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IRACEMA – A VIRGEM DOS LÁBIOS DE MEL

(PEÇA TEATRAL ADAPTADA DA OBRA DE JOSÉ DE ALENCAR)

PERSONAGENS
NARRADOR 1
NARRADOR 2
NARRADOR 3
NARRADOR 4
MARTIM
MOACIR
JAPI (CÃO PASTOR)
IRACEMA
ARAQUÉM (PAJÉ DA TRIBO TABAJARA)
IRAPUÂ (CHEFE DA TRIBO TABAJARA)
CAUBI (IRMÃO DE IRACEMA)
POTI (GUERREIRO PITIGUARA AMIGO DE MARTIM)
ÍNDIOS TABAJARAS E PITIGUARAS – PARA A CENA DA GUERRA
ESPÍRITOS DA FLORESTA

CENA 1

NARRADOR 1 (Enquanto as cenas narradas são executadas no palco) – Verdes mares bravios de minha terra
natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba. Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios
do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros.

NARRADOR 2 – (Enquanto as cenas narradas continuam a ser executadas no palco) – Serenai, verdes mares, e
alisai docemente a onda impetuosa para que o barco aventureiro manso resvale à flor as águas.

NARRADOR 3 – (Enquanto as cenas narradas são executadas no palco) – Três entes respiram sobre o frágil barco
que vai singrando veloz, mar a fora. Um jovem guerreiro cuja pele branca não cora o sangue americano; uma
criança e um rafeiro que nasceram nas florestas e brincam irmãos, filhos da mesma terra selvagem.

MARTIM – (Que até então aparecia de costa para o público indo em seu barco, vira-se para o público como a olhar
para a praia e grita) – Iracema!!!

NARRADOR 4 – (Enquanto as cenas são executadas no palco) – O moço guerreiro, encostado ao mastro, leva os
olhos presos na sombra fugitiva da terra; o olhar banhado por uma tênue lágrima que cai sobre as duas inocentes
criaturas, companheiras de seu infortúnio.

NARRADORES – Que deixara ele na terra do exílio? O barco salta sobre as ondas e desaparece no horizonte.
Abre-se a imensidade dos mares. Deus te leve a salvo, por entre as ondas revoltas. Enquanto move-te assim à
vontade do vento, altivo barco, deixa nestas brancas areias a mesma saudade que te acompanha.

CENA 2

NARRADOR 1 – Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. (Iracema entra
em cena) A virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longe que seu
talhe de palmeira.

NARRADOR 2 – O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito
perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria com seus graciosos e descalços pés o sertão
e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara.

NARRADOR 3 – Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta, banhava seu corpo a sombra da
oiticica, escondida na folhagem, onde os pássaros ameigavam o canto. Iracema sai do banho e repousa enquanto
os pássaros parecem cantar para ela.

NARRADOR 4 – Um rumor suspeito quebra a doce harmonia e a virgem ergue os olhos, sua vista perturba-se.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta.
Ele tem nas faces o branco das areias, nos olhos o azul triste das águas profundas. Estranhas armas e roupas
cobrem-lhe o corpo.

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NARRADORES – Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu. Gotas de sangue
borbulham na face do desconhecido. O primeiro ímpeto do guerreiro foi levar a mão à espada, mas logo sorriu. Ele
havia aprendido que a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d’alma que da ferida.

NARRADOR 1 – Durante uma caçada, Martim, o colonizador português se perde dos companheiros pitiguaras e
se impôs caminhar sem rumo durante 3 dias. No interior das matas da tribo tabajara estava Iracema, a virgem dos
lábios de mel, com seus longos cabelos e seu jeito dócil, e ao mesmo tempo corajoso e astuto.

NARRADOR 2 – Ao avistar Martim, Iracema fica surpresa e amedrontada e por ímpeto lança sua flecha que acaba
por feri-lo. Desesperada, sentindo o coração bater mais forte corre para socorrê-lo.

IRACEMA – Guerreiro Branco está bem?

MARTIM – Quebra comigo a flecha da paz!

IRACEMA – Como sabes minha língua, vieste de onde?

MARTIM – Vim de muito longe, da terra que foram dos seus irmãos agora é dos meus.

IRACEMA – Sou da tribo dos potiguaras. Vamos ao encontro de Araquém ele saberá cuidar de você.

CENA 3

NARRADOR 3 - Esse momento não será apenas um encontro entre 2 culturas diferentes, ameríndios e europeus.
Pois, despertar nos corações desses jovens algo a mais. Então Iracema tem que salvá-lo levando o estrangeiro ao
encontro de seu pai, Araquém grande índio pajé da nação tabajara.

IRACEMA – (Chegando à aldeia trazendo consigo Martim ferido) Desejo falar com pai Araquém! (para Araquém)
Ele veio, pai, homem branco chegou das terras dos pitiguaras, mas é do bem. Homem branco pode ficar aqui?

ARAQUÉM – Veio bem. É Tupã que traz o hóspede à cabana de Araquém. Mas filha minha, tu bem sabes que
não podes ser tocada. Agora desejo ver homem branco! (para Martim entregando-lhe o cachimbo) Seja bem-vindo
a taba de Araquém! Aqui terá à sua disposição mil virgens todas as noites para lhe servir e mil guerreiros.

MARTIM – E Iracema?

ARAQUÉM – Iracema não pode ser sua! Iracema tem que servir o pajé com a bebida que só ela pode preparar.
Iracema guarda o segredo de jurema, se ela for sua, ela morrerá!

MARTIM – Então vou repousar em sua taba e amanhã seguirei meu caminho.

ARAQUÉM – Homem branco pode descansar...

CENA 4

NARRADOR 4 - Naquela noite, o chefe Arapuã, que estava a dias a espionar o colonizador, iria acomodá-lo junto
aos inimigos pitiguaras, uma tribo vizinha que já tinha acolhido os amigos de Martim. Martim então se preocupa
com seu destino e aproveitando a escuridão da noite prepara a sua fuga daquela aldeia. Mas à noite na mata surge
Iracema.

IRACEMA – Por que homem branco vai embora?

MARTIM - Tenho que encontrar meus amigos nos campos dos pitiguaras.

IRACEMA – Se homem branco gostasse mesmo de Iracema, homem branco não iria embora. Meu irmão Caubi
voltará e saberá que homem branco também queria amar.

NARRADOR 1 – Porém essa noite lhe reservava mais uma surpresa. Desta vez o guerreiro Irapuã, chefe da tribo
das tabajaras, sentiu a falta de Iracema durante as festividades e saiu seguindo o rastro dela... Enquanto isso,
Iracema enamorada pelo europeu Martim, o faz experimentar o segredo da jurema. Mantendo com isso, um vínculo
mais forte entre os dois.

IRACEMA – Por que homem branco está triste? Está com saudades de sua namorada branca? Te contarei o
segredo da jurema para ver namorada branca novamente.

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NESTE MOMENTO AMBOS, IRACEMA E MARTIM, SERÃO CERCADOS POR “ESPÍRITOS DA FLORESTA”,
ENQUANTO O CASAL SE ABRAÇA NUMA REPRESENTAÇÃO DA ENTREGA DO SEGREDO DA JUREMA A
MARTIM (MÚSICA DE TENSÃO). AO FIM DA COREOGRAFIA OS ESPÍRITOS SAEM DE CENA E LEVAM
IRACEMA ESCONDIDA DO PÚBLICO, DEIXANDO SÓ MARTIM JOGADO AO CHÃO EM CENA.

CENA 5

MARTIM (acordando a gritar) – Iracema! Iracema! Iracema!

IRACEMA (voltando à cena) – Tudo bem guerreiro branco!

IRAPUÃ (entrando em cena) – IRACEMA!

IRACEMA (para Irapuã) – O que está fazendo no bosque de jurema?

IRAPUÃ - Se não se afastar de Martim eu o matarei!

IRACEMA – Ele não irá morrer, pois verá quem está lhe protegendo.

IRAPUÃ – Então não serve para a guerra, já que se deixa proteger por uma mulher.

NARRADOR 2 – Irapuã sai e deixa os dois. Mas foi convocar os guerreiros tabajaras e preparar a sua tribo para
uma guerra contra os pitiguaras, pois eles estavam permitindo a entrada dos brancos. Durante a preparação da
tribo, Iracema conversava ingenuamente com Martim sobre a noiva que ele abandonou, embora esteja triste, havia
pedido ao seu irmão Caubi para guiar seu amado pela floresta e arranjar um esconderijo seguro para os dois.

MARTIM – Iracema por que você está triste?

IRACEMA – Porque homem branco vai embora.

MARTIM – Se for para o teu bem, ficarei e te amarei.

IRACEMA – Não, você não entende! Você não pode ficar comigo. Eu sou filha de Araquém! Se ficar comigo
morrerei!

MARTIM (percebendo a chegada de Caubi) – Olha seu irmão ai!

CAUBI – Olá! Índio branco!

MARTIM – É você que irá me guiar pela mata?

CAUBI – Sim! Eu conheço tudo por aqui.

MARTIM (beija Iracema) – Adeus Iracema!

IRACEMA – Adeus!

CENA 6

NARRADOR 3 - Durante a caminhada pela mata Martim conta a Caubi sobre seu amigo Poti, um índio pertencente
a tribo inimiga dos tabajaras, que o ajudará a se encontrar com Iracema. Caubi conta a Martim sobre a guerra que
a tribo dos tabajaras estava preparando contra os pitiguaras, e o aconselha a fugir com sua amada Iracema. Martim
é levado ao esconderijo e lá está a sua espera seu amigo Poti, guerreiro pitiguara e Iracema. Poti se
responsabilizara por proteger os dois vigiando para defendê-los dos perigos.

MARTIM E IRACEMA ESTÃO SOZINHOS E FELIZES NO ESCODERIJO, ENTRE BEIJOS E ABRAÇOS, ELES
SE DEITAM PARA DESCANSAR.

POTI (entrando em cena apressado aos gritos) – Martim, Iracema, acordem, os tabajaras estão te perseguindo!!!

MARTIM – Leve minha amada. Eu ficarei pra morrer!

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IRACEMA E POTI – NÃO!!!

IRACEMA – Nunca te deixarei!

POTI – Vamos!

NARADOR 4 – Os três se dividiram pela mata, já desciam o sol nas extremidades do céu e as flechas dos tabajaras
aconteciam... (em cena, mais ao fundo do palco, tabajaras e pitiguaras estão em guerra, Iracema e Martim
encontram-se um pouco mais a frente do palco, como que escondidos) Sabendo que não corriam risco de serem
pegos, Martim clama pelo segredo da jurema que só a índia Iracema poderia lhe oferecer, ele se lembrava do
último encontro com a índia, dos momentos de amor que imaginava ser apenas sonhos.

CENA 7

MARTIM – Como queria beijá-la, acariciá-la. Alguém poderia me dar mais vinho para eu poder adormecer, só
posso ter você em meus sonhos!

NARRADORES – A índia apaixonada se aproxima e põe a mão no peito do guerreiro branco, pois a filha dos
tabajaras já deixou os campos de seus pais e agora já podia contar o que de fato se passou.

IRACEMA – Martim, nada daquilo que você sonhou foi um sonho, foi tudo uma realidade, tudo aconteceu. Vamos
ao encontro de Poti.

NARRADORES – Eles saem em busca de Poti para confirmar o acontecido. Os olhos de Poti se enchem de alegria
ao vê-los a salvo e o guerreiro conta a Martim toda a verdade.

MARTIM – Isso tudo foi real?

POTI – Sim, agora ela é sua esposa, pois vocês tiveram uma noite de amor. Agora vamos os potiguaras estão nos
seguindo.

MARTIM – Leve a minha amada. Eu devo ficar e morrer!

IRACEMA (Abraçando Martim) – Não te deixarei!

POTI – NÃO! Iremos nós três.

NARRADOR 1 – Poti levou o cristão aonde crescia um frondoso jatobá que afrontava as árvores e permitia ao sol
deitar-se sobre o casal. Três sois haviam passado desde que Martim e Iracema estavam em terras pitiguaras,
enquanto isso Poti vigiava a fúria dos tabajaras.

POTI (aos gritos em off) – Martim, Martim!!!

MARTIM – É o grito do meu amigo Poti. Vamos!

IRACEMA – Estou com medo!

MARTIM – Pois irei para evitar esse conflito!

POTI (Entrando em cena) – Vim sozinho para levar meu amigo Martim! Vamos!

MARTIM E IRACEMA SE ABRAÇAM.

CENA 8

NARRADOR 2 (Ao fundo do palco a guerra entre tabajaras e pitiguaras) – A floresta tremia com o caminhar do
povo tabajara, enquanto os pitiguaras recebem o primeiro ímpeto do inimigo nas pontas arremessadas de suas
flechas e a luta se crava passo a passo. Já subia o sol as alturas do céu. Martim e Iracema seguiam além das
barras da Piraquara.

IRACEMA – Olha Martim, que terra linda, maravilhosa. Aqui vamos construir a nossa nova nação.

MARTIM – Sendo assim, vou mandar buscar todos os meus soldados para nos proteger.

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IRACEMA – Aqui vamos criar nossa família!

NARRADOR 3 - Iracema carregava agora em seu ventre a união de duas raças. Porém, a tristeza tomou conta de
seu coração e a saudade que alimentava de seu povo tabajara levou-a a cismar com seu amado.

IRACEMA – Sei que está com saudades de sua namorada branca.

MARTIM – Não estou!

IRACEMA – Assim que nosso filho nascer sairei da sua vida!

NARRADOR 4 – Martim levou seus passos sozinho para além. Caminhando sem destino a procura do mar.
Iracema solitária nos pensamentos, a voz do esposo calou e seus olhos se baixam. A formosa selvagem desfez
seu sorriso como se desfaz a flor do fruto que desaponta. A sua barriga crescia e dentro dela o curumim se
desenvolvia. Passados muitos sois, Iracema sente romper a bolsa d’água, e o primeiro filho que o sangue da raça
branca gerara nessa terra de liberdade.

NARRADORES – A jovem mãe pois o nome do seu filho de Moacir, e este viu a luz dos campos. Ela o entrega
nas mãos de seu amado, mas infelizmente a desventurada mãe vem a falecer. Foi enterrada ao pé de um coqueiro.
Assim, quando o vento do mar sopra nas folhas, Iracema pensará que é a voz de seu amado que fala entre seus
cabelos. Desde então, ao ouvir as folhas do coqueiro balançarem e o som da jandaia, os pitiguaras se afastam
com a alma cheia de tristeza. Foi assim que um dia veio a chamar-se Ceará, o rio onde crescia o coqueiro e os
campos onde serpeja o rio.

Cena 9

REPETEM-SE AS AÇÕES DA CENA 1 SEM NARRAÇÃO ALGUMA. APENAS UMA MÚSICA TRISTE E O GRITO
DE MARTIM COM SAUDADE DE IRACEMA.

MARTIM – Iracema!!!

FIM

PROFESSOR ZECA ROLAND – 2023

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