A ará, pousada no jirau fronteiro, alonga para sua formosa senhora os verdes tristes olhos. Desde que o guerreiro
branco pisou a terra dos tabajaras, Iracema a esqueceu. (…)
Iracema lembrou-se que tinha sido ingrata para a jandaia esquecendo-a no tempo da felicidade; e agora ela vinha
para a consolar no tempo da desventura. (…)
Na seguinte alvorada foi a voz da jandaia que a despertou. A linda ave não deixou mais sua senhora (…). A jandaia
pousada no olho da palmeira repetia tristemente:
— Iracema! Desde então os guerreiros pitiguaras, que passavam perto da cabana abandonada e ouviam ressoar a
voz plangente da ave amiga, se afastavam, com a alma cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava a jandaia. E foi
assim que um dia veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio. (José de
Alencar, Iracema. São Paulo: Ática, 1992, p. 52 e p. 80.)
O trecho abaixo foi extraído de Iracema. Ele reproduz a reação e as últimas palavras de Batuiretê antes
de morrer:
“O velho soabriu as pesadas pálpebras, e passou do neto ao estrangeiro um olhar baço. Depois o peito
arquejou e os lábios murmuraram:
— Tupã quis que estes olhos vissem antes de se apagarem, o gavião branco junto da narceja. O abaeté
derrubou a fronte aos peitos, e não falou mais, nem mais se moveu.” (José de Alencar, Iracema: lenda do
Ceará. Rio de Janeiro: MEC/INL, 1965, p. 171-172.)
a) Quem é Batuiretê?
b) Identifique os personagens a quem ele se dirige e indique os papéis que desempenham no
romance.
c) Explique o sentido da metáfora empregada por Batuiretê em sua fala.
1) as cenas de amor carnal entre Iracema e Martim são de tal forma construídas que o leitor as percebe
com vivacidade, porque tudo é narrado de forma explícita.
2) em Iracema temos o nascimento lendário do Ceará, a história de amor entre Iracema e Martim e as
manifestações de ódio das tribos tabajara e potiguara.
3) Moacir é o filho nascido da união de Iracema e Martim. De maneira simbólica ele representa o
homem brasileiro, fruto do índio e do branco.
4) a linguagem do romance Iracema é altamente poética, embora o texto esteja em prosa. Alencar
consegue belos efeitos lingüísticos ao abusar de imagens sobre imagens, comparações sobre
comparações.
Assinale:
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Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias
ensombradas de coqueiros;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa para que o barco aventureiro manso resvale
à flor das águas.
Esse trecho é o início do romance Iracema, de José de Alencar. Dele, como um todo, é possível afirmar
que:
(A) Iracema é uma lenda criada por Alencar para explicar poeticamente as origens das raças indígenas da
América.
(B) as personagens Iracema, Martim e Moacir participam da luta fratricida entre os Tabajaras e os
Pitiguaras.
(C) o romance, elaborado com recursos de linguagem figurada, é considerado o exemplar mais perfeito
da prosa poética na ficção romântica brasileira.
(D) o nome da personagem-título é anagrama de América e essa relação caracteriza a obra como um
romance histórico.
(E) a palavra Iracema é o resultado da aglutinação de duas outras da língua guarani e significa “lábios de
fel”.
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I. Onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?
Onde vai como branca alcíone buscando o rochedo pátrio nas solidões do oceano? Três entes respiram
sobre o frágil lenho que vai singrando veloce, mar em fora. Um jovem guerreiro cuja tez branca não cora
o sangue americano; uma criança e um rafeiro que viram a luz no berço das florestas, e brincam irmãos,
filhos ambos da mesma terra selvagem.
II. O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará, levando no frágil
barco o filho e o cão fiel. A jandaia não quis deixar a terra onde repousava sua amiga e senhora. O
primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da terra da pátria. Havia aí a predestinação de uma raça?
Ambos apresentam índices do que poderia ter acontecido no enredo do romance, já que constituem o
começo e o fim da narrativa de Alencar. Desse modo, é possível presumir que o enredo apresenta
A) o relacionamento amoroso de Iracema e Martim, a índia e o branco, de cuja união nasceu Moacir, e
que alegoriza o processo de conquista e colonização do Brasil.
B) as guerras entre as tribos tabajara e pitiguara pela conquista e preservação do território brasileiro
contra o invasor estrangeiro.
C) o rapto de Iracema pelo branco português Martim como forma de enfraquecer os adversários e levar
a um pacto entre o branco colonizador e o selvagem dono da terra.
D) a vingança de Martim, desbaratando o povo de Iracema, por ter sido flechado pela índia dos lábios de
mel em plena floresta e ter-se tornado prisioneiro de sua tribo.
E) a morte de Iracema, após o nascimento de Moacir, e seu sepultamento junto a uma carnaúba, na
fronde da qual canta ainda a jandaia.
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Por sua temática e sua linguagem, “Iracema”, de José de Alencar, pode ser inserida no quadro de obras
representativas do Romantismo brasileiro. Explique por quê.
Em Iracema, (…) a paisagem do Ceará fornece o cenário edênico para uma adaptação do mito da
Gênese. Alencar aproveitou até o máximo as similaridades entre as tradições indígenas e a mitologia
bíblica (…). Seu romance indianista (…) resumia a narrativa do casamento inter-racial, porém (…) dentro
de um quadro estrutural pseudo-histórico mais sofisticado, derivado de todo um complexo de mitos
bíblicos, desde a Queda Edênica ao nascimento de um novo redentor.
(David Treece, Exilados, aliados, rebeldes: o movimento indianista, a política indigenista e o Estado-
Nação imperial. São Paulo: Nankin/Edusp, 2008: p. 226, 258-259.)
a) Que associação se pode estabelecer entre os protagonistas do romance e o mito da Queda com a
consequente expulsão do Paraíso?
b) Qual personagem poderia ser associada ao “novo redentor”? Por quê?
Iracema faz parte da tríade indianista de José de Alencar, juntamente com outros dois romances:
a) Quais?
b) Cada um desses romances teria uma finalidade histórica. Qual teria sido a intenção do autor com
Iracema?
a) Tendo em vista, no contexto da obra, a lógica que rege o comportamento do Pajé, explique por que,
para ele, “a virgem” (Iracema) deverá morrer e o “guerreiro branco” (Martim) deverá ser poupado, caso
estes tenham mantido relações sexuais.
b) Considerando, no contexto da obra, a caracterização da personagem Martim, explique por que foi
apenas quando estava sob o efeito do “vinho de Tupã” que ele manteve, pela primeira vez, relações
sexuais com Iracema.
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(UNICAMP 2009) Leia, abaixo, a letra de uma canção de Chico Buarque inspirada no romance de José
de Alencar, Iracema uma lenda do Ceará:
a) Que papel desempenha Iracema no romance de José de Alencar? E na canção de Chico Buarque?
b) Uma das interpretações para o nome da heroína do romance de José de Alencar é de que seja um
anagrama de América. Isto é, o nome da heroína possui as mesmas letras de América dispostas em
outra ordem. Partindo dessa interpretação, explique o que distingue a referência à América no
romance daquela que é feita na canção.
( UNICAMP ) O relacionamento amoroso entre Iracema e Martim pode significar mais do que
aparenta;pode ser visto, do início ao fim, como representativo do processo de conquista e de
colonização do Brasil. Como o romance Iracema representa esse processo
Atente para as seguintes afirmações, extraídas e adaptadas de um estudo do crítico Augusto Meyer
sobre José de Alencar:
I. “Nesta obra, assim como nos ‘poemas americanos’ dos nossos poetas, palpita um sentimento sincero
de distância poética e exotismo, de coisa notável por estranha para nós, embora a rotulemos como
nativa.”
II. “Mais do que diante de um relato, estamos diante de um poema, cujo conteúdo se concentra a cada
passo na magia do ritmo e na graça da imagem.”
III. “O tema do bom selvagem foi, neste caso, aproveitado para um romance histórico, que reproduz o
enredo típico das narrativas de capa e espada, oriundas da novela de cavalaria .
É compatível com o trecho de Iracema aqui reproduzido, considerado no contexto dessa obra, o que se
afirma em
a) I, apenas. e) I, II e III
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
No texto, corresponde a uma das convenções com que o Indianismo construía suas representações do
indígena:
a) o emprego de sugestões de cunho mitológico compatíveis com o contexto.
b) a caracterização da mulher como um ser dócil e desprovido de vontade própria.
c) a ênfase na efemeridade da vida humana sob os trópicos.
d) o uso de vocabulário primitivo e singelo, de extração oral popular.
e) a supressão de interdições morais relativas às práticas eróticas.
TEXTO I
Martim ficou mudo e triste, semelhante ao tronco d’árvore a que o vento arrancou o lindo cipó que o
entrelaçava. A brisa perpassando levou um murmúrio:
— Iracema!
Era o balido(1) do companheiro; a cerva(2), arrufando(3)-se, ganhou o doce aprisco(4). A floresta
destilava suave fragrância e exalava arpejos(5) harmoniosos; os suspiros do coração se difundiram nos
múrmuros do deserto. Foi a festa do amor e o canto do himeneu(6) .
Já a luz da manhã coou na selva densa. A voz grave e sonora de Poti repercutiu no sussurro da mata:
— O povo tabajara caminha na floresta.
Iracema arrancou-se dos braços que a cingiam(7) e do lábio que a tinha cativa; saltando da rede como a
rápida zabelê(8), travou das armas do esposo e levou-o através da mata.
(1) balido: grito próprio da ovelha (2) cerva: a fêmea do cervo, animal típico da família dos Cervídeos (3) arrufar:
encolher (4) aprisco: caverna; toca; abrigo (5) arpejo: acorde de sons sucessivos em instrumentos de cordas (6)
himeneu: casamento; núpcias (7) cingir: prender; ligar em volta (8) zabelê: certo tipo de ave( Iracema, José de
Alencar )
TEXTO II
E o mugido lúgubre daquela pobre criatura abandonada antepunha à rude agitação do cortiço uma nota
lamentosa e tristonha de uma vaca chamando ao longe, perdida ao cair da noite num lagar(1)
desconhecido e agreste. Mas o trabalho aquecia já de uma ponta à outra da estalagem; ria-se, cantava-
se, soltava-se a língua; o formigueiro assanhava-se com as compras para o almoço; os mercadores
entravam e saíam; a máquina de massas principiava a bufar. E Piedade, assentada à soleira de sua porta,
paciente e ululante(2) como um cão que espera pelo dono, maldizia a hora em que saíra da sua terra, e
parecia disposta a morrer ali mesmo, naquele limiar de granito, onde ela, tantas vezes, com a cabeça
encostada ao ombro do seu homem, suspirava feliz, ouvindo gemer na guitarra dele os queridos fados
de além-mar.
(1) lagar: estabelecimento utilizado para extração de líquido de certos frutos (2) ululante: que uiva; lamentoso
(AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço)
Como o imbu(1) na várzea, era o coração do guerreiro branco na terra selvagem. A amizade e o amor o
acompanharam e fortaleceram durante algum tempo, mas agora longe de sua casa e de seus irmãos,
sentia-se no ermo(2). O amigo e a esposa não bastavam mais à sua existência, cheia de grandes desejos
e nobres ambições.
(1) imbu: fruto de imbuzeiro (2) ermo: deserto; despovoado (ALENCAR, José de. Iracema)
A lua cresceu.
Três sóis havia que Martim e Iracema estavam nas terras dos pitiguaras, senhores das margens do
Camucim e Acaracu. Os estrangeiros tinham sua rede na vasta cabana de Jacaúna. O valente chefe
guardou para si o prazer de hospedar o guerreiro branco.
Poti abandonou sua taba para acompanhar seu irmão de guerra na cabana de seu irmão de sangue, e
gozar dos instantes que sobejavam(1) para a amizade, no coração do guerreiro do mar.
(1) sobejar: sobrar (ALENCAR, José de. Iracema)
Com relação ao “tempo da narrativa”, ocorrem no romance Iracema dois “tempos”: o tempo
cronológico e o tempo poético. Caracterize resumidamente cada um desses tempos e
identifique a ocorrência do tempo neste excerto. Justifique sua resposta com elementos
presentes neste excerto.