Você está na página 1de 14

Introdução às Escrituras

A Palavra se fez carne, não livro


"O cristianismo é a religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo
encarnado e vivo".

Nesta aula introdutória ao nosso curso bíblico, entenda a função que têm as Sagradas Escrituras em
nossa vida: fazer-nos entrar em comunhão com Deus.
Mais do que uma abordagem puramente científica ou apologética — embora não as dispensemos
de todo —, ao estudarmos neste curso as Sagradas Escrituras, nossa pretensão é colocar todos
os nossos alunos em contato com a Palavra que se fez carne e que nos alimenta com a sua graça
através das páginas sagradas. Para tanto, é necessário termos bem segura, desde o princípio, a
seguinte verdade: "O cristianismo é a religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e
muda, mas do Verbo encarnado e vivo" (VD 7). As letras, de fato, que o Espírito Santo inspirou no
tempo aos autores humanos das Escrituras estão precedidas na eternidade pelo Verbo, que existe
desde o princípio junto de Deus (cf. Jo 1, 1-3). A Bíblia não é Palavra de Deus, portanto, a não ser
em sentido analógico; propriamente falando, a Palavra é a segunda Pessoa da Santíssima
Trindade, o Filho eterno do Pai, Jesus Cristo, nosso Senhor.

Como indicativo dessa verdade, sirva-nos de introdução a estas aulas o prólogo que São João
escreve à sua primeira carta canônica:

O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que
contemplamos e o que as nossas mãos apalparam da Palavra da Vida — vida esta que se
manifestou, que nós vimos e testemunhamos, vida eterna que a vós anunciamos, que estava junto
do Pai e que se tornou visível para nós —, isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para
que estejais em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho, Jesus
Cristo. Nós vos escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa (1Jo 1, 1-4).
"O que era desde o princípio": antes mesmo que o mundo fosse criado, a Palavra já existia; entre
o Pai e o Filho, um diálogo de amor já acontecia; no seio da Trindade, a bem-aventurança já
havia. Foi por pura gratuidade que Deus, servindo-se de seu Verbo, tudo criou. "Tudo foi feito por
meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe" (Jo 1, 3). Formou-nos a nós, homens,
para que pudéssemos também nós fazer comunhão com Ele; deu-nos a existência a fim de que
participássemos da sua felicidade. O ser humano, no entanto, em nossos primeiros pais, fez
ouvidos moucos à Palavra e apartou-se de Deus, frustrando o plano original que Ele tinha para
todos os seus filhos.

Foi então que, para resgatar-nos de nossa condição decaída, o Verbo eterno, que permanecia
imperceptível aos nossos sentidos, tornou-se-nos visível, audível e tátil: "Estava junto do Pai e se
tornou visível para nós". O que o discípulo amado do Senhor anuncia, portanto, não é uma peça
de sua imaginação ou uma fábula passada pelos antigos, mas uma verdade palpável, que ele
mesmo testemunhou: "O que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e
o que as nossas mãos apalparam da Palavra da Vida".
São João Evangelista deixa escrita a sua experiência com o Verbo, mas para quê? "Para que
estejais em comunhão conosco". As Sagradas Escrituras, e não só elas, como toda a pregação da
boa-nova, existem em vista da comunhão com os Apóstolos, os quais, por sua vez, estão "em
comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo". A finalidade da Bíblia é incorporar-nos à
Igreja, pôr-nos em contato com a "comunhão dos santos", aproximar-nos "da assembleia dos
primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus [...]; dos espíritos dos justos, que chegaram à
perfeição; de Jesus, o mediador da nova aliança e da aspersão do sangue mais eloquente que o
de Abel" (Hb 12, 22-24). As páginas sagradas não constituem um fim em si mesmo, portanto, mas
são um instrumento para suscitar a virtude da fé, princípio de todo o organismo espiritual que
Deus enxerta em seus filhos adotivos; são um meio para tornar-nos "participantes da natureza
divina" (2Pd 1, 4) e saciar o nosso ser com a Palavra por que ansiava desde sempre o nosso
inquieto coração.

É preciso dizer tudo isso ao início de um curso bíblico a fim de exorcizarmos, desde já, o espírito
individualista com que os cristãos de nossa época, influenciados pela sola scriptura e pelo livre
exame de Lutero, cogitam muitas vezes ser possível ler as Sagradas Escrituras, como se elas
fossem algum "pergaminho mágico" capaz de conceder-nos, per se, o acesso ao Céu e à
salvação eterna. Ora, o próprio Verbo de Deus encarnado, digamo-lo objetivamente, não mandou
que ninguém escrevesse livro algum a seu respeito; Ele, que é a Palavra viva e eterna, linha
alguma traçou durante seus dias neste mundo e por muitos anos seus seguidores sobreviveram
graças à transmissão oral da fé e dos Sacramentos, sem mediação escrita de nenhum gênero.
Quem se esquece disso corre facilmente o risco de transferir a única mediação de que é portadora
a humanidade de Cristo às páginas de um livro, o qual, ainda que inspirado pelo Espírito Santo,
demanda o auxílio do mesmo Espírito para ser corretamente interpretado e transformar a nossa
vida.

Emblemática nesse sentido é a experiência de Santo Agostinho, que ele relata em


suas Confissões:

Eis que, de repente, ouço da casa vizinha uma voz, de menino ou menina, não sei, que cantava e
repetia muitas vezes: "Toma e lê, toma e lê". E logo, mudando de semblante, comecei a buscar,
com toda a atenção em minhas lembranças se porventura esta cantiga fazia parte de um jogo que
as crianças costumassem cantarolar; mas não me lembrava de tê-la ouvido antes. Reprimindo o
ímpeto das lágrimas, levantei-me. Uma só interpretação me ocorreu: a vontade divina mandava-me
abrir o livro e ler o primeiro capítulo que encontrasse. [...] Depressa voltei para o lugar onde Alípio
estava sentado, e onde eu deixara o livro do Apóstolo ao me levantar. Peguei-o, abri-o, e li em
silêncio o primeiro capítulo que me caiu sob os olhos: "Não caminheis em glutonarias e
embriaguez, não nos prazeres impuros do leito e em leviandades, não em contendas e rixas; mas
revesti-vos de nosso Senhor Jesus Cristo, e não cuideis de satisfazer os desejos da carne". Não
quis ler mais, nem era necessário. Quando cheguei ao fim da frase, uma espécie de luz de certeza
se insinuou em meu coração, dissipando todas as trevas de dúvida (VIII, 12).
Na vida de Agostinho, Deus lançou mão de um versículo bíblico para atraí-lo. Assim como ele,
muitos outros seguiriam o mesmo caminho: alguns, é verdade, alcançados pela mesma via; outros
tantos, porém, seriam simplesmente tocados por alguma pregação ou acontecimento em que
Deus lhes falou pessoalmente, porque, sejam quais forem os meios de que se serve, "Deus
invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como a amigos e convive com eles, para os
convidar e admitir à comunhão com Ele" (DV 2).

Concentremo-nos, portanto, ao princípio de nossos estudos, na busca ardente do Deus que já nos
procura. Ajude-nos nessa tarefa a bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da fé (cf.
VD 27), a fim de que, crendo como ela acreditou, a Palavra encarnada também venha habitar em
nós.

Bibliografia

o Santo Agostinho, Confissões (PL 32, 659-868).

o Papa Bento XVI, Exortação Apostólica Verbum Domini, de  30 set. 2010.

o Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática  Dei Verbum, de  18 nov. 1965.


Introdução às Escrituras
Crer na Igreja para amar as Escrituras
"Eu não acreditaria no Evangelho", diz Santo Agostinho, "se não me movesse a isso a autoridade da
Igreja Católica." Saiba por que, desde o princípio, a vida da Igreja é o lugar originário de interpretação
das Escrituras.

Um dos princípios fundamentais da Reforma protestante é o da sola Scriptura, segundo o qual a


Bíblia, e unicamente ela, constitui a regra de fé à qual um genuíno cristão deve-se ater [1]. É
apenas e tão-somente nas SS. Escrituras, proclamam protestantes de vário tipo, que se encontra
a totalidade do depósito da Revelação divina: nelas estão fixadas, de uma vez para sempre, todas
as verdades que Deus nos quis transmitir; ao interpretá-las, o fiel recebe diretamente do Alto, sem
intermediários humanos de qualquer espécie, as luzes para a sua vida moral e religiosa. Com o
Texto sagrado em mãos, reafirmam eles, não há necessidade de autoridades nem de Magistério;
basta folheá-lo seguindo os próprios critérios para embeber-se, em suas páginas inspiradas, da
mais pura e autêntica pregação evangélica. Livro infalível não se sabe como nem por que razões,
cada protestante recebe do seu livreiro um exemplar da Bíblia e crê devotamente trazer embaixo
do braço o próprio "Verbo feito papel".

Ao primado da Escritura vem somar-se, num contorcionismo lógico, o primado da fé individual,


cujo mais notável instrumento de trabalho é o livre exame, uma revolução radical e de
consequências nefastas no campo da hermenêutica bíblica [2]. Agora, é ao leitor, iluminado pelo
Espírito Santo, que cabe determinar com certeza irrefragável o que a Palavra de Deus quer ou
não dizer. A interpretação e a correta inteligência dos textos sagrados ficam assim submetidas ao
capricho e às preferências da consciência individual de cada crente, que julga sentir, como que
por "instinto", onde está a única e verdadeira fé dada aos homens por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Rechaçando pois toda e qualquer autoridade que não a sua, Lutero fundou sobre um livro, furtado
dos púlpitos de nossas igrejas [3], uma religião em que os mesmos escritos, lidos dos modos mais
contrastantes, opõem, numa Babel de seitas, luteranos a calvinistas, batistas a adventistas,
menonitas e pentecostais…

O drama dos protestantes, é claro, não se resume a dissidências internas; a própria lógica por trás
do monismo bíblico que lhes é característico termina por negar, ao fim e ao cabo, a autoria divina
das Escrituras. Com efeito, ainda que, em suas origens, o protestantismo histórico não tenha
rejeitado de todo o valor da Sagrada Tradição e de algum ensinamento oficial [4], o excessivo
biblismo que com o passar do tempo se tornou a nota distintiva dos "reformados" continha, ao
menos em gérmen, um problema tão insolúvel quanto inconveniente: se, como dizem, o único
veículo por que nos chegam as verdades reveladas é a palavra escrita de Deus, como podemos
chegar "à posse tranquila e certa da Escritura como livro divino" [5]? Trata-se de estabelecer, com
base na Bíblia, a existência da mesma Bíblia como Revelação — um círculo vicioso que põe em
xeque dois dados básicos da nossa fé: a inspiração do Texto Sagrado e, por conseguinte,
a canonicidade dos escritos que o integram.
De fato, ainda que na Bíblia estivessem contidos todos os dogmas necessários à edificação e
salvação dos fiéis, ficaria por demonstrar pelo menos uma verdade, "pressuposta a todas as
demais, que", sem petição de princípio, não pode ser provada "com a autoridade exclusiva da
Bíblia" [6], a saber: a existência da própria Escritura enquanto Palavra de Deus redigida sob a
moção do Espírito Santo [7]. Disto já se pode formar uma ideia do quão insuficiente é a regra de fé
protestante. Com efeito, devemo-nos perguntar, em primeiro lugar, de que maneira podemos
saber com segurança quais são os livros inspirados, se em nenhum lugar da Bíblia nos é
apresentado um catálogo exaustivo dos textos que a compõem. E mesmo que possuíssemos uma
tal lista, como poderíamos ter certeza de que esses textos foram efetivamente ditados pelo
Espírito Santo? Se remontarmos agora aos começos do cristianismo, quando os escritos do Novo
Testamento, ainda em processo do formação, eram desconhecidos da maioria maciça dos fiéis, a
próxima dúvida que nos há de surgir não pode ser outra: aonde iam os primeiros cristãos haurir os
ensinamentos de Jesus, que nada deixou escrito [8]? Por certo que não à Bíblia.

A essas dificuldades a Igreja tem respondido, desde o período da Reforma, com as palavras do
seu divino Fundador: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16, 15).
Jesus Cristo, é evidente, quis que a sua doutrina fosse preservada ao longo das gerações e
fielmente transmitida a todos os povos, sem desvios nem corrupções humanas. Era conveniente,
portanto, que estabelecesse um órgão de transmissão dos seus ensinamentos que, por um lado,
os protegesse de uma leitura arbitrária e de um subjetivismo pernicioso e, por outro, estivesse ao
alcance fácil e seguro de todas as inteligências, conforme as palavras de Timóteo: Deus "deseja
que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2, 4). E a
"Escritura manifestamente não se acha nestas condições" [9]. Com efeito, como poderiam os fiéis
mais simples, geralmente pobres e sem instrução, ter acesso aos Livros sagrados, que, antes do
desenvolvimento da imprensa, não se encontravam reunidos e bem trabalhados como nas
edições modernas que hoje qualquer um pode ter à mão? Acaso desejaria o Senhor, durante
quase quinze séculos, ver os pobres e miseráveis privados de um exemplar da Bíblia?

Ora, a fim de que a Boa-nova ressoasse, íntegra e incorruptível, em todos os ouvidos, Cristo
mandou os Apóstolos a pregarem de viva voz. Confiou-lhes assim o dever de ensinar aos povos e
nações tudo quanto dEle haviam aprendido e recebido por meio do Espírito Santo. É justamente a
essa pregação apostólica, por cujo intermédio a Palavra de Deus, numa sucessão ininterrupta, é
conservada, exposta e difundida pela Igreja ao longo da história, que nós católicos
chamamos Tradição, à luz unicamente da qual é possível ler, de forma correta, aquilo que Deus
quis registrar na Escritura Sagrada. Disto resulta, primeiramente, que "a Igreja, a quem está
confiada a transmissão e interpretação da Revelação, 'não tira só da Sagrada Escritura a sua
certeza a respeito de todas as coisas reveladas'" [10].

No entanto, é exclusivamente ao Magistério eclesiástico, e não aos fiéis, que compete discernir o
sentido autêntico do Texto sagrado, uma vez que só à hierarquia da Igreja, Corpo místico de
Cristo, foi dada a prerrogativa de participar do magistério infalível daquele que é a sua divina
Cabeça [11]: "Quem vos ouve, a mim me ouve" (Lc 10, 16). Pode-se dizer, nesse sentido, que é a
Igreja o ambiente natural da Bíblia e é apenas na Igreja, sob a guia dos seus legítimos pastores —
ou seja, do Papa e dos bispos —, que sabemos o que realmente querem dizer os escritos
inspirados. Desta realidade, bem como da nossa particular insuficiência para compreender a
Bíblia, encontramos alguns indícios já no Novo Testamento, quando vemos o Senhor ou os
Apóstolos explicarem a Escritura a seus ouvintes. "Porventura entendes o que estás lendo?",
perguntou Filipe ao eunuco etíope. Ao que este lhe respondeu: "Como é que posso, se não há
alguém que mo explique?" (At 8, 30s). "Começou então Filipe a falar e", expondo-lhe o profeta
Isaías, "anunciou-lhe Jesus" (At 8, 35). E Cristo, em Emaús, abrira o espírito a Cléofas e seu
companheiro, para que compreendessem que era dEle que se falava em todo o Antigo
Testamento (cf. Lc 24, 25-27.45).

Sem nada acrescentar ou tirar do depósito que lhe foi confiado por mandato divino, a Igreja orienta
infalivelmente os seus filhos sobre o verdadeiro sentido dos textos bíblicos, prevenindo-os de
qualquer interpretação que discorde do que por ela é proposto como sendo a reta compreensão
da Palavra de Deus [12]. De fato,

[...] a Sagrada Escritura não pode ser plenamente entendida por quem não tenha a fé católica.
Acontece perante a Bíblia o que acontece perante a figura de Jesus Cristo: quem não tiver a fé, só
poderá ver em Jesus um homem evidentemente extraordinário e singular; mas com isso fica muito
longe da verdade e, portanto, não entenderá Jesus Cristo quem não crer que é o Filho de Deus
Encarnado, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o único Salvador e Redentor da
humanidade [13].
Do mesmo modo, a Bíblia não poderá ser entendida, na profundidade do seu significado, por
quem não se deixar iluminar pela luz da verdadeira fé, dando o seu mais fiel e humildade
assentimento tanto aos Livros sagrados, cujo autor principal é o próprio Deus, e àqueles que o
mesmo Senhor constituiu como seus únicos e legítimos intérpretes, ou seja, ao Magistério daquela
que é, à semelhança de sua túnica inconsútil, a depositária incorruptível dos tesouros divinos e o
prolongamento, na terra, do seu próprio Corpo: a santa Madre Igreja, una, católica, apostólica e
romana.

Referências

1. Cf. A Boulenger, Manual de Apologética. 2.ª ed., Porto: Apostolado da Imprensa,


1950, p. 401, n. 332, a.

2. Cf. Miguel A. Tábet, Introducción General a la Biblia. 2.ª ed., Madrid: Palabra, 2004,
p. 348.

3. Cf. Pe. Leonel Franca, A Igreja, a Reforma e a Civilização. 5.ª ed., Rio de Janeiro:
Agir, 1948, p. 212.

4. Cf. W. Henn, "Protestantismo", em: AA.VV., Lexicon: Dicionário Teológico


Enciclopédico. São Paulo: Loyola, 2003, p. 621. Para se verem livres das
autoridades legítimas, os reformadores europeus trataram de proclamar o princípio
do "livre exame" e da suficiência das Escrituras; quando porém se quiseram fazer
ouvir, não temeram impor aos demais, com violência mais dura do que a que diziam
combater, o jugo da doutrina que eles mesmos, do dia para a noite, haviam forjado
(v. J. Balmes, El Protestantismo Comparado con el Catolicismo. 10.ª ed., Barcelona:
Imprenta del "Diario de Barcelona", 1921, vol. 1, p. 13).
5. Pe. Leonel Franca, Catolicismo e Protestantismo. 2.ª ed., Rio de Janeiro: Agir, 1952,
p. 155.

6. Id., 1948, p. 222.

7. Cf. Catecismo da Igreja Católica (CIC), n. 81; Concílio Vaticano II, Constituição
Dogmática "Dei Verbum" (DV), de 18 nov. 1965, n. 9 (AAS 58 [1966] 821; DH 4212).

8. Cf. CIC, n. 83.

9. Pe. Leonel Franca, 1948, p. 224.

10. CIC, n. 82; DV, ibid.

11. Cf. Catecismo de São Pio X, n. 882.

12. Cf. J. Monforte, Conhecer a Bíblia. Trad. port. de Luis M. Correia. Coimbra: Diel,
1998, p. 30.

13. "Introdução geral à Bíblia", em: Santos Evangelhos, da Bíblia Sagrada anotada pela
Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra. Braga: Theologica, 1994, p. 36.
Introdução às Escrituras
Como entender que as Escrituras são inspiradas?
Todos os livros da Bíblia foram inspirados diretamente por Deus. Mas em que sentido? Afinal de
contas, como compreender que o Espírito Santo é o autor principal das Escrituras? E que papel
tiveram os hagiógrafos na composição dos textos sagrados?

Você descobrirá a resposta a estas perguntas e irá maravilhar-se com a sabedoria de Deus, que
sabe servir-se do homem sem ferir a liberdade humana.

É de fé católica que os livros que compõem as SS. Escrituras são divinamente inspirados e, por
isso, têm a Deus mesmo por autor principal. Isto não significa, porém, que nos tenham sido
transmitidos por simples ditado, ao modo das assim chamadas "psicografias", nem que, portanto,
os autores humanos — também denominados hagiógrafos — tenham pouca ou nenhuma
participação na composição dos textos santos. Conciliando extremos à primeira vista
incompatíveis, a fé católica nos ensina que, apesar de ser antes e sobretudo Palavra de Deus, a
Bíblia não deixa de ser também produto da ação de homens reais e concretos, que cooperaram
ativa e efetivamente para que à Igreja estivessem sempre abertos os tesouros das divinas Letras.
A inspiração bíblica, com efeito, ao mesmo tempo que permite a Deus ser o autor principal das
Escrituras, não exclui "a paternidade do autor humano"; lido pois à luz da Tradição apostólica, o
"livro sagrado é obra de Deus e do hagiógrafo, de maneira que o livro todo", com cada um de suas
partes, "procede tanto de Deus quanto do autor humano" [1].

Ora, sucede com a inspiração das Escrituras algo análogo ao mistério da Encarnação. De fato,
assim como o Verbo, ao fazer-se carne, não destruiu nem rebaixou a natureza humana — antes, a
ela se uniu sem com ela se confundir —, assim também o Espírito Santo, ao inspirar por um
carisma sobrenatural e extraordinário os autores sagrados, não suprimiu o que neles havia de
humano — antes, movendo-os e excitando-os a escrever, assistiu-os de tal modo que só
escreveram e expressaram, com fiel e infalível verdade, aquilo que o mesmo Espírito lhes ordenou
que escrevessem [2]. Esta "comunidade de trabalho" [3] entre Deus e o hagiógrafo, com efeito, já
foi mais de uma vez ilustrada como a cooperação que há entre um artífice e seu instrumento:
agindo por meio de sua graça sobre a inteligência e a vontade do autor humano, o Espírito Santo
dele se serve como de um instrumento ou órgão, não porém com violência, mas preservando-lhe
a liberdade e personalidade, e isso de tal maneira e tão suavemente que com facilidade se podem
reconhecer nas páginas sagradas a índole e os traços característicos de seus respectivos
escritores humanos [4].

Donde se vê que, sendo Deus a causa primeira e principal de toda a Escritura, a autoridade da
Igreja, ao receber um texto como canônico e inspirado por Ele, não lhe "atribui" tal nota, senão
que a supõe e reconhece infalivelmente. As SS. Escrituras, por conseguinte, não se consideram
inspiradas porque assim o tenha "decidido" a autoridade eclesiástica; pelo contrário, é justamente
por serem inspiradas e revelação divina que a Igreja, sob a assistência do Espírito Santo, as
acolhe, venera, medita e proclama [5]. Constituído pois pelo próprio Cristo como regra próxima da
fé, apenas o Magistério da Igreja é capaz de discernir e garantir tanto a inspiração quanto a
autenticidade dos textos sagrados e, por conseguinte, das doutrinas neles contidas. E é porque
este mesmo e autêntico Magistério as declara e ensina como tais que os cristãos podemos estar
seguros, sem perigo de erro, de que as SS. Escrituras não só contêm como são, de fato, a própria
e única Palavra de Deus.

Referências

1. A. Lang, Teología Fundamental. Trad. esp. de Ramón M. Moreno. 2.ª ed., Madrid:


Rialp, 1971, vol. 2, p. 343.

2. Cf. Leão XIII, Encíclica "Providentissimus Deus", de 18 nov. 1893, n. 31


(ASS 26 [1893-94] 289; Dz 1952).

3. Bento XV, Encíclica "Spiritus Paraclitus", de 15 set. 1920, n. 10 (AAS 12 [1920]


390).

4. Cf. Id., ibid.

5. Cf. A. Lang, op. cit., p. 364.

Bibliografia

o Concílio de Trento, 4.ª sessão, de 8 abr. 1546 (DH 1501-1508).

o Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática "Dei Filius", de 24 abr. 1870, cap. 2 (DH
3004-3007).

o Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática "Dei Verbum", de 18 nov. 1965.

o Papa Leão XIII, Encíclica "Providentissimus Deus", de 18 nov. 1893 (DH 3280-


3294).

o Papa Pio XII, Encíclica "Divino Afflante Spiritu", de 30 set. 1943 (DH 3825-3831).


Introdução às Escrituras
Por que crer nas Escrituras?
O motivo por que cremos nas Escrituras não é nem o testemunho da razão humana nem os
argumentos dos especialistas, senão algo mais simples e, ao mesmo tempo, muito mais
determinante: a autoridade de Deus, que, ao revelar-nos os seus mistérios, não pode enganar-se
nem nos enganar.

Cristo Senhor, Deus e homem verdadeiro, a fim de perpetuar até o Fim dos Tempos a obra da
salvação e reunir num só povo todos os que nEle haviam de crer, instituiu na terra uma única
Igreja visível, à qual confiou a missão de conservar íntegro o depósito das verdades por Ele
reveladas e dar-lhes uma interpretação autêntica e infalível [1]. Contidas tanto nas Sagradas
Escrituras quanto na Tradição, tais verdades — como ensina a mesma santa Igreja — são de
ordem sobrenatural e nos manifestam os mistérios da vida do próprio Deus, bem como os eternos
desígnios de sua vontade [2]. Esta revelação, no entanto, para ser acolhida como convém à
eterna salvação deve ser crida não por qualquer tipo de assentimento, como o que se presta às
verdades naturais ou históricas, mas pela obediência plena da inteligência e da vontade a que
somos movidos por fé divina. É somente por meio desta fé, dom do Deus altíssimo, que não
somente cremos ser revelado por Ele tudo quanto lhe aprouve revelar-nos como, ademais, somos
excitados a amar e iluminados a compreender o que neste sagrado depósito, preservado e
explicado pela Igreja, está contido.

O que, pois, esta fé divina tem de distinto e característico é o ser uma "virtude sobrenatural pela
qual, inspirados e ajudados pela graça de Deus, cremos ser verdade o que Ele revelou, não
devido à verdade intrínseca das coisas, conhecida pela luz natural da razão, mas em virtude
da autoridade do próprio Deus, autor da Revelação, que não pode enganar-se nem nos enganar"
[3]. Donde se vê o quanto difere a fé divina da Igreja da fé meramente humana. Por esta, com
efeito, aderimos a uma verdade, ou por causa do testemunho dos demais homens, ou pelo que a
seu respeito nos diz a razão; por aquela, ao contrário, damos o nosso assentimento a uma
doutrina revelada porque Deus, verdade infalível, no-la quis revelar e a Igreja, por sua vez, nos
garante que Ele realmente a revelou [4]. O motivo de crermos, portanto, não é o fato de as
verdades da Revelação aparecerem como evidentes e inteligíveis à luz da nossa razão natural [5],
mas porque Deus mesmo, cuja sabedoria supera todo entendimento criado, nos revelou tudo
quanto deseja que, por sua divina autoridade e poder, creiamos e professemos.

Por isso, não é a inventos e especulações humanas que se deve recorrer para alcançar o sentido
verdadeiro e genuíno das Escrituras e da Tradição, nem a critérios e preferências pessoais, mas à
voz daquela que, instituída pelo próprio Senhor Jesus como mãe dos fiéis e mestra das nações,
suporta, nutre e sustenta a fé de cada um de seus filhos, isto é, à Igreja Católica, a primeira que,
por toda a terra, confessa o Senhor [6] e torna visível e atuante entre os homens o mesmo
ministério doutrinal de sua divina Cabeça: "E eu rogarei ao Pai", disse Cristo a seus discípulos, "e
Ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco" (Jo 14, 16). Assim, pela
assistência incessante de Jesus e do Espírito Santo, a Igreja "garante a pureza e a integridade da
pregação dos Apóstolos e de seus sucessores" [7], à qual todos estamos obrigados, em ordem à
nossa salvação eterna, a prestar com a ajuda de Deus o obséquio de nossa fé, pois "quem vos
ouve" — isto é, a Igreja —, "a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita,
rejeita Aquele que me enviou" (Lc 10 16; cf. Mt 10, 40; Jo 13, 20).
Referências

1. Cf. Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática "Dei Filius" (DF), c. 4 (ASS 5 [1869-


70] 490; Dz 1800); v. também L. Ott, Manual de Teología Dogmática. Trad. esp. de
Constantino R. Garrido. 6.ª ed., Barcelona: Herder, 1968, p. 35.

2. Cf. DF, c. 2 (ASS 5 [1869-70] 484; Dz 1785).

3. DF, c. 3 (ASS 5 [1869-70] 486; Dz 1789).

4. Cf. Remigo V. Ugarte, Puntos de Catecismo. 12.ª ed., Bilbao: El Mensajero del


Corazón de Jesús, 1962, p. 20, § 42.

5. Cf. CIC 156.

6. Cf. CIC 168.

7. L. Ott, op. cit., p. 450.
Introdução às Escrituras
Fé, princípio da vida eterna
Para ler com proveito as Escrituras, é preciso, mais do que conhecimentos técnicos, ter fé
sobrenatural. É por meio dela que, iniciando já neste mundo a vida que teremos no Céu, podemos
penetrar o sentido profundo dos textos sagrados, cuja riqueza inesgotável Deus esconde dos
corações soberbos, mas revela aos pobres e pequeninos que, pela graça, vivem na sua amizade.

Como vimos nas últimas aulas, o estudo da Bíblia supõe naquele que vai lê-la a existência da fé
divina, cujo motivo sobrenatural — como também já explicamos — não é nem a razão nem
testemunhos humanos, mas a autoridade de Deus, autor da Revelação, que não pode enganar-se
nem nos enganar. O problema que aqui se nos depara, porém, consiste em saber de que maneira
podemos obter este meio tão necessário à correta inteligência das Escrituras. A este respeito pois
é preciso ter presente que a fé cristã é, antes de mais, um dom gratuito de Deus que, embora não
possa ser merecido, pode no entanto ser impetrado por quem, de coração humilde e sincero, o
pede ao Senhor. É Ele mesmo, na verdade, que por sua graça suscita em nós o desejo de crer e,
deste modo, nos dispõe a desejar e receber aquilo que somente Ele nos pode dar. Ora, que a fé,
princípio da justificação, seja necessária para ler com fruto as Escrituras é coisa que se depreende
facilmente daquelas palavras: "A fé é a substância das coisas que se esperam, argumento do que
não se vê" (Hb 11, 1).

Lida pelos reformadores do séc. XVI em chave subjetivista, esta definição que o autor da Carta
aos Hebreus nos apresenta é às vezes traduzida, mesmo em edições católicas da Bíblia, como
"uma certeza a respeito do que não se vê", o que, como bem notou o Papa Bento XVI, expressa
antes uma disposição interna do sujeito — no sentido duma mal definida inclinação para as
realidades futuras — do que uma noção objetiva do que a fé cristã seja em si mesma [1]. Ora,
ainda que não deixe de ter sua parcela de verdade, esta exegese de Hb 11, 1 não é de todo fiel ao
sentido próprio do texto, porque o termo argumento, tradução do grego ἔλεγχος, não possui nos
originais "o valor subjetivo de 'convicção', mas o valor objetivo de 'prova'" [2], isto é, de algo cujo
fundamento está na realidade, e não simplesmente no sujeito que a ela se remete.

Mais conforme ao que diz a Carta aos Hebreus, S. Tomás de Aquino percebeu neste caráter, por
assim dizer, substancial o fato de que é por meio da fé que Deus nos introduz, ainda neste mundo,
na vida eterna que está preparada para os que O amam (cf. 1Cor 2, 9) e de cuja plenitude só
gozaremos após a morte. O "conceito de 'substância", continua o Papa, "é modificado para
significar que pela fé, de forma incoativa — poderíamos dizer 'em gérmen' e portanto segundo a
'substância' — já estão presentes em nós as coisas que se esperam", quer dizer, "a totalidade, a
vida verdadeira" [3], que se vai desenvolvendo em nós até sua plena maturação na glória do Céu,
à semelhança de um grão de mostarda que, enquanto peregrinamos neste mundo, é a menor das
sementes e quase não se vê, mas, quando cresce, se torna a maior das hortaliças (cf. Mt 13, 31s).
"E precisamente porque a coisa em si" — ou seja, a vida da glória — "já está presente, esta
presença daquilo que há de vir cria também certeza: esta 'coisa' que deve vir ainda não é visível
no mundo externo (não 'aparece'), mas pelo fato de a trazermos, como realidade incoativa e
dinâmica dentro de nós, surge já agora uma certa percepção dela" [4].
Essa percepção a que alude o Sumo Pontífice, no entanto, não deve ser entendida como uma
experiência sentimental ou emotiva; trata-se, na verdade, duma ação real e concreta de Deus na
alma do que crê, o qual, iluminado por uma fé perpassada de esperança e sustentado pela graça
divina, se torna capaz de apoiar sua vida numa base — numa "substância" — mais firme do que
as seguranças da carne e do mundo, numa base, enfim, "que permanece e que ninguém lhe pode
tirar" [5], porque é, já aqui, o começo de uma vida imperecível e eterna. Isto se manifesta de modo
claro, embora não exclusivo, no martírio e na perseguição por causa do Reino, como demonstra o
mesmo autor da Carta aos Hebreus ao escrever: "Não só vos compadecestes dos encarcerados,
mas aceitastes com alegria a confiscação dos vossos bens" — terrenos —, "pela certeza de
possuirdes [agora mesmo] riquezas muito melhores" (Hb 10, 34) [6], que o ladrão não rouba nem
a traça destrói (cf. Lc 12, 33).

É pois pela fé, princípio em nós da vida que há de vir, que nos dispomos a ouvir retamente o que
Deus nos quer dizer, e isto de tal maneira que, sem ela, é por certo impossível aprofundar-se
proveitosamente nas verdades contidas nas Escrituras. Pelo mesmo motivo, o estudo da Bíblia
requer no estudante uma vida de amizade e comunhão com o Senhor, a cuja Palavra pretende dar
ouvidos. Sem esta como que "conaturalidade" entre as verdades divinas da Escritura e a graça
divina que vivifica e move a alma do fiel a, configurado a Cristo, assentir a tudo quanto Ele ensina,
a leitura da Bíblia, ao menos sem um auxílio especial de Deus, se tornará mais pedra de tropeço
que alimento para o espírito, mais confusão que iluminação, pois se a respeito da própria Palavra
encarnada foi escrito: "Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de
soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições" (Lc 2,
34), como ousaremos ler a Palavra escrita sem um coração reto e submisso ao Senhor?

Referências

1. Cf. Bento XVI, Encíclica "Spe Salvi", de 30 nov. 2007, n. 7 (AAS 99 [2007] 991).

2. Id., ibid.

3. Id., ibid. (v. S. Tomás de Aquino, STh II-II 4, 1).

4. Id., ibid.

5. Id., n. 8.

6. Cf. Id., ibid.


Introdução às Escrituras
Politizando a Bíblia (I) | Introdução
"Politizando a Bíblia" é o sugestivo título de um livro do teólogo americano Scott Hahn, famoso por
sua conversão do protestantismo à Igreja Católica. Neste estudo, o autor faz revelações
surpreendentes sobre os bastidores do "método histórico-crítico" de ler e interpretar as Sagradas
Escrituras.

"Politizando a Bíblia" é o sugestivo título de um livro do teólogo americano Scott Hahn, famoso por
sua conversão do protestantismo à Igreja Católica. Neste estudo, o autor faz revelações
surpreendentes sobre os bastidores do "método histórico-crítico" de ler e interpretar as Sagradas
Escrituras.

Quão isento e objetivo é, afinal, esse método largamente adotado nas universidades e
praticamente inconteste entre os teólogos modernos? Desde quando a teologia deixou de servir a
Deus para se render a interesses políticos?

Bibliografia

o Scott W. Hahn; Benjamin Wiker, Politicizing the Bible, The Crossroad Publishing


Company, 2013, 624p.

Introdução às Escrituras
Politizando a Bíblia (II) | Marsílio de Pádua
Ainda a partir do livro de Scott Hahn, "Politicizing the Bible", Padre Paulo Ricardo analisa nesta aula a
vida e a obra de Marsílio de Pádua, teólogo e médico do século XIII.

Como um pensador da Idade Média, praticamente desconhecido para a maior parte das pessoas,
pode exercer tanta influência em nosso século e no modo como lemos as Escrituras? De que
modo os seus escritos estão associados à origem do método histórico-crítico?

Bibliografia

o Scott Hahn, Politicizing the Bible, Graduate School Guest Lecture, Christendom College.

o Scott W. Hahn; Benjamin Wiker, Politicizing the Bible, The Crossroad Publishing Company,
2013, 624p.

o Marsílio de Pádua, O Defensor da Paz, Vozes.

o Louis Salembier, "Marsilius of Padua", The Catholic Encyclopedia, vol. 9. New York:


Robert Appleton Company, 1910

Você também pode gostar