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Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA)


Componente curricular: Semântica
Docente: Magdiel Medeiros Aragão Neto
Discentes: Jéssica Angelos Bastos
Maria Victória Vieira Torres

ANÁLISE SEMÂNTICA DE “A RAPOSA E AS UVAS”

Música: A raposa e as uvas (1982)

Intérprete e Compositor: Reginaldo Rossi

Interpretação geral: A música “A Raposa e as Uvas” do Rei do Brega, Reginaldo Rossi,


lançada em 1982, traz em sua letra uma adaptação contemporânea da fábula de Esopo, onde
uma raposa tenta, sem sucesso, alcançar um cacho de uvas que estão penduradas em um
galho alto. A canção é construída na ideia do eu lírico de conquistar a mulher desejada.
Contudo, diferente do desfecho da fábula, o eu lírico não desiste, apesar das dificuldades
encontradas, de conquistar esse “broto bonito”. Dessa forma, contrariando o final da história
original, o eu lírico, no final do baile, ainda acredita que irá levar a amada, suas uvas, para
casa consigo.

Letra:

Lembro com muita saudade daquele bailinho


A gente dançava bem agarradinho
A gente ia mesmo se abraçar

Você com laquê no cabelo e um vestido rodado


E aquelas anáguas com tantos babados
Você se sentava pra me mostrar

E tudo que a gente transava eram três, quatro cubas


Eu era a raposa, você as uvas
E eu querendo teu beijo roubar

Por mais que você se esquivasse, eu tinha certeza


No fim do baile, na minha lambreta
Aquele broto bonito ia me abraçar
Quando a orquestra tocava Besame Mucho
Eu lhe apertava e olhava seu busto
No corpete querendo pular

Eu todo cheiroso à Lancaster e você à Chanel


Eu era um menino, mas fazia o papel
De um homem terrível só pra lhe guardar

E tudo que a gente transava eram três, quatro cubas


Eu era a raposa, você as uvas
E eu querendo teu beijo roubar

Por mais que você se esquivasse, eu tinha certeza


No fim do baile, na minha lambreta
Contente, pra casa eu ia te levar

E ao chegar na tua casa, em frente ao portão


Um beijo, um abraço, minha mão, tua mão
Com medo que o velho pudesse acordar

A pílula já existia, mas nem se falava


Nos conselhos que tua mãe te dava
Tinha um que dizia só depois que casar

E tudo que a gente transava eram três, quatro cubas


Eu era a raposa, você as uvas
E eu querendo teu beijo roubar
E por mais que você se esquivasse, eu tinha certeza
No fim do baile, na minha lambreta
Aquele broto bonito ia me abraçar
(2x)
Fenômenos Semânticos:

1) Metáfora: Eu era a raposa, você as uvas


O compositor faz uma metáfora associando o seu caso amoroso à fábula de Esopo. Na
letra, a raposa simboliza o eu lírico que deseja algo, mas que muitas vezes não
consegue alcançar seus objetivos por encontrar dificuldades no seu caminho. As uvas
representam o objeto de desejo, que parece estar fora do alcance do eu lírico.

2) Negação: A pílula já existia, mas nem se falava


É possível identificar um caso de negação escalar, com o operador [nem] atuando
sobre o escopo [se falava], inferimos que o mínimo que a sociedade da época poderia
fazer sobre a existência da pílula era falar sobre ela, mas se isso não ocorreu, então ela
não podia ter sido usada.

3) Ambiguidade: broto bonito


“Broto” pode significar uma pessoa jovem e atraente e “bonito” aquele que atrai à
vista ou é do gosto de quem vê. Nesse sentido, encontramos a presença de
ambiguidade, uma vez que a partir da expressão “broto” podemos inferir que o eu
lírico se refere a alguém bonito.

4) Vagueza: tantos
No trecho “E aquelas anáguas com tantos babados”, a palavra “tantos” apresenta
vagueza quanto à quantidade de babados presente nas anáguas. Não se sabe
exatamente quantos babados estão sendo mencionados, uma vez que a palavra indica
que a quantidade é grande ou significativa, mas não especifica uma quantidade
precisa.

5) Metonímia: Eu todo cheiroso à Lancaster e você à Chanel


“Lancaster” e “Chanel” são casos de metonímia, pois são palavras que estão presentes
num campo semântico que não é o seu, a partir de concepções extralinguísticas que,
no caso da música, são nomes de marcas que correspondem a perfumes e não
coincidem com os agrupamentos semânticos dessas formas linguísticas.

6) Pressuposição
Posto: “Com medo que o velho pudesse acordar”
Ativador: acordar
Pressuposto: o velho está dormindo
“Acordar” é um verbo que indica mudança de estado e funciona como ativador da
pressuposição acima.

7) Acarretamento
“Quando a orquestra tocava Besame Mucho”
acarreta
Besame Mucho foi tocada pela orquestra.
Trata-se, nesse caso, de um acarretamento gramatical porque acontece por meio de
transformações gramaticais, nesse caso a passagem da voz ativa para a voz passiva, e
assimétrico pela ocorrência do advérbio “quado” no verso da música, que adiciona
uma informação a mais à proposição.

8) Antonímia: “homem” e “mulher”


“Homem” geralmente se refere a um ser humano do sexo masculino, sendo assim
antônimo de “mulher” que se refere a um ser humano do sexo feminino. Dessa forma,
homem e mulher podem ser caracterizadas como antonímia, pois são palavras opostas
semanticamente complementares.

9) Polissemia: busto
A palavra “busto” é polissêmica porque pode apresentar diferentes sentidos que se
relacionam indiretamente. Usamos frequentemente um deles ao nos referir a
esculturas que retratam a cabeça, o pescoço e os ombros de uma pessoa, geralmente
sem os braços ou o corpo completo, mas também podemos encontrar outros
significados, tal qual o que aparece na música de Reginaldo Rossi enquanto sinônimo
de seios.

10) Hiperonímia: corpo


“Corpo” é um termo que representa uma categoria ou grupo de termos mais
específicos (diferentes partes do corpo humano, como cabeça, braços, pernas, mãos,
pés, etc.), caracterizando-se como um hiperônimo.

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