Você está na página 1de 3

Iracema, de José de Alencar

▷ Personagens
- Iracema, índia tabajara, guardadora do segredo da jurema, planta
alucinógena;
- Martim, colonizador português, baseado em Martim Soares Moreno,
primeiro colonizador português do Ceará;
- Araquém, pajé tabajara e pai de Iracema;
- Caubi, guerreiro tabajara e irmão de Iracema;
- Irapuã, chefe dos tabajaras, principal inimigo de Martim;
- Andira, velho guerreiro, irmão de Araquém;
- Poti, guerreiro potiguara e aliado de Martim;
- Jacaúna, chefe dos potiguaras;
- Batuirité, velho sábio, avô de Poti;
- Moacir, filho de Iracema e Martim;
- Japi, cão de Martim.

▷ Resumo de Iracema
O romance de José de Alencar publicado em 1865 retrata a história de
um casal composto por Iracema – a virgem dos lábios de mel, detentora do
segredo da Jurema (uma bebida preparada para as festas religiosas) e filha
do pajé Araquém, da tribo Tabajara – e Martim – um colonizador português
que vive na tribo inimiga Pitiguara.

A história tem início quando Martim, português responsável por defender


o território brasileiro de outros invasores europeus, perde-se na mata, em
localidade que hoje corresponde ao litoral do Ceará. Iracema, índia
tabajara que então repousava entre as árvores, assusta-se com a chegada
do estranho, e dispara uma flecha contra Martim. Ele não reage à agressão
por ter sido alvejado por uma mulher e Iracema entende que feriu um
inocente, quebrando a flecha e dando a haste ao desconhecido, guardando
com si a ponta farpada. O guerreiro falou: - Quebras comigo a flecha da
paz?.

Em pacto de paz, Iracema leva o estrangeiro ferido para sua aldeia e para
ter com seu pai, Araquém, o pajé da tribo. Martim é recebido com grande
hospitalidade, mas sua chegada não agrada a todos: Irapuã, o chefe dos
guerreiros tabajaras apaixonado por Iracema, é o primeiro a desagradar-se,
buscando vingança. No decorrer da trama, Martim e Irapuã tornam-se
inimigos, ocorrendo várias tentativas de Irapuã eliminar Martim, entretanto,
sem sucesso.
A partir desse momento, começa a ser revelado o interesse entre os dois
e Iracema resolve se relacionar com o português. Ela leva Martim ao
bosque sagrado e lhe oferece uma bebida alucinógena. Contudo, Iracema
tem um papel importante na tribo: é uma virgem consagrada a Tupã,
guardadora do segredo da jurema, um licor sagrado, que levava ao êxtase
os índios tabajaras.
Entre festejos e batalhas com outras tribos — entre elas, a dos pitiguaras,
aliados de Martim — Iracema e o estrangeiro português envolvem-se
amorosamente, e a índia quebra o voto de castidade, o que significa uma
condenação à morte. Martim, por sua vez, também é perseguido: Irapuã e
seus homens querem beber seu sangue. A aliança com os pitiguaras torna-
o um inimigo ainda mais indesejado.
Apaixonados, Iracema e Martim precisam fugir da aldeia tabajara antes
que a tribo perceba que a virgem rompeu o voto de castidade. Juntam-se a
Poti, índio pitiguara, a quem Martim tratava como irmão. Quando os
tabajaras percebem a fuga, partem em perseguição aos amantes liderada
por Irapuã e Caubi, o irmão de Iracema.
Acabam por encontrar a tribo pitiguara, e uma sangrenta batalha é
travada. Caubi e Irapuã agridem violentamente Martim, e Iracema avança
com ferocidade contra os dois, ferindo-os gravemente. Prevendo a derrota,
a tribo tabajara bate em retirada.
O casal, então, refugia-se em uma praia deserta, onde Martim constrói
uma cabana. Iracema passa muito tempo sozinha enquanto o amado
fiscaliza as costas, em expedições a mando do governo português. Martim
é constantemente tomado pela melancolia e nostalgia de sua terra natal, o
que entristece Iracema, que passa a pensar que sua morte seria, para ele,
uma libertação.
Não muito tempo depois, Iracema descobre-se grávida, mas Martim
precisa partir para defender, junto a Poti, a tribo pitiguara, que está sob
ataque. Iracema acaba tendo o filho sozinha, e batiza a criança de Moacir,
o nascido de seu sofrimento. Ferida pelo parto e pela tristeza profunda, o
leite de Iracema seca; Martim chega a tempo de Iracema entregar-lhe a
criança e falecer logo em seguida.
O corpo de Iracema foi enterrado ao pé do coqueiro, à borda do rio, onde a
Jandaia repetia tristemente o seu nome e as terras próximas viriam a ser
chamadas de Ceará. Ao final, Martim, que sentia muitas saudades de sua
terra, retorna ao velho continente com seu cão e seu filho.
Sofrendo a perda de Iracema, Martim retorna a sua pátria com o filho.
Quatro anos depois, volta novamente ao Brasil, onde ajuda a implantar a
fé cristã, convertendo Poti, que recebeu o nome de Felipe Camarão. Os
dois ajudaram o comandante Jerônimo de Albuquerque na luta contra os
holandeses. Quando podia, Martim ia ao local onde Iracema estava
enterrado e se deixava consumir pela saudade.

▷ Análise da obra

Iracema foi escrito em 1865 por José de Alencar (1829-1877) e pertence à


primeira geração romântica, intitulada “indianista”. Isso porque nela se
elege a figura do índio como herói do mito de formação da sociedade
brasileira. De fato, uma das principais bandeiras dessa fase é o forte tom
nacionalista, que procura refundar a identidade cultural brasileira, tendo
em vista a recém-independência do Brasil de Portugal.

É uma obra narrada em terceira pessoa, e o narrador é onisciente. Além


disso, O trabalho linguístico promovido por Alencar faz com que a obra seja
situada no gênero de prosa poética, pois o autor privilegia aspectos
relacionados à forma da poesia, como o ritmo e o uso abundante de
metáforas e comparações.
A obra apresenta características típicas da estética romântica, como o
sentimentalismo e o sofrimento amoroso; a idealização das personagens; o
nacionalismo e a valorização dos elementos da natureza brasileira, etc.

Utilizando-se desse encontro entre a índia e o seu amado, José de Alencar


faz uma alegoria do processo de colonização do Brasil e de toda a América,
fazendo uma reflexão a respeito da formação identitária do Brasil, por meio
da miscigenação entre o indígena e o europeu.
O nome Iracema é um anagrama da palavra “América”, e o nome de seu
amado, Martim, lembra-nos Marte, deus romano da Guerra e da destruição.
A união entre os dois representa a lenda da criação do Ceará, pois Iracema
foi enterrada à sombra de um coqueiro em que a jandaia, sua ave de
estimação, cantava em lamento à sua morte. Ceará significa “canto da
jandaia”. É também da união entre o casal que nasce Moacir, cujo nome
significa “o filho do sofrimento”, representando o primeiro cearense e a
gênese da nacionalidade brasileira, fruto do enlace entre o colonizador e o
indígena.

Pode-se afirmar que a narrativa aborda uma perspectiva positiva do


processo da colonização portuguesa, na medida em que retrata grandes
paixões dos povos originários pelos homens europeus e se mantém omisso
ao fato de que os portugueses trouxeram consigo doenças, guerras,
escravidão e genocídio.

Você também pode gostar