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8.

Início, Apogeu e Decadência do Papado

O Papado é considerado a base do Romanismo, ou seja, o


alicerce, o fundamento do Catolicismo Romano. O papismo crê
que o início do Papado está em Mateus 16.18, onde Jesus Cristo
afirma que "Pedro é a pedra" e que edificaria sua igreja sobre
Pedro e concede a ele toda a autoridade da igreja. Assim, ficou
decretado que o Papa é o sucessor de Pedro, ou seja, que a ele foi
entregue toda a autoridade na terra.
Existem algumas dificuldades com relação à doutrina do
papado, quais sejam:

• Pedro foi ( quais morto na perseguição de Nero e não exis­


te documentação da transmissão de autoridade apostólica
àqueles que seriam seus sucessores.
• As listas dos primeiros bispos não coincidem.
• Período obscuro entre a perseguição de Nero (64) até a 1°
Epístola de Clemente (96). Sabe-se pouco ou nada a respei­
to deste período.
• Nos primeiros séculos de história da Igreja o centro numé­
rico está no Oriente, logo os bispos de Antioqui a e
Alexandria eram mais importantes do que o de Roma.
• A direção teológica está na África Latina ,com Tertuliano,_
Cipriano e Agostinho.

8.1 Como então o papado chegou onde está hoje?

· Quando o Império aceita a fé cristã, Igreja e bispo ganham


posição de destaque, urna vez que Roma era a capital do Impé­
rio. A jurisdição política passa a equivaler à jurisdição eclesiásti­
ca. Havia por este tempo cinco patriarcados: Jerusalém que tinha
caráter simbólico, Antioquia, Alexandria, Constantinopla, que não
existia nos tempos apostólicos, e Roma.
No Oriente com a continuidade do Império, os Patriarca­
dos são subordinados a ele. Já no Ocidente em virtude principal­
mente das invasões bárbaras, o império desaparece. Com este
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quadro a Igreja se torna a guardiã da velha civilização e o patri­
8.2.2 Gregório I
arca de Roma (Papa) passa a gozar de grande prestígio e autori­
dade. O papa vem preencher o vazio no caos.
?urante este período de invasões, os imperadores perdem
,
a Itaha para os longobardos. Neste momento de dificuldades,
8.20 Início
surge o papa Gregório I Magno (590-604 D.C.), que se
8.2.1 O primeiro papa: Leão 1, o Grande autointitulava "servo dos servos de Deus", e foi fundador da Igre­
ja na Inglaterra, e também o sistematizador do canto gregoriano.
O termo papa significa papai. Esse nome primitivo era dado Gregório adotou o modelo de papado de Pelágio II, seu
antecessor, morto pela "peste". Era um período de guerras in­
a todos os bispos, mas foi pouco a pouco sendo reservado ao
bispo de Roma. tensas pelo controle de Roma. A situação era de caos onde pre­
dominavam a fome, peste, etc. Gregório, que antes de ser papa
O conhecimento histórico dos primeiros séculos do papado
é escasso, pois até o século IV não aparece nenhuma personali­ havia sido prefeito, diácono e embaixador na corte de
Constantinopla, convocou o povo para uma procissão de peni­
dade marcante entre eles. Somente com Leão I, o Grande (440-
461), é que de fato a autoridade papal começa a existir, em face tência e trabalhou fortemente na reconstrução de Roma. Além
de sua intervenção no Concílio de Calcedónia e na condenação disto, também é o fundador do poder temporal do papado.
do Monofisismo, além de proteger a Itália contra Átila e os hunos Com Gregório, o poder da igreja foi estendido a diversos
durante uma tentativa de invasão por parte dos bárbaros, o que territórios que se tornaram "Patrimônio de São Pedro": igrejas,
foi o primeiro ato político do papado. Átila era o rei dos hunos, palácio, terras, riquezas. Tudo isso representava poder.
chamado o "flagelo de Deus", e aproveitando a debilidade do Im­ No seu papado algumas mudanças aconteceram na vida
pério Romano resolve conquistá-lo. Leão decide ir até o seu acam­ da igreja, dentro e fora de Roma, como a valorização da prega­
pamento e conta a "lenda" que ao encontrar-se com Átila, este teria ção, a proibição de luxos entre clérigos, além do controle sobre
visto Pedro e Paulo ao lado de Leão, empunhando espadas. Por pagamentos excessivos. Juntamente com o monasticismo,
este rr:otivo ele teria mudado de intenção e seguido para norte. Gregório ampliou a influência do papado à Espanha, África, ao
E interessante notar que com Leão I surgem os principais ar­ Egito, à Inglaterra e entre os Francos.
gumentos que perduram até hoje em favor da autoridade papal: Quanto à sua produção teológica, dizia que somente os
hereges são autores ou pensadores originais. Considerava-se um
1. Pedro é o "portador das chaves do Reino" (Mt 16.19) e Deus discípulo de Agostinho, onde o que em Agostinho seria uma
na sua providência o levou à capital do império para ali suposição, para Gregório era uma certeza. Os maiores exemplos
morrer. disto são as doutrinas do purgatório, da penitência e da missa
2. Pedro é a "pedra sobre a qual a igreja seria edificada" (Mt como sacrifício vivo, que é capaz de ajudar os mortos através de
16.18) e qualquer outro fundamento é areia. missas em seus nomes.
3. Pedro é o "pastor do rebanho de Cristo", pois diversas ve­ De uma forma geral, ele não só aceitou como incorporou
zes Jesus lhe disse: "apascenta as minhas ovelhas". todas as crenças populares do século VI à doutrina cristã. Sua
4. Tudo isso vale para ele e seus sucessores, os bispos de obra literária passou a ter a mesma autoridade infalível das obras
Roma. de Agostinho.

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8.2.3 Fortalecimento do poder eclesiástico
ya em restaurar o antigo Império Romano e destruir O que ele
chamava de "papado gregoriano".
Com o reavivamento da igreja no Ocidente, esta passou por · Por esta razão, tempos depois, Celestino III excomunga
uma renovação que a ajudou em sua luta contra o Estado, repre­
Henrique e o conflito se torna declarado. Este só não teve desdo­
sentado pelo Santo Império Romano. Vários fatores contribuí­
bramentos maiores porque o imperador Henrique morre antes
ram para um fortalecimento do_poder eclesiástico do papa.
de responder a esta atitude papal. Corno herdeiro fica seu filho
A doação de Constantino tornou-se à base legal pará a pro­
de colo Frederico. O papa Celestino morre três meses depois.
priedade de terras pelo papa (este documento foi usado pelo
Com a desorganização do Império por causa da morte inespe­
papa na Idade Média como suporte às suas reivindicações de
rada do Imperador, os cardeais elegem um novo papa sem a inter­
posses temporais e poder nos reinos temporal e espiritual). O
ferência do império. O escolhido é Inocêncio III, que na época tinha
documento narrava que Constantino havia sido curado e batiza­
37 anos e é considerado o papa mais poderoso de toda história.
do por Silvestre, e em troca disso havia dado à Igreja de Roma a
A partir daí, inicia-se o conflito pela sucessão do trono de
proeminência sobre todas as outras terras.
Henrique VI. A viúva do imperador coloca seu filho e seu reino
As decretais também eram instrumentos muito utilizados,
sob a proteção do papa, com medo de que o trono seja usurpa­
pois estabeleciam a supremacia do papa sobre todos os líderes
do, urna vez que na questão da sucessão imperial, a coroa não
eclesiásticos da Igreja e concediam a qualquer bispo o direito de
era hereditária.
apelar diretamente para o Papa.
Por considerarem Frederico muito jovem, inicia-se um con­
As reformas monásticas também foram de grande contri­
flito pela sucessão do trono entre os partidários de Felipe, irmão
buição para fortalecimento do papado.
de Henrique e os de Oto. O papa Inocêncio se coloca ao lado de
Embora no período de 800 a 1054 muitos papas marcarem
Oto, baseado na excornungação de Henrique, dizendo que de
o seu pontificado pela corrupção, outros foram capazes de aju­
acordo com a Bíblia, Deus visita o pecado dos pais nos filhos.
dar a consolidar a obra do fortalecimento do papado.
Além disso, queria aproveitar a oportunidade para obter a auto­
Nicolau I, papa de 858 a 867, foi o primeiro a usar os decre­
ridade para determinar quem seria o imperador. Por isso decla­
tos de vários pontífices de Roma e o mais capaz desses. Susten­
ra Oto o pretendente legítimo ao trono. A situação se transforma
tou por escrito e na prática a supremacia do papa na igreja, como
numa guerra civil de 10 anos, que culmina com o assassinato de
alguém que era responsável pelo bem-estar do fiel sobre os
Felipe.
governantes temporais em matéria de moral ou religião.
Pouco depois de coroado, Oto se volta contra o papa, que
por sua vez o excomunga, o depõe e declara que o legítimo im­
8.3 O apogeu
perador era o jovem Frederico. Com apoio do papa, este retoma
a coroa. O �esultado de tudo isso é a vitória do poder papal, pois
8.3.1 Inocêncio III (1198-1216)
com sua atitude, mesmo reconhecendo Frederico como rei legíti­
mo, mostra que tem poder para depor o imperador.
Com passar do tempo o conflito entre Igreja e Império se
Rapidamente o poder de Inocêncio se espalhou por ter pa­
intensifica. Depois de uma série de sucessões e conflitos, o papa
pel decisivo em questões de política internacional na França,.
Celestino III coroa corno imperador Henrique VI (filho de
Frederico Barba Roxa), um homem cruel e ambicioso que sonha- Espanha, Inglaterra, Portugal, Boêmia, Hungria, Dinamarca, Is­
lândia, entre outros países.

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Sobre o seu pontificado foram fundadas as ordens dos 8.4 A decadência
franciscanos e dominicanos, mas o ponto alto foi o IV Concílio
de Latrão, que se reuniu em 1215 e, em três sessões de um dia 8.4.1 Cativeiro babilônico
cada, tomou decisões que indicam, pela rapidez com que foram
tomadas, que o Concílio apenas referendava as decisões do papa. Desde meados do século XIII, a grande questão do papado
Entre estas decisões destacam-se: a. definição da doutrina era como manter o poder alcançado. O primeiro esforço concen­
da transubstanciação, o estabelecimento da Inquisiç.ão, a proibi­ trou-se na Itália, que os papas procuraram libertar da influência
ção da introdução de novas relíquias sem a aprovação papal e a dos reis e imperadores alemães. Para tanto buscaram auxílio junto
determinação que judeus e muçulmanos deveriam aos reis franceses, dos quais acabaram prisioneiros. Após
· · usar· roupas
··
especiais para se distinguirem dos cristãos. Inocêncio III e Inocêncio IV, faltaram figuras de grandeza teoló­
É de Inocêncio a seguinte frase: "O papa está entre Deus e o gica e política na liderança eclesiástica em Roma.
ser humano; debaixo do primeiro e acima do segundo. É menos Em 1294, após um conclave de mais de três anos, os carde­
que Deus e mais que o homem. Ele julga a todos, mas ninguém o ais elegeram o beneditino e asceta Pedro Morrone, na época com
julga". 80 anos. Conhecido por sua piedade sincera e por sua
espiritualidade, Pedro não correspondia às pretensões de poder.
8.3.2 Os sucessores de Inocêncio O que pode ter levado a sua eleição foi o clima apocalíptico pre­
sente no mundo cristão de então. Especialmente nos escritos de
Durante quase um século, os sucessores de Inocêncio goza­ Joaquim de Fiore (fal. em 1201) encontrava-se a profecia de que,
ram do prestígio que o grande papa tinha conquistado. Entre no final dos tempos, se ergueria novo imperador e um papa que
estes, o que mais se destaca é Bonifácio VIII (1294-1303). Na sua lhe corresponderia. Este libertaria a cristandade de suas dores, e
bula papal Unam Sanctan o ideal do papado onipotente chegou a então irromperia o Reino de Deus. Quando da eleição de Pedro
sua expressão máxima. de Morrone, não havia imperador, mas este aceitou a eleição,
como disse, por amor ao povo cristão e suas necessidades, assu­
Urna espada deve estar sob a outra, e a autoridade temporal deve
estar sujeita à potestade espiritual... Por isto, se a potestade terrena mindo o nome de Celestino V.
se aparta do caminho reto, será julgada pela espiritual... Mas se Não tomou Roma como sua sede, nem qualquer outra ci­
ela se aparta da suprema autoridade espiritual, então somente dade do Estado Pontifício. Viajou em direção ao sul e se instalou
pode ser julgada por Deus e não pelos humanos... Por outro lado, no território da Casa de Anjou, em Áquila onde também ficou
declaramos, dizemos e definimos que é absolutamente necessário residindo. Vivendo como eremita, Celestino V caiu sob o contro­
para a salvação de todas as criaturas humanas que estejam sob o
pontífice romano.
le do rei Carlos II, de Nápoles. Mostrou-se incapaz de
corresponder às esperanças religiosas de produzir uma renova­
Apesar destas palavras, é a partir de Bonifácio que fica cla­ ção espiritual na Igreja. A era do Espírito Santo, profetizada por
ro o início da decadência do papado. Joaquim de Fiore, não foi inaugurada.
Antes que chegasse o final do ano de sua eleição, Celestino
renunciou. Não se lhe permitiu, porém, a continuação de sua vida
ascética contemplativa. Ao tentar fugir para a Grécia, para esca­
par da Casa de Anjou, foi aprisionado e entregue a seu sucessor

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na sé apostólica, que o manteve preso como refém. Nessa condi­ f>' o de alta traição. Ao tomar conhecimento do aconteddó,­
ção faleceu em 1295. Bonifácio VIII publicou a bula Ausculta fili", na qual admoesta:,:
II

va seu filho Felipe" a se ater às orientações papais. A bula enu�


II

8.4.2 Bonifácio VIII (1294 -1303) merava toda uma série de transgressões cometidas por Felipe.
Essas transgressões deveriam ser evitadas, caso contrário o papa
Benedetto Gaetani, seu suc:;essor, que �dotou o nome de poderia, segundo o seu poder, castigar os maus príncipes e seus
Bonifácio VIII, era jurista e buscou fazer com que todos aéeitas­ conselheiros.
sem a teocracia papal. Transformou o ano do jubileu de 1300 em Felipe não se intimidou e convocou uma reunião, na qual
festival propagandista. Promulgou indulgência plenária a quem foram lidos trechos da bula considerados intromissão do papa
peregrinasse a Roma. Calcula-se que, em consequência disto, cerca na soberania real e o clero francês foi proibido de participar de
de dois milhões de pessoas peregrinaram a Roma para render ho­ um concílio nacional francês, convocado pelo papa.
menagens não só ao sepulcro de São Pedro, mas ao papa também. Na bula Unam Sanctam, de 1302, Bonifácio deu a entender
As receitas financeiras para a Igreja e para os comerciantes que preparava a excomunhão de Felipe. A bula contém uma in­
superaram todas as expectativas. O santo negócio deveria ser terpretação extremada da doutrina das duas espadas, afirmando
repetido a cada cem anos. Em questões políticas, o papa, porém, que ao papa foram concedidas tanto a espada espiritual quanto
não foi tão bem-sucedido. a espada secular. Felipe mandou aprisionar Bonifácio no palácio
O rei francês Felipe IV, cognominado de "o Belo" (1285- de Anagni e levá-lo às barras do tribunal. O papa conseguiu fu­
1324), preparava-se para a guerra contra a Inglaterra. Como lhe gir, vindo a falecer um ano mais tarde. Felipe, porém, não se sa­
faltassem recursos, buscou-os junto ao clero. Seu adversário, tisfez com isso. Quando o gascão Clemente V (1305-1314), bispo
Eduardo I (1272-1307), fez o mesmo. Com isso, feriram-se as imu­ de Bordeaux, foi eleito papa, Felipe ordenou-lhe que não viajas­
nidades do clero. Em 1296, Bonifácio VIII publicou a bula" Clericis se para Roma, mas permanecesse na França, passando a residir
laicos", na qual lembrava que somente o Papa podia exigir ou em Avignon. Desde então, o papado esteve sob o domínio e o
conceder taxas do e ao clero. Clérigos que entregassem dinheiro controle dos reis franceses até o ano de 1377. Esse período é de­
sem a autorização papal ou instituições civis que os exigissem nominado de cativeiro babilônico".
II

seriam castigados com excomungação e interdito. Residindo em Avignon, os papas não renunciaram à pre­
Embora se encontrasse em uma tradição que vinha desde tensão de dirigir toda a cristandade, mesmo que houvesse mui­
os tempos de Gregório VII, Bonifácio esquecera-se de que os tem­ tas dificuldades para concretizá-la, especialmente de ordem fi­
pos eram outros: as nações haviam adquirido consciência pró­ nanceira. Até então os recursos papais vinham de impostos dos
pria. Eduardo I ignorou a bula, suspendeu o arcebispo de Estados Pontifícios, de impostos de cruzadas, de feudos e da
Cantuária e ameaçou o clero de tirar-lhe os feudos. Bonifácio VIII concessão de prebendas.
nada fez em relação a Eduardo I, que vencera os franceses e proi­ Com a instalação da administração em Avignon, surgiram
bia a saída de divisas do território francês para os estados novos encargos financeiros, para os quais, no entanto, não existi­
Pontifícios. Sem dinheiro, Bonifácio teve de ceder. A bula foi decla­ am recursos. Partindo do pressuposto de que o papa tem poder
rada sem efeito sob a alegação de que havia sido mal-entendida. No sobre todos os benefícios, passou-se a criar, desde o pontificado
entanto, não chegou a haver reconciliação entre as partes. de João XXII (1316-1334), todo um conjunto de taxas, que buscou
Pouco depois, Felipe mandou prender o bispo de Parnier, recursos junto ao clero. Assim, exigiram-se comissões quando
�ernardo Saisset, e confiscar os bens do bispado, acusando o bis-
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da concessão de cargos, taxa sobre a renovação da concessão de
prebendas temporárias, anatas (Suprimir), entrega das rendas do r1.3.·a�ilônico da i?1'eja". Foram, porém, incapazes de alterar a situ::.
primeiro meio ano de prebendas de bispos e abades, taxas quan­ rJçao. o caos remante provocou o clamor da necessidade de uma
do da concessão do pálio a .um bispo. �eforma "na cabeça e nos membros". O centro desse clamor foi a
Essa cobrança de taxas foi alvo de severas críticas, especial­ ;0niversidade de Paris, liderada pelos professores Jean Chartier
mente por causa da negociata q�e se criou em torno dos cargos e .Pierre d' Ailli.
eclesiásticos. Ridicularizava-se o fato de se encontrár, constante­ ,· O colégio de cardeais convocou um concílio para a cidade
mente, no palácio papal de Avignon, sacerdotes ocupados em de Pisa, em 1409. A reforma almejada, no entanto, não foi
contar dinheiro. Certo é que essa política não só possibilitou o alcançada. O papado esteve representando por Bento XIII, eleito
saneamento das finanças pontifícias, mas também levou ·ao enri­ em Avignon, e por Gregório XII, eleito pelo partido romano. O
quecimento da Igreja. As riquezas, no entanto, nem sempre fo­ concílio demitiu ambos e elegeu Alexandre V. Como os dois pri­
ram usadas para fins legítimos, o que provocou o clamor por meiros se negaram a renunciar, houve três papas. Alexandre V
uma reforma eclesiástica. também não se mostrou disposto a realizar reformas, postergan­
A Igreja de Avignon era vulnerável a críticas. Em 1324, foi do-as para um concílio a ser convocado dentro de três anos. O
publicada a obra "Defensor Pacis", de autoria de Marsílio de concílio, reunido em Constança, de 1414-1418, foi convocado de­
Pádua, mestre na Universidade de Paris. Dedicada ao impera­ vido às pressões do imperador Sigismundo (1410-1437), que pre­
dor alemão, Luís, o Bávaro (1314-1347), a obra de Marsílio afirma tendia por fim ao cisma. Alexandre V falecera um ano após sua
que o papa não tem o direito de ser o único dirigente da Igreja. eleição. Baltasar Cossa, um ex-pirata, como diziam as más-lín­
Igreja é, para Marsílio, tão-somente a comunhão dos crentes. Ao guas, veio a ser eleito seu sucessor com o nome de João XXIII
papa, que não foi instalado em sua função por Cristo, cabe ape­ (1410-1415). Figura nada recomendável, João XXIII convocou o
nas função honorífica. Suprema autoridade na Igreja é o concílio. Concílio de Constança, sem saber que este poderia vir a se voltar
Em consequência de suas colocações, Marsílio foi excomunga­ contra ele. O concílio depôs os três papas: Bento XIII, Gregório
do, refugiando-se junto à corte de Luís, o Bávaro. Na corte do XII e João XXIII, elegendo Martim V.
imperador alemão refugiara-se igualmente o franciscano inglês O Concílio de Constança é, ainda, de triste memória por
Guilherme de Ockham, cujo ideal de pobreza havia sido conde­ haver ordenado a execução, em fogueira, de John Huss em 6 de
nado como heresia pelo papa João XXII. julho de 1415. Além disso, não se ocupou com a reforma da Igre­
ja. Também os demais concílios, realizados ao longo do século
8.4.3 O grande cisma XV, não conseguiram introduzir a reforma almejada.
A situação da Igreja provocou reações. Uma delas foi bus­
A concepção conciliarista de Marsílio só veio a prosperar cada na tentativa de retomo à pobreza apostólica. A outra levou
quando um cisma sobreveio à instituição papal. De 1378-1415, a reformas fracassadas.
houve dois e até três papas simultaneamente. De 1415-1417, não
houve papa algum. Nessa situação é que se teve que discutir a 9. Origem e Formas de Monacato
questão da autoridade papal. Em Roma imperava o caos. O cla­
mor popular levou os papas Urbano V (1362-1370) e Gregório XI O Monacato desempenhou importante trabalho eclesiásti­
(1370-1378) a retornarem a Roma, marcando o fim do "cativeiro co na Idade Média. Embora as Igrejas protestantes tenham rejei­
tado o ideal monaquista, até hoje os religiosos são instrumentos
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essenciais na Igreja Católica Romana.
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