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As tentativas de sistematização de uma história judaica tem trazido diversos problemas

aos estudiosos, pois há inúmeros problemas a serem resolvidos ao tratar-se deste


assunto. Temos, entre estes problemas, a questão de determinar precisamente quando se
inicia uma história do povo judeu: se como grupo étnico, religioso ou cultural, e as fontes
que servem como base de estudo para esta história. Geralmente os documentos extra-
bíblicos relacionados ao período mais antigo da história judaica são escassos e sujeitos a
debates, o que levou a duas ramificações de estudo: a postura maximalista, que diz que
tudo que não pode ser comprovado como falso e deve ser aceito como verdadeiro, e a
postura minimalista que diz que os eventos que não são corroborados por eventos
contemporâneos devem ser descartados.

Versão bíblica
A versão bíblica da história judaica mostra que os judeus são uma nação escolhida
por Deus, como um povo separado e santo, guardião das leis dadas por Deus. Assim a
história bíblica de Israel é uma história onde Deus intervém no mundo, de acordo com a
relação de Israel para com Deus.
Os patriarcas e o êxodo
De acordo com a tradição judaico-cristã, a história judaica começa com o chamado
de Deus ao caldeu Abraão. Abraão teria sido um fiel seguidor do monoteísmo em uma
época de idolatria, o que fez com que Deus prometesse dar descendência a Abraão e
fazer desta o povo eleito deste Deus. Esta promessa se cumpriria com o nascimento
de Isaac, que daria origem a Jacó e que este seria pai de doze filhos, os quais seriam os
pais das doze tribos de Israel. Após a imigração para o Egito, devido a uma grande fome,
a família de Jacó cresce em número e influência, o que leva à sua escravização por parte
dos egípcios, e o surgimento de um libertador, Moisés, que sob a mão de Deus tira o povo
do Egito, entrega-lhes as leis divinas e dá aos filhos de Jacó um sentido de "nação". Após
uma peregrinação de 40 anos no deserto, este povo teria, sob o comando de Josué,
conquistado a terra de Canaã.
Os juízes e a monarquia unida
Os israelitas conquistaram algumas regiões de Canaã, mas ainda assim não mantiveram
uma unidade nacional. Cada tribo mantinha suas leis e costumes e uniam-se ou
combatiam entre si, de acordo com as suas conveniências. Geralmente por lutar cada tribo
era governada e julgada por juízes, pessoas que seriam determinadas por Deus para tal
cargo.
Posteriormente, os israelitas, ao se sentirem dispersos, pedem um rei a Deus. Saul,
escolhido por Deus, torna-se rei de Israel. Mas a sua rebeldia, em seguir os mandamentos
da Torá, faz com que perca o reinado e, após alguns contra tempos, Davi, um pastor-
guerreiro de Judá é escolhido por Deus para ser rei. Aqui apresentam-se a primeira vez a
unificação das tribos em uma única nação e inicia-se o período áureo da história judaica,
que será consolidado com o reinado de Salomão, filho de Davi

Historiografia Judaica
A Bíblia Sagrada constitui o alimento base da historiografia Judaica, pós
estabelece só por si, toda uma literatura, tal a variedade de géneros nela
apresentada: poesia, história, direito, etc. Pela natureza e quantidade dos
temas nela abordados, a Bíblia constitui uma verdadeira literatura da nação
Judaica e como tal, uma valiosíssima fonte de informação acerca da sua
História, assim como da história dos povos do próximo oriente, com os quais os
Judeus estiveram em contacto com os: Caldeus, Egípcios, Fenícios, Assírios,
Persas.
Até ao primeiro quartel do século XIX, por falta de outras fontes, a Bíblia foi a
principal fonte de informação acerca da História do Próximo Oriente Antigo.
Este caso aliada ao facto de ser também o livro sagrado de católicos,
protestantes e cristãos ortodoxos, conferiu ao conteúdo da Bíblia uma
credibilidade quase universal.
A Bíblia passa para o segundo plano, com a decifração das antigas escritas
egípcias e cuneiformes, como fonte histórica dos Judeus, não só pela
abundância, como também pela antiguidade e credibilidade das novas fontes.

A Bíblia apresenta um conjunto de seis obras (Hexateuco), assim


cognominadas: Génesis, Êxodo, Levítico, Números; Deuternómio e Josué.

 O Deuternómio e o Levítico, são leis e os restantes constituem a história dos


hebreus desde a origem até a sua instalação definitiva em Canaan (Palestina), depois
do deporto no Egipto;Os Livros apócrifos: Livro de Macabeus, Livro de Judite;
 Os livros poéticos: Salmos, Lamentações, Poesia erótica (Salmo XLV e Cântico
dos Cânticos), poesia didáctica (Livro de Jó, Provérbio e Eclesiástes);
 Os Livros proféticos: Livros de Isaias, Jeremias, Ezequiel e de outros profetas
menores;
 Os Livros apocalípticos: Livro de Daniel.
Estes livros não têm a mesma idade. Em suma, o que fundamentalmente
caracteriza a Historiografia Judaica é a sua incapacidade em aceder a uma
concepção universalista do homem. Tudo se passa para o Judeu, como se a
História da nação judaica fosse o contexto da história universal.

Características da Historiografia Judaica


O que fundamentalmente caracteriza a Historiografia Judaica é a sua
incapacidade em aceder a uma concepção universalista do homem. Tudo se
passa como se a História da nação Judaica fosse o contexto da História
Universal.

Historiografia cristã
Medieval
Começa por volta do ano 476 no século V com a queda do império romano do
Ocidente na sequência da tomada de Roma pelos bárbaros. A destruição do
Império   Romano do Ocidente marca o fim da Antiguidade esclavagista e o
início da Idade Média feudal. A substituição da formas de vida política,
económica e social até ai estabelecidas devido a paralisação da actividade
comercial, destruição das cidades e fuga das populações das zonas urbanas
para as rurais (ruralização).

O ecumenismo grego e romano foram frutos de expansão, daí  o período


medieval ser considerado um período de retrocesso devido a regressão da
expansão na medida em que as pessoas regressaram ao campo onde
encontraram a base da riqueza – a terra. Os contactos entre as pessoas
diminuíram, a sociedade tornou-se fechada e conservadora com traços
gentílicos de uma sociedade socialmente igualitária do século I na idade media
o cristianismo tornou-se uma religião de classes onde o clero ocupa um lugar
de destaque na hierarquia social.

Portanto o advento da Idade Média do século  IV V, acompanha a progressiva


implantação do cristianismo no mundo ocidental e a instalação do pensamento
cristão como forma de pensamento dominante entre a classe intelectual. Esta
transformação das estruturas mentais e intelectuais  que vinha do Império
romano fez aparecer uma nova concepção historiografia norteada pela
concepção cristã do mundo cuja  produção é da responsabilidades dos
monges.

Segundo a concepção medieval da história todo o curso da humanidade é


regida pela providência divina .

Para Mercea Eliade a história medieval revela-se como nova dimensão da


presença de Deus no mundo. Esta concepção tem uma finalidade trans-
histórica.

Contrariamente a este pensador, Henri Marrou defende que o cristianismo


medieval contribui de dois modos para o desenvolvimento do pensamento
histórico:

1° Porque assenta numa concepção de tempo contínuo e irreversível, isto é, os


acontecimentos da vida de Jesus são datados e localizados;

2° Transmite uma filosofia de história, ao considerar o papel da providência


como motor da evolução.

A historiografia medieval é a aplicação da concepção de Santo Agostinho na


sua obra “Cidade de Deus,” ao afirmar que os romanos foram honrados em
quase todas as nações. Não têm motivos para se queixar da justiça de Deus
supremo e verdadeiro: receberam uma recompensa. Em contra partida os
judeus que tinham morto cristo, foram justamente entregues aos romanos para
a glória destes. Aqueles que pela sua virtudes procuram obter a gloria terrestre
devem vencer aqueles que com seus enormes vícios  mataram e recusaram a
verdadeira gloria da cidade eterna.
Portanto, Santo Agostinho defende  fortemente que os acontecimentos são de
origem divina e não podem ser concebidos de outro modo.

A partir do século XIII surge na Europa ocidental um novo tipo de historiografia


de iniciativa régia  ou senhorial, que tem por centro as respectivas cortes e por
autores cronistas ao serviço dos reis ou dos senhores que lhes contratam e
lhes encomendam as Crónicas dos seus principados ou reinados.

Tratava-se não de uma transmissão de uma imagem fiel e objectiva dos factos
narrados mas de uma imagem conveniente à instituição servida pelo cronista.
Até que o próprio colunista era um homem ao serviço do príncipe.

Enquanto esta história palaciana  continuava a assegurar séculos próximos


através de Crónicas e Annales , o século XIV vê a emergir a historiografia
burguesa fazendo a história das cidades que se tornaram autónomas.

Deste modo, as Crónicas burguesas do século XIV abandonaram sem


polemizar a historiografia cristã medieval, encaminhando-se para uma
secularização da história, isto é, uma fase em que o homem substitui o deus no
desenvolvimento da história da humanidade. Assim, transitava-se da
historiografia cristã medieval  para uma historiografia antropocêntrica  ou de
renascimento, nos séculos XV e XVI

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