Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E que
magnífico e agonizante processo foi esse, que vem se desenvolvendo
por dois milênios. É essencial para essa obra a formação de pedras
vivas: homens e mulheres libertos das presas do pecado, cujas vidas
agora testificam da graça evangélica.
Mas como Cristo constrói a sua igreja? Uma resposta é proposta dentro
da cúpula da Basílica de S. Pedro em Roma, em letras de um metro e
oitenta, onde a promessa de Cristo está escrita em latim: “E tu és Pedro,
e sobre esta pedra edificarei a minha igreja …” Iluminadas pelas janelas
circundantes, essas palavras parecem uma coroa em cima da cripta do
próprio apóstolo, que está escondido bem abaixo do altar principal, um
lembrete da autoridade dada ao herdeiro de Pedro que se assenta sobre
o trono papal.
O Primeiro Papa
A nossa história começa com um lembrete do Lord Acton, que sugeriu
que a melhor maneira de assegurar a solidez de certa posição era fazer
o melhor argumento possível em prol dos que se acredita estar errado.
Embora a narrativa a seguir não seja um argumento por si só, ela
pretende demonstrar que a trajetória equivocada da autoridade papal se
desenvolveu de uma forma até natural no escopo e no decorrer da
história ocidental, um desenvolvimento que serve de advertência aos
seguidores de Cristo de cada época.
Foi por volta de 150 d.C. que o padrão mais solto da autoridade
presbiterial começou a dar lugar a um bispado romano único, um ofício
que eventualmente se desenvolveu numa posição monárquica sob o
Bispo Victor (189-198) e em maior medida sob o Bispo Estevão I (254-
257). A invocação de Mateus 16 por Estevão foi o primeiro exemplo de
um bispo de Roma tentando se elevar sobre outros bispos com uma
autoridade que era qualitativamente superior.
Foi nessa época que a consciência teológica do papado deu outro passo
significativo. Gelásio I (492-496) foi além da reivindicação de Leão à
jurisdição sobre os outros bispos ao afirmar que o poder do papa era
superior aos reis. Essa distinção entre o poder papal e a autoridade
temporal se mostraria relevante nos séculos seguintes quando papas e
imperadores se digladiariam sobre a questão de quem era o líder
legítimo da cristandade. Segundo Gelásio, já que os papas prestariam a
contas a Deus pelos reis, o seu poder sagrado superava a autoridade
imperial de qualquer imperador ou governante temporal.
Enquanto o poder papal alcançava o seu zênite sob Inocêncio III, ele
logo começaria o seu declínio. Uma tensão crescente entre o papado e
os Estados-nação eventualmente levou a um conflito entre Bonifácio VIII
(1294-1303) e o governante da França, Filipe, o Belo. Em uma disputa de
poderes que lembra a estátua do Manneken Pis em Bruxelas, Filipe
eventualmente emergiu vitorioso. Tendo sido vencido, Bonifácio então
emitiu a bula papal conhecida como Unam Sanctam, onde ele reivindicou
que “é completamente necessário à salvação que toda criatura humana
se sujeite ao Pontífice Romano”. Bonifácio, contudo, não podia apoiar
suas reivindicações com poderio militar. Filipe, portanto, o prendeu, uma
antecipação do que o papado se tornaria em alguns poucos anos.
A Igreja no Cativeiro
Quando o novo papa eleito, Clemente V, não pôde voltar a Roma pelo rei
da França em 1305, ele eventualmente mudou a sua corte papal para
Avignon. Isso começou o chamado Cativeiro Babilônico do Papado, um
período entre 1309 e 1376 em que sete papas seguidos viveram em
exílio de Roma, a poucos metros de distância da fronteira francesa.
Quando o papa Gregório XI finalmente retornou a Roma em 1377 e
morreu ali, o colégio de cardeais de maioria francesa se reuniu num
conclave em meio a multidões enraivecidas que demandavam um papa
italiano. As massas tiveram o que queriam com Urbano VI, mas os
cardeais rapidamente tiveram remorso da sua escolha e elegeram um
papa francês no lugar disso (alegando ter feito sua decisão inicial sob
coação). Havia agora dois reclamantes ao trono papal.
Tendo começado com Lord Acton, vamos concluir com as suas palavras
mais famosas: “O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe
absolutamente”. O que frequentemente se esquece, contudo, é que
Acton estava falando, na verdade, sobre o absolutismo papal, uma
preocupação que tem motivado reformadores cristãos ao longo dos
séculos.
Mas esse perigo não é exclusivo aos que portam o anel papal ou se
inclinam para beijá-lo. Lá no fundo, a trajetória de todo coração
pecaminoso é ser igual ao Papa Júlio II, esbanjando as nossas
esplêndidas capas amarelas e procurando por um trono para se
assentar. Mas há um só Senhor que se assenta sobre o trono: o
Cordeiro, a quem damos louvor e honra e glória para todo o sempre.