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– O autor começa dizendo que Jesus, Filho de Deus, é um grande sumo sacerdote, que
penetrou nos céus e que isto é motivo para que retenhamos firmemente a nossa
confissão (Hb.4:14).
OBS: “…Ao nome do Filho de Deus, já mencionado pelo autor, pertence essa
majestade que nos impele ao temor e à obediência. No entanto, se não divisássemos
nada mais em Cristo, nossas consciências não ficariam pacificadas.
Quem dentre nós não se espantaria à vista do Filho de Deus, especialmente quando
lembramos de nossa própria condição e nossos pecados vêm à nossa mente?
Além disso, poderia haver outro obstáculo para os judeus, visto que estavam habituados
ao sacerdócio levítico. Nele vimos um singular mortal escolhido dentre todos os demais,
que entrava no santo dos santos, para reconciliar seus irmãos com Deus, através de suas
orações.
É algo incomensurável que o media- dor, que pode desviar a ira divina contra nós, seja
ele mesmo um de nós.
Essa atração poderia ter enganado os judeus, perpetuando seu apego ao sacerdócio
levítico, se o apóstolo não o antecipasse e não tivesse mostrado que o Filho de Deus não
só excedeu em glória, mas que também estava investido de semelhante benevolência e
compaixão para conosco.…” (CALVINO, João. Hebreus. Trad. de Válter Graciano
Martins, p.111).
– Somente somos salvos porque cremos no coração de que Deus ressuscitou a Jesus
Cristo dos mortos e confessarmos nossos pecados a Jesus com a nossa boca.
Ao crermos que Deus ressuscitou Jesus dos mortos, cremos que Jesus morreu e que Sua
morte foi aceita como preço pelo resgate da humanidade e que, portanto, o sangue de
Cristo tem poder para perdoar os pecados.
– O escritor aos hebreus faz questão de chamar Jesus de “grande sumo sacerdote”, para
mostrar que Ele é superior a Arão, que apenas é chamado nas Escrituras de “sumo
sacerdote”.
Como se isto fosse pouco, faz-se questão de dizer que Jesus é o Filho de Deus, a fim de
que se tenha a precisa noção de que estamos a tratar de um sumo sacerdote que é divino
e, portanto, que não tem as fraquezas próprias do sacerdócio levítico, cujo primeiro
sumo sacerdote, conforme já tivemos ocasião de verificar, era um pecador, ainda que
tenha se arrependido de seu pecado antes de ter sido guindado ao sacerdócio.
OBS: “…O termo “sacerdote” ou “sumo sacerdote” tinha se tornado genérico e comum,
tanto em seu aspecto religioso como cultural. Porém, o título aplicado a Cristo sugere
uma forma nova e sem igual.
Ele era perfeito e santificado tanto em seu caráter como em seu ser (Lc 1.35). Ele é um
grande sumo sacerdote porque substituiu qualquer ordem ou casta sacerdotal da terra,
não havendo mais necessidade de sumos sacerdotes.
Nele, o conceito sumo sacerdotal acha plena concretização, pois Ele não é apenas um
entre muitos, como foram os sacerdotes levíticos, ou um dentre uma longa sucessão de
sumos sacerdotes. Ele é o fim e o cumprimento dessa sucessão.…” (SILVA, Severino
Pedro da. Hebreus: as coisas grandes e novas que Deus preparou para você, Pp.77-8).
– Reside aqui, aliás, uma grande distinção entre Jesus e Arão. Assim como Arão, Jesus
é um sumo sacerdote compassivo.
Embora seja Deus, conquanto esteja numa posição infinitamente superior à nossa, Ele
não deixa de entender as nossas fraquezas, tendo-as, inclusive, vivenciado cada uma
delas, de forma visível aos homens para que eles não tenham qualquer dúvida de que
podem ser socorridos por Ele, já que em tudo foi tentado, sem jamais ter pecado
(Hb.4:15).
Enquanto Arão foi vencido pelo pecado, Jesus sobre o pecado foi vencedor,
demonstrando que Seu socorro é mais do que eficiente.
OBS: “…Apesar de Ele ser tão grande, e estar tão acima de nós, mesmo assim Ele é
muito bondoso, e está ternamente preocupado conosco.
Ele se sente tocado pela aflição das nossas enfermidades de tal maneira como nenhum
outro consegue; pois Ele mesmo foi provado com todas as aflições e problemas que são
circunstanciais à nossa natureza no seu estado caído; e isso não somente para que Ele
fosse capaz de reparar completamente as nossas falhas, mas para se condoer por nós.…(
HENRY, Matthew. Comentário completo: Novo Testamento – Atos a Apocalipse. Trad.
de Degmar Ribas Júnior, p.773).
– “…Todo o teor do argumento do apóstolo consiste em que o mesmo deve ser
considerado à luz do contexto do significado da fé, porque ele não discute a natureza de
Cristo em si mesma, mas de Sua natureza como Ele Se nos revela.
Ele toma semelhança no sentido daquela parte de nossa natureza pela qual significa que
Cristo Se vestiu de nossos sentimentos mais do que de nossa carne, não só para revelar-
nos ser Ele genuinamente homem, mas para aprender,
Sempre que labutarmos sob as fragilidades de nossa carne, tenhamos em mente que o
Filho de Deus as vivenciou também, para que nos encorajemos por Seu poder, no caso
de nos sentirmos esmagados por elas.…” (CALVINO, João.op.cit., p.112).
– “…todos os sumos sacerdotes estiveram sob a lei. Eles tiveram que confessar sua
própria ignorância, eles tinham que admitir seus próprios erros e andanças, e, portanto,
poderiam ter mais paciência com os outros.
Nosso Senhor Jesus Cristo não teve ignorância nem pecado, mas Ele Se tornou tão
completamente um com o Seu povo, osso dos nossos ossos e carne da nossa carne, para
que pudesse ter compaixão sobre nós, ignorantes e fora do caminho, como somos.
Vocês estão angustiados, meus irmãos e irmãs, porque sentem sua própria ignorância?
Vocês choram porque se desviaram?
Você não precisam ir com raiva até Cristo; vocês devem se aproximar de um que será
muito gentil em sua direção.
Venham com ousadia até Ele, confessem, então, sua loucura, e esperem o perdão que
Ele está esperando para conceder.…” (SPURGEON, Charles Haddon. Exposição de
Hb.5. Disponível em: https://www.spurgeongems.org/vols46-48/chs2689.pdf , p.7)
(tradução Google adaptada por nós de texto em inglês).
– Eis o motivo pelo qual o escritor aos hebreus conclama seus leitores a que chegassem
com confiança diante do trono da graça, pois, diante do sumo sacerdote que temos,
Cristo Jesus, não temos que ter receio algum de não alcançarmos a misericórdia e a
graça divinas, pois Jesus já venceu o pecado e nos deu acesso ao Senhor, de modo que
sempre seremos ajudados em tempo oportuno (Hb.4:16).
– Neste passo, ademais, vemos mais uma distinção importante entre Jesus e Arão.
Arão não tinha como dar acesso ao “lugar da misericórdia”, que era o “santo dos
santos”, o local mais sagrado do tabernáculo, ao qual, inclusive, o próprio sumo
sacerdote só podia entrar uma vez ao ano, no dia da expiação, não sem antes oferecer
sacrifício por si próprio e pelo povo. Havia um véu que separava o lugar santo, que
sempre era frequentado pelos sacerdotes, e o lugar santíssimo. Todavia, Jesus, ao
morrer, fez com que se rasgasse este véu (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45) e, assim,
pudéssemos ter agora acesso à presença de Deus.
OBS: “…”Vamos chegar com confiança”, diz ele, “para receber essa misericórdia
que pedimos”.
Essa misericórdia é a munificência; é um presente real:
“E, para encontrar a ajuda de sua graça, quando lhe perguntamos sobre isso”.
“Quando perguntamos sobre isso”. Aborda-O agora; Ele lhe dará graça e piedade,
porque você chegará a tempo.
Mas se você vier hoje, é inútil; sua chegada é inconveniente; você não pode mais
percorrer o trono da graça. Você pode aparecer diante deste trono, que é ocupado pelo
dispensador soberano das graças, mas uma vez que os tempos são realizados, este é o
seu juiz, que está diante de você! “Levante-se, meu Deus”, diz o salmista, “e venha e
julgue a terra” (Salmo 82:8)
“Ouvi sua oração feita oportunamente, e eu ajudei você no dia da salvação”. (Is.
49:8) Pois, se aqueles que pecam, depois de receber o batismo, têm o recurso da
penitência, este é um dom de graça: não acreditem, porque você ouviu que Jesus é um
sumo sacerdote, que Ele permanece de pé;
São Paulo diz que Ele Se senta, embora o sacerdote normalmente não Se sente, mas
fique de pé. Você vê que, se Ele foi feito sumo sacerdote, não é um dom da natureza,
mas um dom de graça, um efeito de Seu abatimento voluntário e Sua humildade.
Digamos, ainda há tempo: vamos abordá-l’O com confiança e perguntar. Temos apenas
para Lhe oferecer nossa fé; Ele nos concederá tudo.
Aqui está o momento de generosidade; não nos desesperamos de nós mesmos. Será hora
de desesperar, quando o corredor será fechado, quando o rei entrará para ver aqueles
que estão sentados no banquete, quando os patriarcas receberem em seu seio aqueles
que são dignos.
Mas hoje não é a hora do desespero. O teatro ainda está lá; ainda é o momento da luta, a
palma ainda é incerta.…” (CRISÓSTOMO, João. Sobre Hebreus. Homilia 7 –
Apressemo-nos, então, a entrar no repouso, do temor de que algum de nós caia numa
desobediência similar. Cit. Hb.4:14-5:10. n.702. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 16 nov. 2017)
(tradução Google adaptada por nós de texto em francês).
– “…Este é o lugar onde todo aquele que ali chega arrependido, encontra o favor de
Deus. Por esta razão somos exortados a nos aproximar deste trono com inteira
confiança.
O trono que está aqui em foco é o trono de Deus, o centro de Sua glória, poder,
majestade e julgamento.
Mas agora, especialmente aqui, é mencionando como fonte de graça e de misericórdia,
por intermédio da obra de seu Filho bendito, que está agora assentado ao lado do Pai
(Ap 3.21) assegurando-nos estas bênçãos.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.79).
– Jesus “penetrou nos céus” e, portanto, pode nos angariar acesso direito ao trono
divino. Não há mais qualquer divisão entre nós e Deus, temos “livre acesso ao santo dos
santos” (Hb.10:19-22).
1. Pelo fato de Ele ter passado para os céus. O sumo sacerdote sob a lei, uma vez por
ano, desaparecia da vista do povo pelo véu, para dentro do Santo dos Santos, onde
estavam os símbolos sagrados da presença de Deus; mas Cristo passou de uma vez por
todas para os céus, para assumir o governo de tudo sobre si, para enviar o Espírito a
preparar um lugar para o seu povo e a fazer intercessão por eles.
Cristo executou uma parte do seu sacerdócio na terra, ao morrer por nós; a outra, Ele
executa no céu, ao defender a causa e apresentar as ofertas do seu povo…” (HENRY,
Matthew. op.cit., p.773).
Se Deus nos fala hoje, e prorrogamos nosso ouvir para amanhã, a morte nos visitará à
noite, quando o que nos é possível agora não nos será mais possível, e inutilmente
bateremos em uma porta fechada.…” (CALVINO, João. op.cit., p.116).
– O escritor aos hebreus, então, passa a explicar o papel do sumo sacerdote, que,
tomado entre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a
Deus, para que oferecesse dons e sacrifícios pelos pecados, podendo, assim,
compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados, ate porque ele estava rodeado de
fraqueza.
Era, por isso, que tinha o dever de fazer, tanto por si mesmo, quanto que pelo povo,
oferta pelos pecados (Hb.5:1-3).
– Por isso mesmo, como já vimos, o Senhor havia escolhido Arão e seus descendentes
para o sacerdócio, pois ele revelou esta capacidade de se colocar a favor do povo
quando do episódio do bezerro de ouro, compreendendo a sua “inclinação para o mal”,
da qual, inclusive, era participante, já que fora ele o construtor do ídolo, tendo levado,
então, o povo a se arrepender e a se humilhar do mal cometido, buscando, assim,
impedir a destruição da nação diante de tão grande pecado.
OBS: “…Como esse sumo sacerdote precisa estar qualificado (v. 2). 1. Precisa ser
alguém que possa se compadecer de dois tipos de pessoas:
(1) Dos ignorantes, ou daqueles que são culpados de pecados de ignorância.
Ele precisa ser alguém que no seu coração consiga ter compaixão deles, e que interceda
diante de Deus por eles, alguém que esteja disposto a instruir os que estão embotados no
seu entendimento.
(2) Dos errados, ou dos que estão fora do caminho da verdade, da responsabilidade e
da felicidade; precisa ser alguém que tenha ternura suficiente para conduzi-los de volta
dos atalhos do erro, do pecado e da miséria para o caminho certo; isso vai exigir grande
paciência e a compaixão de Deus.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.775).
– O autor faz questão de lembrar que, embora seja inferior a Cristo, Arão ocupava uma
posição de honra e, mais do que isto, uma posição que somente um chamado por Deus
poderia ocupar (Sl.105:26; Hb.5:4).
Isto nos mostra a importância que devemos dar ao chamado divino para o exercício de
qualquer função na Igreja do Senhor.
OBS: “…Flávio Josefo nos informa que a honra sacerdotal era tão elevada, que até
mesmo Moisés a desejou para si, dizendo:
‘…eu confesso que, se essa escolha tivesse dependido de mim, eu teria podido desejar
essa honra, que porque todos os homens são naturalmente levados a desejar
incumbência tão honrosa, quer porque vós não ignorais quantas dificuldades e trabalhos
sofri por vosso bem e da república;
mas Deus mesmo, que destinava Arão, há muito tempo, para esse sagrado ministério,
conhecendo-o como o mais justo dentre vós, o mais digno de ser honrado, deu-lhe seu
voto e julgou em seu favor…’ (Antiguidades Judaicas III,9,120. In: História dos
hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.75).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit.,
pp.83-4).
– Israel fora um povo escolhido por Deus e somente o Senhor poderia chamar as
pessoas para as funções específicas naquele povo. Somente Arão e seus filhos poderiam
exercer o sacerdócio.
OBS: “…Ainda que isso fosse expresso à luz do presente caso, todavia é legítimo
extrair daqui um princípio geral, a saber:
que não se deve estabelecer na Igreja nenhuma forma de governo segundo o critério
humano, senão que os homens devem atentar bem para a ordenação divina; e, ainda
mais, devemos seguir um procedimento de eleição preestabelecido, para que ninguém
procure satisfazer seus próprios desejos.
Ambos esses pontos têm de ser cuidadosamente observados. O apóstolo está falando
aqui não só de pessoas, mas também de ofício.
Ele nega, repito, que seja legítimo e santo qualquer ofício inventado pela vontade
humana, sem o respaldo da autoridade divina. De acordo com a promessa de Deus de
governar sua Igreja, assim ele reserva para si o direito exclusivo de prescrever a ordem e
forma de sua ad- ministração.…” (CALVINO, João. op.cit., p.122) (destaques
originais).
– Jesus também foi escolhido para exercer este sumo sacerdócio, escolha esta que se
deu antes mesmo da fundação do mundo.
Ele foi escolhido para ser tanto o sacerdote quanto a vítima do sacrifício (Ef.1:4; I
Pe.1:19,20; Ap.13:8). Jesus não Se arrogou o sumo sacerdócio, mas foi a isto
comissionado pelo Pai.
– Neste momento, o autor introduz um argumento que será desenvolvido mais adiante,
qual seja, a de que Jesus é sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque
(Hb.5:6),
uma ordem superior a de Arão que, conforme já vimos, foi instituída depois do fracasso
espiritual de Israel que não pôde ser a “nação sacerdotal” almejada pelo Senhor naquele
instante diante de sua imaturidade espiritual, que a fez, quarenta dias após a entrega da
lei, entrega esta que já era uma demonstração de debilidade do povo israelita, ter
quebrado logo os dois primeiros mandamentos com o episódio do bezerro de ouro.
– “…E para que não se acredite que o sacerdócio de Cristo seja semelhante ao da lei
antiga, distingue-o em duas coisas:
primeiro, em relação à dignidade, porque é um sacerdócio eterno; uma vez que, por
figura, era temporário e, portanto, não é perpétuo, mas transitório, em sobrevindo o
figurado.
Em segundo lugar, distingue-o pelo rito, porque havia animais oferecidos; aqui pão e
vinho; é por isso que diz:
– Jesus foi escolhido diretamente para o sumo sacerdócio, não como um “paliativo”,
uma “solução provisória”, um “remédio”, como fora Arão. Muito pelo contrário, o
próprio Pai o constitui para tal função ainda antes que o mundo existisse.
– E, obedientemente, sem jamais pecar, o Senhor exerceu esta função. Ele orou, diz o
escritor aos hebreus, a demonstrar que sempre intercedeu pelos homens. “…Orar
‘como’ Jesus deve ser o verdadeiro exemplo a ser seguido pelos cristãos em qualquer
tempo e lugar.
Orar é um dever e uma necessidade, sendo Jesus o nosso modelo por excelência!
Ele nasceu orando (Hb 10.5,7),
Ele nos ensinou, dizendo: “Orai…” (Lc 23.40). Muitas destas orações do Senhor eram
acompanhadas de “grande clamor e lágrimas”, o que mostra quebrantamento e uma
intensidade tanto física como espiritual.
Sempre que orava, Jesus sabia que o Pai lhe ouvia, conforme Ele mesmo afirma: ‘Eu
bem sei que sempre me ouves…’ (Jo 11.42).
Aqui Ele também ‘… foi ouvido quanto ao que temia’. Em tudo Cristo nos deu o
exemplo, especialmente na oração. Ele estava sempre orando.
Orou por si mesmo, orou pelos seus discípulos e orou por nós, que ainda nem sequer
existíamos (Jo 17.1,9,20).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.84).
– “…Seu ato era oferecer orações e súplicas, isto é, um sacrifício espiritual, que Cristo
ofereceu.
E as orações são ditas, isto é, petições (Tg.5); súplicas, por outro lado, para o que
considera a humildade daquele que ora, como as genuflexões. “Ele prostrou o Seu rosto
em terra orando” (Mt.26:39).
A quem? “A Ele, isto é, a Deus Pai, que poderia salvá-l’O da morte”. Isso ele poderia
fazer de duas maneiras: uma, então ele não morreria (Mt. 26); de outro, de modo que, já
morto. ressuscitasse (Sl. 16; 41). A este sacrifício espiritual, ordena-se o sacerdócio
de Cristo. Então concorda com o mencionado acima: “oferece dons …” (Sl. 50, Os.14).
A eficácia é mostrada pelo caminho da oração, pois, para aquele que ora, duas coisas
são necessárias: um fervoroso carinho e um gemido doloroso; dois requisitos aludidos
no Salmo 38: “Senhor, diante de mim é todo o meu desejo, e meu gemido não está
escondido de você”.
E também Cristo orou: “com um grande grito”, isto é, com a intenção mais eficaz: “e
entrando em agonia, orou mais por muito tempo” (Lc. 22:43); e clamando ele disse:
“Pai, em Tuas mãos, entrego Meu espírito” (Lc. 23); “e lágrimas”, para as quais o
Apóstolo expressa o grito interno daquele que ora.
Isso não é lido no Evangelho, mas é provável que, assim como Ele derramou lágrimas
na ressurreição de Lázaro, então Ele as derramou em Sua paixão; pois muitas coisas que
Ele fez não foram escritas; mas Ele não chorou por Si mesmo, mas por nós,
para quem foi o benefício de Sua paixão; pois, para Si, Sua paixão fez com que
merecesse a exaltação (Fp.2); pelo que “Ele foi ouvido em vista de Sua reverência”, isto
é, a que para com Deus tinha acima de todos os homens (Is.11).…” (AQUINO , Tomás
de. ibid.).
– Como afirma Tomás de Aquino, o autor aos hebreus faz alusão à oração de Jesus no
Getsêmane, onde Cristo iniciou o Seu sacrifício, pois ali Nosso Senhor sacrificou a Sua
vontade, dando início propriamente à Sua paixão, ao Seu sofrimento por nós.
Isto demonstra a grande intensidade do sacerdócio de Cristo, que Se entregou por nós,
algo que jamais um sacerdote da lei poderia fazer.
OBS: “…Ele orou com lágrimas, dando assim testemunho da suprema angústia de seu
espírito. Por lágrimas e forte clamor, a intenção do apóstolo é expressar a intensidade de
sua tristeza, em consonância com o costume normal de fazer algo mediante sinais.
Não tenho dúvida de que ele está falando da oração contida nos evangelhos: ‘Meu Pai,
se possível, passe de mim este cálice’ [Mt 26.39].
E também daquela outra oração: ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’ [Mt
27.46].
No segundo dos casos mencionados nos Evangelhos, há um forte clamor. Enquanto que
no primeiro não é possível crer que seus olhos hajam secado, já que na imensidão de sua
agonia grossas gotas de sangue emanavam de todo seu corpo.
É verdade que ele se achava reduzido a uma condição extrema. Achando-se oprimido
por dores reais, deveras orava ardentemente ao Pai para que fosse socorrido.…”
(Calvino, João. op.cit., p.127).
– A propósito, quando da morte de Nadabe e Abiú, não foi sequer permitido que Arão
lamentasse pelos filhos mortos ou Itamar e Eleazar pelos seus irmãos falecidos
(Lv.10:6), o que se tornou uma regra para todo sumo sacerdote (Lv.21:10-12), a indicar
um nítido limite que existia na compaixão deste sacerdócio, o que não ocorreu com o
sacerdócio de Jesus.
OBS: “…Se Cristo fosse intocável por qualquer dor, então nenhuma consolação,
provinda de seus sofrimentos, nos atingiria.
Mas quando ouvimos que ele igualmente suportou as mais amargas agonias em seu
espírito, torna-se evidente sua semelhança conosco.…” (CALVINO, João. op.cit.,
p.127).
– Mas, se se faz alusão à oração do Getsêmane, como pode o escritor aos hebreus dizer
que Cristo foi ouvido no que temia, se Seu pedido foi rejeitado pelo Pai e teve o Senhor
de tomar o cálice que Lhe estava preparado? … De que forma foi Cristo ouvido naquilo
que ele temia, quando enfrentamos aquela morte da qual ele tanto se esquivava?
Minha resposta é que devemos atentar para aquilo que constituía Seu temor. Por que Ele
tremia diante da morte, senão porque via nela a maldição divina, e o fato de que Deus
era contra a soma total da culpabilidade humana, e contra os próprios poderes das
trevas?
Daí seu temor e ansiedade, já que o juízo divino é de tudo o que mais terrifica. Então
Ele obteve o que desejava, uma vez que emergiu das dores da morte como Vencedor,
foi sustentado pela mão salvífica do Pai e, após um breve conflito, granjeou gloriosa
vitória sobre Satanás, o pecado e os poderes do inferno…” (CALVINO, João. op.cit.,
p.129).
– “…Cristo “…foi ouvido quanto ao que temia”. Como? Pois Ele foi ouvido por
consolos presentes em Suas agonias, e ao ser levado através da morte, e libertado dela
pela ressurreição gloriosa: Ele foi ouvido quanto ao que temia.
Ele tinha uma percepção tremenda da ira de Deus, do peso do pecado. Sua natureza
humana estava disposta a afundar debaixo dessa pesada carga, e teria afundado, tivesse
Ele sido completamente abandonado nos aspectos da ajuda e do conforto de Deus; mas
Ele foi ouvido nisso, Ele foi apoiado nas agonias da morte.
Ele foi carregado através da morte; e não há real libertação da morte a não ser carregado
através dela.
Podemos ter muitas recuperações de enfermidades, mas nunca estamos a salvo da morte
até que sejamos bem conduzidos através dela.
E os que são assim salvos da morte serão completamente libertados no final por meio de
uma gloriosa ressurreição, da qual a ressurreição de Cristo foi a garantia e os primeiros
frutos.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.776).
– Jesus foi obediente e obediente até a morte (Fp.2:8), ao passo que Arão, tendo sido
guindado ao sumo sacerdócio após ter praticado um ato de desobediência, do qual se
arrependeu e levou as pessoas a se arrepender, tornou a tentar a Deus, no episódio das
águas de Massá e Meribá, juntamente com Moisés e, por isso, foi impedido de ingressar
na Terra Prometida (Nm.20:10-13. 20:22-28).
– Por ter sido obediente até a morte, Jesus ressuscitou e agora vive para todo o sempre
(Ap.1:18), motivo pelo qual Seu sacerdócio é eterno.
Arão, por sua vez, por ter voltado a desobedecer ao Senhor, não só foi impedido de
ingressar na Terra Prometida, como também teve de passar a outro o seu sacerdócio, ao
seu filho Eleazar, demonstrando, assim, que seu sacerdócio era temporário.
– O sacerdócio de Cristo venceu a morte e, por isso mesmo, é Cristo “a causa de eterna
salvação para todos os que Lhe obedecem” (Hb.5:9), enquanto que o sacerdócio de
Arão não teve o condão de trazer salvação aos obedientes, mas tão somente conseguia
adiar a punição dos ignorantes e errados até que viesse um sacrifício que pudesse trazer
a efetiva salvação do pecado.
– “…O autor sagrado apresenta Cristo como sendo a ‘causa’ e o ‘efeito’ da salvação da
pessoa humana.
Isto é, Ele é o motivo e o meio pelo qual o homem pode se chegar a Deus. O leitor deve
observar bem que a ‘causa’ aqui é Cristo. Ele veio a ser a causa de eterna salvação.…”
(SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.87).
– “…Se desejamos que a obediência de Cristo nos seja proveitosa, então devemos imitá-
la. O apóstolo subentende que os frutos dela não vêm a qualquer um, senão somente
àqueles que são obedientes.
Ao dizer isso, ele nos recomenda a fé, pois nem ele nem Seus benefícios se tornam
nossos, a não ser na medida em que os recebemos, a ele e a Seus benefícios, por meio
da fé.…” (CALVINO, João. op.cit., p.132).
– Por isso, o autor aos hebreus mostra que a ordem do sacerdócio de Cristo era superior
ao sacerdócio levítico, chamando tal ordem de “ordem de Melquisedeque”, o que se
dispõe a explicar posteriormente.
Exemplos de semelhanças:
• Cristo estabeleceu a “casa” da qual Moisés era apenas uma parte (3.3).
COMENTÁRIO
introdução
1. Moisés, fiel como servo (v.5). Moisés foi fiel em sua casa, como acentua o
escritor, na condição de servo, sendo o mensageiro que testemunhou das
“coisas que haviam de vir”. Ele foi o porta-voz de Deus ao receber as tábuas
da Lei no Sinai, transmitindo, com fidelidade, a palavra que de Deus ouviu
no monte. Ele nada alterou do que recebeu do Senhor. Foi servo em sua
casa, no âmbito do que lhe foi confiado, e desincumbiu-se muito bem de
sua tarefa na “casa” de Deus. Por isso, foi considerado um modelo entre os
homens (cf. Jr 15.1).
2. Jesus, fiel sobre sua própria casa (v.6). Jesus foi superior a Moisés. Este foi
servo. Aquele é o Filho, o Sumo Sacerdote constituído por Deus, posição
que não foi confiada a mais ninguém. Moisés, mesmo sendo fiel como
homem, não foi perfeito. Falhou em algum momento. No episódio em que
Deus mandou que ele falasse à rocha pela segunda vez, descontrolou-se
emocionalmente e feriu-a, ao invés de falar (Nm 20.11). Jesus, no entanto,
nunca falhou. “Em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15).
CONCLUSÃO
5. Temos o descanso do seu Espírito Santo, que até mesmo ora conosco
(Romanos 8:26) e nos transmite seus dons, a antesala do Céu;