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Direito Canônico: feudalidade e inquisição

CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e Brasil. Rio de Janeiro:
editora Lumem Juris, 2007

A hierarquia estamental feudal

Belatore - aqueles que guerreiam

Oratore – aqueles que oram

Laboratore - aqueles que trabalham

Os camponeses livres foram perdendo sua independência e submeteram-se à


autoridade da elite que nascia, uma elite formada por chefes guerreiros e grupos armados. Isto
pode ser explicado pelo fato de os guerreiros terem detido a propriedade das terras e sem a
posso destas os camponeses se viram obrigados a se submeter a eles.

O sistema feudal

(...) Pode-se entender por feudalidade um tipo de sociedade baseado numa organização muito
particular entre os homens: laços de dependência de homem para homem estabelecendo uma
hierarquia entro os indivíduos. Um homem, o vassalo, confia-se a outro homem, que escolhe
para seu amo. e que aceita esta entrega voluntária. O vassalo deve ao amo fidelidade, conselho
e ajuda militar e material. O amo, o senhor, deve a seu vassalo fidelidade, proteção, sustento. O
sustento pode ser assegurado de diversas maneiras. Geralmente faz-se através da concessão ao
vassalo duma terra, benefício ou feudo.

O contrato feudal - Investidura, Fé e Homenagem.

Estes benefícios dados aos vassalos quase sempre eram sinônimos de uma porção de
terra, porém poderia também ser um castelo sem terras em volta, uma portagem, uma
magistratura etc..

Entre nobres

Auxilium: ajuda militar e material, nem sempre de caráter pecuniário que, na

maioria das vezes, apresentava-se sob a forma de apoio militar - homens e armamentos

Consilium: obrigação de auxiliar ao senhor com conselhos sempre que este convocava

Aos foreiros e servos da Gleba

Obrigações do costume do mancípio: Talha, corveia, Mão Morta, etc...

As cúrias (conselhos dos senhores), eram espaços privados de deliberação

Contratos e vigência

...vistos como resultado de um juramento, eram sagrados e, portanto, eternos, ou melhor


dizendo, existiam até que a morte de um dos contratantes impossibilitasse o contrato.

Da parte do servo / do inferior mas sob protesto da irregularidade


O término: Devolução do cetro, desafio ou excomunhão

Saissine: noção do bem de raiz sempiterno

Camadas hierárquicas de posse e “arrendamento” Não há o conceito pleno de venda como o


atual. Haverão sempre ao menos três “donos”

Então podemos supor com uma certa precisão que o feudo, como benefício, embora
propriedade do senhor e em usufruto do vassalo, não era um bem alienável, por nenhuma das
partes, muito embora pudesse, em parte ou no todo, tornar-se um benefício a ser dado a um
homem livre que se tornaria vassalo do vassalo do proprietário.[...] Era quase impossível para
um senhor mudar o status quo deixado por seu predecessor; os vassalos do predecessor eram
"herdados", bem como as suas promessas.

A rigor,(teoricamente) o contrato feudo-vassálico excluía a hereditariedade do usufruto


do benefício. Na prática esta era uma adaptação das regras de herança romana que vinculava
fortemente a dinâmica da manutenção de culto aos primogênitos

Costumes Germânicos

A principal instituição destes povos é a família, baseada no poder absoluto (mund) do


pai que compartilha com a sua única esposa, que deve ser sempre exemplo de pureza e tradição
familiar. Os filhos até serem "armados" e as filhas até o casamento vivem no seio da família
ocupados nos trabalhos domésticos ou na cultura da terra. O jovem ao ser "armado" é
considerado maior de idade, porém a família continua juridicamente responsável por ele. É ela
que se responsabiliza por seus erros, paga suas dívidas e o vinga.

Os Vândalos: (Norte da África em 477 d.C.) Casamentos mistos eram proibidos e a conversão ao
catolicismo também. Conservaram também as suas leis e seus costumes. Mantiveram os
romanos como juízes no seu espaço de domínio.

Ostrogodos: (Penisula itálica 493d. C.) Casamentos mistos eram proibidos, Teodorico busca
compor um conselho misto para administrar a justiça

Visigodos: (Península Ibérica V- VII d.C) Havia casamento interétnico e há a Lex

Romana Visigothorum ou, como preferia o rei, Breviário de Alarico e o Liber Judiciorum

Reino Burgúndio: (Europa Central, 510d.C.) Casamentos interétnicos e legislação, com a Lex
Romana Burgundiorum, é considerada uma compilação de leis extremamente romanizada

Reino Franco: (Europa Central –França, V – IX d.C.)

Merovíngios – Carolíngios: Havia casamentos interétnicos e a lei era uma preocupação


manifesta em inúmeras compilações a despeito do costume.

Edicta, Decreta ou Constitutiones ou comumente de capitulares cujo termo vem de capitula

Capitularia Legibus Addenda: eram textos a serem aplicados nas mesmas condições das leges
ou leis)
Capitularia Missorum: que continham instruções destinadas aos funcionários reais ou imperiais
quando em viagens a serviço

Capitularia Per se Scribenda: que continham disposições de caráter administrativo ao lado de


medidas administrativas

Direito Canônico

Direito privatista frente a dissolução do universalismo e arbítrio sobre casamentos e


divórcios. (Censos das comunidades e registros das uniões “regulares”)

Constantino em 313 e a concessão aos bispos de operarem a justiça para as causas

CANON (regra) do grego, espalhado pelo Oriente e Ocidente

Após a era Franca, foi dado aos clérigos (padres, bispos etc.) o privilégio de foro, que
indicava que estes somente poderiam ser julgados, qualquer matéria que fosse, pelos tribunais
da Igreja.

As fontes do Direito Canônico são o ius divinum (conjunto de regras que podem ser extraídas da
Bíblia, dos escritos dos doutores da Igreja e da doutrina patrística), a própria legislação canônica
(formada pelas decisões dos Concílios e dos escritos dos papas – chamados decretais), os
costumes e os princípios recebidos do Direito Romano.

Assim, após o século X, além de poder julgar os padres e religiosos, os tribunais eclesiásticos
passaram a ter jurisdição sobre questões envolvendo os Cruzados, o corpo docente e discente
de Universidades (que foram até o século XVI instituições eclesiásticas) e as chamadas
miserabiles personas, viúvas e órfãos quando pediam a proteção da Igreja.

O processo eclesiástico, ao contrário do laico, era escrito:

No cível (...) o queixoso devia entregar o seu pedido por escrito (libellus) a um oficial que
convocava o réu. Em presença das duas partes, o oficial lia o libellus; o réu podia opor exceções;
depois do exame destas, o contrato judiciário ficava fixado pela litiscontestatio (...). As partes
submetiam seguidamente as provas (...) das suas asserções ao juiz; na falta de prova suficiente,
o juiz podia ordenar um juramento litisdecisório.

Na área penal o processo estava atrelado à queixa, à acusação. Até os séculos XII e XIII
era baseado em um tipo de prova chamado "irracional", visto que não pode ser explicado pela
razão. Neste sistema de provas irracionais se recorre a uma divindade; por exemplo, para obter
justiça, na Idade Média recorria-se aos ordálios.

Unilateral

Ferro em brasa

Prova do cadáver

Submersão na água (quente ou fria)

Águas amargas - no caso da dúvida o adultério da mulher

Bilateral

Desafio “duelo” na espada ou punhal


iudicium crucis ou julgamento da cruz

Práticas proibidas no IV Concílio de Latrão, a partir do ano de 1215 e a migração das


práticas para o tribunal Inquisitorial

Tribunal do Santo Ofício da Inquisição

Na Idade Moderna, a formação de muitos dos Estado Absolutistas deve-se, em grande


parte, à utilização política do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição que nas mãos de monarcas
ansiosos por concentrar o máximo de poder perseguiram através deste vários opositores e
conseguiram unificar seus países em torno de Estados centralizados ora minimizando os efeitos
de uma invasão estrangeira (no caso da Espanha, principalmente), ora conseguindo mais
financiamento para seus planos (no caso da perseguição a judeus, banqueiros, principalmente)
ou até mesmo buscando através do Tribunal eliminar quem lhes fizesse oposição.

Surgimento em 1231 d. C. , quando o papa Gregório IX – preocupado com o crescimento de


seitas religiosas – criou um órgão especial para investigar os suspeitos de heresias.

Joana D’Arc 1431 d.C.

Tomas de Torquemada 1468 d.C. enviou cerca de 10.000 pessoas para a fogueira

Malleus Maleficarum - Martelo da Feitiçeiras - Heinrich Kramer e James Sprenger 1486 d.C

Aliás, quanto mais a história avançava, tanto mais absolutistas se tornavam os reis do Ocidente
europeu, de tal modo que não podiam tolerar outra instância judiciária autônoma (a
eclesiástica) ao lado da instância judiciária civil; esta deveria mais e mais valer-se dos tribunais
eclesiásticos para implantar os interesses dos monarcas. A prepotência começou com Felipe IV,
o Belo da França, e atingiu o seu auge na Espanha e em Portugal a partir do século XVI: o desejo
de unificar a população da península ibérica, com posta de cristãos, judeus e muçulmanos, levou
os reis daqueles dois países a pedir e obter do Papa a instalação da Inquisição segundo os seus
propósitos, mediante homens por eles nomeados, provocando sérios conflitos na Santa Sé, que
mais de uma vez se recusou a reconhecer o procedimento da Inquisição na península ibérica;
aliás, no final da vigência desta instituição, já não se dizia Inquisição Eclesiástica, mas sim
Inquisição Régia. (BETTENCOURT, Estevão Tavares. 1993)

Os autos de fé

Os autos-de-fé consistiam em cerimônias mais ou menos públicas onde eram lidas e


executadas as sentenças do Tribunal do Santo Ofício (instituição criada pela Inquisição no século
XVI). Com o passar do tempo, os autos-de-fé passaram a constituir um grandioso espetáculo,
realizado com grande pompa e segundo um cerimonial rigorosamente estabelecido. Assistiam
a estas cerimônias não apenas as autoridades religiosas e civis (muitas vezes o próprio rei estava
presente), mas toda a população da cidade que gritava em júbilo enquanto os condenados eram
condenados em suas penas ou queimados vivos.

Os delitos

Sexuais

Bigamia

Sinomia

Pecados Nefandos-Sodomia
Bestialidade

Concubinato

Heréticos

Arianismo

Nestorianismo

Monofisismo

Monotalismo

Pelagianismo

Iconoclastia

Feitiçaria, bruxaria e paganismo

O Tribunal do Santo Oficio e os Tribunais Seculares

Cesare Becaria e os tribunais Laicos

O direito de acusar, portanto, pertencia somente à parte lesada (o indivíduo ou no caso


deste ter morrido, um membro de sua família) e sem que houvesse queixa era impossível
instaurar o processo. O procedimento era público, oral e formalista:

O processo

No dia fixado, as partes compareciam pessoal mente perante a assembléia formada pelos seus
pares, sob a presidência do senhor feudal ou de um seu representante. O autor apresentava sua
queixa de viva voz, através de rígidas fórmulas tradicionais, sem cometer nenhuma falha que
permitisse ao adversário proclamar nula a demanda. Em seguida, competia ao acusado
responder de imediato, uma vez que o silêncio eqüivalia a uma confissão. A defesa tinha de
consistir em negações exatamente ajustadas aos termos da acusação, refutando-a palavra por
palavra, de verbo ad verbum.

O julgamento era tal qual um duelo de fato, acusador e acusado batiam-se verbalmente (sob
juramento de dizer a verdade e com testemunhas se possível) e reconhecia-se a razão daquele
que vencesse o embate. A explicação para este procedimento era a de que o mentiroso,
consciente de sua culpa, combateria com menos veemência até porque Deus, sabedor de quem
era a razão, facilitaria a sua derrota. Como visto anteriormente, também poderia se recorrer aos
ordálios.

O juiz exercia um papel de árbitro, mais do que ministrador ele mesmo de uma regra “divina”.
Os papéis de acusador e juiz se confundiam nesse modelo de escuta das partes. Não havia
advogado de defesa.

Equidade da lei não estava em causa a despeito disso se encontrar nas escrituras da Bíblia em
Deuteronômio (1, 16-17)

Processo era sigiloso

Tortura, era discricionária, pois nobres e plebeus tinham na morte decapitação e enforcamento.
Algumas leis dispunham que o réu somente deveria ser supliciado várias horas após haver
ingerido alimentos, quando já se achasse portanto enfraquecido. Exigiam-lhe então, primeiro, o
juramento de que diria a verdade. Em seguida, lhe apresentavam os instrumentos que seriam
utilizados, com explicações sobre o seu funcionamento. Se para evitar o tormento, ou no seu
desenrolar, o paciente confessasse o que lhe era exigido, levavam-no para outro lugar, seguro e
confortável, onde ele deveria ratificar a confissão. Se esta não fosse ratificada, voltava-se à
tortura, em dias subseqüentes.

Provas materiais

Vocais: testemunhos e confissão (interdições- mulheres, criminosos, pobres, juristas e


mendigos)

Instrumentais: escritos e objetos Espécie : imperfeitas e as perfeitas

Conjecturais: presunções

A confissão: a rainha das provas, a probatio probatíssima

assim o réu é seu próprio juiz

Tendo em vista a importância da confissão, o interrogatório era visto como um ato essencial,
que exigia uma técnica especial. Existiam cinco tipos progressivos de tortura, e o suspeito tinha
o “direito” a que somente se praticasse um tipo de tortura por dia. Se em 15 dias o acusado não
confessasse, era considerado como “suficientemente” torturado e era liberado. Sem embargo,
os métodos utilizados eram eficazes e quiçá alguns poucos tenham conseguido resistir aos 15
dias. O pior é que em alguns casos a pena era de menor gravidade que as torturas
sofridas.(LOPES Jr 2013)

Tortura provém de ‘torquere‘, que significa ‘torcer’

A tenazes tudo começavam...

Imagens dos instrumentos

Não há prisão. Os calabouços e as práticas de tortura são parte do rito de produção da prova, e
não o fim penal.

Penas

Mortes: morte civil , decapitação, na forca (corda ou corrente), na fogueira

Infâmia(Retratação e Expiação), multa e confisco

Pelourinho: amarrações em praça pública em variados formatos

Trabalhos forçados

Desterro e Degredo

Na Espanha, até a extinção do Santo Ofício, em 1834, estima-se que quase 300 mil pessoas
tenham sido condenadas e 30 mil executadas.

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