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6º Texto A IGREJA MEDIEVAL

O Sacro Império Romano. A Separação das Igrejas Latina e Grega.

Desde o século dez até ao décimo-nono existiu na Europa uma organização política
singular, que demonstrou possuir características diferentes nas várias gerações. O nome oficial
dessa organização era este: Sacro Império Romano, ainda que em forma comum, porém
incorreta, era denominado Império Germânico. Até à sua aparição, a Europa situada ao oeste do
Mar Adriático vivia em completa desordem, governada que era por tribos guerreiras em lugar de
ser governada por Estados. Apesar de tudo, em meio a tanta confusão, o antigo conceito romano
de ordem e unidade permaneceu como aspiração por um império para ocupar o lugar do Império
Romano que, mesmo desaparecido, ainda era tradicionalmente venerado.
Na última etapa do século oitavo levantou-se um dos maiores homens de todos os
tempos, Carlos Magno (742-814). Era neto de Carlos Martelo, o vencedor da batalha de Tours,
(732). Carlos Magno, rei dos francos, uma tribo germânica que dominava uma grande parte da
França, constituiu-se a si mesmo senhor de quase todos os países da Europa Ocidental, norte da
Espanha, França, Alemanha, Países-Baixos, Áustria e Itália, em verdade, um império. Ao visitar
a cidade de Roma, no dia de Natal do ano 800, Carlos Magno foi coroado pelo Papa Leão III,
como Carlos Augusto, imperador romano, e, assim, considerado sucessor de Augusto, de
Constantino e dos antigos imperadores romanos. Carlos Magno reinou sobre todo o vasto
domínio com sabedoria e poder. Era reformador, conquistador, legislador, protetor da educação
e da igreja.
Somente por um pouco de tempo, a autoridade de seu império foi efetiva na Europa. A
fraqueza e a incapacidade dos descendentes de Carlos Magno, o desenvolvimento dos vários
países, dos idiomas, dos conflitos provocados por interesses regionais, fizeram com que a
autoridade do Sacro Império Romano ou Germânico se limitasse ao oeste pelo Reno. Até
mesmo na Alemanha os pequenos estados se tornaram praticamente independentes; guerreavam
uns com os outros e a maior parte do tempo apenas nominalmente estavam sob o domínio do
imperador. O imperador era reconhecido como chefe titular do Cristianismo europeu. Na
França, na Inglaterra e nos Estados escandinavos, o imperador era honrado, porém, não
obedecido. Pelo fato de sua autoridade ter-se limitado à Alemanha e em pequena escala à Itália,
o reino foi comumente chamado de Império Germânico.
Mais tarde, quando os sucessores de Carlos Magno perderam o trono, o imperador era
eleito por um corpo de eleitores formado por sete príncipes. Dos cinquenta e quatro imperadores
somente mencionaremos os mais importantes: Henrique I (o Passarinheiro), 919-936, iniciou a
restauração do império que havia decaído, porém seu filho, Otto I (o Grande), apesar de não
haver sido coroado senão no ano 951, é considerado como o verdadeiro fundador do Sacro
Império Romano, isto é, como uma entidade, e distinto do Império Romano. O reinado do Otto I
estendeu-se até 973. Frederico Barbarroxa foi um dos imperadores mais poderosos nessa
sucessão. Participou da Terceira Cruzada, porém afogou-se na Ásia Menor e sua morte fez a
expedição fracassar.
Frederico II, neto de Barbarroxa foi chamado "a maravilha e o enigma da história; ilustre
e progressista, o homem mais liberal de sua época", em suas idéias políticas e religiosas. Foi
excomungado duas vezes pelo papa, mas na Quinta Cruzada proclamou-se a si mesmo rei de
Jerusalém.
Rodolfo de Habsburgo, fundador da Casa da Áustria, recebeu a coroa imperial no ano de
1273, quando esse ato não tinha maior significação do que um título qualquer e sem valor.
Entretanto, obrigou os príncipes e barões a submeterem-se à sua autoridade. A partir de então, a
Áustria era o Estado mais poderoso da confederação Germânica e quase todos os imperadores
eram descendentes do fundador da Casa da Áustria. Carlos V, imperador no tempo do início da
Reforma (1519-1556), era também herdeiro da Áustria, da Espanha e dos Países-Baixos. Fez o
que pode, porém não conseguiu manter sob o domínio da antiga religião todos os países que
governava. No ano de 1556 abdicou voluntariamente e passou os dois últimos anos de sua vida
afastado de todos.
Durante muitos séculos a história do império registrou forte rivalidade e até mesmo
guerras entre papas e imperadores; imperadores lutando para governar o império. Já vimos
como o papa Gregório VII (Hilde-brando), certa ocasião, exigiu a submissão de um imperador e
como Inocêncio III nomeava e destituía imperadores e reis. Porém a luta tornou-se menos
intensa e cessou, depois da Reforma, quando se fixaram as linhas divisórias entre a igreja e o
Estado.
Quando o reino da Áustria se tornou importante, os imperadores cuidavam mais de seus
domínios. As muitas províncias do império alcançaram quase que a independência completa, de
modo que o título de imperador tinha a significação de um título honorífico ou pouco mais do
que isso. No século dezoito, o engenhoso Voltaire declarou que "o Sacro Império Romano não
era sacro nem romano, nem era império". A sucessão de imperadores terminou no ano de 1806,
quando Napoleão alcançou o clímax do poder. Nesse ano Francisco II foi obrigado a renunciar
ao título de imperador do Sacro Império Romano e tomou o de "imperador da Áustria".
A separação das igrejas Grega e Latina realizou-se formalmente no século onze, ainda
que praticamente se tivesse efetuado muito tempo antes. As relações normais entre papas e
patriarcas, durante séculos, caracterizaram-se pelas lutas, até que, finalmente, em 1054 o
mensageiro do papa colocou sobre o altar da igreja de Sta. Sofia, em Constantinopla, o decreto
de excomunhão. Por sua vez o patriarca expediu decreto de excomunhão de Roma e das igrejas
que se submetessem ao papa. Desde então as igrejas Latina e Grega conservaram-se separadas,
não reconhecendo uma a existência eclesiástica da outra. A maioria das questões que deram
causa à separação, são consideradas triviais em nossos dias. Entretanto, durante séculos, elas
foram temas de violentas controvérsias, e às vezes, de cruéis perseguições.
Doutrinariamente, a principal diferença consistia na doutrina conhecida como "a
procedência do Espírito Santo". Os latinos afirmavam que "o Espírito Santo procede do Pai e do
Filho" — em latim "filioque". Os gregos, por sua vez, declaravam que procedia "do Pai",
deixando fora a palavra "filioque". Acerca dessa palavra realizaram-se intermináveis debates,
escreveram-se livros em abundância e até mesmo sangue foi derramado nessa amarga contenda.
Nas cerimônias da igreja Oriental e da Ocidental os usos e costumes eram diferentes e
alguns deles transformaram-se em lei. O casamento dos sacerdotes foi proibido na igreja
Ocidental, enquanto na igreja Oriental foi sancionado. Atualmente, na igreja grega, qualquer
sacerdote do povo (que tem o título de "papa", equivalente a "padre" entre os católicos-
romanos) deve ser casado. Nas igrejas ocidentais a adoração de imagens é praticada há mais de
mil anos, enquanto nas igrejas gregas não se encontram estátuas, mas apenas quadros. Contudo
os quadros são imagens em baixo-relevo, e são estimados com profunda reverência.
No exercício da missa o pão sem fermento (a hóstia) é usado nas igrejas romanas, ao
passo que nas igrejas gregas é servido pão comum. Como protesto contra a observância judaica
do sétimo dia, surgiu a prática do jejum aos sábados no Ocidente, mas jamais esse costume foi
observado no Oriente. Mais tarde, porém, o dia de jejum católico-romano foi transferido para as
sextas-feiras, o dia da crucificação do Senhor.
Contudo, uma influência mais profunda do que estas diferenças cerimoniais, que
provocou a separação das igrejas latina e grega, foi a causa política da separação ou
independência da Europa do trono de Constantinopla, com o estabelecimento do Sacro Império
Romano (ano 800). Mesmo depois da queda do antigo império de Roma, em 476, o espírito
imperial ainda exercia influência e os novos reinos dos bárbaros: godos, francos e outras raças,
de uma forma um tanto vaga, teoricamente consideravam-se sob o governo ou domínio de
Constantinopla. Porém quando o Sacro Império Romano foi estabelecido por Carlos Magno,
tomou o lugar do antigo Império, e era separado e independente dos imperadores de
Constantinopla. Um Estado independente necessitava de uma igreja independente.
Mas o fator decisivo e poderoso que levou à separação foram as contínuas reclamações de
Roma, alegando ser a sua igreja dominante e insistindo em que o papa era "o bispo universal".
Em Roma a igreja pouco a pouco dominava o Estado. Em Constantinopla a igreja continuava
submissa ao Estado. Diante dessas circunstâncias era inevitável o rompimento entre as duas
igrejas de conceitos opostos. A separação definitiva das duas grandes divisões da igreja, como
já vimos, aconteceu no ano 1054.

Referencia.

HURLBUT, Jessé Lyman. História da Igreja Cristã. Edição revista e atualizada. São
Paulo: Editora Vida, 2007.

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