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SANTUÁRIO NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

PASTORAL CATEQUÉTICA

A Missão de Jesus Cristo


Missão de Cristo: Libertadora e Universal
Para iniciar nossa reflexão leremos o que o próprio Jesus ensina sobre a sua missão:
Lc 4, 17__22. --> A essência da missão de Jesus é libertadora!
Segundo este texto bíblico Jesus cumpre as promessas bíblicas de libertação. Ele anuncia o "ano da
Graça", o "ano da libertação". "O profeta Isaías (cf. Is 61, 1-2) já havia falado a respeito do Messias. Em
Nazaré, Jesus se faz intérprete de Isaías e atesta que a Palavra do profeta encontra nele o seu
cumprimento. É ele o Messias prometido, consagrado pelo Espírito do Senhor e enviado para anunciar
uma jubilosa mensagem: a libertação aos prisioneiros, a visão aos cegos, a liberdade aos oprimidos, um
ano de graça do Senhor". O homem, cativo do pecado, encontra em Jesus a sua libertação, não a partir de
suas próprias forças, mas pelos méritos de Cristo. "Por conseguinte, para uma plena compreensão da
redenção cristã, é preciso entender que o homem e a situação em que se encontra têm necessidade de
Redenção". Podemos então chegar a esta primeira afirmação sobre a missão de Jesus: Ela é
LIBERTADORA. Apenas o homem consciente de que necessita de Libertação acolhe a missão de Cristo.
Jesus é o ungido (Cristo) que vem operar a libertação para todos os homens, isto fica muito bem colocado
em 1Tim 2, 3__6.
A Missão de Cristo, salvífica por excelência, se destina a todos os homens; Jesus morreu para que todos
tenham a vida eterna, que experimentem da salvação. Consciente disto é que a Igreja compreende ser
"enviada por Deus às nações para ser ‘o sacramento universal da salvação’, esforçando-se por anunciar o
Evangelho a todos os homens". Compreendemos que a missão de Cristo é também UNIVERSAL, isto é,
destina-se a todos os homens.
O Concílio de Nicéia, no século IV em oposição ao Arianismo, declara que "por nós homens e para nossa
salvação, desceu dos céus. Encarnou-se no seio da virgem Maria e se fez homem. Foi crucificado por nós
sob Pôncio Pilatos, morreu e foi sepultado. Ao terceiro dia ressuscitou, segundo as Escrituras, subiu ao
céu, e está sentado à direita do Pai".
Podemos então afirmar com total segurança para nós mesmos: "A missão de Cristo é destinada a
mim!" - Esta é uma descoberta sem igual para o cristão que, desta forma, pode mergulhar no amor
divino, sem limites… O homem deve apossar-se de todos estes méritos de Cristo, aderir à salvação
conquistada por Jesus. É Cristo quem liberta o homem e não as suas atitudes, por melhores que estas
sejam. Esta certeza faz cair por terra o terrível erro de Pelágio que atraiu tantos para o caminho da heresia.
Não são as obras que salvam os homens, mas os méritos de Cristo. O apóstolo Paulo afirma que "quando
estávamos mortos por causa das nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo - é por Graça que sois salvos.
Com efeito, é pela Graça que vós sois salvos por meio da fé; e isso não depende de vós, é dom de Deus".
Não será em decorrência das próprias obras que o homem encontrará a sua salvação, não serão os bons
feitos que libertarão o homem do pecado, é antes de tudo sua adesão a Cristo.
Um grande perigo está em desejar conquistar o céu à custa de nossos esforços, como se deles dependesse
a nossa libertação, quando na realidade todos os nossos esforços devem estar voltados para adesão à
proposta de Cristo, uma adesão à sua missão. Não é em função da justiça pessoal, mas é pela justiça de
Cristo. Encontramos uma sutil mudança de direção, pois não devemos encontrar nesta certeza uma regra
de licenciosidade para pecar, mas um convite de aderir a Jesus e, nele, romper com o pecado. Os esforços
pessoais serão válidos, porém não como auto-redentores, mas testemunho da salvação operada por Cristo
em minha vida. "Que diremos pois? Será preciso permanecermos no pecado para que a graça se torne
abundante? Por certo que não! Visto que estamos mortos para o pecado, como viver ainda no pecado?
Não sabeis que, pondo-vos a serviço de alguém como escravos para lhe obedecer, sois escravos daqueles
a quem obedeceis, quer do pecado, que conduz à morte, quer da obediência, que conduz à justiça?"
Compreendendo a missão de Cristo como Libertadora e Universal, que conquistou-nos a vitória, basta
unicamente dizermos sim à ela com a própria vida, o que Paulo ensina muito bem: "Pois não me
envergonho do Evangelho: ele é poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, do judeu primeiro, e
depois do grego. De fato, é nele que a justiça de Deus se revela, pela fé e para fé, segundo o que está
escrito: Aquele que é justo pela fé viverá". As nossas fraquezas passam a testemunhar a eficácia do
sacrifício de Cristo e não podem mais condenar-nos. Nas minhas fraquezas sou a "ovelha desgarrada", a
"dracma perdida e reencontrada", não pelos meus esforços mas por um amor sem medidas que se
manifesta na minha fraqueza. O cardeal Yves Congar sintetiza muito bem: "Toda vida cristã é fundada na
possibilidade melhor, na realidade de um apelo(…). Esta possibilidade de ouvir um apelo e de responder-
lhe atualiza-se no máximo na conversão. O homem é capaz de modificar-se, de dar outra direção, outro
sentido a sua vida(…). É, em dúvida, por isso que Jesus reconhece uma espécie de primazia para o
pecador: é sempre ao vazio e ao defeituoso que ele se dirige; é somente o pobre que ele quer enriquecer.
Mas, no fundo, é o único que pode ser enriquecido, porque ‘não são os que tem saúde que precisam de
médico, mas os doentes’. Após ter citado este texto, Lutero evocava o de Lucas e escrevia, em 1515-
1516: ‘Só é procurada a ovelha que se perdera, só o cativo é libertado, só o pobre é enriquecido, só o
humilde é exaltado, só se enche o que está vazio, só é construído o que não existe’".

Uma Vida centrada em Jesus Cristo


Com o olhar fixo neste mistério de sua missão Divina, unimos em nossa reflexão a Encarnação/
Paixão/Ressurreição… Este mesmo mistério, que sempre esteve presente em toda história da Igreja. A
passagem de Fil 2, 4__11 é um reflexo disto, muitos estudiosos atribuem este hino a um período anterior
ao próprio Paulo e pertencente à vida litúrgica da comunidade primitiva. Meditemos neste hino.
Algumas palavras devem ser mais definidas para facilitar nosso estudo:
" Ele, que é de condição divina, não considerou como presa a agarrar o ser igual a Deus. 7Mas despojou-
se, tomando a condição de servo (…) 11e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para Glória de
Deus Pai".
Despojou-se (kénosis) --> quebrantamento radical de si mesmo.
Condição divina (morfé Teo) --> em sentido de essência.
Presa a agarrar (arpagmón) --> conservar como uma presa.
Servo # Senhor (dúlos # kírios) --> antítese profunda entre estes termos; Cristo é Senhor por sua
submissão.
Jesus é Deus, de "forma" (morfé) Divina, isto é, Ele é em sua essência Deus, "aqui forma exprime mais
do que uma aparência: é uma figura visível manifestando o ser profundo. Na encarnação ele não
considera esta sua igualdade com Deus como algo que deva "reter como uma presa" (sentido mais
preciso), mas comete este despojamento radical, que não deixa de exprimir uma ação de violência, de um
certo quebrantamento de si mesmo, pois sem deixar de seu Deus ele se encontra em "natureza" de servo.
A confissão de toda língua que Jesus é o Senhor é a essência do cristianismo. Toda nossa vida deve ser
cristocêntrica… Tudo deve assumir esta dimensão em nossas vidas, nada pode ocupar o lugar devido a
Cristo. O homem é chamado a uma nova vida de "seguimento", que estende-se além do visível, uma
verdadeira reorientação de vida conforme atesta o cardeal Ratzinger: "Assim a ‘imitação’ é, ao mesmo
tempo, algo muito exterior e algo muito interior.
Algo exterior: o andar realmente em seguimento de Jesus nas suas peregrinações pela Palestina; algo
interior: a nova orientação da existência que não tem mais os seus pontos altos no negócio, no ganho do
pão, no querer e pensar próprio, mas foi entregue à vontade de outro, de modo que o existir com Ele, o
estar à disposição dele se tornou o conteúdo propriamente dito da existência". A sua kénosis é a nossa
kénosis, o seu caminho é o nosso caminho.
Somente por Ele e n’Ele que tudo ganha sentido, nem mesmo a mais bela obra pode ser o centro da minha
vida, pois só a Ele posso chamar de Senhor. Jesus deve ser o único sol da nossa vida. Devemos mesmo
refletir em nossa conduta e escolha, percebendo o que mais nos atrai além do mistério de Cristo, quais as
reais motivações que nos impelem. A este respeito muito nos esclarece a experiência de S. Francisco de
Assis. Ele estava em plena luta por manter fiel a Ordem Franciscana àquilo que lhe havia revelado o
Senhor, quando se vê imerso na mais profunda crise de sua vida. Neste momento a intervenção de Clara
se mostra eficaz: "Não há realidade humana que escape à percepção de uma mulher. Clara tinha
adivinhado, de longe, a perturbação do irmão e, com audácia feminina, decidiu salvar Francisco de si
mesmo. (…)
‘Pai Francisco, eu sou a tua plantinha. Se tenho ou sei alguma coisa, recebi tudo de ti. Estás metido em
um bosque, Pai Francisco. Não podes ter uma visão boa. Eu estou longe e por isso me encontro em uma
posição melhor para medir as proporções. Temo que o que está acontecendo contigo seja um pequeno
problema de apreciação.
Dias atrás eu li que um mosteiro antigo dividiu-se por causa de um gatinho. Uma irmã se afeiçoou a um
gatinho. As outras olhavam feio para "dona" do gatinho e essa respondia na mesma altura, até que o
mosteiro se dividiu entre irmãs que olhavam feio para o gatinho e irmãs que gostavam do gatinho. Este já
era o único "deus" do mosteiro. Não sei se isto é histórico ou uma alegoria.
Um pequeno problema de apreciação, Pai Francisco. A coisa que amamos prende-nos. Às vezes, fico na
dúvida se é a coisa que nos prende ou nós que nos prendemos à coisa. Possivelmente não há diferença
entre um e outro. (…)
Pai Francisco, o Ideal, a Ordem, a Pobreza, são certamente uma coisa importante. Mas, levanta um pouco
os olhos; olha ao teu redor e verás uma realidade sem fim, altíssima: Deus. Se olhares para Deus, o que
tanto te preocupa vai parecer insignificante. É um pequeno problema de apreciação. Que valem nossos
pequenos ideais diante da eternidade e imensidade de Deus? Quando se olha para altura do Altíssimo,
nossos temores parecem sombras ridículas. Na altura de Deus, as coisas adquirem seu tamanho real, tudo
fica ajustado e chega a paz. (…)
Solta-te de ti mesmo e dá o salto mortal: Deus é, e basta. Solta-te do teu ideal e assume, com gosto e
felicidade, essa Realidade que supera toda realidade: Deus é, e basta. Então conhecerás a Perfeita Alegria,
a Perfeita Liberdade e a Perfeita Felicidade’.
Clara calou-se. Sem perceber, o Irmão deixava cair lágrimas tranqüilas. Uma embriaguez, parecida com o
amanhecer do mundo, apoderou-se completamente de Francisco. Sentia-se imensamente feliz".
Este perigo também nos ronda e estas mesmas palavras de Clara devem nos alertar do perigo em ficarmos
por demais presos em nossas obras e esquecermos o principal: Jesus Cristo. Nosso grande alvo é ser
possuído por Jesus e não realizar grandes obras, tudo o que fizermos deve estar orientado como
presente para Jesus e não como conquistas pessoais, sendo assim o meu valor não poderá jamais ser
medido pelo impacto das minhas obras, meu valor está no sangue de Cristo derramado. Todos os
nossos esforços devem ser orientados para mergulhar em Deus. Esta oração do tempo comum bem pode
ser nossa oração diária, uma oração de um necessitado que reconhece sua pequena medida e o imenso
amor de Deus: "Ó Deus, força daqueles que esperam em vós, sede favorável ao nosso apelo e, como nada
podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa Graça, para que possamos querer e agir
conforme a vossa vontade, seguindo os vossos mandamentos."
Toda missão da Igreja estará sempre voltada para seu compromisso com Jesus, "a tarefa fundamental da
Igreja de todos os tempos e, particularmente, do nosso é a de dirigir o olhar do homem e orientar a
consciência e experiência da humanidade inteira para o mistério de Cristo". Nosso trabalho é o anúncio de
Jesus Cristo, que se inicia por uma vida cristocêntrica. Aceitar a missão de Cristo em minha vida
necessariamente comporta uma vida vivida cristocetricamente, isto é, onde Jesus é o centro e o sentido,
onde o valor não se mede por ações e obras, mas unicamente pelo sacrifício amoroso de Cristo e nada se
dá sem antes ter recebido. Uma vida assim orientada é a vida dos santos, que satisfaziam-se unicamente
com o prazer do seu Senhor, em contraste com a mentalidade do mundo: "Para o mundo a moral ainda é
um valor e exige vê-la no cristão. Como muitas vezes não vê, e porque não aceita o pecado original, se
escandaliza e se afasta".
A consciência desta nossa fragilidade e fraqueza deve conduzir o homem a uma vida de dependência de
Deus, muito bem explicitada por S. Jerônimo em sua carta de refutação da heresia Pelagiana: "É sempre
Ele que doa, Ele que concede. Não me basta que ele tenha dado uma só vez, se depois não continua a dar.
Eu peço para receber, e quando receber, pedirei novamente. Estou ávido de receber os benefícios de
Deus, e Ele nunca se recusa a dá-los, nem eu me sacio ao receber. Quanto mais bebo, mais sede tenho.
Leio o que canta o salmista: ‘Provai e vede como é bom o Senhor’. Todos os bens que temos são uma
pequena amostra do Senhor. Quando eu considerar que cheguei à meta da virtude, possuirei o seu
princípio. De fato, ‘o início da sabedoria é o temor do Senhor’, que é ultrapassado e superado pela
caridade. Essa é a única perfeição para os homens: saberem que são imperfeitos. O Salvador diz: ‘Quando
tiverdes feito tudo, dizei: somos servos inúteis; fizemos tudo aquilo que devíamos fazer".

A Encarnação
A encarnação é chave no entendimento da missão de Cristo, pois como vimos, com a profissão de fé
Niceno-Constantinopolitana, foi exatamente para cumprir sua missão salvífica que Jesus se encarnou.
A introdução do Evangelho de S. João contém um precioso ensinamento acerca da encarnação (Jo 1,
1__14. 18). De forma especial o termo grego usados por João para indicar a carne (Sarx - sarx) é muito
profundo… "kai o logoV sarx egeneto".
"O termo grego sarx (‘carne’) - muito próximo ao termo hebraico bâsâr - designa o homem na sua
fragilidade e transitoriedade de criatura mortal. O Verbo, que ‘estava em Deus’ e que ‘era Deus’ (cf. Jo 1,
1), torna-se, então, verdadeiro homem, ser espaço-temporal, visível, palpável, mortal."
Jesus é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Cristo assume tudo o que é próprio à natureza humana, une
em si perfeitamente humanidade e divindade. Jesus não se faz pecador, não é necessário! A natureza
humana não é criada pecadora, o pecado fere a natureza do homem. É por isto que o verdadeiro valor do
homem é encontrado em Jesus Cristo. "O humanismo cristão deve ser um humanismo convertido. Não há
amor natural do qual se possa passar sem ruptura ao sobrenatural. É preciso perder a nós mesmos para nos
encontrar-mos a nós mesmos. É uma dialética espiritual que se impõe inexoravelmente, tanto à
humanidade como ao indivíduo, isto é, ao meu amor ao homem e aos homens tanto como o meu amor a
mim mesmo. Lei do êxodos, lei do ‘ekstasis’…"
O entendimento de uma humanidade pecadora de tal forma cega o homem que muitos tendem a imaginar
a humanidade de Cristo como "sobre-humana", o que é uma incoerência. Jesus assume e plenifica
exatamente o que é próprio do homem. Resta-nos mergulhar no que é o homem, e a isto nos ajuda o
cardeal Saliège: "Hoje se desculpa tudo com a palavra ‘é humano’. Pratica-se o divórcio: é humano.
Bebe-se: é humano. Cometeu-se desonestidades num exame ou num concurso: é humano. A juventude se
arruina no vício: é humano. Trabalha-se com preguiça: é humano. Cede-se ao ciúme: é humano.
Praticam-se desfalques: é humano. Não há vício algum que não se desculpe com esta fórmula. Assim se
designa com a palavra ‘humano’ aquilo que é mais desprezível, mais baixo no homem. Por vezes, até a
palavra se torna sinônimo de animalesco. Que modo estranho de falar, sendo que humano é precisamente
aquilo que nos distingue do animal. O que é a inteligência, o coração, a vontade, a consciência, a
santidade? Isto é humano."
A humanidade de Cristo não é uma "humanidade deformada", mas é antes uma humanidade plena. O
Concílio da Calcedônia declara: "perfeito na sua divindade e perfeito na sua humanidade, verdadeiro
Deus e verdadeiro homem (…), consubstancial ao Pai pela divindade e consubstancial a nós pela
humanidade (…), gerado pelo Pai antes dos séculos segundo a divindade e, nos últimos tempos para nós e
para nossa salvação, por Maria, Virgem e Mãe de Deus segundo a humanidade."
Pela encarnação todo o cosmo é, de certa forma, divinizado. Segundo S. Tomás de Aquino ocorre uma
Graça de união que é fonte de todas as outras graças.
"A ‘plenitude dos tempos’ corresponde, efetivamente, uma particular plenitude da auto-comunicação de
Deus uno e trino no Espírito Santo. Foi por ‘obra do Espírito Santo’ que se realizou o mistério da união
hipostática, ou seja, da união da natureza divina com a natureza humana, da divindade e da humanidade,
na única pessoa do Verbo-Filho. Quando Maria, no momento da anunciação pronunciava o seu ‘Fiat’:
‘Faça-se em mim segundo a sua Palavra’, concebe de modo virginal um homem, o Filho do homem, que é
o Filho de Deus. Graças a esta ‘humanização’ do Verbo-Filho, a auto-comunicação de Deus atinge a sua
plenitude definitiva na história da criação e da salvação. Esta plenitude adquire uma densidade particular
e uma eloquência muito expressiva no texto do Evangelho de S. João: ‘O Verbo se fez carne’. A
encarnação de Deus Filho significa que foi assumida a unidade com Deus não apenas a natureza humana,
mas também, nesta, em certo sentido, tudo que é ‘carne’: toda a humanidade, todo o mundo visível e
material. A encarnação, por conseguinte, tem também um significado cósmico, uma dimensão cósmica. O
‘gerado antes de toda criatura’, ao se encarnar na humanidade individual de Cristo, une-se, de algum
modo, com toda a realidade do homem, que também é ‘carne’ e, nela, com toda ‘carne’, com toda a
criação".
Este texto nos insere na afirmação de St o Irineu diante dos gnósticos: "o que Cristo não assumiu ele
também não remiu…" Toda a nossa vida foi tocada pelo evento da encarnação, todo o universo. Toda
nossa vida assume uma nova expressão, pois pode ser unida à realidade da natureza humana de Cristo.
Toda ação humana pode e deve ser unida à ação do Verbo encarnado. "O Verbo de Deus habitou no
homem e fez-se Filho do homem para acostumar o homem a aprender a Deus e acostumar Deus a habitar
no homem, segundo o beneplácito do Pai".
A encarnação deve dar um novo sentido às nossas vidas, uma coragem de nascer novamente em Cristo.
Se todo o universo foi reorientado em Cristo, também nossas vidas devem ter novo significado.

A Ressurreição
Em Heb 10, 19__20 o autor esboça a vida-nova em Cristo pela ressurreição. Uma nova vida, um novo
chamado… A Ressurreição é uma conquista para nós (vide Nicéia), concede-nos vida nova em Cristo.
Um outro hino paulino nos fala muito bem de Cristo primogênito entre os mortos: (Col 1, 12__20).
Um belo texto do cardeal Ratzinger pode nos ajudar a meditar mais neste texto dentro de tudo o que já
vimos: "Então a cruz não é a ‘crucificação do homem’, no sentido de Nietzsche, mas a sua verdadeira
cura, que o salva da auto suficiência enganadora na qual só pode perder a si mesmo, negligenciando, por
causa das lentilhas vulgares da sua reputada naturalidade, a promessa infinita que está nele. Então o
caminho da cruz para a Páscoa, este desabamento de todas as seguranças terrenas e da sua falsa auto-
suficiência é a verdadeira repatriação do homem, a verdadeira harmonia cósmica, na qual Deus será ‘tudo
em todos’ (1Cor 15, 28), na qual todo o mundo é um canto de louvor a Deus e ao cordeiro pascal imolado
(Apoc 5). De fato, a cruz não é a destruição do homem; ela apenas constitui a verdadeira humanidade da
qual o novo testamento diz as palavras inescrutavelmente belas: ‘Apareceu-vos a bondade e humanidade
do nosso Salvador, Deus’ (Tit 3, 4). A humanidade de Deus, de fato ela é a verdadeira humanidade do
homem, a graça que consuma a natureza".

A religião não é para solucionar problemas deste mundo. Exemplo: JESUS CRISTO.

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