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A SUPERIORIDADE DE CRISTO EM RELAÇÃO A ARÃO

– Vistas as circunstâncias em que se deu a instituição do sacerdócio levítico e a sua


própria condição espiritual, passemos a analisar parte da perícope em que o escritor aos
hebreus vai demonstrar aos destinatários da sua carta a superioridade de Cristo em
relação a Arão e ao sacerdócio levítico.

– O autor começa dizendo que Jesus, Filho de Deus, é um grande sumo sacerdote, que
penetrou nos céus e que isto é motivo para que retenhamos firmemente a nossa
confissão (Hb.4:14).

OBS: “…Ao nome do Filho de Deus, já mencionado pelo autor, pertence essa
majestade que nos impele ao temor e à obediência. No entanto, se não divisássemos
nada mais em Cristo, nossas consciências não ficariam pacificadas.

Quem dentre nós não se espantaria à vista do Filho de Deus, especialmente quando
lembramos de nossa própria condição e nossos pecados vêm à nossa mente?

Além disso, poderia haver outro obstáculo para os judeus, visto que estavam habituados
ao sacerdócio levítico. Nele vimos um singular mortal escolhido dentre todos os demais,
que entrava no santo dos santos, para reconciliar seus irmãos com Deus, através de suas
orações.

É algo incomensurável que o media- dor, que pode desviar a ira divina contra nós, seja
ele mesmo um de nós.

Essa atração poderia ter enganado os judeus, perpetuando seu apego ao sacerdócio
levítico, se o apóstolo não o antecipasse e não tivesse mostrado que o Filho de Deus não
só excedeu em glória, mas que também estava investido de semelhante benevolência e
compaixão para conosco.…” (CALVINO, João. Hebreus. Trad. de Válter Graciano
Martins, p.111).

– Já havia sido dito, quando da demonstração da superioridade de Jesus em relação a


Moisés, que Cristo era o “sumo sacerdote da nossa confissão” (Hb.3:1), querendo com
isto lembrar aos crentes judeus de que, quando eles foram salvos, foram pelo simples
fato de terem reconhecido que Jesus é o Salvador e que Ele pode, realmente, perdoar os
nossos pecados. Como diz o apóstolo João: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é
fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça” (I Jo.1:9).

– Somente somos salvos porque cremos no coração de que Deus ressuscitou a Jesus
Cristo dos mortos e confessarmos nossos pecados a Jesus com a nossa boca.

Ao crermos que Deus ressuscitou Jesus dos mortos, cremos que Jesus morreu e que Sua
morte foi aceita como preço pelo resgate da humanidade e que, portanto, o sangue de
Cristo tem poder para perdoar os pecados.

Ao confessarmos com a boca os nossos pecados, exteriorizamos o que está em nosso


coração (pois a boca sempre fala daquilo que o coração está cheio – Mt.12:34; Lc.6:45),
reconhecendo que somos pecadores e que somente Jesus pode nos perdoar, pois só Ele
pagou o preço de nossas iniquidades, só Ele tirou o pecado do mundo (Jo.1:29).
– Ser salvo, portanto, implica em reconhecermos que Jesus é o nosso grande sumo
sacerdote, pois foi Ele quem ofereceu o sacrifício perfeito que nos permite obter o
perdão dos pecados.

– O escritor aos hebreus faz questão de chamar Jesus de “grande sumo sacerdote”, para
mostrar que Ele é superior a Arão, que apenas é chamado nas Escrituras de “sumo
sacerdote”.

Como se isto fosse pouco, faz-se questão de dizer que Jesus é o Filho de Deus, a fim de
que se tenha a precisa noção de que estamos a tratar de um sumo sacerdote que é divino
e, portanto, que não tem as fraquezas próprias do sacerdócio levítico, cujo primeiro
sumo sacerdote, conforme já tivemos ocasião de verificar, era um pecador, ainda que
tenha se arrependido de seu pecado antes de ter sido guindado ao sacerdócio.

OBS: “…O termo “sacerdote” ou “sumo sacerdote” tinha se tornado genérico e comum,
tanto em seu aspecto religioso como cultural. Porém, o título aplicado a Cristo sugere
uma forma nova e sem igual.

O propósito desta epístola do começo ao fim é mostrar a superioridade de Cristo sobre


tudo e sobre todos, como sendo um sumo sacerdote todo especial, que veio para
satisfazer todas as necessidades tanto terrenas como espirituais.

Ele era perfeito e santificado tanto em seu caráter como em seu ser (Lc 1.35). Ele é um
grande sumo sacerdote porque substituiu qualquer ordem ou casta sacerdotal da terra,
não havendo mais necessidade de sumos sacerdotes.

Nele, o conceito sumo sacerdotal acha plena concretização, pois Ele não é apenas um
entre muitos, como foram os sacerdotes levíticos, ou um dentre uma longa sucessão de
sumos sacerdotes. Ele é o fim e o cumprimento dessa sucessão.…” (SILVA, Severino
Pedro da. Hebreus: as coisas grandes e novas que Deus preparou para você, Pp.77-8).

– Reside aqui, aliás, uma grande distinção entre Jesus e Arão. Assim como Arão, Jesus
é um sumo sacerdote compassivo.

Embora seja Deus, conquanto esteja numa posição infinitamente superior à nossa, Ele
não deixa de entender as nossas fraquezas, tendo-as, inclusive, vivenciado cada uma
delas, de forma visível aos homens para que eles não tenham qualquer dúvida de que
podem ser socorridos por Ele, já que em tudo foi tentado, sem jamais ter pecado
(Hb.4:15).

Enquanto Arão foi vencido pelo pecado, Jesus sobre o pecado foi vencedor,
demonstrando que Seu socorro é mais do que eficiente.

OBS: “…Apesar de Ele ser tão grande, e estar tão acima de nós, mesmo assim Ele é
muito bondoso, e está ternamente preocupado conosco.

Ele se sente tocado pela aflição das nossas enfermidades de tal maneira como nenhum
outro consegue; pois Ele mesmo foi provado com todas as aflições e problemas que são
circunstanciais à nossa natureza no seu estado caído; e isso não somente para que Ele
fosse capaz de reparar completamente as nossas falhas, mas para se condoer por nós.…(
HENRY, Matthew. Comentário completo: Novo Testamento – Atos a Apocalipse. Trad.
de Degmar Ribas Júnior, p.773).
– “…Todo o teor do argumento do apóstolo consiste em que o mesmo deve ser
considerado à luz do contexto do significado da fé, porque ele não discute a natureza de
Cristo em si mesma, mas de Sua natureza como Ele Se nos revela.

Ele toma semelhança no sentido daquela parte de nossa natureza pela qual significa que
Cristo Se vestiu de nossos sentimentos mais do que de nossa carne, não só para revelar-
nos ser Ele genuinamente homem, mas para aprender,

através da própria experiência, a socorrer-nos em nossa miséria, e não porque, como


Filho de Deus, necessitasse de tal instrução, mas porque só assim poderíamos
compreender a preocupação que Ele nutre por nossa salvação.

Sempre que labutarmos sob as fragilidades de nossa carne, tenhamos em mente que o
Filho de Deus as vivenciou também, para que nos encorajemos por Seu poder, no caso
de nos sentirmos esmagados por elas.…” (CALVINO, João.op.cit., p.112).

– “…todos os sumos sacerdotes estiveram sob a lei. Eles tiveram que confessar sua
própria ignorância, eles tinham que admitir seus próprios erros e andanças, e, portanto,
poderiam ter mais paciência com os outros.

Nosso Senhor Jesus Cristo não teve ignorância nem pecado, mas Ele Se tornou tão
completamente um com o Seu povo, osso dos nossos ossos e carne da nossa carne, para
que pudesse ter compaixão sobre nós, ignorantes e fora do caminho, como somos.

Vocês estão angustiados, meus irmãos e irmãs, porque sentem sua própria ignorância?
Vocês choram porque se desviaram?

Você não precisam ir com raiva até Cristo; vocês devem se aproximar de um que será
muito gentil em sua direção.

Venham com ousadia até Ele, confessem, então, sua loucura, e esperem o perdão que
Ele está esperando para conceder.…” (SPURGEON, Charles Haddon. Exposição de
Hb.5. Disponível em: https://www.spurgeongems.org/vols46-48/chs2689.pdf , p.7)
(tradução Google adaptada por nós de texto em inglês).

– Eis o motivo pelo qual o escritor aos hebreus conclama seus leitores a que chegassem
com confiança diante do trono da graça, pois, diante do sumo sacerdote que temos,
Cristo Jesus, não temos que ter receio algum de não alcançarmos a misericórdia e a
graça divinas, pois Jesus já venceu o pecado e nos deu acesso ao Senhor, de modo que
sempre seremos ajudados em tempo oportuno (Hb.4:16).

– Neste passo, ademais, vemos mais uma distinção importante entre Jesus e Arão.
Arão não tinha como dar acesso ao “lugar da misericórdia”, que era o “santo dos
santos”, o local mais sagrado do tabernáculo, ao qual, inclusive, o próprio sumo
sacerdote só podia entrar uma vez ao ano, no dia da expiação, não sem antes oferecer
sacrifício por si próprio e pelo povo. Havia um véu que separava o lugar santo, que
sempre era frequentado pelos sacerdotes, e o lugar santíssimo. Todavia, Jesus, ao
morrer, fez com que se rasgasse este véu (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45) e, assim,
pudéssemos ter agora acesso à presença de Deus.

OBS: “…”Vamos chegar com confiança”, diz ele, “para receber essa misericórdia
que pedimos”.
Essa misericórdia é a munificência; é um presente real:

“E, para encontrar a ajuda de sua graça, quando lhe perguntamos sobre isso”.

Ele está certo em dizer:

“Quando perguntamos sobre isso”. Aborda-O agora; Ele lhe dará graça e piedade,
porque você chegará a tempo.

Mas se você vier hoje, é inútil; sua chegada é inconveniente; você não pode mais
percorrer o trono da graça. Você pode aparecer diante deste trono, que é ocupado pelo
dispensador soberano das graças, mas uma vez que os tempos são realizados, este é o
seu juiz, que está diante de você! “Levante-se, meu Deus”, diz o salmista, “e venha e
julgue a terra” (Salmo 82:8)

Digamos novamente com o apóstolo:

“Aproximemo-nos com confiança”, isto é, sem nos repreender ao fazê-lo, sem


hesitação; porque aquele que tem algo para se censurar, não pode se apresentar com
confiança.

É por isso que é dito em outro lugar:

“Ouvi sua oração feita oportunamente, e eu ajudei você no dia da salvação”. (Is.
49:8) Pois, se aqueles que pecam, depois de receber o batismo, têm o recurso da
penitência, este é um dom de graça: não acreditem, porque você ouviu que Jesus é um
sumo sacerdote, que Ele permanece de pé;

São Paulo diz que Ele Se senta, embora o sacerdote normalmente não Se sente, mas
fique de pé. Você vê que, se Ele foi feito sumo sacerdote, não é um dom da natureza,
mas um dom de graça, um efeito de Seu abatimento voluntário e Sua humildade.

Digamos, ainda há tempo: vamos abordá-l’O com confiança e perguntar. Temos apenas
para Lhe oferecer nossa fé; Ele nos concederá tudo.

Aqui está o momento de generosidade; não nos desesperamos de nós mesmos. Será hora
de desesperar, quando o corredor será fechado, quando o rei entrará para ver aqueles
que estão sentados no banquete, quando os patriarcas receberem em seu seio aqueles
que são dignos.

Mas hoje não é a hora do desespero. O teatro ainda está lá; ainda é o momento da luta, a
palma ainda é incerta.…” (CRISÓSTOMO, João. Sobre Hebreus. Homilia 7 –
Apressemo-nos, então, a entrar no repouso, do temor de que algum de nós caia numa
desobediência similar. Cit. Hb.4:14-5:10. n.702. Disponível em:
http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 16 nov. 2017)
(tradução Google adaptada por nós de texto em francês).

– “…Este é o lugar onde todo aquele que ali chega arrependido, encontra o favor de
Deus. Por esta razão somos exortados a nos aproximar deste trono com inteira
confiança.

O trono que está aqui em foco é o trono de Deus, o centro de Sua glória, poder,
majestade e julgamento.
Mas agora, especialmente aqui, é mencionando como fonte de graça e de misericórdia,
por intermédio da obra de seu Filho bendito, que está agora assentado ao lado do Pai
(Ap 3.21) assegurando-nos estas bênçãos.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.79).

– Jesus, como sumo sacerdote, permite-nos o acesso a este “lugar da misericórdia” e


temos aqui mais um elemento que demonstra sua superioridade em relação a Arão, que
não tinha, ele próprio, tal acesso e, portanto, não poderia oferecê-lo a qualquer outro.

– Jesus “penetrou nos céus” e, portanto, pode nos angariar acesso direito ao trono
divino. Não há mais qualquer divisão entre nós e Deus, temos “livre acesso ao santo dos
santos” (Hb.10:19-22).

“…A grandeza do nosso sumo sacerdote é estabelecida:

1. Pelo fato de Ele ter passado para os céus. O sumo sacerdote sob a lei, uma vez por
ano, desaparecia da vista do povo pelo véu, para dentro do Santo dos Santos, onde
estavam os símbolos sagrados da presença de Deus; mas Cristo passou de uma vez por
todas para os céus, para assumir o governo de tudo sobre si, para enviar o Espírito a
preparar um lugar para o seu povo e a fazer intercessão por eles.

Cristo executou uma parte do seu sacerdócio na terra, ao morrer por nós; a outra, Ele
executa no céu, ao defender a causa e apresentar as ofertas do seu povo…” (HENRY,
Matthew. op.cit., p.773).

– “…Esse tempo oportuno se refere ao tempo de nossa vocação, segundo a passagem de


Isaías [49.8], a qual Paulo aplica à pregação do evangelho [II Co.6:2]: “Eis agora o
tempo sobremodo oportuno…” O apóstolo se refere àquele dia em que Deus fala
conosco.

Se Deus nos fala hoje, e prorrogamos nosso ouvir para amanhã, a morte nos visitará à
noite, quando o que nos é possível agora não nos será mais possível, e inutilmente
bateremos em uma porta fechada.…” (CALVINO, João. op.cit., p.116).

– O escritor aos hebreus, então, passa a explicar o papel do sumo sacerdote, que,
tomado entre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a
Deus, para que oferecesse dons e sacrifícios pelos pecados, podendo, assim,
compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados, ate porque ele estava rodeado de
fraqueza.

Era, por isso, que tinha o dever de fazer, tanto por si mesmo, quanto que pelo povo,
oferta pelos pecados (Hb.5:1-3).

– Por isso mesmo, como já vimos, o Senhor havia escolhido Arão e seus descendentes
para o sacerdócio, pois ele revelou esta capacidade de se colocar a favor do povo
quando do episódio do bezerro de ouro, compreendendo a sua “inclinação para o mal”,
da qual, inclusive, era participante, já que fora ele o construtor do ídolo, tendo levado,
então, o povo a se arrepender e a se humilhar do mal cometido, buscando, assim,
impedir a destruição da nação diante de tão grande pecado.

OBS: “…Como esse sumo sacerdote precisa estar qualificado (v. 2). 1. Precisa ser
alguém que possa se compadecer de dois tipos de pessoas:
(1) Dos ignorantes, ou daqueles que são culpados de pecados de ignorância.

Ele precisa ser alguém que no seu coração consiga ter compaixão deles, e que interceda
diante de Deus por eles, alguém que esteja disposto a instruir os que estão embotados no
seu entendimento.

(2) Dos errados, ou dos que estão fora do caminho da verdade, da responsabilidade e
da felicidade; precisa ser alguém que tenha ternura suficiente para conduzi-los de volta
dos atalhos do erro, do pecado e da miséria para o caminho certo; isso vai exigir grande
paciência e a compaixão de Deus.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.775).

– O autor faz questão de lembrar que, embora seja inferior a Cristo, Arão ocupava uma
posição de honra e, mais do que isto, uma posição que somente um chamado por Deus
poderia ocupar (Sl.105:26; Hb.5:4).

Isto nos mostra a importância que devemos dar ao chamado divino para o exercício de
qualquer função na Igreja do Senhor.

OBS: “…Flávio Josefo nos informa que a honra sacerdotal era tão elevada, que até
mesmo Moisés a desejou para si, dizendo:

‘…eu confesso que, se essa escolha tivesse dependido de mim, eu teria podido desejar
essa honra, que porque todos os homens são naturalmente levados a desejar
incumbência tão honrosa, quer porque vós não ignorais quantas dificuldades e trabalhos
sofri por vosso bem e da república;

mas Deus mesmo, que destinava Arão, há muito tempo, para esse sagrado ministério,
conhecendo-o como o mais justo dentre vós, o mais digno de ser honrado, deu-lhe seu
voto e julgou em seu favor…’ (Antiguidades Judaicas III,9,120. In: História dos
hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.75).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit.,
pp.83-4).

– Israel fora um povo escolhido por Deus e somente o Senhor poderia chamar as
pessoas para as funções específicas naquele povo. Somente Arão e seus filhos poderiam
exercer o sacerdócio.

Na Igreja, o povo de Deus da atualidade, não é diferente: somente os que forem


chamados por Deus podem exercer cada função existente no corpo de Cristo. Quem
exerce função para o qual não é chamado, constitui-se em verdadeira “célula cancerosa”
no corpo de Cristo e terá de ser extirpado. Lembremos sempre disto!

OBS: “…Ainda que isso fosse expresso à luz do presente caso, todavia é legítimo
extrair daqui um princípio geral, a saber:

que não se deve estabelecer na Igreja nenhuma forma de governo segundo o critério
humano, senão que os homens devem atentar bem para a ordenação divina; e, ainda
mais, devemos seguir um procedimento de eleição preestabelecido, para que ninguém
procure satisfazer seus próprios desejos.

Ambos esses pontos têm de ser cuidadosamente observados. O apóstolo está falando
aqui não só de pessoas, mas também de ofício.
Ele nega, repito, que seja legítimo e santo qualquer ofício inventado pela vontade
humana, sem o respaldo da autoridade divina. De acordo com a promessa de Deus de
governar sua Igreja, assim ele reserva para si o direito exclusivo de prescrever a ordem e
forma de sua ad- ministração.…” (CALVINO, João. op.cit., p.122) (destaques
originais).

– Jesus também foi escolhido para exercer este sumo sacerdócio, escolha esta que se
deu antes mesmo da fundação do mundo.

Ele foi escolhido para ser tanto o sacerdote quanto a vítima do sacrifício (Ef.1:4; I
Pe.1:19,20; Ap.13:8). Jesus não Se arrogou o sumo sacerdócio, mas foi a isto
comissionado pelo Pai.

– Neste momento, o autor introduz um argumento que será desenvolvido mais adiante,
qual seja, a de que Jesus é sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque
(Hb.5:6),

uma ordem superior a de Arão que, conforme já vimos, foi instituída depois do fracasso
espiritual de Israel que não pôde ser a “nação sacerdotal” almejada pelo Senhor naquele
instante diante de sua imaturidade espiritual, que a fez, quarenta dias após a entrega da
lei, entrega esta que já era uma demonstração de debilidade do povo israelita, ter
quebrado logo os dois primeiros mandamentos com o episódio do bezerro de ouro.

– “…E para que não se acredite que o sacerdócio de Cristo seja semelhante ao da lei
antiga, distingue-o em duas coisas:

primeiro, em relação à dignidade, porque é um sacerdócio eterno; uma vez que, por
figura, era temporário e, portanto, não é perpétuo, mas transitório, em sobrevindo o
figurado.

Mas o sacerdócio de Cristo é eterno, porque é de verdade, e a verdade é eterna. Da


mesma forma, a vítima que é oferecida lá tem a virtude de introduzir na vida eterna.
Outrossim, dura para sempre.

Em segundo lugar, distingue-o pelo rito, porque havia animais oferecidos; aqui pão e
vinho; é por isso que diz:

“de acordo com a ordem de Melquisedeque”, o que será explicado abaixo.…”


(AQUINO, Tomás. Comentário aos hebreus. Trad. J.L.M. Cit. Hb.4:14-5:10. n.18.
Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 16
nov. 2017) (tradução Google adaptada por nós de texto em espanhol).

– Jesus foi escolhido diretamente para o sumo sacerdócio, não como um “paliativo”,
uma “solução provisória”, um “remédio”, como fora Arão. Muito pelo contrário, o
próprio Pai o constitui para tal função ainda antes que o mundo existisse.

– E, obedientemente, sem jamais pecar, o Senhor exerceu esta função. Ele orou, diz o
escritor aos hebreus, a demonstrar que sempre intercedeu pelos homens. “…Orar
‘como’ Jesus deve ser o verdadeiro exemplo a ser seguido pelos cristãos em qualquer
tempo e lugar.

Orar é um dever e uma necessidade, sendo Jesus o nosso modelo por excelência!
Ele nasceu orando (Hb 10.5,7),

viveu orando (Hb 7.5),

morreu orando (Lc 23.46) e

continua orando (Rm 8.34; Hb 7.25).

Ele nos ensinou, dizendo: “Orai…” (Lc 23.40). Muitas destas orações do Senhor eram
acompanhadas de “grande clamor e lágrimas”, o que mostra quebrantamento e uma
intensidade tanto física como espiritual.

Sempre que orava, Jesus sabia que o Pai lhe ouvia, conforme Ele mesmo afirma: ‘Eu
bem sei que sempre me ouves…’ (Jo 11.42).

Aqui Ele também ‘… foi ouvido quanto ao que temia’. Em tudo Cristo nos deu o
exemplo, especialmente na oração. Ele estava sempre orando.

Orou por si mesmo, orou pelos seus discípulos e orou por nós, que ainda nem sequer
existíamos (Jo 17.1,9,20).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.84).

– “…Seu ato era oferecer orações e súplicas, isto é, um sacrifício espiritual, que Cristo
ofereceu.

E as orações são ditas, isto é, petições (Tg.5); súplicas, por outro lado, para o que
considera a humildade daquele que ora, como as genuflexões. “Ele prostrou o Seu rosto
em terra orando” (Mt.26:39).

A quem? “A Ele, isto é, a Deus Pai, que poderia salvá-l’O da morte”. Isso ele poderia
fazer de duas maneiras: uma, então ele não morreria (Mt. 26); de outro, de modo que, já
morto. ressuscitasse (Sl. 16; 41). A este sacrifício espiritual, ordena-se o sacerdócio
de Cristo. Então concorda com o mencionado acima: “oferece dons …” (Sl. 50, Os.14).

A eficácia é mostrada pelo caminho da oração, pois, para aquele que ora, duas coisas
são necessárias: um fervoroso carinho e um gemido doloroso; dois requisitos aludidos
no Salmo 38: “Senhor, diante de mim é todo o meu desejo, e meu gemido não está
escondido de você”.

E também Cristo orou: “com um grande grito”, isto é, com a intenção mais eficaz: “e
entrando em agonia, orou mais por muito tempo” (Lc. 22:43); e clamando ele disse:

“Pai, em Tuas mãos, entrego Meu espírito” (Lc. 23); “e lágrimas”, para as quais o
Apóstolo expressa o grito interno daquele que ora.

Isso não é lido no Evangelho, mas é provável que, assim como Ele derramou lágrimas
na ressurreição de Lázaro, então Ele as derramou em Sua paixão; pois muitas coisas que
Ele fez não foram escritas; mas Ele não chorou por Si mesmo, mas por nós,

para quem foi o benefício de Sua paixão; pois, para Si, Sua paixão fez com que
merecesse a exaltação (Fp.2); pelo que “Ele foi ouvido em vista de Sua reverência”, isto
é, a que para com Deus tinha acima de todos os homens (Is.11).…” (AQUINO , Tomás
de. ibid.).
– Como afirma Tomás de Aquino, o autor aos hebreus faz alusão à oração de Jesus no
Getsêmane, onde Cristo iniciou o Seu sacrifício, pois ali Nosso Senhor sacrificou a Sua
vontade, dando início propriamente à Sua paixão, ao Seu sofrimento por nós.

Isto demonstra a grande intensidade do sacerdócio de Cristo, que Se entregou por nós,
algo que jamais um sacerdote da lei poderia fazer.

OBS: “…Ele orou com lágrimas, dando assim testemunho da suprema angústia de seu
espírito. Por lágrimas e forte clamor, a intenção do apóstolo é expressar a intensidade de
sua tristeza, em consonância com o costume normal de fazer algo mediante sinais.

Não tenho dúvida de que ele está falando da oração contida nos evangelhos: ‘Meu Pai,
se possível, passe de mim este cálice’ [Mt 26.39].

E também daquela outra oração: ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’ [Mt
27.46].

No segundo dos casos mencionados nos Evangelhos, há um forte clamor. Enquanto que
no primeiro não é possível crer que seus olhos hajam secado, já que na imensidão de sua
agonia grossas gotas de sangue emanavam de todo seu corpo.

É verdade que ele se achava reduzido a uma condição extrema. Achando-se oprimido
por dores reais, deveras orava ardentemente ao Pai para que fosse socorrido.…”
(Calvino, João. op.cit., p.127).

– A propósito, quando da morte de Nadabe e Abiú, não foi sequer permitido que Arão
lamentasse pelos filhos mortos ou Itamar e Eleazar pelos seus irmãos falecidos
(Lv.10:6), o que se tornou uma regra para todo sumo sacerdote (Lv.21:10-12), a indicar
um nítido limite que existia na compaixão deste sacerdócio, o que não ocorreu com o
sacerdócio de Jesus.

OBS: “…Se Cristo fosse intocável por qualquer dor, então nenhuma consolação,
provinda de seus sofrimentos, nos atingiria.

Mas quando ouvimos que ele igualmente suportou as mais amargas agonias em seu
espírito, torna-se evidente sua semelhança conosco.…” (CALVINO, João. op.cit.,
p.127).

– Mas, se se faz alusão à oração do Getsêmane, como pode o escritor aos hebreus dizer
que Cristo foi ouvido no que temia, se Seu pedido foi rejeitado pelo Pai e teve o Senhor
de tomar o cálice que Lhe estava preparado? … De que forma foi Cristo ouvido naquilo
que ele temia, quando enfrentamos aquela morte da qual ele tanto se esquivava?

Minha resposta é que devemos atentar para aquilo que constituía Seu temor. Por que Ele
tremia diante da morte, senão porque via nela a maldição divina, e o fato de que Deus
era contra a soma total da culpabilidade humana, e contra os próprios poderes das
trevas?

Daí seu temor e ansiedade, já que o juízo divino é de tudo o que mais terrifica. Então
Ele obteve o que desejava, uma vez que emergiu das dores da morte como Vencedor,
foi sustentado pela mão salvífica do Pai e, após um breve conflito, granjeou gloriosa
vitória sobre Satanás, o pecado e os poderes do inferno…” (CALVINO, João. op.cit.,
p.129).

– “…Cristo “…foi ouvido quanto ao que temia”. Como? Pois Ele foi ouvido por
consolos presentes em Suas agonias, e ao ser levado através da morte, e libertado dela
pela ressurreição gloriosa: Ele foi ouvido quanto ao que temia.

Ele tinha uma percepção tremenda da ira de Deus, do peso do pecado. Sua natureza
humana estava disposta a afundar debaixo dessa pesada carga, e teria afundado, tivesse
Ele sido completamente abandonado nos aspectos da ajuda e do conforto de Deus; mas
Ele foi ouvido nisso, Ele foi apoiado nas agonias da morte.

Ele foi carregado através da morte; e não há real libertação da morte a não ser carregado
através dela.

Podemos ter muitas recuperações de enfermidades, mas nunca estamos a salvo da morte
até que sejamos bem conduzidos através dela.

E os que são assim salvos da morte serão completamente libertados no final por meio de
uma gloriosa ressurreição, da qual a ressurreição de Cristo foi a garantia e os primeiros
frutos.…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.776).

– Em sendo verdadeira a tradição judaica, da qual os destinatários da carta certamente


tinham conhecimento, temos aqui um outro elemento que torna o sacerdócio de Cristo
superior ao de Arão. Arão, por temer a morte, acabou pecando, submetendo-se à
vontade do povo, fabricando o bezerro de ouro, edificando um altar a ele e convocando
o povo para uma festa ao Senhor, enquanto que o Senhor Jesus, mesmo sabendo que iria
morrer, aceitou morrer em favor dos homens, edificando um altar a Deus, para nele Se
sacrificar, para que, pela ressurreição, chamasse o povo para um verdadeira festa ao
Senhor, que ocorrerá quando do arrebatamento da Igreja.

– Jesus foi obediente e obediente até a morte (Fp.2:8), ao passo que Arão, tendo sido
guindado ao sumo sacerdócio após ter praticado um ato de desobediência, do qual se
arrependeu e levou as pessoas a se arrepender, tornou a tentar a Deus, no episódio das
águas de Massá e Meribá, juntamente com Moisés e, por isso, foi impedido de ingressar
na Terra Prometida (Nm.20:10-13. 20:22-28).

– Por ter sido obediente até a morte, Jesus ressuscitou e agora vive para todo o sempre
(Ap.1:18), motivo pelo qual Seu sacerdócio é eterno.

Arão, por sua vez, por ter voltado a desobedecer ao Senhor, não só foi impedido de
ingressar na Terra Prometida, como também teve de passar a outro o seu sacerdócio, ao
seu filho Eleazar, demonstrando, assim, que seu sacerdócio era temporário.

– O sacerdócio de Cristo venceu a morte e, por isso mesmo, é Cristo “a causa de eterna
salvação para todos os que Lhe obedecem” (Hb.5:9), enquanto que o sacerdócio de
Arão não teve o condão de trazer salvação aos obedientes, mas tão somente conseguia
adiar a punição dos ignorantes e errados até que viesse um sacrifício que pudesse trazer
a efetiva salvação do pecado.

– “…O autor sagrado apresenta Cristo como sendo a ‘causa’ e o ‘efeito’ da salvação da
pessoa humana.
Isto é, Ele é o motivo e o meio pelo qual o homem pode se chegar a Deus. O leitor deve
observar bem que a ‘causa’ aqui é Cristo. Ele veio a ser a causa de eterna salvação.…”
(SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.87).

– “…Se desejamos que a obediência de Cristo nos seja proveitosa, então devemos imitá-
la. O apóstolo subentende que os frutos dela não vêm a qualquer um, senão somente
àqueles que são obedientes.

Ao dizer isso, ele nos recomenda a fé, pois nem ele nem Seus benefícios se tornam
nossos, a não ser na medida em que os recebemos, a ele e a Seus benefícios, por meio
da fé.…” (CALVINO, João. op.cit., p.132).

– Por isso, o autor aos hebreus mostra que a ordem do sacerdócio de Cristo era superior
ao sacerdócio levítico, chamando tal ordem de “ordem de Melquisedeque”, o que se
dispõe a explicar posteriormente.

Ev. Caramuru Afonso Francisco


Relacionado

Lição 3: Cristo, superior a Moisés


ORIENTAÇÃO DIDÁTICA

Divida a turma em dois grupos. O primeiro, deverá listar as semelhanças


entre Moisés e Cristo. O segundo relacionará as diferenças. Ao cabo desta
parte da tarefa, solicite voluntários para destacarem os aspectos da
superioridade de Cristo sobre Moisés. Dê a eles dez minutos para o
cumprimento desta atividade.

Exemplos de semelhanças:

• Moisés livrou o povo da escravidão do Egito;

• Jesus livrou o homem da escravidão do pecado.

• Moisés foi o intermediário entre Deus e o povo;

• Jesus é o mediador entre Deus e o homem.

• Moisés instituiu o sistema levítico;

• Jesus inaugurou o sistema da graça.


Exemplos de diferenças:

• Cristo é Deus; Moisés apenas conhecia a Deus.

• Cristo é Filho de Deus; Moisés foi apenas servo.

• Cristo estabeleceu a “casa” da qual Moisés era apenas uma parte (3.3).

COMENTÁRIO

introdução

Nesta lição, somos exortados a considerar Jesus Cristo como “Sumo


Sacerdote da nossa confissão”. Os israelitas tinham grande respeito aos
profetas e sacerdotes da antiga aliança, destacando-se entre eles Moisés e
Arão. Na Nova Aliança, Jesus é superior a todos eles, pois encarnou-se
tomando a forma humana, ou seja, tornou-se o Emanuel, “Deus entre nós”,
concedendo a gloriosa e eterna salvação para todos os que nEle crêem.

I. CONVOCAÇÃO DOS SANTOS À ADORAÇÃO A CRISTO (v.1)

1. “Irmãos santos”. A palavra santo vem do latim, sanctu, que,


originalmente, quer dizer aquele ou aquilo que “era estabelecido segundo a
lei”, passando depois a significar aquele ou aquilo “que se tornou sagrado”.
No Antigo Testamento, a palavra hebraica para santo é qodesh e seus
derivados, que significam santo, santificado, santificar, separar, pôr à parte.
No Novo Testamento, a palavra “santo”, no grego hagios, tem sentido
semelhante ao da língua hebraica; santos, segundo o ensino bíblico, são
somente aqueles que têm comunhão com Deus e com seu Filho, Jesus.
Estes são convocados para adorarem a Cristo, separados do mundo.

2. “Participantes da vocação celestial”. Os santos que vivem aqui na terra


não são apenas os mártires, ou os que fizeram algum milagre, como ensina
o Catolicismo. Os santos são pessoas de carne e osso, “participantes da
vocação celestial”, por aceitarem a Cristo como seu Salvador ao ouvirem o
seu convite através do evangelho.

3. Cristo, Apóstolo e Sumo Sacerdote. Os santos são convocados para


considerar “Jesus, apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão”. Ele foi,
de fato, o Apóstolo por excelência. Jesus foi enviado por Deus ao mundo,
“não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo
por Ele” (Jo 3.17).

No Antigo Testamento, os sacerdotes intercediam pelo povo, tendo que


oferecer, por todos os pecantes, sacrifícios com sangue de animais, que
apenas encobriam o pecado. Na Nova Aliança, Jesus é o Sumo Sacerdote
perfeito, pois ofereceu o seu próprio sangue para nos salvar e nos
apresentar a Deus com a nossa confissão.

II. MAIOR GLÓRIA DO QUE MOISÉS

1. Moisés, fiel como servo (v.5). Moisés foi fiel em sua casa, como acentua o
escritor, na condição de servo, sendo o mensageiro que testemunhou das
“coisas que haviam de vir”. Ele foi o porta-voz de Deus ao receber as tábuas
da Lei no Sinai, transmitindo, com fidelidade, a palavra que de Deus ouviu
no monte. Ele nada alterou do que recebeu do Senhor. Foi servo em sua
casa, no âmbito do que lhe foi confiado, e desincumbiu-se muito bem de
sua tarefa na “casa” de Deus. Por isso, foi considerado um modelo entre os
homens (cf. Jr 15.1).

2. Jesus, fiel sobre sua própria casa (v.6). Jesus foi superior a Moisés. Este foi
servo. Aquele é o Filho, o Sumo Sacerdote constituído por Deus, posição
que não foi confiada a mais ninguém. Moisés, mesmo sendo fiel como
homem, não foi perfeito. Falhou em algum momento. No episódio em que
Deus mandou que ele falasse à rocha pela segunda vez, descontrolou-se
emocionalmente e feriu-a, ao invés de falar (Nm 20.11). Jesus, no entanto,
nunca falhou. “Em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15).

3. A casa somos nós (v.6). Em nossa imperfeição, como poderíamos ser


chamados “casa” de Cristo para que Ele, nessa “casa”, fosse sumo
sacerdote? Só a graça de Deus pode explicar. A condição para que sejamos
“casa” do Senhor, é que tão-somente conservemos “firme a confiança e a
glória da esperança, até o fim”. O apóstolo Paulo teve de Deus revelação
semelhante. Na primeira Epístola aos Coríntios 6.19,20, lemos: “Ou não
sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós,
proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”. Diante disso, é
grande a nossa responsabilidade para com essa “casa”, em que, ao mesmo
tempo, habitam Cristo, nosso Sumo Sacerdote, e o Espírito Santo, nosso
intercessor, que nos tem como seu templo.

III. ADVERTÊNCIA QUANTO AO ENDURECIMENTO CONTRA DEUS


1. Ouvindo a voz do Espírito. A advertência é grave e solene: “Portanto, se
ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na
provocação, no dia da tentação no deserto…” (vv.7,8). Citando o Salmo 95.8-
11 o escritor admoesta os destinatários da carta valendo-se de fatos
constrangedores, relativos ao povo de Israel. Na advertência, o Espírito
Santo os lembra para não fazerem como seus pais, que provocaram a Deus
no deserto com graves atitudes: 1) Tentaram a Deus; 2) Provaram a Deus,
mesmo tendo visto suas obras por 40 anos (v.9; Êx 15.22-25; 17.1-7). Esse
aviso quanto a ouvir o Espírito Santo é significativo e oportuno para nós em
nosso tempo, pois há crentes tão insensíveis, em todos os sentidos, que
suas consciências já se encontram irremediavelmente cauterizadas (cf. 1
Tm 4.2).

2. Não endurecer o coração (v.8). O povo israelita, não obstante presenciar


as maravilhas do poder miraculoso de Deus no deserto, a começar pela
passagem do Mar Vermelho, rebelou-se contra o Senhor. Em conseqüência,
Deus se indignou. Manifestou a sua ira e decretou seu juízo: “Não entrarão
no repouso de Deus”. Daquela geração rebelde, todos os que tinham mais
de 20 anos não entraram na Terra Prometida. O endurecimento do coração
é um obstáculo para o recebimento da bênção de Deus.

3. Um coração mau e infiel (v.12). Outra advertência é dada pelo Espírito


Santo através do escritor da Epístola aos Hebreus, para que neles não
houvesse “um coração mau e infiel”, que viesse afastá-los “do Deus vivo”. O
verbo afastar, no texto, é apostenai (gr.), palavra que dá origem ao termo
apostasia. No versículo seguinte vem um conselho divino: “Antes exortai-
vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para
que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (v.13). Muitos, por
falta de orientação e advertência (exortação), endurecem o coração para
Deus, desviam-se e até negam a fé, aceitando falsas doutrinas e
envolvendo-se em práticas extra-bíblicas, semelhantes às do espiritismo,
incluindo “regressão espiritual” e outras invencionices.

4. Como nos tornamos participantes de Cristo (v.14). O escritor nos mostra


como nos tornamos participantes de Cristo: “Se retivermos firmemente o
princípio da nossa confiança até o fim”. Essa afirmação é corroborada pelo
que Jesus asseverou: “…mas aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt
10.22). “Até o fim…”. O homem só alcança a salvação plena quando aceita a
Cristo como Salvador e permanece em santidade, até a “redenção do nosso
corpo” (Rm 8.23b). Se por um lado é difícil iniciar a carreira cristã, mais difícil
ainda é continuar e terminá-la. Porém, todas as promessas futuras na
eternidade estão reservadas para os vencedores, os que completam a
carreira, como diz o apóstolo Paulo (2 Tm 4.7).

CONCLUSÃO

A superioridade de Cristo em relação a Moisés é incontestável. Moisés era


homem imperfeito e falho, mesmo tendo de Deus uma missão tão grande.
Jesus, nosso Salvador, mesmo na condição humana, em face de sua missão
salvífica, “em tudo foi tentado, mas sem pecado”. Nós, cristãos, precisamos
honrar a Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote da nossa confissão.

Jesus é Superior a Josué – O


meio de entrar no Repouso de
Deus
Jesus nos prometeu descanso? Como suas promessas
não falharão? Por que a mensagem do filho de Deus se
estabelece sobre as palavras de Josué? Vem comigo!
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O assunto central da lição desse domingo é o descanso prometido ao


povo de Deus. É hora de falarmos aos alunos sobre um conceito teológico
interessantíssimo: o tipo. O que é um tipo? Um tipo é uma figura, um
personagem, um evento ou uma ocasião que aludem a algo que se
concretizará mais adiante. Geralmente, o tipo está no Velho Testamento e
seu cumprimento, chamado de antítipo, está no Novo. O autor aos
Hebreus, aliás, se preocupa em demonstrar diversos desses tipos. O
tabernáculo é um tipo, o cordeiro é um tipo, as festas são tipos e por aí vai.
Sugiro que o professor pesquise um pouco mais sobre o assunto e traga
essas informações para seus alunos.
A palavra grega para promessa é epangelía. A junção de duas outras
palavras: epi + aggelía, sobre + mensagem. Uma mensagem sobre algo. No
mundo antigo epangelía se referia à lavratura de um termo legal de
compromisso entre duas partes.

Apesar da importância do tema da lição o descanso provido por Josué


nunca foi completo, porque o povo não se preocupou em ocupar toda a
Terra Prometida. Os filisteus no litoral, os edomitas e diversos outros povos
fustigaram o povo de Deus, de maneira que somente no reinado de
Salomão houve uma paz razoável. Estamos falando de 450 anos depois da
entrada em Canaã, quando pelo menos a 1ª, 2ª e 3ª geração já haviam
falecido. Para piorar as coisas a infidelidade, a incredulidade e a idolatria de
Israel, atraíram o castigo de Deus sobre a nação escolhida, trazendo mais
dor e sofrimento e comprometendo o descanso.
Os objetivos da lição
A lição tem três objetivos:
1) Mostrar que a mensagem de Jesus é superior a de Josué
Entenda-se mensagem como promessa. Ainda que a intenção de Josué
tenha sido das melhores, ele foi incapaz de persuadir o povo de Israel a
conquistar a Terra Prometida.

2) Mencionar a provisão de um descanso superior ao de Josué;


Ainda que Israel tivesse conquistado toda a Terra da promessa, ainda
haveria morte, dor e pecado. O descanso prometido por Cristo traz
salvação, aliança superior e, por fim, a vida eterna.

3) Apontar a superioridade da orientação de Jesus em relação à de


Josué.
É um objetivo que de alguma maneira repete os conceitos do primeiro.

Breve biografia de Josué


É muito importante iniciar a explanação desta lição, destacando os
fatos que se seguem à morte de Moisés. O professor atento deve perguntar
aos alunos quantos não vieram no domingo anterior e não tiveram contato
com as circunstâncias discutidas anteriormente.
Relembremos que Moisés falece no monte Nebo e é sepultado pelo
Senhor. Josué era um líder servidor que estivera à porta de sua tenda
(Êxodo 33:11). Tinha excelente experiência de guerra, desde Êxodo 17 o
vemos lutando para conquistar Canaã e surgiu como liderança natural do
processo de sucessão. O povo precisava entrar em Canaã e deveria ter um
líder valente e conquistador. Josué tinha exatamente este perfil.
Josué fora enviado com Calebe e outras dez pessoas a espiar a Terra
Prometida (Números 13:16,17). E ambos foram os únicos que deram um
relatório otimista da viagem. Apesar de enfatizar as dificuldades, com
gigantes e soldados valorosos dos reinos outro lado do Jordão, destacaram
que o povo podia conquistar a terra que mana leite e mel. Em Números
14:30 o Senhor fez jurar que nenhum dos demais entraria naquela terra,
porquanto foram infiéis e incrédulos.
Como já dito na introdução, não obstante Josué fosse um excelente
líder, seu ministério junto aos israelitas tinha caráter transitório. Claro que
há profundas implicações nos fatos para nós e são figuras da caminhada da
Igreja até a Canaã celestial, provimento perene de Cristo para os seus.
A mensagem da fé
A mais elevada mensagem do capítulo 4 para nós é que devemos
receber a mensagem por fé. Embora Israel houvesse testemunhado
inúmeros milagres era um povo obstinado e incrédulo. Essa incredulidade
impediu a ação de Deus no meio deles. Com grande frequência
relembravam as panelas de carne do Egito, onde segundo os
murmuradores, viviam melhor que no deserto. Há um ditado que diz: Israel
saiu do Egito, mas o Egito não saiu de Israel. Ou seja, apesar do livramento
físico, permaneciam espiritualmente cativos. Não são poucos hoje em dia
que vagam em nossas igrejas com saudades do mundo. E muitos com
vergonha de voltarem para lá, importam as coisas do mundo para dentro
da Igreja.
O segundo subponto aborda a questão da obediência, subproduto da
fé. Quando cremos nos entregamos nas mãos de Deus e obedecemos à
sua vontade. Não é uma equação difícil de compreender. Já a prática é
outra coisa bem diferente. O comentarista resgata novamente a urgência
da perseverança. Israel saiu do Egito coberto de promessas, mas somente
três pessoas chegaram ao destino. Os demais sucumbiram no deserto.
Contando que os que ficaram pelo caminho tinham vinte anos para cima ao
sair de Gósen, e que ainda viveriam muitos anos na velhice, percebemos
que uma multidão não pode entrar na terra que mana leite e mel.
O descanso total
O segundo ponto da lição vai abordar diretamente o conceito de
descanso. É impossível falar de descanso sem que relembremos a
importância do shabbat, o sábado judaico. O sétimo dia havia sido
reivindicado por Deus como uma dia adoração ao seu nome (Êxodo 20). Era
o quarto mandamento. Neste dia ninguém deveria trabalhar, sob pena de
morte. Aprendemos que não devemos mais ter dias fixos de descanso
como aquele, porque nosso descanso está em Cristo, o cumpridor da Lei.
Devemos, portanto, adorá-lo em todo momento afinal agora temos um
tabernáculo em nós mesmos (João 14:23).
Mas permanece o enigma do descanso. De fato, Deus o proveu para nós.
Compreendemos que isto aconteceu de várias formas:
1. No ato da salvação. Mateus 11:28 retrata o cansaço da humanidade:
“Vinde a mim todos que estais cansados e oprimidos e eu vos
aliviarei…”. Quando nos chegamos a Cristo encontramos descanso
porque o fardo que carregávamos o deixamos na cruz;
2. Temos descanso por não vivermos atormentados com a possibilidade
de nos perdermos eternamente. Enquanto estivermos NEle, ele estará
conosco e em nós

3. Não temos mais medo da morte. Morrer é uma possibilidade, mas


sabemos que se partirmos estaremos nos braços de Deus, de onde
ninguém jamais é capaz de nos tirar;

4. Temos descanso pela habitação de Cristo em nós. A comunhão nos


desliga dos problemas, das aflições e nos dá ânimo para a jornada;

5. Temos o descanso do seu Espírito Santo, que até mesmo ora conosco
(Romanos 8:26) e nos transmite seus dons, a antesala do Céu;

6. Por fim, temos a certeza do repouso destinado àqueles que o servirem


nesta vida.

Josué tanto era incapaz de garantir a posse de Canaã ao povo de


Israel, quanto fazê-los descansar da jornada, e muito menos levá-los ao
descanso eterno. Assim Cristo sobrepuja o corajoso patriarca ao despojar o
valente (Lucas 11:22), estabelecer sua paz em nosso coração (Efésios 2:17) e
garantir a salvação eterna (João 10:28).
Jesus: a palavra viva e eficaz
O último ponto enfatiza o valor de Cristo como garantidor da promessa,
através de sua Palavra. Nunca conseguiremos compreender o valor da
Palavra sem nos voltarmos para seu peso no mundo oriental. Era um
ambiente sem contratos, sem cartórios, estabelecido através de acordos
feitos às portas das cidades, na presença dos anciãos em que se prezava
por aquilo que se dizia. Com o passar do tempo surgem os documentos
oficiais e no tempo de Jesus já existiam vários deles, como a carta de
divórcio (Mateus 5:31, Marcos 10:4).
William Barclay conta-nos uma história para ilustra a importância da
palavra para um oriental. Certa caravana passou por um grupo não
muçulmano e os saudou tipicamente: Salam Aleikhu. Iam já longe quando
caíram em si que tinham saudado um grupo de infiéis por engano.
Voltaram e pediram a paz de volta! Era nesses termos que as coisas
funcionavam e funcionam ainda hoje em muitos lugares.
O outro lado da questão é que Jesus se apresentou como o logos de
Deus. Era um conceito conhecido dos judeus, que atribuíam poder às
palavras. Um ramo sincrético do Judaísmo, a cabala, acredita que mudando
o nome de uma pessoa que esteja doente, colocando nele letras mais
fortes, poderá recuperar sua saúde.
por sua vez, é a palavra como a expressão de um pensamento. É a
unidade primária da comunicação entre Deus e os homens, tornando
possível tal interação. Mas também é o modo como Deus se obriga, através
de suas promessas (Hebreus 6:18) e a maneira pela qual toda criatura veio
à existência e subsiste (II Pedro 3:5). Em outras palavras, Jesus é o (João 1:1)
e todas as coisas subsistem por ele (Colossenses 1:17).
Portanto, todos esses conceitos convergem para Cristo. Sua mensagem
está posta em suas Palavras. Ele revela a Deus quando fala. Esteve oculto
até ser manifestado (expressado aos homens). E é a garantia de que as
eternas promessas de Deus não falharão.
Conclusão
Assim como Josué assegurou ao povo de Israel a entrada na Terra
Prometida por fé, mas não tinha condição alguma de tornar efetiva esta
conquista, devemos crer que Deus e somente Ele é capaz de através de sua
palavra, nos fazer descansar hoje e para todo o sempre. Suas promessas
não falharão e ele nos guiará para perto de Si e de seu Filho

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