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RHEMABRASIL

HISTÓRIA DA IGREJA

MÓDULO 3
SEGUNDO ANO
HISTÓRIA DA IGREJA

HISTÓRIA DA
IGREJA

A igreja como Corpo de Cristo era um


mistério que estava oculto pela própria vontade
de Deus desde o início do mundo, ao longo das
passagens bíblicas este mistério foi revelado pelo
seu divino Espírito como parte do plano soberano
do Criador: (1 Coríntios 2.6-10, Efésios 3.1-10).
Efésios 3.1-10 - Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro
de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, se é que tendes
ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim
confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me
foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco,
resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender
o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras
gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens,
como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas,
no Espírito, a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros
do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo
Jesus por meio do evangelho; do qual fui constituído ministro
conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo
a força operante do seu poder. A mim, o menor de todos
os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o
evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar
qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto
em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela igreja, a
multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos
principados e potestades nos lugares celestiais

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RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Jesus chamou e treinou doze homens para


que estes continuassem a obra que Ele havia
iniciado, e assentou-se à destra do Pai para que o
Espírito Santo da promessa pudesse vir e equipar a
triunfante igreja de Cristo, para que esta, continua
se manifestando a glória de Deus nesta terra.
Estudar a história da igreja é conhecer os
rumos que os homens chamados por Deus
tomaram desde então, e entender os porquês que
delimitam a conjuntura atual da igreja de Cristo,
tendo a oportunidade de aprender com os seus
acertos e evitar os erros daqueles que se desviaram
Mateus 16.18 - “...sobre esta do propósito original estabelecido pelo Mestre.
pedra edificarei a minha igreja,
e as portas do inferno não Mateus 16.18
prevalecerão contra ela.”

DEFINIÇÕES:

História: vem do grego antigo “historie”, que


significa testemunho, no sentido daquele
que vê. Significa “entender pela pesquisa ou
investigação os eventos passados”. Envolve
averiguação, análise e interpretação.

Igreja: no grego clássico esta palavra é


Ekklesia, e significa reunião de cidadãos
chamados para fora de seus lares para
algum lugar público, assembleia; qualquer
ajuntamento ou multidão de homens reunidos
por acaso, tumultuosamente, podendo ter fins
legislativos, políticos, sociais ou religiosos.
Apesar da sua aplicação comum, o termo
igreja significa basicamente “os chamados para
fora”, dando a entender um grupo distinto,
selecionado e tirado para fora de algo. Desta
forma, a igreja foi chamada para fora do mundo
como está escrito em:

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HISTÓRIA DA IGREJA

João 15.19
João 15.19 - Se vós fôsseis do
É usado para designar a igreja (comunidade) mundo, o mundo amaria o que
cristã um culto cristão, mas nunca o mero edifício era seu; como, todavia, não sois
das reuniões ou templo. do mundo, pelo contrário, dele
vos escolhi, por isso, o mundo
Efésios 1.22-23 vos odeia.

1 Coríntios 11.18 Efésios 1.22-23 - E pôs todas as


coisas debaixo dos pés e, para ser
1 Coríntios 14.4 o cabeça sobre todas as coisas,
o deu à igreja, a qual é o seu
Biblicamente, o termo “igreja” no Novo corpo, a plenitude daquele que
a tudo enche em todas as coisas.
Testamento refere-se à igreja universal composta
de todos aqueles que aceitaram Cristo como 1 Coríntios 11.18 - Porque,
cabeça, sendo imersos no seu Corpo pela fé antes de tudo, estou informado
através do Novo Nascimento, pelo Espírito Santo. haver divisões entre vós quando
vos reunis na igreja; e eu, em
A Bíblia fala de três grupos de pessoas: parte, o creio.

1 Coríntios 10.32 1 Coríntios 14.4 - O que fala


em outra língua a si mesmo se
• Judeus: São a descendência de Abraão edifica, mas o que profetiza
edifica a igreja.
(carnalmente):
Gênesis 12.1-3 - Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da 1 Coríntios 10.32 - Não vos
tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai torneis causa de tropeço nem
para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande para judeus, nem para gentios,
nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê nem tampouco para a igreja de
tu uma bênção! Deus.
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que
te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias
da terra.

• Gentios: todos aqueles que não são


descendentes de Abraão, seja qual for a
nacionalidade.

• Igreja: qualquer pessoa que nasce de novo


e é feita nova criatura em Cristo Jesus, seja
judeu ou gentio.

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Efésios 2.14-16 - Porque ele é a nossa paz, o qual de


ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação
que estava no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a
lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que
dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo
a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus,
por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade.

A igreja cristã é, portanto, um organismo


espiritual formado pelos filhos de Deus, aqueles
que foram gerados espiritualmente em Cristo
Jesus e regenerados para uma viva esperança.

História da Igreja: é o relato interpretado da


origem, progresso e impacto do cristianismo
sobre a sociedade humana, baseado em
dados organizados e reunidos pelo método
científico, a partir de fontes arqueológicas,
documentais ou vivas.

A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A
HISTÓRIA DA IGREJA

• É importante para a necessidade de estar


1 Pedro 3.15 - antes, santificai pronto para defesa da fé:
a Cristo, como Senhor, em
vosso coração, estando sempre 1 Pedro 3.15
preparados para responder a
todo aquele que vos pedir razão
da esperança que há em vós. • Para ter a visão correta do estado atual
da igreja e do porquê dela ser assim

• A igreja deve entender o contexto social,


político, econômico e religioso de cada povo,
para ser cooperadora com o evangelho

1 Coríntios 9.20-23 - Procedi, para com os judeus, como


judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o
regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os
que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei.

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HISTÓRIA DA IGREJA

Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando


sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo,
para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me
fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos.
Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os
modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho,
com o fim de me tornar cooperador com ele.

Portanto o estudo desta matéria é ferramenta


fundamental para a compreensão dos fatos atuais
e para defesa da fé. Ajudando-nos a valorizar a
contribuição do passado como alicerce para o futuro.

QUANDO COMEÇOU A IGREJA DE


CRISTO
O marco do início da igreja de Cristo na terra
está estabelecido no dia de Pentecostes, (cinquenta
dias após a páscoa, sete dias após a ascensão de
Jesus), no qual houve a descida do Espírito Santo
para habitar nos filhos de Deus e revesti-los de
poder para testemunhar de Cristo:
Atos 1.4-5 - E, comendo com
Atos 2.1-4 - Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam eles, determinou-lhes que não
todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do se ausentassem de Jerusalém,
céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu mas que esperassem a promessa
toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, do Pai, a qual, disse ele, de
distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou mim ouvistes. Porque João, na
uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do verdade, batizou com água,
Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, mas vós sereis batizados com
segundo o Espírito lhes concedia que falassem. o Espírito Santo, não muito
depois destes dias.
Jesus havia prometido a descida do Espírito:
João 7.39 - Isto ele disse com
Atos 1.4-5 respeito ao Espírito que haviam
de receber os que nele cressem; pois
O Espírito só foi dado quando Jesus foi o Espírito até aquele momento
glorificado (quando Ele se sentou à direita de [o momento relatado por João
Deus, após a ascensão): no capítulo 7] não fora dado,
porque Jesus não havia sido ainda
João 7.39 glorificado.

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Quando Jesus foi assunto aos céus e sentou-se


João 16.7 - Mas eu vos digo à direita de Deus, ele enviou o Espírito Santo:
a verdade: convém-vos que eu
vá, porque, se eu não for, o João 16.7
Consolador não virá para vós
outros; se, porém, eu for, eu vo-lo
enviarei.
A DIVISÃO DA HISTÓRIA DA IGREJA
Os historiadores comumente dividem a
história da igreja em seis grandes períodos:

1. A Igreja Apostólica: a partir da ascensão


de Cristo (cerca de 33 d.C.) até a morte de
João (por volta do ano 100 d.C.)

2. A Igreja Perseguida: a partir da morte de


João (cerca de 100 d.C.) até o Edito de Milão
(ou Edito de Tolerância), em 313 d.C.

3. A Igreja Imperial: desde o Edito de Milão


(313 d.C.) até a queda de Roma (476 d.C.).

4. A Igreja Medieval: desde a queda de Roma


em (476 d.C.) até a queda de Constantinopla
(1.453 d.C.).

5. A Igreja Reformada: a partir da queda


de Constantinopla, (1453 d.C.) até o final da
Guerra dos Trinta Anos, (1648).

6. A Igreja Moderna: a partir da Guerra dos


Trinta Anos (1648 d.C.) até os dias atuais.

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HISTÓRIA DA IGREJA

OUTRAS FORMAS DE DIVIDIR A


HISTÓRIA DA IGREJA

• Três Grandes Períodos:

1. Período do Império Romano: Tempo


de perseguições e dos grandes mártires: os
“Pais da Igreja”. Controvérsias e influência do
cristianismo no Império Romano.

2. A Idade Média (590 d.C a 1517 d.C): Época


do surgimento e poder do papado, da Santa
Inquisição, a monarquia, o maometismo e as
Cruzadas.

3. Período Moderno: Desde a Reforma


Protestante aos dias de hoje; grande
crescimento da igreja protestante, circulação
ampla da Bíblia, aberta liberdade dos governos
civis, do poder eclesiástico e sacerdotal; as
missões mundiais.
OBS.: Poderíamos acrescentar nesta divisão a
igreja pós-moderna, formada pelas igrejas do
avivamento da fé, a pentecostal, a neopentecostal
e a tradicional renovada.

• Por Fases:

a. Infância: de Pentecostes até o Imperador


Constantino (Cerca de 300 d.C.), quando
tudo era novidade para os cristãos.

b. Adolescência: de Constantino, até a


Reforma protestante (cerca de 1500 d.C.),
período das descobertas, das “loucuras”, da
autossuficiência, das rebeldias e dos grandes
desastres de ordem moral e espiritual.

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c. Maturidade: da Reforma protestante até


os dias atuais. A partir daí, a Igreja começa
a amadurecer e encontrar o verdadeiro
propósito de Deus para sua existência.

GRANDES DIVISÕES DA IGREJA CRISTÃ


NO MUNDO

• Catolicismo Romano: resultado do


cristianismo primitivo com o paganismo
grego-romano; é predominante no Sul da
Europa e na América do Sul.

• A igreja ortodoxa grega: igreja voltada


para os costumes do povo oriental, que
contraria as doutrinas da Igreja Católica
Romana; predomina na Europa Oriental e Sul
- oriental.

• O cristianismo protestante: é o esforço


para o restabelecimento do cristianismo
primitivo puro, baseado somente na Palavra
de Deus. Predomina na Europa Ocidental e
América do Norte.
Estas divisões do cristianismo originaram-se
principalmente de dois grandes fatores dentro do
sistema eclesiástico:

1. A ambição papal para apoderar-se de toda


a igreja, predominante no Século IX;

2. A Reforma Protestante (Século XVI).

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HISTÓRIA DA IGREJA

O CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DA
IGREJA PRIMITIVA
Gálatas 4.4 - vindo, porém, a
A Plenitude do Tempo plenitude do tempo, Deus enviou
seu Filho, nascido de mulher,
Gálatas 4.4
nascido sob a lei.
Entende-se como plenitude do tempo uma
série de fatores religiosos, políticos, econômicos e
sociais favoráveis, existentes num dado momento
histórico da humanidade, que contribuíram para
a vinda do Messias e a rápida expansão da Igreja
Cristã e sua mensagem. Nenhum outro momento
na história humana se assemelha tanto a essa
definição como o período do apogeu do Império
Romano no qual nasceu Jesus Cristo.
Todo esse conjunto de circunstâncias é o que
podemos chamar de “plenitude do tempo”, ou seja,
um amadurecimento mundial para a chegada do
Salvador. Esse amadurecimento, do ponto de vista
humano durou vários séculos, a saber, o tempo
que levou foi para que tivesse a contribuição de
três povos: os romanos (politicamente), os gregos
(culturalmente) e os judeus (religiosamente).
A Igreja como instituição é fruto da
contribuição destes três povos, que colaboraram
para a “preparação do mundo” para receber o
Messias. Portanto, estudar a vida e a influência
deles no cristianismo é justificável para entender
muitas das faces da igreja moderna.

1. O IMPÉRIO ROMANO e sua


contribuição:
Naquela época eles eram os “senhores do
mundo”, e detinham o governo de boa parte
dos povos, pois dominavam tudo pela força.

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É claro que existiam espaços geográficos muito


grandes que não pertenciam ao Império Romano,
mas eles criam que dominavam universalmente.

• Extensão geográfica do Império Romano:


Por volta do ano 50 d.C. o Império Romano
abrangia a Europa abaixo dos rios Reno e
Danúbio; Inglaterra, Egito, norte da África, Ásia
(desde o mar Mediterrâneo até à Mesopotâmia
e o Oriente Médio. Os romanos desenvolveram
um modo civilizado de governar que garantia
a manutenção do domínio sobre os povos
conquistados.

• A unificação dos povos: Guerras foram


abolidas, os povos foram unidos, pois as
fronteiras eram abertas. Esta unificação
da espécie estava sob uma lei que garantia
cidadania romana para os não romanos.

• Intercâmbio entre os Povos: As estradas e


outros meios de comunicação eram comuns;
a pirataria fora varrida dos mares; a segurança
das viagens era garantida pela mão militar,
facilitando assim, a propagação do evangelho
entre os diversos povos que formavam o
Império Romano.

2. OS GREGOS e sua contribuição:


Antes dos Romanos, o Império Grego
dominou o mundo por um período e deixou a
sua influência, especialmente cultural, intelectual
e linguística. O pensamento grego, representação
prática da filosofia desenvolvida deste povo,
penetrou no modo de vida dos romanos que lhes
sucederam no poder. Filosofia, modo de pensar
e língua, são, portanto, os três fatores que deram
sua contribuição para o mundo cristão.

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HISTÓRIA DA IGREJA

• A influência dos filósofos gregos: Cerca


de 500 anos antes de Cristo a filosofia grega
dominava, o que deixou uma forte influência
naquele povo. Para observar mais sobre este
ponto veja o que aconteceu em Atos 17,
quando Paulo esteve em Atenas.

• O ceticismo grego: as grandes questões


da vida: “De onde viemos? Quem somos?
Para onde vamos?”, faziam parte do cotidiano
grego. O cristianismo, com suas novidades,
atraiu a curiosidade daquele povo. Veja Atos
17.18-20.

• O grego era a língua universal: Apesar


dos romanos terem o Latim como língua
materna, a língua usada naqueles dias como o
meio de comunicação entre os diversos povos
era o grego. Esta, por sua vez, foi a língua em
que o Novo Testamento foi escrito.

3. OS JUDEUS e sua contribuição:


Composto pelos descendentes de Abraão,
um hebreu, este povo vinha sendo preparado por
Deus com seus costumes, tradições, leis, religião,
e tudo mais que posteriormente deu sentido ao
cristianismo. Eles foram, aparentemente, o único
povo monoteísta de sua época (monoteísmo é a
crença em um só Deus criador e sustentador de
todas as coisas) também detinham o mais alto
ideal moral entre os povos, e nutriam a esperança
da vinda de um Messias que os libertaria
politicamente (do Império Romano), porém,
a liberdade oferecida por Jesus era espiritual e,
portanto, superior.

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• Sua Missão: receber a revelação de Deus


com o fim de abençoarem a humanidade.

• Seu Alcance: não havia outro povo com


temor e fidelidade a Deus como o povo judeu.

• A esperança messiânica: eles aguardavam


a vinda do Messias (Messias e Cristo são
palavras idênticas. Pois, Messias é a palavra
hebraica e Cristo é a palavra grega. Ambas
significam “O Ungido”, o “Príncipe do Reino
Celestial”).

Romanos 3.1-2 - Qual é, • Sua contribuição: eram os “Guardiões”


pois, a vantagem do judeu?... dos livros “Sagrados”:
Muita, sob todos os aspectos.
Principalmente porque aos Romanos 3.1-2
judeus foram confiados os
oráculos [as promessas, a • A Diáspora: dispersão dos hebreus pelo
mensagem] de Deus. mundo. Naquele tempo os judeus estavam
espalhados por todos os países do mundo
antigo, porém, todos voltavam a Jerusalém e
permaneciam unidos de certo modo.

CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS, RELIGIOSAS


E INTELECTUAIS

• Aspectos Geográficos:
A igreja nasceu e expandiu-se na bacia do
Mediterrâneo, certamente o mais importante de
todos os mares do mundo. A cidade de Jerusalém,
o centro irradiador da igreja, não foi, porém,
um núcleo missionário, destacando-se apenas
como o lugar onde os Apóstolos do Senhor
permaneceram por mais tempo. Por causa de sua
autoridade apostólica e pelo fato de terem estado
com o Senhor, exerciam forte influência sobre as
demais igrejas surgiram.

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HISTÓRIA DA IGREJA

• Condições Religiosas:
O desprestígio da mitologia clássica estava
evidente na sociedade. Além disso, a religião
romana com o seu culto aos imperadores.

• Condições Intelectuais:

a. O Epicurismo: Surgiu cerca de 300


anos antes de Cristo. Seus mais influentes
divulgadores e estudiosos foram Epicuro
(seu formulador), Teodoro e Hegesios. Eram
deístas, isto é, criam na existência de um ou
vários deuses. Achavam, entretanto que esse
deus (ou deuses) não tinham compromisso
algum com o homem e, portanto, não
estavam envolvidos num processo histórico
de relacionamento com ele. Não criam na
existência da vida além túmulo e possuíam
conduta moral discreta.
Leia: Atos 17.

b. O Estoicismo: Zenon (300 a.C.), ele


ensinavam que todas as coisas emanavam de
Deus, inclusive o bem e o mal e, portanto, o
mal é bom, porque emana de Deus. Não viam
diferença alguma entre uma vida humana
e um objeto qualquer, tudo tinha a mesma
importância, pois a essência de todas as coisas
“vem de Deus”.
O resultado desses ensinos filosóficos era o
baixo nível moral do povo; a insatisfação com a
vida e o sentimento de cansaço entre os homens,
especialmente os mais inteligentes e envolvidos.
As condições religiosas e intelectuais da
população faziam arder uma esperança por
novidade, como está citado acima em (Atos 17.21).

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Disto os propagandistas cristãos puderam


aproveitar-se para pregar a nova fé, que por outro
lado os romanos e gregos criam que fosse uma
nova seita derivada do judaísmo.

• Resultados da Influência de Cristo:


Embora só tenha tido três anos para
desempenhar sua missão na Terra e assim
mesmo atuando num território geograficamente
diminuto (cerca de 29.000 Km²), Jesus Cristo
deixou fortíssima influência entre os de seu
tempo, influência essa poderosa ainda nos dias
atuais a ponto de ter determinado a mudança
do calendário, ou seja, a contagem do tempo no
ocidente (e por força do processo econômico, no
mundo inteiro).

A VIDA DA IGREJA PRIMITIVA

• A Composição social: A igreja em todos


os lugares que se estabeleceu não distinguia
ricos de pobres, escravos ou livres, nem raças
ou distinções.

• O Governo: As igrejas locais eram


autônomas, não havendo autoridade de uma
congregação sobre outra. Os apóstolos tinham
autoridade doutrinária e eram respeitados
como liderança espiritual, principalmente
pelo fato de terem estado com o Senhor. O
Pastor era a principal autoridade na igreja
local e com o passar do tempo eram chamados
de “pai”. Eram conhecidos também pelo título
de bispos, presbíteros, anciãos etc., de acordo
com a época que se queira estudar.

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HISTÓRIA DA IGREJA

• A Comunhão da Igreja: Era marcante pelo


fato dos crentes tratarem-se como irmãos ou
irmãs. Isto não era apenas formalismo, mas
a prática era real. Cuidavam dos órfãos e das
viúvas. As mulheres tinham prestígio no seio
da congregação e muitas delas destacavam-se.

• A liberalidade financeira: O amor de


Cristo ardia no coração daqueles homens e os
constrangia a mostrarem esse amor para com
seus irmãos, a viver em unidade de espírito,
em gozo e comunhão, e, especialmente, a
demonstrar interesse e abnegação pelos
membros da igreja que necessitavam de
socorros materiais. Lemos no livro de Atos
que os mais ricos davam suas propriedades,
de forma tão liberal, que leva a sugerir o
socialismo radical na comunhão de bens.

• Os Cultos: Uma vez que o Domingo


não era separado para o descanso, os cultos
eram realizados à noite e na madrugada
do Domingo quando semanalmente era
celebrada a Ceia, ocasião de celebração onde
todos comiam e ceavam.

• A Alegria da Igreja: O cristianismo


gozava de forte influência no primeiro
século, especialmente por causa do padrão
espiritual de seus seguidores. Pregavam e
praticavam a comunhão do Cristo ressurreto,
desconheciam as tristezas e horrores de
uma vida morna, vazia e sem sentido o que
os tornavam diferentes de seus vizinhos.
Os crentes tinham qualidades morais que
recomendavam o cristianismo.

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A vida da Igreja no primeiro século era,


portanto, de um padrão simples, puro, equilibrado
e ético, o que a distinguia do modo de vida do
povo pagão. Isto fazia com que as pessoas fossem
atraídas para essa novidade surgida num espaço de
tempo relativamente curto, diferente dos ensinos
dos filósofos gregos que não tinham explicações
para as angustiantes perguntas humanas, seja
sobre a razão de suas vidas, seja sobre o futuro
além túmulo. Essas respostas o cristianismo
oferecia e continua a oferecer.

Efésios 2.20 - edificados sobre 1ª FASE: A IGREJA APOSTÓLICA


o fundamento dos apóstolos
e profetas, sendo ele mesmo, Efésios 2.20
Cristo Jesus, a pedra angular;
Compreende o período desde a ascensão de
Cristo (cerca de 33 d.C.) até a morte de João (por
volta do ano 100 d.C.). Podemos dividir esta fase
em outras três, para melhor estudarmos:

1ª PARTE: De Pentecostes ao discurso


de Estevão (35 d.C.)

• A igreja teve seu início na cidade de


Jerusalém, onde Jesus ordenou que os
Lucas 24.49 - Eis que envio discípulos aguardassem a descida do Espírito:
sobre vós a promessa de meu Pai;
Lucas 24.49
permanecei, pois, na cidade, até
que do alto sejais revestidos de
poder. • A principal fonte histórica dessa fase é
o livro de Atos dos Apóstolos, escrito por
Lucas por volta do ano 61 d.C.
Obs.: É importante fixar que embora o Livro de
Atos pareça ser uma narrativa de fatos aparentemente
próximos uns dos outros no tempo, realmente entre
as primeiras narrativas do dia de Pentecostes (33
d.C.), até o fim do Ministério de Paulo em Roma (67
d.C.), somam-se cerca de 34 anos).

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HISTÓRIA DA IGREJA

• Nos primeiros anos as atividades da


igreja limitaram-se, apenas, àquela cidade
e arredores, embora o Senhor houvesse Mateus 28.18-20 - Jesus,
aproximando-se, falou-lhes, dizendo:
ordenado “Ide por todo o mundo...”: Toda a autoridade me foi dada
Mateus 28.18-20 no céu e na terra. Ide, portanto,
fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai,
• As sedes gerais da igreja daquela época e do Filho, e do Espírito Santo;
eram o Cenáculo, no Monte de Sião, e o ensinando-os a guardar todas as
Pórtico de Salomão, no Templo coisas que vos tenho ordenado. E
eis que estou convosco todos os dias
até à consumação do século.
• Todos os membros da igreja eram judeus
Nenhum deles, bem como nenhum dos
apóstolos, a princípio podia crer que os gentios
fossem admitidos como membros da igreja.
Quando muito, admitiam que o mundo gentio se
tornaria judeu para depois aceitar a Cristo.

Os judeus da época dividiam-se em três


classes:

a. Os Judeus Hebreus:
Eram aqueles cujos antepassados haviam
habitado a Palestina durante várias gerações; eram
eles a “verdadeira raça israelita”. Seu idioma era
o hebraico, o qual, no decorrer dos séculos, havia
mudado de hebraico clássico do Antigo Testamento
para o dialeto que se chamava aramaico ou siro-
caldaico. As Escrituras eram lidas nas sinagogas
em hebraico antigo, porém eram traduzidas por
um intérprete em língua popular.

b. Os Judeus Gregos ou “Helenistas”:


Eram descendentes dos judeus da
dispersão, isto é, judeus cujo lar ou cujos
antepassados estavam em terras estrangeiras.

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Muitos desses judeus haviam-se estabelecido em


Jerusalém ou na Judéia e haviam formado sinagogas
para atender a suas várias nacionalidades.

c. Os Prosélitos:
Eram pessoas não descendentes de judeus, as
quais renunciavam ao paganismo, aceitavam a lei
judaica e passavam a pertencer à igreja judaica,
recebendo o rito da circuncisão. Apesar de serem
minoria, os prosélitos eram encontrados em
muitas sinagogas das cidades do Império Romano
e gozavam de todos os privilégios do povo judeu.
Pedro e João eram os líderes da igreja em
Jerusalém.

• A instituição dos diáconos:


Começa, nesta época, a surgir o ministério de
socorros na igreja (Atos 6). Sete homens foram
escolhidos para cuidar da assistência social no
lugar dos apóstolos que precisavam se dedicar ao
ministério da Palavra. Estevão e Filipe estavam
entre eles.

• Sua doutrina:
A teologia ou crenças da igreja eram simples.
A doutrina sistemática foi desenvolvida mais
tarde por Paulo. Porém, podemos encontrar
nos sermões de Pedro três pontos doutrinários
essenciais:

1. O caráter messiânico de Jesus: que Jesus


era o Messias, o Cristo tão esperado por Israel,
e que agora reinava no céu, e ao qual toda a
igreja devia demonstrar lealdade pessoal,
reverência e obediência.

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HISTÓRIA DA IGREJA

2. A ressurreição de Jesus: que fora crucificado,


ressuscitado dos mortos e está vivo, como
cabeça da igreja, para nunca mais morrer.
3. A segunda vinda de Jesus: que foi elevado
ao céu, mas no tempo determinado voltaria à
terra, para reinar com sua igreja.

• Nesta época ocorreram as primeiras


perseguições à igreja (Atos 4.11-22), mas
ainda não provinham das autoridades
romanas, e sim dos líderes religiosos judeus.

• A falta de zelo missionário: De modo


geral, a Igreja Pentecostal não tinha falta. Era
poderosa na fé e no testemunho, pura no
caráter e abundante no amor. Entretanto, o seu
singular defeito era a falta de zelo missionário.
Permaneceu em Jerusalém, quando devia ter
saído para outras terras e povos. Foi necessário
o surgimento da severa perseguição, para que
começasse a desempenhar sua missão mundial.
Com a morte de Estevão e o início da
primeira perseguição à igreja, termina a primeira
fase histórica da igreja em Jerusalém. A maioria
da comunidade foi dispersa e ia a toda parte
pregando a Palavra. Atos 8.4 - Entrementes, os que
foram dispersos iam por toda
Atos 8.4 parte pregando a palavra.

2ª PARTE: Do Sermão de Estevão (35


d.C.) até o Concílio de Jerusalém (50 d.C.)
Após o vigoroso discurso de Estevão que
liberou a ira das autoridades religiosas judaicas,
a ponto de decretarem sua morte, a igreja passou
por um período de perseguições terríveis, ataques
que partiam das autoridades religiosas locais que
hostilizaram a Jesus e seu ministério.

199
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Atos 8.1
Atos 8.1 - E Saulo consentia
na sua morte. Naquele dia, Duramente perseguidos, os discípulos foram
levantou-se grande perseguição forçados a abandonar a cidade de Jerusalém.
contra a igreja em Jerusalém; e Com isto, outras cidades vizinhas, especialmente
todos, exceto os apóstolos, foram
dispersos pelas regiões da Judéia
Samaria, foram alcançadas. Mas, o relato de Lucas
e Samaria. nos fala de Saulo indo a Damasco para matar e
prender crentes. Logo, vemos que a perseguição
Atos 8.3-4 - Saulo, porém, os lançou para longe.
assolava a igreja, entrando pelas
casas; e, arrastando homens Atos 8.3-4
e mulheres, encerrava-os no
cárcere. Entrementes, os que Espalhando-se pelo Império, a Igreja foi
foram dispersos iam por toda tida como uma seita ligada ao judaísmo, sendo
parte pregando a palavra. que Roma considerava o judaísmo como
religião legal. Nessa época decidiu-se, então, a
importantíssima questão: se o Cristianismo devia
continuar como uma obscura seita judaica, ou se
devia transformar-se em uma igreja cujas portas
permanecessem para sempre abertas a todo o
mundo.

• Filipe em Samaria: o “embrião” da


pregação aos gentios:
Atos 8.5 - Filipe, descendo à
cidade de Samaria, anunciava- Atos 8.5
lhes a Cristo.
Depois da morte de Estevão, Filipe refugiou-
se entre os samaritanos, um povo misto, que
não era judeu nem gentio, e por isso mesmo
desprezado pelos judeus. Um fato significativo
de Filipe começar a pregar o evangelho aos
samaritanos é que ele demonstra-se liberto do
preconceito dos judeus. Filipe estabeleceu uma
igreja em Samaria, a qual foi reconhecida pelos
apóstolos Pedro e João. Foi essa a primeira igreja
estabelecida fora dos círculos judaicos; contudo
não era exatamente uma igreja composta de
membros genuinamente gentios.

200
HISTÓRIA DA IGREJA

• A pregação de Filipe ao Eunuco Etíope:


Uma porta aberta para África:
Atos 8.26-40

A pregação de Felipe ao Eunuco Etíope foi


uma das portas abertas para a evangelização
na África. Não há dados concretos de como o
evangelho chegou ao continente africano, mas
alguns estudos afirmam que no dia de pentecostes
havia muitos judeus que viviam na África que
foram a Jerusalém para adorar naquela época.
Muitos destes, que nasceram de novo, estavam
entre os 3000 primeiros cristãos, mas após o
dia de pentecostes voltaram para sua terra de
origem(achados arqueólogos confirmam culto
Cristão em países além da Etiópia).Contudo, o
eunuco com certeza, também foi um divulgador
do Evangelho por lá.
Mais tarde encontramos Filipe pregando e
estabelecendo igrejas nas cidades costeiras de
Gaza, Jope e Cesaréia. Essas eram consideradas
cidades gentias, porém todas possuíam densa
população judaica. Nessas cidades, forçosamente,
o evangelho teria de entrar em contato com o
mundo pagão.

• Os primeiros esforços evangelísticos foram Atos 11.19 - Então, OS QUE


dos dispersos, não da igreja em Jerusalém, e FORAM DISPERSOS por
somente aos judeus. (Atos 11.19-22) causa da tribulação que sobreveio
a Estêvão se espalharam até à
Atos 11.19 Fenícia, Chipre e Antioquia,
NÃO ANUNCIANDO A
A Fenícia, Chipre e Antioquia foram NINGUÉM A PALAVRA,
alcançadas. Porém, a Palavra diz que eles pregavam SENÃO SOMENTE AOS
somente aos judeus, tendo apenas alguns dentre JUDEUS.
eles, pregado também a gregos (gentios) v. 20.

201
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

• A Conversão de Saulo de Tarso (Atos 9)


Saulo, que fora o mais temido perseguidor do
evangelho, converteu-se em seu mais ardoroso
defensor. Sua oposição fora dirigida especialmente
contra a doutrina que eliminava a barreira entre
judeus e gentios. Entretanto, quando se converteu,
Saulo adotou imediatamente a defesa do evangelho
para todos os homens, pois “todos pecaram e
carecem da glória de Deus” (Romanos 3.23).
Após sua conversão não ficou em Jerusalém,
pois lá queriam matá-lo. Voltou à em sua terra
natal, Tarso (Atos 9.26-30).

• Pedro em Jope e Cesaréia: a admissão


definitiva da pregação aos gentios (Atos 10)
Pedro tem a visão do que parecia ser um
grande lençol que descia, no qual havia de todos
os animais, e foi-lhe dirigida uma voz que dizia:
“Não faças tu imundo ao que Deus purificou.”
Nessa ocasião chegaram a Jope mensageiros
vindos de Cesaréia, e pediram a Pedro que fosse
instruir a Cornélio. Pedro foi, pregou o evangelho
a Cornélio e aos da sua casa, e os recebeu na igreja
mediante o batismo. O Espírito de Deus sendo
derramado como no dia de Pentecoste testificou
da aprovação divina. Foi dessa forma que foi
admitida a pregação do evangelho aos gentios e
sua aceitação na igreja.

• A igreja de Antioquia: uma igreja com


visão missionária
Fruto da pregação dos discípulos dispersos
por ocasião da morte de Estevão,a igreja em
Antioquia, tinha muitos gentios. Quando as
notícias desses fatos chegaram a Jerusalém, a igreja
ficou alarmada e enviou um representante para
examinar as relações dos judeus com os gentios.

202
HISTÓRIA DA IGREJA

Barnabé foi enviado para averiguar o que estava


acontecendo e, em lugar de condenar a igreja
local por sua liberalidade, alegrou-se, apoiando a
atitude dos crentes dali em receber os gentios, e
permaneceu em Antioquia (Atos 11).

Barnabé já havia manifestado sua confiança


em Saulo (Atos 9.27). E, desta vez ele viajou
para Tarso (cerca de 160Km) para levar Paulo
a Antioquia, para ser seu companheiro na obra
(Atos 11.25). A igreja em Antioquia elevou-se a
tal proeminência, que ali, pela primeira vez, os
seguidores de Cristo foram chamados de “cristãos”
(Atos 11.26). Os discípulos de Antioquia enviaram
auxílio aos crentes pobres da Judéia, no tempo da
fome. (Atos 11.29-30). Enviaram, também, Saulo
e Barnabé para o campo missionário (Atos 13.14-
28), comissionados pelo próprio Espírito Santo.
Muitas cidades foram alcançadas, dentre elas:
Salamina, Antioquia da Psídia, Icônio, Listra,
Derbe e Perge.

Em Listra Paulo foi apedrejado até quase


morrer, mas voltou da sua primeira Viagem
Missionária fazendo o mesmo percurso, visitando
as igrejas que havia estabelecido e estabelecendo
lideranças.

• O Primeiro Concílio da Igreja em


Jerusalém: (Atos 15)

Em meio a conversão de tantos pagãos,


judeus da igreja de Jerusalém que ainda não
haviam compreendido os moldes da nova
dispensação – a graça – e ainda estavam presos
às tradições judaicas, alguns indivíduos descem
à Antioquia e começam a ensinar que os gentios
deveriam circuncidar-se para que fossem salvos.

203
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

É convocado, então, o primeiro concílio da


história da Igreja:
Atos 15.1-2, 6 - Alguns indivíduos que desceram da
Judéia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes
segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos.
Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda
e não pequena discussão com eles, resolveram que esses
dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalém,
aos apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão...
ENTÃO, SE REUNIRAM OS APÓSTOLOS E OS
PRESBÍTEROS PARA EXAMINAR A QUESTÃO.

Realizou-se, portanto, um concílio para


resolver o problema das condições dos membros
gentios e estabelecer regras à igreja. Deveriam ou
não os gentios circuncidar-se? Convém registrar
que nesse concílio estiveram representados não
somente os apóstolos, mas também os presbíteros
e “toda a igreja”. (vs. 6, 12).

Atos 15.28-29 - Pois pareceu A questão doutrinária foi decidida, em suma,


bem ao Espírito Santo e a nós da seguinte maneira:
não vos impor maior encargo
além destas coisas essenciais: Atos 15.28-29
que vos abstenhais das coisas
sacrificadas a ídolos, bem como A lei, portanto, alcançava somente os judeus
do sangue, da carne de animais e não os gentios crentes em Cristo. Tal resolução
sufocados e das relações sexuais completa um dos mais importantes ciclos de
ilícitas; destas coisas fareis bem transição da igreja cristã, sumamente judaica,
se vos guardardes. Saúde.
para transformar-se numa igreja de todas as raças
e nações. O evangelho podia agora avançar, indo
por todo o mundo.

3ª PARTE: Do Concílio de Jerusalém (50


d.C.) até a morte de João (100 d.C.):
Após o Concílio de Jerusalém a igreja expandiu-
se vigorosamente por todo o império romano,
com uma característica: o número de gentios
excedia em muito o de judeus, o que os enfurecia.

204
HISTÓRIA DA IGREJA

As perseguições à igreja nessa época eram,


portanto, insufladas por judeus e não pela
autoridade romana. Assim, os cristãos passaram a
ser identificados como seguidores de uma religião
autônoma, não como uma seita do judaísmo.

Figuras mais influentes na igreja na época:

a. Paulo: o viajante incansável, fundador de


igrejas e exímio teólogo.

b. Pedro: reconhecido por Paulo como uma


das “colunas” da igreja. Morto como mártir
em 67 d.C.

c. Tiago: o irmão mais novo de Jesus, dirigente


da Igreja de Jerusalém. Morreu no Templo
por volta de 62 d.C.
O registro desse período, conforme se
encontra nos treze últimos capítulos de Atos,
refere-se somente às atividades do apóstolo Paulo.

• As viagens de Paulo
Observando biblicamente as viagens de
Paulo foram quatro ao todo. A primeira já
mencionamos. Depois do concílio de Jerusalém,
Paulo empreendeu a segunda viagem missionária.
Acompanhado por Silas, deixou Antioquia da
Síria e visitou, pela terceira vez, as igrejas do
continente estabelecidas na primeira viagem.

Na segunda viagem, Paulo:

− Visitou as igrejas estabelecidas pela terceira


vez e foi para a Europa;

205
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− Na Europa, Paulo e Silas estabeleceram


igrejas em Filipos, Tessalônica e Beréia, na
província de Macedônia;
− Fundaram um pequeno núcleo na cidade
de Atenas e estabeleceram forte congregação
em Corinto, a metrópole comercial da Grécia;
− Da cidade de Corinto, Paulo escreveu duas
cartas à igreja de Tessalônica, sendo essas as
suas primeiras epístolas.
− Foi a Éfeso, na Ásia Menor. A seguir
atravessou o Mediterrâneo e foi a Cesaréia;
subiu a Jerusalém, a fim de saudar a igreja
dessa cidade, e voltou ao ponto de partida em
Antioquia da Síria.
Em suas viagens, durante três anos, Paulo
percorreu mais de três mil quilômetros, fundou
igrejas em pelo menos sete cidades e abriu o
continente europeu à pregação do Evangelho.

A terceira viagem missionária:

− Após um breve período de descanso,


Paulo iniciou a terceira viagem missionária,
partindo de Antioquia da Síria.
− Foi para Éfeso, onde permaneceu por mais
de dois anos, o período mais longo que passou
em um só lugar, durante suas viagens.
− Seu ministério teve êxito não apenas
na igreja em Éfeso, mas também em toda
a província. As sete igrejas da Ásia, foram
fundadas direta ou indiretamente por Paulo.
− Seus resultados mais evidentes foram
a igreja de Éfeso e duas das suas mais
importantes epístolas: a carta aos Romanos e
aos Gálatas.

206
HISTÓRIA DA IGREJA

A quarta viagem de Paulo:

− Paulo vai a Jerusalém, sabendo que lhe


esperam “cadeias e tribulações”:
Atos 20.22-24 - E, agora, constrangido em meu espírito,
vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá,
senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me
assegura que me esperam cadeias e tribulações. Porém
em nada considero a vida preciosa para mim mesmo,
contanto que complete a minha carreira e o ministério
que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho
da graça de Deus.

Ali, é preso e enviado para Cesaréia, onde fica


confinado cerca de três anos, para em seguida ser
enviado a Roma.

− A viagem foi muito acidentada, com a


perda do navio na ilha de Malta.
− Em Roma, escreveu as cartas aos Efésios,
Filipenses, Colossenses e Filemon.
− Ficou preso durante dois anos em uma casa
alugada por ele mesmo, fazendo, entretanto, a
obra de Deus (Atos 28.30-31).
− É aceito que Paulo, após ficar preso em
Roma por cerca de dois anos, seja absolvido
e solto, fazendo ele, assim, mais uma viagem,
quando então foi preso na cidade de Nicópolis,
norte da Grécia, e novamente enviado a Roma,
onde foi martirizado em 68 d.C. durante a
perseguição de Nero.
− Durante a segunda vez em que esteve preso
teria escrito 1 e 2 Timóteo e Tito, não nesta ordem.
− No ano 64 d.C., grande parte de Roma foi
destruída por um incêndio. Diz-se que foi
Nero – o perverso imperador – quem ateou
fogo à cidade.

207
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− Para fugir da responsabilidade, Nero apontou


os cristãos como culpados do incêndio, e moveu
contra eles tremenda perseguição. Milhares de
cristãos foram torturados e mortos. Conta-se que
muitos deles foram queimados, estraçalhados
por feras no Coliseu romano e transformados em
tochas humanas no jardim da casa de Nero, para
iluminar seus passeios noturnos.

− Por volta do ano 68 já circulavam grande


parte dos atuais livros do Novo Testamento,
inclusive os Evangelhos, com exceção do livro
de João. É provável que a epístola aos Hebreus
tenha sido escrita após a morte de Paulo (entre
anos 90 e 100 d.C.), não sendo, portanto, de
sua autoria.

Do martírio de Paulo até por volta do ano


100 d.C., os acontecimentos envolvendo a igreja
mergulham num período de poucas informações,
havendo alguns historiadores chamado essa fase
de “Era Sombria”.

• A Era Sombria (do martírio de Paulo, 68


d.C. à morte de João, 100 d.C.)

− Durante esse período a igreja mudou


muito sua feição. Os registros seguintes já
passam a ser feitos por volta do ano 120 d.C.,
pelos chamados “Pais da Igreja”.

− A destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.


marca o rompimento definitivo entre judeus
e cristãos. Até então, a igreja era tida pelo
governo e pelo povo em geral, como um ramo
da religião judaica. Dali por diante judeus e
cristãos separaram-se definitivamente.

208
HISTÓRIA DA IGREJA

− A invasão de Jerusalém provoca a morte


e escravidão de milhares de judeus (e
provavelmente nenhum cristão, que atentos
às profecias do Senhor afastaram-se da cidade
a tempo).
− Por volta do ano 90 d.C., Domiciano
empreende severa perseguição aos cristãos
em Roma e por toda a Itália. Entretanto, essa
perseguição foi esporádica e não se estendeu
a todo o império.
− O apóstolo João foi preso e exilado em
Patmos, onde escreveu o livro de Apocalipse.
Morreu no ano 100 d.C., em Éfeso.
− Entre 90 e 100 d.C. foram escritos
os últimos livros do Novo Testamento:
Hebreus,1, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse,
sendo seu reconhecimento canônico ocorrido
mais tarde.
− Plínio, escrevendo a Trajano em 112
d.C., revela a expansão da igreja para todo o
império., dizendo haver cristãos em todas as
classes sociais, e em grande número.
− No final do primeiro século os escritos de
Paulo eram considerados pela igreja como
doutrinas, com as quais concordavam os
escritos de Pedro e João.
− Logo depois, surgem os primeiros desvios
doutrinários.
− Por volta de 120 d.C. temos menções sobre
o batismo por aspersão.
− A partir de agora o domingo começa a ser
guardado como Dia do Senhor; por outro
lado a igreja que fora composta de maioria
judaica, era o sábado.

209
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− A Ceia era celebrada em reuniões exclusivas


para crentes.
− No livro de Atos e nas últimas epístolas,
os títulos anciãos (presbíteros) e bispos são
mencionados como se fossem aplicados
alternadamente à mesma pessoa. No entanto,
no fim do primeiro século aumentava a
tendência de elevar os bispos acima dos
anciãos, o que mais tarde conduziu ao sistema
eclesiástico.
− No fim do primeiro século, o nível
espiritual havia caído de qualidade em relação
aos primeiros anos da igreja.
Apesar dos percalços e perseguições, a igreja
crescera e se firmara. A queda do nível espiritual,
esperada em função da própria expansão e
dificuldade de controle, contudo, não chegava a
ameaçar a consistência cristã.

O FIM DOS PRINCIPAIS DISCÍPULOS DA


PRIMEIRA FASE
Não há registros bíblicos a respeito da morte
dos discípulos ou dos Apóstolos, com exceção das
de Estevão e Tiago, irmão de João (Atos 7 e 12).
As demais nos são trazidas pela tradição. Eis o
resumo de alguns registros:

• Mateus: Morto à espada na Etiópia;


• Marcos: Em Alexandria, Egito, amarrado
a um animal e arrastado até morrer,
• Lucas: Enforcado na Grécia, numa árvore,
• João: Lançado num tacho de óleo fervente,
sobreviveu. Morreu em Éfeso por volta do ano
100, de causas naturais.

210
HISTÓRIA DA IGREJA

• Tiago, irmão de João: Decapitado em


Jerusalém por Herodes;
• Tiago o menor: Lançado do pináculo do
templo em Jerusalém; acabaram por matá-lo
a pauladas;
• Filipe: Enforcado na Frígia, cidade de
Hierápolis;
• Bartolomeu: Esfolado pelo chefe de uma
tribo bárbara;
• Tomé: Amarrado a uma cruz, lá ficou
até morrer. Conta-se que testemunhou do
evangelho até expirar;
• André: Foi crucificado em forma de X.
• Judas: Morto a flechadas;
• Simão, o Zelote: Crucificado em terras da
Pérsia,
• Matias: Apedrejado e em seguida
decapitado.
• Pedro: Crucificado numa cruz de cabeça
para baixo.
• Paulo: Depois de passar dois anos em
Roma, preso, foi libertado e depois novamente
preso e decapitado.
Com a morte dos últimos Apóstolos que
foram testemunhas pessoais do ministério de
Jesus, outras gerações de líderes despontavam,
especialmente dentre aqueles que conviveram com
os Apóstolos: os “Pais da Igreja”. As perseguições
aumentavam em número e violência, estas eram
as perseguições imperiais.

211
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Apocalipse 2.10b - Sê fiel até


2ª FASE: A IGREJA PERSEGUIDA
à morte, e dar-te-ei a coroa da Apocalipse 2.10b
vida.
Compreende o período a partir da morte de
João (cerca de 100 d.C.) até o Edito de Milão (ou
Edito de Tolerância), em 313 d.C.
As perseguições contra a Igreja até por volta
do ano 64 d.C. eram provocadas pelos judeus,
geralmente fanáticos, com o apoio das autoridades
locais, não havendo qualquer indicação de que
o império tivesse qualquer envolvimento na
violência proporcionada contra os crentes. No
entanto, o fato de maior destaque na História
da Igreja no segundo e terceiro séculos foi, sem
dúvida, a perseguição ao Cristianismo pelos
imperadores romanos.

• As causas das perseguições:

− O Monoteísmo Radical: O paganismo


aceitava as novas formas e objetos de adoração
que iam surgindo, enquanto o Cristianismo
rejeitava qualquer forma ou objetos de
adoração, pois somente admitia adoração ao
seu próprio Deus.
− A Falta de Comunhão com o Estilo de
Vida Pagão: A adoração aos ídolos estava
entrelaçada com todos os aspectos da vida
pagã, e os cristãos se excluíam deste estilo
de vida, sendo considerados como seres
insociáveis, e causando má reputação.
− A Adoração ao Imperador: era considerada
como prova de lealdade. Como os cristãos
cantavam hinos e louvores e adoravam a “outro
Rei, um tal de Jesus”, eram considerados pelo povo
como desleais e conspiradores de uma revolução.

212
HISTÓRIA DA IGREJA

− O Judaísmo Reconhecido: o Judaísmo


era reconhecido pelo governo como religião
permitida, e os cristãos eram associados
a eles, como uma seita judaica. Com o
rompimento desta relação na destruição de
Jerusalém, o Cristianismo ficou isolado, sem
nenhuma lei que protegesse seus seguidores
do ódio dos inimigos.
− As Reuniões Secretas dos Cristãos:
O governo imperial suspeitava de todos
os cultos e sociedades secretas, temendo
propósitos desleais, além de correrem
rumores que nas reuniões praticavam-se
atos imorais e criminosos, por serem à noite
ou de madrugada.
− A Igualdade na Igreja Cristã: Não havia
nenhuma distinção entre seus membros. Um
escravo podia ser eleito bispo na igreja. Tudo
isso era inaceitável para os nobres, filósofos
e autoridades. Cristãos eram considerados
como “niveladores da sociedade”, portanto
anarquistas, perturbadores da ordem social.
− Os Interesses Econômicos: Muitas vezes
os governantes eram influenciados para
perseguir os cristãos, por pessoas cujos
interesses financeiros eram prejudicados pelo
progresso da igreja.

PRINCIPAIS ACUSAÇÕES CONTRA OS


CRISTÃOS

Os rumores populares: Diziam que os cristãos


bebiam até se embriagarem, e praticavam
orgias, dando vazão às paixões carnais, e que
os cristãos adoravam um “asno” crucificado e
tinham práticas religiosas absurdas.

213
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Os rumores intelectuais: Os cristãos eram


pessoas ignorantes cujas doutrinas eram
contraditórias. Para eles, os cristãos eram
desprezíveis.

• As Fases das Perseguições:

1. Desde Trajano até Antonino Pio (98-161


d.C.)
Desde o reinado de Trajano ao de Antonino
Pio, o Cristianismo não era reconhecido, mas
também não foi perseguido de modo severo. Sob o
governo dos quatro imperadores Nerva, Trajano,
Adriano e Antonino Pio (os quais, com Marco
Aurélio, foram conhecidos como os “cinco bons
imperadores”), nenhum cristão podia ser preso
sem culpa definida e comprovada. Entretanto,
se alguém denunciava um crente perante uma
autoridade judiciária, este tinha a obrigação de
interrogar o acusado e a maioria recusava-se a
adorar o Imperador ou apostatar a fé.

O Testemunho de Plínio: enviado por


Trajano como governador à Ásia Menor,
com o propósito de sentenciar os cristãos
recalcitrantes, Plínio escreveu ao Imperador:
“Eles (os magistrados), afirmam que o seu
erro (dos cristãos) se resume nisto: costumam
reunir-se num dia estabelecido, antes do
raiar do dia, e cantam, revezando-se, um
hino a Cristo, como a um deus; obrigam-
se a não roubar, furtar, adulterar, nunca
faltar à palavra, nunca ser desleal, ainda que
solicitados. Depois de fazerem isso, reúnem-
se para uma refeição comum”.

214
HISTÓRIA DA IGREJA

Mártires: Simeão (ou Simão - Marcos 6.3,


o sucessor de Tiago, bispo da igreja em
Jerusalém e irmão de Jesus, crucificado em
107 d.C., e Inácio, segundo bispo da cidade de
Antioquia da Síria, jogado às feras em Roma
em 110 d.C.

2. Marco Aurélio (161-180 d.C.)


Apesar de possuir tão boas qualidades como
homem e governante justo, foi cruel perseguidor
dos cristãos. Sua ideia era restaurar a antiga
simplicidade da vida romana e, com ela, a antiga
religião, sendo, portanto, contra o cristianismo
por considerá-lo inovador. Milhares de crentes
foram decapitados e devorados pelas feras na
arena no seu governo.

Mártires: Policarpo, bispo de Esmirna,


morreu no ano 155 d.C. queimado vivo; e
Justino Mártir, filósofo notável convertido a
Cristo.

3. Septímio Severo (202-211 d.C.)


Era melancólico e muito rigoroso na execução
da disciplina, foi considerado pelos cristãos
como o anticristo. Procurou, em vão, restaurar as
religiões decadentes, do passado.

Mártires: Leônidas, pai do grande teólogo


Orígenes (um dos pais da igreja), foi
decapitado. Perpétua, nobre mulher de
Cartago e Felicitas, sua fiel escrava, foram
despedaçadas pelas feras, no ano 203.

215
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

4. Décio (249-251 d.C.)


Cipriano, cronista da época de Décio,
informou diante da crueldade da perseguição
aos crentes: “O mundo inteiro está devastado”.
A perseguição estendeu-se por todo o império
e milhares de pessoas foram mortas mediante
torturas em Roma, Egito, África e Ásia Menor.

5. Valeriano (253-260 d.C.)


Décio havia decidido destruir o cristianismo
e não conseguiu. Valeriano resolveu ser mais
decidido que seu antecessor. Muitos líderes
cristãos foram mortos, dentre os quais Cipriano,
bispo de Cartago. Houve trégua de quase
cinquenta anos após esta perseguição.

Mártires: Cipriano, bispo de Cartago; e Sexto,


bispo Romano.

6. Diocleciano (303-310 d.C.)


A última e mais terrível de todas as
perseguições aconteceu nesse tempo. Os cristãos
foram literalmente caçados onde estivessem. A
perseguição estendeu-se por todo o Império. Cria
Diocleciano que os cristãos, com sua teimosia,
provocavam a ira dos deuses e por isso Roma ia de
mal a pior. Determinou que todas as Bíblias fossem
queimadas, todos os templos fossem destruídos,
e exigiu que renunciassem ao Cristianismo e à fé;
quem não o fizesse, perderia a cidadania romana e
ficaria sem proteção da lei. Em alguns lugares, os
cristãos eram encerrados nos templos e depois lhes
ateavam fogo. Diocleciano renunciou ao trono em
305, porém, Galério e Constâncio, seus sucessores,
continuaram a perseguição durante seis anos.

216
HISTÓRIA DA IGREJA

7. O Edito de Constantino (313 d.C.)


Constantino, filho de Constâncio, no papel de
coimperador quando ainda não era convertido ao
Cristianismo, expediu o Edito de Tolerância, no
ano 313, pelo qual o Cristianismo foi oficializado
e cessou a perseguição, para não mais voltar,
enquanto durou o Império Romano.

OS PAIS DA IGREJA
Num período expressivamente longo da
História da Igreja (entre o 1º e o 4º século),
pontificaram as lideranças de destacados homens
de Deus. Esse destaque procedia principalmente
pelo fato de alguns deles (os primeiros) terem estado
diretamente ligados aos apóstolos e discípulos
do Senhor. Outros, mais tardios, conviveram e
aprenderam, por sua vez, com os primeiros pais,
e assim formavam uma sucessão de líderes que
guardavam de perto os ensinamentos apostólicos,
transmitindo cada vez para mais longe no tempo a
tradição cristã.
A estima e o respeito da igreja para com esses
homens fizeram com que fossem conhecidos como
os “Pais da Igreja”. Destacaremos alguns deles:

1. OS PAIS APOSTÓLICOS: Tiveram contato


direto com os Apóstolos do Cordeiro e são
caracterizados pela edificação e fortalecimento
dos crentes na fé. (Primeiro Século).

Clemente (30-100 d.C.): Considerado pela


Igreja Católica Romana o quarto papa.
Talvez seja a ele a menção que Paulo faz em
(Filipenses 4.3) - A ti, fiel companheiro de jugo,
também peço que as auxilies, pois juntas se
esforçaram comigo no evangelho, também com
Clemente e com os demais cooperadores meus,

217
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

cujos nomes se encontram no Livro da Vida.


Escreveu a carta “I Clemente”, ressaltando a
sucessão apostólica.

Inácio (67-110 d.C.): Foi discípulo do Apóstolo


João e bispo da Antioquia. Foi sentenciado à
morte por Trajano, pessoalmente, na mesma
cidade onde ministrava. Escreveu uma extensa
missiva aos cristãos em Roma pedindo para
não implorarem por clemência, pois entendia
ser uma honra morrer pelo nome do Senhor.
E assim foi.

Policarpo (69-166 d.C.): Também foi discípulo


de João. Bispo de Esmirna, foi preso durante
uma perseguição ordenada por Antonino.
Foi lhe oferecida a liberdade se amaldiçoasse
a Cristo. Recusou-se respondendo: “Já faz
oitenta e seis anos que Ele só me tem feito bem.
Como poderia eu amaldiçoá-lo sendo Ele meu
Senhor e Salvador? Foi queimado vivo.

Papias (70-155 d.C.): Também discípulo do


Apóstolo João. Bispo de Hierápolis, cidade
próxima cerca de 150 Km de Éfeso. Ele e
Inácio formam a ligação entre a era apostólica
e a seguinte.

2. OS APOLOGISTAS: Apologia é um
discurso ou escrito que defende, justifica,
elogia uma pessoa ou coisa. Os apologistas
eram os cristãos dos séculos II e III d.C., que
se dedicavam à tarefa de defender a fé e a
doutrina cristãs.

Justino (100-165 d.C.): chamado “o Mártir”,


foi o principal apologista do século II. Escreveu
a obra Apologia, dirigida ao Imperador

218
HISTÓRIA DA IGREJA

Antonino Pio em defesa dos cristãos contra


a perseguição governamental e as críticas
pagãs. Diálogo com Trifo é uma apologia sua
contra as objeções judaicas.

Irineu (140-202 d.C.): Foi discípulo de


Policarpo, que havia sido discípulo de João.
Era bispo de Lião, foi educado em Esmirna.
Notável apologista, escreveu a obra Contra
Heresias, combatia o gnosticismo.

Tertuliano (150-220 d.C.): É chamado de “o pai


do cristianismo latino”. Advogado convertido,
usou seus dotes de oratória na defesa dos
princípios cristãos. Apresentou importante
fundamento para a doutrina da trindade.

Orígenes (185-254 d.C.): Foi preso e


martirizado na perseguição empreendida
por Décio. Notável escritor, viveu em
Alexandria e foi identificado como sendo “o
maior conhecedor da Bíblia entre todos os
escritores da igreja primitiva”. Sua obra As
Origens foi a primeira grande apresentação
sistemática do cristianismo. Contra Celso foi
a mais profunda e convincente defesa da fé
cristã produzida pelo mundo antigo. Relata-
se que sua produção literária era tão fértil que
ás vezes mantinha vinte amanuenses a quem
ditava suas obras. O Novo Testamento foi
copiosamente citado em suas obras (cerca de
metade). Viveu na Palestina depois de fugir
da perseguição no norte da África.

Eusébio (265-339 d.C.): Foi bispo de


Cesaréia quando Constantino era Imperador,
e desfrutava de prestígio junto a este,
tendo escrito uma biografia do mesmo.

219
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Escreveu a obra História Eclesiástica, onde


deu o panorama da história da igreja desde os
tempos apostólicos até o ano 324 d.C., e por
isso foi chamado “Pai da História Eclesiástica”.

Jerônimo (340-420 d.C.): Viveu em Roma


durante muito tempo onde foi educado,
passando a viver em Belém (Judéia). Traduziu
a Bíblia para o latim (versão conhecida como
Vulgata Latina, que foi a única largamente
autorizada por muitos séculos pela Igreja
Católica).

Agostinho (354-430 d.C.): Bispo de Hipona.


Foi descrito como aquele com quem “a Igreja
antiga atingiu seu ponto religioso mais elevado
desde os tempos apostólicos”. Escreveu 93
obras filosóficas, dogmáticas, exegéticas e
outras, sem contar os numerosos sermões
e as cartas. Ensinou retórica e gramática,
tanto no norte da África como na Itália.
Ficou conhecido como o filósofo e teólogo
de Hipona. Era polemista, pregador, teólogo,
administrador episcopal competente. Sua
obra mais importante foi A Cidade de Deus,
dividida em 22 livros onde inseriu sua filosofia
da história e sua defesa do cristianismo contra
as acusações pagãs.

As perseguições foram certamente, dos fatos,


os mais importantes da fase que vai do ano 100
ao ano 313 d.C. No entanto, foi também nesse
período que a igreja se estruturou no campo da
organização. Vejamos alguns dos aspectos, além
desses, que marcaram a vida do povo cristão
nesse tempo.

220
HISTÓRIA DA IGREJA

A EXPANSÃO E O GOVERNO DA IGREJA


Quando Lucas escreveu o livro de Atos, e
Paulo as epístolas aos Filipenses e a Timóteo, os
títulos “bispos” e “anciãos” (presbíteros) eram
dados livremente àqueles que serviam às igrejas.
Entretanto, 60 anos depois, isto é, cerca do ano
125, aparece a tendência de elevar os bispos acima
de seus companheiros. Nota-se que os bispos
estavam em toda parte, governando as igrejas, e
cada um mandava em sua própria diocese, tendo
presbíteros e diáconos sob suas ordens.
Após a morte dos apóstolos, com o surgimento
da necessidade de substituir sua liderança, é
adotada a forma episcopal de governo da Igreja,
ou seja, os chamados bispos (termo praticamente
sinônimo de presbítero e ancião), agora se colocam
como dirigentes. Eis os motivos:

− A perda de autoridade apostólica fez


com que se realizassem eleições de novos
dirigentes;
− Necessidade de mais organização e
disciplina, por causa do crescimento numérico
e expansão geográfica da igreja (dirigentes
que supervisionassem o crescimento);
− A perseguição aproximou as igrejas e
exerceu influência para que elas se unissem e
se organizassem;
− O aparecimento de seitas e heresias foi a
causa da criação dos “credos” ou artigos de fé, e
com eles, algumas autoridades para executá-los;
− A forma episcopal (autocrática) de governo
na Igreja deveu-se também à influência da
forma de governo civil no império.

221
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− Gradativamente a fé deixa de ser do


coração, e passa a ser um exercício intelectual,
crente num sistema rigoroso de doutrinas.

O DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA –
Escolas Teológicas:
Apareceram, nessa época, três escolas
teológicas, estabelecidas para instruir aqueles
que descendiam de famílias pagãs, e que haviam
aceitado a fé Cristã. Entretanto, não tardou que
tais escolas se transformassem em centros de
investigação das doutrinas da igreja.

a. Escola de Alexandria, ano 180, fundada


pelo filósofo Panteno, fervoroso cristão
e eloquente no ensino. Foi sucedido por
Clemente de Alexandria e depois por
Orígenes;

b. Escola da Ásia Menor. Não era sediada em


nenhum centro urbano, mas era formado por
um grupo de escritores e mestres de teologia.
Irineu, grande evangelista, foi seu mestre
mais ilustre. Chegou a ser bispo e morreu
martirizado no ano 200;

c. Escola do Norte da África, estabelecida


em Cartago. Foi a mais importante para
o cristianismo no sentido de moldar o
pensamento teológico da Europa. Seus mestres
foram Tertuliano e o bispo Cipriano.
Os escritos desses cristãos, assim como os de
muitos outros que com eles trabalharam e por
eles foram inspirados, serviram de inestimável
fonte de informações originais acerca da igreja,
sua vida, suas doutrinas e suas relações com o
mundo pagão, durante os séculos de perseguição.

222
HISTÓRIA DA IGREJA

A FORMAÇÃO DO CÂNON DO NOVO


TESTAMENTO
Já sabemos que os escritos do Novo Testamento
foram terminados por volta do ano 100 d.C.
Entretanto, a formação do Novo Testamento como
conhecemos hoje, com os livros que o compõem
reconhecidos como canônicos ou sagrados, não
foi imediata. Nem todos eram aceitos em todas
as igrejas como inspirados. Alguns deles eram
aceitos no Oriente, porém durante muitos anos
foram rejeitados no Ocidente. Da mesma forma,
alguns livros que hoje não são aceitos como
inspirados, eram lidos no Oriente.
Com o passar do tempo, os livros que
compõem hoje o Novo Testamento conquistaram
proeminência como escritos inspirados, enquanto
os outros livros foram gradualmente postos de
lado e rejeitados pelas igrejas.
Os concílios que foram realizados não
escolheram os livros para formar o Cânon, mas
apenas confirmaram o reconhecimento já feito
pelas igrejas, o que não aconteceu antes do ano 300.
Qualquer pessoa que leia o “Novo Testamento
Apócrifo”, e o compare com o conteúdo do Novo
Testamento, notará imediatamente a razão por
que tais livros foram recusados e não reconhecidos
como canônicos.

O APARECIMENTO DE SEITAS E
HERESIAS
Ao lado de perseguições externas, a igreja
passou a ser açoitada por heresias internas, fruto
de doutrinas corrompidas dentro do próprio
rebanho. Eis algumas delas:

223
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

• Gnosticismo: Do grego “gnosis”, significa


sabedoria, conhecimento. Era uma espécie
de “enxerto” do cristianismo no paganismo.
Criam que do Deus supremo emanava um
grande número de divindades inferiores,
algumas benéficas e outras malignas, e que
através dessas divindades o mundo foi criado
com a mistura do bem e do mal, e que em
Jesus Cristo como uma dessas emanações,
a natureza humana morou durante algum
tempo. Adotavam a interpretação alegórica
das Escrituras.

• Ebionismo: palavra hebraica que significa


“pobre”. Eram judeus-cristãos que insistiam
na observância da lei e dos costumes judaicos.
Rejeitavam as cartas de Paulo por reconhecerem
os gentios como corpo de Cristo.

• Maniqueísmo: Teve origem nos ensinos


do persa Mani, que ensinava que o universo
compõe-se do reino das trevas e do reino da
luz e ambos os reinos lutam pelo domínio da
natureza e do próprio homem. Recusavam a
Jesus, mas criam num Cristo celestial. Santo
Agostinho, o maior teólogo da Igreja, era
maniqueísta antes de converter-se.

• Montanismo: Esse movimento manteve


em evidência as manifestações do Espírito,
principalmente ao dom de profecia e dava mais
ênfase às manifestações do que aos debates
teológicos da época. Também manteve acesa a
expectativa da volta de Cristo, o que, na época, a
igreja já não dava tanta importância. Cometeram
por certo alguns abusos nesse sentido, mas
mantiveram em evidência o arrebatamento e o
juízo eterno.

224
HISTÓRIA DA IGREJA

A CONDIÇÃO DA IGREJA NESTE PERÍODO:

1. Uma Igreja Purificada: Por causa da


perseguição, somente aqueles que estavam
dispostos a ser fiéis até à morte, se tornavam
publicamente seguidores de Cristo, o que
resultou em uma igreja “sem joio, apenas trigo”.

2. O Ensino Unificado da Igreja: Apesar de


a igreja estar espalhada por várias regiões do
mundo, compondo-se de muitas raças, nações
e línguas, a fé que professavam era única. As
várias seitas surgiram, mas pouco a pouco
desapareceram.

3. A Organização da Igreja: No final do


terceiro século a igreja era um exército
organizado, bem governado e unido,
contrastando com a situação do império
romano, desorganizado, desgovernado e
indisciplinado.

4. O Crescimento da Igreja: Ao terminar


o período de perseguição, a igreja era
suficientemente numerosa para constituir
a instituição mais poderosa do império,
pois havia crescido de forma assombrosa.
Seus membros somavam vários milhões e
segundo alguns cálculos eram cerca de 10%
da população do império romano.

225
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

3ª FASE: A IGREJA IMPERIAL


Desde o Edito de Constantino (313 d.C.) até a
queda de Roma (476 d.C).

O INÍCIO DO DECLÍNIO DA IGREJA

• Constantino: O Cristianismo como


religião oficial do Império
Em menos de 80 anos a Igreja passa de
religião proibida (sob o Imperador Diocleciano)
à religião oficial do Império. Houve, com esta
mudança, benefícios para a Igreja e para o povo,
mas também houve maldições das quais a igreja
até hoje se ressente.
Logo após a renúncia de Diocleciano, no ano
305, quatro aspirantes à coroa estavam em guerra.
Os dois rivais mais poderosos eram Maxêncio e
Constantino, que era favorável aos cristãos, apesar
de ainda não se confessar como tal. Ele afirmou ter
visto no céu uma cruz luminosa com a seguinte
inscrição: “In Hoc Signo Vinces” (por este sinal
vencerás), e mais tarde, adotou essa inscrição
como insígnia do seu exército. Constantino
venceu e Maxêncio morreu afogado no rio Tibre.
Constantino via o cristianismo como um
elemento importante para a unificação do
império. Uma só lei, um só imperador, uma única
cidadania, queria formar uma só religião. Ele
retardou o seu batismo até às vésperas da morte,
julgando que o ato do batismo lavava todos os
pecados cometidos anteriormente.

a. Alguns Bons Resultados para a Igreja

− Fim da Perseguição (Edito de Tolerância


– 313.d.C);

226
HISTÓRIA DA IGREJA

− Igrejas Restauradas e Novamente Abertas;


− Fim dos Sacrifícios Pagãos;
− Dedicação de Templos Pagãos ao Culto
Cristão;
− Doações às Igrejas;
Em muitos lugares os templos pagãos, que
eram mantidos pelo Estado, foram dedicados ao
culto cristão; com esta mudança, os donativos
passaram a ser concedidos às igrejas e ao clero
cristão. Pouco a pouco o dinheiro público foi
enriquecendo as igrejas, os bispos, os ministros e
todos os funcionários do culto cristão eram pagos
pelo Estado.

− Privilégios Concedidos ao Clero;


Não se exigiam dos clérigos os deveres cívicos
obrigatórios para todos os cidadãos; estavam
isentos de pagamento de impostos; eram julgados
por cortes eclesiásticas e não civis.

− Proclamado o Domingo Dia de Descanso.

b. Alguns Bons Resultados para o Estado

− Crucificação Abolida;
− Repressão do Infanticídio;
Antes, a criança que não fosse do agrado do
pai, podia ser asfixiada ou “abandonada” para que
morresse.
− Influência no Tratamento dos Escravos;
O Cristianismo tornou mais humano o
tratamento dado aos escravos, outorgando
direitos legais inéditos a eles, e a escravidão foi
gradativamente abolida.

227
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− Proibição dos Jogos dos Gladiadores.

c. Alguns Maus Resultados da Vitória Cristã

− Cai o nível moral dos membros da Igreja;


Todos queriam ser membros da igreja e quase
todos eram aceitos. Tanto os bons como os maus,
os que buscavam a Deus e os hipócritas buscando
vantagens. O nível moral do Cristianismo no
poder era muito mais baixo do que aquele que
distinguia os cristãos nos tempos de perseguição.

− Costumes Pagãos aos Poucos Foram


Introduzidos na Igreja;
Algumas das antigas festas pagãs foram
aceitas na igreja com nomes diferentes. Cerca
do ano 405 as imagens dos santos e mártires
começaram a aparecer nos templos, como objetos
de reverência, adoração e culto. A adoração à
virgem Maria substituiu a adoração a Vênus e a
Diana. A Ceia do Senhor tornou-se um sacrifício
em lugar de uma recordação da morte do Senhor.

− A Igreja se Torna Mundana;


Como resultado da ascensão da igreja ao
poder, não se vê mais os ideais do Cristianismo
transformando o mundo; o que se vê é o mundo
dominando a igreja. Ambição, orgulho e arrogância
prevalecem.

− Males Resultantes da União da Igreja


com o Estado;
No Oriente, o Estado dominava de tal modo a
igreja, que esta perdeu todo o poder que possuía.

228
HISTÓRIA DA IGREJA

No Ocidente, a igreja, pouco a pouco, usurpou o


poder secular e o resultado não foi Cristianismo, mas
o estabelecimento de uma hierarquia corrompida
que dominava as nações da Europa, fazendo da
igreja uma máquina política.

A PRIMEIRA OPOSIÇÃO À IGREJA ROMANA


Todo este contexto fez surgir e permitir uma
grande quantidade de heresias no seio da Igreja
cristã, o que provocou o aparecimento de grupos
rebeldes à igreja oficial romana, incluindo uma
maioria herege ao extremo. Muitos grupos rebeldes
formaram igrejas bíblicas que mais tarde foram
apelidados de “Anabatistas”, ou “Rebatizadores”, já
que rebatizavam todos os que queriam estar com
eles, vindos da igreja oficial romana.

A FUNDAÇÃO DE CONSTANTINOPLA
Logo após haver sido o Cristianismo elevado
à condição de religião do Império Romano,
uma nova capital foi escolhida, construída e
estabelecida como sede da autoridade do Império,
fato que deu motivo a grandes acontecimentos
tanto para a igreja como para o Estado.

A Necessidade de uma Nova Capital: a


cidade de Roma estava intimamente ligada à
adoração pagã, cheia templos e estátuas, e o
povo inclinado à antiga forma de adoração.

Sua Posição Geográfica: em meio a imensas


planícies, Roma ficava exposta aos ataques
dos inimigos. Em Bizâncio, Constantino
estabeleceu a capital, e planejou a construção
da grande cidade mundialmente conhecida
durante muitos anos por Constantinopla, a
cidade de Constantino, atualmente Istambul.

229
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

O programa de construções ambicioso do


novo império foi planejado segundo a cidade de
Roma, com as avenidas, o hipódromo, as igrejas e
os banhos públicos.
Na nova capital a cultura grega e a tradição
helênica eram predominantes. Construída num
local estratégico e extremamente fortificada
pelos imperadores, permaneceu intacta até 1204,
quando foi tomada e saqueada pelos latinos
durante a quarta cruzada.

A DIVISÃO DO IMPÉRIO ROMANO


Logo depois da fundação da nova capital, deu-
se a divisão do império. As fronteiras eram muito
extensas e o perigo de invasão era tão grande,
que um imperador sozinho não podia proteger.
Diocleciano havia iniciado a divisão no ano
305. Constantino também nomeou imperadores
aliados. No ano de 395, Teodósio completou
a separação e o mundo romano foi dividido
em Oriental e Ocidental, separados pelo Mar
Adriático. O Império Oriental era denominado
Grego, ao passo que o Ocidental era chamado
Latino, em razão do idioma que prevalecia. A
divisão do império foi um presságio da futura
divisão da igreja.

CONTROVÉRSIAS E CONCÍLIOS

1. Arianismo (A Doutrina da Trindade) –


381 d.C.
Envolveu Ário (daí a controvérsia ter sido
conhecida como arianismo), presbítero de
Alexandria, e Atanásio era, diácono da mesma
igreja. Argumento de Ário: Cristo teria natureza
inferior à de Deus e superior à do homem.

230
HISTÓRIA DA IGREJA

Não admitia a existência eterna de Cristo. Foi no


Concílio de Nicéia (Bitínia) em 325 que houve
avitória das ideias de Atanásio, mas somente
depois de sua morte é que toda a Igreja adotou
esta doutrina.

2. A Heresia Apolinária (A Natureza de


Cristo) – 380 d.C.
Doutrina defendida por Apolinário, bispo de
Laodicéia. Ano 380. Afirmava que Jesus, na terra,
não era homem e sim Deus em forma humana,
enquanto que a maioria dos teólogos afirmava que
a pessoa de Jesus Cristo era uma união de Deus e
homem. A heresia foi condenada no Concílio de
Constantinopla em 381.

3. O Pelagianismo (O Pecado e a Salvação)


– 410 d.C.
Pelágio, monge Bretão. Ano 410. Afirmava que
nós não herdamos as tendências pecaminosas de
Adão, mas que a alma faz a sua própria escolha, seja
para pecar, seja para viver em retidão. A doutrina foi
contrariada por Santo Agostinho, o maior teólogo
da igreja depois do Apóstolo Paulo, o qual sustenta
que em Adão todos os homens pecaram e todo o
gênero humano é considerado culpado. A doutrina
foi condenada no Concílio de Cartago em 418.
As ideias de Agostinho prevaleceram até o Século
XVII. Somente mais tarde, nos tempos modernos,
na Holanda sob a orientação de Armínio (ano de
1600), e no século dezoito com João Wesley, é que a
igreja se afastou do sistema doutrinário agostiniano.
Outras controvérsias existiram em grande
número, as quais representaram grande desafio
ao conhecimento teológico de muitos homens
que contribuíram para formar o dogma cristão
como o conhecemos atualmente.

231
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

O SURGIMENTO DOS MONGES: O


PRINCÍPIO DA CLAUSURA
Com o mundanismo entrando na igreja,
muitos crentes resolveram afastar-se para uma
vida contemplativa e ascética, nascendo então,
o espírito monástico, em terras do Egito. Seu
fundador foi Antão, em 320. Viveu muito tempo
em uma caverna e teve muito imitadores.
Outra forma de ascetismo foi adotada pelos
santos das colunas. Seu iniciador foi Simeão
Estilista (423), começou a construir colunas ou
“torres” de pedras para viver afastado do mundo
e do pecado. Essas colunas tinham quase vinte
metros de altura e muito estreitas, assim eles se
sentiam longe do mundanismo. Logo foi seguido
por outros “santos da coluna”.
Da Ásia e África o movimento espalhou-se
para a Europa, embora de forma mais lenta. Neste
continente originaram-se os mosteiros, como
forma mais evoluída de reunir os ascetas. A mais
conhecida foi a ordem dos Beneditinos, fundada
por São Bento.

A IGREJA RECEBE UM NOME (381 d.C.)


A igreja cristã recebeu o nome de “Católica”
no Concilio de Constantinopla (hoje Turquia),
presidido pelo imperador Romano Teodósio no
ano de 381 d.C. Ficando denominada de Igreja
Católica Apostólica Romana. Mas não poderia
ser considerada apostólica por ter abandonado a
doutrina dos apóstolos e nem católica (universal),
pois não se pode ser universal e romana ao mesmo
tempo.

• Igreja – Assembléia dos Santos;

232
HISTÓRIA DA IGREJA

• Católica – Universal;
• Apostólica – dos apóstolos;
• Cristã – de Cristo.

DESENVOLVIMENTO DO PODER NA
IGREJA ROMANA

1. Semelhança com o Governo Imperial


Visava a semelhança da igreja com o
império, como organização, também fortalecia
a tendência da nomeação de um cabeça. Em
um Estado governado por uma autocracia,
e não por autoridades eleitas, no qual um
imperador governava com poderes absolutos,
era natural que a igreja, da mesma forma, fosse
governada por um chefe. Em toda parte os bispos
governavam as igrejas, porém esta pergunta surgia
constantemente: Quem governará os bispos? Qual
o bispo que deve exercer na igreja a autoridade
que o imperador exerce no império? O bispo de
Roma tomou o título de “pai”, que mais tarde foi
modificado para papa.

2. A Afirmação da Autoridade Apostólica


Roma reclamava para si autoridade apostólica.
Era a única que dizia poder citar o nome de dois
apóstolos como fundadores, isto é, os maiores de
todos os apóstolos, Pedro e Paulo. Surgiu, então, a
tradição de que Pedro foi o primeiro bispo de Roma.
Ora, como bispo, Pedro então deveria ser papa.
Eles supunham que o título “bispo”, no
primeiro século, tinha o mesmo significado que
lhe davam no quarto século, isto é, chefe do clero
e da igreja, e que Pedro, como principal dos
apóstolos, teria autoridade sobre toda a igreja.

233
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

3. Características da Igreja Romana

− Os bispos da igreja de Roma eram muito


mais fortes, sábios e enérgicos que os de
Constantinopla; por isso sua influência era
sentida em toda a igreja.
− A igreja de Roma era firme na doutrina,
pouco influenciada por seitas e heresias, o que
aumentava sua influência sobre a igreja.
− Vivia um cristianismo prático (cuidado
para com os pobres cristãos e pagãos; ajuda
liberal às igrejas perseguidas, etc.).

4. Os Resultados da Mudança da Capital


A transferência da capital de Roma para
Constantinopla fez aumentar a influência do
papa romano. Em Constantinopla o imperador e
a corte dominavam a igreja, e o patriarca (bispo)
estava sujeito ao palácio imperial. Em Roma,
porém, não havia imperador sobrepondo-se ao
papa e ofuscando-o, sendo este, portanto, a mais
alta autoridade na região.
Com a capital do império longe e o império
em decadência, o sentimento de lealdade para com
o papa, pouco a pouco, tomou o lugar da lealdade
para com o imperador. Foi assim que no Ocidente o
bispo de Roma, ou papa, começou a ser considerado
como a autoridade principal de toda a igreja.

A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO


OCIDENTAL
No reinado de Constantino, o reino parecia
estar tão bem protegido e invencível, como o estivera
nos governos de Marco Aurélio e de Augusto.

234
HISTÓRIA DA IGREJA

Contudo, estava corroído pela decadência moral


e política, e pronto para ser tomado por invasores.
Vinte e cinco anos após a morte de Constantino
(337d.C.), os muros do Império Ocidental foram
derribados, as hordas de bárbaros (nome dado
pelos romanos aos demais povos, exceto a si
mesmos, aos gregos e aos judeus), penetraram
por toda parte nas indefesas províncias,
apoderando-se dos territórios e estabelecendo
reinos independentes.

1. Causas de sua Ruína

− As riquezas do Império eram cobiçadas


pelos povos vizinhos.
− Os exércitos romanos estavam frágeis. A
disciplina havia decaído nos últimos tempos,
e os bárbaros eram fisicamente mais fortes,
mais intrépidos, e mais aptos para a guerra.
− O Império estava debilitado pelas Guerras
Civis.
− As invasões das Tribos Asiáticas. Quando
os bárbaros invadiram Roma, declararam
que foram forçados, pois hostes irresistíveis
de guerreiros asiáticos e suas famílias lhes
haviam tomado suas terras, obrigando-os a
dirigir-se para o Império Romano.

2. A Queda de Roma (476 d.C.)


De 337 a 476 d.C. houve sucessivas invasões
que culminaram na queda definitiva do Império
Romano. Uma tribo de germânicos apoderou-se
de Roma, destronou o menino imperador Rômulo
conhecido por Augusto o Pequeno, tomou o
título de rei da Itália, e desde esse ano o Império
Romano Ocidental deixou de existir.

235
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

3. A Igreja e os Bárbaros
O Cristianismo dessa época ainda era vivo e
ativo, e conquistou muitas raças pagãs invasoras
que contribuíram para a formação de uma nova
raça europeia. Como se vê, decaiu a influência do
império, desfez-se o seu poder imperial, porém
aumentou a influência da igreja e do papado de
Roma em toda a Europa. O império caiu, porém a
igreja conservou sua posição imperial.

RESUMO: COMO A IGREJA CRISTÃ


TORNOU-SE CATÓLICA
Mesmo com a expansão da igreja por várias
regiões do Império, alcançando os mais diferentes
povos, raças, nações e línguas, preservou-se
milagrosamente a unidade da fé e sua mensagem
transformadora tal como fora ensinada pelo
Senhor, a saber, a vocação do evangelho para
responder as maiores questões e desafios do mundo
de então. Esse ensino evangélico constitui hoje o
corpo doutrinário formado a partir do século I.
Até o início do século IV não havia distinção
relevante entre as centenas ou talvez milhares de
igrejas locais espalhadas pelo mundo. Então, como
surgiu a atual Igreja Católica Apostólica Romana?
Diferindo das demais igrejas em grandiosidade,
mas também incorporando cada vez mais
elementos de culto e de ensinos que destoam do
Novo Testamento, o Catolicismo começa a surgir
no século IV como resultado, entretanto com
vários fatores:

• A ambição do bispo de Roma para exercer


autoridade sobre os demais bispos, o que resultou
na criação de um núcleo de poder religioso-
político nessa cidade, centro do Império;

236
HISTÓRIA DA IGREJA

• O declínio político do próprio Império,


cedendo espaço ao núcleo de poder religioso-
político sediado em Roma, constituído pela
Igreja local e seu clero;
• A necessidade cada vez mais urgente de
um comando centralizador de onde partissem
as orientações de combate aos movimentos
heréticos que iam aparecendo em vários lugares;
• A necessidade de um esforço missionário
visando alcançar outros povos, aí, incluindo
os Bárbaros;
• A influência da cultura pagã e do modelo
imperial de governo no seio da igreja em Roma;
• A divisão do Império em 395 em Império
Romano do Ocidente e do Oriente, surgindo
uma forte Igreja em Constantinopla que
rivalizava com a de Roma em poder e
prestígio, lançando dúvidas sobre a liderança
do clero romano;
• A iniciativa do Bispo de Roma que, em 440
d. C. proclamou-se Papa com o título de Leão I.
O espaço político deixado pelo vazio
de poder temporal, a chegada das invasões
bárbaras e o crescente prestígio da Igreja em
Roma, além dos demais fatores já listados, com
o tempo fez surgir um núcleo de obediência na
Igreja de Roma. Assim, o Bispo desta Igreja, no
ano 440, proclamou-se Papa com o título de
Leão I, prosseguiu o processo de consolidação
do papado e definindo o caminho que desaguou
no cisma Ortodoxo de 1045 e na Reforma
Protestante de 1517.

237
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

4ª FASE: A IGREJA MEDIEVAL


Desde a queda de Roma (476 d.C.) até a queda
de Constantinopla (1453 d.C.)
O fato mais importante desse período foi
o desenvolvimento do poder papal, isto é, o
bispo de Roma, que até aí reclamou e conseguiu
autoridade sobre toda a igreja cristã, reivindicava
também o predomínio sobre os governos das
nações européias. Esse desenvolvimento teve três
períodos: crescimento, culminância e decadência.

O CRESCIMENTO DO PODER PAPAL

1. Período de Crescimento (590-1073 d.C.)


Gregório I (590) - Inicia o período de
pontificado de maior influência para o Bispo de
Roma. Embora o papado tenha surgido com Leão
I (410), na verdade foi Gregório quem de fato
pontificou como verdadeiro. Desenvolveu o culto
a imagens, a crença no purgatório, a crença da
transubstanciação (Jesus real na hóstia e no vinho).
São várias as razões para justificar o crescente
poder do papado.

− O governo da igreja promovia o


fortalecimento da Justiça, isto é, protegia os
fracos e exigia os direitos do povo.
− O governo secular era instável (governantes
levantavam-se e caíam, guerreando uns
contra os outros), quando comparado com o
governo da igreja, que era mais uniforme.
− Enquanto os governos dos Estados vacilavam
e mudavam sucessivamente, o império da igreja
permanecia cada vez mais forte.

238
HISTÓRIA DA IGREJA

Durante esses séculos de instabilidade, a igreja


era a única instituição firme, possuía fortes
aliados em toda parte, e jamais falhavam na
defesa de seus interesses.
− As “Fraudes Pias”: Durante a Idade Média
a igreja romana divulgou uma série de
documentos fraudulentos que tinham por
objetivo de manter o prestígio e autoridade da
igreja. Algumas delas foram:

a. A Falsa Doação de Constantino: Muito


depois da queda de Roma circulou um
documento que afirmava ter Constantino
dado ao bispo de Roma à época (Silvestre I),
autoridade suprema sobre todas as províncias
do Império. Objetivo: obter obediência da
autoridade civil dos vários governos europeus.

b. As Decretais Pseudo-Isidorianas: publicado


em 850. Afirmava-se que eram decisões
adotadas pelos bispos de Roma desde a época
dos Apóstolos. Suas reivindicações principais:
supremacia absoluta do papa de Roma sobre a
Igreja Universal; a independência da igreja do
Estado; a inviolabilidade do clero em todos os
aspectos, ao ponto de reconhecer-lhes o direito
de não prestarem contas ao Estado, declarando
que nenhum tribunal secular poderia julgar
questões pertinentes ao clero e à igreja.

2. Período Culminante (1073-1216 d.C.)


Nessa época, o papado exerceu poder quase
absoluto, não somente na igreja, mas também sobre
as nações da Europa. Essa posição foi conquistada
no governo de Hildebrando, o único papa mais
conhecido pelo nome de família do que pelo nome de
papa Gregório VII, que escolheu ao assumir o cargo.

239
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

• O Governo de Hildebrando (Gregório VII)

− Reformou o Clero corrupto.


− Interrompeu a simonia (compra de
posições na igreja).
− Elevou as normas de moralidade de todo o
clero.
− Exigiu o celibato dos sacerdotes (que havia
sido defendido, porém não estava em vigor
até então).
− Libertou a igreja da influência do Estado,
pondo fim à nomeação de papas e bispos
pelos reis e imperadores.
− Causas ligadas à igreja seriam julgadas por
tribunais eclesiásticos.
− Impôs a supremacia da igreja sobre o Estado.

• O Governo de Inocêncio III, 1198-1216

− Afirmou que o Papa ocupa uma posição


entre Deus e o homem. É inferior a Deus,
porém superior ao homem. É juiz de todos,
mas não é julgado por ninguém. (Doutrina da
infalibilidade papal).
− Elegeu um Imperador que foi deposto
posteriormente por insubmissão, elegendo
outro em seu lugar.
− Assumiu o governo da cidade de Roma,
decretando leis para os seus funcionários,
figurando ele próprio como chefe.
− Submeteu o Rei da França a voltar para
a esposa e excomungou o Rei da Inglaterra,
obrigando-o a entregar a coroa ao legado papal,
e a recebê-la de novo, mas como súdito do papa.

240
HISTÓRIA DA IGREJA

3. Período de Decadência
Começou a decadência do poder papal com
Bonifácio VIII, em 1303 e culminou com o
chamado “Cativeiro Babilônico” (1305 a 1377).
Havia papas e antipapas em diversos países. O
governo francês controlava a sede do papado que
fora transferido para Avignon (Sul da França).
Essa fase só termina com o Concílio de Constança
para decidir as reclamações de quatro papas
então existentes ao mesmo tempo. O Concílio
decidiu depor os quatro e nomear um novo
fora daqueles. Desde então o clero romano tem
sempre alimentado pretensões elevadas, sem ter
mais sido capaz de colocá-las em vigor.

DOUTRINAS QUE SEPARAM A IGREJA


ROMANA DO VERDADEIRO EVANGELHO

− 310 d.C. - Reza pelos mortos;


− 320 d.C. - Uso de velas;
− 376 d.C. - Culto aos santos;
− 394 d.C. - Instituição da missa;
− 431 d.C. - Culto à virgem Maria;
− 500 d.C. - Uso de roupa sacerdotal ;
− 503 d.C. - Doutrina do purgatório;
− 606 d.C. - Bonifácio III se declara Bispo
Universal “Papa”;
− 709 d.C. - Obrigatoriedade de beijar os pés
do “Bispo Universal”;
− 751 d.C. - Doutrina do Poder temporal da
Igreja;
− 783 d.C. - Adoração das imagens e relíquias
− 850 d.C. - Uso da água benta;

241
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− 890 d.C. - Culto a São José;


− 993 d.C. - Canonização dos Santos;
− 1074 d.C. - Celibato sacerdotal;
− 1076 d.C. - Dogma da “Infalibilidade da
Igreja”;
− 1090 d.C. - Invenção do Rosário;
− 1129 d.C. - Proibição da leitura da Bíblia;
− 1184 d.C. - Instituição da “santa” inquisição;
− 1190 d.C. - Vendas de Indulgências;
− 1208 d.C. - O pão foi substituído pela hóstia;
− 1215 d.C. - Criou-se a confissão e o dogma
da transubstanciação;
− 1246 d.C. - Uso das campainhas na missa;
− 1316 d.C. - Instituição da reza da Ave Maria;
− 1415 d.C. - Eliminação do vinho na
comunhão;
− 1546 d.C. - Doutrina que equipara a
tradição com a Bíblia e introdução dos livros
apócrifos;
− 1600 d.C. - Invenção do escapulário
(Bentinho);
− 1654 d.C. - Dogma da imaculada concepção
de Maria;
− 1664 d.C. - Condenação da separação da
igreja do estado;
− 1870 d.C. - Dogma de que o papa era infalível;
− 1908 d.C. - Anulação de todos os
casamentos que não foram efetuados por
sacerdotes católicos;
− 1950 d.C. - Ascensão de Maria;

242
HISTÓRIA DA IGREJA

SURGIMENTO DO ISLAMISMO
O Islamismo é uma religião maometana
(muçulmana ou islâmica), que foi fundada em
610, pelo Profeta Maomé. Islamismo significa
“submissão”, isto é, obediência à vontade de
Deus; seus seguidores chamam-se muçulmanos.
Chegou a conquistar quase toda a Europa e a
Índia, sofrendo oposição e derrota apenas no Sul
da França por Carlos Martelo. Têm uma cidade
santa chamada Meca onde todo maometano está
obrigado a ir pelo menos uma vez na vida.

• Os artigos de fé, base de sua religião, são


os seguintes:

− Há um só Deus, Alá, palavra de origem


comum com a hebraica “Elohim”;
− Todos os acontecimentos, bons e maus,
são preordenados por Deus, e, como
consequência, em cada ato estão fazendo a
vontade de Deus;
− Há multidões de anjos bons e maus,
invisíveis e que estão constantemente em
contato com os homens.
− Deus fez sua revelação no Alcorão (uma série
de mensagens dadas a Maomé pelo anjo Gabriel,
apesar de coletadas apenas após sua morte)
− Deus enviou profetas inspirados aos
homens, dentre os quais se destacam Adão,
Moisés e Jesus e sobre todos eles, Maomé.
− Todos os profetas bíblicos, apóstolos
cristãos e os santos que viveram antes de
Maomé são reconhecidos e adotados pelos
maometanos.
− No futuro haverá uma ressurreição final, o
julgamento, o céu e o inferno para todos os
homens.

243
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

• Seus Aspectos Favoráveis

a. Simplicidade da doutrina: Não possuíam


uma teologia intrincada e misteriosa, que desse
lugar a controvérsias intermináveis e inúteis.
b. A oposição à adoração de imagens:
Lançavam fora, destruíam e denunciavam
como idolatria qualquer adoração às imagens.
c. A recusa da mediação sacerdotal e dos santos
como pré-requisito de salvação: procuravam
levar todas as almas diretamente a Deus.
d. Abstinência de bebidas alcoólicas.
e. Promoção da Literatura e da Ciência.

• Seus Aspectos Desfavoráveis

a. A conquista de adeptos por meio da força:


Onde quer que uma cidade resistisse à sua
conquista, os homens eram mortos à espada,
as mulheres levadas aos haréns e as crianças
educadas na fé maometana.
b. O Conceito de Deus: baseia-se mais no
Antigo Testamento. Para a mentalidade árabe,
Deus é um déspota implacável e temível, sem
amor para com a humanidade, a não ser para
com seguidores de Maomé.
c. O Conceito de Cristo: Para eles, Cristo
não é o Senhor, nem o Filho de Deus, nem o
Salvador do mundo, apenas um profeta judeu,
inferior, em todos os sentidos, a Maomé.
d. O Conceito de Céu: destituído de
espiritualidade e inteiramente sensual.
e. A Degradação da Mulher: As mulheres
eram consideradas apenas como escravas ou
objetos para o divertimento do homem.

244
HISTÓRIA DA IGREJA

f. Incapacidade para Governar: Os países


islamitas eram os que possuíam piores
governos em todo o mundo.
A Palestina e a Síria foram facilmente
conquistadas pela força, e os lugares santos do
Cristianismo ficaram sob o poder islâmico. Pouco
a pouco, o império greco-romano foi conquistado,
ficando apenas Constantinopla. Assim, todos os
países do Cristianismo primitivo foram feitos
súditos de Maomé.

A ORIGEM DO VATICANO (741 d.C.)


Aconteceu entre os anos 741 e 752 com o Papa
Estevão II, que ordenou a conquista de terras pela
espada em território Italiano.
Foi legalizado em definitivo por um tratado em
1929 e é controlado por dezoito cardeais italianos.
Possui dois bancos e um imenso patrimônio
imobiliário ao redor do mundo, inclusive no
Brasil. Sua história é marcada por escândalos e
corrupção. O Vaticano derramou muito sangue até
ser invadido por Napoleão Bonaparte em 1806.

A SEPARAÇÃO DAS IGREJAS GREGA E


LATINA (1054 d.C.)
Em 1054 d.C., em razão de divergências entre
o bispo de Roma e o Patriarca de Constantinopla,
há o rompimento da Igreja, surgindo a Igreja
Ortodoxa Grega.
As principais divergências eram a visão teológica
ortodoxa da igreja ocidental em contraposição da visão
filosófica da teologia oriental, no que diz respeito a:

− Doutrina da procedência do Espírito Santo


(Os latinos afirmavam que procedia do Pai e
do Filho; os gregos, só do Pai);

245
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− Datas de celebração da Páscoa;


− Celibato obrigatório;
− Adoração de imagens;
− Prática de jejuns nos sábados;
− Hóstia ou pão no rito da missa.
Contudo, uma influência mais profunda do
que as cerimoniais, que provocou a separação
das igrejas latina e grega, foi a causa política da
separação ou independência da Europa do trono
de Constantinopla, com o estabelecimento do
Sacro Império Romano (ano 800).
Mesmo depois da queda do antigo império
de Roma, em 476, o espírito imperial ainda
exercia influência e os novos reinos dos
bárbaros: godos, francos e outras raças, de
uma forma um tanto vaga, teoricamente
consideravam-se sob o governo ou domínio de
Constantinopla. Porém quando o Sacro Império
Romano foi estabelecido por Carlos Magno,
no território da Alemanha e adjacências, em
800 d.C., tomou o lugar do antigo Império, e
era separado e independente dos imperadores
de Constantinopla. Um Estado independente
necessitava de uma igreja independente.
Mas o fator decisivo e poderoso que levou
à separação foram as contínuas reclamações
de Roma, alegando ser a igreja dominante e
insistindo em que o papa era “o bispo universal”.
Em Roma a igreja pouco a pouco dominava o
Estado. Em Constantinopla a igreja continuava
submissa ao Estado. Diante dessas circunstâncias
era inevitável o rompimento entre as duas igrejas
de conceitos opostos.

246
HISTÓRIA DA IGREJA

O DISTANCIAMENTO DO VERDADEIRO
EVANGELHO

− Entra a idolatria de imagens na igreja.


− Surge a canonização – isto é, a elevação à
santidade de alguém falecido, realizada por
decisões papais.
− Surgem as peregrinações aos túmulos
dos “santos” católicos – acreditava-se que a
peregrinação à Terra Santa apagaria todos os
pecados que alguém houvesse cometido.
− A igreja Católica Romana ensinava que a
salvação era alcançada através da observância
dos sete sacramentos: batismo, confirmação,
eucaristia, penitência, extrema-unção, ordem
e o matrimônio.
− O clero não pagava impostos e a igreja
recebia muitas terras de oferta. Os bispos
tinham o controle financeiro, a igreja tornou-
se ainda mais rica e corrupta.

OS PRIMEIROS MOVIMENTOS DE
PROTESTO
Surgem os primeiros protestos:

• Petrobrussianos - sob a chefia de Pedro de


Bruys e Henrique de Lausanne, se opunham
decididamente à superstição reinante na igreja,
a certas formas de culto e à imoralidade do clero.

• Cataristas – poderoso partido religioso que


protestava contra a impureza na igreja. Expandiu-
se grandemente no século XII, chegando ao
apogeu no século XIII. Na realidade, era outra
igreja com seus próprios ministérios.

247
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

A RESPOSTA DA IGREJA ROMANA - A


INQUISIÇÃO (1179 d.C.)
A inquisição exigia que o povo prestasse
informações sobre pessoas heréticas, ou suspeitas
de heresias, incluindo os reformadores.
A primeira inquisição começou pelo Decreto
de Teodósio, em 381, quando ele nomeou o
primeiro “Inquisidor da fé”, mas ainda não se
chamava inquisição.

− Em 1179, o terceiro Concílio de Latrão


decreta perseguição permanente aos “hereges”.
− Em 1187, os fundamentos da inquisição
foram lançados no Concílio de Verona.
− Em 1215, o quarto Concílio de Latrão
decretou que os governadores seculares
confiscassem os bens dos considerados
“hereges” e depois os executassem.
− Em 1223, a inquisição foi declarada um
departamento especial do governo da igreja.
Qualquer tipo de denúncia era aceita, até por
carta anônima.
As penas eram as mais variadas como: tortura,
trabalho forçado e morte. O papa Gregório (1227
a 1241) organizou a verdadeira inquisição em
1233, tornado-a mais abrangente, alcançando
toda a esfera do poder secular e religioso.
Em 1488, o papa Inocêncio decretou a
intensificação das perseguições, e os evangélicos
foram mortos nos campos, nas cidades e até
dentro das igrejas. Mais de 30 milhões de homens,
mulheres e até crianças foram mortos na condição
de “inimigos da fé católica”.

248
HISTÓRIA DA IGREJA

Mesmo debaixo da inquisição, a igreja começa


a sair do declínio para a restauração.

AS CRUZADAS (1095-1270 d.C.)

1. Sua Origem e Finalidade


Surgem as cruzadas para impedir o avanço
dos mulçumanos, que estavam dominando
opressoramente a Terra Santa. Em 1096 o Papa
Urbano II faz um apelo aos nobres europeus
para a libertação da Palestina ocupada pelos
muçulmanos. O chamamento do Papa, realizado
durante um torneio de cavalaria em Clermont,
França, deu início ao que se poderia chamar de
Primeira Guerra Mundial de fato.
No período compreendido entre os
séculos XI e XIII aconteceram importantes
mudanças no ocidente, fruto da crise do sistema
feudal, promovendo um processo de grande
marginalização, impossível de ser absorvido pelas
cidades então existentes ou que se formavam
principalmente na Europa. Durante duzentos
anos cavaleiros e peregrinos plebeus lutaram
em sete expedições (cruzadas) que, saindo
da Europa, atacaram territórios no Oriente
Médio. Todas, com exceção da primeira, foram
derrotadas e algumas delas sequer chegaram a
atingir a Palestina, preferiram ficar pelo caminho
e saquear a Bizâncio ortodoxa. Milhares de
europeus marcharam em direção à “Terra Santa”
obedecendo ao chamado da Igreja Católica, mas
ao mesmo tempo, movidos pelo interesse na
possibilidade de saque ou de conquista de terras.
Alguns reis participaram do movimento,
pretendendo o aumento de poder, numa época
de crise feudal, como por exemplo, na 3° cruzada,
também conhecida como cruzada dos reis.

249
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

No entanto, a 4° Cruzada (1202-04) é considerada


a mais importante, pois foi responsável pela
“reabertura” do Mar Mediterrâneo. Esse movimento
foi a primeira cruzada marítima, financiado pelos
mercadores de Veneza que passaram a monopolizar
o comércio com Constantinopla.

2. As Sete Cruzadas

• Primeira Cruzada: 1095-1099. Godofredo


de Bouillón.
• Segunda Cruzada: 1147-1149. Luis VII,
Conrado III.
• Terceira Cruzada: 1188-1192. Frederico,
Felipe, Ricardo
• Quarta Cruzada: 1201-1204. (Constantinopla)
• Quinta Cruzada: 1228-1229. Frederico II.
• Sexta Cruzada: 1248-1254. Luis IX.
• Sétima Cruzada: 1270-1272. Luis IX.

3. O Fracasso:
As cruzadas fracassaram devido às discórdias
que havia entre os chefes, que estavam mais
preocupados com os interesses próprios do que
com a causa comum, e principalmente pela falta
de um estadista com visão entre os chefes das
cruzadas, pois nenhum deles possuía visão ampla,
só desejavam obter resultados imediatos.
O poder eclesiástico aumentou
consideravelmente com as Cruzadas, pois a igreja
demonstrava seu domínio sobre príncipes e nações
quando convocava as guerras. Além disso, a igreja
adquiria terras ou adiantava dinheiro aos cruzados
que oferecessem suas terras como garantia.

250
HISTÓRIA DA IGREJA

Foi dessa forma que a igreja aumentou suas


possessões em toda a Europa. Na ausência dos
governantes temporais, os bispos e os papas
aumentavam seu domínio.
Contudo, ao fim de tudo isso, as grandes
riquezas, a arrogância dos sacerdotes e o uso sem
escrúpulo que faziam do poder, despertaram
o descontentamento e ajudaram a preparar o
caminho para o levante contra a igreja católica
romana, isto é, a Reforma Protestante.

O DESENVOLVIMENTO DA VIDA
MONÁSTICA
Na Europa o movimento monástico
desenvolveu-se lentamente, mas na Idade
Média cresceu rapidamente, entre os homens
e as mulheres. No Oriente viviam separados
em cavernas e colunas, porém na Europa
formavam comunidades e viviam juntos. Com
o crescimento foi necessária alguma forma de
organização ou governo, surgindo nesse período
quatro grandes ordens:

1. Os Beneditinos: Fundada por S. Bento em


529, tornou-se a maior das ordens monásticas
da Europa. Promovia a evangelização e a
civilização do Norte. Exigia-se a obediência
ao superior do mosteiro, a renúncia dos bens
materiais e a castidade.

2. Os Cistercienses: Surgiram em 1098


com o objetivo de fortalecer a disciplina dos
Beneditinos.

3. Os Franciscanos: Fundada em 1209


por S. Francisco de Assis, um dos homens
mais santos, mais devotos e mais amados.

251
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Procuravam socorrer os moribundos e


enfermos, por causa disso, quando a “peste
negra” se espalhou pela Europa, matou mais
de 124.000 monges Franciscanos, enquanto
prestavam auxílio aos doentes.

4. Os Domicinianos: Fundada em 1215 por


S. Domingos, na Espanha, logo se estendeu
por toda a Europa. Eram conhecidos como
os “frades negros”, por se vestirem de preto, e
pregavam contra os hereges, sendo os maiores
perseguidores destes.
Os mosteiros davam hospedagem aos viajantes,
aos enfermos e aos pobres. Tanto os modernos hotéis
como os hospitais desenvolveram-se por influência
dos mosteiros. Em suas bibliotecas guardavam-se
muitas das mais antigas obras da literatura clássica
e cristã. Os monges copiavam livros, escreviam
biografias, crônicas de seu tempo e história passada.
Foram ainda grandes missionários na expansão do
evangelho. Porém podemos notar também, graves
falhas que trouxeram consequências:

• Apresentava o celibato como a vida mais


elevada, o que é inconveniente e contrário as
Escrituras.
• Impôs a vida monástica a milhares de
homens e mulheres das classes nobres da época.
• Muitos mosteiros transformaram-se em
antros de iniquidade.
• A ganância dos mosteiros provocou sua
extinção.
A esse período chamou-se a “Idade do
Obscurantismo” ou “Idade das Trevas”. Contudo,
essa época também deu ao mundo algumas das
maiores realizações da humanidade:

252
HISTÓRIA DA IGREJA

• Durante a Idade Média fundou-se quase


todas as grandes universidades, como a
de Oxford e de Cambridge, bem como a
de Bolonha. Iniciadas principalmente por
eclesiásticos e com origem nas escolas ligadas
às catedrais e aos mosteiros.
• Todas as grandes catedrais da Europa,
maravilhas arquitetônicas.
• O despertar da literatura teve início na
Itália com a famosa obra “A Divina Comédia”
de Dante, iniciada no ano de 1303.

A REFORMA PROTESTANTE
Três fatores criaram as condições vitais para o
início da Reforma Protestante. São eles:

1. O Renascimento: fez a humanidade


acordar do sono milenar, que foi a Idade
Média, reacendendo o interesse pela cultura
clássica, a pesquisa científica e literária
com o uso da língua grega que, por sua vez,
possibilitou o acesso dos estudiosos da Bíblia
nas línguas originais;

2. A Invenção da Imprensa: criada por João


Gutemberg em 1540, em Mogúncia, ajudou
a disseminar as ideias dos reformadores
com enorme velocidade através de panfletos,
assim como a produção de exemplares da
Bíblia e Novos Testamentos em volumes
consideráveis para a época. Era a luz da
verdade em meio aos ensinos falsos e
crenças pagãs, fazendo o povo descobrir
quão distanciados estavam dos ensinos do
evangelho e dos princípios cristãos;

253
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

3. O Sentimento Nacionalista: Ao lado de


tantos desvios, o clero impunha obrigações
financeiras cada vez maiores a outros estados
europeus, indiretamente por causa das
elevadas somas e transferências para Roma.
Isto causou revolta pela ingerência indevida
nos negócios estrangeiros. Esses fatos geraram
vários conflitos na Alemanha, França e
Inglaterra principalmente, caso do levante
causado pela pregação de John Wycliff neste
último país.

AS PRINCIPAIS CAUSAS DA REFORMA

• Causas Religiosas
Um clima de reflexão crítica e de inquietação
espiritual espalhou-se entre diversos cristãos
europeus. Com a utilização da imprensa, aumentou
o número de exemplares da Bíblia disponíveis aos
estudiosos. A divulgação da Bíblia e de outras
obras religiosas contribuiu para a formação de
uma vontade mais pessoal de entender as verdades
divinas, sem a intermediação dos padres. Desse
novo espírito de individualização da religião, que
levou ao livre exame das Escrituras, surgiram
diferentes interpretações da doutrina cristã.
Além disso, analisando o comportamento
do clero, notou-se uma série de abusos e de
corrupções que estavam sendo praticados.

Os inúmeros negócios envolvendo a religião:

− Comércio de relíquias sagradas (espinhos


que coroaram Cristo, panos que embeberam
o sangue de seu rosto, objetos pessoais dos
Santos etc.).

254
HISTÓRIA DA IGREJA

− Venda de indulgências (perdão dos pecados).

A situação lastimável de inúmeros membros


da Igreja:

− Multiplicavam-se os casos de padres em


escândalos amorosos
− Monges que viviam bêbados
− Bispos que acumulavam riquezas pessoais,
vendiam sacramentos e pouco se importavam
com a religião.

• Causas Sócio-econômicas
A concepção teológica da igreja, desenvolvida
durante o Período Medieval, estava adaptada
ao sistema feudal, que se baseava na economia
fechada e na autossuficiência dos feudos, onde
o comércio subsistia apenas como atividade
marginal. Por isso, a teologia tradicional católica
condenava a obtenção do lucro excessivo, da
usura, nas operações de comércio, defendendo a
prática do preço justo.

Com o início dos tempos modernos,


desenvolveu-se a expansão marítima e comercial,
e dentro desse novo contexto a moral econômica
da Igreja começou a entrar em choque com
a atividade da grande burguesia. Essa classe,
empenhada em desenvolver ao máximo as
atividades comerciais, sentia-se incomodada com
as concepções tradicionais da Igreja, que taxava
de pecado a busca impetuosa do lucro. Assim, essa
burguesia começou a sentir necessidade de uma
nova ética religiosa, mais adequada ao espírito do
capitalismo comercial.

255
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

• Causas Políticas
O século XVI foi um período de fortalecimento
das monarquias nacionais. A Igreja Católica, com
sede em Roma e falando latim, apresentava-se
como instituição de caráter universal, sendo um
fator de unidade do mundo cristão. Essas noções,
entretanto, perdiam força na medida em que
os sentimentos nacionais desenvolviam-se com
grande vigor. Cada Estado, com sua monarquia,
sua língua, seu povo e suas tradições, estavam
mais interessados em auto afirmar-se enquanto
nação, do que em fazer parte de uma cristandade
obediente à Igreja. Opondo-se ao papado e ao
comando centralizador da Igreja Católica, a
Reforma religiosa atendia aos anseios nacionalistas,
permitindo a autonomia de Igrejas nacionais.

O INÍCIO DA REFORMA (1170 d.C.)


Grandes movimentos de reformas surgiram
na igreja; contudo, o mundo não estava preparado
para recebê-los, de modo que foram reprimidos
com sangrentas perseguições. Vejamos alguns
deles:
• Os Albigenses: “Puritanos”, surgiram em
1170 no sul da França. Eles rejeitavam a autoridade
da tradição, distribuíam o Novo Testamento e
opunham-se às doutrinas romanas do purgatório,
à adoração de imagens e às pretensões sacerdotais.
O papa Inocêncio III promoveu uma grande
perseguição contra eles, e a seita foi dissolvida com
o assassinato de quase toda a população da região.

• Os Valdenses: Apareceram ao mesmo


tempo, em 1170, com Pedro Valdo, que lia, explicava
e distribuía as Escrituras, as quais contrariavam
os costumes e as doutrinas dos católicos romanos.

256
HISTÓRIA DA IGREJA

Foram cruelmente perseguidos e expulsos da


França; apesar das perseguições, eles permaneceram
firmes e atualmente constituem uma parte do
pequeno grupo de protestantes na Itália.
• John Wycliffe (1328-1384): Nascido em
1329, na cidade de Yorkshire, Inglaterra, terminou
o doutorado de Teologia em 1372. Recusava-se a
reconhecer a autoridade do papa e opunha-se a
ela. Era contra a doutrina da transubstanciação,
considerando o pão e o vinho meros símbolos.
Traduziu o Novo testamento para o Inglês e seus
seguidores foram exterminados por Henrique V.
• John Huss (1373-1415): Nascido em
Hussinec, na Boêmia, hoje Tchecoslováquia,
em 1373. Ele fez seu mestrado em Filosofia
na Universidade de Praga (capital atual da
República Tcheca), no ano de 1396. Dois anos
depois, Huss começou ensinar na Universidade,
e em 1401, veio a ser reitor da mesma. Em 1400,
Huss foi separado como padre e foi-lhe entregue
a responsabilidade da prestigiada Capela de
Belém. Após o casamento do rei inglês, Ricardo
II da Inglaterra com Ana, filha do imperador
Carlos IV da Boêmia em 1382, os ensinamentos
de Wycliff foram logo introduzidos no país.
Estudando-os bem de perto, Huss começou não
só a pregar, como também traduzir as obras de
Wycliff na língua Tcheca. Começou a proclamar
a necessidade de se libertar da autoridade papal.
Foi excomungado pelo papa, e então retirou-
se para algum esconderijo desconhecido. Ao
fim de dois anos voltou a convite da igreja para
participar de um concílio católico-romano de
Constança, sob a proteção de um salvo-conduto.
Entretanto, o acordo foi violado sob o pretexto de
que “Não se deve ser fiel a hereges”. Assim João
Huss foi condenado e queimado. Huss morreu
entoando salmos.
257
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

• Jerônimo Savonarola (1452-1498): Nascido


em 1452 em Florença, Itália, e tornou-se monge
Dominicano, daquela cidade. A grande catedral
enchia-se de multidões ansiosas, não só de ouvi-lo,
mas também para obedecer aos seus ensinos. Pregava
contra os males sociais, eclesiásticos e político de
seu tempo. Foi preso, condenado e enforcado e seu
corpo queimado na praça de Florença em 1498.
• William Tyndade (1494-1536): Nascido
na parte oeste da Inglaterra, graduou-se na
Universidade de Oxford em 1515, onde estudou as
Escrituras no hebraico e no grego. Mudou-se para
Alemanha devido a uma grande perseguição para
continuar a tradução da Bíblia para o Inglês que
tinha começado. Concluiu a tradução do Novo
Testamento em 1525 e foram impressas 15.000 cópias
em seis edições para distribuição na Inglaterra.
Começou a tradução do Velho Testamento, mas
não viveu bastante para completar. Foi condenado
à morte por ter colocado as escrituras na mão
do povo inglês. No dia 6 de outubro de 1536, foi
estrangulado e queimado publicamente em uma
estaca. Suas últimas palavras antes de morrer
foram: “Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra”.

A QUEDA DE CONSTANTINOPLA (1453 d.C.)


Em 1453, foi assinalada como linha
divisória entre os tempos medievais e os tempos
modernos. Província após província do grande
império foi tomada, até ficar somente a cidade
de Constantinopla, que finalmente, em 1453, foi
tomada pelos turcos sob as ordens de Maomé
II. O templo foi transformado em mesquita.
Constantinopla (Istambul) tornou-se a capital
do Império Turco e assim terminou também o
período da Igreja Medieval.

258
HISTÓRIA DA IGREJA

5ª FASE: A IGREJA REFORMADA


Desde a Queda de Constantinopla (1453) até
ao Fim da Guerra dos Trinta Anos (1648).

A REFORMA COM MARTINHO LUTERO


(1517 d.C.)

O Reformador
Diante da morte, John Huss declarou antes
de sua execução: “Podem matar o ganso (na sua
língua “huss” é ganso), mas daqui a cem anos
surgirá um cisne que não poderão queimar”. Cem
anos depois, em 10 de novembro de 1483, em
Eisleben, na Saxônia, nascia Martim Lutero.

Era filho de um empreiteiro de minas


que atingiu certa prosperidade econômica.
Influenciado pelo pai, ingressou em 1501 na
Universidade de Erfurt, para estudar direito, mas
seu temperamento inclinava-o à vida religiosa,
em 1505, após quase ter morrido em uma violenta
tempestade, ingressou no monastério por um voto
feito a Santa Ana. Vivia atormentado por causa do
medo que tinha de Deus e de Jesus, por causa de
seus pecados. Sua conversão deu-se após a leitura
e meditação de Romanos 1.17- visto que a justiça
de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como
está escrito: O justo viverá por fé.

Estudioso, sério, metódico e aplicado, Lutero


conquistou prestígio intelectual, tornando-se, em
1508, professor da Universidade de Wittenberg, o
qual foi até sua morte.

259
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

O justo viverá por fé


Em 1510, viajou àRoma, de onde regressou
decepcionado com o clima de corrupção que
percebera no alto clero. Nos anos de 1511 a 1513,
aprofundou-se nos estudos teológicos, até que
começaram a amadurecer em seu espírito as ideias
para a criação de uma nova doutrina religiosa.
Nas epístolas de Paulo, encontrou uma frase que
lhe pareceu fundamental: “o justo viverá por fé”.
Concluiu Lutero que o homem só poderia
salvar-se pela fé incondicional em Deus. Somente
a fé, não as obras, seria o único instrumento capaz
de justificar os pecados e conduzir à salvação,
pela misericórdia e graça divina. Deus começou
a restaurar a igreja, em primeiro lugar, por sua
Palavra, restituindo uma verdade fundamental
que incendiou o coração de Lutero com vislumbres
da verdade que procurava há tanto tempo.

A Venda de Indulgências
Tendo como o objetivo arrecadar fundos para
financiar a reconstrução da Basílica de São Pedro,
o Papa Leão X permitiu que se concedessem
indulgências (perdão dos pecados) a todos os fiéis
que contribuíssem financeiramente com a Igreja.

O Dia da Reforma – As 95 Teses de Lutero


(1517 d.C.)
Em 31 de outubro de 1517, eclodiu o incidente
que provocaria o rompimento entre Lutero e a
Igreja Católica, girando em torno do episódio
conhecido como venda de indulgências.
Escandalizado com essa prática, Lutero afixou na
porta da Igreja de Wittenberg um manifesto público
(as 95 teses), em que protestava contra a atitude
do Papa e expunha os elementos de sua doutrina.

260
HISTÓRIA DA IGREJA

Iniciava-se, ali, uma longa discussão entre Lutero


e as autoridades eclesiásticas, culminando com
sua excomunhão pelo Papa, em Janeiro de 1521.

A Excomunhão de Lutero e Queima da Bula


Papal
Após longas e prolongadas controvérsias e a
publicação de folhetos que tornaram conhecidas
as opiniões de Lutero em toda a Alemanha, seus
ensinos foram formalmente condenados. Lutero foi
excomungado por uma bula do papa Leão X, no mês
de junho de 1520. Demonstrando descaso e revolta
diante da Igreja, em 10 de dezembro, Lutero queimou
em praça pública a Bula Papal de Excomunhão, que o
condenava. Juntamente com a bula, Lutero queimou
também cópias dos cânones ou leis estabelecidas por
autoridades romanas. Esse ato constituiu a renúncia
definitiva de Lutero à igreja católica romana.
Em 1521, foi chamado pelo Imperador Carlos
V à Dieta de Worms. Ao chegar à cidade todos
queriam ouvi-lo, curiosos por conhecer o frade
que desafiara o Papa. Este exigia sua retratação
(porque ele queimara a Bula de Excomunhão).
Naquele parlamento, ao ter a oportunidade
de apresentar suas razões, declarou publicamente:
“Não acredito em Papas, nem nesse tipo de
reuniões... Não posso arrepender-me de nada,
pois não é justo nem seguro atuar contra a
consciência. Se eu tivesse mil cabeças eu as daria.
Consumado está. Deus me ajude. Amém”.
Foi condenado, mas recebeu a ajuda do
Príncipe da Saxônia, que simulou um sequestro,
levando-o para o Castelo de Wartburg onde ficou
cerca de um ano, traduziu o Novo Testamento
para o alemão e continuou a escrever seus livros,
incentivando a reforma da Igreja, cujos resultados
são de todos conhecidos.
261
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

A Divisão dos Estados Alemães


A Áustria ficou com Roma (os católicos)
enquanto o norte se tornou seguidor de Lutero.
Em 1529 foi feita uma reunião na cidade de
Espira, com o objetivo de reconciliar as partes em
luta. Ali, os governadores católicos, que tinham
maioria resolveram proibir qualquer ensino do
luteranismo nos estados “católicos” enquanto
determinaram que nos estados luteranos, os
católicos poderiam exercer livremente sua
religião. Os luteranos protestaram contra essa lei
desequilibrada e odiosa. Desde esse tempo ficaram
conhecidos como protestantes, e as doutrinas que
defendiam também ficaram conhecidas como
religião protestante.

PRINCIPAIS DOUTRINAS LUTERANAS

• Igreja: Lutero proclamava a criação de


Igrejas nacionais autônomas. O trabalho
religioso poderia ser feito por pessoas não
obrigadas ao celibato sacerdotal (obrigação
de casar). Lutero aceitava a dependência da
Igreja ao Estado. O idioma das cerimônias
religiosas deveria ser aquele de cada nação
e não o latim, que era o idioma oficial das
cerimônias católicas.

• Rito Religioso: A cerimônia religiosa


deveria obedecer a ritos mais simples,
reduzindo a pompa existente nos cultos
católicos. Santos e imagens foram abolidos.

• Livro Sagrado: A Bíblia era o livro sagrado


do Luteranismo, representando a única fonte
da fé. Sua leitura e interpretação deveriam ser
feitas por todos os cristãos.

262
HISTÓRIA DA IGREJA

• Salvação Humana: O homem é salvo pela


fé em Deus, não pelas obras que pratica.

• Sacramentos: preservaram-se como


sacramentos básicos o batismo e a eucaristia.

A REFORMA DE CALVINO (1534 d.C.)


João Calvino (1509-1564) nasceu em Noyon,
na França, e desenvolveu nesse país seus estudos
de Teologia e de Direito. Influenciado por
Guillaume Farel, aderiu às ideias protestantes.
Quando, em 1534, as autoridades católicas
francesas começaram a perseguir os suspeitos
de heresias, Calvino fugiu para a Suiça, onde o
movimento reformista já tinha se iniciado, sob a
liderança de Ulrich Zwinglio (1484-1531).

A Doutrina da Predestinação
Nas pregações de Zwinglio, se dava maior
importância à crença na predestinação dos
homens para a salvação do que Lutero, valorizando
menos o aspecto da justificação pela fé. Com seu
espírito racionalista, Zwinglio conquistou o apoio
da burguesia mercantil da Suíça, que admirava a
objetividade de suas ações e o lado prático de suas
ideias. Seu trabalho preparou o caminho para que
se desenvolvessem as ideias de Calvino.
Em 1536, Calvino publicou sua principal
obra, a Instituição da Religião Cristã, na qual
afirmava que o ser humano estava predestinado
de modo absoluto a merecer o Céu ou o
Inferno. Explicava Calvino que, por culpa de
Adão, todos os homens já nasciam pecadores
(pecado original), mas que Deus tinha eleito
algumas pessoas para serem salvas, enquanto
outras seriam condenadas à maldição eterna.

263
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Portanto, nada que os homens pudessem


fazer em vida poderia alterar-lhes o destino já
previamente traçado.
A fé, existente em algumas pessoas, poderia
ser interpretada como um sinal de que elas
pertenciam ao grupo dos eleitos por Deus à
salvação. Tais pessoas, os eleitos, sentiriam dentro
do coração um irresistível desejo de combater
o mal que age no mundo, simplesmente para a
glória de Deus.
A prosperidade econômica de algumas
pessoas, sua riqueza material, também passou
a ser interpretada pelos seguidores de Calvino
como um sinal da salvação predestinada.
Em 1538, Calvino foi expulso da Suíça, devido
aos seus excessos de rigor e de autoritarismo.
Entretanto, conseguiu retornar em 1541 e
consolidou seu poder na cidade de Genebra,
tornando-se senhor absoluto do Governo e da
nova Igreja Calvinista, até o ano de 1561. Durante
esse período, Genebra viveu um regime de caráter
teocrático, em que se confundiam princípios
religiosos e políticos.

O Consistório
Entre os órgãos criados pelo Governo
calvinista, destacava-se o Consistório, encarregado
da vigilância moral dos cidadãos e da solicitação
de castigos ao Estado. Entre as atitudes condenadas
pelo Calvinismo citam-se, por exemplo, o jogo, o
culto a imagens, a dança, o adultério e a heresia,
sendo que as penas impostas aos infratores
variavam conforme a gravidade do crime. Muitos
foram condenados à morte.

264
HISTÓRIA DA IGREJA

O Calvinismo e o Capitalismo
Criou-se, com base no Calvinismo, um modelo
ideal de homem, religioso e trabalhador, para quem
o sucesso econômico e a conquista de riquezas eram
um sinal da predestinação divina ao Paraíso. Essa
ideologia foi bem aceita pela burguesia mercantil,
na medida em que sua ganância pelo lucro era
justificada pela ética religiosa. Identificando-
se com a burguesia, o Calvinismo espalhou-se
por diversas regiões da Europa, como França,
Inglaterra, Escócia e Holanda – países onde se
expandia o capitalismo comercial.

A REFORMA ANGLICANA (1534 d.C.)


Henrique VIII (1509-1547), rei da Inglaterra,
tinha sido, durante certo tempo, um fiel aliado
do Papa, recebendo deste o título de “Defensor
da Fé”. Entretanto, uma série de fatores políticos
e econômicos levou também Henrique VIII a
romper com a Igreja Católica e a fundar uma
Igreja nacional na Inglaterra: a Igreja Anglicana.
Entre os principais fatores que provocaram
a Reforma Anglicana, podemos destacar os
seguintes:
• Fortalecimento da monarquia: a Igreja
Católica exercia grande influência política dentro
da Inglaterra, pois era dona de grande parte das
terras e monopolizava o comércio de objetos
sagrados. Para fortalecer o poder da monarquia
inglesa, Henrique VIII teria que reduzir a
influência do Papa dentro da Inglaterra;
• A posse das terras da Igreja: a nobreza
capitalista inglesa tinha grande interesse
econômico em apossar-se das terras da Igreja.

265
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Para que isso acontecesse era preciso unir-se


em torno do rei, a fim de que os poderes da Igreja
Católica enfraquecessem-se;
• O pedido de divórcio do rei Henrique
VIII: casado com a princesa espanhola Catarina
de Aragão, Henrique VIII teve com ela uma filha
para sucedê-lo no trono. Entretanto, o rei estava
bastante descontente com seu casamento. Primeiro,
devido à origem espanhola de sua esposa, já que
a Espanha era inimiga da Inglaterra. Segundo,
porque o rei desejava um herdeiro masculino e
pretendia casar-se com Ana Bolena. Assim, em
1529 pediu ao Papa que anulasse seu matrimônio
com Catarina de Aragão, mas deparou-se com
sua recusa. Henrique VIII, entretanto, conseguiu
que o alto clero e o Parlamento reconhecessem a
validade de suas intenções.

Em 1534, o Parlamento inglês votou um Ato


de Supremacia, pelo qual considerava Henrique
VIII o chefe supremo da Igreja Nacional
Anglicana. Os ingleses, por juramento, deviam
submeter-se a essa supremacia, caso contrário
seriam excomungados e perseguidos pela justiça
real. Houve pouca resistência, nela incluída a de
Thomas Morus, que foi decapitado.

Após a criação da Igreja Anglicana,


surgiram, com os sucessores de Henrique VIII,
uma série de lutas religiosas internas. Primeiro,
tentou-se implantar, no governo de Eduardo VI
(1547-1553), o Calvinismo no país. Depois, no
governo de Maria Tudor (1553-1558), filha de
Catarina de Aragão, houve a reação católica.
Apenas no governo de Elisabeth I (1558-1603)
se firmou a Igreja Anglicana, que permanece
dominante até hoje.

266
HISTÓRIA DA IGREJA

O calvinismo puritano conseguiu, entretanto,


grande número de adeptos entre a burguesia
manufatureira. Foi dos puritanos que surgiram
os grandes líderes da Revolução inglesa do Século
XVII.

A Forma e o Conteúdo da Igreja Anglicana


A Igreja Anglicana procurou conciliar o rito
tradicional do catolicismo e o dogma de caráter
protestante. Em outras palavras, mantinha-se
nas cerimônias a forma católica (conservação
da liturgia católica, da hierarquia eclesiástica
etc.) e introduziam-se na doutrina elementos
do conteúdo protestante (salvação pela fé,
preservação de apenas dois sacramentos - batismo
e comunhão etc.).
Essa foi a solução encontrada pela monarquia
inglesa para favorecer, no país, a convivência
social dos diferentes grupos religiosos rivais.
Assim, de acordo com as circunstâncias históricas
de cada momento, a monarquia inglesa dirigia a
Igreja Anglicana para enfatizar a forma católica
ou o conteúdo protestante. Se quisesse agradar aos
protestantes, valorizava o conteúdo dos cultos; se
quisesse agradar aos católicos, valorizava o rito
formal das cerimônias.

A REFORMA SE ESPALHA PELA EUROPA


Na França: Foi organizada uma igreja
protestante nacional pelos Huguenotes (1559).
Ali, na noite de 24 de agosto de 1572, aconteceu
um terrível massacre aos protestantes, quando
milhares dos crentes foram covardemente
assassinados na chamada “Noite de S. Bartolomeu”.
Cerca de 70 mil protestantes foram mortos em
toda a França.

267
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Na Escócia: Com John Knox, o maior líder


da causa reformista, surge a Igreja Reformada da
Escócia.
Na Suíça: Despontou independente por
completo do movimento na Alemanha, apesar
de se haver manifestado simultaneamente, sob a
orientação de UlricoZuínglio, o qual, em 1517,
atacou a “remissão de pecados”, que muitos
procuravam por meio de peregrinação a um
altar da Virgem de Einsielden. Em 1522 rompeu
definitivamente com Roma. Zuínglio morreu em
uma guerra interna em 1531, porém a reforma
continuou firme em sua marcha, sendo dirigida
mais tarde por João Calvino, o maior teólogo da
igreja depois de Agostinho.
Na Inglaterra: No reinado de Eduardo VI,
surge liberdade para o crescimento da reforma.
A Inglaterra torna-se um dos principais baluartes
da causa protestante na Europa.
O Reino Escandinavo: Composta nesta época
pela Suécia e Dinamarca, recebeu prontamente
os ensinos de Lutero, os quais contavam com a
simpatia do rei Cristiano II.
Os Países Baixos: Bélgica e Holanda estavam
no início da reforma sob o domínio da Espanha.
Esses países receberam logo os ensinos da
reforma, porém foram perseguidos pelos regentes
espanhóis. Conquistaram a independência em
1648. A Holanda tornou-se protestante e a Bélgica
continuou em sua maioria católica.

O RESURGIMENTO DOS ANABATISTAS


Além dos luteranos e reformados, reaparecem
os “Anabatistas”. O ideal deles era organizar
uma sociedade de cristãos verdadeiramente
convertidos, em bases voluntárias.

268
HISTÓRIA DA IGREJA

Surgem os irmãos menonitas e os modernos


batistas na Inglaterra e Holanda. Os menonitas
vieram do seu líder MenoSimons que era líder
dos anabatistas.

O PIETISMO
Devido a muita disputa teológica entre os
luteranos e os calvinistas na Alemanha. Surge
o pietismo, liderado por Filipe Jacó Spener, que
prometia levar o povo a alcançar uma vida cristã
pura, sincera e ardente.

OS CINCO PRINCÍPIOS BÁSICOS DA


REFORMA:
1. A verdadeira religião está baseada nas
Escrituras (Sola Scriptura): Os católicos romanos
haviam substituído a autoridade da Bíblia pela
autoridade da igreja. A reforma devolveu ao povo
a Bíblia e colocou os ensinos bíblicos sobre o
trono da autoridade.
2. A religião deveria ser racional e
Inteligente: Roma introduziu doutrinas irracionais
no credo da igreja como a transubstanciação,
pretensões absurdas como a venda de indulgências
papais, costumes supersticiosos como adoração de
imagens, etc. A reforma, sem deixar de reconhecer
a revelação sobre a razão, contudo, buscava uma
disciplina e uma adoração que não violassem a
natureza do homem.
3. A religião pessoal: Sob o sistema romano
havia uma porta fechada entre o adorador e Deus.
A necessidade de intercessores estava sempre
presente. Na reforma, a porta está aberta e em
Cristo temos livre acesso a Deus.

269
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

4. A religião espiritual e não formal: A


formalidade e o cerimonialismo não estimulavam a
comunhão e sim o ritual. Na reforma o importante
era o homem interior na presença de Deus.
5. Uma igreja nacional: Na visão romana
havia uma igreja mundial com autoridade sobre
todas as nações. Com a Reforma, surge uma
igreja nacional, governada por si mesma. O culto
nas igrejas romanas era em latim; na reforma, o
culto era para o povo na língua local.

A CONTRA-REFORMA
Diante dos movimentos protestantes, a reação
inicial e imediata da Igreja católica foi a de punir
os líderes rebeldes, na esperança de que as ideias
dos reformadores não se propagassem e a igreja
recuperasse a unidade. Essa tática, entretanto,
não foi bem-sucedida, já que o movimento
protestante avançou pela Europa, conquistando
crescente número de seguidores. Era forçoso,
assim, reconhecer a ruptura protestante.
Um poderoso esforço então foi iniciado pela
igreja católica romana no sentido de recuperar
o terreno perdido na Europa, para destruir a fé
protestante e enviar missões católico-romanas a
países estrangeiros. Esse movimento foi chamado
Contra-Reforma.
Seus principais líderes foram os Papas Paulo
III (1534-1549), Paulo IV (1555-1559), Pio V
(1566-1572) e Xisto V (1585-1590).

• A reação da igreja católica objetivava:

− Expurgar a igreja, começando pelo clero.


− Quebrar as forças da ação protestante.

270
HISTÓRIA DA IGREJA

− Reconquistar o terreno perdido e dar novo


vigor às atividades missionárias.

• A Reforma dentro da Igreja Católica:


Em 1545, o Papa Paulo III convocou o
Concílio de Trento, com o objetivo de investigar
os motivos e por fim aos abusos que deram causa à
Reforma. O Concílio reuniu-se esporadicamente
ao longo de 18 anos na esperança de que a
separação entre católicos e protestantes chegaria
ao fim – o que não aconteceu. Ocorreram muitas
reformas na Igreja católica e as doutrinas foram
definitivamente estabelecidas. O resultado desse
esforço pode ser considerado como uma reforma
conservadora dentro da Igreja Católica.

Aspectos da Contra-Reforma:

1. Fundação da Ordem dos Jesuítas ou


Companhia de Jesus (1534)
No ano de 1540, o Papa Paulo III aprovou a
criação da Ordem dos Jesuítas ou Companhia de Jesus,
que tinha sido fundada pelo militar espanhol Inácio
de Loyola, em 1534. Inspirando-se na estrutura
militar, os jesuítas consideravam-se os soldados da
Igreja, sua tropa de elite, cuja missão era combater a
expansão do protestantismo. Entretanto, o combate
deveria ser travado com as armas do espírito, e para
isso Inácio de Loyola escreveu um livro básico,
chamado “Os exercícios espirituais”, em que se
propunha a programar a conversão do indivíduo ao
catolicismo, mediante técnicas de contemplação. A
criação de escolas religiosas foi um dos principais
instrumentos da estratégia dos jesuítas. Outra arma
utilizada foi a catequese dos não cristãos, isto é, os
jesuítas empenharam-se em converter ao catolicismo
os povos dos continentes recém-descobertos.

271
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

O objetivo era expandir o domínio católico para


os demais continentes; e resultado disto foi uma
tremenda perseguição aos protestantes.

Os principais métodos de contra-atacar o


protestantismo foram:

− Nas igrejas que estabeleceram ou naquelas


que conseguiram controlar, colocavam hábeis
pregadores e promoviam reuniões atraentes.
− Dispensavam muita atenção à obra
educacional.
− Abriram escolas primárias que logo se
enchiam, pois o ensino era gratuito e bom.
Os alunos eram, naturalmente, treinados a
demonstrar devoção à Igreja Católica Romana.
Queriam ganhar os pais com os filhos e
trabalhavam muito nos meios políticos.

2. O Restabelecimento da Inquisição
No ano de 1231 a Igreja Católica criou os
Tribunais de Inquisição, que, com o tempo,
reduziram suas atividades em diversos países.
Entretanto, com o avanço do protestantismo,
a Igreja decidiu reativar, em meados do século
XVII o funcionamento da Inquisição, que se
encarregou, por exemplo, de organizar uma
lista de livros proibidos aos católicos: o Index
librorumprohibitorum. Uma das primeiras
relações de livros proibidos foi publicada em
1564, e continha todas as versões da Bíblia, exceto
a Vulgata. Os líderes defenderam o uso da força
contra as heresias. O protestantismo foi esmagado
pela inquisição na Espanha e na Itália.

272
HISTÓRIA DA IGREJA

3. O Esforço Missionário
Reconhece-se que o catolicismo romano foi
muito ativo nas missões que objetivaram divulgar
sua fé entre povos de todos os continentes.
Foram alcançados povos nativos do México,
Índia, América do Sul e Canadá. Muito antes
dos protestantes chegarem aos povos pagãos, os
católicos já faziam suas catequeses.

A GUERRA DOS TRINTA ANOS (1618-1648)


A Igreja Romana passa por um reavivamento,
visando restaurar a fé e zelo católicos. A Europa é
invadida pela contra-reforma e em muitos países
a reforma foi abafada. Com o tratado de paz de
Augsburgo (assinado em 1555, que dizia que os
príncipes alemães tinham que escolher entre o
catolicismo e o protestantismo), estabeleceu-se
por algum tempo a normalidade na Europa.
Como resultado do inevitável confronto
de interesses entre os estados protestantes e
católicos da Alemanha, iniciou-se então uma
guerra em 1618 (cem anos após a Reforma),
envolvendo quase todas as nações europeias.
Não somente rivalidades religiosas, mas também
políticas estavam envolvidas, visto que países
que adotavam a mesma fé apoiavam partidos
contrários, a exemplo do Imperador Fernando
da Síria e Maximiliano, duque da Bavária que se
colocou ao lado dos católicos, enquanto a nobreza
alemã estava ao lado dos protestantes. Toda a
Alemanha sofreu seus efeitos terríveis.
O começo das hostilidades deu-se na cidade
de Donauwort, de maioria luterana, onde o
protestantismo perdeu a batalha, apesar da
formação da União Evangélica em 1608 (aliança
para defesa dos príncipes e cidades protestantes).

273
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

A guerra terminou com o Tratado de


Westfáliaem 1648, na Suécia, após severas batalhas
chefiadas por Gustavo Adolfo, rei deste país, o
qual deu muitas vitórias à causa protestante. O
tratado fixou os limites dos estados católicos
e protestantes; limites esses que, com algumas
variações, perduram até hoje, a despeito do
desrespeito papal que considerou nulo o acordo e
estava pronto para descumpri-lo, tendo declarado
esta paz prejudicial à religião católica, pois cedeu
aos “hereges” a liberdade de culto.
Historicamente o movimento da Reforma
termina com esse Tratado.

6ª FASE: A IGREJA MODERNA


Da Guerra dos Trinta Anos (1648 d.C.) até os
nossos dias.
Serenados os ânimos guerreiros, na Europa,
católico-protestante com o fim da guerra dos
Trinta Anos, a Igreja Protestante inicia um novo
período que dura ininterruptamente até os dias
atuais. É claro que do Século XVII até hoje muitos
acontecimentos marcaram esta última fase que
marcaram a expansão da fé protestante para outros
continentes. Por outro lado, a partir da Reforma,
vários grupos protestantes surgiram sob as mais
diversas orientações em muitos países, dando
origem a um sem número de denominações
cristãs hoje conhecidas, genericamente, como
evangélicos, especialmente no Brasil.
Na impossibilidade de examinar cada uma
dessas denominações no âmbito exíguo deste
trabalho, dedicaremos algum espaço às chamadas
denominações históricas, ficando a critério de
cada aluno fazer sua pesquisa pessoal a respeito
de seu próprio grupo.

274
HISTÓRIA DA IGREJA

O MOVIMENTO PURITANO
No âmbito da Reforma na Inglaterra havia
três grupos:

1. Os romanistas - que tendiam a uma


reaproximação com a igreja católica romana;
2. Os anglicanos - que estava satisfeito com
as reformas moderadas dos reinados de
Henrique VIII e da rainha Elisabete; I;
3. Os puritanos - grupo protestante radical,
surgido em 1654, que estava dividido em
presbiterianos (uma parte mais radical), e
congregacionais (que desejava a independência
de cada grupo local), conhecidos como
“independentes” ou “congregacionais”. Apesar
dessas diferenças, continuavam como membros
da igreja inglesa.
Após a Revolução de 1688, os puritanos
foram reconhecidos como dissidentes da igreja da
Inglaterra e conseguiram o direito de organizarem-
se independentemente. Posteriormente, uma
terceira dissidência que originou a denominação
Batista (Suíça).

OS PRIMEIROS REFORMADORES NO
BRASIL (1555 d.C.)
Villegaignon, comandante da expedição
francesa que aportou na Guanabara em 1555 e teve
o apoio do huguenote Gaspard de Coligny, que
escreveu a Calvino e à Igreja de Genebra pedindo
que enviassem ao Brasil “crentes reformados”.
Eles vieram com o objetivo de fundar aqui
uma colônia chamada França Antártica, que
deveria se caracterizar pela tolerância religiosa.

275
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Eram os primeiros protestantes a pisar em terras


brasileiras. Três pastores protestantes lideravam o
grupo.

A Perseguição em Solo Brasileiro


Chegando ao Rio de Janeiro, Villegaignon
denunciou os protestantes as autoridades
contrareformistas. Alguns conseguiram escapar,
mas cinco deles (Jean Jacques leBalleur, Jean
duBourdel, MatthieuVerneuil, Pierre Bourdon e
André laFon) foram presos e condenados à morte.
Eles foram presos não somente por aportarem no
país que era colônia portuguesa, mas por estarem
difundindo o Evangelho da Graça, que contrariava
as doutrina Romana de salvação por fé e obras,
agarrando-se à doutrina Bíblica defendida por
Lutero - somente pela fé (Sola Fede).
Antes de serem executados, porém, os
protestantes eram obrigados a confessar sua crença
uma vez mais – era como uma última chance de
renegar suas “heresias”, ou para que pudessem ser
indiscutivelmente condenados. Foi-lhes dado um
prazo de doze horas para que escrevessem num
documento tudo quanto criam. Assim, aqueles
homens, com ajuda apenas de suas Bíblias, escreveram
o que seria a primeira confissão de fé das Américas,
mostrando aos clérigos jesuítas tudo àquilo no que
criam. Foi uma espécie de Credo, e eles sabiam que
com ele estavam assinando sua sentença de morte.
(Apenas Jean Jacques leBalleur não subscreveu a
Confissão tendo fugido para São Vicente (São Paulo),
escapando da morte naquele momento).
Dos quatro missionários, três foram mortos
(sofreram estrangulamento e, ainda vivos, tendo
as mãos e pés atados, foram lançados ao mar,
na Baía da Guanabara). Eram os pastores Jean
duBourdel, MatthieuVerneuil e Pierre Bourdon.

276
HISTÓRIA DA IGREJA

Todos foram mortos numa sexta-feira, em 09 de


fevereiro de 1558. O quarto missionário, André
La Fon, negou a fé e foi poupado.
Enquanto aprisionados, esperando a morte,
repetiam a mesma atitude de Paulo e Silas (Atos
16.25) cantavam, louvavam e trocavam palavras
de ânimo. Villegaignon ficou conhecido como o
“Caim da América”.

O Papel dos Imigrantes


Os imigrantes tiveram um papel decisivo na
inserção da fé protestante no Brasil.
Em 1810, Portugal e Inglaterra haviam firmado
o Tratado de Comércio e Navegação que, entre
outras coisas, protegia os imigrantes protestantes
de perseguição religiosa. Isso incentivou a chegada
deles em grande número, vindos principalmente
dos Estados Unidos, Escócia e outros nações
europeias.
Foram os imigrantes alemães, entre eles
muitos luteranos e reformados, porém, que
criaram comunidades de colonos, instalando-
se principalmente nos estados do Sul do país.
No começo, seus pastores foram escolhidos
entre os próprios “leigos”, e ficaram conhecidos
como “colonos-pregadores”. Só bem mais tarde,
missionários e ministros foram enviados da Suíça e
da Prússia para cuidar do rebanho alemão no Brasil.

A Igreja Evangélica Brasileira


A Igreja Evangélica Brasileira começou a
fixar-se a partir da segunda metade do século
XIX, quando o Brasil já havia conquistado sua
independência de Portugal e era governado pelo
imperador D. Pedro II.

277
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

No dia 22 de junho de 1862, Serafim Pinto


Ribeiro é o primeiro brasileiro a se converter à fé
reformada na Igreja Presbiteriana.

O ARMINIANISMO (1604 d.C.)


Em 1604, na Holanda, em oposição à doutrina
calvinista da predestinação, surge um movimento
“revolucionário” liderado por Jacobs Arminius,
de onde inclusive vem a denominação da doutrina
por ele fundada: o Arminianismo. Essa doutrina
ensina que Deus aceita quem, usando seu livre-
arbítrio, se arrepende e crê na palavra de salvação
dada por Jesus. A igreja começa a voltar para o
evangelismo pessoal e de massa.

A IGREJA REFORMADA NA AMÉRICA


(1620 d.C.)
Colombo trouxe em sua Segunda viagem
doze sacerdotes católicos para o continente
americano. Na metade do século XVIII as
possessões da igreja católica romana eram
supremas; só algumas colônias inglesas na costa
do atlântico eram protestantes. Com a conquista
britânica do Canadá em 1759, e a concessão de
Luisiana e Texas o protestantismo predominou na
América. A igreja da Inglaterra foi a primeira a se
estabelecer, surge a Igreja Protestante Episcopal.
Em 1620, os puritanos refugiados da Inglaterra
e da Holanda fundam a Igreja Congregacional –
seu credo era calvinista.
Em 1644 chegam os Batistas.
Em 1638, alguns luteranos fundaram a Igreja
Luterana.
Em 1810, é organizada a Igreja Presbiteriana.

278
HISTÓRIA DA IGREJA

O AVIVAMENTO INGLÊS – “O Movimento


Wesleyano” (João e Carlos Wesley, Jorge
Whitefield)
João era o líder do movimento. Carlos foi
poeta sacro e Jorge um pregador poderoso.
João, clérigo da igreja anglicana, começou a
impressionar-se com o marasmo e decadência da
igreja em seu país (Inglaterra). Em 1789 começou
a pregar sobre o “testemunho do Espírito” como
um conhecimento pessoal interior, que resultou
num conhecimento experimental de uma vida
espiritual. O movimento espalhou-se indo atingir
os Estados Unidos da América. Foram chamados
de “metodistas” ou “metodistas wesleyanos”.

São de confissão Arminiana, sustentando


a doutrina do livre arbítrio, oposta à doutrina
calvinista da predestinação, e dá ênfase ao
conhecimento pessoal da salvação de todo crente.
Possuem mais de 12 milhões de membros sendo
a mais numerosa denominação norte-americana
depois dos batistas.

Resultados deste avivamento:

− Despertar para as obras de assistência


social.
− Surge a Escola Dominical em 1780 por
Robert Raikes, jornalista cristão.
− Veio o movimento missionário moderno,
e este entusiasmo missionário se espalhou por
toda a Europa.

279
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

O MOVIMENTO PENTECOSTAL
AMERICANO (1900 d.C.)
Seu marco inicial foi em 1900, quando
Charles Fox Parham, alugou uma “Mansão de
Pedra”, como era conhecida, em Topeka, Kansas,
para estabelecer uma escola bíblica chamada
Betel. Cerca de 40 estudantes ingressaram na
escola para o seu primeiro e único ano, atraídos
pelo seguinte propósito: “descobrir o poder que os
capacitaria a enfrentar o desafio do novo século”.
O método de ensino era pesquisar e estudar
um assunto, esgotando todas as citações bíblicas
sobre o mesmo e apresentá-lo para a classe em
forma de sabatina oral, orando para que o Espírito
Santo estivesse sobre a mensagem trazendo
convicção.
Em 1901, ao estudarem o capítulo 2 de Atos
sobre a evidência bíblica do batismo no Espírito
Santo, um dos estudantes ao receber oração com
imposição de mãos começou a falar em outras
línguas, dando origem ao movimento pentecostal.
O nome deste estudante era Agnes Ozman.

O AVIVAMENTO NA RUA AZUZA (1906 d.C.)


Com este acontecimento veio o ensino que
o falar em línguas era uma evidência bíblica do
batismo no Espírito Santo. Esse foi o estopim para
o “avivamento da Rua Azuza” que sacudiu toda a
nação Americana.
O avivamento pentecostal do Século XX
começou na Rua Azuza, 312, em Los Angeles, na
Califórnia, em 1906, num pequeno armazém, com o
pastornegroWilliamJosephSeymour,oqualpregava
sobre a promessa do batismo com o Espírito Santo.

280
HISTÓRIA DA IGREJA

Seu acentuado zelo pela pureza da igreja levou


muitas pessoas a se interessarem em buscar o
batismo no Espírito Santo, mesmo aquelas filiadas
a outras igrejas. Esse movimento caracterizou-
se por acentuar o espírito missionário entre os
crentes e, consequentemente, o interesse em
disseminar a palavra de Deus entre os povos.
De Los Angeles o pentecostalismo se espalhou
rapidamente. Este movimento misturava o perfil de
santidade da comunidade branca com os estilos de
ritmos e danças de louvor da comunidade negra.
O povo começa a ser atraído pelas músicas e cultos
animados. O que acontecia em Los Angeles era
uma revolução para os racistas e os movimentos de
segregação racial daqueles tempos, pois um pastor
negro dirigia uma congregação onde brancos e
negros adoravam ao Senhor em unidade.
A importância de William Seymour foi
tão grande no movimento pentecostal, que ele
foi chamado por alguns historiadores como o
cofundador do movimento pentecostal mundial.

OS PENTECOSTAIS NO BRASIL (1910 d.C.)


A Igreja Evangélica Brasileira permaneceu, da
sua instalação até o início do século XX, sendo
tradicional, cujas características mais marcantes
eram a erudição bíblica e o formalismo litúrgico,
herdado pela igreja reformada. Havia também
acentuada ênfase na educação, compreensível
pelas altas taxas de analfabetismo da população
brasileira da época.
Antonio Gouvêa Mendonça, autor de O
Celeste Porvir, argumenta que o protestantismo
implantado no Brasil manteve, contrariamente ao
que se poderia esperar, certa unidade teológica e
ideológica. Duas coisas contribuíram para isso:

281
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

1. A origem comum (EUA) da maioria das


missões;
2. A predominância do culto católico entre
os brasileiros.
As diferenças entre as denominações eram
de natureza secundária, niveladas que foram pela
teologia originada dos movimentos religiosos
norte-americanos, de um lado, e das condições
peculiares do Brasil, por outro.
Essa unidade iria, pouco a pouco, sofrendo
abalos, à medida em que os evangélicos cresciam,
até resultar na ruptura e no isolamento dos anos 80.
O aparecimento dos pentecostais foi, por
mais de uma razão, o elemento desencadeador
das rupturas que levarão ao racha entre os
tradicionais, principalmente nos círculos batistas
e presbiterianos.

O AVIVAMENTO DA FÉ
Nas décadas de 30 e 40 surgem os precursores
deste avivamento nos Estados Unidos (Essek
William Kenyon) e na Inglaterra (Smith
Wigglesworth).
Smith Wigglesworth (1859-1947): Inglês, e
aos 48 anos de idade recebeu o batismo no Espírito
Santo, o que transformou o seu ministério. Realizou
milagres e curas surpreendentes durante quatro
décadas. Mais que uma dúzia de pessoas foram
ressuscitadas. Ministrou o Batismo no Espírito
Santo em muitos países da Europa, na Nova
Zelândia, na África do Sul e na Austrália. Esteve
na América e inspirou vários pastores a viver uma
vida abundante. A vida dele era praticamente uma
continuação de Atos dos Apóstolos.

282
HISTÓRIA DA IGREJA

Deus confirmava a sua ousadia e suas mensagens


dinâmicas com sinais e maravilhas que conduziam
milhares de pessoas a Cristo. Foi considerado o
maior evangelista da Inglaterra.
Essek William Kenyon (1867 - 1948):
Americano, nascido em 1867 em New England,
foi evangelista, pastor, presidente de um Instituto
Bíblico, autor, compositor e poeta. Converteu-se
aos 17 anos na Igreja Metodista. Por sua igreja não
ter ajudado Kenyon a fundamentar sua fé, afastou-
se por um tempo da Igreja. Em 1893, em Boston,
visita uma igreja Batista com sua esposa e é batizado
no Espírito Santo. Seu coração é incendiado por
ganhar almas e treinar pessoas. Veio a pastorear
algumas igrejas batistas, mas anos depois partiu
para um ministério independente. Homem
guiado pelo espírito, escreveu sobre a autoridade e
privilégios que temos em Cristo. Curas e milagres
eram comuns quando Kenyon orava.
Surgiram também homens e mulheres de
Deus que foram usados poderosamente por Deus
em manifestação de cura, milagres e unção. Eles
são conhecidos como os Generais de Deus:

− John Alexander Dowie – Apóstolo da


Cura,
− Maria Woodworth – Evangelista e Mestre
(Americana),
− Evan Roberts – Pastor (Inglês),
− Charles Parham – Evangelista,
− William Seymor – Avivamento pentecostal,
− John G. Lake – Evangelista,
− Aimee Semple Mcpherson – Conferencista,
fundadora da Igreja Quadrangular (Americana),
− William Branham – Profeta,
− Jack Coe – Evangelista (Americano),

283
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− A. A. Allen – Evangelista (Americano),


− Kathryn Kuhlman – Evangelista e Mestre
(Americana) e outros.

O MINISTÉRIO DE KENNETH E. HAGIN


Americano, nascido em 20 de agosto de 1918,
em McKinney, Texas, EUA. Estava enfermo,
totalmente paralisado e confinado a uma cama,
com uma doença sanguínea incurável e o
seu coração era deformado. Os médicos não
esperavam que ele chegasse ao seu 17º aniversário.
Após 16 meses acamado, creu no que Jesus disse
em Marcos 11.23-24; e agiu à altura dela com
fé, levantando-se curado. Mais tarde, o Senhor
chamou-o para ensinar esta fé à igreja.
Foi pastor de uma batista no período de 1934
a 1937; depois se ligou à Assembléia de Deus
(1937 a 1949). Em seguida, passou por várias
igrejas pentecostais.
Em 1963, fundou a “Associação Evangélica
Kenneth E. Hagin”.
Em 1966, mudou a sede deste ministério para Tulsa,
Oklahoma, começou uma nova fase de crescimento.
O irmão Hagin começou a fazer conferências
e seminários sobre fé. Deu início a um programa
no Rádio e em 1976 produziu o seu primeiro
programa de televisão.
Em 1974, viu a necessidade de se ter uma escola
que ensinasse os princípios de fé e de preparar
pessoas para o ministério. Foi, então, fundado o
Centro de Treinamento Bíblico Rhema, em Tulsa,
Estado de Oklahoma, nos Estados Unidos. A escola
começou com 58 alunos, até se tornar uma das
instituições de ensino da Bíblia mais respeitadas
nos Estados Unidos e posteriormente no mundo.

284
HISTÓRIA DA IGREJA

Em 1978, o nome do ministério foi mudado


para Kenneth Hagin Ministries, que conta com a
Igreja Bíblica Rhema e o Centro de Treinamento
Bíblico Rhema.

ALGUMAS DENOMINAÇÕES E SUAS


ORIGENS
• Igreja Episcopal: Foi a primeira do ramo
protestante a estabelecer-se nos Estados Unidos
(1579), com a realização de um culto sob a direção
de Francis Drake. Apenas em 1607 estabeleceu-se
permanentemente.
• Presbiterianos e Congregacionais: Durante
muito tempo era o mesmo grupo nos Estados
Unidos, pois aceitavam ambos a confissão de
Westminster – tantos que seus ministros podiam
ministrar indistintamente em ambas as igrejas.
Somente a partir de 1852 é que dividiram-se,
progredindo mais rapidamente os congregacionais.
• Igreja Reformada: Inicialmente na
região da ilha de Manhatan, estabeleceram-se
colonos holandeses, de origem protestante e que
na Holanda eram ligados à igreja Protestante
Reformada Holandesa. Fundaram a cidade de
Nova Amsterdã. Com a ocupação inglesa a fé
oficial passou a ser a Episcopal. No entanto os
cidadãos de ascendência holandesa continuaram
em sua própria congregação à qual deram o nome
de Igreja Reformada da América.
• Batistas: Contam com mais de 25 milhões
de membros nos Estados Unidos. Originários da
Reforma na Suíça, se espalharam pela Alemanha
e Holanda. Já foram chamados de Anabatistas e
na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos alguns
grupos ainda se chamam Menonitas. Na América
do Norte iniciou-se com Roger Williams, em 1644.

285
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

• “Quacres”: Inicialmente chamados de


“Filhos da Luz” e depois “Sociedade dos Amigos”,
originaram-se das ideias de Jorge Fox, dissidente
da igreja da Inglaterra. Sensibilizaram milhões de
pessoas as doutrinas não dogmáticas de Fox de
que o corpo de crentes não devia ter sacerdotes;
que qualquer dos crentes podia falar segundo a
inspiração do Espírito Santo, etc. Muitos foram
perseguidos e martirizados na Inglaterra e então
vieram para a RhodeIsland (foram também
perseguidos na colônia da Nova Inglaterra). São
democratas, antiescravagistas e muito disciplinados.
São cerca de 80 mil nos Estados Unidos.
• Luteranos: Em 1638 luteranos suecos
estabeleceram-se e construiram o primeiro
templo em Lews. Posteriormente vieram
luteranos alemães e se estabeleceram em Nova
Iorque e na Pensilvânia. A imigração em massa
no início do Século XVIII fez com que hoje os
luteranos superem a cifra de mais de 10 milhões
de membros naquele país. Adotam a confissão de
Augsburg e as doutrinas defendidas por Lutero:
justificação pela fé, batismo e ceia como meios de
graça e não apenas símbolos.
• Presbiterianos: Tem duas origens nos
Estados Unidos: a presbiteriana escocesa,
reformada por JonhKnox em 1560, que se espalhou
para Irlanda do Norte. O outro grupo tem origem
no movimento puritano na Inglaterra de tendência
presbiteriana, cujos pastores (mais de 2 mil) foram
expulsos de suas paróquias, muitos dos quais
foram para a América. Foram os presbiterianos
escoceses, irlandeses e ingleses que ajudaram a
formar a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos.
A data inicial é 1648 em Snow Hill, numa reunião
presidida pelo Ver. Francis Makemie (irlandês).
Foi um presbiteriano (João Witherspoon) o único
evangélico a assinar a Declaração de Independência.
286
HISTÓRIA DA IGREJA

São cerca de 5 milhões e aceitam a Confissão de Fé


de Westminster, de influência calvinista. O governo
da Igreja é composto de um Conselho (Pastor e
Presbíteros). As igrejas formam presbíteros e estes
o Sínodo e finalmente a Assembleia Geral.

• Assembleia de Deus: Têm sua origem com


a chegada de dois missionários suecos – Gunnar
Vingren e Daniel Berg - os quais, atraídos pelo
avivamento na rua Azuza, Los Angeles, receberam
uma visão naqueles cultos, na qual era mostrada
a palavra PARÁ. Descobrindo que se tratava de
uma região no Brasil, vieram para cá e a princípio
juntaram-se a um grupo pertencente a uma Igreja
Batista de onde foram expulsos juntamente com 18
irmãos que haviam sido batizados com o Espírito
Santo. Saíram e fundaram a Igreja Assembleia de
Deus em Belém. O trabalho cresceu, sendo hoje
a maior igreja evangélica no solo brasileiro. O
trabalho em Maceió foi fundado em 1915 e em
Aracaju em 1932, ambos pelo Rev. Otto Nelson.

• Ministério Verbo da Vida: Fundada no


Brasil a partir dos esforços dos missionários
Harold Leroy ‘Bud’ Wright e sua esposa Janace
Sue Wright, chegados inicialmente a São Paulo
onde se estabeleceram com uma Igreja e um
Centro de Treinamento Bíblico. Foidepois para
o Nordeste a partir de 1992, ali recomeçaram em
sua própria casa, na companhia de cinco pessoas
da cidade. Atualmente existem inúmeros apelos
para que o Ministério Verbo da Vida possa
assumir igrejas independentes que desejam
se submeter à mesma visão adotada pelos
fundadores e à qual se mantêm fiéis. No ano de
2014 o Verbo da Vida se consolidou em todas as
capitais do país e Distrito Federal.

287
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

• Outros grupos: A “Igreja dos Irmãos


Unidos”, a “Igreja Cristã”, a “Igreja Unitariana”,
a “Ciência Cristã” (herética), além de
mais de 300 denominações diversas. Mais
recentemente a sociedade norte-americana vem
sendo influenciada pelo paganismo oriental
(principalmente da Índia, Japão, Nepal etc.) e
pelas seitas muçulmanas. Outro grupo que vem
crescendo muito e que representa um grande
desafio para a igreja evangélica ali é o satanismo
que vem sendo pregado abertamente na maior
sociedade livre de todos os tempos.

A GLOSSOLÁLIA – As Línguas
A História da Igreja, comumente escrita por
autores tradicionalistas, faz poucos registros do
fenômeno da glossolália (expressões vocais em
línguas estranhas). Queremos resgatar parte dessa
lacuna nesta lição e inicialmente registramos que
o fenômeno sempre esteve presente ao longo dos
vinte séculos de história do cristianismo, ligado
aos reavivamentos. Depois, o Espírito Santo não
é história e sim uma pessoa, operando sempre
quando quer e onde quer.

Registros Históricos:
− Dicionário da Bíblia (autor não anotado):
Através dos séculos a glossolália reapareceu
frequentemente entre os grupos cristãos. Um
homem conhecido como J. B. Cuten foi autor de
um livro com vários exemplos sobre o fenômeno
do falar em línguas. O fenômeno reacende sempre
durante os reavivamentos em todas as épocas.

− Enciclopédia Britânica: Expressões miraculosas


apresentam-se nos avivamentos cristãos de todas
as épocas. A glossolália esteve sempre na igreja.

288
HISTÓRIA DA IGREJA

− M. Philips, um repórter disse: “Orar em


línguas voltou a apresentar-se sempre em
intervalos durante a era Cristã.”.
− Dicionário da Bíblia Harpex: “Este
fenômeno não está restrito ao cristianismo
primitivo, é reconhecido universalmente.
E vão reconhecer universalmente aqueles
que querem. O Espírito Santo continua se
derramando conforme Joel 2”.
− Tertuliano e Irineu: Registram em seus
escritos a presença do fenômeno.
− Crisóstomo: Aparentemente desapareceu.
− Eusébio de Cesaréia (260 - 340) era
ferrenho opositor das línguas.
− Dr. Philips Schaff: Faz longo depoimento a
respeito.
− Dr. Alban Butler: Idem.
− Orígenes: Como um dos pais da igreja,
revela o fenômeno em seus dias.
− Agostinho: Era contrário ao falar em línguas.
− Basileu, (Século IV): o Grande Mestre
ensinou a respeito da glossolália.
− Ambrósio (340 - 397): Era favorável e
registra em seus escritos.
− Hilário de Poitrês (Século IV), possuidor de
expressivo conhecimento bíblico, escreveu um
livro sobre a Trindade e defendeu a glossolália.
− Léo, o Grande: Escreveu “Sermônico”.
Disse que o dom de línguas continua vivo.
− Ronald Knox: Era católico romano. Disse
que não se pode negar a evidência do falar em
línguas.

289
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− Vincent Ferrer: Em 1419 pregava a multidões.


Só falava espanhol, mas era entendido por
plateias de outros idiomas, inclusive judeus e
maometanos que se converteram aos milhares
em suas ministrações.

− Na Reforma descobriu-se a dimensão


espiritual da piedade.

− Burton Scott: Captou o espírito do


movimento.

− Martinho Lutero: Foi chamado de


evangelista, profeta e falava em línguas
estranhas e interpretava.

− Calvino: Reconheceu a glossolália.

− Jonh Wesley: Fundador do metodismo.


Falava em línguas estranhas.

− Início do Século XX: Em Topeka, Kansas


(1901). Avivamento na rua Azuza. Logo
depois na Coréia, Suécia, Chile e outros
países a chuva serôdia começou a cair com
manifestações de profecias e línguas.

− Texas (1902): Milhares de pessoas recebiam


o batismo no Espírito Santo em um mover
que se prolongou até 1906.

− Movimento Carismático (Anos 60):


O avivamento chegou às igrejas católicas
inclusive com manifestações do falar em
línguas.
A glossolália nunca terminou. É uma benção
ver como o poder de Deus se derrama e o Espírito
de Deus continua se movendo.

290
HISTÓRIA DA IGREJA

BREVE HISTÓRIA DA CURA DIVINA


Quando Deus tirou seu povo do Egito não
ocorreram enfermidades naquela multidão
calculada em mais de 2 milhões e 600 mil pessoas.
Vemos em Números 21.9 o poder sarador
trabalhando. Salmos 103.1 e 2 a afirmação de que
é Ele quem sara todas as tuas enfermidades, assim
como em Isaías 53.4 e Jeremias 33.6. Na Nova
Aliança a vontade de Deus é a cura para o seu
povo (Mateus 8.16-17). Jesus é a palavra enviada
(Salmos 107.20). Durante a história da Igreja
os crentes continuaram beneficiando-se com o
poder miraculoso da cura divina.

− Irineu (110 d.C.): “Homens saram os


enfermos pela imposição de mãos”.
− Justino Mártir: Muitos são curados em
Nome de Jesus.
− Orígenes: Homens têm o maravilhoso
poder para curar pelo simples invocar o
divino Nome.
− Ambrósio: Testemunhou de um açougueiro
que cegou e foi curado pelo Senhor.
− Macário de Alexandria (375-390): Um
homem estava secando. Foi ungido com óleo
e, em Nome de Jesus, levantou-se e foi embora
para casa, cantando e bendizendo ao Senhor.
− Agostinho: Os milagres que os pagãos
atribuem a seus ídolos não são comparáveis
aos que os mártires cristãos produzem em
Nome de Jesus.
− As Canonizações: A igreja católica passou a
canonizar pessoas, mas para que o procedimento
seja aprovado, é necessário que seja atestada
pelo menos a realização de duas curas.

291
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

− São Francisco de Assis: Curas aconteceram,


havendo registros até excessivos.
− Martinho Lutero: Experiência com seu
secretário Melachton, que foi curado pela
imposição de suas mãos e pela oração de cura.
− F.F. Boswort (1925): Ele e seu irmão
tiveram um ministério de cura divina.
− Raymond Richey: Na Primeira Guerra
Mundial, numa epidemia de gripe, orava
pelos soldados e eles eram curados.
− Aimée Semple McPearson: Fundadora da
Igreja do Evangelho Quadrangular trabalhou
com um ministério de cura.
− Dr. Charles Price: Pregava quatro vezes
ao dia para reuniões de até 15 mil pessoas.
O poder de Deus se movia. Milhares caiam e
eram curados pelo poder da unção do Espírito
Santo.
− Avivamento de Cura Divina - (1957 -
1958). Estados Unidos.
− Avivamento Carismático - (1958 - 1974).
Estados Unidos. Também com manifestações
de Cura Divina.
− Avivamento da Palavra Revelada - (1974
até os anos 80). Estados Unidos. Mestres
foram levantados em todos os lugares. Foi
àbase para o avivamento que está começando
a acontecer agora.
− Oral Roberts - Cobria o Movimento
Carismático nos Estados Unidos e
testemunhou o mover da cura.
− Gordon Lindsay - Usado para trazer
unidade à igreja.

292
HISTÓRIA DA IGREJA

− T.L. Osborn - Escreve livros e faz cruzadas


em todas as partes do mundo. Muito usado na
área de Cura Divina.
− Kenneth Hagin - Profeta e mestre. Foi
curado quando tinha 17 anos de uma
enfermidade incurável no coração.
− Jonh Osteen - Foi muito usado em cura
divina. Deixou uma congregação para mais
de 10 mil pessoas.
− Kathryn Kuhlman - Levantada nos Estados
Unidos para curar.
− Morris Cerullo - Idem.
− Reinhard Bonke - África. Dirige cruzadas
denominadas “Uma África banhada pelo
Sangue de Jesus”.
− Romy Chaves - Costa Rica. Grandemente
usado por Deus para curar os enfermos
naquele país.

ALGUNS CONCÍLIOS
Concílios são reuniões que tem como finalidade
resolver as grandes questões de interesse da Igreja,
suas controvérsias e tentam dar à cristandade um
padrão de comportamento diante de heresias
e ensinos doutrinários divergentes. O primeiro
Concílio de que temos notícias está registrado
em Atos 15 e foi realizado por volta dos anos 50
- 51 d. C. em Jerusalém. Este Concílio reuniu os
Apóstolos e outros líderes eclesiásticos da igreja
de Jerusalém e de Antioquia. Vieram Paulo e
Barnabé, desconhecendo-se se tinham ou não
atraído líderes de outras congregações, mas
provavelmente isto tenha acontecido, em virtude do
fato de que algumas igrejas importantes já estavam
estabelecidas em várias regiões àquela altura.

293
RHEMABRASIL - SEGUNDO ANO - MÓDULO III

Os concílios costumavam reunir-se em


cidades diferentes. A partir de 869, com o
rompimento entre os cleros romano e oriental,
que originou a crise de 1054 (cisma ortodoxo), os
concílios católicos têm se reunido em Roma e, a
partir desse cisma, cada um dos referidos ramos
cristãos tem tratado seus problemas isoladamente
até hoje.
Quanto ao ramo protestante, pelas suas próprias
características (descentralização eclesiástica,
variedade de denominações, etc.) não há concílios
e cada um dos grupos tem sua própria orientação
administrativa, sendo que as doutrinas e ensinamentos
são mais ou menos homogêneos, variando apenas
quanto às orientações tradicionais ou históricas,
fundamentalistas e neoprotestantes.
Existem grupos que nem são católicos,
nem protestantes (evangélicos), embora sejam
confundidos com este. Poderíamos adotar a
nomenclatura que alguns, inclusive a imprensa
lhe têm concedido: são os para-evangélicos
(testemunhas de Jeová, adventistas etc.), dentre
outros. Estes nem mesmo fazem questão de serem
identificados como evangélicos.
A seguir, alguns concílios e o principal tema
debatido durante suas reuniões:

− Concílio de Jerusalém entre 5 e 51 -


Discutida a questão da salvação somente para
os circuncidados e obedientes à lei de Moisés;
− Concílio de Nicéia em 325 - Arianismo;
− Concílio de Constantinopla em 381 -
Apolinarismo;
− Concílio de Éfeso em 431 - Nestorianismo;

294
HISTÓRIA DA IGREJA

− Concílio de Calcedônia em 4451 -


Euliquianismo;
− 2º Concílio de Constantinopla em 553 -
Monofismo;
− 3º Concílio de Constantinopla em 680 -
Doutrina das duas vontades de Cristo;
− 2º Concílio de Nicéia em 787 - Sancionado
o culto ás imagens;
− 4º Concílio de Constantinopla em 869
- Rompimento entre a Igreja Oriental e
Ocidental;
− Concílio de Trento, de 1545 a 1563 - Contra
- Reforma;
− Concílio de Roma em 1123 - Bispos
nomeados pelo Papa;
− Concílio Vaticano de 1869/1870 -
Declarada a infalibilidade do Papa
− 2º Concílio Vaticano, de 1963/1965
- Reforma da Igreja para torná-la mais
tradicional ante a questão do envolvimento
de clérigos com as questões sociais.

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