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Um século de perseguições

Ao falarmos sobre as perseguições sofridas pela Igreja no Império Romano ao longo do século
III, em todos os livros o estudante encontrará um capítulo, no mínimo um trecho substancial,
dedicado exclusivamente às considerações acerca da possibilidade de a Igreja ter “carregado
na tinta” ao registrar a perseguição que sofreu nas mãos dos inimigos da fé cristã. Nada mais
comum na Era Moderna, esse tempo cientificista no qual estamos todos nós inseridos. O ideal
de democracia busca sempre “ouvir todos os lados”, e assim é impossível falar da Igreja
ouvindo apenas a mesma, que nesse caso é “vítima de perseguição”, apesar de sabermos que
a história da escravidão do negro africano está sendo recontada justamente por autores
negros, pois assim os dados seriam mais “fidedignos”. Nessa luta para saber a medida exata
do sofrimento pelo qual os cristãos passaram – veja como até a construção soa estranha a
nossos ouvidos modernos, imaginar que “cristãos sofreram” já é um contrassenso, pois tudo o
que se fala sobre a Igreja hoje é que ela é a materialização da opressão social –, esquecem os
historiadores que, quando falamos dos registros acerca dos martírios e avanços contra a
propagação da fé cristã, não remetemos apenas a Eusébio de Cesareia e Irineu de Lyon, que
por terem sido membros do Corpo de Cristo poderiam ter olhos de historiador apaixonado, mas
falamos de autores como Plínio, o Jovem, que foi advogado e magistrado em Roma, e Tácito,
senador e historiador romano. Tanto Plínio, em suas Epistulae, como Tácito, em Anais,
registraram os horrores das perseguições ainda no primeiro século, sob Nero e Caio Calígula.

Estudar os primeiro séculos da Era Cristã é tarefa recompensadora, tanto pela quantidade de
escritos a que se tem acesso como também pela grandeza dos autores. De Plínio (sec. I) a
Heródoto (séc. V), encontramos registros políticos e históricos de grandeza não partidária, mas
humana. Não há ali, nos registros de quem estava de alguma forma próximo à corte, um texto
que atenue a humanidade dos governantes e a crueza do ato humano, antes encontra-se o
belo e o terrível, pegadas inquestionáveis do homem na História. Ler Josefo e Eusébio é ler o
desenvolver do homem sobre a Terra; suas lutas contra Deus e contra o homem; com ajuda de
Deus e de seus compatriotas. O leitor encontra na viagem de volta ao Império Romano um
resgate inevitável do quão audacioso já foi o homem sobre a Terra, seja em luta pela expansão
de seu estado, cultura ou de sua fé.

A perseguição em Décio

A estabilidade e a prosperidade que caracterizaram o mundo romano nos últimos


anos do século II foram seguidas por um período de relativo declínio. Houve sérios
problemas militares nas fronteiras, especialmente ao norte e leste, com incursões
bárbaras no Reno e no Danúbio e o início de problemas com um Império Persa
revivido. Havia também dificuldades econômicas e sociais crescentes, com
desvalorização monetária, agitação agrária e declínio urbano; pragas e fomes
também eram abundantes.1

Começa o terceiro século com um cenário terrível para o mundo romano, pois a instabilidade
econômica e política espalhava-se por todos os cantos do império. Na Itália, uma série de

1
DAVIDSON. I. J. The birth of the church. From Jesus to Constantine. Baker Books. USA, 2004. (tradução nossa).

1
golpes militares entre césares em busca do trono imperial; no norte da África, o cristianismo
dominando o cenário intelectual com homens como Amônio, Orígenes e Ambrósio; em
Cesareia, grandes crises econômicas e fomes; enquanto do oriente vinha a força de um
império em formação, o Império Persa. Todos os conflitos levavam para Roma a necessidade
de um governo reformista para conter a crise econômica e promover uma nova união popular,
pois apenas assim o reino poderia subsistir e o exército poderia voltar a crescer para lutar as
guerras que se mostravam inevitáveis. Assim, em 235 sobe ao trono Maximino I, cognominado
Trácio, com uma política de reversão a tudo que havia sido realizado por seu antecessor,
Alexandre Severo. Maximino colocou fim à pacificação de Alexandre para com os cristãos,
vendo na esfera social-religiosa o centro de luta pela reunificação do império. Combater a
disseminação do cristianismo era benéfico à sua política em dois campos: social – o
cristianismo dividia a sociedade ao retirar o convertido da vida em comunidade e inseri-lo em
uma sociedade paralela à secular, o que diminua o envolvimento de cada cristão para com os
assuntos romanos; religioso – a ligação entre os membros do império se dava por meio da
cultura, ou seja, tanto de seus aspectos artísticos quanto espirituais, e no mundo greco-romano
a arte era pagã, e a religião era panteística, com toda a ordem de identidades que davam
coesão ao cotidiano dos habitantes dos diferentes reinos componentes do todo. Assim,
combater a propagação do Evangelho de Cristo era ganhar tanto em unidade populacional
como cultural.

Maximino iniciou de cima para baixo sua limpeza, começando por retirar da corte todos os
cristãos – estima-se que a corte de Alexandre era composta por muitos convertidos, incluindo
membros da família do imperador2. Em seguida, exilou diversos líderes da Igreja, como
Ponciano, bispo de Roma (175 – 235) e o mais importante teólogo romano da época, Hipólito.
Ao mesmo tempo, na Capadócia, o governador Licínio Sereniano perseguiu a Igreja da Ásia
Menor, queimando e demolindo locais de adoração – como eram chamados os primeiros
prédios construídos para a realização do culto cristão – o que levou os cristãos da região a
fugirem para outras províncias.

Não obstante a reorganização iniciada por Maximino, três anos após sua subida ao trono foi
logo removido do poder. Já se fazia presente o tempo de maior crise do Império em que
diversos imperadores se revezariam no poder, alguns reinando apenas por meses, como foi o
caso dos Gordianos (I e II) e Pupieno. Enquanto isso, em Alexandria, o doutor da Igreja
alexandrina, Orígenes, escrevia sua Exortação ao Martírio, encorajando seus leitores a
enfrentar bravamente a ofensiva romana que buscava a apostasia da fé e adesão ao
paganismo por parte dos cristãos.

Já em Cesareia3, Orígenes previu a perseguição generalizada contra os cristãos, o que não


tardou a acontecer pois Décio, então prefeito de Roma, conquistou a lealdade das tropas da
capital do império e saiu em batalha contra Filipe4, vencendo-o sem dificuldades, ao que foi
proclamado imperador pelo Senado. Décio declarou então ser um reformador em busca das

2
Sexto Júlio Africano (160 – 240), historiador famoso por viajar pelo mundo registrando a história dos povos, disse a
respeito da corte de Alexandre Severo que a mãe do imperador, Júlia Ávita Mameia, convidou Orígenes para expor a fé
cristã à família real, o que não teria sido a primeira vez, pois no próprio livro de Atos encontramos registros de
pregação à realeza (At 26). Fragmentos dos escritos de Júlio Africano foram encontrados com registros do próprio
autor, em que afirma ser a fé encontrada nas Escrituras Judaicas, a mais antiga tradição religiosa de toda a
humanidade.
3
Conforme visto anteriormente, o santo deixou Alexandria como consequência da perseguição sofrida dentro da Igreja
local, e abrigou-se na Cesareia Palestina.
4
O Árabe.

2
excelsas tradições do império, sendo rapidamente reconhecido como “o melhor dos
imperadores”.

Em 3 de janeiro de 250, Décio realizou a solenidade de sacrifício anual a Júpiter e


aos deuses romanos no templo capitolino em Roma, e na ocasião, publicou um
decreto ordenando que sacrifícios semelhantes deveriam ser oferecidos em todo o
império.5

Foi o suficiente para iniciar uma das maiores


perseguições contra os cristãos em todo o
Império, uma vez que em cada grande cidade
como Alexandria, Éfeso, Cesareia, Atenas,
Cirene... havia um projeto urbanístico baseado na
capital, Roma, e assim o Templo era reconhecido
como lugar de reunião da comunidade local,
sendo obrigatória a passagem de cada habitante
por lá ao menos uma vez por ano, o que era
facilmente verificável por meio do clima de
policiamento civil instalado em todo o mundo
romano, em que cada cidadão vigiava seu vizinho
e delatava-o se fosse necessário.

Após a publicação do edito imperial, o Papa


Fabiano6 foi o primeiro a ser martirizado,
deixando o bispado de Roma vacante até março
de 251. Em seguida foi a vez do bispo de
Antioquia, Bábilas. Foi nesse tempo que
espalhou-se por toda a Igreja Católica um grande
Figura 1 – O Martírio de São Lourenço, obra do pintor
problema de ordem interna: como tratar os que mexicano Hipólito de Rioja (séc. XVII), retratando o martírio
negavam a fé. do santo espanhol sob o império de Valeriano (258 d.C).

Confessores e apóstatas
Os cristãos sobreviventes dos suplícios passaram a ser conhecidos como “confessores”, título
que veio a se tornar de tão grande respeito dentro da Igreja que, ao longo das perseguições,
enquanto algumas sés ficavam vacantes (por martírio do bispo ou fuga do mesmo), grupos de
confessores se tornaram a autoridade daquela Igreja local, alcançando poder para aprovar ou
recusar a nomeação de novos bispos e até mesmo autoridade para definir penitências; em
Roma passou-se a aceitar que confessores respeitados pela comunidade fossem ordenados
diáconos e presbíteros sem ordenação formal7.

5
DAVIDSON., Ibid, p. 322.
6
A respeito de Fabiano, Eusébio de Cesareia relata em sua História Eclesiástica o episódio milagroso da manifestação
da vontade de Deus para que este fosse o sucessor de Antero. Diz o historiador da Igreja que “estando todos os irmãos
reunidos para eleger o que haveria de receber em sucessão o episcopado e sendo numerosíssimos os varões ilustres
e célebres que estavam na mente de muitos, a ninguém ocorreu pensar em Fabiano, ali presente; ainda assim,
prontamente, segundo contam, uma pomba vinda do alto pousou sobre sua cabeça, imitando manifestamente a
descida do Espírito Santo em forma de pomba sobre o Salvador” (Livro VI, XXIX).
7
Caso curioso foi o de Cipriano, que na perseguição de Décio ausentou-se de sua cidade, Cartago, para fugir da
execução certa – o que acabou se tornando necessário dada a tragédia de um grande número de paróquias sem bispo

3
Mas nem todos os cristãos eram levados à tortura, muitos fugiam dos suplícios por meio de
estratégias que de tão comuns passaram a receber termos próprios dentro da Igreja:

Sacrificati: cristãos que cederam ao Estado e realizaram sacrifício no templo;

Thurificati: aqueles que haviam queimado incenso ao imperador;

Libellatici: cristãos que compravam certificados falsos atestando terem


obedecido ao edito.

No ano 251, Décio morreu em batalha contra os bárbaros, chegando ao fim a perseguição que
se iniciara em seu governo – uma vez que seu sucessor, Treboniano Galo, não deu
prosseguimento à caçada. A Igreja havia sofrido perdas terríveis, não apenas com a morte dos
líderes, mas com o esvaziamento do culto cristão dado o horror das torturas e, ainda pior, o
clima de guerra civil que fez com que a própria população se tornasse a mais atroz polícia
contra os crentes8. Confessar Cristo como Senhor era ostentar um alvo não apenas diante das
autoridades romanas, mas diante de toda a população pagã. Assim, a Igreja chegou ao fim de
sua primeira perseguição generalizada com problemas não apenas de ordem social, mas
doutrinárias. Como lidar com os sacrificati, os thurificato e libellatici? Havia perdão para os que
haviam sacrificado para fugir da perseguição? Por outro lado, era justo considerar apóstata
quem não sacrificou, mas apenas se utilizou da artimanha de comprar o libelo9?

Cipriano de Cartago
Ao voltar para Cartago após a fuga empreendida durante a perseguição deciana, Cipriano
encontrou a Igreja dominada por um grupo de confessores, problema que se tornou grave uma
vez que tal grupo era adepto da posição leniente, qual seja, a de conceder o perdão a todos os
que haviam apostatado da fé, ainda que sacrificati.

Cipriano cresceu em um lar pagão muito rico, e após dedicar-se ao estudo de diversas
correntes filosóficas encontrou no cristianismo o sentido para sua vida. Em pouco tempo se
tornou conhecido como grande doutor das Escrituras e, apenas dois anos depois de sua
conversão, já era candidato ao bispado da grande cidade do norte da África10. Batizado em
246, cinco anos antes da perseguição em que se viu forçado a fugir da cidade para não piorar
ainda mais a situação da Igreja, que ao longo de todo o mundo sofria de uma epidemia de
vacância nas sés.

Admirador confesso de Tertuliano, para Cipriano não era fácil aderir à postura leniente de
considerar os apóstatas como tendo sido vítimas de um pequeno deslize, e ainda quando

–, e ao retornar no ano seguinte encontrou a Igreja dominada por um grupo de confessores. Os novos líderes da Igreja
proclamaram-se autorizados a conceder o perdão aos apóstatas que haviam sido levados à tortura e, para não
morrerem, negaram a fé.
8
Em todo o território do império os habitantes eram estimulados a perseguir os cristãos, e em nenhum lugar essa
perseguição foi mais acintosa que no norte da África. O clima de barbárie que tomou Cartago, Cirene e Alexandria é
descrito por Eusébio em sua História Eclesiástica: “começaram a pensar que somente era religião este ato de culto
demoníaco: assassinar-nos”, e ainda “Nem por caminhos, nem por trilhas, nem pelas ruas podíamos transitar, nem de
noite nem de dia, sem que a toda hora e em toda parte gritassem que quem não cantasse as palavras blasfemas devia
ser arrastado e queimado.” (Livro VI, XLI).
9
Do latim libellum, o termo acabou sendo absorvido pela linguagem jurídica para se referir à exposição inicial que, ao
início do processo, apresenta os pontos essenciais de acusação e defesa.
10
Diz-se ainda que São Cipriano vendeu todas as suas posses quando de sua conversão, e doou o valor aos pobres
como esmola, sendo necessário que alguns amigos recuperassem parte do dinheiro e devolvessem a Cipriano, para
que pudesse se sustentar nos anos seguintes.

4
estava afastado de sua Igreja escreveu à congregação conclamando o rebanho a permanecer
unido e resistir à apostasia. Ao retornar e ter de lidar com os confessores, o líder da Igreja em
Cartago convenceu a comunidade cristã a esperar o pleno retorno da paz para a Igreja,
momento em que os bispos se reuniriam e buscariam uma decisão em concílio com respeito ao
problema dos que buscavam o retorno à comunhão com os santos. Ainda no ano de 251 foi
realizado então um concílio em Cartago, onde os bispos da Igreja da África validaram a política
de que a comunhão poderia ser restaurada apenas por ordenamento dos bispos, sendo aos
confessantes dada autoridade para instruir seus irmãos na fé, mas jamais restaurar a
comunhão em oposição ao bispado.

Aqueles que obtiveram certificados (libellatici) sem sacrificar deveriam ser


restaurados à igreja após vários períodos de disciplina; aqueles que haviam
sacrificado (sacrificati) só podiam ser readmitidos em seus leitos de morte; e os
clérigos que haviam negado a fé não deveriam ser readmitidos em suas ordens11.

Aos olhos de parte da congregação de Cartago, essa decisão do Concílio foi branda demais e
significava o esfriamento da fé da outrora vigorosa comunidade dos santos. Como
consequência, um grupo representativo de fiéis se afastou da comunhão na Igreja comum e, de
própria iniciativa, formou uma nova congregação, elegendo dentre o grupo seu próprio bispo,
Fortunato. Foi então que Cipriano, indignado com o cisma, decidiu escrever sua obra A
unidade da igreja (The Unity of the Church).

“Devemos, pois, guardar-nos, irmãos caríssimos, não só dos males que aparecem
claramente como tais, mas também, como já disse, daqueles que nos enganam pela
sutileza da astúcia e da fraude. Pois bem, vede agora a que ponto chega a astúcia e a
sutileza do inimigo. Veio Cristo ao mundo. Veio a luz para os povos e resplandeceu
para a salvação dos homens [Lc 2,32]. Com isto ficou descoberto e derrotado o
antigo adversário. Então, o que faz o malvado? Inventa nova fraude para enganar os
incautos com o próprio título do nome cristão. Introduz as heresias e os cismas para
derrubar a fé, para contaminar a verdade e dilacerar a unidade.”12

Figura 2 – Ilustração da cidade de Cartago em seu tempo de maior pujança no Império Romano.

11
DAVIDSON. Ibid., p. 326.
12
CIPRIANO. A unidade da Igreja, Parte I, III.

5
Toda a obra de São Cipriano é dedicada a demonstrar ao rebanho de Cristo a necessidade de
estar ligado ao Corpo do Senhor, que é sua Igreja.

O problema pelo qual passava a Igreja no norte da África não era exclusivo daquela região,
também em Roma a discussão a respeito do perdão aos que haviam negado a fé era o tema
do momento. A questão era a mesma que já havia sido abordada por Calisto e Hipólito – e que
havia terminado com Hipólito declarando-se antipapa. Tendo grande parte dos membros da
Igreja de Roma se tornado apóstatas ao verem o Papa Fabiano ser martirizado, não havia
sequer um cenário favorável para a eleição de um novo bispado, sendo o presbítero
Novaciano13 um dos membros mais respeitados da comunidade, dada sua instrução e grande
capacidade intelectual. Autor do tratado A Trindade, Novaciano foi um teólogo de espírito
acurado e fino estilo literário, em contraposição à sua postura dura e implacável para com a
necessidade de rigor da fé. Para o presbítero romano, crentes que cometessem pecados
graves como adultério, assassinato e apostasia não deveriam receber remissão por parte da
Igreja, sendo-lhes possível unicamente receber da Igreja a graça de que esta clamasse a Deus
por seu perdão no Dia do Juízo Final. Sua postura era tão rigorosa que foi-lhe negada a
candidatura para o bispado em Roma, sendo eleito na ocasião, Cornélio, um cristão de postura
bem mais liberal quanto ao problema da readmissão de apóstatas. O partido de Novaciano era
grande em Roma, e indignados com a eleição de Cornélio, seus partidários decidem se separar
da Igreja de Roma e fundar a própria congregação, elegendo Novaciano como seu bispo oficial
– mais um antipapa surgia na capital do império, ainda no terceiro século.

A grande perseguição
Com a chegada de Diocleciano ao trono (284), o império reviveu o espírito reformista de Décio
com ainda mais força, uma vez que a crise instalada no fim do século configurava problemas
ainda maiores que os anteriores. Para lidar com os constantes golpes militares que
derrubavam governantes, Diocleciano decide dividir o Império em duas partes, a parte do
Leste, governada por ele, e o Oeste, governado por seu amigo, Maximiano. Com a medida,
cada governante deveria escolher um deputado para servir como “César”, enquanto o
governante seria o “Augusto”. No Leste, Diocleciano escolheu Galério, e no Oeste, Maximiano
escolheu seu genro, Constâncio.

A princípio, Diocleciano não instaurou uma perseguição à semelhança de Décio, porém


manteve forte atuação na propagação do culto pagão como elemento unificador do Império.
Assim, com o passar do tempo a postura intransigente dos cristãos para com o culto pagão foi
o suficiente para reacender o debate em meio à sociedade, culminando com o episódio fatal de
298, onde o imperador assistia a realização do sacrifício anual, e os profetas responsáveis
pelos augúrios não conseguiram ler os sinais de adivinhação no momento do sacrifício, o que
deixou a todos intrigados. Quatro anos depois, o oráculo de Apolo informou o imperador de que
os cristãos haviam sido os responsáveis pelo fracasso daquele ano, e sua presença no império
enfraquecia a fé dos romanos. Diocleciano, convencido dos malefícios do cristianismo para
com o império, edita no ano 303 uma série de editos condenando os cristãos, dando início ao
período de maior perseguição generalizada da História da Igreja.

Fernando Melo
Brasília, 25 de maio de 2022

13
Em Eusébio traduzido como Novato (do latim Noouatus).

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