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LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURA – PROFª ELAINE LOURENZO

ATIVIDADE AVALIATIVA 1 – 3 º bimestre

Casa de pensão

Logo depois de conhecer Amâncio, João Coqueiro trama com sua esposa, Madame Brizard, um plano
para fazer com que o moço se case com sua irmã, Amélia.

João Coqueiro, quando saiu do Hotel dos Príncipes na manhã do almoço, ia preocupado (...) e correu
logo para casa.
Ao chegar foi direto à mulher (...).
- Sabes? disse ele, sem transição, assentando-se ao rebordo da cama. - É preciso arranjarmos cômodo
para um rapaz que há de vir por aí domingo. (...)
- É um achado precioso! Ainda não há dois meses que chegou do Norte, anda às apalpadelas!
Estivemos a conversar por muito tempo: - é filho único e tem a herdar uma fortuna! (...)
Mme. Brizard escutava, sem despregar os olhos de um ponto, os pés cruzados e com uma das mãos
apoiando-se no espaldar da cama.
- Ora, continuou o outro gravemente. - Nós temos de pensar no futuro de Amelinha... ela entrou já nos
vinte e três!... se não abrirmos os olhos... adeus casamento!
- Mas daí... perguntou a mulher, fugindo a participar da confiança que o marido revelava naquele plano.
- Daí - é que tenho cá um palpite! explicou ele. - Não conheces o Amâncio!... A gente leva-o para onde
quiser!... Um simplório, mas o que se pode chamar um simplório!
Mme. Brizard fez um gesto de dúvida.
- Afianço-te, volveu Coqueiro - que, se o metermos em casa e se conduzirmos o negócio com um certo
jeito, não lhe dou três meses de solteiro! (...)
- Negócio decidido! A questão é arranjar-lhe o cômodo, e já! Tu - fala com franqueza à Amelinha; a
mim não fica bem... (...)
Nessa mesma tarde Mme. Brizard entendeu-se com a cunhada. Falou-lhe sutilmente no "futuro", disse-
lhe que "uma menina pobre, fosse quanto fosse bonita, só com muita habilidade e alguma esperteza poderia
apanhar um marido rico". (...)
Amélia riu, concentrou-se um instante e prometeu fazer o que estivesse no seu alcance, para agradar ao
tal sujeitinho.
Ardia, com efeito, por achar marido, por se tornar dona de casa. A posição subordinada de menina
solteira não se compadecia com a sua idade e com as desenvolturas do seu espírito. Graças ao meio em que se
desenvolveu, sabia perfeitamente o que era pão e o que era queijo; por conseguinte as precauções e as reservas,
que o irmão tomava para com ela, faziam-na sorrir.
Às vezes tinha vontade de acabar com isso. "Que diabo significavam tais cautelas?... Se a supunham
uma toleirona, enganavam-se - ela era muito capaz de os enfiar a todos pelo ouvido de uma agulha!"
- Agora, por exemplo, neste caso do tal Amâncio, que custava ao Coqueiro explicar-se com ela
francamente? (...) Mas, não senhor! - meteu-se nas encolhas e entregou tudo nas mãos da mulher! (...)
E Amélia, quanto mais refletia no caso, tanto mais se revoltava contra a reserva do irmão:
- Ele já devia conhecê-la melhor! pelo menos já devia saber que aquela que ali estava era incapaz de cair
em qualquer asneira; aquela que não " dava ponto sem nó". Outra, que fosse, quanto mais - ela, que conhecia os
homens, como quem conhece a palma das próprias mãos! - Ela, que vira de perto, com os seus olhos de virgem,
toda a sorte de tipos! - ela, que lhes conhecia as manhas, que sabia das lábias empregadas pelos velhacos para
obter o que desejam e o modo pelo qual se portam depois de servidos! - Ela! tinha graça! (...)
AZEVEDO, Aluísio. Casa de pensão. São Paulo. Ática, 1992.p.71-73(Fragmento).

1 - Atividade de Leitura:
a) A partir do texto acima, que tipo de imagem o leitor tem de João Coqueiro?
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b) Mme. Brizard fica incumbida de falar com Amélia sobre o plano do casamento. Que argumento ela
usa para convencer a cunhada a cooperar? ________________________________________________

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c) Qual a diferença da personagem Amélia para as personagens dos romances românticos?

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TEXTO 2

O CORTIÇO
Aluísio de Azevedo
Capítulo I

João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as
quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco
que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados
vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.
Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor,
possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o
balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A
comida arranjava-lha, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula
trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma
carroça de mão e fazia fretes na cidade.
Bertoleza também trabalhava forte; a sua quitanda era a mais bem afreguesada do bairro. (...) Um dia,
porém, o seu homem, depois de correr meia légua, puxando uma carga superior às suas forças, caiu morto na
rua, ao lado da carroça, estrompado como uma besta.
João Romão mostrou grande interesse por esta desgraça, fez-se até participante direto
dos sofrimentos da vizinha, e com tamanho empenho a lamentou, que a boa mulher o escolheu
para confidente das suas desventuras. (...)E segredou-lhe então o que tinha juntado para a sua liberdade e acabou
pedindo ao vendeiro que lhe guardasse as economias, porque já de certa vez fora roubada por gatunos que lhe
entraram na quitanda pelos fundos.
Daí em diante, João Romão tornou-se o caixa, o procurador e o conselheiro da crioula. No fim de pouco
tempo era ele quem tomava conta de tudo que ela produzia e era também quem punha e dispunha dos seus
pecúlios, e quem se encarregava de remeter ao senhor os vinte mil-réis mensais. Abriu-lhe logo uma conta
corrente, e a quitandeira, quando precisava de dinheiro para qualquer coisa, dava um pulo até à venda e recebia
-o das mãos do vendeiro, de “Seu João”, como ela dizia.(...)
E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da mulher, que esta afinal nada mais
resolvia só por si, e aceitava dele, cegamente, todo e qualquer arbítrio. (...)
Quando deram fé estavam amigados.
Ele propôs-lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um
português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o
homem numa raça superior à sua.
João Romão comprou então, com as economias da amiga, alguns palmos de terreno ao
lado esquerdo da venda, e levantou uma casinha de duas portas, dividida ao meio paralelamente à rua, sendo a
parte da frente destinada à quitanda e a do fundo para um dormitório que se arranjou com os cacarecos de
Bertoleza. (...)

Vocabulário: refolhos: parte mais distante; labutação: trabalho esforçado; estrompado: cansado; cafuza: mestiça de
índio e negro.
I - Leitura:

1) Esse fragmento apresenta João Romão e Bertoleza, personagens centrais de O Cortiço. Como eles são
caracterizados? ____________________________________________________________________________

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2) O desejo de enriquecer de João Romão determinará todas as suas atitudes ao longo do romance. De que
maneira essa característica é revelada no texto?

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3) Releia: “Ele propôs-lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com
um português, porque, como toda cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procura institivamente o
homem numa raça superior à sua.” O narrador afirma que a união de Bertoleza com João Romão foi
“instintiva”. Explique que teoria, explorada pelos autores naturalistas, é expressa a partir do comportamento de
Bertoleza.
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