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Literatura

brasileira
Prof. Dr. Adalberto Rafael Guimarães
© Prof. Dr. Rafael Guimarães
Romantismo
SÉCULO XIX (1836 a 1881)

“Romântico é uma espécie em extinção”.


Vander Lee

© Prof. Dr. Rafael Guimarães


Contexto histórico
 ORIGEM: França/Alemanha (Europa).
 ORIGEM: Final do século XVIII.
 França é a grande impulsionadora do
Romantismo.
 Revolução Francesa (1789-1799) & Revolução
Industrial.
 Apogeu da Burguesia.
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Um mundo em mudança
 REVOLUÇÃO FRANCESA
Após a Revolução Francesa, o absolutismo entrou
em crise, a monarquia entrou em colapso em
apenas três anos, cedendo lugar ao LIBERALISMO
(doutrina fundamentada na crença da capacidade
individual do homem).
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Um mundo em mudança
 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A Revolução Industrial gerou novos investimentos
que buscavam solucionar os problemas técnicos
decorrentes do aumento de produção. Sua
consequência mais evidente foi a divisão do
trabalho e o início da especialização da mão-de-
obra.
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Liberdade Guiando o Povo, Eugene Delacroix. 1830. © Prof. Dr. Rafael Guimarães
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3 de maio, Francisco de Goya (1746 – 1828).
O quadro de Goya é um exemplo do compromisso
da arte romântica com os ideais de liberdade e
com as denúncias de injustiças sociais e de
crueldade humana. O tema da pintura é a matança
de civis espanhóis pelas tropas francesas de
Napoleão, que invadiram Madri.
Os soldados sem rosto, como robôs, fuzilam
pessoas apanhadas a esmo pelas ruas, a fim de
que sirvam de exemplo a quem quer que pense em
resistir aos9 invasores.
Um mundo em mudança
O primeiro efeito favorável da
vitória BURGUESA para a literatura
reside no Artigo Onze da Declaração
de Direitos do Homem e do Cidadão:
10
Um mundo em mudança
"A livre comunicação dos
pensamentos e opiniões é um dos
direitos mais preciosos do homem;
todo cidadão pode portanto falar,
escrever, imprimir livremente."
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Um mundo em mudança
Como afirma um historiador, "cada
francês é agora um escritor em
potencial, todas as Bastilhas acadêmicas
caem por terra e uma aventura da
palavra escrita está acontecendo."
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Lema do romantismo
Liberdade de
criação e expressão.
13
Um mundo em mudança
 FRANÇA - Era do Liberalismo
Um novo sentido de vida, baseado na livre
iniciativa, exalta a audácia, a competência e os
méritos pessoais de cada indivíduo,
independentemente de seus títulos e seus
antepassados.
14
Um mundo em mudança
 FRANÇA - Era do Liberalismo

Na França, sobretudo, permite-se não apenas


a extinção dos privilégios seculares, mas
também o fim das barreiras rígidas entre as
classes sociais.
15
Um mundo em mudança
 Difusão do Livro, especialmente por
meio dos romances de folhetim.
 Lema do escritor romântico:
“Conquistar o público e vender suas
obras para sobreviver”.
16
José Ferraz de Almeida
Junior. 1892. “Leitura”.

Nasce, durante o
Romantismo, um mercado
interno de consumo de
literatura, contribuindo para
aumentar aos poucos os
número de leitores.

17
José Ferraz de Almeida
Junior. 1892. “Moça com
Livro”.

No século XIX,
representações de mulheres
lendo passam a ser cada vez
mais frequentes na pintura.
Este quadro sugere a relação
que pode haver entre ler,
refletir e sonhar.

18
VICTOR HUGO,
“Gigante da Literatura.”

* 26/02/1802
+ 22/05/1885
A difusão do livro – especialmente
através do romance de folhetim – permitiu
que muitos escritores do Romantismo
vivessem de seus direitos autorais. Foi o
caso de Victor Hugo, aqui caricaturado
como um gigante da área literária.

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Sistema literário
 Nova relação entre público e artista
romântico.
 O artista deixa sua condição de
empregado de uma corte ou de uma
igreja. Quem pagasse ingresso podia
apreciar o espetáculo.
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Sistema literário
 Necessidade de causar impacto no
leitor/plateia.
 Qual o preço da liberdade artística?
 Arte torna-se objeto de compra e
venda.
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Caricatura de Frans Liszt, músico romântico. (1811-1886).
Sistema literário
 As obras românticas vão retratar uma
visão de mundo baseada na liberdade de
pensamento, crença e expressões;
 O público alvo dos artistas românticos
pertence à nova classe que surge:
burgueses.
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Um mundo em mudança
 1811: Independência do Paraguai;
 1816: Independência da Argentina
 1817: Independência da Venezuela;
 1818: Independência do Chile;
 1821: Independência do Equador, Peru e México;
 1822: Independência do Brasil;
 1824: Independência da América Central;
 1825: A Bolívia desmembra-se do Peru;
 1828: O Uruguai independe-se do Brasil.
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Características
1. Expressão plena dos estados da alma, das
paixões e das emoções;
2. Exaltação da liberdade individual e social;
3. Gosto por ambientes solitários e noturnos,
considerados mais propícios às confidências e
aos desabafos sentimentais.
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Características
4. Presença de paisagens escuras, ideias tristes e
de morte aparecem para tornar o sofrimento
amoroso ainda mais doído e até mesmo mórbido;
5. Visão da Natureza como exemplo da
manifestação do poder de Deus e como refúgio
acolhedor para o homem que busca escapar das
perturbações da vida em sociedade.
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Características
6. Liberdade de ser, de sentir e de agir é
celebrada pelos românticos;
7. Oposição ao modelo clássico;
8. Estrutura do texto em prosa, longo;
9. Desenvolvimento de um núcleo central;
10. Narrativa ampla refletindo uma sequência de
tempo;
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Características
11. O indivíduo passa a ser o centro das atenções;
12. Idealização da sociedade, do Amor e da Mulher;
13. Surgimento de um público consumidor (folhetim);
14. Uso de versos livres e versos brancos;
15. Exaltação do Nacionalismo, da Natureza e da
Pátria;
16. Criação de um Herói Nacional;
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Características
17. Sentimentalismo e Supervalorização das
emoções pessoais;
18. Subjetivismo e Egocentrismo;
19. Saudades da infância – Saudosismo,
Nostalgia;
20. Fuga da Realidade – ESCAPISMO:
natureza / sonho;
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morte / suicídio.
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ROMANTISMO

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Oposição ao Clássico
 A arte, que antes era de caráter nobre
e erudita, passa a valorizar o
FOLCLÓRICO e o NACIONAL (ufanismo).
 A arte extrapola as barreiras
impostas pela Corte e começa a ganhar
a atenção do “POVO”.
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Oposição ao Clássico
É o surgimento DO PÚBLICO
CONSUMIDOR, impulsionado no
Brasil pelo folhetim, uma
literatura mais acessível.
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Subjetivismo
 O escritor do Romantismo quer
retratar em sua obra uma realidade
interior e parcial. Trata os assuntos de
uma forma pessoal, de acordo com o
que sente, aproximando-se da fantasia.
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Subjetivismo
“O romântico mergulha cada vez mais na própria
alma, a examinar-lhe mórbida e masoquistamente
com o intento único de revelá-la e confessá-la. E
embora confesse tempestades íntimas ou
fraquezas sentimentais, experimenta um prazer
agridoce em fazê-lo, certo da superior dignidade do
sofrimento.”
MASSAUD MOISÉS
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Caspar David
Friedrich, Caminhante
sobre o mar de névoa,
1817.

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SOZINHO no alto de uma
montanha, no meio da neblina,
alguém observa o esplendor e a
majestade da NATUREZA.
O homem do Romantismo
frequentemente procura se isolar
do ambiente urbano, buscando na
natureza um momento de Paz
Interior, de Encontro consigo
mesmo, para meditar sobre a
Vida, o Criador, o Destino.

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O sono da razão
produz monstros,
Francisco de Goya,
1797-1798.

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Nessa gravura, um
artista dorme sobre a
mesa de trabalho. Assim
que ele adormece, sua
FANTASIA não é mais
controlada pela RAZÃO,
e do fundo de sua mente
surgem os monstros que
lá vivem.

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Idealização
 Motivado pela fantasia e pela
imaginação, o artista do romantismo
passa a idealizar tudo; as coisas não
são vistas como realmente são, mas
como deveriam ser segundo uma ótica
pessoal.
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Idealização
Assim:
1. A PÁTRIA é sempre PERFEITA;
2. A MULHER quase sempre é retratada como
VIRGEM, FRÁGIL, BELA, SUBMISSA e
INATINGÍVEL;
3. O AMOR é quase sempre espiritual e
inalcançável.
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Sentimentalismo E
saudosismo
 No Romantismo, exaltam-se os sentidos e
tudo o que é provocado pelo impulso. Certos
sentimentos como a saudade (saudosismo),
a tristeza, a nostalgia (da infância, do
passado) e a desilusão são constantes na
obra romântica.
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Egocentrismo no
romantismo
 Cultua-se o “EU” interior, atitude narcisista
em que o individualismo prevalece:
MICROCOSMOS (mundo interior)
VERSUS MACROCOSMOS (mundo exterior)
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Egocentrismo
 “ Em lugar do universalismo clássico
opõem um conceito de arte extremamente
individualista: substituem a visão
macrocósmica, pela microcósmica,
centrada no “eu” interior de cada um”.
MASSAUD MOISÉS

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Liberdade de criação
 Todo tipo de padrão clássico preestabelecido
é abolido. O escritor do Romantismo recusa
formas poéticas, usa o verso livre e branco,
libertando se dos modelos greco-latinos, tão
valorizados pelos clássicos, e aproximando
se da linguagem coloquial.
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Liberdade de criação
 “Os românticos revoltam-se contra as regras,
os modelos, as normas, batem-se pela total
liberdade na criação artística e defendem a
mistura e a “impureza” dos gêneros literários. Em
lugar da ordem clássica, colocam a aventura,
preferem o caos ou a anarquia, ao universalismo
clássico .”
MASSAUD MOISÉS
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Pessimismo
 Conhecido como o “MAL DO SÉCULO”. O
artista se vê diante da impossibilidade de
realizar o sonho do “eu” e, desse modo, cai em
profunda tristeza, angústia, solidão,
inquietação, desespero, frustração, levando-o
muitas vezes ao suicídio, solução definitiva
para o mal do século.
51
Pessimismo
“ Imerso no caos interior, o poeta do romantismo acaba
por sentir melancolia e tristeza que, cultivadas ou
meramente nascidas e continuadas durante a
introversão, o levam ao TÉDIO, ao “MAL DO SÉCULO”.
Após o tédio sobrevém uma terrível angústia logo
transformada em insuportável desespero. Para sair dele,
o romântico só encontra duas saídas: a fuga pelo suicídio
ou a fuga para a natureza, a pátria, as terras exóticas, a
História”.
MASSAUD MOISÉS
52
O Pesadelo, de
Henri Fuselli.
1781.

53
Nessa tela, um
íncubo, espírito maligno
que provoca maus
sonhos, está sentado
sobre o corpo de uma
mulher, comprimindo-a
e fazendo-a tombar
numa vertigem
angustiada.
Uma misteriosa
cabeça de animal surge
à esquerda, no meio
das sombras,
reforçando o clima
aterrador da cena.

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Escapismo Psicológico
Espécie de FUGA.
Já que o Romantismo não aceita a
realidade, volta ao passado, individual
(fatos ligados ao seu próprio passado, a
sua infância) ou histórico (época
medieval).
55
Religiosidade
Como uma reação ao Racionalismo
materialista dos clássicos, a vida espiritual
e a crença em Deus são enfocadas como
pontos de apoio ou válvulas de escape
diante das frustrações do mundo real.
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Religiosidade
“ Contrapondo-se aos mitos pagãos
do classicismo, os românticos
pretendem a reabilitação do
cristianismo anterior as lutas da
Reforma e Contrarreforma.”
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Culto ao Fantástico
A presença do mistério, do
sobrenatural, representando o sonho, a
imaginação; frutos de pura fantasia, que
não carecem da fundamentação lógica,
do uso da razão.
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Nativismo
Fascinação pela Natureza. O artista se vê
totalmente envolvidos por paisagens exóticas,
como se ele fosse uma continuação da
natureza. Muitas vezes, o NACIONALISMO do
Romantismo é exaltado através da natureza, da
força da paisagem.
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Nativismo
A Natureza é vista como uma extensão da
pátria ou refúgio à vida agitada dos centros
urbanos do século XIX. A exaltação à
natureza ganha contornos de
prolongamento do escritor e de seu estado
emocional.
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Nativismo
A Natureza é procurada como confidente passiva e
fiel, e um consolo nas horas amargas: deixando de
ser pano de fundo, como era concebida entre os
clássicos, a Natureza torna-se individualizada,
personificada, mas só atua como reflexo do eu, se
triste o romântico, a natureza também o é, pois ela
constitui fundamentalmente “um estado da alma”.
61
Nacionalismo ou
Patriotismo
Exaltação da Pátria de forma
exagerada, UFANISTA, em que
somente as qualidades são
enaltecidas.
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Nacionalismo ou
Patriotismo
Os românticos pregam o nacionalismo,
incentivam a exaltação da natureza
pátria, o retorno ao passado histórico e
a criação do herói nacional.
63
Nacionalismo ou
Patriotismo
Na literatura europeia, os heróis nacionais
são belos e valentes cavaleiros medievais.
Na brasileira são os índios, igualmente
belos, valentes e civilizados.

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Condoreirismo
Corrente de POESIA POLÍTICO-SOCIAL,
com grande repercussão entre os poetas da
terceira geração romântica. Os poetas
condoreiros, influenciados pelo escritor Victor
Hugo, defendem a justiça social e a liberdade.

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byronismo
Atitude amplamente cultivada entre os poetas da
segunda geração romântica e relacionada ao poeta
inglês Lord Byron. Caracteriza-se por mostrar um
estilo de vida boêmia, noturna, voltada para o vício e os
prazeres da bebida, do fumo e do sexo.
Sua forma de ver o mundo é egocêntrica, narcisista,
pessimista, angustiada e, por vezes, satânica.
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byronismo

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LIBERALISMO

O EU, O
INDIVIDUALISMO, O EVASÃO
SUBJETIVISMO DO MUNDO

NACIONALISMO

ALHEAMENTO NO
TEMPO ESPAÇO

O FANTÁSTICO, O TERROR, O
O DIFERENTE, O VIOLENTO, O
MISTERIOSO MACABRO68
Romantismo no brasil
 Esse movimento chegou ao Brasil
em FINAIS do século XVIII.
 Publicação de “Suspiros Poéticos e
Saudades ”, de Gonçalves de
Magalhães, em 1836.
69
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O nacionalismo como projeto
Nesse mesmo ano, 1836, é lançada em Paris,
por iniciativa de Gonçalves de Magalhães,
Araújo Porto-Alegre, Torres Homem e
Pereira da Silva, a REVISTA NITERÓI, que se
torna uma espécie de porta-voz das novas
ideias românticas no Brasil.
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72 © Prof. Dr. Rafael Guimarães
O nacionalismo como projeto
O principal Fato Histórico que permeia o
Romantismo no Brasil é a chegada da
Família Real Portuguesa, em 1808, fugindo
do exército francês, que sob as ordens de
Napoleão Bonaparte, avançava sobre
Lisboa.
73 © Prof. Dr. Rafael Guimarães
O nacionalismo como projeto
O rei D. João VI e sua corte, ajudados pelos
ingleses, transferiram-se para o Rio de
Janeiro (na época com 100 mil habitantes, 46
ruas, quatro travessas, seis becos e 19
praças), enquanto esperavam que a situação
melhorasse em Portugal.
74 © Prof. Dr. Rafael Guimarães
O nacionalismo como projeto
Nesse período, o país deixou oficialmente de
ser uma colônia de exploração e passou a ser a
sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarves. Com isso, uma série de
modernizações começou a ocorrer no país
durante os anos em que esteve no Brasil
(de 1808 a 1821).
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O nacionalismo como projeto
Algumas das principais delas são:
• Criação da imprensa brasileira que até então
era proibida pelo governo português
(futuramente favoreceria a imprensa
periódica, a atividade editorial e a divulgação
das ideias de independência política);
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O nacionalismo como projeto
• Desenvolvimento de várias expressões
artísticas, como as artes plásticas, a música e
o teatro (1826);
• Construção do Museu Nacional em 06 de
junho de 1818 (incendiado em 2018);
• Fundação do Banco do Brasil em 12 de
outubro de 1808;
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O nacionalismo como projeto
• Decreto de Abertura Dos Portos às Nações
Amigas, em 28 de janeiro de 1808, em Salvador;
• Criação do Ministério da Marinha (1822), das
Relações Exteriores (1821) e do Tribunal do Tesouro
Público Nacional (1808), assim como a fundação da
Casa de Suplicação do Brasil (atual Supremo
Tribunal da Justiça) em 10 de maio de 1808.
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O nacionalismo como projeto
Na época, a Família Real trouxe com ela o espírito
da Europa: o Romantismo europeu incipiente que
acabaria influenciando culturalmente o Brasil.
Veio a Independência do Brasil e com ela, a
importância de se exaltar nossa cultura, torná-la
independente da Europa e promover nossas
belezas tropicais e nossos índios.
79
O nacionalismo como projeto
Envolvidos pelo entusiasmo nacionalista
gerado pela Proclamação da Independência,
em 1822, os escritores românticos
engajaram-se também no PROJETO DE
CRIAÇÃO DE UMA LITERATURA
AUTENTICAMENTE NACIONAL.
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O nacionalismo como projeto
Nossos escritores começaram então a se
preocupar com alguns assuntos até aquele
momento esquecidos ou não abordados nas
obras da época: o subjetivismo, a liberdade
individual e uma preocupação com os
assuntos sociais.
81
O nacionalismo como projeto
Antonio Candido chama o esforço para essa
realização de “ATO DE BRASILIDADE”.
Esse compromisso de “brasilidade” repercute na
escolha dos temas ligados à nossa realidade social
e histórica e na própria linguagem usada pelos
escritores, que abandonaram aos poucos o tom
lusitano em favor de um estilo mais próximo da fala
brasileira.
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O nacionalismo como projeto
A postura romântica provocou forte reação dos
tradicionalistas, que achavam que nossos
escritores deveriam continuar fiéis à linguagem
literária praticada em Portugal. Tal revolução na
linguagem foi uma contribuição importante do
Romantismo, tendo sido retomada no século XX pelo
Modernismo.
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Emoção e Sentimentalismo
A literatura romântica, em geral, ocorria num
ambiente doméstico, em meio a afazeres
tipicamente femininos, e era feita em voz alta: uma
pessoa lia e as outras ouviam.
O número de pessoas alfabetizadas no Brasil, nessa
época, era muito pequeno. Logo, havia mais
ouvintes do que leitores.
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Emoção e Sentimentalismo
Os leitores visados por essa literatura
sentimental eram sobretudo as mulheres,
pois a leitura de histórias ou poesias
românticas não era considerada ocupação
para os homens, que deveriam se dedicar a
outras atividades.
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O Indianismo: expressão do
Nacionalismo romântico
Na Europa, os escritores românticos voltavam-
se para os ideais medievais, valorizando e
mitificando os heróis que ajudaram a constituir
suas nações. No Brasil, uma das formas
assumidas pelo Nacionalismo romântico foi o
Indianismo.
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O Indianismo: expressão do
Nacionalismo romântico
O indígena, na literatura romântica, é uma
figura idealizada e seu comportamento
reflete os modelos heroicos consagrados
pela civilização europeia: nobre, valoroso,
fiel e cavalheiro.
O Indianismo: expressão do
Nacionalismo romântico
Filho das florestas virgens da América, é um
SÍMBOLO do espírito jovem e independente
da nação.
Os autores que mais se destacaram na linha
indianista foram: José de Alencar, na prosa, e
Gonçalves Dias, na poesia.
A Carta de Caminha, o
Nacionalismo e o Indianismo
Os indígenas que viviam no Brasil, no século
XIX, pouco tinham a ver com os personagens
que povoavam a literatura romântica.
Serviam apenas de inspiração para a
elaboração de heróis com características
europeias.
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A Carta de Caminha, o
Nacionalismo e o Indianismo
Emprestar ao indígena qualidades
cavalheirescas, fazê-lo herói de lendas,
símbolo da terra e da pátria era um meio de
criar o passado mítico necessário ao orgulho
nacional.
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A Carta de Caminha, o
Nacionalismo e o Indianismo
A construção dessa identidade fictícia, o mito do
“bom selvagem”, nasceu em partes dos relatos
apresentados aos portugueses, como a Carta de
Pero Vaz de Caminha, escrita em 1500 e que só
seria publicada em 1817, nos quais eram
descritos os povos que viviam aqui.
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A Carta de Caminha, o
Nacionalismo e o Indianismo
A integridade física e cultural das nações
indígenas pouco interessava de fato aos
portugueses. Desde o século XIV, os índios
vinham sendo exterminados: quando não eram
mortos, sua cultura era esmagada pelos valores
europeus. Vejamos o trecho de documento
assinado por D. João VI, em 13 de maio de 1808.
Que desde o momento, em que receberdes esta minha Carta Régia,
deveis considerar como principiada contra estes índios antropófagos
uma guerra ofensiva que continuareis sempre em todos os anos nas
estações secas e que não terá fim, senão quando tiverdes a felicidade de
vos senhorear de suas habitações e de os capacitar da superioridade das
minhas reais armas de maneira tal que movidos do justo terror das
mesmas, peçam a paz e sujeitando-se ao doce jugo das leis e
prometendo viver em sociedade, possam vir a ser vassalos úteis, como já
o são as imensas variedades de índios que nestes meus vastos Estados
do Brasil se acham aldeados e gozam da felicidade que é consequência
necessária do estado social. [...] Que sejam considerados como
prisioneiros de guerra todos os índios Botocudos que se tomarem com as
armas na mão em qualquer ataque. [...]
O índio na ópera
O músico brasileiro Antônio Carlos Gomes
(1836-1896) compôs a ópera “O Guarani”,
inspirada no romance de José de Alencar.
Depois de se destacar na literatura, o índio
brasileiro ganhava nos palcos do teatro seu
caráter definitivo de simples motivo artístico.
O índio na ópera
Foi o primeiro sucesso de uma obra musical
brasileira no exterior. Carlos Gomes começou
sua composição entre 1867 e 1868, mas ela só
foi finalizada mais tarde e teve sua estreia no
dia 19 de março de 1870, no Teatro Alla Scalla de
Milão, na Itália.
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O nascimento dos
folhetins no Brasil
Faziam parte dos jornais os folhetins, histórias
publicadas em capítulos. Quando uma delas
fazia sucesso, era lançada em forma de livro.
Assim nasceram quase todos os romances
importantes do século XIX no Brasil.
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O nascimento dos
folhetins no Brasil
O folhetim que levou o romance a um público cada dia
mais numeroso e fiel, graças à técnica do corte, muito
sua, de interessar o leitor, de prendê-lo ao desenrolar
da intriga. Interrupção no momento culminante de
uma cena ou sequência de cenas para que o leitor
voltasse ao romance na publicação imediata.
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Prosa romântica
brasileira
A prosa literária brasileira teve início, de fato, na
época do Romantismo. Com a expansão do
público leitor, vários escritores passaram a se
dedicar à produção de romances, enfocando em
suas obras os vários aspectos da sociedade
brasileira.
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Prosa romântica
brasileira
O gênero Romance projeta o gosto do público
burguês. Em linhas gerais, a ficção
romântica, aprovada no PROPÓSITO
NACIONALISTA de RECONHECER e EXALTAR
nossas paisagens e costumes desdobrou-se
em: © Prof. Dr. Rafael Guimarães
ROMANCE URBANO OU DE
COSTUMES: abrange temas amorosos e
sociais, e sua ação se passa no ambiente
urbano, principalmente na cidade do Rio de
Janeiro, como “Senhora” de José de
Alencar e “A Moreninha” de Joaquim
Manuel de Macedo.
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ROMANCE URBANO OU DE
COSTUMES: retrata a vida na Corte, no Rio
de Janeiro do século XIX, fotografando, com
alguma fidelidade, costumes, cenas, ambientes
e tipos humanos da burguesia carioca. As
personagens são adaptadas através dos atos,
gestos, diálogos, roupas.
Não há penetração psicológica.
• Melodramáticos;
• Amor idealizado;
• Mulher idealizada;
• Público-alvo feminino;
• Espaço da ação: Rio de Janeiro;
• Divulga os valores morais burgueses;
• Representação dos costumes da elite burguesa;
• Herói ou heroína enfrenta obstáculos para
encontrar a felicidade.
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Principais Romances Urbanos
ou de Costumes:
“A Moreninha” (1844) e “A Luneta Mágica” (1869), de
Joaquim Manuel de Macedo;
“Lucíola” (1862) e “Senhora” (1875), de José de Alencar;
“Memórias de um Sargento de Milícias” (1854),
de Manuel Antônio de Almeida.
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ROMANCE SERTANEJO OU
REGIONALISTA: aborda temas e situações
que se passam longe dos centros urbanos;
focaliza a gente do interior, com seus
costumes e valores peculiares, como
“O Sertanejo” de José de Alencar e
“Inocência” de Visconde de Taunay.
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ROMANCE SERTANEJO OU
REGIONALISTA: voltado para o campo,
para a província e para o sertão, num
esforço nacionalista de reconhecer e
exaltar a terra e o homem brasileiro,
acentuado as particularidades de seus
costumes e ambientes.
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ROMANCE SERTANEJO OU
REGIONALISTA: busca retratar o
NORDESTE (“O Sertanejo”, de Alencar e “O
Cabeleira”, de Franklin Távora), o SUL (“O Gaúcho”,
de Alencar) o SERTÃO de Minas Gerais e Goiás
(“O Garimpeiro” e “O Seminarista”, de Bernardo
Guimarães) e o PANTANAL de Mato Grosso
(“Inocência”, do Visconde de Taunay).
• Amor idealizado;
• Mulher idealizada;
• Uso de termos regionais;
• HERÓI NACIONAL: o homem do interior;
• COR LOCAL: características culturais e regionais;
• Paisagens e personagens típicos de regiões
brasileiras;
• Sociedade rural e patriarcal, com valores distintos
da urbana;
• O herói é um homem rude que enfrenta as
dificuldades do espaço em que vive.
Principais romancistas sertanejos
ou regionalistas:
José de Alencar (1829-1877);
Visconde de Taunay (1843-1899);
Franklin Távora (1842-1888);
Bernardo Guimarães (1825-1884);
Maria Firmina dos Reis (1822-1917).
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Principais romances SERTANEJOS ou
REGIONALISTAS:
“O Gaúcho” (1870), “O Tronco do Ipê” (1871) e
“O Sertanejo” (1875), de José de Alencar;
“Inocência” (1872), de Visconde de Taunay;
“O Cabeleira” (1876), de Franklin Távora;
“A Escrava Isaura” (1875), de Bernardo Guimarães;
“Úrsula” (1859), de Maria Firmina dos Reis.
ROMANCE HISTÓRICO: volta-se para o
passado, numa REINTERPRETAÇÃO
NACIONALISTA de fatos e personagens
de nossa história como “O Guarani” e
“Iracema” de José de Alencar e “Lendas e
Romances” de Bernardo Guimarães.
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ROMANCE HISTÓRICO: busca na história e
nas lendas heroicas a afirmação da nacionalidade.
Não há compromisso com a verdade histórica.
No Brasil, os índios de Alencar (“O Guarani”,
“Iracema”, e “Ubirajara”) são transformados em
cavaleiros medievais, vistos com símbolos e
elementos formadores da nacionalidade,
substituindo a Idade Média que não tivemos.
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• Amor idealizado;
• Mulher idealizada;
• Caráter nacionalista;
• Tempo da narrativa é sempre o tempo passado;
• Temática central associada a um ou mais fatos
históricos;
• Personagens históricos convivem com
personagens ficcionais;
• Fatos históricos são essenciais na construção do
enredo, não apenas pano de fundo.
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Principal romancista histórico:
José de Alencar (1829-1877).

Principais romances históricos:


“Iracema” (1865), “ O Guarani” (1857), “As Minas de
Prata” (1866) e “A Guerra dos Mascates” (1873),
de José de Alencar.
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ROMANCE INDIANISTA: ainda na
perspectiva NACIONALISTA, é aquele que
enfoca a figura do índio, idealizando-o e
exaltando-lhe o caráter nobre e a valentia,
como vemos em “O Guarani”, “Iracema” e
“Ubirajara” de José de Alencar.

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• Amor idealizado;
• Mulher idealizada;
• FIGURA HEROICA: ÍNDIO BRASILEIRO;
• FLORESTA como SÍMBOLO NACIONAL;
• Idealização da NATUREZA;
• Reconstituição do PASSADO HISTÓRICO brasileiro;
• COR LOCAL: características geográficas e culturais;
• MISCIGENAÇÃO como símbolo de HARMONIA entre
COLONIZADO e COLONIZADOR;
• VASSALAGEM AMOROSA: indígena (vassalo),
senhor ou senhora (suserano/ suserana).
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Principal romancista indianista:
José de Alencar (1829-1877).

Principais romances indianistas:


“O Guarani” (1857), “Iracema” (1865) e
“Ubirajara” (1874), de José de Alencar.
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ALENCAR
128 © Prof. Dr. Rafael Guimarães
José de Alencar é o mais importante
prosador do Romantismo brasileiro.
Sua obra desdobra-se em romances
históricos, regionais, indianistas e
urbanos, constituindo um vasto painel
da sociedade e da história brasileira.
No conjunto, representa a afirmação do
nacionalismo, tão valorizado na época.
 José Martiniano de Alencar: 1829,
Messejana (atual bairro de Fortaleza),
Ceará. Morreu em 1877, no Rio de Janeiro.
 Em obras como “Senhora” e “Lucíola”,
Alencar faz uma representação bastante
crítica das relações humanas na
sociedade carioca da época, denunciando
a comercialização do amor e do
casamento.
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O monumento
apresenta José de
Alencar sentado e em
tamanho natural. Em seu
pedestal foram
embutidos medalhões em
baixos relevos
representando cenas
extraídas dos romances:
O Guarany, o Gaúcho, o
Sertanejo e Iracema.

Endereço: Praça José


de Alencar - Flamengo -
Rio de Janeiro - RJ

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Nessa duas obras, ele estudou o que
chamou de “perfis de mulher”, dos quais
se destacam o de Aurélia (em Senhora)
e o de Lúcia (em Lucíola).
 Anos depois, Machado de Assis
aprofundaria essa linha psicológica e
social do romance brasileiro.
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 Alencar teve um papel importante na
difusão de um “estilo brasileiro” na língua
literária, contrariando os puristas.
 Para ele, uma língua e uma literatura com
fisionomia própria eram uma inevitável
consequência do nosso desenvolvimento
como nação independente.

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 A vasta produção de Alencar tem como
característica geral a tentativa de
construção de uma cultura genuinamente
brasileira, desvinculada, portanto, das
características estéticas que vigoravam em
Portugal.
 Esse projeto de construção de uma
identidade cultural brasileira era a principal
bandeira do romantismo, e José de Alencar
foi seu principal entusiasta.
 Em “Iracema: lenda do Ceará” (1865),
Alencar criou uma explicação poética para
as origens de sua terra natal.
 A “virgem dos lábios de mel” tornou-se
símbolo do Ceará e o filho dela, Moacir,
nascido de seu amor com o colonizador
português Martim, representa o primeiro
cearense, fruto da união das duas raças.
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Inaugurada em
2004, a estátua de
Iracema, localizada
na lagoa de
Messejana, em
Fortaleza (CE), é
uma homenagem ao
famoso romance de
José de Alencar.

136 © Prof. Dr. Rafael Guimarães


Fachada do
teatro que
homenageia José de
Alencar, em
Fortaleza.

137 © Prof. Dr. Rafael Guimarães


ENREDO
 Iracema era uma virgem tabajara consagrada e Tupã.
Martim, um guerreiro branco inimigo do seu povo. Para
viver com seu amor, ela abandona a tribo. Quando mais
tarde ela percebe que ele sente saudades de sua terra
natal, começa a sofrer. Moacir nasce enquanto Martim
está lutando em outras regiões. Quando regressa,
encontra Iracema muito fraca. Ela morre, e Martim
parte com o filho.
 A dramaticidade da história, o destino
infeliz da bela Iracema, a linguagem
poética de Alencar contribuíram para
fazer do livro um dos mais famosos de
nossa literatura.
 A leitura da obra deve ser feita em voz
alta para que se revele o ritmo da prosa.

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Iracema
Adoniran Barbosa

Iracema, eu nunca mais que te vi


Iracema meu grande amor foi embora
Chorei, eu chorei de dor porque
Iracema, meu grande amor foi você
Iracema, eu sempre dizia
Cuidado ao travessar essas ruas
Eu falava, mas você não me escutava não
Iracema você travessou contra mão
E hoje ela vive lá no céu
E ela vive bem juntinho de nosso Senhor
De lembranças guardo somente suas meias e seus sapatos
Iracema, eu perdi o seu retrato.
ENREDO
 Em Senhora (1875), Alencar traça o perfil
feminino de Aurélia Camargo: moça linda e
inteligente, mas sem posses que se apaixona
por Fernando Seixas e é correspondida.
 Ele também é pobre, sustenta a mãe e duas
irmãs solteiras. A fraqueza de Fernando é
gostar de se exibir nos círculos sociais
cariocas.
 Em função de sua vida boêmia, acaba
deixando a família em grandes dificuldades
financeiras. Desmancha seu noivado com
Aurélia e dispõe-se a casar com Adelaide,
moça rica a quem não ama.
 Aurélia recebe inesperadamente uma
herança em virtude da morte do avô.
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 Por meio de negociações secretas, Fernando
recebe a proposta de casar-se em troca de
dinheiro, com uma bela moça milionária, sob a
condição de só vir a conhecê-la alguns dias
antes do casamento.
Fernando aceita. Ao saber que se trata de
Aurélia, fica surpreso e feliz, sem se dar conta
de que, aos olhos da jovem, ele se degradara.
 Na noite de núpcias, ela o humilha
chamando-o de “vendido”.
 Fernando resolve recuperar a dignidade e,
para se ver livre, trabalha com afinco
durante onze meses. Para a sociedade,
mostram a aparência de um casal feliz.
 Ele deixa de ser “escravo da senhora”,
amadurece e se revaloriza diante daquela
que o menosprezava.
 A reconciliação dos dois representa a
típica visão romântica sobre o amor, mas
ela vem marcada pelas contradições da
sociedade burguesa.
 No final, Aurélia apresenta a Fernando um
testamento em que confessa seu imenso
amor ao marido e o institui seu herdeiro
universal.
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 No plano do enredo, vale destacar a
inusitada organização da história como
uma transação comercial, conforme
indicam os títulos das quatro partes em
que se divide o romance: PREÇO,
QUITAÇÃO, POSSE e RESGATE.

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Novela de 1975. Norma Blum interpreta Aurélia Camargo e Cláudio Marzo
dá vida ao jovem e ambicioso Fernando Seixas. A novela foi substituída pela
adaptação de “A Moreninha”, no mesmo ano. Em ambas as novelas, os
personagens principais foram vividos por Cláudio Marzo (Fernando, em
Senhora; e Augusto, em A Moreninha).
JOAQUIM
MANUEL DE
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MACEDO
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 Joaquim Manuel de Macedo nasceu no
dia 24 de junho de 1820, em Itaboraí, Rio
de Janeiro (RJ). Em 12 de abril de 1882,
antes de completar 62 anos de idade, com
problemas mentais, faleceu no Rio de
Janeiro.
 Formado em Medicina, nunca chegou a
exercer a profissão, dedicando-se à
carreira literária.
 Com o sucesso de A Moreninha (1844), tornou-
se o primeiro escritor popular brasileiro.
 O romance é considerado um marco na história
da prosa romântica, o primeiro romance
romântico brasileiro. O livro fez muito sucesso,
conquistando um grande público para a
principiante prosa literária brasileira.
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 Dono de uma obra extensa, Joaquim foi um
ávido escritor, donde destacam-se romances,
contos, crônicas, poesias, biografias, obras
teatrais e textos históricos.
 Ademais, foi um dos principais responsáveis
pela CRIAÇÃO DO TEATRO NO BRASIL e
segundo ele: “O teatro é a mais extensa e
concorrida escola da boa ou má educação do
povo.”
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 A Moreninha (1844);
 O Moço Loiro (1845);
 A Luneta Mágica (1869);
 A torre em Curso (1863) (comédia
famosa de cunho social – teatro nacional
ainda nascente).

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 Macedinho conquistou um público leitor fiel às
suas obras, as quais retrataram a vida da elite
brasileira na Corte e eram marcadas pelo
suspense, por serem bem-humoradas e
apresentarem certa ingenuidade narrativa.
 Criou personagens que marcaram as nuances do
romance urbanista da Literatura brasileira, como
estudantes, moças namoradeiras, criados
intrometidos, as senhorinhas fofoqueiras, o
velhote metido a galã, a bondosa vovó, etc.
 Em 1844, publicou “A Moreninha”, o qual lhe
concedeu fama e fortuna.

 O romance relata a história de quatro


estudantes de medicina (Filipe, Leopoldo,
Augusto e Fabrício) durante um final de
semana, em pleno feriado religioso de
Sant’Ana, na bela Ilha de Paquetá , no Rio de
Janeiro.
ENREDO
 Augusto, Leopoldo, Fabrício e Filipe vão passar
o feriado na casa da avó de Filipe. Augusto, um
dos namoradores do grupo, é desafiado por
Filipe a conquistar uma das meninas.
 Sendo assim, fica combinado que se Augusto
se apaixonasse por uma delas, deveria
escrever um romance. Do contrário, Filipe o
escreveria.
 Augusto era um jovem namorador e
inconstante no amor. Fabrício revela a
personalidade do amigo a todos num jantar, o
que faz Augusto ser desprezado pelas moças,
menos por Carolina.
 Sentindo-se sozinho, Augusto revela a D. Ana,
em uma conversa pela Ilha, que sua
inconstância no amor tem a ver com as
desilusões amorosas que já viveu e conta um
episódio que lhe aconteceu na infância.
 Em uma viagem com a família, Augusto
apaixonou-se por uma menina com quem
brincara na praia. Ele e a menina ajudaram um
homem moribundo e, como forma de
agradecimento, o homem deu a Augusto um
botão de esmeralda envolvido numa fita branca
e deu a menina o camafeu de Augusto
envolvido numa fita verde. Essa era a única
lembrança que tinha da menina, pois não havia
lhe perguntado nem o nome.
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 O fim de semana termina e os jovens retornam para os
estudos, mas Augusto se vê com saudades de Carolina e
retorna a Ilha para encontrá-la. O pai de Augusto, achando
que isso estava atrapalhando seus estudos, proíbe o filho
de visitar Carolina.
 Depois de um tempo distantes, Augusto volta a Ilha para se
declarar a Carolina. Mas ela o repreende por estar
quebrando a promessa feita a uma garotinha há anos
atrás. Augusto fica confuso e preocupado, até que Carolina
mostra o seu camafeu. O mistério é desfeito, e, para pagar
a aposta, Augusto escreve o livro A Moreninha.
 Os personagens têm atitudes previsíveis e
pouco ou nada é revelado do seu mundo íntimo.
As mulheres são caracterizadas pela
preocupação em se casar para garantir
respeitabilidade social.
 A história não conduz à reflexão ou ao
questionamento, mas à confirmação de tudo o
que era valorizado pela sociedade burguesa.

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 A linguagem é simples e coloquial. Seus
personagens falam dos mesmos assuntos que
as pessoas de seu tempo, usando a mesma
linguagem. É uma parte da vida carioca – a da
burguesia ociosa, cujas preocupações são a
moda, o baile, a ópera, o passeio, o namoro, o
casamento – que Macedo transporta para seus
livros, fazendo deles um espelho em que o
leitor se vê.
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 A idealização do amor puro, que nasce na
infância e permanece apesar do tempo, é uma
das principais características que enquadram
a obra como romântica. Além disso, a menção à
tradição religiosa (festa de Sant’Ana), o
sentimentalismo e caracterização da natureza
através da ilha, da gruta e do mar contribuem
para montar o cenário do amor romântico
entre Augusto e Carolina.
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 A linguagem da obra é simples, com a presença
do popular. O narrador é onisciente, em
terceira pessoa. O romance se desenrola em
três semanas e meia, em tempo cronológico. A
leitura leve, o suspense presente no decorrer
do romance e o final feliz fizeram da obra uma
referência, que teve repercussão não só na
época de sua escrita, como também é lida até
hoje.
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 Diante de tanta relevância para a
cultura brasileira, “A Moreninha”
contou com duas adaptações para o
cinema, uma de 1915 e outra de 1970;
e ainda duas para telenovela, uma de
1965 e outra em 1975.

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2ª adaptação do
romance para o
cinema. Filme de
1975 com Sônia
Braga no papel de
D. Carolina (a
moreninha).
2ª adaptação para
televisão. Telenovela
de 1975 com Mário
Cardoso no papel de
Augusto e Nívea Maria
como Carolina.

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1ª adaptação para
televisão. Telenovela de
1965 com Marília Pêra no
papel da moreninha.
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GUIMARÃES
169 © Prof. Dr. Rafael Guimarães
 Bernardo Guimarães nasceu em Ouro Preto,
Minas Gerais, em 15 de agosto de 1825, e faleceu
na mesma cidade, em 10 de março de 1884.
 Estudou Direito na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, onde se tornou
amigo de Álvares de Azevedo e Aureliano
Lessa, com os quais projetou a publicação de
uma de suas obras chamada de “As três liras”.

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 Seu grande sucesso literário foi o romance A
Escrava Isaura, publicado em 1875, quando se
intensificavam os debates sobre a abolição da
escravidão.
 Com essa obra, tornou-se um dos principais
autores de romances regionalistas do
romantismo, caracterizados pelo exagero
sentimental e valorização das paisagens e
costumes do interior do Brasil.
 O romance toma como assunto o drama de
uma escrava branca, educada e muito
bonita, numa época em que começava a se
levantar questões sobre os “abomináveis e
hediondos” crimes da escravidão e o
rebaixamento da pessoa humana em função
de sua raça e classe social.

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 Apesar de tratar de um grave problema social
e humano, a escravidão negra no Brasil, o
tema principal que sustenta a narrativa são os
sofrimentos em função do amor: o amor da
infeliz escrava impedida de amar a quem
desejasse; o amor egoísta do seu senhor, que
se achava não só dono de suas vontades, mas
também dono dos seus sentimentos.
ENREDO
 Isaura constitui o vértice de um triângulo de
amor e ódio, em que se defrontam: Leôncio,
brutal escravocrata – o vilão e Álvaro,
honrado e sincero abolicionista – o herói. A
trama segue o esquematismo da narrativa
romântica: o vilão é o obstáculo que separa o
herói da heroína e que precisa ser superado
para que se tenha um final feliz.
 No final do romance: o bem se sobrepõe ao mal
– a união de Isaura e Álvaro. O obstáculo maior,
o fato de Isaura ser legítima propriedade de
Leôncio, se resolve. Álvaro descobre a falência
de Leôncio, compra-lhe todos os bens,
inclusive os escravos. Assim, nada mais o
separa de Isaura, a quem oferece a mão de
esposo, desafiando a sociedade escravocrata
da época. Leôncio suicida-se.
 Isaura é, durante toda a narrativa, a escrava
submissa que sabe reconhecer o seu lugar. Ela
suporta resignada e dócil a perseguição de
Leôncio, as desconfianças de Malvina, as
investidas de Henrique, sem nunca se revoltar,
nem deixar de ser emocionalmente escrava,
mesmo tendo recebido uma educação que
excedia a das ilustres damas da época.
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178
 O Seminarista (1872) surge um ano depois de uma
forte campanha através dos jornais contra o
episcopado no Rio de Janeiro, episódio conhecido
como a “Questão Religiosa”.
 É um romance de critica ao celibato religioso, isto
é, à proibição de casamento para os padres.
Censura o autoritarismo dos pais, que, com a
conivência de membros da Igreja, força o filho sem
vocação religiosa a ser padre e reprimir suas
inclinações afetivas.
 No romance, Bernardo Guimarães justifica essa
crítica afirmando que a proibição de casamento dos
padres é uma violência contra a natureza humana.
Essa visão será retomada e aprofundada alguns
anos depois pelo Naturalismo, em obras como O
Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, e O
Missionário, de Inglês de Sousa.
 Candido e Aderaldo Castello consideram “O
Seminarista” uma obra que antecipa o romance
naturalista.
ENREDO
 Os pais de Eugênio, capitão Antunes e sua mulher,
fazendeiros em Minas, obrigam o filho a ser padre.
Eugênio passou a infância ao lado de Margarida,
filha de uma agregada da fazenda. Dessa
convivência nasceu o amor, e os pais do menino,
para impedir o avanço dessa paixão, colocaram o
filho num seminário, obrigando-o a seguir a
carreira eclesiástica.
 Mesmo no seminário, Eugênio não esquece
Margarida. Seus pais, então, juntamente com os
sacerdotes do Seminário de Congonhas do
Campo, inventam a notícia do casamento da
moça, o que desilude o rapaz e o faz aceitar a
carreira que lhe fora imposta.
 Quando retorna à vila natal, já como padre, é
chamado para assistir uma doente, que era a
própria Margarida. A moça lhe conta toda a
verdade.
 Margarida fora expulsa da fazenda com a
mãe, passara necessidade e jamais casara,
porque ainda o amava.
 Eugênio sente renascer o amor por Margarida
e, no dia seguinte, ambos se entregam à
paixão. O padre sabe que cometeu grave
pecado, pois traiu os votos de castidade, o que
lhe causa grande remorso.
© Prof. Dr. Rafael Guimarães
 No dia em que se preparava para rezar sua
primeira missa, é chamado para encomendar um
cadáver que acabara de chegar à igreja. O corpo
era o de Margarida. Eugênio não suporta o
impacto da morte da amada e, na hora de sua
primeira missa, acaba endoidecendo.
 O seminarista é um típico romance de tese: o
autor tem uma determinada ideia e deseja
prová-la por meio de uma narrativa.
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186
MANUEL
ANTÔNIO DE Place your screenshot here

ALMEIDA
187 © Prof. Dr. Rafael Guimarães
 Manuel Antônio de Almeida nasceu em
1831, no RJ. Faleceu aos 30 anos de idade,
em um naufrágio no litoral da capital
fluminense.
 Formado em Medicina, trabalhava como
revisor e redator no Correio Mercantil.
Sua única obra foi Memórias de um
Sargento de Milícias, de 1853, finalizada
quando ele tinha 22 anos.
 O romance foi publicado em folhetins
semanais entre 1852 e 1853, no Correio
Mercantil.
 Ninguém sabia quem era o autor, pois ele se
escondia sob o pseudônimo “um brasileiro”.
 Mas com certeza era alguém que conhecia
bem os becos, praças, costumes sociais e
tipos humanos da capital fluminense, onde
transcorria a história.
190
191
 Diferencial da obra: em vez dos salões
aristocráticos e dos ambientes sofisticados,
como os de A Moreninha, a ação do folhetim se
passa nas ruas e nos casebres do Rio de
Janeiro, no “tempo do rei” (1808 a 1821).
 Ocupa um lugar especial na história do
Romantismo brasileiro por conta da linguagem
coloquial, pela comicidade e pelo tom realista
da narração.
 O livro não fez muito sucesso, pois fugia das
características esperadas pelos leitores de
romance da época.
 Apenas na terceira edição, em 1863, o nome do
autor apareceu pela primeira vez.
 Com o tempo, foi revalorizado e tornou-se uma
das obras mais populares da literatura
brasileira.
ENREDO
O livro conta as peripécias de Leonardo-Pataca
e seu desastrado casamento com Maria da
Hortaliça, além das confusões e aventuras de
seu filho, Leonardo, que, enjeitado pelos pais, é
criado pelos padrinhos: uma parteira ( a
comadre) e um barbeiro (o compadre).
 Narra o caso amoroso do rapaz com a mulata
Vidinha.
 Além do namoro sério de Leonardo com
Luisinha (com quem acaba se casando no final)
e seus planos para conseguir escapar da
vigilância do severo major Vidigal, sempre de
olho nele.
 Leonardo, simpático e espertalhão, é, nas
palavras do crítico Antonio Candido, “o primeiro
grande malando que entra na novelística
brasileira”.
“Memórias de um Sargento
de Milícias”, especial de 1995
baseado no romance do escritor
Manuel Antônio de Almeida.

196
 Por ser originariamente um folhetim, o enredo
necessitava prender a atenção do leitor, com
capítulos curtos e até certo ponto
independentes, em geral contendo um episódio
completo. A trama, por isso, é complexa,
formada de histórias que se sucedem e nem
sempre se relacionam por causa e efeito.

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DE TAUNAY
198 © Prof. Dr. Rafael Guimarães
 Alfredo Taunay nasceu no Rio de Janeiro,
em 1843. Faleceu em 1899, na mesma cidade.
 Foi deputado e presidente da província de
Santa Catarina e Paraná, além de senador
também por Santa Catarina. Recebeu o título
de “visconde” e afastou-se da política com a
proclamação da República, 15/11/1989, já que
sua visão era monárquica.
© Prof. Dr. Rafael Guimarães
 O interior do Brasil, com seus tipos
humanos característicos e suas rígidas
normas de comportamento social e
familiar, constituiu uma fonte de grande
interesse para os escritores românticos,
que, na verdade, abriram o filão do
romance regional para a nossa literatura.

© Prof. Dr. Rafael Guimarães


 A obra “Inocência”, publicada em 1872, é
considerada um dos melhores exemplos
dessa tendência regionalista do romance
romântico. A obra foi traduzida para
vários idiomas e adaptada para o cinema.
Vejamos um trecho que retrata o âmbito
sertanejo em que a história acontece:

© Prof. Dr. Rafael Guimarães


“O legítimo sertanejo, explorador dos desertos, não tem,
em geral, família. Enquanto moço, seu fim único é devassar
terras, pisar campos onde ninguém antes pusera pé,
vadear rios desconhecidos, despontar cabeceiras e furar
matas, que descobridor algum até então haja varado.
Cresce-lhe o orgulho na razão da extensão e importância
das viagens empreendidas; e seu maior gosto cifra-se em
enumerar as correntes caudais que transpôs, os ribeirões
que batizou, as serras que transmontou e os pantanais que
afoitamente cortou, quando não levou dias e dias a rodeá-
los com rara paciência.”
© Prof. Dr. Rafael Guimarães
 Taunay realiza uma história de amor, com final trágico,
a partir de um triângulo amoroso, repleta de
descrições do modo de falar e de viver do sertão
brasileiro.
 O sertão era uma região que bastante conhecida pelo
autor em função de suas andanças como militar. Na
obra, a representação do espaço não sucumbe ao
excesso de sentimentalismo e surge em descrições
bastante realistas da natureza brasileira.
204 © Prof. Dr. Rafael Guimarães
ENREDO
 Ambientado no sertão de Mato Grosso, em 1860, o
romance tem como protagonista Inocência: órfã
de mãe, criada pelo pai, o mineiro Pereira, que
pauta a sua vida por valores como a honra e a
palavra dada, além do amor incondicional pela
filha. Julgando que está fazendo o melhor por ela,
decide casá-la com Manecão, homem simples e
rude, mas rico.
 O drama se instaura quando aparece Cirino,
caipira de São Paulo, que cavalgava pelo sertão
realizando curas de maleitas e febres. Ao curar
Inocência, desperta nela uma grande paixão, que
terá um final trágico, pois Manecão, inconformado
com o desinteresse da noiva pelo casamento,
termina por matar o rival numa estrada. Tempos
depois, Inocência, melancólica, também falece,
numa morte e tristeza própria do romantismo.
 Além de Cirino, encontra-se na casa de Pereira um
naturalista alemão, Meyer, que está no Brasil à
procura de novas espécies de borboletas.
 Após elogiar a beleza de Inocência, Meyer torna-se
objeto da desconfiança de Manecão e do pai da
protagonista. Porém, enquanto eles julgam que o
cientista é a causa da frieza da moça, não percebem
que abrem caminho para que a relação entre Cirino e
Inocência brote ainda com mais força.
 Cristaliza-se assim a LÓGICA ROMÂNTICA:
ou o par central realiza seu amor em vida,
vivendo felizes para sempre, ou os
protagonistas acabam por se encontrar em
outro plano, morrendo.
 Espécie de Romeu e Julieta (obra de
Shakespeare) do sertão brasileiro.
 Dois anos depois da morte de Inocência, o
naturalista alemão Meyer recebe, na
Alemanha, uma homenagem da Sociedade
Geral Entomológica e da imprensa, pela
descoberta de uma borboleta (Papilio
Innocentia), à qual dera esse nome
justamente para imortalizar a jovem
brasileira que conhecera no sertão.
© Prof. Dr. Rafael Guimarães
 Dois anos depois da morte de Inocência, o
naturalista alemão Meyer recebe, na
Alemanha, uma homenagem da Sociedade
Geral Entomológica e da imprensa, pela
descoberta de uma borboleta (Papilio
Innocentia), à qual dera esse nome
justamente para imortalizar a jovem
brasileira que conhecera no sertão.
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MARIA
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DOS REIS
211 © Prof. Dr. Rafael Guimarães
 Afrodescendente nascida em São Luís – MA, em
1822, Maria Firmina dos Reis foi autora de
“Úrsula” o primeiro romance conhecido sobre a
temática da escravidão no país.
 Nascida fora do casamento e vivendo num
contexto de extrema segregação racial e social,
formou-se professora e exerceu, por muitos
anos, o magistério, chegando a receber o título
de "Mestra Régia".
 Filha de uma escrava alforriada que
pertenceu, publicou três narrativas de
ficção: Úrsula, de 1859, seguramente o
primeiro romance publicado por uma
mulher negra em toda a América Latina - e
primeiro romance abolicionista de autoria
feminina da língua portuguesa -, no qual
aborda a escravidão a partir do ponto de
vista do Outro;
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 Gupeva, de 1861, narrativa curta de temática
indianista, publicada em folhetins na imprensa
local, com várias edições ao longo da década
de 1860; e o conto "A escrava", de 1887, texto
abolicionista empenhado em se inserir como
peça retórica no debate então vivido no país
em torno da abolição do regime servil.
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 Maria Firmina dos Reis faleceu em 1917,
pobre e cega, no município de Guimarães-
MA. Infelizmente, muitos dos documentos
de seu arquivo pessoal se perderam e até o
momento não se tem notícia de nenhuma
imagem sua digna de credibilidade.

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 Circula na internet uma foto
da escritora gaúcha Maria
Benedita Borman,
pseudônimo "Délia", como se
fosse da autora maranhense.
A escultura ao lado foi
elaborada a partir de retrato
falado colhido pelo biógrafo
da autora.

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Falecida em 1917, recebeu em 2019, por ocasião de 194º aniversário, uma homenagem
no doodle do Google, desenhado pelo ilustrador Nik Neves de São Paulo.
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úrsula
 Publicado em 1859, sob o pseudônimo “Uma
Maranhense”, longe da corte do RJ, só passou a ser
conhecido pelos estudiosos em 1975 a partir de uma
reedição.
 Considerado precursor da temática abolicionista
na literatura brasileira, anterior, por exemplo, à
poesia de Castro Alves – o épico Navio Negreiro foi
publicado em 1880.
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úrsula
 O livro traz todas as características do romance
romântico típico: heróis e vilões bem marcados,
cenas de perseguição, crimes, etc.
 Narra a trágica história de amor entre dois
jovens: a pura e simples Úrsula e o nobre bacharel
Tancredo e, aparentemente, é uma clássica história
de amor impossível, como muitas de seu tempo.

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úrsula
 Chama a atenção o tratamento dado ao escravo, a
quem a autora dá voz, humanizando-o, num
procedimento incomum na literatura da época.
 Apesar de ter sido escrito num período de
nacionalismo exacerbado, destoa da literatura
romântica, já que não parece estar comprometido
com o projeto de fundar a ideia de nação nos moldes
alencarianos.
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úrsula

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"Meteram-me a mim e a mais trezentos
companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito
e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis
tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais
necessário à vida passamos nessa sepultura até que
abordamos as praias brasileiras. Para caber a
mercadoria humana no porão, fomos amarrados em
pé e, para que não houvesse receio de revolta,
acorrentados como animais ferozes das nossas
matas, que se levam para recreio dos potentados da
Europa", escreveu em Úrsula.
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enredo
A narrativa se articula a partir de um triângulo
amoroso formado por Adelaide, Tancredo e seu pai.
Esse triângulo é desfeito com a derrota de Tancredo.
Cria-se, então, um segundo triângulo formado por
Tancredo, Úrsula e seu tio.
Úrsula é descrita como doce, bela e cheia de
compaixão, não possui pai e divide a solidão com sua
mãe doente. Mas há um obstáculo: o tio da moça,
Fernando P., um homem desprezível.
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O tio de Úrsula cometeu crimes e maltratou sua irmã
– a mãe de Úrsula, apenas para poder ter a menina
para si. O personagem é caracterizado como vilão
também pela forma com que tratava seus escravos.
Aparentemente, é uma clássica história de amor
impossível: uma moça pobre e um homem de família
rica, assim como muitas de seu tempo. Porém, logo
se nota que as preocupações sociais presentes no
romance são outras.
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O modo como mulheres e negros são retratados
confrontam alguns pontos da mentalidade da época.
Ao final, enlouquecido de ciúmes, o tio vilão mata
Tancredo na noite do casamento deste com Úrsula.
Isso provocou a loucura e o falecimento de Úrsula
que, por sua vez, gerou um remorso enorme em
Fernando P. Com esse fato, ele começou a se afastar
de sua antiga personalidade e desejar a morte.
Contudo, antes de morrer, chegou a libertar seus
escravos e até ficar recluso em um convento.
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Do ponto de vista formal, o texto possui uma
linearidade narrativa bem tradicional e
personagens sem muita complexidade psicológica.
A escritora utilizou das técnicas do romance
conhecido popularmente a fim de empregá-las
como um instrumento de aproximação. Dessa
forma, havia uma maior chance de o romance ser
inicialmente aceito e transmitir sua mensagem.

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