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ECLESIOLOGIA REFORMADA
No Antigo Testamento, a igreja não está claramente definida e a imagem que se tem é a de um
povo, uma nação escolhida e separada por Deus para representá-lo aqui na terra. E este povo é
o povo de Israel. A igreja do Novo Testamento pode até ter começado no Pentecostes, quando
o Espírito Santo desceu sobre os discípulos de Jesus, em Atos 2, mas o povo de Deus nos
remonta à Abraão. Um autor chamado Christopher Wright disse que ao se pensar no povo que
Deus criou e chamou para ser agente de sua missão, deve-se começar em Gênesis 12, com o
chamado de Abrão.
Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu
pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te
abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas
as famílias da terra. (Gênesis 12.1-3)
Em Gênesis 12 a Bíblia relata o chamado e a aliança que Deus faz com Abrão. Neste ponto Deus
começa a estabelecer um povo da aliança para si mesmo, separando Abrão de sua terra, e
transformando Israel em uma grande nação. Esse chamado de Abraão estende-se à Isaque:
E depois, estende-se à Jacó: “A tua descendência será como o pó da terra; estender-te-ás para
o Ocidente e para o Oriente, para o Norte e para o Sul. Em ti e na tua descendência serão
abençoadas todas as famílias da terra.” (Gênesis 28.14).
Ao voltarmos nossos olhos para o Novo Testamento, vemos uma palavra que é
frequentemente usada para se referir a igreja: ekklesia, que indica uma congregação local,
como em Romanos 16.5 “saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles...” e 1 Coríntios
16.19 “As igrejas da Ásia vos saúdam...”. A palavra ekklesia também tem a ver com a totalidade
de crentes que se reúnem em um local, como em Colossenses 4.16 “E, uma vez lida esta
epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses...” Ou
também tem a ver com a igreja universal e invisível, como em 1 Coríntios 12.28 “A uns
estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro
lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos,
variedades de línguas.” Ou seja, o termo ekklesia nos ensina que a igreja pode tanto ser visível
como invisível.
A primeira vez que aparece o termo “igreja” (ekklesia) no Novo Testamento é em Mateus
16.18. Jesus havia perguntado aos discípulos quem as pessoas diziam ser ele. Então os
discípulos responderam: “Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum
dos profetas.” (Mateus 16.14). Então Jesus pergunta aos seus discípulos quem eles diziam ser
ele. Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16.16.). Diante da
declaração de Pedro, Jesus afirma: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra, ou
seja, sobre a sua declaração edificarei a minha igreja (ekklesia), e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela.”
Enquanto no Antigo Testamento nós temos apenas uma ideia do que viria a ser a igreja, no
Novo Testamento, nós temos a igreja claramente definida. Ao chegarmos no Novo
Testamento, o povo de Deus já não é mais somente a nação de Israel, mas sim, um povo eleito,
comprado e redimido pelo sangue de Cristo e inserido na família de Deus. Existe uma
progressão. Podemos dizer que a igreja é:
ECLESIOLOGIA EM PAULO
Paulo usa muitas figuras de linguagem para falar da Igreja. Especialmente em Efésios isso
facilita a compreensão do que seja a Igreja. Vejamos algumas dessas figuras:
1. O Corpo de Cristo
Ef 5.23 - (corpo de Cristo). No pensamento hebraico o corpo expressa a totalidade daquilo que
sou. É o ser humano integral. Assim, com isso Paulo expressa o conceito da totalidade de um e
dos muitos. Em Israel o indivíduo fazia parte do todo pela circuncisão. Na igreja há a circuncisão
de Cristo (Cl 2.11).
A ideia origina-se no ensino de Cristo no seu caráter messiânico em reunir o seu povo num povo
só:
Cristo é identificado com a Igreja. Perseguir esta é perseguir aquele. 1Co 8.12 – “E deste modo,
pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais”.
3) Tem uma cabeça. Vivemos em obediência a Cristo (Ef 5.23; Cl 1.18; 1Co 2.16).
4) Edifício de Deus. (1Co 3.9; Ef 2.21). A relação do corpo e do edifício: se o corpo reflete a
presença de Cristo na Igreja, o edifício denota a estabilidade da Igreja, sua firmeza, sua
indestrutibilidade.
ECLESIOLOGIA EM PEDRO
a) Raça eleita – A expressão só aparece aqui. É tomada de Is 43.20 – povo escolhido, referindo-
se a Israel. A ênfase ao usar o termo “raça eleita” está na origem ou procedência da igreja.
Quem elege é Deus. Dt 7.7-8 – “Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque
fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, ...”. Deus
escolheu Israel para ser seu povo particular. Agora o mesmo diz-se da Igreja.
c) Povo santo – Ex 19.6. A expressão “povo” é equivalente ao “povo gentio” e se opõe aquela
ideia de povo que por direito divino de “santo”. Israel era chamado santo, mas chamar o povo
gentio de santo era algo realmente muito estranho. O povo gentio, excluído historicamente do
pacto, agora é aceito em Cristo e separado para o serviço de Deus, e torna-se povo santo.
d) Povo de propriedade exclusiva de Deus – Is 43.21; Mt 2.6. Denota que o muro de separação
foi derrubado em Jesus. Ef 2.14, judeus e gentios, um só povo em Cristo.
Durante o primeiro século da igreja não havia organização ou hierarquia das igrejas locais, mas
com o surgimento de várias heresias e com a corrupção que grassava, surgiu a necessidade de
organização da igreja.
Cipriano, bispo de Cartago, foi quem definiu a organização episcopal de igreja no século III de
nossa era, esta definição permaneceu na Igreja de Roma praticamente sem mudanças até o
concílio de Trento, no século XVI, mas nenhuma mudança fundamental foi acrescida. Conforme
Cipriano a verdadeira igreja era universal, ou católica, a autoridade dos bispos era apostólica,
derivada dos apóstolos por sucessão episcopal e a igreja era a depositária da graça e do poder
de Deus, distribuindo a graça, o perdão e a salvação por intermédio dos sacerdotes e dos
sacramentos. De acordo com esta ideia, prevalecente até os dias de hoje na igreja de Roma, as
bênçãos da graça e da salvação chegam aos homens somente por meio das ordenanças e
sacramentos da igreja.
Ele proclamou a liberdade do cristão; e encarava a igreja como um encontro de crentes, uma
“comunhão de santos”, como é confessado como um objeto de fé no Credo dos Apóstolos
(santa Igreja universal).
Foi imensamente doloroso e difícil para Lutero romper com a Igreja Católica Romana e seu
conceito de igreja. Ele não tinha nenhum programa de reforma. Inicialmente, seu único
objetivo era limpar os abusos. Mas ele encontrou e manteve sua segurança básica na
justificação do pecador pela fé somente e nessa base foi muito mais longe do que ele
originalmente pensava ou pretendia.
A igreja, a partir do séc. 16, era vista como uma congregação de crentes, de pessoas que, pela
fé, receberam o perdão dos pecados e, portanto, se tornaram todos filhos e sacerdotes de
Deus. Por essa razão, ela naturalmente, tinha um lado invisível e um lado visível. De acordo com
Seeberg, esta distinção foi feita pela primeira por Lutero. No entanto, ele não queria dizer duas
igrejas, mas dois lados de uma e da mesma igreja.
Calvino também alinha-se com Lutero neste uso. Quando nas Institutas de 1543 ele usa pela
primeira vez o termo “igreja invisível”, ele quer dizer todos os eleitos coletivamente que são
conhecidos apenas por Deus; posteriormente, ele caracteriza a igreja como “toda a multidão
de seres humanos espalhados sobre a terra”, uma multidão que é visível, mas é também
invisível e um objeto de fé na medida em que não podemos saber quem são todos os
verdadeiros crentes.
A distinção entre igreja visível e invisível, originalmente, serviu apenas para afirmar contra
Roma que a essência da igreja consiste naquilo que é invisível, na fé, na comunhão com Cristo e
seus benefícios pelo Espírito Santo, mas absolutamente não para diminuir de alguma forma a
visibilidade ou a realidade da igreja, como instituição.
• Igreja invisível - (1) como a igreja universal porque um determinado indivíduo não pode
observar a igreja em outros lugares e outras vezes; (2) como a companhia reunida dos
eleitos, que não será concluída e visível até o retorno de Cristo; (3) como a companhia
reunida dos eleitos e chamados, porque na igreja na terra não podemos distinguir os
verdadeiros crentes.
Na Segunda Confissão Helvética (1562-66): “Da Igreja de Deus, santa e católica, e do único
Cabeça da Igreja. A Igreja sempre existiu e sempre existirá. Visto que Deus desde o princípio
quis salvar os homens e trazê-los ao conhecimento da verdade (I Tm 2.4), é absolutamente
necessário que a Igreja tenha existido no passado, exista agora e continue até o fim do mundo.
Que é a Igreja. A Igreja é a assembléia dos fiéis convocada ou reunida do mundo: é, direi, a
comunhão de todos santos, isto é, dos que verdadeiramente conhecem, adoram corretamente
e servem o verdadeiro Deus em Cristo, o Salvador, pela palavra e pelo Espírito Santo, e que,
finalmente, participam, pela fé, de todos os benefícios gratuitamente oferecidos mediante
Cristo. (…);
Na Confissão de Fé Escocesa – (John Knox e Outros – 1560): “16º Capítulo. Da Igreja: Assim
como cremos em um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, assim também firmemente cremos
que houve desde o princípio, há agora e haverá até o fim do mundo uma só Igreja, isto é, uma
sociedade e multidão de homens escolhidos por Deus, que corretamente o adoram e aceitam,
pela verdadeira fé em Jesus Cristo, o qual, só, é a Cabeça da Igreja, assim como é ela o corpo e
a esposa de Jesus Cristo. Essa Igreja é católica, isto é, universal, porque compreende os
escolhidos de todos os tempos, de todos os reinos, nações e línguas, ou dos judeus ou dos
gentios, que tenham comunhão e associação com Deus o Pai, e com seu Filho, Jesus Cristo,
pela santificação do Espírito Santo. Por isso ela é chamada comunhão, não dos profanos, mas
dos santos, que, como cidadãos da Jerusalém celestial, gozam de benefícios inestimáveis: um
só Deus, um só Senhor Jesus Cristo, uma só fé e um só batismo. Fora dessa Igreja não há nem
vida nem felicidade eterna. (…);|
Na Confissão Belga (Por Guido Brès – 1561): “Artigo 27. A Igreja Católica Ou Universal: 1. Cremos
e confessamos uma só igreja católica ou universal. 1. Ela é uma santa congregação e
assembleia. 2. dos verdadeiros crentes em Cristo, que esperam toda a sua salvação de Jesus
Cristo. 3, lavados pelo sangue dEle, santificados e selados pelo Espírito Santo. 4. Esta igreja
existe desde o princípio do mundo e existirá até o fim. Pois, Cristo é um Rei eterno, que não
pode estar sem súditos. 5. Esta santa igreja é mantida por Deus contra o furor do mundo
inteiro. (…)
A igreja militante: durante sua existência terrena a igreja é chamada de militante, pois tem o
dever de empreender uma guerra sem tréguas contra o mundo não cristão, principalmente
dentro da própria igreja, combatendo vigorosamente as heresias e falsas doutrinas que
surgem. O que se pode observar ao longo da história do cristianismo é que a igreja está em
constante degradação, apesar dos grandes movimentos de avivamento que ocorrem em
épocas determinadas da história a igreja visível caminha, a olhos vistos, para a apostasia e para
o mundanismo. Todavia, apesar de chocante, isto não deve causar surpresa ao cristão, pois
Jesus nos adverte quanto a estes últimos tempos.
Mateus 24,24-25: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito”.
Nestes últimos tempos em que a igreja atravessa, a sã doutrina tem dado lugar a todo tipo de
fábulas e invenções, tanto para agradar o ego humano, quanto para o crescimento material da
igreja, esta é a tônica da igreja atual.
2 Timóteo 4,3: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-
se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”.
A igreja triunfante: a igreja triunfante pode ser definida como a reunião das almas dos crentes
que já se encontram no céu, ou como a reunião final de todos os crentes após o Dia do
Julgamento, onde todos os eleitos de todas as épocas da história da humanidade estarão
finalmente reunidos em glória junto a Cristo em seu estado glorificado, onde o pecado e a
corrupção estarão definitivamente banidos e os filhos de Deus revelados em caráter definitivo.
1) Onde o evangelho é proclamado fielmente. O que os Reformadores queriam dizer com isso
não era simplesmente o anúncio da boa nova da morte de Jesus e da expiação, mas sim a fiel
proclamação das verdades essenciais do cristianismo. Se uma igreja negasse um aspecto
essencial da fé cristã, essa instituição deixaria de ser considerada uma igreja. O protestantismo
histórico não reconhecia o mormonismo como uma igreja cristã autêntica, porque a fé mórmon
negou a divindade eterna de Cristo, por exemplo. A igreja nunca terá uma pregação perfeita,
mas sempre examinará sua pregação a partir das Escrituras (1 Jo 4.1-3; Ef 2.20; II Tm 4. 1-5; At 2.
42; II Tm 2.15,24-26; Ef 4. 7-16).
3) Onde há o exercício da Disciplina eclesiástica. A disciplina na igreja visa três efeitos básicos:
vindicar a honra de Cristo publicamente; corrigir o irmão em pecado; e causar temor na igreja
em relação a pecar contra Deus. Vemos isso em vários textos bíblicos como Gálatas 6. 1-4; 1
Coríntios 5. 1-5; Mateus 18.18; Atos 5. 1-11 e outros.
A Confissão Belga, no artigo 29, resume de uma forma sucinta o que tem sido chamado de “as
marcas da igreja verdadeira” quando afirma: “As marcas para conhecer a verdadeira igreja são
estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho, a pura administração dos sacramentos
como Cristo os instituiu, e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados”.
A Confissão de Westminster diz claramente que há igrejas verdadeiras que são “mais ou
menos” puras e que “as igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro”.
De qualquer forma, essas são marcas que ainda podemos usar para discernir se uma igreja
particular é verdadeira ou não. Não é necessário que a Igreja seja perfeita para ser verdadeira.
O que importa é que ela seja a mais fiel possível na pregação do Evangelho, na administração
dos sacramentos e no exercício da disciplina.
“Cremos que o Senhor Jesus está vivo e sempre ativo na igreja. Onde Cristo está ativo e
Seu Senhorio é honrado e obedecido, aí está a “verdadeira igreja”. A verdadeira igreja
tem marcas particulares pelas quais ela pode ser conhecida, e essas marcas estão
relacionadas diretamente ao tríplice ofício de Cristo, que age como profeta, sacerdote e
rei. As “três marcas da verdadeira igreja” são descritas no artigo 29 da Confissão Belga.
Elas são, primeiro, “a pura pregação do Evangelho”, segundo, “a pura administração
dos sacramentos como Cristo os instituiu”, e, terceiro, “o exercício da disciplina
eclesiástica para castigar os pecados”.1
Como essas três marcas da igreja estão ligadas ao ofício tríplice de Cristo? Primeiro, a
pregação surge do dom de profecia… Segundo, a administração dos sacramentos surge
da obra sacerdotal na cruz, Sua oração por nós e a comunicação a nós dos benefícios de
Seu sacrifícios por meio da lavagem em Seu sangue e o partir do pão… Terceiro, a
disciplina eclesiástica surge dos justos clamores do reinado de Jesus.”
1
https://books.google.com.br/books?id=0HxO-
A7Vd8UC&pg=PA161&lpg=PA161&dq=&source=bl&ots=EjFTFdpITU&sig=U_cAxIWSJNOvvdEqdYrcp1PgY
Vk&hl=en&sa=X&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
Proibida a reprodução deste material 11
Unidade da Igreja
Este fato é claramente constatado mediante a análise dos seguintes textos: Colossenses
1.18a, onde se lê que: “Ele [Cristo] é a cabeça do corpo, da igreja”; e Efésios 1.22,23, o qual
relata: “E pôs [Cristo] todas as coisas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as
coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as
coisas”. Romanos 12.5 – “Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas
individualmente somos membros uns dos outros”. E também Efésios 4.4-6 – “há somente um
corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há
um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age
por meio de todos e está em todos.”
2
BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. 3 ed. Traduzido por Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 525.
Proibida a reprodução deste material 12
Assim, esta unidade declara que todos aqueles que fazem parte do Corpo de Cristo têm
uma só fé, são unidos pelo amor, e esperam pela futura e gloriosa morada eterna com Cristo.
Esta unidade interior, ou seja, invisível se expressa por meio de uma mesma ética cristã, da sua
adoração pública do mesmo Deus em Cristo, e da sua participação nos mesmos sacramentos.
Mas obviamente existe também a unidade da Igreja visível, como pode ser constatado
em 1Coríntios 12.12,13:
Uma congregação nunca é apenas uma congregação (uma igreja local); é Igreja. Apesar
de suas dificuldades, os coríntios nunca devem pensar em si mesmos como uma organização
humana de pessoas. Eles são o templo do Espírito Santo, o lugar de habitação de Deus (1
Coríntios 3:16). Suas divisões não só são erradas, como também violam toda a natureza da
Igreja como templo de Deus.
A Epístola aos Efésios assume esta unidade, não só para uma congregação local, mas
para todas as congregações, e fala de uma entidade chamada Igreja. Paulo lembra à
congregação de Éfeso que Cristo amava a Igreja (não as igrejas) e se entregou por ela. Esta
Igreja será apresentada ao Senhor em toda a sua glória (Efésios 5:27).
Santidade da Igreja
A Igreja de Deus não é apenas outra organização ou instituição. Isso é porque ela é
santa. A santidade é também uma característica essencial da Igreja. Não é o que a Igreja
produz, mas o que ela é. A santidade se refere mais a uma identidade do que a uma
característica. E é uma das quatro qualidades essenciais que o Credo Niceno usa para descrever
a Igreja que confessamos.
3
ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER. Confissão de fé de Westminster. 17 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. p. 196.
Proibida a reprodução deste material 13
João 17.19 – “E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam
santificados na verdade.”
Rm 1.7 – “A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e
paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.”
1Co 1.2 – “à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus,
chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”.
A pureza ética é certamente uma ideia contida dentro da santidade, mas é uma ideia
derivada. Os utensílios destinados a uso exclusivo no culto a Deus são utensílios sagrados; eles
existem para um único uso e são identificados como tal. As Escrituras são Sagradas Escrituras
porque elas são uma classe própria, ao contrário de outras escrituras. Israel é um povo santo
porque eles são “do Senhor” seu Deus (Dt 7: 6). Entre todos os povos da terra, eles foram
escolhidos para serem o próprio povo de Deus. A escolha de Deus muda sua identidade de “um
entre muitos” para “do Senhor”.
Deus é santo. Este Deus santo é absolutamente puro, ético e moral. Portanto, o pecado,
impureza ou assuntos antiéticos são considerados impuros. Mas devemos lembrar que a
santidade em seu núcleo é uma questão de identidade.
A Igreja pertence a Deus de uma maneira especial. Enquanto todo ser humano é
pecador; nenhuma pessoa, nação ou organização existe fora do controle do Soberano de toda
a terra. Mas a Igreja é Sua possessão especial. A Igreja pertence a Ele. A Igreja não existe
meramente sob Sua soberania; ela foi criada por Si mesmo especialmente para si mesmo. A
Igreja nunca deve compreender a si mesma sem levar em consideração essa identidade como
central para sua existência.
Visto que Deus a identifica como santa e diferente dos outros povos da Terra, os
membros vivem como “peregrinos e estrangeiros” e vem abster-se “das concupiscências
carnais”. O comportamento da Igreja deve ser “exemplar entre os gentios” para que a
diferença de identidade seja reconhecida pelos outros (1 Pedro 2.11-12).
Isso também aborda a tremenda crise de identidade que assola a Igreja desde que ela
descartou suas confissões. A Igreja não sabe mais o que fazer porque esqueceu quem ela é. Ela
Apostolado da Igreja
A Igreja que confessamos neste credo não é feita pelo homem, governada pelo homem,
nem definida pelo homem. Esta Igreja é apostólica em seu caráter. E ser apostólica em seu
caráter significa que ela é enviada por outro - Jesus Cristo. Ele é a origem e a pedra angular da
Igreja (Efésios 2:20). A Igreja apostólica é a Igreja de Deus.
Em 2Co 2.17 Paulo diz: “nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra
de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do
próprio Deus.” Apesar dos comportamentos ímpios e dos membros aparentemente falsos,
Paulo está confiante de que a Igreja de Corinto é uma Igreja verdadeira porque é a Igreja de
Deus. Embora sejam “cuidados por Paulo, através de suas cartas”, tais cartas são em última
instância “carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo
Espírito do Deus vivente” (2Co 3.3).
Os apóstolos não são criadores ambiciosos, mas embaixadores nomeados pelo próprio
Deus para trazer a Sua mensagem ao mundo. Através desta mensagem pregada, Deus está
formando uma comunidade que “se torna a justiça de Deus em Cristo” (2Co 5.21). A Igreja
apostólica é a Igreja que se porta como embaixadora de Cristo aqui na terra, com uma
mensagem ao mundo, a mensagem do Evangelho. Portanto, a apostolicidade da Igreja
também traz implicações para a missão da Igreja. Falar em Igreja apostólica é falar sobre o
conteúdo que carregamos (A doutrina dos apóstolos), mas é também falar da natureza
missional da igreja, como embaixadores que carregam uma mensagem.
Catolicidade da Igreja
A maior parte da controvérsia nos círculos evangélicos sobre esses credos gira em torno
do significado da palavra “católica”. Principalmente em nosso país, onde o catolicismo romano
é muito forte, as pessoas confundem.
A natureza específica da Igreja Cristã é que ela é católica. Esta palavra, embora muito
abusada na eclesiologia romana, é uma palavra necessária e extremamente útil.
4
Strong, Systematic Theology (reprint; Old Tappan, New Jersey: Fleming H. Revell Company, 1976), p.887.
5
J. Todd Billings, “Catholic and Reformed: Rediscovering a Tradition,” Pro Ecclesia 23, no 2 (March, 2014), 132
(Tradução nossa).
Proibida a reprodução deste material 16
Seguindo a mesma linha de raciocínio, o artigo 27 da Confissão Belga também afirma
que existe apenas uma única e santa igreja católica, onde apenas os crentes verdadeiros,
regenerados pelo Espírito Santo e lavado pelo sangue de Cristo, fazem parte. Este igreja
católica difere das igrejas locais, visíveis e imperfeitas:
Cremos e confessamos uma só igreja católica ou universal. Ela é uma santa congregação
e assembleia dos verdadeiros crentes em Cristo, que esperam toda a sua salvação de
Jesus Cristo, lavados pelo sangue dEle, santificados e selados pelo Espírito Santo.
Esta igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o fim. Pois, Cristo é um Rei
eterno, que não pode estar sem súditos. Esta santa igreja é mantida por Deus contra o
furor do mundo inteiro, mesmo que ela, às vezes, por algum tempo, seja muito pequena
e na opinião dos homens, quase desaparecida. Assim, Deus guardou para si, na perigosa
época de Acabe, sete mil homens, que não tinham dobrado os joelhos a Baal.
Esta santa igreja também não está situada, fixada ou limitada em certo lugar, ou ligada a
certas pessoas, mas ela está espalhada e dispersa pelo mundo inteiro. Contudo, está
integrada e unida, de coração e vontade, no mesmo Espírito, pelo poder da fé.
II. A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo
restrita a uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo
inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do
Considerações Finais
Diante de tudo isto, é fundamental que resgatemos as vozes dos credos e confissões
reformada e enfatizemos a catolicidade da igreja e da fé cristã no mundo de hoje. Na
catolicidade nós enxergamos a igreja como a “a multiforme sabedoria de Deus” (Cf.: Efésios
3:10), e quando compreendemos esta catolicidade tão enfatizada pelos credos e confissões da
igreja, nos envolvemos no mundo criado por Deus, em todas as suas esferas, e demonstramos
com palavras e ações que a cura para todo o mal no mundo está no evangelho de Jesus Cristo e
na verdadeira igreja cristã, na comunhão dos santos. Por fim, nas palavras de Cirilo de
Jerusalém (313-386 d.C):
6
Cirilo de Jerusalém, “Epístolas Catequéticas” (XVIII, 23).
Proibida a reprodução deste material 18
Episcopal
Os episcopais afirmam que Cristo, como Chefe da igreja, confiou o governo da igreja
direta e exclusivamente a uma ordem de bispos, considerados estes como sucessores dos
apóstolos; e que Ele constituiu estes bispos numa ordem separada, independente e capacitada
para perpetuar-se. Neste sistema, a comunidade dos crentes, não tem absolutamente
nenhuma participação no governo da igreja. Nos primeiros séculos [de sua história], era este o
sistema da Igreja Católica Romana.
Berkhof vai dizer que “a Bíblia não oferece base para a existência de tal classe separada
de oficiais superiores, dotados do direito inerente de ordenação e jurisdição, e que, portanto,
não representam o povo e nem tampouco, em nenhum sentido da expressão, derivam do povo
o seu ofício”.
De maneira geral, essa forma de governo é caracterizada por ter um “Líder Maior”,
geralmente chamado de Epíscopo, Papa, Bispo, Pastor Presidente e até Apóstolo, que governa
todos os outros líderes e demais membros da igreja. É ele quem toma todas as decisões. Ou
seja, “Um” governa a “Todos” (Igreja Episcopal, Universal, Católica, Assembléia de Deus e a
maioria das igreja neopentecostais)
Pontos positivos: Esse talvez seja o modelo de governo que dê mais agilidade à igreja.
Tudo só depende da aprovação de uma pessoa. Por exemplo: a reforma do prédio do
departamento infantil da igreja. O Epíscopo decide fazer, quem vai fazer e o que vai ser feito.
Tudo é resolvido de forma rápida e ágil.
Congregacional
Segundo ele, cada igreja ou congregação é uma igreja completa, independente de todas
as demais. Nesse tipo de igreja o poder de governo fica exclusivamente com os membros da
igreja, que têm autoridade para regulamentar os seus próprios assuntos. Os oficiais são simples
funcionários da igreja local, designados para ensinarem e para administrarem os interesses da
igreja, e não têm poder de governo além do que possuem como membros da igreja.
Pontos positivos: Uma das principais vantagens dessa forma de governo eclesiástico é
que ninguém pode reclamar por não ter sido consultado ou ainda ouvido. Todos os membros
têm direito a voto e a opinar sobre os mais diversos da igreja. Usando o mesmo exemplo da a
reforma do prédio do departamento infantil da igreja, todos podem opinar sobre a necessidade
dessa reforma, sobre as pessoas a serem contratadas e até sobre o material a ser utilizado.
Ninguém pode dizer depois que não sabia ou que não foi ouvido. Isso acaba diminuindo
bastante o grau de insatisfação da comunidade.
Presbiteriano
Nesse Regime de governo “Alguns” são eleitos para governar a “Todos” (IPB, IPI, por
exemplo). É um governo representativo.
Cremos ser a forma de governo eclesiástico que mais se aproxima do modelo bíblico. É
o governo do povo por meio de representantes por ele escolhido. Calvino, em sua
interpretação das Escrituras sobre esse assunto, considera também ser o governo
representativo aquele que foi ensinado pelos apóstolos para a organização da Igreja de Cristo.
Mateus 28.18 “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no
céu e na terra.”
Efésios 1.20-22 “o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o
sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e
domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no
vindouro. E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o
deu à igreja”
Cristo é o cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele mantém a relação viva e orgânica com ela,
ele a enche de vida e a governa espiritualmente.
Cristo não governa a igreja pela força, mas sim, subjetivamente, por seu Espírito, que age na
igreja, e objetivamente, pela Palavra de Deus como o padrão de autoridade. Todos os crentes
estão obrigados a obedecer à Palavra de Deus. Não existe poder de governar independente de
Cristo.
Cristo delega o poder eclesiástico à igreja como um todo e aos oficiais, igualmente. Porém,
Berkhof diz que “os oficiais recebem uma porção adicional de poder, como se requer para o
cumprimento dos seus respectivos deveres na igreja de Cristo”. São representantes do povo.
Enquanto Cristo delegou poder à igreja como um todo, também providenciou para que este
poder fosse exercício ordinariamente e especificamente por órgãos representativos, separados
para a manutenção da doutrina, do culto e da disciplina. Os oficiais da igreja são os
representantes do povo, escolhidos pelo voto popular. Isso não significa que eles recebem sua
autoridade do povo, pois a eleição do povo é apenas a confirmação do chamado interior feito
pelo Senhor; e é do próprio Senhor que eles recebem sua autoridade e à Ele são responsáveis.
Portanto, o poder ou autoridade da igreja não reside antes de tudo na assembleia geral de
alguma igreja. Tem sua sede original no conselho da igreja local.
Art.3. O poder da Igreja é espiritual e administrativo, residindo na corporação, isto é, nos que
governam e nos que são governados.
Parag. 1 – A autoridade dos que são governados (povo) é exercida pelo povo reunido em
assembleia.
Parag. 2 – A autoridade dos que governam é de ordem e de jurisdição. É de ordem, quando
exercida por oficiais, individualmente, na administração de sacramentos e na impetração da
bênção pelos ministros e na integração de concílios por ministros e presbíteros. É de jurisdição,
quando exercida coletivamente por oficiais, em concílios, para legislar, julgar, admitir, excluir
ou transferir membros e administrar as comunidades.
Atos 11.30 “o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de
Barnabé e de Saulo.”
Atos 14.23 “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com
jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.”
Atos 15.2,4,6,22 “Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda e não pequena
discussão com eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a
Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão. [...] Tendo eles chegado a
Tiago instrui: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele,
ungindo-o com azeite em nome do Senhor” (5.14).
Vemos também que pelo menos 2 apóstolos, Pedro (1Pe. 5.1: “eu, presbítero como eles”) e
Joao (2Jo. 1: “o presbítero à senhora eleita” e 3Jo. 1: “o presbítero ao amado Gaio”) chamavam
a si próprios de presbíteros.
Elas não acreditam em nenhum governo de um homem só, seja este um presbítero, um pastor
ou um bispo; tampouco acreditam em governo popular. Elas elegem presbíteros regentes
como seus representantes, e estes, juntamente com o(os) ministro(s), formam um conselho ou
consistório para o governo da igreja local. Muito semelhantemente, os apóstolos eram guiados
pelo respeitado costume de se terem presbíteros na sinagoga, e não por algum mandamento
direto, quando ordenavam presbíteros nas diversas igrejas fundadas por eles.
Os presbíteros são escolhidos pelo povo como homens especialmente qualificados para
governar a igreja. Berkhof diz, “os presbíteros, embora representantes do povo, não derivam
sua autoridade do povo, mas do Senhor da igreja. Eles exercem o governo sobre a casa de
Deus, em nome do Rei, e são responsáveis unicamente perante Ele.”
Atos 20.28 “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu
bispos (presbíteros) para pastoreardes (apascentar, governar, nutrir, cuidar) a igreja de Deus, a
qual ele comprou com o seu próprio sangue.” Claramente se vê que estes oficiais detinham a
superintendência do rebanho que fora entregue aos seus cuidados. Eles tinham que abastecê-
lo, governá-lo e protegê-lo, como sendo da própria família de Deus.
Berkhof afirma que “Jesus Cristo não somente fundou a igreja, mas também a revestiu do
necessário poder ou autoridade. Ele é a Cabeça da igreja, não apenas no sentido orgânico, mas
também no sentido administrativo”. (Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 594).
Ele mesmo falou da igreja como fundada tão solidamente sobre uma rocha que as portas do
inferno não prevaleceriam contra ela, Mt 16.18; e na mesma ocasião – exatamente a primeira
em que Ele fez menção da igreja – também prometeu dota-la de poder, quando disse a Pedro:
“Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que
desligares na terra, terá sido desligado nos céus” (Mt 16.19). E com as chaves do reino dos céus
Pedro recebe poder para ligar e desligar, o que neste contexto, parece significar, determinar o
que é proibido e o que é permitido na esfera da igreja.
Herman Bavinck entende que as chaves são um sinal de controle ou autoridade (Is 22.22; Lc
11.52; Ap 1.18; 3.7; 9.1; 20.1) e, aqui, denotam o poder de Pedro de “abrir” e “fechar” o reino dos
céus, isto é, determinar o que acontecerá ou não acontecerá. “As palavras aramaicas que, em
Mateus, foram traduzidas por “ligar” e “desligar” significam “declarar ser permitido ou
proibido”. Pedro, portanto, recebe de Jesus o poder de determinar – com base ou de acordo
com sua confissão de Jesus como o Cristo – o que será ou não será permitido no reino que está
sendo estabelecido aqui sobre a terra e tem seu centro na igreja.
Num contexto de disciplina, Mateus 18.18 “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra
terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus.” Bavinck
vai dizer que “essa comunidade pode e deve agir dessa forma porque os apóstolos, falando
com autoridade divina, lançaram o fundamento dessa medida disciplinar (v.18) e porque o
próprio Cristo habita nela (v.19-20)”.
João 20.23 “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são
retidos.”
Além disso, Cristo dá a essas comunidades eclesiásticas ofícios, ministérios, dons (Rm 12.6ss.;
1Co 12–14; Ef 4.11).
A eclesiologia reformada identificou três tipos de poder, em conexão com os três ofícios
de Cristo (Profeta, Rei e Sacerdote):
1. O poder de ensinar (ofício profético)
2. O poder de governar (ofício real)
3. O poder ou ministério de misericórdia (ofício sacerdotal)
O poder de ensinar tem suas raízes no ofício profético para o qual Cristo foi ungido e
que ele, continuamente, ainda exerce por meio de sua Palavra e de seu Espírito. Apesar dele
ainda continuar exercendo esse poder profético, ele regularmente emprega pessoas como
seus órgãos, não apenas oficiais no sentido estrito, mas todos os crentes, cada um deles de
acordo com a graça que lhe foi dada.
Sendo assim, Bavinck vai dizer que “a igreja é uma profetisa e todos os cristãos
participam da unção de Cristo e são chamados a confessar seu nome.” (p. 420). Bavinck vai
além e diz que “Cristo está ativo no ensino por meio dos pais, em casa, por meio do professor,
na escola, por meio do presbítero no momento da visita domiciliar e por meio de todos os
crentes em seus contatos mútuos e em suas associações uns com os outros, e [...] de um modo
distinto, oficialmente, com um mandato e uma autoridade expressamente dados, nas reuniões
públicas do povo de Deus, por meio do ministro da Palavra.” (p. 420).
Por meio do poder do ensino, queremos nos referir primariamente a essa ministração
oficial da Palavra de Deus. Dentro desse poder de ensino (ofício profético), também nos
referimos aos sacramentos (Palavra e sacramentos). Bavinck diz que “a Palavra tem
precedência e o sacramento é acrescentado como um selo... Não há sacramento sem a Palavra,
mas há Palavra sem o sacramento [...] O sacramento segue a Palavra” (p. 420).
Esse ensino não deve ser visto apenas num sentido intelectualista. Nós fazemos isso
ensinando, admoestando, confortando e repreendendo de acordo com a necessidade de cada
um, proclamando a salvação e a reconciliação com Deus por meio da fé em Jesus. A igreja
administra esse poder de ensino ministrando a Palavra de Deus especificamente em forma de
“leite” para os membros mais imaturos, e em forma de “alimento sólido” para os membros
mais maduros, e segundo Bavinck, “de tal forma que todo o conselho de Deus, todas as
riquezas de sua Palavra, sejam mostrados, desenvolvidos e aplicados de acordo com as
necessidades de cada povo e cada país, de cada época e período, de cada igreja e de todos os
crentes em particular” (p. 421)
Cf.: 2Co 5:20 – “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus
exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com
Deus.” / 2Tm 2.15 – “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que
se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” / 2Tm 4.2 “prega a palavra, insta, quer
seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.”
Cristo não é apenas um profeta, mas também um rei que, continuamente, governa sua
igreja pessoalmente. Em um sentido amplo, com esse poder, nos referimos a toda liderança e
cuidado que os crentes exercem e concedem uns aos outros. Somos todos membros uns dos
outros; sofremos e nos alegramos uns com os outros. E Cristo, por meio de seu Espírito,
concede dons de orientação e governo à igreja (Rm 12.8 “o que preside, com diligência”)
“Cristo governa sua igreja por meio do dom e do poder de governo. Isso também é
responsabilidade de todos os crentes, mas é especialmente confiado ao ofício de
ancião/presbítero” (Bavinck, DR, vol.4, p. 396). Esse governo é espiritual e caracterizado por
serviço amoroso. Esse governo é um governo de cuidado do rebanho (Jo 21.15-17; 1Pe 5.2). O
poder e a dominação terrenos estão excluídos.
Bavinck afirma que “embora, os crentes sejam, de fato, chamados a considerar como
podem estimular mutuamente ao amor e às boas obras (Hb 10.24), para garantir que nenhuma
ovelha deixará de receber os cuidados que precisa, Cristo incumbiu a alimentação do rebanho a
um ofício em particular. Ao fazer isso, ele supriu uma necessidade essencial da igreja [...] a
necessidade de cuidado espiritual...” (p. 423). A igreja precisa de orientação e cuidado, precisa
de ensino e instrução, admoestação e consolação.
Deus disciplina seus filhos: Hb 12.5-11. Cristo disciplina sua igreja: Ap 3.19.
E ele faz isso por meio da Escritura, que é “útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16). Esse tipo de disciplina Cristo também instituiu
em sua igreja (Mt 16 – deu as chaves do reino a Pedro; 18 – deu as chaves do reino a igreja; Jo
20.23 – deu as chaves do reino aos apóstolos). Bavinck afirma, “é somente porque Cristo deu
esse poder à sua igreja que ela tem a autoridade de exercer disciplina” (p. 425).
Cristo também é um sacerdote que, do céu, ainda exerce consistentemente esse ofício
em sua igreja agora. Assim como Cristo ensina os que lhe pertencem como profeta e os
governa e disciplina como rei, assim também, como sacerdote, ele demonstra as riquezas de
sua misericórdia.
Conclusão
A relação que tem de existir entre a igreja e o mundo é, em primeiro lugar, de caráter
orgânico, moral e espiritual. Cristo – ainda hoje – é profeta, sacerdote e rei, e, por meio de sua
Palavra, impacta persuasivamente todo o mundo. Por meio de Cristo, a Igreja exerce uma
influência renovadora e santificadora sobre a família, a sociedade, o estado, os negócios, a
arte, a ciência e assim por diante.
A salvação não é a linha de chegada da vida cristã. É o ponto de partida de nossa maturidade
cristã. Pedro vai dizer que, segundo o poder de Deus “nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a
sua própria glória” (2Pe 1.3).
Essas “coisas que nos conduzem à piedade” são chamadas de “meios de graça”.
De acordo com Hodge, meios de graça são “instituições que Deus ordenou para serem os
canais ordinários da graça, ou seja, das influências sobrenaturais do Espírito Santo, para as
almas dos homens.” (Charles Hodge, Teologia Sistemática, 3, p.466).
Wayne Grudem define meios de graças assim: “meios de graça são quaisquer atividades na
comunhão da igreja que Deus usa para distribuir mais graça aos cristãos” (p. 801).
O Catecismo Menor de Westminster, em resposta à pergunta 88, diz que os meios de graça são
“meios exteriores e ordinários pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos”. O Catecismo de
Westminster considera então a Palavra, os sacramentos e a oração como meios de graça.
Joel Beeke considera meios de graça “como qualquer exercício pessoal através do qual Deus
possa nos aproximar de Cristo.”
2 – Conceitos históricos
Houve uma considerável diferença de opinião a respeito dos meios de graça na história da
Igreja. A Igreja primitiva não nos fornece nada muito definido sobre este ponto. No curso do
tempo, no entanto, certas opiniões definidas foram desenvolvidas.
1. A VISÃO CATÓLICO-ROMANA.
Enquanto os católicos romanos consideravam até relíquias e imagens como meios de graça,
destacavam particularmente a Palavra e os sacramentos. Ao mesmo tempo, eles falharam em
dar proeminência à Palavra, e atribuíram-lhe apenas significado preparatório na obra da graça.
Em comparação com a Palavra, os sacramentos eram considerados os meios reais de graça,
superiores à Palavra.
No sistema que foi gradualmente desenvolvido a Igreja de Roma reconhece um meio que é
mesmo superior aos sacramentos. A própria Igreja é considerada como o principal meio de
graça. Esta graça serve especialmente para elevar o homem da ordem natural à sobrenatural.
Fora de Cristo, da Igreja e do sacramento, não há salvação.
Proibida a reprodução deste material 29
2. A VISÃO LUTERANA.
Com a Reforma, a ênfase foi deslocada dos sacramentos para a Palavra de Deus. Lutero deu
grande destaque à Palavra de Deus como o principal meio de graça. Ele ressaltou que os
sacramentos não têm significado além da Palavra e eles são de fato apenas a Palavra visível.
Ele não conseguiu inteiramente corrigir o erro católico romano quanto à ligação inseparável
entre os meios exteriores e a graça interior comunicada através deles. Ele também concebeu a
graça de Deus como uma espécie de substância contida nos meios e não para ser obtida
separadamente dos meios. O corpo e o sangue de Cristo estão “dentro, com e sob” os
elementos do pão e do vinho. Foi especialmente a sua oposição à subjetividade dos anabatistas
que levou Lutero a enfatizar o caráter objetivo dos sacramentos e a tornar sua eficácia
dependente de sua instituição divina, e não da fé dos destinatários.
3. A VISÃO MÍSTICA.
Lutero teve que lutar muito com os anabatistas místicos, e foi especialmente sua reação a suas
opiniões que determinaram sua visão final dos meios de graça. Os anabatistas e outras seitas
místicas da era da Reforma e dos tempos posteriores negam virtualmente que Deus se valha de
meios na distribuição de Sua graça. Eles enfatizam o fato de que Deus é absolutamente livre
em comunicar Sua graça, e portanto dificilmente pode ser concebido como ligado a tais meios
externos. Tais meios afinal pertencem ao mundo natural, e não têm nada em comum com o
mundo espiritual. Deus ou Cristo, ou o Espírito Santo, trabalham diretamente no coração, e
tanto a Palavra quanto os sacramentos só podem servir para indicar ou simbolizar essa graça
interna. Toda esta concepção é determinada por uma visão dualista da natureza e da graça.
4. A VISÃO RACIONALISTA.
Os socinianos dos dias da Reforma, por outro lado, avançaram muito na direção oposta. Eles
reconheceram o batismo e a Ceia do Senhor como ritos de validade permanente, mas
atribuíram-lhes apenas uma eficácia moral. Isso significa que eles pensavam que os meios da
graça funcionavam apenas através da persuasão moral e não os associavam a nenhuma
operação mística do Espírito Santo. De fato, colocaram a ênfase mais no que o homem faz nos
meios de graça do que no que Deus realizou através deles. (Obs.: De Acordo com Bavinck,
Zwinglio se encaixa nesta visão).
5. A VISÃO REFORMADA.
Enquanto a reação aos anabatistas fez com que os luteranos se movessem na direção de Roma
e vinculassem a graça de Deus aos meios de graça no sentido mais absoluto - uma posição
também tomada por alguns Anglicanos, as Igrejas Reformadas continuaram a visão original do
Reforma.
Eles negam que os meios da graça possam por si mesmos conferir graça, como se fossem
dotados de um poder mágico para produzir a santidade. Somente Deus e é a causa eficiente da
3 – A Doutrina Reformada
Joel Beeke destaca dois âmbitos dos meios de graça: o particular e o corporativo:
1. Ler as Escrituras.
Joel Beeke diz que “você não irá crescer muito em santidade e a sua vida não irá impactar
outras pessoas se você não estiver diariamente buscando, amando, vivendo as Escrituras”.
3. Oração e Prática.
Os reformadores diziam “Orare et labutare” – ore e labute. John Bunyan já dizia: “Você
pode fazer mais do que orar depois de ter orado, mas você não pode fazer nada mais do que
orar até ter orado”. Quanto mais oramos, mais saberemos quão pouco temos dessa graça. Por
isso, priorize a oração; entregue a sua vida à oração.
Grudem vai dizer que “tanto a oração coletiva da igreja reunida quanto a oração dos cristãos,
[...] são meios poderosos que o Espírito Santo usa cotidianamente para distribuir bênçãos aos
salvos” (p. 806).
1. Pregação da Palavra.
Precisamos fazer melhor uso da pregação, afirma Joel Beeke. 2Tm 3.16 diz que a Palavra é
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”. É lâmpada
para os nossos pés e luz para os nossos caminhos (Sl 119.105). Wayne Grudem vai dizer que o
ensino da Palavra deve ser o primeiro e mais importante meio de graça dentro da igreja.
Cf. também a resposta da pergunta 90, “Para que a Palavra se torne eficaz para a salvação
devemos ouvi-la com diligência, preparação e oração; recebe-la com fé e amor, guarda-la em
nosso coração e praticá-la em nossa vida”.
2. Sacramentos.
Os sacramentos trazem a Palavra de forma mais sensorial (Batismo e Ceia do Senhor).
Pergunta 91 do Breve Catecismo: “Como os sacramentos se tornam meios eficazes para a
salvação? Resposta: Os sacramentos tornam-se meios eficazes para a salvação não por alguma
virtude que eles ou aqueles que os ministram tenham, mas somente pela bênção de Cristo e
pela obra do seu Espírito naqueles que pela fé os recebem.
Conclusão
Em todos esses meios de graça devemos buscar a Cristo, nos aproximar de Cristo. Toda
a nossa santidade está em Cristo. E usamos esses meios de graça para nos preparar e nos
santificar para o nosso encontro com Cristo, na glória.
Capítulo 8. Os sacramentos
• Definição e conceitos
Berkhof traduz sacramento como “uma santa ordenança instituída por Cristo, na qual, mediante
sinais perceptíveis, a graça de Deus em Cristo e os benefícios da aliança da graça são
representados, selados e aplicados aos crentes, e estes, por sua vez, expressam sua fé e sua
fidelidade a Deus”.
Segundo a Confissão Belga, sacramentos “são sinais e selos visíveis de uma realidade interna e
invisível”.
Calvino, no Catecismo de Genebra de 1537, afirma que um sacramento “é uma marca exterior
da graça de Deus que, por um sinal visível, nos representa coisas espirituais, por imprimir as
promessas de Deus mais fortemente em nossos corações, e por nos tornar mais seguros
delas”.
Nas Institutas, Calvino fala que sacramento “é o sinal externo mediante o qual o Senhor nos
sela à consciência as promessas de sua benevolência para conosco, a fim de suster-nos a
fraqueza de nossa fé, e nós, de nossa parte, atestamos nossa piedade para com Ele, tanto
diante d’Ele, dos anjos, quanto dos homens”. (Inst. 4.14.4). Calvino entende que sua teologia
sacramental está alinhada com o pensamento de Agostinho. Ele diz: “a definição nada difere
em sentido daquele de Agostinho, que ensina ser o sacramento ‘o sinal visível de uma coisa
sagrado’, ou, ‘a forma visível de uma graça invisível’”.
Herman Bavinck, sobre os sacramentos, diz que eles são sinais visíveis de uma graça invisível
para fortalecer nossa fé e nos ajudar a viver uma vida santa de uma maneira que agrada a Deus.
[...] esses sinais visíveis e externos (os sacramentos) traz consequências internas para nossos
corações e mentes.
Podemos dizer então, que existe um consenso em afirmar que sacramento é o sinal visível de
uma graça invisível. Diante dessa definição, Berkhof distingue as 3 partes nos sacramentos: (1)
o sinal visível ou externo; (2) a graça invisível significada e selada; e (3) a união sacramental
entre o sinal visível e a coisa invisível significada:
1) O sinal visível
Cada sacramento contém um elemento material, palpável aos sentidos. O objeto visível e
externo do sacramento inclui, não somente os elementos que se usam (água para o batismo,
Resumidamente, pode-se dizer que consiste de Cristo e todas as suas riquezas espirituais.
Berkhof diz que “os sacramentos não significam meramente uma verdade geral, mas uma
promessa dada a nós e por nós aceita, e servem para fortalecer a nossa fé com respeito à
realização dessa promessa [...] Como sinais e selos, eles [os sacramentos] são meios de graça,
isto é, meios pelos quais se fortalece a graça interna produzida no coração pelo Espírito
Santo”.
Essa relação não é física (como afirmam os católicos romanos), como se a graça invisível (a coisa
significada) fosse inerente (fizesse parte da essência) do sinal visível, como se elas se
tornassem a mesma coisa.
Essa relação não é local (como afirmam os luteranos), como se o sinal visível e a coisa significada
estivessem presentes no mesmo espaço, de forma que tanto os crentes como os incrédulos
recebessem o sacramento completo ao receberem o sinal.
Essa relação é espiritual (de acordo com a teologia reformada), de modo que, quando o
sacramento é recebido com fé, a graça de Deus o acompanha. De acordo com esse conceito, o
sinal visível torna-se um meio (meio de graça) empregado pelo Espírito Santo na comunicação
de sua graça.
Bavinck, falando sobre essa relação entre o sinal visível e a coisa significada, afirma, “a palavra
escrita, diz-se, expressa o que está escrito no coração de cada crente, e os sacramentos só tornam
externamente visível aos nossos olhos o que Cristo concede internamente pelo seu Espírito.” (DR,
vol.4 [519]).
Deus graciosamente usa meios que podemos entende para se comunicar com a gente. Ele não
precisava fazer isso, porque ele podia simplesmente aplicar todos os benefícios de Cristo,
internamente em nossos corações, mas ele escolheu fazer isso por meios externos, para que
pudéssemos ver e entender – “provar e ver que o Senhor é bom” (Sl 34).
A CFW afirma que a graça significada nos sacramentos depende “da obra do Espírito e da
Palavra da instituição, a qual, juntamente com o preceito que autoriza o uso deles, contém uma
promessa de benefício aos que dignamente o recebem”.
Os 39 artigos da Igreja Anglicana (1563) professam esse aspecto de forma bastante clara:
“Para aqueles que recebem os sacramentos, que lhes são ministrados pela fé e de
maneira adequada, a eficácia das ordenanças de Cristo não é anulada pela maldade do
sacerdote, tampouco é por esta razão diminuída a graça dos dons de Deus. Tudo isto é
válido em função da instituição e da promessa de Cristo, mesmo quando ministrado por
pessoas indignas.”
Bavinck também afirma: “Somente Deus pode ser o autor, iniciador e a causa eficiente dos
sacramentos. Só Ele é o possuidor e distribuidor de toda graça. Só ele pode determinar a quais
meios ele se ligará na distribuição de sua graça. Além disso, também Cristo tem o direito de
instituir sacramentos, pois, como Mediador, ele é o aquisitor de toda a graça divina.” (vol.4,
p.480 [525]).
Isso significa que não cabe a nós, seres humanos, inventar, imaginar ou criar novas formas e
maneiras de adorar a Deus e agradá-lo. Só ele é quem nos fornece tudo o que é necessário para
que possamos viver, adorar e agradar, como igreja.
Os católicos romanos afirmam que os sacramentos funcionam “ex opere operato”, ou seja,
“pelo ato realizado”. É como se eles tivessem poder por si só, ou transmitissem graça pela ato
em si, sem depender de qualquer outra coisa.
Proibida a reprodução deste material 36
Por outro lado, os reformadores ensinam que os sacramentos são obrigatórios em vista do
preceito divino. A negligência voluntária do seu uso redunda em empobrecimento espiritual.
Bavinck diz que “não é a privação, mas o desprezo do sacramento que faz com que uma
pessoa seja culpável diante de Deus”.
Porém, não são absolutamente necessários para a salvação. Os sacramentos não produzem fé,
mas eles pressupõem a fé, reforçam/fortalecem a fé, assim como uma aliança de casamento
reforça o amor.
Bavinck diz que, “é necessário, por parte do sujeito, que sua mente seja iluminada, sua vontade
seja convencida para que possa verdadeiramente entender e aceitar o sacramento [...] Os
reformados afirmaram que, embora Cristo seja, de fato, objetiva, verdadeira, e seriamente
oferecido a todos os participantes no sacramento, assim como na Palavra a todos que a
ouvem, subjetivamente, é necessária uma ação do Espírito Santo para que o verdadeiro poder
do sacramento seja desfrutado” (vol4, p. 494).
Bavinck conclui seu pensamento sobre os sacramentos dizendo que “eles renovam a aliança do
crente com Deus, fortalecem-nos na comunhão com Cristo, unem-nos mais estreitamente uns
aos outros, separam-nos do mundo e dão testemunho aos anjos e aos seus companheiros
humanos, mostrando que são povo de Deus, igreja de Cristo, a comunhão dos santos” (vol.4, p.
496).
Por isso, uma vez que a plena concretização da graça tipificada por aqueles sacramentos
dependia da vinda de Cristo, os santos do AT foram encerrados no Limbus Patrum (Limbo) até
Cristo os tirar de lá.
1) O batismo, que não apenas remove a culpa e a punição pelo pecado, mas também liberta os
crentes da corrupção do pecado, ou seja, tem poder salvífico.
2) A confirmação (crisma) que consiste na imposição de mãos, na unção com óleo e no
pronunciamento de uma fórmula pelo bispo. Foi introduzida pela igreja. Momento em que o
batizado reafirma sua fé (nossa profissão de fé).
3) Eucaristia. Onde o próprio Cristo está presente com sua natureza divina e sua natureza
humana, fisicamente nos elementos (pão e vinho).
4) Penitência. Para restaurar e renovar sua graça salvadora. É a confissão de pecados diante de
um sacerdote. Um tipo de tribunal no qual o sacerdote julga com base nos livros penitenciais os
pecados confessados. Embora absolva o penitente da culpa e da punição eternas, impõe uma
ampla variedade de penalidades, na terra ou no purgatório.
7
1Co 10.1-4: “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram
pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. Todos eles comeram de
um só manjar espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia.
E a pedra era Cristo.”
8
Rm 4.11: “E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a
ser o pai de todos os que creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça.”
9
1Co 5.7: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também
Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.”
10
Cl 2.11: “Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da
carne, que é a circuncisão de Cristo.”
Proibida a reprodução deste material 38
5) Extrema unção. Serve para preparar a pessoa que está à beira da morte para a morte.
Liberta a alma de seus defeitos e concede força necessária para enfrentar a morte.
6) Santas ordens. Distingue o sacerdote do leigo. Um dom do Espírito Santo que concede ao
sacerdote o poder de transformar o pão e o vinho da missa no corpo e no sangue de Cristo
literalmente, e de perdoar os pecados.
7) Casamento. O sacerdote não apenas une os cônjuges por meio de vínculos naturais, mas
também por meio da graça sobrenatural e os fortalece para que perseverem em mútuo amor
até a morte.
Pelo lado dos reformadores, Bavinck diz que, apesar de toda a apreciação da beleza dos
sacramentos da Igreja de Roma, o que define a questão para os cristãos protestantes é a
evidência escriturística que está ausente para os cinco sacramentos que Roma acrescentou ao
batismo e à Ceia do Senhor.
Para os reformadores, havia dois sacramentos, tanto no AT quanto no NT. No AT, a circuncisão
e a páscoa; e no NT, o batismo e a Ceia do Senhor ou Santa Ceia. A CFW, cap. 27, par. 5 diz: “Os
sacramentos do Antigo Testamento, quanto às coisas espirituais por eles significadas e
representadas, eram, em substância, os mesmos que os do Novo Testamento” (Cf. 1Co 10.1-4).
Ambos os sacramentos estão enraizados no Antigo Testamento. O Batismo tem sua raiz na
circuncisão do Antigo Testamento. Toda criança do sexo masculino, ao oitavo dia de vida,
deveria ser submetido ao ato da circuncisão (Gênesis 17:1211). Porém, a partir do momento em
que Jesus veio ao mundo, a circuncisão já não é mais necessária, pois Ele instituiu uma outra
cerimônia, não somente para os meninos de oito dias, mas para todo aquele que crê [cristãos
adultos] e para seus filhos que também fazem parte da mesma aliança com Cristo [crianças]
(Colossense 2:11-1512).
Quando olhamos para o Antigo Testamento, o que vemos em Gênesis 15 é uma cerimônia de
aliança que era bastante típica para o tempo de Abraão. Quando duas partes faziam uma
aliança, eles dividiram / cortavam o animal ao meio e passavam através das partes, declarando
assim que aquele era um acordo de vida ou morte, e que mereceria ser resgado ao meio caso
violassem o acordo. Neste caso, somente Deus passou através das partes porque só Ele estava
fazendo promessas (Gn 15.17). Ele estava instituindo Sua aliança com Abraão.
Quando Deus entra em aliança com Seu povo, fazendo-lhes promessas de redenção, Seu
padrão é atestar a autenticidade da aliança ao dar algum tipo de sinal externo. Por exemplo,
quando Ele prometeu a Noé que Ele jamais destruiria o mundo novamente através de um
dilúvio, Deus colocou Seu arco no céu. Esse arco foi um sinal visível que confirmou a promessa
de Deus para o futuro deste planeta. Ele estava dizendo que toda vez que vemos um arco-íris,
devemos lembrar que Deus prometeu nunca mais destruir o mundo novamente com uma
inundação.
De maneira semelhante, depois de instituir Sua aliança com Abraão, Deus deu a Abraão e seus
descendentes um sinal de sua participação na aliança: a circuncisão. Este sinal tinha um duplo
significado. Por um lado, o corte do prepúcio era um sinal de que Deus estava dizendo: “Estou
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Gn 17.12: “O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo
nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe.”
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Cl 2.11-15: “Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da
carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente
fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. E a vós outros, que estáveis
mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando
todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual
nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades,
publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.”
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cortando você do resto da humanidade caída e consagrando você como uma nação para mim
mesmo”. Ao mesmo tempo, o sinal era um testemunho para o povo, dizendo, “Ó Deus, se eu
deixar de cumprir os termos desta aliança, se eu deixar de ser fiel a Ti nesta relação de aliança,
que eu seja cortado de todos os benefícios de Tuas Promessas da aliança”.
O ritual da circuncisão foi dado para todas as gerações de israelitas como o sinal da antiga
aliança. É por isso que, se pedíssemos a um judeu que identificasse o sinal da aliança de Deus
com Seu povo, ele diria que o sinal é a circuncisão.
Assim como a circuncisão foi o sinal da antiga aliança, o batismo é o sinal da nova aliança. De
uma maneira muito real, o que a circuncisão foi para o Velho Testamento, o batismo é para o
Novo Testamento. Vemos essa conexão próxima na carta de Paulo aos Colossenses (Cl 2.9-15).
Continuidade da aliança
Agora, é claro que a circuncisão e o batismo não são idênticos, assim como a antiga aliança e a
nova aliança não são idênticas. Mas, como R.C Sproul diz, estas duas alianças não estão em
guerra uma contra a outra. Não existe uma antítese radical entre eles. Há um elemento de
descontinuidade, e é por isso que falamos sobre o antigo e o novo. Se não houvesse nenhuma
diferença entre eles, a distinção entre a antiga e a nova aliança não teria sentido. No entanto, a
nova aliança não está em um estado de total descontinuidade da antiga aliança. Além dos
elementos de descontinuidade, há elementos fortes de continuidade. A nova aliança não
destrói a antiga aliança; antes, a nova aliança cumpre e constrói sobre a antiga.
Dada esta continuidade, é de se esperar que existam muitos paralelos entre os antigos e os
novos pactos. Por exemplo, como já vimos, ambos os pactos têm sinais externos de inclusão,
circuncisão e batismo. Ambos estes sinais têm a ver com os benefícios da salvação que Deus
realiza nas vidas daqueles que creem. Tanto a circuncisão como o batismo significam as
promessas de Deus. E em ambos os casos, é Deus quem institui o sinal.
Isso nos leva ao ponto central que quero abordar - o significado do batismo. Vimos que é um
sinal da nova aliança, mas é um sinal de quê? Qual é o seu significado?
Um sinal aponta para além de si. O batismo não é a salvação e tudo o que a salvação implica.
Mas ele é o sinal que nos aponta para os benefícios de Cristo que recebemos pela fé.
Cremos e confessamos que Jesus Cristo, que é o fim da lei (Romanos 10.4), ao derramar
o Seu sangue pôs fim a todo e qualquer outro derramamento de sangue que se poderia
ou deveria fazer como expiação ou satisfação pelos pecados. Ele aboliu a circuncisão,
que envolvia sangue, e instituiu em lugar dela o sacramento do batismo. Pelo batismo
somos recebidos na igreja de Deus e separados de todos as outras pessoas e falsas
religiões, para estarmos totalmente comprometidos com Ele, de quem carregamos a
marca e o emblema, que nos serve como testemunho de que Ele será eternamente o
nosso Deus e Pai gracioso.
Talvez a característica mais marcante desse parágrafo da CFW seja o número de vírgulas, cada
vírgula desencadeando uma cláusula que indica um significado particular do batismo:
a) Sinal e selo do pacto da graça: Aliança que Deus fez com o ser humano após a Queda. Cap. 8
da CFW diz que nesse pacto da graça Deus livremente oferece aos pecadores a vida e a
salvação por Jesus Cristo.
b) União com Cristo: O Novo Testamento nos ensina que, em nosso estado natural, estamos
afastados / separados de Deus. Isso significa que estamos fora da comunhão com Deus, fora de
Cristo, não em comunhão com Ele. Assim, quando passamos da incredulidade para a fé,
fazemos uma transição. Nós entramos no reino de Deus, em comunhão com Deus, e em uma
relação de salvação com Jesus Cristo depois de estar fora dessas coisas. A salvação, então, é
um movimento de um reino para outro reino, do reino das trevas para o reino da luz. Essa é a
ideia de Paulo em Gálatas 3.27: “porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos
revestistes.”
Por um lado, a morte de Jesus na cruz satisfez a justiça do Pai. Por outro lado, como o bode
expiatório do Antigo Testamento, ao qual os pecados do povo foram transferidos
cerimoniosamente e que depois foi enviado para a escuridão do deserto (Levítico 16), Cristo
tornou-se nosso bode expiatório. Assim, quando o batismo é administrado, a promessa de
Deus de remissão dos nossos pecados é significado.
Por fim, a CFW aponta para a nossa “consagração a Deus, por meio de Jesus Cristo, a fim de
andar em novidade de vida”. Aqui a confissão toca em nossa rendição a Deus, na conversão
(retorno) de nossos próprios caminhos intencionais para seguir a Cristo em submissão a Seu
senhorio. Tendo sido “crucificado com Cristo” (Gálatas 2:20) em nossa união mística com Ele,
somos ressuscitados para uma nova vida, com novos corações que são capazes de escolher os
caminhos de Deus. Queremos andar nesses caminhos, e o batismo é um sinal dessa rendição,
dessa consagração, e da mudança de vida (novidade de vida).
Além de tudo isso, o batismo no Novo Testamento é um sinal de nossa morte e ressurreição
com Cristo. O batismo indica nossa identificação com a morte de Cristo; Por ele, confessamos
que Sua morte foi por nós, que em Sua expiação Ele pagou a penalidade por nosso pecado. Ele
foi ressuscitado como o primogênito de muitos irmãos (Romanos 8.29). Assim, a vitória sobre a
morte, em nome de todos os que estão em Cristo, é também significada pelo batismo.
O modo de batismo
Creio que a igreja primitiva reconheceu essa falta de certeza nas Escrituras (argumentos a favor
e contra batismo por imersão e aspersão). Em um lugar onde a água era escassa e onde poucas
congregações tinham seus próprios edifícios, muito menos pias batismais ou piscinas, a igreja
não era extremamente rígida sobre como o batismo deveria ser realizado. Vemos isso a partir
do Didache, um “manual” da igreja, que data do final do século I ou início do segundo século:
Mas, quanto ao batismo, assim batizarás. Tendo primeiro recitado todas estas coisas,
batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em águas vivas. Mas se tu não
tens água viva, então batiza em outra água; e se tu não és capaz de batizar em água fria,
então em água quente. Mas, se não tiveres, derrama água três vezes na cabeça, em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mas, antes do batismo, aquele que batiza e
aquele que é batizado jejue, e todos os outros que são capazes; e ordenarás ao que é
O escritor do Didache era dogmático sobre o uso da fórmula Trinitária no batismo, mas era
flexível quanto ao modo que era empregado. Assim, desde os primeiros dias, os cristãos
usaram uma variedade de modos para batizar. O modo não importa muito, contanto que o
caráter do sinal do sacramento fosse comunicado.
Minha conclusão é que a questão do modo de batismo não deve dividir os cristãos. A questão
tem sido examinada e debatida por dois mil anos, e estamos longe de chegar à uma conclusão.
Esta é uma área da prática da igreja onde somos chamados a tolerar uns aos os outros e não
caluniar ou difamar aqueles que praticam um modo diferente do que preferimos. O pano de
fundo é que todos estão tentando dizer basicamente a mesma coisa através de qualquer modo
empregado (imersão ou aspersão) - que o destinatário está incluído no corpo de Cristo. A
quantidade de água não deve ser causa de divisões na igreja.
Talvez a controvérsia mais importante sobre esse sacramento seja a questão da legitimidade
do batismo infantil – se devemos ou não batizar crianças. Os principais argumentos usados à
favor do batismo infantil são: (1) as diversas passagens em que famílias inteiras são batizadas (e
entre seus membros, provavelmente, deveriam existir crianças: At 16.15,33; 1Co 1.16). (2) Paulo
trata o batismo como uma contrapartida espiritual da circuncisão (Cl 2.11,12), indicando que
este paralelo poderia ser estendido às crianças.
Alister McGrath diz que existem três grandes correntes sobre esta questão na tradição cristã:
O parágrafo 4 da CFW diz: “Não só o que professam a sua fé em Cristo e obediência a ele, mas
também os filhos de pais crentes (ainda que só um deles o seja) devem ser batizados”.
Rejeitamos, portanto, o erro dos anabatistas, que não se contentam com o batismo que
uma vez receberam e que, além disto, condenam o batismo dos filhos pequenos dos
crentes. Nós cremos, porém, que eles devem ser batizados e, com o sinal da aliança,
devem ser selados, assim como as crianças em Israel eram circuncidadas com base nas
mesmas promessas que foram feitas a nossos filhos. Cristo, de fato, derramou seu
sangue para lavar, igualmente, as crianças dos fiéis e os adultos. Por isso, elas devem
receber o sinal e o sacramento da obra que Cristo fez para elas, como o Senhor, outrora,
na lei, determinava que as crianças participassem, pouco depois do seu nascimento, do
sacramento do sofrimento e da morte de Cristo, através da oferta de um cordeiro, que
era um sacramento de Jesus Cristo. Além disto, o batismo tem, para nossos filhos, o
mesmo efeito que a circuncisão tinha para o povo judeu. É por esta razão que o
apóstolo Paulo chama ao batismo: “a circuncisão de Cristo” (Colossenses 2:11)
A Segunda Confissão Helvética, capítulo 20 “Do Santo Batismo”, caminha na mesma estrada
reformada ao afirmar:
Resposta: O dever necessário, mas muito negligenciado, de tirar proveito de nosso Batismo
deve ser cumprido por nós durante toda a nossa vida, especialmente no tempo de tentação,
quando assistimos à administração desse sacramento a outros:
1) por meio de séria e grata consideração da sua natureza e dos fins para os quais Cristo o
instituiu, dos privilégios e benefícios conferidos e selados por ele e do voto solene que nele
fizemos por meio de humilhação devida à nossa corrupção pecaminosa, às nossas falhas, e ao
andarmos contrários à graça do Batismo e aos nossos votos;
2) por crescermos até à certeza do perdão de pecados e de todas as mais bênçãos a nós
seladas por esse sacramento;
3) por fortalecer-nos pela morte e ressurreição de Cristo, em cujo nome fomos batizados para
mortificação do pecado e a vivificação da graça e
4) por esforçar-nos a viver pela fé, a ter a nossa conversação em santidade e retidão como
convém àqueles que deram os seus nomes a Cristo, e a andar em amor fraternal, como
batizados pelo mesmo Espírito em um só corpo.
Conclusão
“Na noite em que foi traído, nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o sacramento de seu
corpo e sangue, chamado Ceia do Senhor, para ser observado em sua igreja até o fim do
mundo, para ser uma lembrança perpétua do sacrifício que em sua morte ele fez de si
mesmo; para selar, aos verdadeiros crentes, todos os benefícios provenientes desse
sacrifício para o seu nutrimento espiritual e crescimento nele, e seu compromisso de
cumprir todos os seus deveres para com ele; e ser um vínculo e penhor de sua
comunhão com ele e uns com os outros, como membros do seu corpo místico”
b) Ponto de vista reformado. De acordo com o Breve Catecismo de Westminster, pergunta 96,
“Que é a Ceia do Senhor? A Ceia do Senhor é um sacramento, no qual dando-se e recebendo-se
pão e vinho, conforme a instituição de Cristo, se anuncia a sua morte, e aqueles que participam
dignamente, não de uma maneira corporal e carnal, mas pela fé́, tornam-se participantes de
seu corpo e sangue, com todas as suas bênçãos para seu alimento em graça.”
Herman Bavinck afirma que a Ceia, como um meio de graça, tem o propósito de nutrir nossa
alma, fortalecer nossa fé, santificar nossa vida e aprofundar nossa união com Cristo. Participar
da mesa do Senhor amadurece nosso relacionamento e nossa comunhão com Cristo e sua
Igreja.
A Ceia do Senhor tem uma referência passada à morte de Jesus na cruz; e tem uma referência
presente à nossa participação corporativa em Cristo, mediante a fé. Mas também tem uma
referência futura pelo fato de ser uma garantia da segunda vinda de Cristo. A Ceia do Senhor
encoraja o cristão em sua caminhada diária e em sua esperança futura.
• Confissão Belga, cap. 35. “não nos enganamos, dizendo que, o que comemos e
bebemos, é o próprio corpo natural e o próprio sangue de Cristo. Porém, a forma pela
qual os tomamos não é pela boca, mas, espiritual, pela fé. Desta maneira, Jesus Cristo
permanece sentado a direita de Deus, seu Pai, no céu e, contudo, Ele se comunica a nós
Pergunta 78: Pão e vinho, então, se transformam no próprio corpo e sangue de Cristo?
R. Não. Neste ponto há igualdade entre o batismo e a ceia. A água do batismo não se
transforma no sangue de Cristo, nem tira os pecados. Ela é somente um sinal divino e uma
garantia disto. Igualmente o pão da santa ceia não se transforma no próprio corpo de Cristo,
mesmo que seja chamado “corpo de Cristo”, conforme a natureza e o uso dos sacramentos.
Pergunta 79: Por que, então, Cristo chama o pão “seu corpo” e o cálice “seu sangue” ou
“a nova aliança em seu sangue”, e por que Paulo fala sobre “a comunhão do corpo e do sangue
de Cristo”?
R. É por motivo muito sério que Cristo fala assim. Ele nos quer ensinar que seu corpo
crucificado e seu sangue derramado são o verdadeiro alimento e bebida de nossas almas para a
vida eterna, assim como pão e vinho mantêm a vida temporária. E, ainda mais, Ele nos quer
assegurar por estes visíveis sinais e garantias, primeiro: que participamos de seu corpo e
sangue, pela obra do Espírito Santo, tão realmente como recebemos com nossa própria boca
estes santos sinais, em memória dEle; e segundo: que todo o seu sofrimento e obediência são
nossos, tão certo, como se nós mesmos tivéssemos sofrido e pago por nossos pecados.
• Segunda Confissão de Fé Helvética, cap. 21. Também traz um longo argumento sobre a
presença espiritual de Cristo na Ceia.
Bibliografia
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CALVINO, João. As Institutas - Edição Clássica (vol. 4) São Paulo: Cultura Cristã,
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Supper”. (1550).
LOPES, Edson Pereira. “Santa Ceia: Uma das mais significativas controvérsias entre os
Reformadores Lutero, Zwínglio e Calvino”. Ciências da Religião, vol. 6, n. 2 (2008).
MCGRATH, Alister. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica. São Paulo: Vida Nova,
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