceito de co a pouco, principalmente influenciados
juízo investigativo durante a década de pelos escritos de Bates, Tiago White e ].
1850, o apagamento dos pecados foi N. Andrews, os adventistas chegaram a
reinterpretado como uma obra progres- ver o sábado como o clímax das mensa-
siva ocorrendo contemporaneamente gens dos três anjos de Apocalipse 14.
Durante o final da década de 1840, Uma proclamação plena da tercer-
os adventistas sabatistas tinham visto ta mensagem exigia a identificação da
as três mensagens angélicas como pro- “besta”, “sua imagem” e o “seu sinal”.
clamações sucessivas de verdades espe- Era salientado claramente que todos es-
cíficas: (1) a proximidade do segundo ses sentiriam a ira de Deus e sofreriam a
advento, (2) a apostasia das igrejas cris- destruição final. Por inferência, eles po-
tãs “nominais”, e (3) a necessidade de diam ser ligados à Babilônia, da qual o
guardar fodos os mandamentos de Deus. segundo anjo tinha chamado o povo de
Eles viam as duas primeiras mensagens Deus. Também parecia lógico que aque-
como sendo concluídas por volta de les que recebiam o sinal ou a marca da
1844; a terceira era seu dever específi- besta estavam em assinalado contraste
co proclamar. Portanto, o sábado era a com o grupo mencionado em Apocalip-
principal preocupação da Present Truth se 7, selado com o “selo do Deus vivo”,
de Tiago White. Todavia, os crentes não o grupo que se juntaria a Cristo na glória
deviam deixar de entender as primeiras depois de sua vinda.
mensagens; daí o aparecimento da Ad- Bates e Tiago White haviam primei-
vent Review para relembrar a importância tamente identificado o verdadeiro sába-
de sua experiência do advento. do como o selo de Deus. Durante a dé-
Com a unificação desses dois pri- cada de 1850, Urniah Smith demonstrou
meiros periódicos no Advent Review a semelhança do quarto mandamento
and Sabbath Herald, vemos o inicio da com o selo de um monarca terrestre,
compreensão de que as três mensagens salientando que ele não somente iden-
eram progressivas e cumulativas, em vez tificava o Monarca do Universo, mas
de sucessivas. Esse ponto de vista foi também o seu cargo e domínio. Embo-
mais claramente definido, especialmen- ra reconhecendo o sábado como o selo
te por Ellen G. White, durante a década de Deus, Tiago White rejeitava a idéia
de 1850. Contudo, a atenção primária de que todos os guardadores do sábado
continuou sendo conferida à terceira tinham recebido esse selo e estavam au-
mensagem que, acreditava-se, de fato tomaticamente seguros do Céu. O sába-
incluía as duas precedentes. Portanto, do, ressaltava White, não era de nenhum
“a mensagem do terceiro anjo logo proveito separado do reconhecimento
se tornou sua maior preocupação e o e dependência dos méritos da expiação
campo do seu mais fervoroso estudo”. de Cristo em prol dos pecados.
Para esses primeiros adventistas sa- O estudo, durante o início da déca-
batistas, a cláusula final da terceira men- da de 1850, convenceu |. N. Andrews
sagem (Ap 14:12) provia uma represen- de que a besta contra a qual o terceiro
tação espetacular de si mesmos. Eles anjo estava advertindo era aquela men-
estavam guardando fodos os mandamen- cionada na primeira parte de Apocalip-
tos de Deus e pacientemente esperando se 13. Isso ele, juntamente com muitos
a volta de Cristo. Esse último evento, dos primeiros comentaristas, identificava
eles agora viam claramente, não podia como o papado. Andrews então prosse-
ser apontado como ocorrendo em uma guiu, concluindo que a “imagem” era o
data específica; mas antes seguiria a fina- protestantismo corrupto apoiado pelo
lização do juízo investigativo. poder civil. Para ele, as leis dominicais de
alguns estados demonstravam que a ima- foi solicitado a estudar a fundo o assun-
gem Já estava em processo de formação. to. Suas investigações escriturísticas o
Seria completada em uma data posterior levaram a argumentar persuastvamente
com uma lei dominical universal. a favor do início e do término do sába-
do ao pôr-do-sol. Por um breve tempo,
A marca da besta Bates e Ellen G. White aderiram às 18h,
Já em 1847, José Bates havia identi- mas a visão de Ellen no final de 1855
ficado a observância do domingo como endossando a opinião do pôr-do-sol le-
uma “marca da besta”, e Tiago White vou à unanimidade sobre esse assunto.
concordou. Ele achava, porém, que sen- Uma década depois, o escritório da Re-
do que a mensagem do terceiro anjo view, como um auxílio aos membros da
era uma advertência contra a recepção igreja, produziu o primeiro calendário
da marca da besta, ela ainda não tinha adventista do sétimo dia, dando os ho-
sido colocada sobre homens e mulhe- rários do pôr-do-sol no sábado.
tes. Isso viria posteriormente, quando
a observância do domingo se tornasse A chuva serôdia
obrigatória por lei. Então, o assunto de Durante seus anos de formação,
obediência a Deus ou à “besta” seria os adventistas sabatistas não tinham
claramente delineado. Naquele tempo, nenhuma 1déia de que a duração de
segundo Uriah Smith, toda a humanida- sua “última mensagem de misericór-
de estaria dividida em duas classes: os dia” ao mundo se estenderia além de
guardadores do domingo e os guarda- alguns anos. Avidamente eles aguar-
dores do sábado. davam um derramamento especial do
Desde o início, Bates e White tr Espírito Santo daquela chuva serôdia
nham visto a restauração do verdadei- predita pelo profeta Joel, juntamente
ro sábado como a obra de “reparação com um grande reavivamento da ati-
de brechas” na lei de Deus mencionada vidade missionária — o alto clamor do
em Isaías 58:12 e 13. Seu amor a Deus anjo de Apocalipse 18. Já em 1851, e
e o desejo de agradar-lhe restaurando outra vez em 1856, eles tinham certe-
a honra do sábado levou os primeiros za de que estavam à beira de sua ex-
adventistas do sétimo dia a se preocu- periência. Contudo, o tempo tardou; a
parem acerca do tempo adequado para grande efusão espiritual ligada ao “alto
o início e o fim desse dia de repouso. clamor” deixou de materializar-se.
Influenciado por sua formação náutica, A falha da “chuva serôdia”, em vir
o capitão Bates defendia a opinião de conforme era esperada, levou à intros-
que o sábado começava às 18h da sexta- pecção por parte de alguns adventistas
feira e terminava na mesma hora do sá- sabatistas. Já em 1853, um correspon-
bado. À preeminência do capitão como dente da Retiew sugerm que faria bem se
defensor do sábado levou muitos dos os seus companheiros de fé ouvissem
seus associados a aceitar suas opiniões. o conselho dado à igreja de Laodicéia
Todavia alguns, inclusive Tiago Whi- em Apocalipse 3:18. Embora Tiago
te, achava os argumentos de Bates não White ecoasse essa sugestão, ela caiu
eram inteiramente satisfatórios. Em me- grandemente em ouvidos moucos. Os
ados da década de 1850, J]. N. Andrews adventistas sabatistas estavam certos de
que eles eram retratados em Apocalipse nunciada sobre aqueles que estudam” a
como a igreja de Filadélfia. Eles viam a profecia e que “deve ser compreendi-
mensagem de Laodicétia se aplicando a da suficientemente pelo povo de Deus
outras corporações adventistas. De sor- para mostrar-lhes sua localização na
te que isto velo como um choque quan- história do mundo, e os deveres espe-
do, em 1856, Ellen G. White, baseada ciais requeridos de suas mãos”. À pro-
em uma recente visão, enfaticamente posição 7 expressava fé de que todas as
advertiu seus companheiros de fé a dar profecias bíblicas tinham se cumprido
ouvidos ao conselho da Testemunha “exceto as cenas finais.”
Verdadeira aos laodiceanos.
Em seguida, as páginas da Review es- Eventos finais
tavam em chamas com as reavaliações Já em 1847, Tiago White, talvez
de suas experiências por parte dos leito- influenciado por Josias Litch, separou-
res; dezenas reconheciam que tinham se se de muitos expositores da profecia
tornado “mornos”. Com dramática su- protestantes e mileritas, sugerindo que
bitaneidade, os adventistas sabatistas re- as sete pragas de Apocalipse 16 não
visaram completamente sua interpreta- correm paralelamente às sete igrejas
ção dos períodos proféticos abrangidos e trombetas dos capítulos anteriores,
pelas igrejas de Filadélha e Laodicéta. mas ainda estavam no futuro. Essas
Eles agora viam a igreja de Filadélfia pragas, raciocinava White, viriam de-
como representativa do movimento mi- pois de Jesus terminar sua obra no lu-
lerita, ao passo que Laodicéta retratava gar santíssimo e precederiam imedia-
a última fase da verdadeira igreja — em tamente o livramento final dos santos
outras palavras, eles mesmos. Em re- predito em Daniel 12:1.
trospectiva, é fácil ver que a aceitação da Por volta de 1850, os pequenos gru-
mensagem laodiceana em 1856-57 foi pos de adventistas sabatistas tinham,
incompleta e temporária. Na época, pa- em grande parte, aceito as opiniões do
recia a muitos anunciar o “alto clamor” pastor White quanto as sete “últimas”
do terceiro anjo. pragas e ao tempo de angústia. Mesmo
Embora os adventistas do sétimo antes desse tempo, havia uma tendência
dia cedo se livrassem da armadilha de de ver certos eventos mundiais, então
marcar datas específicas para o segundo em andamento, levando naturalmente
advento, eles continuaram esperando ao tempo de angústia. José Bates assim
esse acontecimento em um futuro mui- interpretou as revoluções européias de
to próximo. Examinavam assiduamente 1848. Bates deu um exemplo seguido
as porções proféticas das Escrituras, es- por comentaristas adventistas posterio-
pecialmente os livros de Daniel e Apo- res. Em 1866, por exemplo, a Review es-
calipse, em busca de indícios quanto peculou que a Guerra das Sete Semanas,
à natureza dos eventos vindouros que que então se travava entre a Prússia e a
anunciariam a aproximação do reino de Austria, poderia se transformar na últr-
Cristo. Conforme especificada na pro- ma grande batalha do Armagedom.
posição 6 dos seus Princípios Fundamen- De todas as sete pragas, nenhuma se
tais de 1872, os adventistas do sétimo demonstrava tão enigmática para os ad-
dia afirmavam que “uma bênção é pro- ventistas do sétimo dia do que a sexta,
que mencionava a seca do rio Eufrates e estabelecido com a publicação do seu
a grande batalha do Armagedom. Pouco Thoughts on Revelation (1865) e Thoughts on
havia na descrição das cinco primeiras Daniel (1873). Por volta de 1867, Smith
para fornecer pistas quanto ao seu co- mudou sua opintão anterior de que o rei
meço iminente. Não era assim com a do norte dos últimos versos de Daniel
sexta praga. À menção do Eufrates suge- 11 representava o papado para a crença
ria eventos específicos no Oriente Próxi- de que também simbolizava a Turquia.
mo. Durante o início da década de 1850, Assim, esse rei que se aproximava de
os adventistas do sétimo dia geralmente seu fim sem ninguém para socorrê-lo
acreditavam que o rio Eufrates se secaria (Dn 11:45) coincidia muito bem com o
literalmente durante a sexta praga. En- ponto de vista de que o Império Tur-
tão, em 1857, Uriah Smith promoveu a co estava destinado a desaparecer sob
tese de que o Eufrates representava o a sexta praga. Tiago White permaneceu
território pelo qual o tio fluía — o Impé- cético quanto à nova opintão de Smith e
rio Turco. Posteriormente, em uma série continuou vendo o rei do norte como o
de artigos na Reiew sobre o Apocalipse, papado. Contudo, a influência de Smi-
Smith afirmava que a seca do Eufrates th como intérprete da profecia e sua
na sexta praga era um símbolo da “des- função como editor da Reriew levaram
truição gradual do Império Turco que consigo muitos adventistas do sétimo
então desapareceria completamente”. dia. Durante décadas, os adventistas fi-
O prestígio de Smith como principal caram fascinados pelos eventos no Im-
intérprete adventista da profecia ficou pério Otomano.

Os Estados Unidos na profecia


Outra passagem profética a qual os
adventistas do sétimo dia prestavam es-
pecial atenção era Apocalipse 13:11-17.
No início da década de 1850, a identifi-
cação de J. N. Andrews da besta de dois
chifres ali mencionada como os Estados
Unidos tinha sido aceita. Com um mis-
to de surpresa, apreensão e antecipação,
os adventistas prestavam atenção aos
eventos nos Estados Unidos que anun-
ciassem seu apoio à imagem da besta
(protestantismo) e à sua imposição da
marca da besta (observância do domin-
go). Os adventistas estavam certos de
que a maior parte da profecia acerca da
besta de dois chifres já havia se cumpri-
Uriah Smith (1832-1903), erudito adventista do. Não eram evidentes as maravilhas
do século 19, autor e editor, influenciou ex-
que ela deveria operar em tais coisas
pressivamente a interpretação adventista
da profecia e o desenvolvimento das doutrinas como a grande rede ferroviária america-
denominacionais com seus artigos e livros. na, o aproveitamento da energia a vapor

Materia com direitos at


pela indústria americana e o crescimento culação. Em 1874, R. F. Cottrell conti-
territorial do próprio país? Alguns até nuou expressando confiança na opinião,
mesmo sugeriam que o “fogo descendo comum desde os dias mileritas, de que
do céu” era o telégrafo inventado pelo “esta geração” mencionada no verso 34
americano Samuel F. B. Morse! poderia simplesmente significar que al-
Ao longo da década de 1850, os ad- guns que tinham visto o escurecimento
ventistas viam clara evidência de que os do Sol e da lua em 1780 e a queda das
Estados Unidos estavam abandonando estrelas em 1833 estariam vivos para ver
sua anterior inocência, semelhante a a volta de Cristo. Dois anos depois, R.
um cordeiro pelo papel do dragão. O M. Kilgore não tinha dúvidas de que
protestantismo americano estava se tor- aqueles que então viviam veriam o se-
nando corrupto, deixando a Bíblia por gundo advento. Tão convencidos esta-
credos de feitura humana e competindo vam os adventistas quanto à proximi-
com o catolicismo em sua devoção às dade desse evento que lhes era difícil
leis destinadas a enaltecer a observância aceitar a advertência de Tiago White de
do domingo. Os princípios básicos da que na exposição de profecia não cum-
democracia americana também estavam prida “quando a história não está escrita,
corrompidos pelo sistema escravista. O o estudante não deveria apresentar suas
apoio à escravidão por muitas igrejas asserções com demasiada segurança”.
americanas era simplesmente outra ev1-
dência da condição caída de Babilônia. O milênio
Sendo que esse era o curso que os even- Além de suas convicções concer-
tos seguiriam conforme predição divina, nentes à iminência do advento, a expe-
havia pouca finalidade na participação riência milerita dos crentes era refletida
dos adventistas do sétimo dia nos pro- em vários outros pontos de vista dou-
cessos políticos. Além disso, havia ab- trinários dos adventistas do sétimo dia.
soluto perigo em cooperar com outros Eles declaravam com firmeza que a opi-
grupos protestantes em treavivamentos nião popular protestante da conversão
ou atividades intercomunitárias. Qual- do mundo e de um milênio temporal
quer cooperação dessa natureza poderia precedendo o advento era uma “fábula
levar à inclusão na Babilônia caída. Não destes últimos dias”.
eram os supostos reavivamentos dentro Todos os primeiros líderes adven-
do protestantismo americano apenas tistas do sétimo dia achavam que era
um prelúdio do engajamento das igrejas bíblica a explicação de George Storrs
na perseguição àqueles que se recusas- da morte como um sono inconscien-
sem a adorar a besta ou a sua imagem te. Uma alma imortal já no Céu ou no
ou receber o seu sinal? inferno parecia eliminar a necessidade
das ressurreições pré e pós-milenial,
“Esta geração” que eles achavam que eram ensinadas
Os adventistas não se limitavam a nas Escrituras. Assim, desde o início, os
olhar para as profecias de Daniel e Apo- adventistas do sétimo dia ensinaram a
calipse em busca de sinais do fim imi- imortalidade condicional, a ser recebida
nente. À grande profecia de Cristo em pelos justos, vivos e mortos, no segun-
Mateus 24 fornecia material para espe- do advento. O crescente interesse no
espiritismo durante as décadas de 1850 necessidade de rebatismo dos cristãos
e 1860 e a infiltração de conceitos es- de outras comunhões que tinham acei-
piritualistas nos círculos protestantes to as doutrinas adventistas do sétimo
eram, para os adventistas, mais sinais da dia. Todos concordaram que os mem-
queda progressiva de Babilônia. bros da denominação que haviam sido
As três proposições finais da decla- simplesmente aspergidos na infância
ração de fé adventista do sétimo dia de deveriam ser imersos, visto que a asper-
1872 mencionavam acontecimentos que são não era realmente nenhum batismo.
deveriam seguir-se ao segundo advento. Mas o que dizer daqueles que já tinham
Todas teriam sido bem aceitas pelos an- sido imersos quando adultos? Em um
cestrais mileritas. Os adventistas espe- longo artigo na Review em 1867, Tiago
favam que os justos passariam mil anos White sugeria que um novo batismo era
no Céu com Crnsto “julgando o mundo exigido, quando uma pessoa aceitava “a
e os anjos caídos”. Durante esse tempo, verdade” (opiniões distintivas adven-
Satanás estaria confinado a uma Terra tistas) e já houvesse sido batizada por
desolada. Em seguida ao milênio, os jus- imersão por um “ministro profano”
tos, juntamente com a Nova Jerusalém, ou tivesse apostatado. Na Assembléia
desceriam para o mundo; e os ímpios se- da Associação Geral de 1886, foi for-
riam ressuscitados para receberem a sen- malmente votado permitir ao indivíduo
tença final de aniquilação no fogo que que tivesse passado pela imersão ao se
purificaria a Terra da maldição do peca- unir a outra denominação, decidir por si
do. Então, novos céus e uma nova Lerra, mesmo rebatizar ou não. Ellen G. Wh1-
tendo a Nova Jerusalém como sua capi- te aconselhava que não se deveria fazer
tal, seriam a herança eterna dos santos. do rebatismo uma questão de prova
para aqueles que tinham sido batizados
Batismo por imersão, mas ser deixada com essa
Juntamente com a maioria dos cris- pessoa uma decisão individual.
tãos, os adventistas do sétimo dia con- Os adventistas esperavam que a ex-
sideravam o batismo uma ordenança periência do novo nascimento, publica-
cristã básica que apresentava evidência mente proclamada através do batismo,
visível de arrependimento do pecado resultasse em uma mudança moral na
e aceitação de Cristo como Salvador. vida de cada converso. Eles reconhe-
Desde o inicio, os adventistas do sé- ciam que a nova vida seria uma expe-
timo dia afirmaram que a imersão é a riência progressiva, tornando-se a con-
única maneira de batismo biblicamente duta do membro gradualmente mais e
aprovada. Isso era natural para muitos mais semelhante à de Jesus. Essa não
adventistas que anteriormente tinham era uma opinião unicamente adventis-
sido batistas. À imersão também era ta, mas os adventistas do sétimo dia
ensinada pela comunhão da Conexão tam mais longe do que a maioria dos
Cristã e foi o método de batismo que cristãos em condenar o adorno mun-
Ellen Harmon havia escolhido depois dano como o uso de ouro, pérolas, ou
de sua conversão juvenil. artigos “extravagantes” de vestuário.
Ao longo das décadas de 1850 e O uso desses adereços era visto como
1860, houve considerável discussão da clara evidência de que o coração des-
sa pessoa estava fixo nas coisas deste te e através do prelo. Alguns adventis-
mundo e não no Céu. tas leigos auxillavam generosamente os
pregadores do advento, que lentamente
Reforma da saúde cresciam em número. Durante anos, Dan
No início da década de 1850, o Palmer, o ferreiro de Jackson, colocava
fumo, chá e café eram vistos como uma moeda de ouro de cinco dólares na
prejudiciais não apenas à saúde, mas mão de qualquer ministro que aceitasse
também à espiritualidade do indivíduo. sua hospitalidade enquanto passava pelo
Como poderia um cristão sincero des- sudeste do Michigan.
perdiçar dinheiro em tais artigos no- A liberalidade dos crentes parecia
civos, quando ele poderia ser melhor aumentar com o início do evangelismo
usado para a propagação do evange- ativo em tendas em 1854. Veio então o
lho? Em 1867, os White e J. N. Lough- Pânico de 1857, e os fundos diminuíram
borough chegaram a pedir perdão em a tal ponto que muitos pregadores aban-
público por gastarem egoistamente di- donaram o ministério e voltaram para o
nheiro em fotografias de si mesmos! emprego secular, a fim de sustentar suas
Durante os anos que se seguiram famílias. Foi durante esse período de
imediatamente à visão da reforma da crise financeira que um grupo de mem-
saúde de Ellen G. White, o viver saudável bros de Battle Creek, sob a liderança de
quase se tornou uma cruzada moral para J. N. Andrews, empenhou-se em estudar
os adventistas. O descaso para com as a Bíblia com o objetivo de descobrir
leis da saúde era considerado equivalen- princípios corretos para o sustento do
te à transgressão do sexto mandamento, ministério. O resultado foi a “benevo-
portanto, era pecado. Todavia, legislar lência sistemática” adotada pela 1greja
sobre estilo de vida era uma coisa sen- de Battle Creek e recomendada por eles
sível. Os Princípios Fundamentais de 1872 a outros grupos do advento.
eram silenciosos quanto a especificações Dentro dos próximos anos, a be-
de vestuário, decoro e hábitos de saúde. nevolência sistemática, baseada na ins-
trução de Paulo à igreja de Corinto de
Finanças da igreja
separar ofertas cada manhã do primeiro
Essa declaração de crenças também dia (1Co 16:2), obteve ampla aceitação.
não dizia nada sobre outra área sensível: Os membros eram encorajados a pe-
o financiamento da obra da igreja. O nhorar ofertas semanais proporcionais à
adventismo tinha sido um tanto lento sua renda e títulos de propriedade. Em
em desenvolver uma posição doutriná- 1861, Tiago White sugeriu que os cren-
ria sobre finanças da igreja. Nos dias tes estimassem sua renda como 10% do
iniciais, os ministros, em grande parte valor de sua propriedade e doassem um
,Sustentavam-se a si mesmos, trabalhan- décimo dessa soma à benevolência sis-
do meio período na agricultura ou em- temática. O princípio do dízimo estava
penhando-se em um ramo de negócios. sendo introduzido.
Tiago White ocasionalmente trabalhava Ao longo das décadas de 1860 e
no campo de feno ou na ferrovia, a fim 1870, as colunas da Rertew traziam nu-
de ganhar dinheiro para viajar e pregar a merosos artigos apoiando a benevo-
mensagem do terceiro anjo pessoalmen- lência sistemática. Desenvolveram-se,
então, conceitos cada vez mais precisos Um ponto final dos Princípios IFunda-
acerca do dízimo. Em 1876, uma ses- mentais de 1872 merece explanação: Com
são da Associação Geral formalmen- que autoridade os adventistas do sétimo
te resolveu que era o dever de todos dia baseavam todas as suas doutrinas?
os irmãos e irmãs, “sob circunstâncias Isso claramente era um assunto vital,
normais, dedicar um décimo de toda pois os opositores livremente os acusa-
a sua renda, qualquer que seja a fonte, vam de seguir as visões de uma mulher
para a causa de Deus”. Isso ocorreu no iludida, de preferência à Biblia. Para re-
tempo em que os Estados Unidos es- futar essa acusação, a terceira proposição
tavam afundados no Pânico de 1873, a afirmava claramente a crença adventista
pior depressão financeira que o país já do sétimo dia de “que as Sagradas Escri-
havia experimentado. O membro leigo turas ... contêm uma revelação plena de
da igreja foi lento em responder à re- sua [de Deus] vontade ao homem, e são
solução da Associação Geral. Em 1878, a única regra infalível de fé e prática”.
uma comissão especialmente nomeada
produziu um panfleto, dando evidên- O dom profético
cias no Antigo e no Novo Testamento Contudo, os adventistas do sétimo
em favor do cálculo do dízimo sobre a dia não podiam, e não queriam, negar
renda, em vez de sobre ações da pro- que eram especialmente beneficiados
priedade. À ampla circulação desse fo- pelo ministério de Ellen G. White. Sem
lheto, coincidindo, como foi, com uma mencioná-la pelo nome, a proposição
melhoria econômica, resultou em sa- 16 procurava pôr a sua obra na devi-
tisfatórios aumentos de dízimos pagos da perspectiva. Depois de afirmar que
ao que ainda era chamado o Fundo de os dons espirituais (um dos quais era a
Benevolência Sistemática. profecia) foram especificamente pro-
Não foi fácil, a princípio, limitar metidos à igreja, fazia-se questão de
os fundos da benevolência sistemáti- dizer que “esses dons não eram desti-
ca ao sustento do ministério, embora nados a substituir, ou tomar o lugar da
os líderes adventistas acreditassem que Biblia, que é suficiente para tornar-nos
1880 era uma clara doutrina bíblica. Às sábios para a salvação”. Em vez disso,
congregações locais frequentemente se os dons do Espírito, especialmente nos
apropriavam desses fundos para fazer últimos dias, eram designados a “levar
reparos ou manutenção na igreja. À Re- a uma compreensão daquela palavra
view tomou uma firme posição contra que Ele tinha inspirado, convencer do
esse procedimento. À manutenção da pecado e operar uma transformação no
igreja deveria ser financiada por ofertas coração e na vida”. Na década de 1870,
voluntárias e de ação de graças. Toda- muitos adventistas do sétimo dia esta-
via, o uso individual do ganho era re- vam dispostos a afirmar que isso era
conhecido como um assunto altamente exatamente o que Ellen G. White tinha
pessoal, melhor deixado, no final das feito e estava fazendo.
contas, aos apelos do Espírito Santo. Cerca de um quarto de século depois
As associações pararam bruscamente da primeira visão de Ellen, seu esposo
de fazer do pagamento do dízimo ho- descreveu a função que, conforme acre-
nesto um assunto de disciplina. ditava, Deus designara para ela cumprir.
Alguns críticos tinham lançado dúvidas Extra “para o benefício daqueles que
sobre a idéia de a sra. White ser divina- crêem que Deus pode cumprir Sua pala-
mente dirigida, porque durante anos ela vra e dar visões nos últimos dias”.
havia concordado com o capitão Ba- Contudo, mesmo que nos próxi-
tes que o sábado se iniciava às 18h de mos poucos anos a Rewvew publicas-
sexta-feira. “Não parece ser o desejo do se apenas um pequeno número de
Senhor”, arrazoou o pastor White, “en- artigos de Ellen G. White e estes de
sinar o seu povo pelos dons do Espírito uma natureza de inspiração geral, não
sobre questões da Bíblia até que seus livrou a nascente igreja da crítica de
servos tenham diligentemente examina- seguir um profeta e não a Bíblia. Em
do sua palavra.” Deus não havia posto 1855, o pastor White deu vazão aos
os dons “na própria fronte e nos orde- seus sentimentos: “Há uma classe de
nado a olhar para eles a fim de guiar pessoas que está decidida a sustentar
nos na trilha da verdade, e no caminho que a Rertew e seus condutores fazem
para o Céu.” O pastor White via a Deus das visões da sra. White uma prova
usando os dons “no tempo de sua esco- de doutrina e comunhão cristã. [...] O
lha [para] corrigi-lo, e levá-lo de volta à que a Remew tem a ver com as visões
Bíblia e salvá-lo”. da sra. White? As opiniões publicadas
Desde os primeiros dias de seu m1- em suas colunas são extraídas das Sa-
nistério, os colegas de Ellen G. White gradas Escrituras. Nenhum escritor
a tinham visto como um instrumento da Reriew jamais se referiu a elas como
através do qual Deus provia direto en- autoridade em qualquer assunto.”
corajamento, conselho e reprovação, Se a falha em publicar as visões de
mas não como a fonte de alguma nova Ellen G. White não poupou os adven-
crença ou doutrina, pois tal vinha so- tistas sabatistas da crítica, pareceu di-
mente da Bíblia. Como escreveu Geor- minuir seu próprio interesse nesse mé-
ge IL. Butler, presidente da Associação todo sobrenatural de orientação divina.
Geral: “Se a Biblia mostrasse que as Ao mesmo tempo, as visões tornaram-
visões não estavam em harmonia com se “menos e menos frequentes”. Ellen
ela, a Bíblia permaneceria e as visões concluiu que sua obra estava quase ter-
seriam renunciadas.” minada, mas não estava. Em um con-
Reconhecendo o preconceito que gresso em Battle Creek, em novembro
muitos de seus colegas tinham contra vi- de 1855, os participantes se conven-
sões e sonhos, Tiago White decidiu, em ceram de que a prevalecente condição
1851, não publicar na Rerzew nenhuma debilitada na infante igreja era devi-
das visões de sua esposa. Os adventistas do à falha em apreciar devidamente a
sabatistas estavam apenas começando a orientação divina através das visões da
ser ouvidos entre alguns que anterior- sra. White. Foram feitas confissões e
mente haviam zombado deles por causa a igreja de Battle Creek endossou um
de seus antecedentes mileritas. O pastor novo plano para publicar as visões em
White não queria que nada servisse de forma de panfleto. Algumas centenas
obstáculo para as pessoas honestas que de cópias de um folheto de 16 páginas
examinavam as verdades bíblicas. Ele intitulado Testimony for the Church [Tes-
propôs publicar as visões em uma Review temunho para a Igreja] apareceram an-
tes do final de 1855. Era o primeiro de Os líderes adventistas acharam que era
uma série que eventualmente se esten- necessário repetidamente responder a
deria por mais de 55 anos e abrangeria essas acusações nos anos seguintes. Tal-
quase 5 mil páginas. vez O argumento mais eficaz que eles
Todavia, continuaram as objeções às já desenvolveram era que as instruções
visões. Elas eram muito difíceis de se dadas (1) conduziam os leitores e ou-
compreender. À Bíblia não dizia nada vintes à Bíblia e a Cristo, (2) exortavam
acerca de mulheres recebendo visões aos mais elevados padrões morais e à
e Paulo ensinava que as mulheres não mais completa consagração a Deus, e
deviam falar em público. Às escrituras (3) “traziam conforto e consolação a
eram boas o suficiente. Às visões eram muitos corações”. Porventura, tais bons
o resultado de mesmerismo ou enfer- frutos não proclamavam uma boa fon-
midade; todas essas e muitas outras. te? Eles tinham a certeza de que sim.

Leitura temática sugerida:

A teologia do Espírito de Profecia:

Uriah Smith, The Visions of Mrs. E. G. White (1868), é uma defesa pioneira do
dom profético.
E. G. White Estate, Witness of the Pioneers Concernine the Spirit of Prophecy (1961),
é uma compilação de artigos que datam de 1851 a 1946 expressando fé nas visões
de Ellen G. White e o seu uso.

Desenvolvimento doutrinário:

P. Gerard Damsteegt, Fonndations of the Seventh-day Adventist Messase and Mission


(1977), é a abordagem mais abrangente à teologia adventista.
James White, Bible Adventism (1877), é uma visão do adventismo de um dos
fundadores da igreja.
C. M. Maxwell, “Joseph Bates and Seventh-day Adventist Sabbath Theology”,
em The Sabbath in Seripture and History (1982), Kenneth A. Strand, ed., p. 352-363, é
uma abordagem erudita a essa doutrina e a um dos fundadores da igreja.
J. N. Andrews, The Three Messages of Revelation 14:6-12 (1860), trata de um ele-
mento básico da teologia adventista.
Apêndice 1 A, Adventism in America (1986), Gary Land, ed., p. 231-237, é uma
cópia da primeira declaração organizada de doutrina adventista, publicada em
1872.
E. K. Vande Vere, Windows (1975), p. 25-34, 66-73, 82-88, discute as primeiras
lutas adventistas sobre doutrinas básicas.
Jerry Moon, “Heresy or Hopeful Sign”, em Adrventist Review, 22 de abril de
1999, narra a luta dos primeiros adventistas sobre a doutrina da Trindade.
CAPÍTULO 14

Avanço missionário
(1887-1900)

De 1885 em diante, as atividades No início do verão de 1885, Ellen G.


missionárias adventistas do sétimo dia White passou dois anos na Europa. V1-
se expandiram espetacularmente. Nessa sitas à Inglaterra, França, Suíça, Alema-
época, até certo ponto, os adventistas re- nha, Escandinávia e Itália aumentaram
fletiam o interesse protestante geral nas sua preocupação de que as três mensa-
missões estrangeiras. Estimulados por gens angélicas fossem proclamadas am-
homens como Dwight L. Mood e John plamente. De 1891 a 1900, com seu filho
R. Mott, centenas de jovens americanos William, a sra. White trabalhou na Aus-
se comprometeram a levar o evangelho trália, Nova Zelândia e Tasmânia. Du-
aos cantos mais remotos da Terra; a rante esses anos, suas cartas lembravam
evangelizar o mundo “nesta geração”. constantemente os adventistas america-
Os adventistas tinham seus próprios nos de suas responsabilidades globais.
patrocinadores específicos das missões; Muitos outros líderes adventistas
nenhum mais influente do que S. N. também se expuseram pessoalmente
Haskell e Ellen G. White. Ambos escreve- ao mundo além da América. Em 1884,
ram e falaram com a convicção de teste- George I. Butler tornou-se o primeiro
munhas de primeira mão sobre o desafio presidente da Associação Geral a visi-
e oportunidades de países distantes. Em tar a Europa. Quatro anos depois, O.
1882, Haskell fez sua primeira visita à Eu- A. Olsen foi chamado de volta da Es-
ropa. Três anos depois, ele foi o pioner- candinávia para se tornar o presiden-
ro da mensagem adventista na Austrália te da igreja. Seu sucessor, G. A. Irwin,
e Nova Zelândia. Durante 1889 a 1890, visitou a Austrália na metade de seu
acompanhado pelo jovem Percy Magan, mandato. |. H. Waggoner deu os últ-
ele rodeou o globo, inspecionando as mos três anos de sua vida para fortale-
oportunidades e problemas que aguarda- cer a obra de publicações na Europa.
vam os missionários adventistas do séti-
mo dia na África, na Índia e no Oriente. Evangelismo da página impressa
Os relatos pitorescos de Magan no Yonth5 O crescimento de membros na Euro-
Instrutor atraíram o interesse de centenas. pa, a primeira região fora da América do
Norte a ter igrejas adventistas do sétimo tivasse o evangelismo de tenda na Furo-
dia oficialmente organizadas, foi firme, pa, ela também enfatizava a importância
mas não espetacular. À colportagem e primária da visitação de porta em porta.
o evangelismo de tenda, tão bem-suce- Os contatos individuais, acreditava ela,
didos em alcançar milhares na América, provar-se-tam os mais frutíferos, quando
mostrou-se menos eficiente na Europa. aqueles que fizessem a visita não impu-
Quanto à colportagem, os primeiros sessem muito fortemente, a princípio,
periódicos e livros vendidos na Europa as opiniões peculiares dos adventistas.
foram importados da América. As pe- Stephen Haskell preferia esse método e
culiaridades de estilo e ortografia irri- decidiu pô-lo em prática na Inglaterra
tavam muitos britânicos, já suspeitosos quando, em 1887, chegou ali para dirigir
de estrangeiros, especialmente america- a obra adventista do sétimo dia.
nos. À fim de remediar essa dificuldade,
a Present Truth foi lançada como uma Obreiras bíblicas
revista mensal em 1884, e por volta de Uma das primeiras mudanças de
1888 vendia 10 mil exemplares por edi- Haskell fot transferir a sede adventista do
ção. Às jovens colportoras eram suas sétimo dia e as atividades de impressão
mais bem-sucedidas promotoras. Sob para Londres. Anteriormente, os adven-
a editoria de E. J. Waggoner, durante a tistas tinham evitado a capital. Em segui-
década de 1890, a circulação de Present da, Haskell iniciou três obreiras bíblicas
Truth subiu para 17 mil. em um programa de visitação. Antes de
Embora Ellen G. White reconhecesse terminar o ano, esse grupo de visitantes
o valor das conferências públicas e incen- havia triplicado. As obreiras adventistas
encontraram uma calorosa recepção en-
tre alguns batistas do sétimo dia londri-
nos, mas seu líder, dr. Wilhkam M. Jones,
advertiu Haskell a não esperar que os
ingleses aceitassem o sábado tão pronta-
mente como os americanos.
Embora os adventistas do sétimo dia
fossem mais lentos em enviar obreiros
para a Grã-Bretanha do que para o con-
tinente europeu, tendo uma vez se com-
prometido, líderes de importância foram
sucessivamente mandados para a Ingla-
terra: Loughborough, Haskell, Prescott,
E. J. Waggoner. Foi dada ênfase especial
ao treinamento de colportores; e por
volta de 1896, havia 77 no campo. Às
campanhas evangelísticas da Inglaterra e
do País de Gales levaram à organização
S. N. Haskell (1833-1922), influente lider ad-
ventista dos séculos 19 e 20, serviu a igreja na
de algumas pequenas igrejas, mas a Es-
Europa, Austrália e Ásia. Circundou o globo cócia permaneceu praticamente intacta
em 1889 a serviço das missões mundiais. até o século 20. Na Irlanda, não foi mui-

com direitos
to diferente, com apenas alguns crentes do mundo”. Antes do final do século,
“congregados” em Ulster. os adventistas batizaram seu primeiro
membro dentre os nômades lapões.
Inglaterra Embora a população da Suécia fosse
À despeito de seu pequeno núme- maior do que a da Noruega e Dinamarca
ro de membros, a Inglaterra tornou-se Juntas, os adventistas acharam mais dificil
um centro de propagação do adventis- ganhar adeptos all O poderoso estado
mo para os quatro cantos do mundo. clerical sueco mostrou-se amargamente
Em grande medida, isso foi devido aos antagonista, assegurando a prisão tem-
dedicados esforços de George Drew, o porária de um dos primeiros evangelistas.
“navio missionário” de Liverpool, que Em 1887, contudo, Matteson finalmente
colocava literatura em dezenas de na- foi capaz de atrair mil ouvintes para uma
vios que visitavam esse movimentado conferência de tenda em Estocolmo.
porto e convencia os capitães a deixar A despeito de suas próprias dificul-
literatura adventista do sétimo dia em dades, os adventistas do sétimo dia sue-
muitos de seus portos de escala. cos resolveram atender ao chamado de
um capitão de navio finlandês que havia
Escandinávia aceito o adventismo como resultado da
Provavelmente, em nenhuma outra compra de livros de George Drew em
parte da Europa os adventistas do sétimo Liverpool. Olaf Johnson, presidente da
dia atraíram inicialmente tantos adeptos associação, levou duas obreiras bíblicas
como na Escandinávia. Isso deve-se gran- e começou a trabalhar em Helsinki, capi-
demente à energia e visão de J. G. Mat- tal da Finlândia, no ano de 1892. Apesar
teson, um crente firme no ministério da das ameaças dos oficiais russos que en-
literatura. Matteson lançou um periódi- tão governavam a Finlândia, uma obra
co evangelístico outro sobre saúde para de colportagem se desenvolveu gradual-
a Dinamarca e Noruega, e foi o autor e mente; e pelo final do século, havia três
impressor de uma variedade de livros e pequeninas igrejas finlandesas.
panfletos. Em 1880, ele organizou as igrre- Os adventistas dinamarqueses tam-
jas dinamarquesas na primeira associação bém decidiram lançar um esforço mis-
fora da América do Norte. Sete anos de- sionário por conta própria. Em 1897,
pois, em Moss, Noruega, durante a prr- enviaram David Óstlund para a colônia
meira reunião campal realizada na Euro- dinamarquesa da Islândia. Em seu per-
pa, foi formada a Associação Norueguesa. curso, Ostlund encontrou um casal ad-
Por esse tempo, uma sucessão de obreiros ventista islandês que voltava da América.
americanos tinha se unido a Matteson, tn- Eles tinham lido sua proposta de missão e
clusive dois trmãos, O. À. e E. G. Olsen. tinham vendido sua fazenda a fim de vol-
Matteson treinou um eficiente gru- tar para sua terra natal e ajudá-lo. Como
po de colportores dentre seus primei- Matteson, Ostlund conhecia o comércio
ros conversos. Por volta de 1884, eles da impressão. Ele estabeleceu o seu pró-
tinham penetrado o Círculo Á ttico, e, al- prio prelo e, em 1900, começou uma re-
guns anos depois, já existia um pequeno vista quinzenal, Frae&orn [À Semente].
grupo de observadores do sábado em Por volta de 1900, os adventistas es-
Hammerfest, “a cidade mais setentrional candinavos tinham desenvolvido escolas
secundárias na Dinamarca e na Suécia, e Havia alguns adventistas americanos
operavam várias salas de tratamento pri- que falavam fluentemente o francês,
vado. No ano de 1898, o dr. |. C. Ottosen mas nenhum tinha domínio de italiano
lançou o que se tornaria o mais famoso ou romeno. Os irmãos Bourdeau esta-
sanatório adventista na Europa: Skóds- vam longe de completar a tarefa de ad-
borg. Localizado alguns quilômetros ao vertir a França e a Suíça de fala france-
norte de Copenhague, Skódsborg come- sa, contudo, foram também mandados
çou com apenas 20 pacientes; mas sua para a Itália e a Romênia. Incapazes de
combinação de hidroterapia com mas- falar ao povo nesses dois últimos paí-
sagem, exercicio e dietas especiais, logo ses, exceto por meio de intérpretes, eles
ganhou influentes patrocinadores, inclu- ganharam apenas alguns conversos.
sive membros da família real. Gradualmente, os crentes romenos se
dispersaram e o adventismo quase de-
Europa Central sapareceu ali . D. T. Bourdeau despen-
Na Europa central, onde primeiro o deu considerável esforço nos vales val-
adventismo tinha lançado raízes, o pro- denses do noroeste da Itália, mas com
gresso parecia lamentavelmente lento. pouco resultado considerável.

To

Basiléia, Suíça, foi o local da primeira sede dos adventistas do sétimo dia europeus. Ali estavam
não apenas os escritórios administrativos, mas também as instalações editoriais e de impressão.
O importante Concílio Europeu de 1885, com a presença de Ellen G. White, ocorreu aqui.
Com o auxílio de W. C. White e H. W. editores americanos. Do suprimento lt-
Kellogg da Rerzew, um vigoroso progra- beral de folhetos alemães recebidos, ele
ma de publicações foi estabelecido em aprendeu praticamente todas as doutri-
Basiléia, Suíça, em um edifício erguido nas distintivas adventistas do sétimo dia.
no ano de 1884. Esse prelo produzia lite- Por volta dessa época, Perk também
ratura em francês, alemão, italiano e ro- se tornou um agente da Sociedade Bi-
meno, mas por causa de dificuldades da blica Britânica e Estrangeira. Enquanto
lei dominical, as publicações pararam, e viajava pela Rússia vendendo Bíblias,
posteriormente o edifício tornou-se um ocorreram vários incidentes que ele reco-
sanatório. À impressão alemã transferiu- nheceu como claras evidências do cuida-
se para Hamburgo, em 1895. Como não do divino por ele. Perk também conclum
havia ninguém para promover e treinar que Deus continuaria com essa proteção,
colportores, o programa se enfraqueceu se ele aceitasse o que considerava ser ver-
na França e Itália até o século 20. dade biblica. Tomada a decisão, Perk adi-
cionou literatura adventista às Bíblias que
Rússia estava vendendo. Isso tornou sua obra
Entretanto, a lteratura adventista muito mais perigosa, visto que os fo-
estava despertando interesse no sul da lhetos e periódicos adventistas eram um
Rússia, particularmente na Criméia. Ge- notório convite aos leitores para que der-
rações anteriores ao governo do czar ha- xassem a Igreja Ortodoxa estatal. O pro-
viam encorajado famílias de agricultores selitismo era estritamente proibido pela
alemães, muitos deles menonitas, a se es- lei russa e nesses anos que se seguiram ao
tabelecerem nessa região. Posteriormente, assassinato de Alexander II, havia severa
algumas delas emigraram para os Estados repressão a todos os dissidentes russos.
Unidos, fixando residência nas planícies Perk não era o único agente que estava
do Kansas e Dakota. Mas pelo final da propagando as idéias adventistas no sul
década de 1870, o adventismo havia cria- da Rússia, porque entre os adventistas do
do raízes em várias dessas comunidades sétimo dia germano-russos de Milltown,
russo-alemãs, e logo os panfletos adven- Dakota do Sul, um octogenário ansiava
tistas do sétimo dia estavam sendo envia- voltar para a Rússia a fim de partilhar
dos a parentes e amigos do “velho país”. sua fé recém-descoberta. Sua 1dade e um
Um dia, em 1882, um vizinho da defeito na fala fizeram 1sto parecer tolice
Criméia confidenciou a Gerhard Perk aos seus companheiros de fé, contudo,
que tinha alguns folhetos interessantes, o idoso homem não seria dissuadido.
mas perigosos, que ele havia recebido da Chegando em Odessa praticamente sem
América, três anos antes. Sua curiosida- dinheiro, ele vendeu suas botas a fim
de foi despertada e Perk pediu para ver de assegurar transporte para a Criméia.
alguns dos panfletos. Depois de muito Estando ali ele desenvolveu uma inteli-
rogo, o vizinho concordou em empres- gente maneira de testemunhar. Levava
tar-lhe um intitulado The Third Angel vários folhetos para o mercado da vila e
Message [4 Mensagem do Terceiro Anjo]. solicitava às pessoas que lessem para ele,
Na solidão de seus feixes de feno, Perk alegando visão deficiente. Se o leitor se
leu o folheto três vezes. Então, Genhand mostrasse interessado, era prontamente
fez um pedido adicional de literatura aos presenteado com o folheto. Quando o
sacerdote local quis prender o velho ho- Alemanha
mem, o povo da comunidade o repreen- À propagação do adventismo na
deu por pensar que um idoso quase cego Alemanha pareceu paralisar, depois que
pudesse ser prejudicial. Por mais de um James Erzberger voltou para a Suíça em
ano, a semente foi semeada desse modo, 1878. Durante os oito anos seguintes, até
produzindo considerável colheita. a chegada de Conradi, não havia nenhum
Quando L. R. Conrad: chegou à Suí- ministro adventista do sétimo dia traba-
ça, vindo dos Estados Unidos, em 1886, lhando na terra de Lutero. Como dinã-
imediatamente quase se defrontou com mico executivo e perfeito organizador,
um apelo de Gerhard Perk para visitar a Conradi foi a principal coluna do adven-
Rússia. Conradi aceitou, e naquele verão tismo alemão por 35 anos. Depois de
viajou com Perk pela Criméia, pregando preparar cuidadosamente vários panfle-
abertamente. Um batismo público e a tos, ele pôs-se a organizar, em 1888, uma
organização de uma igreja adventista do eficiente obra de colportagem na Alema-
sétimo dia eram demais para as autori- nha. Gerhard Perk, constantemente sob
dades. Conrad: e Perk foram intimados o risco de perseguição na Rússia, foi re-
a comparecer perante um juiz local que crutado para vender literatura adventista
prontamente ordenou seu aprisiona- do sétimo dia na Renânia alemã.
mento por ensinar heresia judaica. Auxiliado por vários evangelistas
Por 40 dias, os dois homens suporta- germano-americanos, Conrad: fundou a
ram as privações de uma cela apertada, sede da igreja alemã em Hamburgo no
alimento escasso e ameaças assustado- ano de 1899. Dentro de cinco anos, ele
ras. Finalmente, pela intervenção do re- havia organizado um instituto de treina-
presentante diplomático americano de mento para colportores e obreiros bíibli-
São Petersburgo, Conradi e Perk foram cos, uma missão urbana e um complexo
soltos. Destemidos por sua experiência, de publicações que finalmente preparava
eles continuaram a visitar pessoas inte- literatura em uma dúzia de línguas além
ressadas no sul da Rússia e entre os co- do alemão. Por volta de 1894, Conradi
lonos alemães da bacia do rio Volga, mas possuia quase 50 colportores trabalhan-
foram mais cautelosos em suas ativida- do na Alemanha e entre as pessoas de
des públicas. fala alemã da Austro-Hungria, dos Bal-
Durante os próximos poucos anos, vá- cãs e da Holanda.
tios adventistas germano-russos do Kan- Havia poucas perspectivas para uma
sas voltaram para as regiões do Cáucaso escola adventista em Hamburgo, por-
e do Volga. Eles acharam relativamente tanto no ano de 1899 foi comprada uma
fácil trabalhar entre os colonos alemães, propriedade rural perto de Magdeburgo.
porém, mais perigoso falar aos russos Ali foi desenvolvido o Seminário Mis-
nativos acerca de assuntos religiosos. To- sionário de Friedensau. Sua padaria e
davia, o crescente número de adventistas fábrica de alimentos saudáveis ajudavam
alemães na Rússia partilhava suas cren- os estudantes a ganhar a vida, enquanto
ças. Seguiram-se detenção e banimento aprendiam. Logo foram adicionadas uma
para regiões distantes, inclusive à Sibéria. forja, uma oficina de serralheiro e uma
O único resultado foi a disseminação de carpintaria. Por volta de 1900, o número
grupos adventistas em novas áreas. de adventistas na Alemanha se aproxima-
va de 2 mil — mais de três vezes o número para a loja. Se as queixas levassem ao
da França, Suíça e Itália juntas. banimento de algum livro específico, ele
O serviço militar compulsório na era reencadernado sob um novo título e
Alemanha demonstrou-se um problema. as vendas continuavam.
Como reagiriam os alistados com à or-
dem de trabalhar no sábado? Cortesmen- Sudeste europeu
te, mas com firmeza, eles se recusaram No sudeste europeu, os ensinamen-
a engajar-se nele, mesmo quando ame- tos adventistas do sétimo dia entraram no
açados de morte. Um jovem explicou a Império Turco através dos labores de um
uma corte marcial que ele poderia citar sapateiro grego autônomo. Theodore An-
uma centena de textos bíblicos a respeito thony, recente imigrante de Constantino-
da a observância do sábado, mas se lhe pla, aceitou o adventismo na Califórnia,
mostrassem apenas um texto exigindo a em 1888. Quase que imediatamente, ele
guarda do domingo, ele trabalharia. Um decidiu voltar para o seu lugar de nasci-
confronto com o capelão militar ter- mento a fim de propagar sua fê recém-
minou a favor do jovem adventista e a descoberta. Os contatos iniciais de An-
corte simplesmente decidiu despedi-lo thony com cristãos gregos e armênios
do exército. Outros não foram tão feli- despertaram antagonismo dentro das
zes; passavam meses e anos na prisão, até igrejas cristãs registradas; logo alguns
que finalmente os médicos-legistas do quakers se queixaram de suas atividades
exército começaram a encontrar todas as e conseguiram sua detenção. Depois de
maneiras de escusas para rejeitar recrutas passar duas semanas na prisão, as perple-
adventistas do sétimo dia. xas autoridades muçulmanas libertaram
O aprisionamento também era o Anthony, que começou a trabalhar em
frequente o destino dos crentes adven- seu comércio de sapateiro, partilhando
tistas que deixassem de mandar seus discretamente pensamentos religiosos
filhos para a escola aos sábados. Sobre com clientes em que ele descobria uma
esse ponto, a maioria das autoridades do fagulha de interesse em assuntos de dou-
governo se comprometia em permitir trina da igreja ou de negócios do mundo.
que as crianças adventistas estudassem Em pouco tempo, esse humilde sa-
a Bíblia no sábado, ao invez das lições pateiro localizou um enérgico jovem ar-
regulares da escola, mas a frequência mênio, Z. G. Baharian, e o convenceu
era obrigatória. da veracidade das doutrinas adventistas.
Em contraste com os procedimentos Baharian passou os próximos dois anos
nos Estados Unidos, onde os adventistas em Basiléia, tornando-se mais plena-
do sétimo dia haviam trabalhado primei- mente estabelecido em suas novas cren-
ro nas aldeias e áreas rurais, os esforços ças. Ao voltar para a Turquia, ele e AÀn-
evangelísticos alemães eram dirigidos em thony realizaram cultos evangelísticos
torno das cidades. Às vezes considerável e fizeram contrato com um impressor
criatividade era demonstrada. Quando local para produzir folhetos. Este suge-
os colportores não conseguiam obter au- riu que provavelmente seria necessário
torização para a venda de casa em casa, subornar oficiais para obter a necessá-
eles alugavam um salão que servia de l1- tia permissão de publicar tal material.
vraria e, então, solicitavam encomendas Baharian e Anthony recusaram-se a
fazer isso, mas eles deixaram seus ma- Echo Publishing Company para produzir
nuscritos com o impressor. Durante pe- jornais locais, folhetos e livros. Dois dos
ríodos de pouca atividade na oficina, as primeiros conversos na Austrália eram do
máquinas de composição eram postas a ramo de publicações que abandonaram o
trabalhar nos folhetos adventistas. De seu negócio privado para desenvolver o
imediato o impressor estava tão interes- escritório da Echo. O colportor pioneiro
sado no trabalho adventista que assumiu Willkam Arnold descobriu um bom mer-
a responsabilidade de obter ele mesmo a cado para a literatura adventista. Nas prr-
autorização para publicação. meiras seis semanas, Arnold não vendeu
um só livro, mas a dedicada persistência
Oriente Próximo valeu a pena. Subitamente, ele começou a
Durante a década de 1890, Bahartian e vender uma dúzia ou mais de exemplares
Anthony fundaram vários pequenos gru- de Daniel and the Revelation [Daniel e Apo-
pos de observadores do sábado na Ásia calipse] diariamente. Durante os três anos
Menor. Eles sempre trabalhavam sob que passou na Austrália, vendeu mais de
extremas dificuldades, ameaçados pelas 2 mil livros. De seus lucros, Arnold doou
autoridades e multidões; frequentemente 1.200 dólares para a compra do primeiro
aprisionados, todavia nunca desanima- prelo para a Echo Publishing Company.
dos. Pelo início do século 20, havia várias Em 1895, o americano E. R. Palmer
centenas de crentes na Turquia. chegou à Austrália, vindo de Oklahoma,
O assassinato do dr. Ribton e de vá- para organizar a obra da colportagem.
rios outros durante os motins de 1882, Por volta de 1900, ele tinha 70 colporto-
trouxe um fim temporário à obra ad- res no campo, dentre um número de 2
ventista no Egito. Então, por volta de mil membros adventistas do sétimo dia.
1900, várias famílias adventistas do sé- Durante a década seguinte, a Austrália
timo dia armênias da Turquia estabele- serviu como “o campo modelo para a
ceram-se no Cairo e em Alexandria; e obra da literatura”.
um crente italiano, J. Leuzinger, iniciou Os primeiros esforços adventistas
uma obra missionária em navios no na Austrália centralizaram-se em torno
movimentado Port Said. Logo depois, dos subúrbios de Melbourne e Sydney,
Louis Passebois, sua esposa e Ida Sch- onde o trabalho nas tendas e as reuniões
legel fundaram uma casa de saúde e um campais provaram-se eficientes entre 1n-
restaurante no Cairo. Cautelosamente, divíduos de classe média de profissões e
combinaram o ensino religioso com o pequenos negócios. Uma notável carac-
seu ministério médico. Em 1901, o pas- terística da Austrália foi a tendência de
tor Conradi organizou a primeira igreja famílias inteiras se unirem à igreja. Isso
adventista do sétimo dia no Egito. foi verdade também na Nova Zelândia,
que S. N. Haskell visitou no outono de
Australásia 1885. Haskell persuadiwm Edward Hare,
À meio mundo de distância, a ativi- com quem se hospedou em Auckland, da
dade adventista na Austrália e Nova Ze- verdade da doutrina adventista e foi ime-
lândia progrediu firmemente. À oposição diatamente solicitado a visitar o pai de
inicial à literatura “americana” foi gran- Hare a aproximadamente 240 quilôme-
demente vencida com a organização da tros de distância. Haskell concordou e foi
bem recebido por “Pat” Joseph Hare, um do sétimo dia, despertaram a suspeita dos
pregador metodista local. O pastor Hare, dirigentes da 1lha. À caixa foi posta de
juntamente com outros membros de sua lado sem que o seu conteúdo fosse lido.
família, imediatamente aceitou o adven- Dez anos depois, ela foi descoberta, e al-
tismo. Robert, irmão de Edward, logo es- guns dos mais jovens 1lhéus leram os pan-
tava a caminho do Healdsbureg College a fletos e notaram quão acentuadamente as
fim de preparar-se para o ministério. Ele doutrinas apresentadas eram apoiadas por
voltou para trabalhar mais de 30 anos na citações bíblicas. Eles ficaram surpresos
Austrália, e criar dois filhos cujos nomes por encontrar evidência de que o sétimo
acrescentariam brilho à causa adventista dia era o verdadeiro sábado.
em anos posteriores. Foi nesse contexto que John IL. Tay
O campo australasiano foi especial- chegou. Durante anos, ele havia sonha-
mente abençoado com a ajuda da Amé- do em visitar Pitcairn; agora, ele solicitou
rica. Em 1886, a família de Arthur Da- permissão para ficar na 1lha até que o
niells foi enviada à Nova Zelândia para próximo navio chegasse. Depois de con-
a obra evangelística. Posteriormente, siderável discussão, os tilhéus concorda-
Daniells tornou-se presidente da Asso- ram. Tay rapidamente conquistou-lhes o
ciação da Nova Zelândia. Em 1892, ele coração com suas gentis maneiras cristãs.
mudou-se para um cargo semelhante na Quando ele falou, mediante convite, no
Austrália, onde se tornou intimamente primeiro culto de domingo em seguida
associado de Ellen e Willie White. Du- à sua chegada, usou essa oportunidade
fante Os oito anos que se seguiram, esse para discutir o verdadeiro sábado, mui-
trio ajudou a lançar os fundamentos de tos foram convencidos. Outro estudo
uma eficientemente coordenada obra convenceu os duvidosos; e na ocastão
educacional, médica e de publicações, em que o americano deixou a ilha, cinco
tendo em vista a expansão evangelística. semanas depois, todos os seus habitantes
adultos tinham aceitado plenamente as
As ilhas do Pacífico doutrinas adventistas do sétimo dia.
No mesmo ano em que Daniells detr- A notícia da conversão dos habitantes
xou a Nova Zelândia, um leigo adventista de Pitcairn emocionou as fileiras adven-
e carpinteiro de navio, John I. Tay, chegou tistas do sétimo dia. Não era 18so um cla-
a uma minúscula 1lha do Pacífico, cuja his- ro sinal de Deus para se iniciar a obra nas
tória havia fascinado americanos e britâni- ilhas do Pacífico? É verdade que as cone-
cos por décadas: a romântica Pitcairn. Ali xÕes por navio a vapor eram irregulares;
quase 150 descendentes dos amotinados todavia, um meio deveria ser encontrado.
do Bownty e suas esposas taitianas viviam Por que não construir um pequeno navio
em uma simples e piedosa sociedade. Tia- missionário para transportar pessoal e su-
go White e John Loughborough tinham primentos de ilha para ilha? À Assembléia
ouvido de Pitcairn em 1876, e conseguido da Associação Geral de 1887 autorizou o
enviar para os ilhéus uma caixa de literatu- gasto de 20 mil dólares para construir ou
ra adventista por um dos navios que oca- comprar tal embarcação, que deveria es-
sionalmente fazia escala ali. Os estranhos tar em operação no ano seguinte.
títulos de alguns dos folhetos, juntamente Uma consideração mais minucio-
com o desconhecimento dos adventistas sa convenceu os líderes adventistas de
que um navio adequado não poderia Estados Unidos concordaram entusias-
ser aprontado tão rapidamente; de sorte ticamente em contribuir com suas ofer-
que eles decidiram enviar John 1. Tay de tas do primeiro semestre de 1890, a fim
volta a Pitcairn para fortalecer seus con- de construir um navio missionário. Às
versos. O pastor A. J. Cudney de Ne- crianças venderam caramelos, bolos e
braska deveria acompanhá-lo e batizar pipoca doce para que pudessem ajudar
os novos crentes. Os dois partiram para na compra dos pregos, tábuas e lonas,
chegar a Pitcairn por diferentes rotas; e os membros da escola sabatina foram
Tay pelo caminho de Tahiti, e Cudney convidados a sugerir um nome para o
via Havaí. Mas nenhum navio que pla- navio. Muitos nomes foram sugeridos; a
nejasse parar em Pitcairn foi localizado princípio, Boas Novas parecia ser o es-
em um ou outro lugar. Impacientemen- colhido; mas finalmente, a embarcação
te, Cudney resolveu comprar uma velha foi batizada de Pitcairn.
escuna oferecida a preço de pechincha. Antes de outubro de 1890, a escuna
Depois de contratar uma tripulação, ele Pitcairn, de dois mastros e com aproxi-
partiu para o Tahiti a fim de alcançar Tay, madamente 30 metros e meio de com-
mas com embarcação e tripulação ele se primento, estava pronta para navegar
perdeu no mar. John IL. Tay, finalmente com sua tripulação de sete pessoas e
voltou sozinho para São Francisco. três casais missionários: as famílias John
Essa experiência confirmou a de- L. Tay, E. H. Gates e A. J. Read. Foram
cisão da Associação Geral de construir necessários 36 dias para fazer a viagem
uma embarcação marítima para o ser- de 6.500 quilômetros de São Francisco a
viço inter-ilha. As escolas sabatinas nos Pitcairn, onde sua chegada trouxe gran-
de regoziyo. Os pastores Gates e Read
batizaram 82 1lhéus e organizaram uma
igreja e escola sabatina. Depois de uma
permanência de várias semanas, o navio
missionário seguiu viagem para Tahiti,
Rarotonga, Samoa, Fyi e 1lha Norfolk.
Em cada uma dessas paradas, bem como
em outras, os obreiros fizeram reuniões,
venderam livros e despertaram o interes-
se.
Dois anos depois, o Pitcairn voltou
para São Francisco; sua viagem tinha
sido um sucesso. O pastor Gates e es-
posa foram deixados em Pitcairn, e o ca-
sal Read na ilha Norfolk. Mas um preço
H tinha sido pago, um preço que seria de-
A sepultura de John 1. Tay (1832-1892), um leigo masiado comum no futuro. John 1. Tay,
norte-americano que passou os últimos seis anos que havia ficado para iniciar a obra em
de sua vida em serviço missionário nas ilhas do
Pacífico, inclusive na obra pioneira na ilha Pit- Fiji, morreu ali alguns meses depois; a
cairn. Sua sepultura está localizada em Suva na mesma sorte também sucedia ao capitão
ilha de Fiji, onde ele morreu no ano de 1892. J. O. Marsh, enquanto o Pitcairn estava

Material com direitos at


sendo reaparelhado na Nova Zelândia. de estar explorando sua terra. Ele tor-
Ao longo do restante da década, o nou-se a via de acesso por meio da qual,
Pitcairn continuou levando misstoná- primeiramente, a família van Druten, e
fios para acender a chama do evangelho depois a família Wessels, souberam dos
em ilhas que tinham nomes estranhos adventistas do sétimo dia.
aos ouvidos americanos: Rotatea, Ruru- Emocionados por saberem que na
tu, Rarotonga. Mas por volta de 1900, as América havia uma organização eclestás-
despesas com a manutenção eram gran- tica guardando o sábado do sétimo dia,
des demais e os itinerários dos navios a os dois sul-africanos enviaram um apelo
vapor eram mais regulares e confiáveis: a Battle Creek solicitando um ministro
o Pitcairn foi vendido. que falasse holandês para que fosse até
lá e lhes ensinasse mais. Colocaram com
África do Sul a carta um cheque bancário de 50 libras
Um sapateiro iniciou o adventismo (aproximadamente 250 dólares america-
na Turquia, um carpinteiro de navio aos nos naquela época). Quando esse “cha-
1héus de Pitcairn, e foi através de um ex- mado macedônio” foi lido na Assembléia
plorador de diamantes que as três men- da Associação Geral de 1886, a audiência
sagens angélicas entraram pela primeira ficou tão comovida que espontaneamen-
vez na África do Sul. Já em 1878, William te se levantou e cantou a doxologia. No
Hunt, que havia aprendido a fê adven- mês de julho seguinte, um grupo missio-
tista com Loughborough, na Califórnia, nário de sete pessoas conduzido por D.
partilhou lteratura adventista com J. H. A. Robinson e C. L. Boyd, incluindo dois
C. Wilson, ex-pregador metodista wes- colportores e um instrutor bíblico, che-
leyano, nos campos de diamante de Kim- gou em Cidade do Cabo. Ninguém do
berley. Isso levou Wilson e vários outros grupo, porém, falava holandês.
a anunciar suas intenções de se tornarem Enquanto 1sso, Wessels e van Dru-
adventistas do sétimo dia. ten não tinham estado ociosos. Che-
Foi, porém, sete anos depois que co- gando a Kimberley, Boyd encontrou
meçou uma série de eventos que resultou cerca de 40 pessoas interessadas em se
na chegada dos primeiros missionários tornar adventistas do sétimo dia. En-
adventistas na Colônia do Cabo. Nessa quanto Boyd continuava em Kimber-
ocastão, dois fazendeiros holandeses se ley, a maior parte do grupo missionário
convenceram, em seu estudo das Escri- permaneceu na região de Cidade do
turas, de que o sétimo dia era o verdadei- Cabo. Quando as reuniões em tendas
ro sábado. George van Druten teve seu não mais atraíam a grande maioria, es-
interesse despertado devido a um sonho ses obreiros voltaram-se para a visitação
extraordinário; o estudo do assunto por de casa em casa e a distribuição de fo-
Pieter Wessels veio como resultado da lhetos. Particularmente eficiente nesse
observação casual de um irmão adotivo método de trabalho era o jovem David
que tinha em vista desencorajar seu sé- Tarr, ex-pregador leigo metodista, que
fio interesse na religião bíblica. Em um havia aprendido de Pieter Wessels as
passeio de sábado à tarde, van Druten e doutrinas fundamentais adventistas. Par-
sua esposa se depararam com o mine- tilhando convincentemente sua nova
rador Hunt estudando a Bíblia em vez fé com seus irmãos, Tarr iniciou uma
reação em cadeia que deveria prover o de certos obreiros americanos. No início
adventismo da África do Sul de quase do século 20, quando as contribuições da
20 obreiros de tempo integral. família Wessels foram drasticamente re-
Gradualmente, — várias pequenas duzidas, tornou-se evidente que as pou-
igrejas adventistas do sétimo dia foram cas centenas de adventistas da África do
organizadas em Cabo, todas entre pes- Sul não podiam sustentar instituições do
soas de descendência européia. O pas- estilo de Battle Creek. À Associação Ge-
tor Boyd interessou-se por apresentar a ral também não podia dar auxílio finan-
mensagem de salvação aos povos tribais ceiro. Portanto, fot necessário dispor do
sul-africanos da região, mas seu “tem- orfanato, sanatório e lar filantrópico. O
peramento individualista” o impediu de colégio e a imprensa continuaram, mas
obter apoio entre seus coobreiros. Antes de uma maneira muito mais modesta.
que pudesse desenvolver um programa
para os africanos nativos, ele foi chama- Rodésia
do de volta para a América, em 1890. Enquanto isso, a Associação Geral,
No ano de 1891, a descoberta de dia- ante sugestão da família Wessels, havia
mantes na fazenda de Johannes Wessels, decidido tentar obter terra para formar
pai de Pieter, introduziu entre os adven- um posto missionário no território ao
tistas um novo e incomum elemento no norte da Colônia do Cabo, região re-
quadro sul-africano. “Pat” Wessels recebeu centemente ocupada pela Companhia
mais de 1,25 milhão de dólares de juros da Britânica da África do Sul. No final do
Mineração de Beers por sua fazenda. Im- que eles temiam ser uma reunião um
pressionados pelas instituições denomina- tanto insatisfatória com Cecil Rhodes,
cionais que eles haviam observado em Bat- os representantes adventistas A. T. Ro-
tle Creek, os irmãos Wessels defenderam binson e Pieter Wessels receberam uma
um complexo similar para a África do Sul. carta selada e foram instruídos a en-
Dentro de pouco tempo, e com o apoio tregá-la ao dr. Leander Starr Jameson,
liberal da família Wessels, a região do Cabo representante de Rhodes em Bulawayo,
podia se orgulhar de um colégio adventis- Rodésia. À carta lhes concedia toda a
ta, sanatório, casa publicadora e orfanato. terra que pudessem usar. Radiantes de
Um lar filantrópico, que provia alimento, alegria, eles solicitaram 6 mil morgen
abrigo e assistência médica para o número (pouco mais de 12 mil acres ou 48,5 mil
crescente de pessoas destituídas, também quilômetros quadrados), pelos quais
foi fundado na área de Kimberley. deviam pagar uma taxa de liberação no-
Infelizmente, o crescimento de minal de 60 dólares anualmente.
membros adventistas do sétimo dia não O desenvolvimento da Missão So-
acompanhou o tamanho das instituições lusi na concessão de Rhodes começou
da igreja que foram fundadas. Isso não em 1894, e provou ser uma tarefa difícil.
foi um problema tão grande enquanto a AÀ princípio, houve considerável oposi-
família Wessels continuou financiando ção entre alguns líderes adventistas na
os custos das tnstituições, mas a Guerra América em aceitar uma concessão de
Anglo-Boer (1899-1902) afetou adver- terra como favor governamental. A. 'T.
samente muitos dos seus investimentos. Jones temia que isso violasse os princí-
Alguns da família também se afastaram pios adventistas do sétimo dia de sepa-
ração igreja-estado. Uma carta de Ellen missionário de navio adventista do séti-
G. White, admoestando-os a não “se mo dia da cidade de Nova Iorque per-
privarem da ajuda que Deus moveu os suadiu o capitão de uma embracação a
homens a dar, para o avanço de sua cau- entregar um fardo de literatura em Ge-
sa”, convenceu a Comissão Missionária orgetown, Guiana Britânica. O capitão
Estrangeira Adventista do Sétimo Dia cumpriu à promessa, arremessando o
a prosseguir com o projeto. Mal havia pacote no cais. Um transeunte reuniu
começado o estabelecimento da mis- alguns dos periódicos enquanto se es-
são, quando uma revolta tribal forçou palhavam, leu-os, e os emprestou aos
OS missionários a se retirar por cinco vizinhos. Vários começaram a guardar o
meses. À fome e o surgimento de uma sábado e uma mulher enviou exemplares
peste bovina, destruindo todo o gado da do Signs of the Times para sua irmã em
missão que havia sobrevivido à guerra, Barbados. Ali eles cairam nas mãos de
seguiram-se em rápida sucessão. Logo descendentes de uma velha escrava, que
depois, as fileiras de missionários foram anos antes havia alertado seus filhos a
dizimadas por uma virulenta epidemia estar em vigilância a favor da restauração
de malária. Por algum tempo, parecia da observância do verdadeiro sábado.
que o posto seria fechado, mas as con- Em resposta às inquirições da Guia-
versões entre os africanos da região le- na Britânica, o colportor veterano Ge-
varam os missionários a desconsiderar orge King acompanhou o pastor G.
a ordem da Comissão Missionária de G. Rupert para Georgetown, em 1887.
mudar-se para outro lugar. Durante três meses, King vendeu 800
Durante o ano em que Solusi foi dólares de livros. Nos anos seguintes,
fundada, houve também uma tentativa William Arnold repetiu seus primeiros
para iniciar a obra adventista ao longo sucessos da Austrália, fazendo cinco
da costa africana ocidental, atualmente, viagens pelas 11lhas do Caribe e venden-
Gana. Nesse país, o interesse no adven- do mais de 8 mil dólares de livros.
tismo tinha sido despertado através de Mesmo antes da visita de Ruppert e
folhetos deixados por um capitão de King a Georgetown, a sra. E. Gauterau,
navio visitante. Duas enfermeiras che- uma adventista convertida na Califórnia,
garam em 1895, e uma obra médica retornou em 1885 para suas nativas Ilhas
foi instituída. No prazo de dois anos, o do Recôncavo, próximo à costa de Hon-
constante açoite da febre, que ganhou duras, a fim de partilhar sua nova fé. Seis
para a região o título de “a sepultura do anos depois, o pastor Frank Hutchins,
homem branco”, forçou o abandono da o primeiro missionário permanente,
missão até o início do século 20. chegou para reforçar o interesse que ela
havia criado. Às escolas sabatinas pro-
América Central veram fundos para Hutchins construir
AÀ história da entrada do adventismo uma escuna missionária de quase 15
do sétimo dia nas terras tropicais do Ca- metros, o Arauto, para trabalhar entre as
ribe é a história de folhetos, colporto- Ilhas do Recôncavo e ao longo da costa
res e consagradas mulheres decididas a centro-americana. No Caribe, a sra. À.
partilhar uma fé recéêm-descoberta com Roskrug, que havia sido introduzida ao
velhos amigos e parentes. Em 1883, um adventismo na distante Inglaterra, vol-
tou em 1888 para Antigua. Em pouco ness foi afastado da diretoria do Battle
tempo, ela deu início a uma pequena Creek College em 1897, ele foi manda-
reunião semanal da Escola Sabatina. do para o México a fim de ajudar em
Por volta de 1890, um livro vendi um novo projeto interdenominacional
do por Wilkam Arnold em Antigua foi de tradução da Bíblia. Assistido por
enviado para o filho do comprador na várias famillas mexicano-americanas,
Jamaica. Esse homem, James Palmer, Caviness lançou, em 1899, uma per-
escreveu aos editores de Battle Creek manente obra adventista do sétimo dia
solicitando mais literatura. Palmer deu na Cidade do México por meio de uma
alguns dos panfletos recebidos, inclus1- escola de língua inglesa.
ve “Eltú no Sábado”, a um médico lo-
cal. Não tendo nenhum interesse neles, América do Sul
o médico os passou adiante, para a sra. Uma entustástica tentativa de in-
Margaret Harrison, pessoa da alta socie- troduzir o adventismo na Colômbia
dade inglesa que fazia obras de caridade foi feita por Frank C Kelley, durante a
no hospital. À sra. Harrison foi conven- década de 1890. Ela, porém, terminou
cida pela verdade do sábado, mas hesi- depois de três anos, quando a saúde
tou por algum tempo em guardá-lo. Em de sua esposa o forçou a voltar para
1893, ela foi para o Sanatório de Battle a América. Kelley tinha ido como um
Creek em busca de tratamento. Ali as- missionário economicamente indepen-
sistiu à Assembléia da Associação Ge- dente, vendendo equipamento fotográ-
ral, durante a qual apelou para que um fico e dando aulas de inglês para sobre-
ministro fosse enviado à Jamaica. Outra viver. Infelizmente, por duas décadas
vez, isso foi possível graças às ofertas da não houve ninguém para promover a
Escola Sabatina. Um bom número de jo- obra pioneira de Kelley.
vens estava entre os primeiros conversos Embora o espanhol e o português
da Jamaica; muitos se tornaram enérgi- sejam as principais línguas faladas na
cos colportores. Quando foi organizada América do Sul, os adventistas do sé-
a Associação da Jamaica em 1903, havia timo dia ganharam seus primeiros
1.200 adventistas do sétimo dia na ilha. conversos dentre os imigrantes de fala
alemã e francesa da Argentina, Brasil e
México Chile. Em grande parte, 1880 resultou da
Foi um alfaiate italo-americano falta de literatura adventista do sétimo
chamado Marchisio que pela primeira dia em espanhol ou português até os
vez propagou a literatura adventista no anos finais do século 19.
México, em 1891, quando se tornou Os primeiros adventistas do sétimo
colportor. Não havendo nenhuma pu- dia que chegaram à América do Sul fo-
blicação disponível em língua espanho- ram Cláudio e Antonieta de Dessignet,
la, Marchisio vendeu exemplares de O que haviam aprendido a mensagem ad-
Grande Conflito em inglês na Cidade do ventista de D. T. Bourdeau na França.
México. Dois anos depois, Dan T'. Jones Eles imigraram para o Chile em 1885.
levou um grupo de obreiros médicos a Simultaneamente, duas famílias, em
estabelecer um sanatório e uma escola diferentes regiões da Argentina, sou-
em Guadalajara. Quando G. W. Cavi- beram dos adventistas por meio de jor-
nais que haviam recebido da Europa. listicas de L. R. Conrad. Emocionado,
No norte da Argentina, os emigrantes ele escreveu de sua nova fé para amigos
italianos Pedro Peverini e esposa leram das colônias germano-russas da Argenti-
um artigo zombeteiro em um periódi- na. Tendo alguém respondido à sua car-
co valdense que mencionava o ensino ta afirmando que acreditava no sábado e
de Les Signes des Temps de que o fim do que o guardarta se alguém o fizesse com
mundo estava próximo. À sra.Peverini ele, Riffel decidiu voltar para a Argen-
obteve uma assinatura de Les Signes de tina. No dia em que o grupo de Riffel
seu irmão na Itália. Isso levou os Peve- chegou à região de Entre Rios, Argen-
rini a se tornarem guardadores do sá- tina, eles encontraram um concidadão,
bado. Mais distante, ao sul, Julio e Ida Remnhardt Hetze, que tinha ouvido a
Dupertuis, membros de uma colônia mensagem do advento antes de partir da
batista franco-suíça, tiveram uma expe- Rússia, mas não estava seguindo os en-
tiência um tanto semelhante. sinos adventistas do sétimo dia. Tendo
Julio e Ida convenceram várias os recém-chegados partilhado resoluta-
outras famílias do seu grupo sobre mente suas crenças com Hetze, ele ficou
as novas doutrinas que eles estavam convencido, guardou o sábado seguinte
descobrindo. Por volta de 1889, eles e tornou-se um fiel adventista.
também começaram a corresponder- No final de 1891, os três primei-
se com a Sociedade Internacional de tos representantes oficiais dos adven-
Tratados de Battle Creek. Suas inda- tistas do sétimo dia para a América do
gações levaram os dirigentes adventis- Sul chegaram a Montevidéu, Urugua:.
tas do sétimo dia a pensar em iniciar Eram colportores enviados para abrir
a obra na América do Sul. Os fundos, caminho, vendendo livros em alemão e
é claro, seriam necessários para tal inglês a uma população que era em gran-
projeto. Assim a Associação da Esco- de parte de fala espanhola. Nenhum dos
la Sabatina concordou em destinar as três falava espanhol. Desanimados pelas
ofertas que ela arrecadou no último pequenas comunidades inglesas e alemãs
semestre de 1890 para a “Missão Sul- de Montevidéu e por uma exagerada
Americana”. Estas totalizavam um taxa de importação sobre os livros, eles
pouco mais de 8 mil dólares. rapidamente decidiram mudar-se para
Buenos Aires. Os primeiros seis meses
Argentina foram difíceis, mas eles fizeram um im-
No início de 1890, antes que qual- portante converso, Lionel Brooking de
quer obreiro adventista regular pudes- 21 anos de idade, a quem um do trio ha-
se ser enviado para a Argentina, quatro via vendido O Grande Conflito. Incapaz de
famílias de agricultores germano-russos continuar em seu emprego e guardar o
do Kansas, lideradas por George Riffel, sábado, Brooking alegremente começou
decidiram tr para o país como obreiros a colportar. Al: estava um colportor que
independentes. Riffel, anteriormente, falava espanhol, porém, não dispunha de
havia passado vários anos na Argentina, nenhum livro nesse idioma. Portanto, ele
mas tinha sido expulso pelos gafanho- começou a vender livros em francês aos
tos. No Kansas, ele aprendeu sobre o imigrantes protestantes franceses.
adventismo pelas conferências evange- Os chamados de Dupertuis, os rela-
tórios dos colportores e solicitações da verteram Alberto Bachmeyer, um jovem
colônia de Riffel finalmente levaram a marinheiro alemão, que começou a col-
Associação Geral, em 1894, a enviar o portar antes mesmo de ser batizado.
pastor F. H. Wesphal para superintender Em 1895, Jean Vullleumier da Suíça
o desenvolvimento da obra adventista foi enviado para ajudar Wesphal na Ar-
na Argentina, Uruguai, Paragua: e Bra- gentina. O conhecimento de línguas do
sil. Por esse tempo, os colportores ha- novo recruta provou-se extremamente
viam vendido mais de 10 mil dólares de útil. Em um relatório, Vulleumier lem-
literatura na Argentina e sul do Brasil, e brou que em 33 diferentes regiões da
provavelmente havia 100 crentes adven- Argentina onde ele tinha trabalhado, ele
tistas na Argentina. havia usado o francês em 16 lugares; o
Naqueles anos, não existiam cone- alemão em nove, o espanhol em seis, e o
xÕes diretas por navio a vapor entre os inglês em dois.
Estados Unidos e a Argentina. À família
Westphal viajou via Inglaterra acompa- Chile
nhada pelo irmão e a cunhada da sra. No mesmo ano em que Vullleumier
Wesphal, e a família W. H. Thurston, chegou à Argentina, dois colportores
que estava indo para o Rio de Janeiro americanos, Fred Bishop e Thomas
a fim de abrir um depósito de livros Davis, iniciaram a primeira séria tentati-
adventistas. Thurston não falava portu- va de evangelizar o Chile. Os dois che-
quês e não tinha nenhuma literatura nes- garam com várias malas de livros, mas
sa língua; de sorte que ele sustentou-se com pouco dinheiro; de fato, depois de
vendendo livros ingleses e alemães. Os pagarem ao barqueiro para conduzi-los
primeiros meses foram difíceis para os à terra firme, eles aportaram em Valpa-
Thurston; em uma ocasião eles foram raíso com exatamente um peso chileno!
salvos de extrema fome, quando um Bishop imediatamente tentou vender
missionário de outra denominação fez- alguns Bible Readines [Estudos Biblicos]
lhes um empréstimo não solicitado. em inglês, mas não pôde encontrar nin-
guém que o compreendesse, até que, no
Brasil segundo dia, um marinheiro indicou-
Às primeiras sementes do advento lhe um setor da cidade onde moravam
no Brasil foram semeadas quando al- vários colonos ingleses. Naquele dia ele
guns missionários adventistas do sétimo vendeu seis Bible Readines.
dia enviaram literatura para o pai de um Bishop e Davis tentaram aprender o
jovem alemão que eles haviam conhe- espanhol usando a Bíblia como livro de
cido a bordo de um navio que 1a para texto. Um dia, enquanto estavam na rua
a Europa. Exemplares do periódico lendo o Salmo 103 em alta voz, o jovem
alemão Stime der Wahrheit [Voz da Ver- Victor Thomann os ouviu por acaso. An-
dade] despertaram o interesse entre os teriormente, em um sonho, ele havia vis-
colonos alemães dos estado de Santa to esses dois homens fazendo exatamen-
Catarina, no sul do país. Em 1893, o trio te 1sso0; agora, ele prontamente os aceitou
de colportores americanos, juntamente como mensageiros de Deus. Com seu
com Brooking, mudaram-se para o sul irmão Eduardo, Victor logo estava ven-
do Brasil. No Rio de Janeiro, eles con- dendo os poucos folhetos adventistas dis-
poníveis em espanhol. Eduardo tornou- mulheres) das grandes famílias hindus.
se o primeiro editor do Signs of the Ties Foi através desses contatos que os pri-
em espanhol, que os irmãos lançaram em meiros adventistas do sétimo dia vieram
janeiro de 1900, na cidade de Valparaíso. do hinduísmo.
Dois anos e meio antes, os crentes argen- Através de conferências públicas em
tinos tinham iniciado o periódico mensal inglês, a abertura de salas de tratamento,
E/ Faro [O Farol] em Buenos Aires. e a impressão de alguns folhetos em ben-
Da Argentina, a fé adventista foi gal, a mensagem adventista se espalhou.
espalhada pelos colportores para o Depois de dois anos de trabalho, havia
Uruguai: e o Paraguai. Um grupo de talvez quatro ou cinco famílias bengalis
crentes autônomos mudou-se do Chi- e outro tanto de europeus que tinham
le para o Peru, em 1898. Durante os aceito a fé adventista. Em 1898, W. A.
anos de 1897 e 1898, um ex-colportor Spicer chegou a Calcutá e alguns meses
presbiteriano, ainda não adventista depois iniciou uma publicação mensal
do sétimo dia, à princípio, vendeu Pa- evangelística, o Oriental Watchan [O Vi-
triarcas e Profetas e Caminho a Cristo na gia Oriental]. Ao findar o século, os fun-
Bolívia. Ele sofreu perseguição e apri- damentos da obra adventista do sétimo
sionamento que terminaram em uma dia na Índia estavam firmados, mas por
miraculosa libertação. Sem dúvida, os enquanto, a obra sustentada estava con-
colportores foram os heróis da inicial finada a apenas algumas localidades.
investida adventista sobre a América
do Sul, “o baluarte do Catolicismo”. Extremo Oriente
Ao longo da costa oriental da Ásia,
Índia o adventismo, no final do século, tinha
Os colportores adventistas do séti- conseguido apenas um lamentável e pe-
mo dia também foram os pioneiros na queno ponto de aposto. Abram La Rue
Índia, iniciando a obra, em 1893, entre ainda continuava a obra independente
a população de fala inglesa das grandes de colportagem nos navios que ele ha-
cidades. Dois anos depois, a senhorita via iniciado em Hong Kong, no ano de
Georgia Burrus, uma jovem instruto- 1887, mas seus conversos eram em gran-
ra bíblica da Califórnia, chegou como de parte marinheiros britânicos. Dema-
a primeira pessoa designada pela Junta siadamente idoso para dominar o chinês
Missionária. À junta pagou o seu trans- e ser capaz de pagar a tradução de ape-
porte até Calcutá, mas dali em diante, ela nas alguns pequenos folhetos nessa lín-
se manteve por conta própria. Por um gua, La Rue não podia atingir os milhões
ano, ela economizou enquanto apren- por quem ele ansiava trabalhar.
dia bengali antes que um desconhecido Em 1896, o diretor W. C. Grainger,
benfeitor da África do Sul lhe enviasse um antigo converso de La Rue na Ca-
dinheiro. Os reforços chegaram no final lifórnia, inspirado pela obra em Hong
do ano. Na primavera seguinte, a senho- Kong, deixou o Healdsburg College para
rita Burrus e Mae Taylor fundaram uma iniciar a obra no Japão. T. H. Okohira,
pequena escola para meninas hindus. um jovem japonês que havia aceitado
Isso abriu uma via de acesso para que o adventismo na Califórnia, o acompa-
elas visitassem as zenanas (quartos de nhou. Eles estabeleceram uma escola de
língua inglesa em Tóquio e logo tinham ticos jovens estudantes missionários.
a frequência de 60 jovens. Os dois pri- Ao ratar o século 20, os adventis-
meiros conversos japoneses eram solda- tas do sétimo dia tinham iniciado a
dos, sendo um deles médico do exército. obra em todos os continentes e na
Nove meses após a sua chegada, Grain- maior parte das grandes nações do
ger e Okohira iniciaram uma pequena mundo. O último quarto do sécu-
publicação periódica mensal em língua lo 19 vira o conceito adventista de
japonesa, The Gospel for the Last Days [O missões expandido espetacularmen-
Evangelho para os Últimos Dias]. Seu te. Todavia, em 1901, os adventistas
custo era pago com os lucros obtidos ainda eram, em grande parte, uma
da venda de alimentos saudáveis para a igreja americana; quatro de cada cin-
comunidade não-japonesa de Tóquio. co adventistas do sétimo dia ainda
O pastor Grainger morreu três anos de- moravam nos Estados Unidos. Esses
pois de sua chegada em Tóquio. À obra membros haviam descoberto apenas
que ele ajudou a iniciar seria copiada e recentemente que tinham um campo
expandida décadas depois por entusiás- missionário muito real exatamente
em seu próprio meio.

Leitura temática sugerida:

Leitura para uma visão geral:

A. W. Spalding, Origin and History of Seventh-day Adventists, vol. 2, (1961), caps.


12, 16, é uma abordagem concisa do avanço missionário.
M. E. Olsen, Origin and Progress of Seventh-day Adventists (1925), caps. 19, 20, 23,
25-30, 32, é um antigo, porém detalhado relato do progresso missionário.
W. A. Spicer, Our Story of Missions (1921), fornece uma abundância de relatos
missionários sucintos da idade de ouro das missões adventistas.

Locais específicos:

D. A. Delafield, Ellen G. White in Enrope, 1885-1887 (1975).


Gideon Hagstotz, The Seventh-day Adventists in British Isles, 1878-1933 (1936).
Floyd Greenleaf, The Seventh-day Adventist Church in Latin America and the Caribbean,
vol. 1 (1992), caps. 1, 2.
Alwyn Fraser, “The Australian 18908”, em The World of Ellen G. White 1987),
Gary Land, ed,, é excelente pano de fundo para Ellen G. White na Austrália.
Arthur White, The Lonely Years (1984), vol. 3 de Ellen G. White, caps. 23-28, é um
relato dos anos de Ellen G. White na Europa.
The Australian Years (1983), vol. 4 de 1bid., contam em diversos capi-
tulos a história do início do adventismo na Austrália, Tasmânia e Nova Zelândia.

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