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COMPARTILHAR CONSOLAÇÃO
Pb. Luiz Henrique Caracas
Primeira Santa ceia de 2022
Congregação Basílio 1
2 Coríntios 1:1-11
1. Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de
Deus que está em Corinto e a todos os santos em toda a Acaia.
2. Que a graça e a paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam com vocês.
3. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus
de toda consolação!
4. É ele que nos consola em toda a nossa tribulação, para que, pela consolação que nós
mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que estiverem em qualquer espécie
de tribulação.
5. Porque, assim como transbordam sobre nós os sofrimentos de Cristo, assim também
por meio de Cristo transborda o nosso consolo.
6. Se somos atribulados, é para o consolo e a salvação de vocês; se somos consolados, é
também para o consolo de vocês. Esse consolo se torna eficaz na medida em que vocês
suportam com paciência os mesmos sofrimentos que nós também suportamos.
7. A nossa esperança em relação a vocês é sólida, sabendo que, assim como vocês são
participantes dos sofrimentos, assim também serão participantes da consolação.
8. Porque não queremos, irmãos, que vocês fiquem sem saber que tipo de tribulação nos
sobreveio na província da Ásia. Foi algo acima das nossas forças, a ponto de perdermos
a esperança até da própria vida.
9. De fato, tivemos em nós mesmos a sentença de morte, para que não confiássemos em
nós mesmos, e sim no Deus que ressuscita os mortos,
10. o qual nos livrou e ainda livrará de tão grande morte. Nele temos esperado que ainda
continuará a nos livrar,
11. enquanto vocês nos ajudam com orações a nosso favor, para que, por muitos, sejam
dadas graças a Deus a nosso respeito, pelo benefício que nos foi concedido por meio da
súplica de muitos.
Introdução
Diante de nós temos um dos textos mais íntimos escritos pelo apóstolo Paulo. Aqui
temos um homem com coração aberto diante da igreja que ele amava. A igreja que ele
havia plantado e cuidado com muito amor, mas que naquele tempo, no final da década de
50 d.C., estava de alguma forma virando as costas para o seu pastor.
Este é um texto muito forte, do qual podemos aprender muito, se tivermos o coração
sensível, os olhos e ouvidos atentos. Há sofrimento no mundo. Há dor e angústia. Isto
todos sabemos. Mas será que há propósito em todo este sofrimento? Será que podemos
aprender com as nossas dores. As nossas feridas na alma podem nos ensinar alguma coisa.
Deus pode usar esse material (por muitas vezes distorcido, confuso e aparentemente
imprestável) para sua glória? Onde Deus está quando nós estamos sofrendo? Como
reconhecemos o cuidado de Deus mesmo diante das tribulações que são mais fortes que
nós?
São questões que se põem diante de mim todas as vezes em que leio esse texto que
hoje quero compartilhar com vocês.
I. Tribulações de todos os tipos
Deus nos consola em todas as nossas tribulações (v.3). Não é que Deus nos console
em muitas tribulações, ou na maioria das tribulações. Deus nos consola em todas as nossas
tribulações, e, como sabemos, elas são muitas. O Salmista já dizia que muitas são as
aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra.
Salmos 34.18,19
18. Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva
os de espírito oprimido.
19. Muitas são as aflições do justo, mas o Senhor de todas o livra.
Como alguém dramático por natureza, 2 Coríntios é uma carta que mexe demais
com as minhas emoções. Sendo a carta mais pessoal de Paulo, ele a escreve em um
momento de crise no seu relacionamento com aquela Igreja que ele ajudou a plantar. Aqui
Paulo relata muitas das suas tribulações. Provavelmente por isso ele já começa a carta
dizendo que Deus é o Consolador.
No texto que lemos, no versículo 8, Paulo revela a profundidade da provação que
ele enfrentou na Macedônia, isto é, na província da Ásia.
Um tipo de provação acima das suas forças, maior do que podia suportar. O apóstolo
volta ao assunto no capítulo 7:
Todos os tipos de tribulações. Lutas por fora, temores por dentro. Não é fácil a vida
do crente! Lutas por fora, a depender de como estivermos, ainda vai. Existem tribulações
que nos chegam e estávamos totalmente fortalecidos. Provas para as quais estamos
prontos. Tiramos de letra, nota 10. Porém, quando as lutas externas encontram os nossos
temores internos, a coisa não é tão fácil assim de lidar.
Todos os tipos de tribulações. Provações físicas, provações psicológicas. Provações
que vão além da nossa capacidade de suportar. O desespero que assombra a nossa vida.
Os infinitos medos, os anseios mais profundos. O tempo em que a nossa terra se torna
árida, e a nossa vida mais parece um deserto, um sertão. Em Lamentações, Jeremias
chegou ao ponto de dizer que já não sabia o que significava ter paz (Lm 3.17). Quando as
nossas forças se esgotam e o mundo está desmoronando em nós. Quando as muitas águas
estão se revirando dentro de nós em tempestades insondáveis.
Nós vemos aqui o grande Apóstolo dos Gentios dizendo que Deus permitiu que ele
atravessasse um vale tão escuro e que essa provação foi acima das suas forças. E este tom
melancólico está presente em muitas ocasiões nesta 2ª carta aos coríntios. Nos capítulos
11 e 12 ele detalha vários tipos de provações que se levantaram em seu ministério. Prisões,
acoites, naufrágios, abandonos, preocupação com a igreja, espinho na carne. Uma história
de vida que cumpre o que Jesus disse a Hananias no dia em que Paulo se converteu: Pois
eu mesmo vou mostrar a ele quanto deve sofrer pelo meu nome (Atos 9.16).
Os seres humanos podem passar por provações sem orar a Deus. Mas todo aquele
que sofre e ora, em momentos de tribulação, mais cedo ou mais tarde, vai perguntar a
Deus o porquê de tanta luta. Os salmistas recorriam sempre a esses questionamentos. A
oração do sofredor está por todos os lados. Pensemos em Luiz Gonzaga olhando a terra
seca do sertão do Pernambuco ardendo igual a uma fogueira. Diz o poeta nordestino:
Sofrer e orar, eis a vida debaixo do sol. Porém, 2 Coríntios não é apenas sobre
sofrimento. Muito mais que isso. É sobre o Deus que não nos abandona na hora da dor.
Mesmo sendo quem somos, Ele nos ama e não nos deixa. Não desiste de nós. E aqui
mesmo no texto que temos diante de nós, percebemos Paulo nos contar sobre o propósito
das tribulações.
8. Porque não queremos, irmãos, que vocês fiquem sem saber que
tipo de tribulação nos sobreveio na província da Ásia. Foi algo
acima das nossas forças, a ponto de perdermos a esperança até da
própria vida.
9. De fato, tivemos em nós mesmos a sentença de morte, para que
não confiássemos em nós mesmos, e sim no Deus que ressuscita
os mortos,
Deus, em cada provação, está trabalhando em nós. Paulo havia recebido a sentença
de morte, e foi neste lugar em que Ele também percebeu que naquele momento sua
confiança em Deus havia aumentado.
Algumas vezes em tribulações podem surgir pensamentos em nós do tipo: eu só
estou procurando a Deus agora porque estou sofrendo. Muitas vezes as pessoas que estão
ao nosso redor nos dizem tais coisas. Mas, também, muitas vezes somos nós mesmos que
pensamos isto e nos sentimos desconfortáveis ao orar.
Porém, o que aprendemos aqui é que essa sentença de morte promoveu uma
confiança em Deus que não havia antes. Já que tudo se acabou mesmo. Já que as nossas
expectativas na força dos homens já se frustraram. Já que os sonhos não se realizaram, só
sobrou Deus. É nesse momento em que não temos mais saída, nos sentimos cercados por
todos os lados.
Eu me recordo em um momento de muita tribulação e falta de esperança que
atravessei pelos idos de 2010. Uma frustração enorme estava sobre a minha vida e eu me
sentia, inclusive, totalmente distante de Deus sem esperança de voltar. Eu me sentia
rodeado e aprisionado por todos os lados. Muros altíssimos ao eu meu redor. Mas o
Senhor me disse que era poderoso para me tirar por cima destes muros que eu mesmo
havia construído e dos quais eu não podia sair. Eu não podia fazer nada, mas Deus sim.
E Ele queria fazer. E Ele fez.
Não estamos falando sobre o ideal de sempre nos mantermos em busca por Deus,
em uma vida totalmente equilibrada e linear de disciplinas espirituais e fé constante em
todas as provações. Eu sinceramente não sei se esse ideal é possível, não sei se ele existe.
Eu confesso que não o vejo em mim, mas também confesso que fico aliviado quando vejo
o grande Paulo dizendo que a sentença de morte veio para que Ele confiasse total e
unicamente em Deus. Aqui nós também entendemos um pouco do significado das
palavras o apóstolo em Romanos 8.28, a saber, que todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus.
A tribulação impensável, as lutas externas e os temores internos vieram para fazer
crescer a confiança em Deus. E graças a Deus por isso. Mas também havia mais uma
resposta cheia de Graça da parte do Senhor. Paulo abre a carta dizendo que Deus é o pai
das misericórdias, que Ele é o Deus de toda consolação. Paulo aprendeu a confiar mais, e
juntamente com esse aprendizado, recebeu mais uma prova do Amor de Deus. O Senhor
o consolou.
2 Coríntios 7.4-7
4. Estou sendo bem franco com vocês e tenho muito orgulho de
vocês. Sinto-me grandemente confortado e transbordo de alegria
em meio a toda a nossa tribulação.
5. Porque, quando chegamos à Macedônia, não tivemos nenhum
alívio. Pelo contrário, em tudo fomos atribulados: lutas por fora,
temores por dentro.
6. Porém Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a
chegada de Tito.
7. E não somente com a chegada dele, mas também pelo consolo
que recebeu de vocês. Ele nos falou da saudade, do pranto e do
zelo que vocês têm por mim, aumentando, assim, a minha alegria.
Deus nos consola a fim de nos transformar em consoladores. Não é apenas para
recebermos a consolação e guardarmos para nós mesmos. Nós somos chamados a
compartilhar consolação.
Nós compartilhamos um propósito com a Igreja, a saber, que sejamos, neste tempo,
uma comunidade acolhedora. É tempo de acolher! Imagina como Paulo foi consolado
pela Igreja de Corinto ao saber que aqueles irmãos renovaram a acolhida em relação ao
apóstolo...
Pensa como foi gratificar Paulo se sentir amado e acolhido pelas pessoas a quem
ele amava tanto. E este é o mesmo que agora está escrevendo e testificando que Deus é o
Consolador de todas as tribulações. Paulo está aqui compartilhando consolação. Ele sabe
o que Deus pode fazer, e esta experiência está sendo compartilhada. Ela é compartilhada
em todas as suas cartas. Deus é acolhedor, Deus é consolador e Ele é o nosso Pai. Assim,
a vontade dEle é que sejamos parecidos com ele. Que sejamos agentes de consolação.
Diante da mesa do Senhor, no lugar de comunhão eterna, o Senhor nos chama a
sermos como Tito, pessoas que chegam e consolam. Gente cuja presença é instrumento
de consolação. Gente que viu Deus abrir a porta pra nos tirar de todos os tipos de
tribulações e agora pode se tornar guia para a mesma porta.
Eu quero ser alguém com quem Deus pode contar para consolar pessoas. Eu quero
ser instrumento de cura para alguém. Assim como Ester foi escolhida para, no seu tempo,
ser instrumento de livramento para o povo judeu, neste tempo, o Senhor nos escolheu
para sermos agentes de consolação.
Conclusão
Minha oração é para que haja em nós esse desejo de consolar alguém com a
consolação que recebemos do Senhor. Apesar de tudo. Apesar das nossas dores. Deus
está presente! E Ele não nos abandona. As tribulações são o terreno fértil, regado por
nossas lágrimas, no qual o Senhor faz crescer a nossa fé e amadurecer o nosso
relacionamento com Ele. Depois de sua provação, Jó disse: Bem sei eu que tudo podes e
nenhum dos teus planos podem ser frustrados. Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora
os meus olhos te veem (Jó 42).
Nós vamos resistir. E no caminho Deus vai nos usar para confortar alguém. O
Espírito Santo vai nos usar. Ele vai nos fortalecer e nos tornar instrumentos para fortalecer
alguém.
2 Coríntios 4.8-10
8. Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; ficamos
perplexos, porém não desanimados;
9. somos perseguidos, porém não abandonados; abatidos, porém
não destruídos.
10. Levamos sempre no corpo o morrer de Jesus, para que
também a vida dele se manifeste em nosso corpo.