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PASTORAL CATEQUÉTICA
A Encarnação
A encarnação é chave no entendimento da missão de Cristo, pois como vimos, com a profissão de fé
Niceno-Constantinopolitana, foi exatamente para cumprir sua missão salvífica que Jesus se encarnou.
A introdução do Evangelho de S. João contém um precioso ensinamento acerca da encarnação (Jo 1,
1__14. 18). De forma especial o termo grego usados por João para indicar a carne (Sarx - sarx) é muito
profundo… "kai o logoV sarx egeneto".
"O termo grego sarx (‘carne’) - muito próximo ao termo hebraico bâsâr - designa o homem na sua
fragilidade e transitoriedade de criatura mortal. O Verbo, que ‘estava em Deus’ e que ‘era Deus’ (cf. Jo 1,
1), torna-se, então, verdadeiro homem, ser espaço-temporal, visível, palpável, mortal."
Jesus é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Cristo assume tudo o que é próprio à natureza humana, une
em si perfeitamente humanidade e divindade. Jesus não se faz pecador, não é necessário! A natureza
humana não é criada pecadora, o pecado fere a natureza do homem. É por isto que o verdadeiro valor do
homem é encontrado em Jesus Cristo. "O humanismo cristão deve ser um humanismo convertido. Não há
amor natural do qual se possa passar sem ruptura ao sobrenatural. É preciso perder a nós mesmos para nos
encontrar-mos a nós mesmos. É uma dialética espiritual que se impõe inexoravelmente, tanto à
humanidade como ao indivíduo, isto é, ao meu amor ao homem e aos homens tanto como o meu amor a
mim mesmo. Lei do êxodos, lei do ‘ekstasis’…"
O entendimento de uma humanidade pecadora de tal forma cega o homem que muitos tendem a imaginar
a humanidade de Cristo como "sobre-humana", o que é uma incoerência. Jesus assume e plenifica
exatamente o que é próprio do homem. Resta-nos mergulhar no que é o homem, e a isto nos ajuda o
cardeal Saliège: "Hoje se desculpa tudo com a palavra ‘é humano’. Pratica-se o divórcio: é humano.
Bebe-se: é humano. Cometeu-se desonestidades num exame ou num concurso: é humano. A juventude se
arruina no vício: é humano. Trabalha-se com preguiça: é humano. Cede-se ao ciúme: é humano.
Praticam-se desfalques: é humano. Não há vício algum que não se desculpe com esta fórmula. Assim se
designa com a palavra ‘humano’ aquilo que é mais desprezível, mais baixo no homem. Por vezes, até a
palavra se torna sinônimo de animalesco. Que modo estranho de falar, sendo que humano é precisamente
aquilo que nos distingue do animal. O que é a inteligência, o coração, a vontade, a consciência, a
santidade? Isto é humano."
A humanidade de Cristo não é uma "humanidade deformada", mas é antes uma humanidade plena. O
Concílio da Calcedônia declara: "perfeito na sua divindade e perfeito na sua humanidade, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem (…), consubstancial ao Pai pela divindade e consubstancial a nós pela
humanidade (…), gerado pelo Pai antes dos séculos segundo a divindade e, nos últimos tempos para nós e
para nossa salvação, por Maria, Virgem e Mãe de Deus segundo a humanidade."
Pela encarnação todo o cosmo é, de certa forma, divinizado. Segundo S. Tomás de Aquino ocorre uma
Graça de união que é fonte de todas as outras graças.
"A ‘plenitude dos tempos’ corresponde, efetivamente, uma particular plenitude da auto-comunicação de
Deus uno e trino no Espírito Santo. Foi por ‘obra do Espírito Santo’ que se realizou o mistério da união
hipostática, ou seja, da união da natureza divina com a natureza humana, da divindade e da humanidade,
na única pessoa do Verbo-Filho. Quando Maria, no momento da anunciação pronunciava o seu ‘Fiat’:
‘Faça-se em mim segundo a sua Palavra’, concebe de modo virginal um homem, o Filho do homem, que é
o Filho de Deus. Graças a esta ‘humanização’ do Verbo-Filho, a auto-comunicação de Deus atinge a sua
plenitude definitiva na história da criação e da salvação. Esta plenitude adquire uma densidade particular
e uma eloquência muito expressiva no texto do Evangelho de S. João: ‘O Verbo se fez carne’. A
encarnação de Deus Filho significa que foi assumida a unidade com Deus não apenas a natureza humana,
mas também, nesta, em certo sentido, tudo que é ‘carne’: toda a humanidade, todo o mundo visível e
material. A encarnação, por conseguinte, tem também um significado cósmico, uma dimensão cósmica. O
‘gerado antes de toda criatura’, ao se encarnar na humanidade individual de Cristo, une-se, de algum
modo, com toda a realidade do homem, que também é ‘carne’ e, nela, com toda ‘carne’, com toda a
criação".
Este texto nos insere na afirmação de St o Irineu diante dos gnósticos: "o que Cristo não assumiu ele
também não remiu…" Toda a nossa vida foi tocada pelo evento da encarnação, todo o universo. Toda
nossa vida assume uma nova expressão, pois pode ser unida à realidade da natureza humana de Cristo.
Toda ação humana pode e deve ser unida à ação do Verbo encarnado. "O Verbo de Deus habitou no
homem e fez-se Filho do homem para acostumar o homem a aprender a Deus e acostumar Deus a habitar
no homem, segundo o beneplácito do Pai".
A encarnação deve dar um novo sentido às nossas vidas, uma coragem de nascer novamente em Cristo.
Se todo o universo foi reorientado em Cristo, também nossas vidas devem ter novo significado.
A Ressurreição
Em Heb 10, 19__20 o autor esboça a vida-nova em Cristo pela ressurreição. Uma nova vida, um novo
chamado… A Ressurreição é uma conquista para nós (vide Nicéia), concede-nos vida nova em Cristo.
Um outro hino paulino nos fala muito bem de Cristo primogênito entre os mortos: (Col 1, 12__20).
Um belo texto do cardeal Ratzinger pode nos ajudar a meditar mais neste texto dentro de tudo o que já
vimos: "Então a cruz não é a ‘crucificação do homem’, no sentido de Nietzsche, mas a sua verdadeira
cura, que o salva da auto suficiência enganadora na qual só pode perder a si mesmo, negligenciando, por
causa das lentilhas vulgares da sua reputada naturalidade, a promessa infinita que está nele. Então o
caminho da cruz para a Páscoa, este desabamento de todas as seguranças terrenas e da sua falsa auto-
suficiência é a verdadeira repatriação do homem, a verdadeira harmonia cósmica, na qual Deus será ‘tudo
em todos’ (1Cor 15, 28), na qual todo o mundo é um canto de louvor a Deus e ao cordeiro pascal imolado
(Apoc 5). De fato, a cruz não é a destruição do homem; ela apenas constitui a verdadeira humanidade da
qual o novo testamento diz as palavras inescrutavelmente belas: ‘Apareceu-vos a bondade e humanidade
do nosso Salvador, Deus’ (Tit 3, 4). A humanidade de Deus, de fato ela é a verdadeira humanidade do
homem, a graça que consuma a natureza".
A religião não é para solucionar problemas deste mundo. Exemplo: JESUS CRISTO.