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CURSO DE TEOLOGIA POPULAR

CANOAS – 2018

HISTÓRIA DA IGREJA
Muita gente sabe a história de sua família. Outros têm curiosidade de saber sobre seus
antepassados. A história é, atualmente, um campo que desperta muito interesse. Quem já não se
fez perguntas do tipo: como viviam os primeiros cristãos? Onde moravam? Como convenciam
outros a participar de sua religião? Como celebravam?
Antes de apresentar uma leitura dos fatos que marcaram o início e construíram o movimento que
hoje conhecemos como Igreja ou cristianismo, convém esclarecer alguns pontos.
Compreendemos o passado a partir do entendimento que temos do presente. Ou seja, lemos o
passado com os “óculos” que usamos hoje. Por outro lado, o estudo da história nos ajuda a
compreender melhor a situação atual, pois conhecer o passado nos dá elementos para sabermos
como chegamos onde nos encontramos;
Quando estamos diante de um relato histórico, não estamos diante da história propriamente dita.
Ou seja, o historiador estuda os registros, documentos, fontes de um determinado fato histórico
e organiza um relato que se guia pela objetividade científica, mas não está isento de subjetividade,
pois a história é uma ciência de interpretação e como tal não é neutra.
Especificamente para a história da Igreja, o historiador analisa os documentos, registros, fontes,
construções que foram produzidos pela própria igreja ou por outros grupos e os interpreta,
descrevendo dessa maneira, a presença da igreja num determinado período e local. É o que
pretendemos fazer com a história dos primeiros cristãos.
No começo, os cristãos passaram despercebidos para o conjunto dos moradores do Império e até
para os judeus. Somente no tempo de Claudio Imperador, por volta do ano 43, um historiador da
corte menciona “os judeus seguidores de um tal Crestos”, que andavam perturbando a ordem da
Cidade, ou seja, de Roma. É uma das primeiras e poucas notícias que temos do cristianismo em
fontes não cristãs no primeiro século.
Atualmente há um grande interesse por conhecer e estudar este período da história. Universidades
laicas, inclusive, criam linhas de pesquisa para investigar o Jesus Histórico e seu movimento.
Infelizmente, do ponto de vista histórico, temos poucas fontes, notícias ou documentos deste
período que poderiam elucidar como os cristãos viviam, como procediam para cativar novos
adeptos e, mesmo, qual o significado e de que maneira o filho do carpinteiro impactou os seus
contemporâneos. São questionamentos que vêm sendo retomados, pois todas as fontes que temos
são bem posteriores ao evento Jesus Cristo e todas foram produzidas com o interesse missionário.
Evidentemente que isso não tira o valor dos escritos produzidos pelos cristãos, mas a razão pela
qual eles foram publicados, guardados e transmitidos era, sobretudo, catequética.
É neste primeiro período da história da igreja que são escritos os textos que hoje conhecemos
como livros do Novo Testamento. Evidentemente não são os únicos escritos cristãos deste
período. Estes foram guardados e aceitos pelo conjunto das comunidades e, por terem autoridade
apostólica, foram considerados canônicos.
Sua importância, do ponto de vista histórico, está no fato de testemunharem diferentes teologias,
modos diversos dos grupos de seguidores de Jesus se organizar, maneiras distintas das
comunidades celebrar o batismo, a ceia, a páscoa.
É importante observar que a história é uma ciência, mas seu método está baseado na
interpretação. O historiador toma os documentos, as notícias guardadas de um determinado
acontecimento e o descreve segundo seu olhar, segundo seu modo de entender o mundo e, no
caso da história eclesiástica, do seu modo de compreender a igreja. Então, sempre que se toma
uma narrativa histórica é preciso perguntar-se sobre quem a escreveu e qual é o seu ponto de
vista.
Neste sentido se entende a opinião de Balanger (2004, p. 269): Quando queremos entender o
passado, o que fazemos através dos indícios e das provas documentais é compor uma situação ou
uma sequência de ações mediante nossa imaginação. A narração histórica se vincula ao que
aconteceu, que já não está presente, mas é obra da imaginação: a narração fictícia se vincula ao
não acontecido, ao que podia ter acontecido. Sua presencialização também é obra da imaginação
(...) O que faz o relato da história é combinar a coerência narrativa em conformidade com os
documentos”.
No caso da Igreja é fundamental o conceito elaborado por Franco Pierini: “A Igreja existe de fato
no mundo, ou seja, no tempo, ainda que não seja do mundo: por isso a história da Igreja é, mais
propriamente, a Igreja na História”.
Com esses pressupostos, apresentamos duas maneiras de alcançar o conjunto da história da igreja,
dois modos de subdividir os acontecimentos que marcaram e construíram a igreja da forma como
ela se apresenta atualmente. A primeira é a forma tradicional de dividir a história de acordo com
grandes acontecimentos da história universal. Teríamos assim quatro períodos: 1 – História
antiga – do início até a queda do império romano do ocidente (476); história medieval – de 476
a 1453 (tomada de Constantinopla pelos turcos ou queda do império cristão do oriente); história
moderna – de 1453 até 1789 (revolução francesa ou supremacia da burguesia sobre a nobreza);
história contemporânea – 1789 até os dias atuais.
Outra forma de apresentar a história da igreja pode ser assim dividida:
• Igreja Primitiva (até 380)
• Igreja da Cristandade (de Teodósio ao Concílio Vaticano II)
• Igreja do Concílio Vaticano II
Essa subdivisão da história da igreja se baseia na forma como a Igreja se relacionou com o poder
e com as classes dominantes.
A Igreja Primitiva
Quando falamos de Igreja Primitiva estamos nos referindo ao período que se ocupa do
cristianismo e seu contato com o Império Romano, ambiente onde os cristãos desenvolveram a
primeira atividade missionária. Para compreender a relação dos romanos com a Igreja é preciso
entender a sociedade, a religião e a visão de mundo de então e conhecer os personagens que
expandiram o cristianismo.

O Império Romano
A partir da cidade-estado chamada Roma, desde o II século aC. o exército ampliou gradualmente
o território sob seu domínio, até vencer os gregos, suplantar o Império Helênico e estabelecer o
Império Romano por volta do ano 63 aC.
Este Império construiu e manteve seu domínio sobre três bases: o exército, o tributo e a religião.O
exército organizado e disciplinado era responsável pela ampliação dos territórios que,
dominados, passavam a fazer parte do Império. Por outro lado, o exército mantinha a segurança
e a ordem dentro das fronteiras estabelecidas e impedia que os povos estrangeiros pudessem
ameaçar a civilização. Conquistado o território, os romanos substituíam a autoridade local por
uma própria. Esta autoridade, assegurada pelo exército, era encarregada de cobrar os tributos, de
onde vinham os recursos para sustentar os militares e os outros aparelhos da máquina estatal.
Nesta lógica, quanto mais territórios mantidos sob domínio, maior era a possibilidade de recolher
impostos que, por sua vez, permitia ampliar o exército que se tornava mais poderoso e, por isso,
com maior capacidade de conquistar novas terras e povos. A expansão do Império Romano
seguiu até a metade do II século dC.
Ao lado do exército e da coleta dos tributos, a religião oficial é o terceiro pilar que mantém o
Império. Por quê? Porque a religião é um ato civil, oficial. Não se trata de uma opção individual,
mas de um compromisso civil de todos os que estão no âmbito do Império.
Para compreender melhor a religião dos romanos é preciso entender que eles concebiam o mundo
em dois grandes patamares: o mundo dos homens e o das divindades.
É importante salientar que o mundo dos homens, na compreensão dos romanos, dependia do
mundo das divindades. Assim, o resultado da colheita, as chuvas, as doenças, os terremotos, a
presença de inimigos, o aumento do rebanho dependia dos deuses. Isso quer dizer que eles
mandavam, para o mundo dos homens, benesses ou castigos. Mas as pessoas podem mudar a
ação das divindades através do culto.
Na realidade, as coisas funcionavam mais ou menos assim: cada família, cidade, região tinha
suas divindades protetoras. Em contrapartida, as famílias e os habitantes da cidade ou província
comprometiam-se a prestar culto a essas divindades. Quando alguma coisa não vai bem, ou seja,
quando há doença, calamidades, secas, enchentes, terremotos, ataques de inimigos, é sinal que
as divindades estão iradas. Por isso, os responsáveis, ou seja, os que exercem a autoridade política
têm obrigação de organizar o culto para aplacar a ira dos deuses e conquistar a benevolência dos
mesmos.
Organizar o culto era promover festas em homenagem às divindades: apresentações de teatro,
jogos no estádio, corridas de cavalos, oferta de incenso e libações de vinho, lutas entre os
gladiadores ou com as feras. Sacrifícios também eram oferecidos e as carnes eram consumidas
pela população.
Essa mesma lógica vale para o Império como um todo, que tem na adoração ao “gênio do
imperador” um dos pilares do culto. Assim, a religião é a responsável pela manutenção do
império. O imperador que é o “pontífice máximo” preside o culto depois de baixar decretos,
convocando os cidadãos para os atos religiosos.
Esta compreensão da religião por parte dos romanos permite entender porque os cristãos foram
perseguidos nos primeiros tempos da história da igreja.

A Palestina dentro do Império Romano


O território ocupado pelo povo judeu e onde o cristianismo nasceu sempre foi disputado. Trata-
se de um espaço estratégico para a comunicação e comércio entre o ocidente e oriente. Por essa
razão ele se torna tão cobiçado. Sabemos dos conflitos que os judeus estabeleceram com o
Império Grego. No tempo dos romanos isso não foi diferente.
A dominação romana está sempre em risco por causa das revoltas e dos grupos de oposição que
se rebelam contra a presença dos romanos em terras palestinas. Por isso são necessárias
negociações e concessões por parte de Roma. Ao contrário de outros povos, os judeus tinham
liberdade de adorar seu Deus e eram isentos de participar das cerimônias da religião oficial.
Mesmo com a presença das autoridades romanas (Governador ou pretor) e o dever dos impostos,
os judeus mantinham suas próprias autoridades: sumo sacerdote, sinédrio etc. Além disso, os
filhos de judeus não necessitavam inscrever-se no exército romano. Todas essas regalias foram
conquistadas pelos judeus por serem um povo que defendia com valentia sua terra, sua cultura,
sua religião e, sobretudo, a soberania de seu único Deus.

A Palestina e o Movimento de Jesus


Havia muitos outros movimentos e líderes no tempo que apareceu Jesus, filho de José, pregando
a proximidade do Reino de Deus, seguindo o espírito profético do Antigo Testamento. Basta
lembrar alguns citados pela Bíblia: batistas, zelotes, essênios etc.
A convivência e a pregação de Jesus convenceram pessoas a se tornarem discípulos e discípulas
identificados com a proposta do mestre. A experiência da paixão, morte e ressurreição de Jesus
atestou para a comunidade que Ele era o messias predito pelos profetas, realização das promessas
dos antigos. Essa certeza permitiu que a comunidade se mantivesse unida e celebrasse,
semanalmente, a memória ou páscoa de Jesus. Esta celebração dava a identidade à comunidade
primitiva.
Até o ano 90, quando aconteceu uma grande reunião do judaísmo, os cristãos continuavam
ligados à religião judaica. No Concílio de Jâmnia, dominado pelos fariseus, os cristãos foram
“expulsos da sinagoga” e incluídos na 12ª maldição, que anatematiza os que confessam que Jesus
era o Messias, que havia ressuscitado e estava vivo. A partir desta data os cristãos passam a
existir como um grupo distinto dos judeus diante dos romanos e perdem, por isso, as regalias que
também usufruíam diante do Império. Isso explica também porque os cristãos não foram
perseguidos pelo Império até esta data.

A Igreja Clandestina
Trata-se do período da história que a Igreja existiu como movimento ilegal e vai do ano 90 até o
Edito de Milão, em 313. Esta época coincide com o período das perseguições, onde os cristãos
são presos, exilados, assassinados pelo fato de serem cristãos e não seguirem a lei que obrigava
todos os cidadãos a prestarem culto às divindades do império.
Num primeiro momento, as perseguições foram esporádicas ou localizadas, isto é, autoridades
pressionadas pelos cidadãos procuravam os cristãos denunciados por contrariarem a lei e não
prestarem o culto previsto.
Há registro de perseguições na cidade de Lyon, onde são martirizados muitos cristãos, no ano de
177. Um pouco antes, em Roma, foi morto o filósofo e catequista Justino e seus discípulos, depois
da denúncia de um adversário de escola, em 165. Temos notícia que no ano 155 houve a prisão
de Policarpo, um bispo octogenário, de Esmirna, discípulo de João, que batizou Irineu, futuro
bispo de Lyon. Famosas são as mártires Perpétua e Felicidade, presas e mortas na África, no ano
de 202. Também na cidade de Scili, África do Norte, temos várias prisões e assassinatos, em 179,
registrados no primeiro documento cristão redigido em língua latina. Antes todos os escritos
cristãos eram produzidos em grego.
A segunda forma de perseguição é dita generalizada. Trata-se de períodos críticos da história do
Império, onde era emitida legislação específica por parte do Imperador convocando os cidadãos
para atos de culto, sobretudo com a intenção de diminuir o impacto do cristianismo na religião
do império.
Três grandes perseguições foram organizadas e conduzidas pelos Imperadores Décio (249-251),
Valeriano (257-258) e Diocleciano (303-305). Os decretos exigiam que todos os habitantes dos
territórios imperiais fossem diante da autoridade local (prefeito) e fizessem a oferenda cúltica.
Em troca, a autoridade fornecia o certificado que atestava o cumprimento da lei. Quem não
possuísse o atestado, poderia ser preso, interrogado e condenado, caso ainda se negasse a prestar
o culto prescrito.

A Igreja em Liberdade
O aumento do número, bem como da influência dos cristãos no conjunto da sociedade fizeram
que fosse impossível ignorar sua presença. Temos notícias que famílias de senadores e de outras
autoridades aderiam ao cristianismo. Sobre o aumento do número, o Imperador Juliano(360-363),
tentando reintroduzir o paganismo, reconhece e dá as causas, como se pode ler numa carta que
envia aos subordinados: “Por que não reconhecemos que aquilo que fez o ateísmo (leia-se
cristianismo) se difundir foi a bondade com os estrangeiros e o cuidado com a sepultura dos
mortos, além da conduta moral irrepreensível, ainda que exterior? (...) Eu penso que quando os
sacerdotes começaram a descuidar e desprezar os pobres, os ímpios galileus (os cristãos) deram-
se conta e se dedicaram à caridade... e sustentam não só seus pobres, mas também os nossos”.
Foi Constantino quem propôs e construiu a aliança do Império com o movimento cristão. O
primeiro passo foi dar, em 313, liberdade religiosa no império: “Eu, Constantino Augusto e,
como eu, Licínio Augusto, reunidos felizmente em Milão julgamos oportuno... dar aos cristãos,
bem como a todos, a liberdade e a possibilidade de seguir a religião de sua escolha, a fim de
que tudo o que há de divino na celeste morada possa ser benevolente e propício a nós e a todos
aqueles que se acham sob nossa autoridade... e permitir, daqui para frente, a todos aqueles que
têm a determinação de seguir a religião dos cristãos que o façam livre e completamente, sem ser
inquietados nem molestados”(Edito de Milão).
O ápice desta aproximação entre Igreja e Império Romano dar-se-á com o Teodósio, que
governou de 379 a 395 e publicou, em 380, uma lei tornando o cristianismo religião oficial e
única permitida no território: “De conformidade com a doutrina dos apóstolos e o ensino do
Evangelho, creiamos, pois, na única divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo em igual
majestade e em Trindade santa. Autorizamos aos seguidores desta lei a tomarem o título de
cristãos católicos. Referentemente aos outros, que julgamos loucos cheios de tolices, queremos
que sejam estigmatizados com o nome ignominioso de hereges... Estes sofrerão, em primeiro
lugar, o castigo da divina condenação e, em segundo lugar, a punição que nossa autoridade, de
acordo com a vontade do céu, decida infligir-lhes”.
Evidentemente a legislação não fez desaparecer de forma automática a diversidade de cultos
presentes no Império, mas depois de Teodósio, quem não professava a religião cristã passou a
ser considerado cidadão de segunda categoria.
Quando o cristianismo é assumido como religião oficial, o império romano já estava em
decadência. Essa decadência se acentuou com a chegada dos povos do Norte que foram invadindo
e o exército romano já não tinha força e organização para detê-los. A partir do início do século
V, muitas regiões do Império foram dominadas pelos “bárbaros”, até que em 476 eles assumem
o poder de Roma. Depois da queda de Roma, a Igreja foi a única instituição que subsistiu e
permaneceu estável. A tal ponto que em muitas cidades a única autoridade confiável era o bispo,
que além de administrar a comunidade tinha que se ocupar da justiça e da administração da
cidade. Isso, porém terá suas consequências.

A IGREJA DA CRISTANDADE
Este grande período da história (de 380 a 1968) é marcado pela aliança entre a Igreja e o Poder
político hegemônico, nas suas mais diversas formas de organização. Esta é a característica da
Igreja Institucional, embora em suas margens e em situação minoritária sempre houve na própria
Igreja sinais de proféticos que se guardaram fiéis aos mais fracos e excluídos da sociedade:
pobres, doentes, deficientes, marginalizados em geral.
O primeiro grande período foi chamado de Medieval, porque houve uma grande mudança na
organização da sociedade. De uma civilização urbana passa-se para uma vida centrada no campo.
Esta sociedade se caracterizará pelo teocentrismo, pela estratificação social (castas separadas,
fixas e com papéis bem definidos: nobre defende, padre reza, povo trabalha). Uma figura pode
representar a cosmovisão que se impôs no período medieval:

Carlos Magno, Rei dos Francos, foi o responsável pela unificação do Império e pela aliança com
o pontífice romano. Nasce o Sacro Império, com a cerimônia de coroação de Carlos Magno na
celebração do Natal de 800, presidida pelo Papa. Em 754 o papa recebeu uma região do centro
da Itália e inicia o Estado Pontifício. Durante o Sacro Império, impõe-se a fé com a força militar.
Quem não quiser se batizar será punido com pena de morte. É deste período também as chamadas
“investiduras”, isto é, os bispos e abades são nomeados pelo poder civil.
No início do sec. VII aparece um novo fenômeno: Maomé inicia sua missão, em 612. Anuncia
uma revelação de um Deus único ao qual todo o crente deve submeter-se, segundo o Livro
Sagrado – Alcorão; Promove unificação religiosa e política aproveitando a divisão do
cristianismo. Em 638, toma Jerusalém. Em 711, chega na Península Ibérica.
Para reconquistar o território perdido, especialmente a terra santa, a igreja organiza as Cruzadas
“A pregação destes homens foi tão grandemente influenciadora que os habitantes de quase todas
as regiões, por unanimidade de votos, se ofereceram espontaneamente para a comum destruição.
E não o fizeram apenas homens da plebe, mas também reis duques, marqueses e outros poderosos
deste mundo, acreditando que prestavam assim serviço a Deus... Porém, as intenções destas
várias pessoas eram diferentes. Algumas, na realidade, ávidas de novidades, iam para saber coisas
novas sobre as terras. Outras eram levadas pela pobreza, por estarem em situação difícil em sua
casa. Estes homens foram para combater, não apenas os inimigos da cruz de Cristo, mas mesmo
os amigos do nome cristão, onde quer que vissem a possibilidade de aliviar a sua pobreza. Houve
os que estavam oprimidos por dívidas para com outros, ou que desejavam fugir ao serviço devido
aos seus senhores, ou que estavam esperando os castigos merecidos por suas infâmias. Estes
homens simulando ter zelo para com Deus, esforçaram-se, sobretudo, para escapar à
incomodidade de tantas preocupações. Só com dificuldade se poderão encontrar uns poucos que
não tenham dobrado os joelhos a Baal, que tenham sido orientados por um saudável e santo
propósito e inflamados pelo amor da divina majestade a combater ardentemente e mesmo a
derramar o seu sangue pelo Santíssimo (Cronista Anônimo do sec. XII).
Aos cristãos que se manifestassem de forma diferente ao conjunto da Igreja reservou-se a prática
da inquisição. Herdada do poder civil, foi aplicada na igreja nos casos de heresia ou de práticas
heterodoxas. É uma realidade que só se compreende, enquadrando-a na forma de a igreja se
organizar e se autocompreender. Como diz o historiador Henrique Matos: “Avaliar o fenômeno
da inquisição é uma tarefa arriscada. Nunca se justifica o uso do poder e da violência para
eliminar inimigos ou simplesmente aqueles que não se enquadram no esquema dominante. O
fantasma da inquisição paira sempre sobre uma sociedade que se julga “superior” e “mais
perfeita” e ameaça, por dentro, a verdadeira catolicidade do cristianismo”.
Depois do período medieval chegamos à modernidade, onde houve grandes mudanças sociais e
culturais: Renascimento, Humanismo, Iluminismo. É um período marcado pelo
Antropocentrismo e pela valorização do indivíduo. Acontecem as Reformas Protestantes,
Descobertas Novos Mundos, Início da Igreja na América Latina.
Na época contemporânea, marcada pelo Marxismo, positivismo, a Igreja se fechou e promoveu
a Condenação do Modernismo, apegando-se a um passado que já não existia. Vieram as Guerras
Mundiais. Nessa época aparece o Ensino Social da Igreja. Nas margens da Igreja aparecem as
Congregações religiosas que enfrentam problemas sociais e colaboram com a sociedade nos
campos da educação, saúde, assistência social.

A IGREJA DO CONCÍLIO VATICANO II


Preparado por vários movimentos (litúrgico, bíblico, ecumênico etc) o Concílio Vaticano II
trouxe ares novos para a Igreja, permitindo que se iniciasse uma aproximação da realidade dos
povos e fomentasse o Aggiornamento, o Diálogo com mundo moderno e o Ecumenismo. Este é
o tempo que nos toca viver, testemunhar a fé em Jesus Cristo, seguindo seu Evangelho. (Fr. José
Bernardi)

OBS.: TEXTO DE USO PRIVADO, PROIBIDA SUA PUBLICAÇÃO

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