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CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e Brasil. Rio de Janeiro:
editora Lumem Juris, 2007
O sistema feudal
(...) Pode-se entender por feudalidade um tipo de sociedade baseado numa organização muito
particular entre os homens: laços de dependência de homem para homem estabelecendo uma
hierarquia entro os indivíduos. Um homem, o vassalo, confia-se a outro homem, que escolhe
para seu amo. e que aceita esta entrega voluntária. O vassalo deve ao amo fidelidade, conselho
e ajuda militar e material. O amo, o senhor, deve a seu vassalo fidelidade, proteção, sustento. O
sustento pode ser assegurado de diversas maneiras. Geralmente faz-se através da concessão ao
vassalo duma terra, benefício ou feudo.
Estes benefícios dados aos vassalos quase sempre eram sinônimos de uma porção de
terra, porém poderia também ser um castelo sem terras em volta, uma portagem, uma
magistratura etc..
Entre nobres
maioria das vezes, apresentava-se sob a forma de apoio militar - homens e armamentos
Consilium: obrigação de auxiliar ao senhor com conselhos sempre que este convocava
Contratos e vigência
Então podemos supor com uma certa precisão que o feudo, como benefício, embora
propriedade do senhor e em usufruto do vassalo, não era um bem alienável, por nenhuma das
partes, muito embora pudesse, em parte ou no todo, tornar-se um benefício a ser dado a um
homem livre que se tornaria vassalo do vassalo do proprietário.[...] Era quase impossível para
um senhor mudar o status quo deixado por seu predecessor; os vassalos do predecessor eram
"herdados", bem como as suas promessas.
Costumes Germânicos
Os Vândalos: (Norte da África em 477 d.C.) Casamentos mistos eram proibidos e a conversão ao
catolicismo também. Conservaram também as suas leis e seus costumes. Mantiveram os
romanos como juízes no seu espaço de domínio.
Ostrogodos: (Penisula itálica 493d. C.) Casamentos mistos eram proibidos, Teodorico busca
compor um conselho misto para administrar a justiça
Romana Visigothorum ou, como preferia o rei, Breviário de Alarico e o Liber Judiciorum
Reino Burgúndio: (Europa Central, 510d.C.) Casamentos interétnicos e legislação, com a Lex
Romana Burgundiorum, é considerada uma compilação de leis extremamente romanizada
Capitularia Legibus Addenda: eram textos a serem aplicados nas mesmas condições das leges
ou leis)
Capitularia Missorum: que continham instruções destinadas aos funcionários reais ou imperiais
quando em viagens a serviço
Direito Canônico
Após a era Franca, foi dado aos clérigos (padres, bispos etc.) o privilégio de foro, que
indicava que estes somente poderiam ser julgados, qualquer matéria que fosse, pelos tribunais
da Igreja.
As fontes do Direito Canônico são o ius divinum (conjunto de regras que podem ser extraídas da
Bíblia, dos escritos dos doutores da Igreja e da doutrina patrística), a própria legislação canônica
(formada pelas decisões dos Concílios e dos escritos dos papas – chamados decretais), os
costumes e os princípios recebidos do Direito Romano.
Assim, após o século X, além de poder julgar os padres e religiosos, os tribunais eclesiásticos
passaram a ter jurisdição sobre questões envolvendo os Cruzados, o corpo docente e discente
de Universidades (que foram até o século XVI instituições eclesiásticas) e as chamadas
miserabiles personas, viúvas e órfãos quando pediam a proteção da Igreja.
No cível (...) o queixoso devia entregar o seu pedido por escrito (libellus) a um oficial que
convocava o réu. Em presença das duas partes, o oficial lia o libellus; o réu podia opor exceções;
depois do exame destas, o contrato judiciário ficava fixado pela litiscontestatio (...). As partes
submetiam seguidamente as provas (...) das suas asserções ao juiz; na falta de prova suficiente,
o juiz podia ordenar um juramento litisdecisório.
Na área penal o processo estava atrelado à queixa, à acusação. Até os séculos XII e XIII
era baseado em um tipo de prova chamado "irracional", visto que não pode ser explicado pela
razão. Neste sistema de provas irracionais se recorre a uma divindade; por exemplo, para obter
justiça, na Idade Média recorria-se aos ordálios.
Unilateral
Ferro em brasa
Prova do cadáver
Bilateral
Tomas de Torquemada 1468 d.C. enviou cerca de 10.000 pessoas para a fogueira
Malleus Maleficarum - Martelo da Feitiçeiras - Heinrich Kramer e James Sprenger 1486 d.C
Aliás, quanto mais a história avançava, tanto mais absolutistas se tornavam os reis do Ocidente
europeu, de tal modo que não podiam tolerar outra instância judiciária autônoma (a
eclesiástica) ao lado da instância judiciária civil; esta deveria mais e mais valer-se dos tribunais
eclesiásticos para implantar os interesses dos monarcas. A prepotência começou com Felipe IV,
o Belo da França, e atingiu o seu auge na Espanha e em Portugal a partir do século XVI: o desejo
de unificar a população da península ibérica, com posta de cristãos, judeus e muçulmanos, levou
os reis daqueles dois países a pedir e obter do Papa a instalação da Inquisição segundo os seus
propósitos, mediante homens por eles nomeados, provocando sérios conflitos na Santa Sé, que
mais de uma vez se recusou a reconhecer o procedimento da Inquisição na península ibérica;
aliás, no final da vigência desta instituição, já não se dizia Inquisição Eclesiástica, mas sim
Inquisição Régia. (BETTENCOURT, Estevão Tavares. 1993)
Os autos de fé
Os delitos
Sexuais
Bigamia
Sinomia
Pecados Nefandos-Sodomia
Bestialidade
Concubinato
Heréticos
Arianismo
Nestorianismo
Monofisismo
Monotalismo
Pelagianismo
Iconoclastia
O processo
No dia fixado, as partes compareciam pessoal mente perante a assembléia formada pelos seus
pares, sob a presidência do senhor feudal ou de um seu representante. O autor apresentava sua
queixa de viva voz, através de rígidas fórmulas tradicionais, sem cometer nenhuma falha que
permitisse ao adversário proclamar nula a demanda. Em seguida, competia ao acusado
responder de imediato, uma vez que o silêncio eqüivalia a uma confissão. A defesa tinha de
consistir em negações exatamente ajustadas aos termos da acusação, refutando-a palavra por
palavra, de verbo ad verbum.
O julgamento era tal qual um duelo de fato, acusador e acusado batiam-se verbalmente (sob
juramento de dizer a verdade e com testemunhas se possível) e reconhecia-se a razão daquele
que vencesse o embate. A explicação para este procedimento era a de que o mentiroso,
consciente de sua culpa, combateria com menos veemência até porque Deus, sabedor de quem
era a razão, facilitaria a sua derrota. Como visto anteriormente, também poderia se recorrer aos
ordálios.
O juiz exercia um papel de árbitro, mais do que ministrador ele mesmo de uma regra “divina”.
Os papéis de acusador e juiz se confundiam nesse modelo de escuta das partes. Não havia
advogado de defesa.
Equidade da lei não estava em causa a despeito disso se encontrar nas escrituras da Bíblia em
Deuteronômio (1, 16-17)
Tortura, era discricionária, pois nobres e plebeus tinham na morte decapitação e enforcamento.
Algumas leis dispunham que o réu somente deveria ser supliciado várias horas após haver
ingerido alimentos, quando já se achasse portanto enfraquecido. Exigiam-lhe então, primeiro, o
juramento de que diria a verdade. Em seguida, lhe apresentavam os instrumentos que seriam
utilizados, com explicações sobre o seu funcionamento. Se para evitar o tormento, ou no seu
desenrolar, o paciente confessasse o que lhe era exigido, levavam-no para outro lugar, seguro e
confortável, onde ele deveria ratificar a confissão. Se esta não fosse ratificada, voltava-se à
tortura, em dias subseqüentes.
Provas materiais
Conjecturais: presunções
Tendo em vista a importância da confissão, o interrogatório era visto como um ato essencial,
que exigia uma técnica especial. Existiam cinco tipos progressivos de tortura, e o suspeito tinha
o “direito” a que somente se praticasse um tipo de tortura por dia. Se em 15 dias o acusado não
confessasse, era considerado como “suficientemente” torturado e era liberado. Sem embargo,
os métodos utilizados eram eficazes e quiçá alguns poucos tenham conseguido resistir aos 15
dias. O pior é que em alguns casos a pena era de menor gravidade que as torturas
sofridas.(LOPES Jr 2013)
Não há prisão. Os calabouços e as práticas de tortura são parte do rito de produção da prova, e
não o fim penal.
Penas
Trabalhos forçados
Desterro e Degredo
Na Espanha, até a extinção do Santo Ofício, em 1834, estima-se que quase 300 mil pessoas
tenham sido condenadas e 30 mil executadas.