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Sobrevivendo ao Desânimo
João 16:33 – “Eu disse essas coisas para que em mim vocês
tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham
ânimo! Eu venci o mundo”.
Introdução
Uma das maiores marcas que nossos dias tem deixado em cristãos do mundo todo é uma
profunda onda de desânimo espiritual. Sinto uma profunda tristeza em ver a quantidade de
pessoas que afirmavam ser crentes em Cristo e que hoje estão dentro de suas casas,
vivendo como se o Salvador não existisse. Embora tenha consciência de que a profissão de
fé da maior parte dos evangélicos brasileiros é deficitária e a maior parte deles mal
consegue conceituar biblicamente o que é a salvação, essa é uma realidade que
precisamos combater para sobreviver. Sim, precisamos sobreviver ao desânimo.
Nessa reflexão, o desejo do meu coração é pontuar com vocês o que é o desânimo, como
ele surge em nossas vidas e o que precisamos fazer para vencê-lo e prosseguir nossa
caminhada até a Canaã Celestial. E vou exemplificar esse ensinamento acompanhando
com vocês a história dos dois discípulos no caminho de Emaús. Espero sinceramente que o
Senhor fale ao seu coração!
o que é o desânimo?
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A primeira, todo crente, por mais virtuoso que seja, está passível de desanimar vez ou
outra. Não devemos tratar o fato de nos encontrarmos pontualmente desanimados como o
fim do mundo ou da carreira espiritual. Levar a pesada cruz do discipulado nos ombros
causa um desgaste natural, por isso, ao nos convidar a obedecermos o mandamento de
congregarmos regularmente (Hb 10.25), Deus está nos dando um remédio eficaz para
evitarmos o desânimo persistente, porque a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus
(Rm 10.17).
A segunda, embora o desânimo possa chegar a nos atingir, ele deve ser tratado por nós
com severidade, porque a Escritura afirma que sem fé, é impossivel agradar a Deus (Hb
11.6). A desesperança que naturalmente acompanha esse esmorecimento dificultará nossa
percepção da graça de Deus e isso, paulatinamente, afrouxará nossas convicções e
valores. O desânimo persistente, que se configura como uma forma de incredulidade, deve
ser tratado com pecado, que exige de nós arrependimento e mudança de coração.
No dia em que Jesus ressuscitou, dois dos seus discípulos estavam de caminho para uma
aldeia chamada Emaús, que era localizada há cerca de dez quilômetros de Jerusalém.
Ambos estavam profundamente impactados com os fatos que haviam se sucedido (a morte
cruenta de Cristo na cruz) e entristecidos porque a esperança que haviam criado a respeito
da obra do Messias havia se frustrado (Lc 24.13-17).
A segunda coisa que percebo é o tratamento especial que Cristo dedica a quem está
desanimado. Podemos imaginar que o desanimado está sozinho, mas a Escritura nos
mostra que Deus sente prazer em levantar o caído e aqui não foi diferente: enquanto eles
conversavam e discutiam, o próprio Cristo foi até eles e lhes perguntou: "o que é isso que
vos preocupa à medida que vocês caminham?" (vv.17). Apesar do desânimo poder se
configurar como um estado pecaminoso, Jesus não abandona o desanimado. Aleluia!
A terceira coisa que o texto deixa claro é que o desanimado sempre tem desculpas para a
sua situação. Ao serem questionados por Jesus a respeito da suas tristezas, um deles
respondeu que estavam daquela maneira pelos fatos que haviam acontecido com Jesus
(até o momento, eles não o haviam reconhecido). Eles esperavam que Jesus fosse o
libertador político de Israel (o que nunca foi o plano divino) e ao perceberem essa
expectativa falhou, optaram por mergulhar novamente no profundo mar da desilução. É,
realmente os discípulos as vezes não sabem lidar com os caminhos profundos do Senhor.
A quarta coisa que observo é que havia uma frustração em ambos porque alguns haviam
alegado ter visto o Cristo ressuscitado, mas eles ainda não haviam visto (e estavam diante
dEle, sem o perceber). Uma das fontes geradoras do desânimo é quando pensamos que
Cristo está fazendo mais pelo nosso irmão do que pela gente. Quando não entendemos o
evangelho da graça, pensamos que Deus é alguém que existe para nos satisfazer quando
precisamos dEle. Contudo, ao sermos iluminados pelo Espírito e vermos o tamanho da
nossa depravação espiritual, somos encorajados a perceber que o perdão dos pecados e a
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justificação são provas suficientes da bondade de Deus para conosco. Um crente que tem
consciência dos seus pecados e do perdão que recebeu é capaz de se "alegrar com os que
se alegram", sem perder seu ânimo espiritual.
Jesus ama restaurar ao desanimado, mas trata o desânimo com a severidade que ele
merece. As palavras de Cristo são surpreendentes e fortes:
A primeira coisa que aqueles discípulos deveriam fazer era, nas palavras de Cristo, crer no
que a Escritura estava dizendo. Se quisermos sobreviver as ondas de desânimo que tentam
nos afogar, precisamos retornar ao lugar de onde flui a voz do Espírito: a palavra escrita que
nos foi revelada e deixada, a Bíblia.
A segunda coisa que Jesus fez foi mostrar por toda a Escritura revelada até aquele
momento (o Antigo Testamento) o que dele estava escrito. Imaginem que gostoso deve ter
sido participar de uma aula de Escola de Discípulos com Jesus como professor? Havia um
propósito pedagógico nisso: somos tentados a ler a Bíblia para descobrirmos o que ela tem
a dizer a nosso respeito. Mas Jesus nos mostra com esse gesto que devemos ler a Bíblia
para compreender o que ela diz a respeito dEle. Quanto mais conhecermos a Cristo e mais
nos saciarmos nas límpidas fontes da salvação, mais fortalecidos seremos para
enfrentarmos a nós mesmos, ao mundo e às trevas que nos cercam. Todo o universo gira
em torno de Cristo e de sua obra de salvação.
A terceira coisa maravilhosa a ser observada no texto foi a mudança de atitude dos
discípulos. Lembra que falei que o desânimo é contagioso? A fé é muito mais! Após algum
tempo de conversa com Jesus, o coração deles ficou aquecido a ponto deles não quererem
mais ficar sozinhos. Eles precisavam continuar ouvindo aquelas palavras de vida eterna,
que lhes fizeram enxergar que mesmo na tragédia da cruz, o Deus soberano estava
cumprindo de modo cabal seu plano de levar pecadores ao arrependimento e atrair seus
eleitos a fé pessoal em Jesus Cristo. Se quisermos vencer o desânimo, precisamos estar
perto de pessoas animadas. Observe os desanimados da igreja e perceba duas coisas: ou
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eles preferem ficar à parte do que Deus está fazendo na comunidade ou eles se juntam a
gente desanimada como eles. E olhe para aqueles que tem dado frutos abundantes para o
Reino, eles sempre estão ladeados de pessoas cheias de fé. Ande com pessoas cheias de
fé e a sua incredulidade será vencida.
Por fim, a lembrança dos sofrimentos do Messias lhes trouxeram ânimo para continuar.
Quando entraram para o repouso e foram fazer a refeição, Jesus tomou o pão e o partiu
diante deles. Esse gesto era um costume judaico de dar graças pela refeição. No ato, o
hospedeiro (que não era o caso de Jesus, que era o hóspede) levantava ao céu o pão,,, o
partia, e agradecia a Deus. Certamente, ao levantar suas mãos em oração, as feridas dos
cravos ficaram evidentes; aquelas marcas de amor aguçaram suas memórias e eles
perceberam que diante deles estava o Amado e Bendito Salvador.
Conclusão
Que Deus, por sua graça, avive nosso coração e nossa esperança, para seguirmos diante
dele com coragem e ousadia, cumprindo nossa vocação e não permitindo que o desânimo
venha ocupar em nós o lugar que pertence a Cristo. Que o sofrimento do Salvador para nos
resgatar nos encoraje a perseguirmos dia após dia o objetivo de glorificarmos a Deus e
sermos achados irrepreensíveis na ocasião da sua vinda.
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