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TEOLOGIA SISTEMÁTICA 6

ECLESIOLOGIA REFORMADA

PROF. THIAGO MACHADO SILVA, Th.M.

SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO SUL


2022

Capítulo 1. A Doutrina da Igreja


1 – Nomes e Imagens Bíblicos da Igreja
1.1. Nomes Bíblicos da Igreja:

No Antigo Testamento hebraico, ‫ קהל‬qahal é a palavra que frequentemente descreve a


“assembleia” do povo de Deus. O termo significa uma multidão ou grupo que se reúne
especialmente para o culto (Êx 35.1; Nm 20.4,6; Dt 9.10).

O outro termo é ‫` עדה‬edah, que significa “congregação”, “assembleia”. Em Números 14.7 o


autor usa a palavra `edah para se referir à “congregação”: “E falaram a toda a congregação dos
filhos de Israel, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra muitíssimo boa.”

No Antigo Testamento, a igreja não está claramente definida e a imagem que se tem é a de um
povo, uma nação escolhida e separada por Deus para representá-lo aqui na terra. E este povo é
o povo de Israel. A igreja do Novo Testamento pode até ter começado no Pentecostes, quando
o Espírito Santo desceu sobre os discípulos de Jesus, em Atos 2, mas o povo de Deus nos
remonta à Abraão. Um autor chamado Christopher Wright disse que ao se pensar no povo que
Deus criou e chamou para ser agente de sua missão, deve-se começar em Gênesis 12, com o
chamado de Abrão.

Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu
pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te
abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas
as famílias da terra. (Gênesis 12.1-3)

Em Gênesis 12 a Bíblia relata o chamado e a aliança que Deus faz com Abrão. Neste ponto Deus
começa a estabelecer um povo da aliança para si mesmo, separando Abrão de sua terra, e
transformando Israel em uma grande nação. Esse chamado de Abraão estende-se à Isaque:

Apareceu-lhe o Senhor e disse: Não desças ao Egito. Fica na terra que eu te


disser; habita nela, e serei contigo e te abençoarei; porque a ti e a tua
descendência darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a
Abraão, teu pai. Multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e lhe
darei todas estas terras. Na tua descendência serão abençoadas todas as nações
da terra. (Gênesis 26.2-4).

E depois, estende-se à Jacó: “A tua descendência será como o pó da terra; estender-te-ás para
o Ocidente e para o Oriente, para o Norte e para o Sul. Em ti e na tua descendência serão
abençoadas todas as famílias da terra.” (Gênesis 28.14).

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E então, em Gênesis 49, esta aliança é estabelecida a partir dos doze filhos de Jacó, e a partir
daí, encontra-se a congregação, a reunião do povo de Israel, escolhido por Deus para ser seu
povo. Portanto, Israel é o povo de Deus do Antigo Testamento, estabelecido através de um
pacto, ou aliança, feita pelo próprio Deus. É claro que, neste período, o conceito de igreja não
estava plenamente desenvolvido ainda. Até agora, em nenhum momento é encontrado o
termo “igreja”.

Ao voltarmos nossos olhos para o Novo Testamento, vemos uma palavra que é
frequentemente usada para se referir a igreja: ekklesia, que indica uma congregação local,
como em Romanos 16.5 “saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles...” e 1 Coríntios
16.19 “As igrejas da Ásia vos saúdam...”. A palavra ekklesia também tem a ver com a totalidade
de crentes que se reúnem em um local, como em Colossenses 4.16 “E, uma vez lida esta
epístola perante vós, providenciai por que seja também lida na igreja dos laodicenses...” Ou
também tem a ver com a igreja universal e invisível, como em 1 Coríntios 12.28 “A uns
estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro
lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos,
variedades de línguas.” Ou seja, o termo ekklesia nos ensina que a igreja pode tanto ser visível
como invisível.

A primeira vez que aparece o termo “igreja” (ekklesia) no Novo Testamento é em Mateus
16.18. Jesus havia perguntado aos discípulos quem as pessoas diziam ser ele. Então os
discípulos responderam: “Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum
dos profetas.” (Mateus 16.14). Então Jesus pergunta aos seus discípulos quem eles diziam ser
ele. Pedro responde: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16.16.). Diante da
declaração de Pedro, Jesus afirma: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra, ou
seja, sobre a sua declaração edificarei a minha igreja (ekklesia), e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela.”

Enquanto no Antigo Testamento nós temos apenas uma ideia do que viria a ser a igreja, no
Novo Testamento, nós temos a igreja claramente definida. Ao chegarmos no Novo
Testamento, o povo de Deus já não é mais somente a nação de Israel, mas sim, um povo eleito,
comprado e redimido pelo sangue de Cristo e inserido na família de Deus. Existe uma
progressão. Podemos dizer que a igreja é:

o grupo de pessoas atingidas pelo chamado eletivo de Deus na pregação


missionária e no batismo, grupo esse que, portanto, está em Cristo, pelo qual e
através do qual é pregada a palavra e celebrada a Ceia do Senhor, que responde
ao Evangelho confessando, crendo e servindo de fé, e que, por isso, está
trilhando o caminho através da cruz para a ressurreição. (Leonhard Goppet,
Teologia do Novo Testamento. São Paulo, Teológica, 2002, p. 383)

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1.2. Imagens Bíblicas da Igreja

ECLESIOLOGIA EM PAULO

Paulo usa muitas figuras de linguagem para falar da Igreja. Especialmente em Efésios isso
facilita a compreensão do que seja a Igreja. Vejamos algumas dessas figuras:

1. O Corpo de Cristo
Ef 5.23 - (corpo de Cristo). No pensamento hebraico o corpo expressa a totalidade daquilo que
sou. É o ser humano integral. Assim, com isso Paulo expressa o conceito da totalidade de um e
dos muitos. Em Israel o indivíduo fazia parte do todo pela circuncisão. Na igreja há a circuncisão
de Cristo (Cl 2.11).

A ideia origina-se no ensino de Cristo no seu caráter messiânico em reunir o seu povo num povo
só:

• Jo 11.51-52 – reunir em um só corpo os filhos de Deus.


• Jo 2.20-21 – Paulo fala da revelação de Cristo ao falar da edificação do seu corpo, a
Igreja.

Cristo é identificado com a Igreja. Perseguir esta é perseguir aquele. 1Co 8.12 – “E deste modo,
pecando contra os irmãos, golpeando-lhes a consciência fraca, é contra Cristo que pecais”.

As características desse corpo:

1) O corpo vivo. A igreja é o corpo vivo de Cristo.

2) Um organismo. A igreja não é um corpo caótico, desordenado. Todas as suas partes


cooperam para o bem do corpo todo.

3) Tem uma cabeça. Vivemos em obediência a Cristo (Ef 5.23; Cl 1.18; 1Co 2.16).

4) Edifício de Deus. (1Co 3.9; Ef 2.21). A relação do corpo e do edifício: se o corpo reflete a
presença de Cristo na Igreja, o edifício denota a estabilidade da Igreja, sua firmeza, sua
indestrutibilidade.

Corpo → Cristo é a cabeça. Ele está por cima, indicando direção.


Edifício → Cristo é o alicerce. Ele está por baixo, indicando sustento.
Em ambas as metáforas o crescimento é necessário. Os crentes são chamados de pedras vivas,
que crescem; o corpo também mostra crescimento.

5) A noiva de Cristo. Ap 21.9.

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ECLESIOLOGIA EM PEDRO

Em 1Pedro 2, Pedro estabelece a natureza da Igreja relacionando-a com Israel. São 4


princípios agora aplicados à igreja. Israel só se realiza autenticamente em Cristo e as intenções
de Deus quanto a Israel se cumprem na Igreja.

a) Raça eleita – A expressão só aparece aqui. É tomada de Is 43.20 – povo escolhido, referindo-
se a Israel. A ênfase ao usar o termo “raça eleita” está na origem ou procedência da igreja.
Quem elege é Deus. Dt 7.7-8 – “Não vos teve o SENHOR afeição, nem vos escolheu porque
fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, ...”. Deus
escolheu Israel para ser seu povo particular. Agora o mesmo diz-se da Igreja.

b) Sacerdócio real – A expressão é encontrada em Ex 19.6 e Zc 6.13. O texto fala de “sentar no


trono” e “será sacerdote”. Lutero: sacerdócio universal do crente. Não apenas ressalta um
privilégio glorioso, mas também para evidenciar a responsabilidade dos crentes.

c) Povo santo – Ex 19.6. A expressão “povo” é equivalente ao “povo gentio” e se opõe aquela
ideia de povo que por direito divino de “santo”. Israel era chamado santo, mas chamar o povo
gentio de santo era algo realmente muito estranho. O povo gentio, excluído historicamente do
pacto, agora é aceito em Cristo e separado para o serviço de Deus, e torna-se povo santo.

d) Povo de propriedade exclusiva de Deus – Is 43.21; Mt 2.6. Denota que o muro de separação
foi derrubado em Jesus. Ef 2.14, judeus e gentios, um só povo em Cristo.

1.3. Doutrina da Igreja antes da Reforma

Durante o primeiro século da igreja não havia organização ou hierarquia das igrejas locais, mas
com o surgimento de várias heresias e com a corrupção que grassava, surgiu a necessidade de
organização da igreja.

Cipriano, bispo de Cartago, foi quem definiu a organização episcopal de igreja no século III de
nossa era, esta definição permaneceu na Igreja de Roma praticamente sem mudanças até o
concílio de Trento, no século XVI, mas nenhuma mudança fundamental foi acrescida. Conforme
Cipriano a verdadeira igreja era universal, ou católica, a autoridade dos bispos era apostólica,
derivada dos apóstolos por sucessão episcopal e a igreja era a depositária da graça e do poder
de Deus, distribuindo a graça, o perdão e a salvação por intermédio dos sacerdotes e dos
sacramentos. De acordo com esta ideia, prevalecente até os dias de hoje na igreja de Roma, as
bênçãos da graça e da salvação chegam aos homens somente por meio das ordenanças e
sacramentos da igreja.

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Os atributos da igreja como simples instrumento da graça de Deus e as bênçãos da salvação
distribuídas por Deus através da igreja eram considerados pela igreja de Roma como um
atributo próprio da igreja, através de seu corpo de sacerdotes, colocando-se entre Deus e os
homens como a distribuidora destas bênçãos, negando desta forma, a comunhão direta entre
Deus e os crentes e colocando entre eles uma mediação humana e anticristã, negando a
suficiência e unicidade do trabalho de Cristo. Pode se ver claramente na definição da igreja
romana abaixo, que a unicidade do trabalho mediatório de Cristo é negada de forma declarada.

A definição da igreja romana é a seguinte: “A congregação de todos os fiéis que, sendo


batizados, professam a mesma fé, participam dos mesmos sacramentos e são governados por seus
legítimos pastores, sob um chefe visível na terra”.

1.4. Doutrina da Igreja após a Reforma

No século XVI, a Reforma postulou um conceito fundamentalmente diferente de igreja como


uma alternativa ao conceito de Roma. Lutero encontrou paz para sua alma, não no
sacramento, nem nas boas obras, mas no perdão dos pecados e na justificação somente pela
fé. E com base nisso atacou a Igreja Católica Romana: rejeitou o sacerdócio, os sacrifícios, o
sistema monástico, e a instituição infalível da igreja.

Ele proclamou a liberdade do cristão; e encarava a igreja como um encontro de crentes, uma
“comunhão de santos”, como é confessado como um objeto de fé no Credo dos Apóstolos
(santa Igreja universal).

Foi imensamente doloroso e difícil para Lutero romper com a Igreja Católica Romana e seu
conceito de igreja. Ele não tinha nenhum programa de reforma. Inicialmente, seu único
objetivo era limpar os abusos. Mas ele encontrou e manteve sua segurança básica na
justificação do pecador pela fé somente e nessa base foi muito mais longe do que ele
originalmente pensava ou pretendia.

A igreja, a partir do séc. 16, era vista como uma congregação de crentes, de pessoas que, pela
fé, receberam o perdão dos pecados e, portanto, se tornaram todos filhos e sacerdotes de
Deus. Por essa razão, ela naturalmente, tinha um lado invisível e um lado visível. De acordo com
Seeberg, esta distinção foi feita pela primeira por Lutero. No entanto, ele não queria dizer duas
igrejas, mas dois lados de uma e da mesma igreja.

Calvino também alinha-se com Lutero neste uso. Quando nas Institutas de 1543 ele usa pela
primeira vez o termo “igreja invisível”, ele quer dizer todos os eleitos coletivamente que são
conhecidos apenas por Deus; posteriormente, ele caracteriza a igreja como “toda a multidão
de seres humanos espalhados sobre a terra”, uma multidão que é visível, mas é também
invisível e um objeto de fé na medida em que não podemos saber quem são todos os
verdadeiros crentes.

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Capítulo 2. A natureza da Igreja

A distinção entre igreja visível e invisível, originalmente, serviu apenas para afirmar contra
Roma que a essência da igreja consiste naquilo que é invisível, na fé, na comunhão com Cristo e
seus benefícios pelo Espírito Santo, mas absolutamente não para diminuir de alguma forma a
visibilidade ou a realidade da igreja, como instituição.

Os reformadores rejeitaram a ideia de uma igreja rigidamente hierárquica com um sacerdócio


infalível e dotado de poderes sobrenaturais que dispensam a salvação por meio de ordenanças
e sacramentos. Eles consideravam a igreja verdadeira como a comunhão espiritual daqueles
que foram chamados por Cristo, que se tornavam sacerdotes mediante o testemunho cristão.
Distinguiam também os aspectos visíveis e invisíveis da igreja, admitindo que na igreja visível o
joio e o trigo, que são os verdadeiros crentes e os religiosos formais, estarão misturados até a
ceifa, que é o Juízo Final. O conceito da igreja protestante afasta-se da ideia da exteriorização
da igreja e define a igreja como a comunhão dos santos, a reunião dos eleitos de Deus, como
expresso nos documentos da Reforma.

• Igreja visível – igreja local, comunidade de pessoas reunidas em um determinado tempo e


espaço.

• Igreja invisível - (1) como a igreja universal porque um determinado indivíduo não pode
observar a igreja em outros lugares e outras vezes; (2) como a companhia reunida dos
eleitos, que não será concluída e visível até o retorno de Cristo; (3) como a companhia
reunida dos eleitos e chamados, porque na igreja na terra não podemos distinguir os
verdadeiros crentes.

O Conceito de “Igreja” nas Confissões Históricas

Na Confissão de Fé de Westminster (1643–46). Em seu Capítulo XXV: “I. A Igreja Católica ou


Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e
dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a
plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas. Ef. 1: 10, 22-23; Col. 1: 18. II. (…);

Na Confissão de Fé Batista de Londres (1689): “Capítulo 26 – A Igreja: 1. A Igreja universal (ou


católica), que com respeito à obra interna do Espírito, e da verdade da graça, pode ser
chamada invisível, consiste no número total dos eleitos que já foram, estão sendo, ou ainda
serão chamados em Cristo, o Cabeça de todos. A Igreja é a esposa, o corpo e a plenitude
daquele que é tudo em todos. (…). 2. Todas as pessoas ao redor do mundo, que professam fé
no evangelho e obediência a Deus, mediante Cristo, de acordo com o evangelho, e que não
destroem o seu testemunho com alguma doutrina fundamentalmente errada ou conversão
profana: esses podem ser chamados de os santos, de que se compõe a igreja visível; e todas as
congregações deviam ser constituídas de pessoas assim. (…)”;

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Na Confissão de Fé de Augsburgo (Século XVI). “Artigo 7 – Da Igreja. Ensinam outrossim que


sempre permanecerá uma santa igreja. E a igreja é a congregação dos santos na qual o
evangelho é pregado de maneira pura e os sacramentos são administrados corretamente. E
para a verdadeira unidade da igreja basta que haja acordo quanto à doutrina do evangelho e à
administração dos sacramentos. Não é necessário que as tradições humanas ou os ritos e
cerimônias instituídos pelos homens sejam semelhantes em toda a parte. Como diz Paulo:
“Uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos”, etc. (Ef. 4,4s.). (…);

Na Segunda Confissão Helvética (1562-66): “Da Igreja de Deus, santa e católica, e do único
Cabeça da Igreja. A Igreja sempre existiu e sempre existirá. Visto que Deus desde o princípio
quis salvar os homens e trazê-los ao conhecimento da verdade (I Tm 2.4), é absolutamente
necessário que a Igreja tenha existido no passado, exista agora e continue até o fim do mundo.
Que é a Igreja. A Igreja é a assembléia dos fiéis convocada ou reunida do mundo: é, direi, a
comunhão de todos santos, isto é, dos que verdadeiramente conhecem, adoram corretamente
e servem o verdadeiro Deus em Cristo, o Salvador, pela palavra e pelo Espírito Santo, e que,
finalmente, participam, pela fé, de todos os benefícios gratuitamente oferecidos mediante
Cristo. (…);

Na Confissão de Fé Escocesa – (John Knox e Outros – 1560): “16º Capítulo. Da Igreja: Assim
como cremos em um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, assim também firmemente cremos
que houve desde o princípio, há agora e haverá até o fim do mundo uma só Igreja, isto é, uma
sociedade e multidão de homens escolhidos por Deus, que corretamente o adoram e aceitam,
pela verdadeira fé em Jesus Cristo, o qual, só, é a Cabeça da Igreja, assim como é ela o corpo e
a esposa de Jesus Cristo. Essa Igreja é católica, isto é, universal, porque compreende os
escolhidos de todos os tempos, de todos os reinos, nações e línguas, ou dos judeus ou dos
gentios, que tenham comunhão e associação com Deus o Pai, e com seu Filho, Jesus Cristo,
pela santificação do Espírito Santo. Por isso ela é chamada comunhão, não dos profanos, mas
dos santos, que, como cidadãos da Jerusalém celestial, gozam de benefícios inestimáveis: um
só Deus, um só Senhor Jesus Cristo, uma só fé e um só batismo. Fora dessa Igreja não há nem
vida nem felicidade eterna. (…);|

Na Confissão Belga (Por Guido Brès – 1561): “Artigo 27. A Igreja Católica Ou Universal: 1. Cremos
e confessamos uma só igreja católica ou universal. 1. Ela é uma santa congregação e
assembleia. 2. dos verdadeiros crentes em Cristo, que esperam toda a sua salvação de Jesus
Cristo. 3, lavados pelo sangue dEle, santificados e selados pelo Espírito Santo. 4. Esta igreja
existe desde o princípio do mundo e existirá até o fim. Pois, Cristo é um Rei eterno, que não
pode estar sem súditos. 5. Esta santa igreja é mantida por Deus contra o furor do mundo
inteiro. (…)

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Igreja militante e Igreja triunfante

A igreja militante: durante sua existência terrena a igreja é chamada de militante, pois tem o
dever de empreender uma guerra sem tréguas contra o mundo não cristão, principalmente
dentro da própria igreja, combatendo vigorosamente as heresias e falsas doutrinas que
surgem. O que se pode observar ao longo da história do cristianismo é que a igreja está em
constante degradação, apesar dos grandes movimentos de avivamento que ocorrem em
épocas determinadas da história a igreja visível caminha, a olhos vistos, para a apostasia e para
o mundanismo. Todavia, apesar de chocante, isto não deve causar surpresa ao cristão, pois
Jesus nos adverte quanto a estes últimos tempos.

Mateus 24,24-25: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos. Vede que vo-lo tenho predito”.

Nestes últimos tempos em que a igreja atravessa, a sã doutrina tem dado lugar a todo tipo de
fábulas e invenções, tanto para agradar o ego humano, quanto para o crescimento material da
igreja, esta é a tônica da igreja atual.

2 Timóteo 4,3: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-
se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”.

A igreja triunfante: a igreja triunfante pode ser definida como a reunião das almas dos crentes
que já se encontram no céu, ou como a reunião final de todos os crentes após o Dia do
Julgamento, onde todos os eleitos de todas as épocas da história da humanidade estarão
finalmente reunidos em glória junto a Cristo em seu estado glorificado, onde o pecado e a
corrupção estarão definitivamente banidos e os filhos de Deus revelados em caráter definitivo.

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Capítulo 3. As marcas da igreja


A Reforma Protestante do século XVI levantou questões muito sérias aos cristãos de seu
tempo. Uma dessas foi a seguinte: Qual é a igreja verdadeira? Tanto os romanistas como os
protestantes alegavam ser a verdadeira igreja de Cristo, e de acordo com Kevin Reed, “… cada
um denunciava o outro como uma falsa igreja” (Fazendo a Fé Naufragar, São Paulo: Os
Puritanos, 2002, 69).

De acordo com a teologia reformada, encontramos uma igreja verdadeira:

1) Onde o evangelho é proclamado fielmente. O que os Reformadores queriam dizer com isso
não era simplesmente o anúncio da boa nova da morte de Jesus e da expiação, mas sim a fiel
proclamação das verdades essenciais do cristianismo. Se uma igreja negasse um aspecto
essencial da fé cristã, essa instituição deixaria de ser considerada uma igreja. O protestantismo
histórico não reconhecia o mormonismo como uma igreja cristã autêntica, porque a fé mórmon
negou a divindade eterna de Cristo, por exemplo. A igreja nunca terá uma pregação perfeita,
mas sempre examinará sua pregação a partir das Escrituras (1 Jo 4.1-3; Ef 2.20; II Tm 4. 1-5; At 2.
42; II Tm 2.15,24-26; Ef 4. 7-16).

2) Onde os sacramentos são administrados. De acordo com os reformadores, se não há


sacramentos - a Ceia do Senhor e o batismo - não há uma igreja. O serviço dos sacramentos é
uma tarefa para a igreja. Sproul afirma que, “negar ou difamar os sacramentos instituídos por
Cristo é falsificar a igreja”.

3) Onde há o exercício da Disciplina eclesiástica. A disciplina na igreja visa três efeitos básicos:
vindicar a honra de Cristo publicamente; corrigir o irmão em pecado; e causar temor na igreja
em relação a pecar contra Deus. Vemos isso em vários textos bíblicos como Gálatas 6. 1-4; 1
Coríntios 5. 1-5; Mateus 18.18; Atos 5. 1-11 e outros.

A Confissão Belga, no artigo 29, resume de uma forma sucinta o que tem sido chamado de “as
marcas da igreja verdadeira” quando afirma: “As marcas para conhecer a verdadeira igreja são
estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho, a pura administração dos sacramentos
como Cristo os instituiu, e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados”.

A Confissão de Westminster diz claramente que há igrejas verdadeiras que são “mais ou
menos” puras e que “as igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro”.
De qualquer forma, essas são marcas que ainda podemos usar para discernir se uma igreja
particular é verdadeira ou não. Não é necessário que a Igreja seja perfeita para ser verdadeira.
O que importa é que ela seja a mais fiel possível na pregação do Evangelho, na administração
dos sacramentos e no exercício da disciplina.

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Daniel Meeter, em seu livro Encontrando um ao outro na doutrina, liturgia e governo, faz a
seguinte observação importante sobre “as marcas da igreja verdadeira” vindo diretamente dos
três ofícios de Cristo como cabeça da igreja:

“Cremos que o Senhor Jesus está vivo e sempre ativo na igreja. Onde Cristo está ativo e
Seu Senhorio é honrado e obedecido, aí está a “verdadeira igreja”. A verdadeira igreja
tem marcas particulares pelas quais ela pode ser conhecida, e essas marcas estão
relacionadas diretamente ao tríplice ofício de Cristo, que age como profeta, sacerdote e
rei. As “três marcas da verdadeira igreja” são descritas no artigo 29 da Confissão Belga.
Elas são, primeiro, “a pura pregação do Evangelho”, segundo, “a pura administração
dos sacramentos como Cristo os instituiu”, e, terceiro, “o exercício da disciplina
eclesiástica para castigar os pecados”.1

Como essas três marcas da igreja estão ligadas ao ofício tríplice de Cristo? Primeiro, a
pregação surge do dom de profecia… Segundo, a administração dos sacramentos surge
da obra sacerdotal na cruz, Sua oração por nós e a comunicação a nós dos benefícios de
Seu sacrifícios por meio da lavagem em Seu sangue e o partir do pão… Terceiro, a
disciplina eclesiástica surge dos justos clamores do reinado de Jesus.”

(1) A Pregação do Evangelho;


(2) A Administração correta dos Sacramentos;
(3) O correto Exercício da Disciplina da igreja.

• Onde estas três marcas se apresentam claramente podemos descansar tendo a


segurança de que encontramos a igreja do senhor Jesus Cristo.


1
https://books.google.com.br/books?id=0HxO-
A7Vd8UC&pg=PA161&lpg=PA161&dq=&source=bl&ots=EjFTFdpITU&sig=U_cAxIWSJNOvvdEqdYrcp1PgY
Vk&hl=en&sa=X&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
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Capítulo 4. Os atributos da igreja


1 – Unidade – Santidade – Apostolado – Catolicidade

“Creio na Igreja una, universal e apostólica” (Credo Niceno).


“Creio... na Santa Igreja Universal” (Credo Apostólico)

Os reformadores estabeleceram 3 marcas da Igreja verdadeira, mas que são marcas


externas (pregação fiel da Palavra, Administração correta dos sacramentos e exercício da
disciplina). Porém, essas marcas são exercidas e feitas por nós (nós temos que nos manter fiéis
em nossa pregação, na administração dos sacramentos e no exercício da disciplina). Já os
credos nos apresentam 4 características essenciais da Igreja, mas que não são criadas ou
realizadas por nós. São atributos ou propriedade essenciais da igreja. A igreja que nós
confessamos possui 4 características essenciais: “una, santa, universal (católica) e apostólica”.

Unidade da Igreja

Confessamos que essa unidade é verdadeira na Igreja de Deus! Na época do Credo


Niceno, a Igreja já havia experimentado várias divisões e heresias graves através da obra de
Arius, Marcion, os Gnósticos e outros. A história e manifestação da Igreja naqueles dias não
foram menos um desafio à fé do que as de nossos tempos modernos. Isso, porém, não fez com
que os cristãos abandonassem suas declarações de fé bíblica; em vez disso, eles afirmaram com
todas as letras: Creio em uma só Igreja! (Igreja una).

A visão reformada é consistentemente bíblica ao afirmar que a unidade da Igreja não se


manifesta primariamente de modo externo como uma grande e visível organização mundial,
como acredita a Igreja Católica Romana, mas, sim, de modo interno/invisível, e espiritual.
Assim, a unidade da igreja se refere, primariamente, à comunhão; é a unidade do corpo místico
de Jesus. De acordo com Berkhof, “este corpo é dirigido por uma Cabeça, Jesus Cristo, que é
também o Rei da Igreja, e é vivifivado por um só Espírito, o Espírito de Cristo”2.

Este fato é claramente constatado mediante a análise dos seguintes textos: Colossenses
1.18a, onde se lê que: “Ele [Cristo] é a cabeça do corpo, da igreja”; e Efésios 1.22,23, o qual
relata: “E pôs [Cristo] todas as coisas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as
coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as
coisas”. Romanos 12.5 – “Assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas
individualmente somos membros uns dos outros”. E também Efésios 4.4-6 – “há somente um
corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há
um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age
por meio de todos e está em todos.”


2
BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. 3 ed. Traduzido por Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 525.
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Sobre isso, a Confissão de fé de Westminster (CFW) declara que:

A igreja católica ou universal, que é invisível, consiste do número total dos


eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos
em um só corpo, sob Cristo, seu Cabeça; ela é a esposa, o corpo, a
plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas [Ef 1.10,22,23; Cl
1.18]3.

Assim, esta unidade declara que todos aqueles que fazem parte do Corpo de Cristo têm
uma só fé, são unidos pelo amor, e esperam pela futura e gloriosa morada eterna com Cristo.
Esta unidade interior, ou seja, invisível se expressa por meio de uma mesma ética cristã, da sua
adoração pública do mesmo Deus em Cristo, e da sua participação nos mesmos sacramentos.

Mas obviamente existe também a unidade da Igreja visível, como pode ser constatado
em 1Coríntios 12.12,13:

Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os


membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com
respeito a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em
um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos
nós foi dado beber de um só Espírito.

Uma congregação nunca é apenas uma congregação (uma igreja local); é Igreja. Apesar
de suas dificuldades, os coríntios nunca devem pensar em si mesmos como uma organização
humana de pessoas. Eles são o templo do Espírito Santo, o lugar de habitação de Deus (1
Coríntios 3:16). Suas divisões não só são erradas, como também violam toda a natureza da
Igreja como templo de Deus.

A Epístola aos Efésios assume esta unidade, não só para uma congregação local, mas
para todas as congregações, e fala de uma entidade chamada Igreja. Paulo lembra à
congregação de Éfeso que Cristo amava a Igreja (não as igrejas) e se entregou por ela. Esta
Igreja será apresentada ao Senhor em toda a sua glória (Efésios 5:27).

Santidade da Igreja

A Igreja de Deus não é apenas outra organização ou instituição. Isso é porque ela é
santa. A santidade é também uma característica essencial da Igreja. Não é o que a Igreja
produz, mas o que ela é. A santidade se refere mais a uma identidade do que a uma
característica. E é uma das quatro qualidades essenciais que o Credo Niceno usa para descrever
a Igreja que confessamos.


3
ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER. Confissão de fé de Westminster. 17 ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. p. 196.
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João 17.19 – “E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam
santificados na verdade.”

Rm 1.7 – “A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e
paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.”

1Co 1.2 – “à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus,
chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor
Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”.

A pureza ética é certamente uma ideia contida dentro da santidade, mas é uma ideia
derivada. Os utensílios destinados a uso exclusivo no culto a Deus são utensílios sagrados; eles
existem para um único uso e são identificados como tal. As Escrituras são Sagradas Escrituras
porque elas são uma classe própria, ao contrário de outras escrituras. Israel é um povo santo
porque eles são “do Senhor” seu Deus (Dt 7: 6). Entre todos os povos da terra, eles foram
escolhidos para serem o próprio povo de Deus. A escolha de Deus muda sua identidade de “um
entre muitos” para “do Senhor”.

Deus é santo. Este Deus santo é absolutamente puro, ético e moral. Portanto, o pecado,
impureza ou assuntos antiéticos são considerados impuros. Mas devemos lembrar que a
santidade em seu núcleo é uma questão de identidade.

A Igreja pertence a Deus de uma maneira especial. Enquanto todo ser humano é
pecador; nenhuma pessoa, nação ou organização existe fora do controle do Soberano de toda
a terra. Mas a Igreja é Sua possessão especial. A Igreja pertence a Ele. A Igreja não existe
meramente sob Sua soberania; ela foi criada por Si mesmo especialmente para si mesmo. A
Igreja nunca deve compreender a si mesma sem levar em consideração essa identidade como
central para sua existência.

Visto que Deus a identifica como santa e diferente dos outros povos da Terra, os
membros vivem como “peregrinos e estrangeiros” e vem abster-se “das concupiscências
carnais”. O comportamento da Igreja deve ser “exemplar entre os gentios” para que a
diferença de identidade seja reconhecida pelos outros (1 Pedro 2.11-12).

Embora os cristãos regularmente pequem e a Igreja repetidamente interprete mal sua


identidade e profane o nome de seu Senhor, ainda assim confessamos que ela é santa, pois
este é o testemunho da Escritura. Esta confissão sobre nós mesmos é um lembrete da
responsabilidade que se impõe a todos os crentes de viver de uma maneira ética e moral –
digna de nossa identidade como povo de Deus, Sua Igreja.

Isso também aborda a tremenda crise de identidade que assola a Igreja desde que ela
descartou suas confissões. A Igreja não sabe mais o que fazer porque esqueceu quem ela é. Ela

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é uma organização política, uma organização de louvor e de culto, uma instituição de caridade,
uma delegação para a paz mundial, o libertador da doença e da pobreza, um encontro de
crentes?

Apostolado da Igreja

A Igreja que confessamos neste credo não é feita pelo homem, governada pelo homem,
nem definida pelo homem. Esta Igreja é apostólica em seu caráter. E ser apostólica em seu
caráter significa que ela é enviada por outro - Jesus Cristo. Ele é a origem e a pedra angular da
Igreja (Efésios 2:20). A Igreja apostólica é a Igreja de Deus.

A apostolicidade da igreja não significa uma sucessão de pessoas, como os católicos


romanos desejariam ter; mas, de acordo com a Bíblia, isso implica uma sucessão de doutrina
(Cf. Atos 2.42 “E perseveravam na doutrina dos apóstolos”), como Ef 2.20-22 ensina:

“edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele


mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem
ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós
juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.”

Em 2Co 2.17 Paulo diz: “nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra
de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do
próprio Deus.” Apesar dos comportamentos ímpios e dos membros aparentemente falsos,
Paulo está confiante de que a Igreja de Corinto é uma Igreja verdadeira porque é a Igreja de
Deus. Embora sejam “cuidados por Paulo, através de suas cartas”, tais cartas são em última
instância “carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo
Espírito do Deus vivente” (2Co 3.3).

Os apóstolos não são criadores ambiciosos, mas embaixadores nomeados pelo próprio
Deus para trazer a Sua mensagem ao mundo. Através desta mensagem pregada, Deus está
formando uma comunidade que “se torna a justiça de Deus em Cristo” (2Co 5.21). A Igreja
apostólica é a Igreja que se porta como embaixadora de Cristo aqui na terra, com uma
mensagem ao mundo, a mensagem do Evangelho. Portanto, a apostolicidade da Igreja
também traz implicações para a missão da Igreja. Falar em Igreja apostólica é falar sobre o
conteúdo que carregamos (A doutrina dos apóstolos), mas é também falar da natureza
missional da igreja, como embaixadores que carregam uma mensagem.

Catolicidade da Igreja

A maior parte da controvérsia nos círculos evangélicos sobre esses credos gira em torno
do significado da palavra “católica”. Principalmente em nosso país, onde o catolicismo romano
é muito forte, as pessoas confundem.

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Alguns o traduziram como “universal”, (no nosso caso também não ajuda muito por
causa da IURD), que expressa um significado vital, mas não é uma tradução completa da
palavra. Vale ressaltar que, quando o Credo Niceno foi traduzido do grego para o latim, os
tradutores deixaram a palavra “católico” sem traduzir, apesar da disponibilidade da palavra
universalis.

Eles entendiam que “Universal” é aparentemente incapaz de transmitir todo o


significado de “católico!”4 A palavra “católico” literalmente significa: “de acordo com o todo”.
Este significado mais pleno produz uma posição viável que merece atenção hoje.

A natureza específica da Igreja Cristã é que ela é católica. Esta palavra, embora muito
abusada na eclesiologia romana, é uma palavra necessária e extremamente útil.

A catolicidade da igreja, de acordo com Todd Billings, é bíblica e centrada em Cristo.5


Sendo assim, faz-se necessário resgatar a catolicidade da igreja e da fé cristã nos dias de hoje,
se quisermos uma melhor compreensão do evangelho e da missão da igreja neste mundo.

A Catolicidade nos Documentos Antigos da Igreja Cristã

O Credo Apostólico, originado nos primórdios do cristianismo, afirma: “Creio... Na Santa


Igreja Católica, na comunhão dos Santos”. Em Português, talvez pelo temor de ser confundido
com a Igreja de Roma, o texto foi modificado para: “Creio... na Santa Igreja Universal...” O
Credo dos Apóstolos afirma a comunhão de todos os santos eleitos por Deus, em todos os
lugares e épocas. Ou seja, a eleição divina gera a comunhão dos santos, e esta comunhão dos
santos forma a catolicidade da igreja, é a igreja universal e não uma igreja nacional ou limitada
por tempos ou épocas.

O Catecismo de Heidelberg de 1563 também compreendia a igreja de Jesus Cristo como


a Igreja universal ou católica. Na pergunta 54 lê-se:
54. O que você crê sobre “a santa igreja universal de Cristo”?
R. Creio que o Filho de Deus reúne, protege e conserva, dentre todo o gênero humano,
sua comunidade eleita para a vida eterna. Isto Ele fez por seu Espírito e sua Palavra, na
unidade da verdadeira fé, desde o princípio do mundo até o fim. Creio que sou membro
vivo dessa igreja, agora e para sempre.


4
Strong, Systematic Theology (reprint; Old Tappan, New Jersey: Fleming H. Revell Company, 1976), p.887.
5
J. Todd Billings, “Catholic and Reformed: Rediscovering a Tradition,” Pro Ecclesia 23, no 2 (March, 2014), 132
(Tradução nossa).
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Seguindo a mesma linha de raciocínio, o artigo 27 da Confissão Belga também afirma
que existe apenas uma única e santa igreja católica, onde apenas os crentes verdadeiros,
regenerados pelo Espírito Santo e lavado pelo sangue de Cristo, fazem parte. Este igreja
católica difere das igrejas locais, visíveis e imperfeitas:
Cremos e confessamos uma só igreja católica ou universal. Ela é uma santa congregação
e assembleia dos verdadeiros crentes em Cristo, que esperam toda a sua salvação de
Jesus Cristo, lavados pelo sangue dEle, santificados e selados pelo Espírito Santo.

Esta igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o fim. Pois, Cristo é um Rei
eterno, que não pode estar sem súditos. Esta santa igreja é mantida por Deus contra o
furor do mundo inteiro, mesmo que ela, às vezes, por algum tempo, seja muito pequena
e na opinião dos homens, quase desaparecida. Assim, Deus guardou para si, na perigosa
época de Acabe, sete mil homens, que não tinham dobrado os joelhos a Baal.

Esta santa igreja também não está situada, fixada ou limitada em certo lugar, ou ligada a
certas pessoas, mas ela está espalhada e dispersa pelo mundo inteiro. Contudo, está
integrada e unida, de coração e vontade, no mesmo Espírito, pelo poder da fé.

A Segunda Confissão Helvética, publicada em 1566, também afirma, no capítulo 17, a


catolicidade da igreja de Cristo e condena toda tentativa de confinar ou restringir a igreja cristã
em um lugar ou outro, como fizeram os Donatistas ou a Igreja de Roma:
E, visto que há sempre um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus o
Messias, e um só Pastor de todo o rebanho, uma só Cabeça deste corpo, enfim, um só
Espirito, uma só salvação, uma só fé, um só testamento ou aliança, segue-se,
necessariamente, que existe uma só Igreja. A Igreja Católica. Por isso chamamos
“católica” e essa Igreja, porque é universal, e se espalha por todas as partes do mundo,
estende-se por todos os tempos e não é limitada pelo tempo ou pelo espaço.
Condenamos, portanto, os donatistas, que confinavam a Igreja a não sei que cantos da
África, e não aprovamos o clero romano, que vive a propalar que só a Igreja de Roma é
Católica.

Por último, a Confissão de Fé de Westminster, concluída em 1646, também afirma e


declara a catolicidade da igreja como algo conceito fundamental da fé cristã, e esta Confissão
também afirma que tanto a igreja invisível como a igreja visível, ambas são católicas, pois o
Evangelho é católico e não está restrito à um lugar, tempo ou nação. No capítulo 25 lê-se:
I. A Igreja Católica ou Universal, que é invisível, consta do número total dos eleitos que
já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo sob Cristo,
seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as
coisas.

II. A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo
restrita a uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo
inteiro professam a verdadeira religião, juntamente com seus filhos; é o Reino do

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Senhor Jesus, a casa e família de Deus, fora da qual não há possibilidade ordinária de
salvação.

É notável, portanto que, os principais documentos antigos da Igreja cristã acreditavam,


afirmavam e declaravam a catolicidade da igreja e da fé cristã, ou seja, a igreja cristã é uma
comunhão de todos os verdadeiros cristãos em todos os lugares e épocas, no decorrer da
história. Uma igreja que não está restrita à um determinado tempo, local ou denominação, mas
que é gerada e preservada pelo evangelho, e sustentada pela graça de Deus por toda a
eternidade.

Considerações Finais
Diante de tudo isto, é fundamental que resgatemos as vozes dos credos e confissões
reformada e enfatizemos a catolicidade da igreja e da fé cristã no mundo de hoje. Na
catolicidade nós enxergamos a igreja como a “a multiforme sabedoria de Deus” (Cf.: Efésios
3:10), e quando compreendemos esta catolicidade tão enfatizada pelos credos e confissões da
igreja, nos envolvemos no mundo criado por Deus, em todas as suas esferas, e demonstramos
com palavras e ações que a cura para todo o mal no mundo está no evangelho de Jesus Cristo e
na verdadeira igreja cristã, na comunhão dos santos. Por fim, nas palavras de Cirilo de
Jerusalém (313-386 d.C):

A Igreja, então, é chamada Católica porque se espalhou por todo o


mundo, de um extremo ao outro da terra, e porque ela nunca cessa de
ensinar em toda a sua plenitude cada doutrina que os homens devem ser
levados a conhecer: e isso com respeito a coisas visíveis e invisíveis, no
céu e na terra. Ela é chamada Católica também porque traz à obediência
todo tipo de homens, governantes e governados, eruditos e simples, e
porque é um tratamento e cura universal para cada tipo de pecado
perpetrado, seja pela alma ou pelo corpo, e possui nela cada forma de
virtude que se nomeia, seja isso expresso em atos ou obras ou em cada
graça espiritual que se pode descrever.6


6
Cirilo de Jerusalém, “Epístolas Catequéticas” (XVIII, 23).
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Capítulo 5. O governo da Igreja – Sistemas e Ofícios


1 – Três Principais teorias a respeito do governa da igreja

O governo da igreja é o ramo da eclesiologia (estudo da igreja) que aborda a estrutura


organizacional e a hierarquia da igreja. Existem basicamente três tipos de governo de igreja
que se desenvolveram nas várias denominações cristãs: Episcopal, Congregacional e
Presbiteriano.

Episcopal

Os episcopais afirmam que Cristo, como Chefe da igreja, confiou o governo da igreja
direta e exclusivamente a uma ordem de bispos, considerados estes como sucessores dos
apóstolos; e que Ele constituiu estes bispos numa ordem separada, independente e capacitada
para perpetuar-se. Neste sistema, a comunidade dos crentes, não tem absolutamente
nenhuma participação no governo da igreja. Nos primeiros séculos [de sua história], era este o
sistema da Igreja Católica Romana.

Berkhof vai dizer que “a Bíblia não oferece base para a existência de tal classe separada
de oficiais superiores, dotados do direito inerente de ordenação e jurisdição, e que, portanto,
não representam o povo e nem tampouco, em nenhum sentido da expressão, derivam do povo
o seu ofício”.

De maneira geral, essa forma de governo é caracterizada por ter um “Líder Maior”,
geralmente chamado de Epíscopo, Papa, Bispo, Pastor Presidente e até Apóstolo, que governa
todos os outros líderes e demais membros da igreja. É ele quem toma todas as decisões. Ou
seja, “Um” governa a “Todos” (Igreja Episcopal, Universal, Católica, Assembléia de Deus e a
maioria das igreja neopentecostais)

Pontos positivos: Esse talvez seja o modelo de governo que dê mais agilidade à igreja.
Tudo só depende da aprovação de uma pessoa. Por exemplo: a reforma do prédio do
departamento infantil da igreja. O Epíscopo decide fazer, quem vai fazer e o que vai ser feito.
Tudo é resolvido de forma rápida e ágil.

Pontos negativos: É desnecessário dizer que a concentração de poder na mão de uma


única pessoa é algo muito perigoso. Os erros desse Epíscopo podem desviar para sempre sua
igreja e como não há uma autoridade superior ninguém pode impedir essa derrocada. Nos
casos de injustiças na aplicação da disciplina eclesiástica o membro da igreja ficará sempre
prejudicado, não tendo a quem recorrer. Esse modelo também dá margem a perseguições de
possíveis oponentes, ainda que esses estejam com a razão, bem como a beneficiamento e falta
de disciplina para aliados. Todos esses problemas são decorrentes do poder absoluto que o
Epíscopo ou líder tem.

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Congregacional

Segundo ele, cada igreja ou congregação é uma igreja completa, independente de todas
as demais. Nesse tipo de igreja o poder de governo fica exclusivamente com os membros da
igreja, que têm autoridade para regulamentar os seus próprios assuntos. Os oficiais são simples
funcionários da igreja local, designados para ensinarem e para administrarem os interesses da
igreja, e não têm poder de governo além do que possuem como membros da igreja.

Se se achar conveniente que as diversas igrejas exerçam comunhão umas com as


outras, como às vezes se dá, esta comunhão se expressa em concílios ou convenções
eclesiásticos e em reuniões ou conferências locais ou regionais, para a consideração dos seus
interesses comuns. Mas é determinado que os atos desses corpos associados sejam
estritamente consultivos ou declarativos, e não sejam impostos a nenhuma igreja particular.

De maneira geral, a principal característica dessa forma de governo eclesiástico é a


participação de toda a congregação na tomada de decisões. Nada é decidido sem que antes
tenha a aprovação da Assembléia de membros da igreja. Ou seja, “Todos” governam (Igreja
Batista, Congregacional etc.)

Pontos positivos: Uma das principais vantagens dessa forma de governo eclesiástico é
que ninguém pode reclamar por não ter sido consultado ou ainda ouvido. Todos os membros
têm direito a voto e a opinar sobre os mais diversos da igreja. Usando o mesmo exemplo da a
reforma do prédio do departamento infantil da igreja, todos podem opinar sobre a necessidade
dessa reforma, sobre as pessoas a serem contratadas e até sobre o material a ser utilizado.
Ninguém pode dizer depois que não sabia ou que não foi ouvido. Isso acaba diminuindo
bastante o grau de insatisfação da comunidade.

Pontos negativos: Em qualquer igreja há pessoas maduras e pessoas imaturas. Essa é


uma das maiores dificuldades desse regime de governo eclesiástico. Num caso de disciplina
eclesiástica, por exemplo, além do constrangimento do membro faltoso ser apresentado
diante de toda a congregação, ainda corre gravíssimo risco de ter sua situação emocional e
espiritual agravada por conta das perguntas e das abordagens dos possíveis desafetos e dos
membros que ainda não sabem lhe dar com esse tipo de situação. É algo realmente
extremamente constrangedor. A morosidade na tomada de decisão também é um fator
complicador, tendo em vista que depende da quantidade de membros presentes e da votação
da maioria para aprovar um projeto.

Presbiteriano

Nesse Regime de governo “Alguns” são eleitos para governar a “Todos” (IPB, IPI, por
exemplo). É um governo representativo.

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Cremos ser a forma de governo eclesiástico que mais se aproxima do modelo bíblico. É
o governo do povo por meio de representantes por ele escolhido. Calvino, em sua
interpretação das Escrituras sobre esse assunto, considera também ser o governo
representativo aquele que foi ensinado pelos apóstolos para a organização da Igreja de Cristo.

Pontos negativos: Os pontos negativos, não estão, necessariamente, relacionados à falhas do


próprio sistema de governo e sim daqueles que o adotam. Por exemplo, Como a congregação
não participa das decisões de forma ativa, isso acaba dando margem para críticas às decisões
do conselho. Outro ponto negativo é a morosidade com que os processos se desenrolam
(depende de reuniões do conselho, geralmente, antes das decisões, o conselho deve se reunir
para deliberar sobre o assunto, e muitas vezes essa reunião não acontece com a agilidade que
gostaríamos). Outra dificuldade prática desse sistema de governo é que nem sempre são
eleitos presbíteros homens conhecedores da palavra e das doutrinas basilares ensinadas pela
IPB.

Porém, os princípios bíblicos fundamentais do sistema de governo presbiteriano ou


representativo são os seguintes:

1 – Cristo é o cabeça e o chefe da igreja, e a fonte de toda autoridade.

Mateus 28.18 “Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no
céu e na terra.”

Efésios 1.20-22 “o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o
sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e
domínio, e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no
vindouro. E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o
deu à igreja”

Cristo é o cabeça da Igreja, que é o seu corpo. Ele mantém a relação viva e orgânica com ela,
ele a enche de vida e a governa espiritualmente.

2 – Cristo exerce sua autoridade por intermédio de sua Palavra.

Cristo não governa a igreja pela força, mas sim, subjetivamente, por seu Espírito, que age na
igreja, e objetivamente, pela Palavra de Deus como o padrão de autoridade. Todos os crentes
estão obrigados a obedecer à Palavra de Deus. Não existe poder de governar independente de
Cristo.

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3 – Como Rei, Cristo revestiu a igreja de poder.

Cristo delega o poder eclesiástico à igreja como um todo e aos oficiais, igualmente. Porém,
Berkhof diz que “os oficiais recebem uma porção adicional de poder, como se requer para o
cumprimento dos seus respectivos deveres na igreja de Cristo”. São representantes do povo.

4 – Cristo providenciou órgãos representativos para o exercício específico deste poder.

Enquanto Cristo delegou poder à igreja como um todo, também providenciou para que este
poder fosse exercício ordinariamente e especificamente por órgãos representativos, separados
para a manutenção da doutrina, do culto e da disciplina. Os oficiais da igreja são os
representantes do povo, escolhidos pelo voto popular. Isso não significa que eles recebem sua
autoridade do povo, pois a eleição do povo é apenas a confirmação do chamado interior feito
pelo Senhor; e é do próprio Senhor que eles recebem sua autoridade e à Ele são responsáveis.

Portanto, o poder ou autoridade da igreja não reside antes de tudo na assembleia geral de
alguma igreja. Tem sua sede original no conselho da igreja local.

Cf. Constituição da IPB, capítulo 1 (Natureza, Governo e Fins da Igreja)

Art.3. O poder da Igreja é espiritual e administrativo, residindo na corporação, isto é, nos que
governam e nos que são governados.
Parag. 1 – A autoridade dos que são governados (povo) é exercida pelo povo reunido em
assembleia.
Parag. 2 – A autoridade dos que governam é de ordem e de jurisdição. É de ordem, quando
exercida por oficiais, individualmente, na administração de sacramentos e na impetração da
bênção pelos ministros e na integração de concílios por ministros e presbíteros. É de jurisdição,
quando exercida coletivamente por oficiais, em concílios, para legislar, julgar, admitir, excluir
ou transferir membros e administrar as comunidades.

No Novo Testamento, podemos encontrar facilmente os princípios norteadores e


constituintes dessa forma de governo eclesiástico: Atos 11.30; 14.23; 15.2,4,6,22; Tito 1.5.

Atos 11.30 “o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de
Barnabé e de Saulo.”

Atos 14.23 “E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com
jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.”

Atos 15.2,4,6,22 “Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda e não pequena
discussão com eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a
Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão. [...] Tendo eles chegado a

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Jerusalém, foram bem recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros e relataram
tudo o que Deus fizera com eles. [...]Então, se reuniram os apóstolos e os presbíteros para
examinar a questão. [...]Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros, com toda a
igreja, tendo elegido homens dentre eles, enviá-los, juntamente com Paulo e Barnabé, a
Antioquia...”

Tiago instrui: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele,
ungindo-o com azeite em nome do Senhor” (5.14).

Vemos também que pelo menos 2 apóstolos, Pedro (1Pe. 5.1: “eu, presbítero como eles”) e
Joao (2Jo. 1: “o presbítero à senhora eleita” e 3Jo. 1: “o presbítero ao amado Gaio”) chamavam
a si próprios de presbíteros.

O governo representativo da igreja local e sua autonomia

O governo representativo da igreja local. As igrejas reformadas e presbiterianas diferem, de um


lado, de todas as igrejas nas quais o governo está nas mãos de um único prelado ou de um
presbítero ou ancião presidente, e, de outro lado, daquelas nas quais o governo está com o
povo em geral.

Elas não acreditam em nenhum governo de um homem só, seja este um presbítero, um pastor
ou um bispo; tampouco acreditam em governo popular. Elas elegem presbíteros regentes
como seus representantes, e estes, juntamente com o(os) ministro(s), formam um conselho ou
consistório para o governo da igreja local. Muito semelhantemente, os apóstolos eram guiados
pelo respeitado costume de se terem presbíteros na sinagoga, e não por algum mandamento
direto, quando ordenavam presbíteros nas diversas igrejas fundadas por eles.

Os presbíteros são escolhidos pelo povo como homens especialmente qualificados para
governar a igreja. Berkhof diz, “os presbíteros, embora representantes do povo, não derivam
sua autoridade do povo, mas do Senhor da igreja. Eles exercem o governo sobre a casa de
Deus, em nome do Rei, e são responsáveis unicamente perante Ele.”

Os oficiais da igreja: presbíteros e diáconos – Para cumprir as responsabilidades sociais da


igreja.

1. Presbíteros. Dentre os oficiais comuns da igreja, os presbyteroi (presbíteros) ou


episkopoi (bispos) são os primeiros, na ordem de importância. O primeiro nome significa
simplesmente “anciãos”, ou “mais velhos”, e o último, “supervisores” ou
“superintendentes”. O termo presbyteroi é empregado na Escritura para denotar
homens idosos, e para designar uma classe de oficiais um tanto parecida com a que
exercia certas funções na sinagoga.

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Os presbyteroi são mencionados, pela primeira vez em At 11.30. Vários outros nomes são
aplicados a oficiais, a saber,

proistemanoi (os que presidem), Rm 12.8; 1 Ts 5.12;


kyberneseis (governos), 1 Co 12.28;
hegoumenoi (guias), Hb 13.7, 17, 24;
e poimenas (pastores), Ef 4.11.

Atos 20.28 “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu
bispos (presbíteros) para pastoreardes (apascentar, governar, nutrir, cuidar) a igreja de Deus, a
qual ele comprou com o seu próprio sangue.” Claramente se vê que estes oficiais detinham a
superintendência do rebanho que fora entregue aos seus cuidados. Eles tinham que abastecê-
lo, governá-lo e protegê-lo, como sendo da própria família de Deus.

2. Diáconos. Além dos presbyteroi, são mencionados os diakonoi no Novo Testamento, Fp


1.1; Tm 3.8, 10, 12. Homens chamados para o serviço de diaconia, servir à mesa, cuidar do
pobre e da viúva, agir em favor dos necessitados.

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Capítulo 6. O poder da Igreja


A fonte de poder da igreja

Berkhof afirma que “Jesus Cristo não somente fundou a igreja, mas também a revestiu do
necessário poder ou autoridade. Ele é a Cabeça da igreja, não apenas no sentido orgânico, mas
também no sentido administrativo”. (Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 594).

Ele mesmo falou da igreja como fundada tão solidamente sobre uma rocha que as portas do
inferno não prevaleceriam contra ela, Mt 16.18; e na mesma ocasião – exatamente a primeira
em que Ele fez menção da igreja – também prometeu dota-la de poder, quando disse a Pedro:
“Dar-te-ei as chaves do reino dos céus: o que ligares na terra, terá sido ligado nos céus; e o que
desligares na terra, terá sido desligado nos céus” (Mt 16.19). E com as chaves do reino dos céus
Pedro recebe poder para ligar e desligar, o que neste contexto, parece significar, determinar o
que é proibido e o que é permitido na esfera da igreja.

Herman Bavinck entende que as chaves são um sinal de controle ou autoridade (Is 22.22; Lc
11.52; Ap 1.18; 3.7; 9.1; 20.1) e, aqui, denotam o poder de Pedro de “abrir” e “fechar” o reino dos
céus, isto é, determinar o que acontecerá ou não acontecerá. “As palavras aramaicas que, em
Mateus, foram traduzidas por “ligar” e “desligar” significam “declarar ser permitido ou
proibido”. Pedro, portanto, recebe de Jesus o poder de determinar – com base ou de acordo
com sua confissão de Jesus como o Cristo – o que será ou não será permitido no reino que está
sendo estabelecido aqui sobre a terra e tem seu centro na igreja.

Num contexto de disciplina, Mateus 18.18 “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra
terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus.” Bavinck
vai dizer que “essa comunidade pode e deve agir dessa forma porque os apóstolos, falando
com autoridade divina, lançaram o fundamento dessa medida disciplinar (v.18) e porque o
próprio Cristo habita nela (v.19-20)”.

João 20.23 “Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são
retidos.”

Além disso, Cristo dá a essas comunidades eclesiásticas ofícios, ministérios, dons (Rm 12.6ss.;
1Co 12–14; Ef 4.11).

A eclesiologia reformada identificou três tipos de poder, em conexão com os três ofícios
de Cristo (Profeta, Rei e Sacerdote):
1. O poder de ensinar (ofício profético)
2. O poder de governar (ofício real)
3. O poder ou ministério de misericórdia (ofício sacerdotal)

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1. O poder de ensinar (ofício profético)

“A responsabilidade de ensinar a verdade do evangelho é dada a todos os crentes em


seus vários lugares e chamados, mas, de uma forma oficial, por meio do ensino do ministro da
Palavra” (Bavinck, DR, vol. 4, p. 395).

O poder de ensinar tem suas raízes no ofício profético para o qual Cristo foi ungido e
que ele, continuamente, ainda exerce por meio de sua Palavra e de seu Espírito. Apesar dele
ainda continuar exercendo esse poder profético, ele regularmente emprega pessoas como
seus órgãos, não apenas oficiais no sentido estrito, mas todos os crentes, cada um deles de
acordo com a graça que lhe foi dada.

Sendo assim, Bavinck vai dizer que “a igreja é uma profetisa e todos os cristãos
participam da unção de Cristo e são chamados a confessar seu nome.” (p. 420). Bavinck vai
além e diz que “Cristo está ativo no ensino por meio dos pais, em casa, por meio do professor,
na escola, por meio do presbítero no momento da visita domiciliar e por meio de todos os
crentes em seus contatos mútuos e em suas associações uns com os outros, e [...] de um modo
distinto, oficialmente, com um mandato e uma autoridade expressamente dados, nas reuniões
públicas do povo de Deus, por meio do ministro da Palavra.” (p. 420).

Por meio do poder do ensino, queremos nos referir primariamente a essa ministração
oficial da Palavra de Deus. Dentro desse poder de ensino (ofício profético), também nos
referimos aos sacramentos (Palavra e sacramentos). Bavinck diz que “a Palavra tem
precedência e o sacramento é acrescentado como um selo... Não há sacramento sem a Palavra,
mas há Palavra sem o sacramento [...] O sacramento segue a Palavra” (p. 420).

Esse ensino não deve ser visto apenas num sentido intelectualista. Nós fazemos isso
ensinando, admoestando, confortando e repreendendo de acordo com a necessidade de cada
um, proclamando a salvação e a reconciliação com Deus por meio da fé em Jesus. A igreja
administra esse poder de ensino ministrando a Palavra de Deus especificamente em forma de
“leite” para os membros mais imaturos, e em forma de “alimento sólido” para os membros
mais maduros, e segundo Bavinck, “de tal forma que todo o conselho de Deus, todas as
riquezas de sua Palavra, sejam mostrados, desenvolvidos e aplicados de acordo com as
necessidades de cada povo e cada país, de cada época e período, de cada igreja e de todos os
crentes em particular” (p. 421)

Cf.: 2Co 5:20 – “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus
exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com
Deus.” / 2Tm 2.15 – “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que
se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” / 2Tm 4.2 “prega a palavra, insta, quer
seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.”

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2. O poder de governar (ofício real)

Cristo não é apenas um profeta, mas também um rei que, continuamente, governa sua
igreja pessoalmente. Em um sentido amplo, com esse poder, nos referimos a toda liderança e
cuidado que os crentes exercem e concedem uns aos outros. Somos todos membros uns dos
outros; sofremos e nos alegramos uns com os outros. E Cristo, por meio de seu Espírito,
concede dons de orientação e governo à igreja (Rm 12.8 “o que preside, com diligência”)

“Cristo governa sua igreja por meio do dom e do poder de governo. Isso também é
responsabilidade de todos os crentes, mas é especialmente confiado ao ofício de
ancião/presbítero” (Bavinck, DR, vol.4, p. 396). Esse governo é espiritual e caracterizado por
serviço amoroso. Esse governo é um governo de cuidado do rebanho (Jo 21.15-17; 1Pe 5.2). O
poder e a dominação terrenos estão excluídos.

Bavinck afirma que “embora, os crentes sejam, de fato, chamados a considerar como
podem estimular mutuamente ao amor e às boas obras (Hb 10.24), para garantir que nenhuma
ovelha deixará de receber os cuidados que precisa, Cristo incumbiu a alimentação do rebanho a
um ofício em particular. Ao fazer isso, ele supriu uma necessidade essencial da igreja [...] a
necessidade de cuidado espiritual...” (p. 423). A igreja precisa de orientação e cuidado, precisa
de ensino e instrução, admoestação e consolação.

A obra de disciplina da igreja pertence particularmente ao poder de governo (ao ofício


real de Cristo).

Deus disciplina seus filhos: Hb 12.5-11. Cristo disciplina sua igreja: Ap 3.19.

E ele faz isso por meio da Escritura, que é “útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16). Esse tipo de disciplina Cristo também instituiu
em sua igreja (Mt 16 – deu as chaves do reino a Pedro; 18 – deu as chaves do reino a igreja; Jo
20.23 – deu as chaves do reino aos apóstolos). Bavinck afirma, “é somente porque Cristo deu
esse poder à sua igreja que ela tem a autoridade de exercer disciplina” (p. 425).

A disciplina envolve correção, até mesmo, em casos extremos, a excomunhão. Mas a


Escritura apresenta um padrão claro para a disciplina eclesiástica, e o objetivo deve ser sempre
a restauração do pecador.

3. O ministério de misericórdia (Ofício sacerdotal)

Cristo também é um sacerdote que, do céu, ainda exerce consistentemente esse ofício
em sua igreja agora. Assim como Cristo ensina os que lhe pertencem como profeta e os
governa e disciplina como rei, assim também, como sacerdote, ele demonstra as riquezas de
sua misericórdia.

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O ofício sacerdotal de Cristo é caracterizado pelo poder de misericórdia. Cristo curou


pessoas e chamou sua igreja a um forte ministério diaconal de misericórdia em seu nome. “Esse
ministério de misericórdia realizado pela instituição eclesiástica nunca deve ser absorvido,
fundido ou confundido com a assistência social prestada pelo estado. O ministério diaconal da
igreja deve permanecer independente” (Bavinck, DR, vol.4, p. 396).

Conclusão

A igreja existe no meio do mundo com origem, essência, atividade e propósitos


próprios. Embora, em cada aspecto, ela seja distinta desse mundo, ela nunca fica separada ou
ao lado do mundo. “A igreja é uma instituição única no mundo, relacionando-se a outras orgânica,
espiritual e moralmente. Sua influência no mundo não é política e ela busca a reforma da
sociedade somente por meio de proclamação, persuasão e testemunho” (Bavinck, DR, vol.4, p.
396).

A relação que tem de existir entre a igreja e o mundo é, em primeiro lugar, de caráter
orgânico, moral e espiritual. Cristo – ainda hoje – é profeta, sacerdote e rei, e, por meio de sua
Palavra, impacta persuasivamente todo o mundo. Por meio de Cristo, a Igreja exerce uma
influência renovadora e santificadora sobre a família, a sociedade, o estado, os negócios, a
arte, a ciência e assim por diante.

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Capítulo 7. Os meios de graça


1 – Definição e conceitos

A salvação não é a linha de chegada da vida cristã. É o ponto de partida de nossa maturidade
cristã. Pedro vai dizer que, segundo o poder de Deus “nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a
sua própria glória” (2Pe 1.3).

Essas “coisas que nos conduzem à piedade” são chamadas de “meios de graça”.

De acordo com Hodge, meios de graça são “instituições que Deus ordenou para serem os
canais ordinários da graça, ou seja, das influências sobrenaturais do Espírito Santo, para as
almas dos homens.” (Charles Hodge, Teologia Sistemática, 3, p.466).

Wayne Grudem define meios de graças assim: “meios de graça são quaisquer atividades na
comunhão da igreja que Deus usa para distribuir mais graça aos cristãos” (p. 801).

O Catecismo Menor de Westminster, em resposta à pergunta 88, diz que os meios de graça são
“meios exteriores e ordinários pelos quais Cristo nos comunica as bênçãos”. O Catecismo de
Westminster considera então a Palavra, os sacramentos e a oração como meios de graça.

Joel Beeke considera meios de graça “como qualquer exercício pessoal através do qual Deus
possa nos aproximar de Cristo.”

2 – Conceitos históricos

Houve uma considerável diferença de opinião a respeito dos meios de graça na história da
Igreja. A Igreja primitiva não nos fornece nada muito definido sobre este ponto. No curso do
tempo, no entanto, certas opiniões definidas foram desenvolvidas.

1. A VISÃO CATÓLICO-ROMANA.
Enquanto os católicos romanos consideravam até relíquias e imagens como meios de graça,
destacavam particularmente a Palavra e os sacramentos. Ao mesmo tempo, eles falharam em
dar proeminência à Palavra, e atribuíram-lhe apenas significado preparatório na obra da graça.
Em comparação com a Palavra, os sacramentos eram considerados os meios reais de graça,
superiores à Palavra.

No sistema que foi gradualmente desenvolvido a Igreja de Roma reconhece um meio que é
mesmo superior aos sacramentos. A própria Igreja é considerada como o principal meio de
graça. Esta graça serve especialmente para elevar o homem da ordem natural à sobrenatural.
Fora de Cristo, da Igreja e do sacramento, não há salvação.
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2. A VISÃO LUTERANA.
Com a Reforma, a ênfase foi deslocada dos sacramentos para a Palavra de Deus. Lutero deu
grande destaque à Palavra de Deus como o principal meio de graça. Ele ressaltou que os
sacramentos não têm significado além da Palavra e eles são de fato apenas a Palavra visível.

Ele não conseguiu inteiramente corrigir o erro católico romano quanto à ligação inseparável
entre os meios exteriores e a graça interior comunicada através deles. Ele também concebeu a
graça de Deus como uma espécie de substância contida nos meios e não para ser obtida
separadamente dos meios. O corpo e o sangue de Cristo estão “dentro, com e sob” os
elementos do pão e do vinho. Foi especialmente a sua oposição à subjetividade dos anabatistas
que levou Lutero a enfatizar o caráter objetivo dos sacramentos e a tornar sua eficácia
dependente de sua instituição divina, e não da fé dos destinatários.

3. A VISÃO MÍSTICA.
Lutero teve que lutar muito com os anabatistas místicos, e foi especialmente sua reação a suas
opiniões que determinaram sua visão final dos meios de graça. Os anabatistas e outras seitas
místicas da era da Reforma e dos tempos posteriores negam virtualmente que Deus se valha de
meios na distribuição de Sua graça. Eles enfatizam o fato de que Deus é absolutamente livre
em comunicar Sua graça, e portanto dificilmente pode ser concebido como ligado a tais meios
externos. Tais meios afinal pertencem ao mundo natural, e não têm nada em comum com o
mundo espiritual. Deus ou Cristo, ou o Espírito Santo, trabalham diretamente no coração, e
tanto a Palavra quanto os sacramentos só podem servir para indicar ou simbolizar essa graça
interna. Toda esta concepção é determinada por uma visão dualista da natureza e da graça.

4. A VISÃO RACIONALISTA.
Os socinianos dos dias da Reforma, por outro lado, avançaram muito na direção oposta. Eles
reconheceram o batismo e a Ceia do Senhor como ritos de validade permanente, mas
atribuíram-lhes apenas uma eficácia moral. Isso significa que eles pensavam que os meios da
graça funcionavam apenas através da persuasão moral e não os associavam a nenhuma
operação mística do Espírito Santo. De fato, colocaram a ênfase mais no que o homem faz nos
meios de graça do que no que Deus realizou através deles. (Obs.: De Acordo com Bavinck,
Zwinglio se encaixa nesta visão).

5. A VISÃO REFORMADA.
Enquanto a reação aos anabatistas fez com que os luteranos se movessem na direção de Roma
e vinculassem a graça de Deus aos meios de graça no sentido mais absoluto - uma posição
também tomada por alguns Anglicanos, as Igrejas Reformadas continuaram a visão original do
Reforma.

Eles negam que os meios da graça possam por si mesmos conferir graça, como se fossem
dotados de um poder mágico para produzir a santidade. Somente Deus e é a causa eficiente da

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salvação. E na distribuição e comunicação de Sua graça Ele usa os meios de graça para servir a
Seus propósitos graciosos de acordo com Sua própria vontade.

Mas apesar de não considerarem os meios da graça como absolutamente necessários e


indispensáveis, os reformados se opõem fortemente à ideia de que esses meios podem ser
tratados como puramente acidentais e indiferentes e podem ser negligenciados. Deus
designou os meios de graça como os meios comuns pelos quais Ele opera Sua graça nos
corações dos pecadores, e sua negligência deliberada só pode resultar em perda espiritual.

3 – A Doutrina Reformada

Joel Beeke destaca dois âmbitos dos meios de graça: o particular e o corporativo:

Meios particulares da graça

1. Ler as Escrituras.
Joel Beeke diz que “você não irá crescer muito em santidade e a sua vida não irá impactar
outras pessoas se você não estiver diariamente buscando, amando, vivendo as Escrituras”.

2. Meditar nas Escrituras.


Na meditação você se concentra em um texto ou assunto específico. Os puritanos faziam
muito isso, contudo nossa geração perdeu essa prática. Joel Beeke vai dizer que os puritanos
apresentavam 7 passos para a meditação:
• Ore para que o Espírito Santo foque a sua mente na meditação;
• Leia uma parte das Escrituras e medite em um ou dois versículos ou em uma doutrina
específica contida no texto.
• Memorize este versículo para ajuda-lo em sua meditação;
• Medite em tudo o que sabe sobre aquele verso, usando o livro da Escritura, o livro da
Consciência e da Memória e o livro da Natureza e buscando aplicar tais coisas em sua
vida.
• Estimule suas afeições enquanto medita, tais como amor, alegria, zelo.
• Faça uma resolução espiritual – os puritanos normalmente escreviam essa resolução em
seus diários e oravam
• Termine sua meditação com ações de graças ou cantando os salmos, pois isto ajudará a
memorizar a Palavra.

3. Oração e Prática.
Os reformadores diziam “Orare et labutare” – ore e labute. John Bunyan já dizia: “Você
pode fazer mais do que orar depois de ter orado, mas você não pode fazer nada mais do que
orar até ter orado”. Quanto mais oramos, mais saberemos quão pouco temos dessa graça. Por
isso, priorize a oração; entregue a sua vida à oração.

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Um dos nossos problemas, mesmo sendo reformados e conservadores em nossa teologia, é
marginalizar a oração, tratando-a como um apêndice de um livro. Martinho Lutero em meio a
suas ocupações disse: “Tenho tanto para fazer hoje que acho que passarei as primeiras três
horas em oração”.

Grudem vai dizer que “tanto a oração coletiva da igreja reunida quanto a oração dos cristãos,
[...] são meios poderosos que o Espírito Santo usa cotidianamente para distribuir bênçãos aos
salvos” (p. 806).

Hb 4.16 “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de


recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.”

Meios corporativos da graça

1. Pregação da Palavra.
Precisamos fazer melhor uso da pregação, afirma Joel Beeke. 2Tm 3.16 diz que a Palavra é
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”. É lâmpada
para os nossos pés e luz para os nossos caminhos (Sl 119.105). Wayne Grudem vai dizer que o
ensino da Palavra deve ser o primeiro e mais importante meio de graça dentro da igreja.

Breve Catecismo de Westminster, pergunta 89 “Como a Palavra se torna eficaz para a


salvação? Resposta: O Espírito de Deus torna a leitura e, especialmente, a pregação da Palavra,
meios eficazes para convencer e converter os pecadores, para os edificar em santidade e
conforto, por meio da fé para salvação.

Cf. também a resposta da pergunta 90, “Para que a Palavra se torne eficaz para a salvação
devemos ouvi-la com diligência, preparação e oração; recebe-la com fé e amor, guarda-la em
nosso coração e praticá-la em nossa vida”.

2. Sacramentos.
Os sacramentos trazem a Palavra de forma mais sensorial (Batismo e Ceia do Senhor).
Pergunta 91 do Breve Catecismo: “Como os sacramentos se tornam meios eficazes para a
salvação? Resposta: Os sacramentos tornam-se meios eficazes para a salvação não por alguma
virtude que eles ou aqueles que os ministram tenham, mas somente pela bênção de Cristo e
pela obra do seu Espírito naqueles que pela fé os recebem.

3. Comunhão dos santos.


Precisamos compartilhar nossas experiências espirituais uns com os outros. Aconselhar,
exortar e edificar um ao outro. Cristãos mais maduros tem o deve de edificar cristãos mais
novos. Isso também é um meio de graça.

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Os membros da Igreja Primitiva “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão
(At 2.42). O autor de Hebreus 10.24-25 “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos
estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de
alguns...”

Jonh Frame, Salvation Belongs to the Lord (P&R, 2006), 260–261:

“Sem a graça de Deus, estamos perdidos. E precisamos da graça de Deus, não só


no início da vida cristã, mas por toda a vida cristã. Então, naturalmente
perguntamos, onde podemos ir para encontrar essa graça contínua de Deus para
nós? Onde vamos buscar os recursos para a santificação, para o crescimento
espiritual contínuo? A resposta curta é que há três lugares: a Palavra, comunhão
e oração. [...] Não é típico na teologia Reformada considerar a comunhão como
um meio de graça. Mas eu acho que é. Lembre-se de todas as passagens que
falam “uns aos outros”? Esses textos tornam claro que nossa saúde espiritual
depende uns dos outros - tanto o que os outros crentes fazem por nós quanto o
que fazemos por eles.” Todas essas passagens nos falam de “comunhão”.

Conclusão

Em todos esses meios de graça devemos buscar a Cristo, nos aproximar de Cristo. Toda
a nossa santidade está em Cristo. E usamos esses meios de graça para nos preparar e nos
santificar para o nosso encontro com Cristo, na glória.

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Capítulo 8. Os sacramentos
• Definição e conceitos

A palavra “sacramento” não se encontra na Bíblia. É derivada de um termo latim


“sacramentum”.

Berkhof traduz sacramento como “uma santa ordenança instituída por Cristo, na qual, mediante
sinais perceptíveis, a graça de Deus em Cristo e os benefícios da aliança da graça são
representados, selados e aplicados aos crentes, e estes, por sua vez, expressam sua fé e sua
fidelidade a Deus”.

Segundo a Confissão Belga, sacramentos “são sinais e selos visíveis de uma realidade interna e
invisível”.

Calvino, no Catecismo de Genebra de 1537, afirma que um sacramento “é uma marca exterior
da graça de Deus que, por um sinal visível, nos representa coisas espirituais, por imprimir as
promessas de Deus mais fortemente em nossos corações, e por nos tornar mais seguros
delas”.

Nas Institutas, Calvino fala que sacramento “é o sinal externo mediante o qual o Senhor nos
sela à consciência as promessas de sua benevolência para conosco, a fim de suster-nos a
fraqueza de nossa fé, e nós, de nossa parte, atestamos nossa piedade para com Ele, tanto
diante d’Ele, dos anjos, quanto dos homens”. (Inst. 4.14.4). Calvino entende que sua teologia
sacramental está alinhada com o pensamento de Agostinho. Ele diz: “a definição nada difere
em sentido daquele de Agostinho, que ensina ser o sacramento ‘o sinal visível de uma coisa
sagrado’, ou, ‘a forma visível de uma graça invisível’”.

Herman Bavinck, sobre os sacramentos, diz que eles são sinais visíveis de uma graça invisível
para fortalecer nossa fé e nos ajudar a viver uma vida santa de uma maneira que agrada a Deus.
[...] esses sinais visíveis e externos (os sacramentos) traz consequências internas para nossos
corações e mentes.

Podemos dizer então, que existe um consenso em afirmar que sacramento é o sinal visível de
uma graça invisível. Diante dessa definição, Berkhof distingue as 3 partes nos sacramentos: (1)
o sinal visível ou externo; (2) a graça invisível significada e selada; e (3) a união sacramental
entre o sinal visível e a coisa invisível significada:

1) O sinal visível
Cada sacramento contém um elemento material, palpável aos sentidos. O objeto visível e
externo do sacramento inclui, não somente os elementos que se usam (água para o batismo,

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pão e vinho para a Ceia), mas também o ritual sagrado (a cerimônia em si), ou seja, aquilo que
se faz com os elementos. Esses elementos sacramentais são sinais e selos

2) A graça espiritual invisível ou interna significada e selada.


Os sinais e selos pressupõem algo que é significado e selado. Esses sinais significam e selam a
nossa união com Cristo. Essa união com Cristo é indicada como “justiça da fé” em Rm 4.11, o
perdão dos pecados, fé, a comunhão com Cristo em sua morte e ressurreição, em Rm 6.3-7.

Resumidamente, pode-se dizer que consiste de Cristo e todas as suas riquezas espirituais.
Berkhof diz que “os sacramentos não significam meramente uma verdade geral, mas uma
promessa dada a nós e por nós aceita, e servem para fortalecer a nossa fé com respeito à
realização dessa promessa [...] Como sinais e selos, eles [os sacramentos] são meios de graça,
isto é, meios pelos quais se fortalece a graça interna produzida no coração pelo Espírito
Santo”.

3) A união sacramental entre o sinal visível e a coisa significada.


É a relação entre o sinal e a coisa significada que constitui a essência do sacramento.

Essa relação não é física (como afirmam os católicos romanos), como se a graça invisível (a coisa
significada) fosse inerente (fizesse parte da essência) do sinal visível, como se elas se
tornassem a mesma coisa.

Essa relação não é local (como afirmam os luteranos), como se o sinal visível e a coisa significada
estivessem presentes no mesmo espaço, de forma que tanto os crentes como os incrédulos
recebessem o sacramento completo ao receberem o sinal.

Essa relação é espiritual (de acordo com a teologia reformada), de modo que, quando o
sacramento é recebido com fé, a graça de Deus o acompanha. De acordo com esse conceito, o
sinal visível torna-se um meio (meio de graça) empregado pelo Espírito Santo na comunicação
de sua graça.

Bavinck, falando sobre essa relação entre o sinal visível e a coisa significada, afirma, “a palavra
escrita, diz-se, expressa o que está escrito no coração de cada crente, e os sacramentos só tornam
externamente visível aos nossos olhos o que Cristo concede internamente pelo seu Espírito.” (DR,
vol.4 [519]).

Deus graciosamente usa meios que podemos entende para se comunicar com a gente. Ele não
precisava fazer isso, porque ele podia simplesmente aplicar todos os benefícios de Cristo,
internamente em nossos corações, mas ele escolheu fazer isso por meios externos, para que
pudéssemos ver e entender – “provar e ver que o Senhor é bom” (Sl 34).

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Também podemos inferir, diante disso, que o sacramento é subordinado à Palavra. É um sinal
do conteúdo da Palavra, um selo que Deus anexou ao seu testemunho. Bavinck diz que “a
Palavra é algo sem o sacramento, mas o sacramento não é nada sem a Palavra e, nesse caso,
não tem nenhum valor nem poder. Ele é nada menos, mas também nada mais do que a Palavra
feita visível. Todos os benefícios da salvação podem ser obtidos pela Palavra e somente pela fé,
enquanto não há um só benefício que possa ser obtido sem a Palavra e sem a fé, somente por
meio do sacramento” (vol4, p. 486).

A CFW afirma que a graça significada nos sacramentos depende “da obra do Espírito e da
Palavra da instituição, a qual, juntamente com o preceito que autoriza o uso deles, contém uma
promessa de benefício aos que dignamente o recebem”.

Os reformadores lutaram pela manutenção dessa harmonia entre sacramento e Palavra,


contra o conceito católico romano, que dava aos sacramentos poder salvífico e santificador por
meio de um poder mágico concedido ao sacerdote por Deus, os reformadores afirmavam que o
sacramento é subordinado à Palavra e que ambos servem para dirigir nossa fé ao sacrifício de
Cristo na cruz como o único fundamento de nossa salvação. E por estar subordinado à Palavra,
os méritos ou deméritos do ministro não tem qualquer consequência sobre a eficácia do
sacramento, pois a Palavra não é limitada à fraqueza ou à falha humana.

Os 39 artigos da Igreja Anglicana (1563) professam esse aspecto de forma bastante clara:

“Para aqueles que recebem os sacramentos, que lhes são ministrados pela fé e de
maneira adequada, a eficácia das ordenanças de Cristo não é anulada pela maldade do
sacerdote, tampouco é por esta razão diminuída a graça dos dons de Deus. Tudo isto é
válido em função da instituição e da promessa de Cristo, mesmo quando ministrado por
pessoas indignas.”

Bavinck também afirma: “Somente Deus pode ser o autor, iniciador e a causa eficiente dos
sacramentos. Só Ele é o possuidor e distribuidor de toda graça. Só ele pode determinar a quais
meios ele se ligará na distribuição de sua graça. Além disso, também Cristo tem o direito de
instituir sacramentos, pois, como Mediador, ele é o aquisitor de toda a graça divina.” (vol.4,
p.480 [525]).

Isso significa que não cabe a nós, seres humanos, inventar, imaginar ou criar novas formas e
maneiras de adorar a Deus e agradá-lo. Só ele é quem nos fornece tudo o que é necessário para
que possamos viver, adorar e agradar, como igreja.

• A necessidade dos sacramentos

Os católicos romanos afirmam que os sacramentos funcionam “ex opere operato”, ou seja,
“pelo ato realizado”. É como se eles tivessem poder por si só, ou transmitissem graça pela ato
em si, sem depender de qualquer outra coisa.
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Por outro lado, os reformadores ensinam que os sacramentos são obrigatórios em vista do
preceito divino. A negligência voluntária do seu uso redunda em empobrecimento espiritual.
Bavinck diz que “não é a privação, mas o desprezo do sacramento que faz com que uma
pessoa seja culpável diante de Deus”.

Porém, não são absolutamente necessários para a salvação. Os sacramentos não produzem fé,
mas eles pressupõem a fé, reforçam/fortalecem a fé, assim como uma aliança de casamento
reforça o amor.

Bavinck diz que, “é necessário, por parte do sujeito, que sua mente seja iluminada, sua vontade
seja convencida para que possa verdadeiramente entender e aceitar o sacramento [...] Os
reformados afirmaram que, embora Cristo seja, de fato, objetiva, verdadeira, e seriamente
oferecido a todos os participantes no sacramento, assim como na Palavra a todos que a
ouvem, subjetivamente, é necessária uma ação do Espírito Santo para que o verdadeiro poder
do sacramento seja desfrutado” (vol4, p. 494).

Bavinck conclui seu pensamento sobre os sacramentos dizendo que “eles renovam a aliança do
crente com Deus, fortalecem-nos na comunhão com Cristo, unem-nos mais estreitamente uns
aos outros, separam-nos do mundo e dão testemunho aos anjos e aos seus companheiros
humanos, mostrando que são povo de Deus, igreja de Cristo, a comunhão dos santos” (vol.4, p.
496).

Os sacramentos, então, são um testemunho maravilhoso e extraordinário da bondade e


misericórdia de Deus, que não nos despreza, mas nos sustenta em nossa fraqueza. Por essa
razão, os sacramentos são necessários, e nosso uso deles é uma evidencia da nossa confiança
em Deus.

• A comparação entre os sacramentos do AT e NT

a) Sua unidade essencial.


A Igreja de Roma e os dispensacionalistas alegam que existe uma diferença essencial entre os
sacramentos do AT e do NT. Berkhof vai dizer que para a Igreja de Roma, a santificação
produzida pelos sacramentos no AT não era interna, mas apenas legal, e prefigurava a graça
que viria no futuro, em virtude da paixão de Cristo. Eles não tinham eficácia objetiva.

Por isso, uma vez que a plena concretização da graça tipificada por aqueles sacramentos
dependia da vinda de Cristo, os santos do AT foram encerrados no Limbus Patrum (Limbo) até
Cristo os tirar de lá.

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Porém, a teologia reformada vai dizer que existe uma unidade essencial entre os sacramentos.
(1) Em 1Co 10.1-47 Paulo atribui à igreja do AT aquilo que é essencial nos sacramentos do NT. (2)
Em Rm 4.118 Paulo fala da circuncisão de Abraão como selo da justiça da fé. (3) Em vista do fato
de que eles representam as mesmas realidades espirituais, os nomes dos sacramentos em
ambas as dispensações são utilizados uns pelos outros: a circuncisão e a páscoa são atribuídas
à igreja do NT (1Co 5.79 e Cl 2.1110); e o batismo e a Ceia do Senhor à igreja do AT (1Co 10.1-4).

b) Suas diferenças formais.


A Igreja de Roma e os dispensacionalistas alegam que existem certos pontos de diferença
entre eles. Berkhof enumera da seguinte maneira:

1. Em Israel os sacramentos tinham um aspecto nacional em acréscimo à sua significação


espiritual;
2. Ao lado dos sacramentos, Israel tinha muitos outros ritos simbólicos (ofertas, purificações)
que concordavam com os seus sacramentos. No NT, os sacramentos estão sós.
3. Os sacramentos do AT apontavam para Cristo no futuro, e eram selos da graça que ainda
viria, ao passo que os do NT apontam para Cristo no passado e o seu sacrifício de redenção já
consumado.

• O número dos sacramentos

Para a Igreja Católica romana, existem 7 sacramentos:

1) O batismo, que não apenas remove a culpa e a punição pelo pecado, mas também liberta os
crentes da corrupção do pecado, ou seja, tem poder salvífico.
2) A confirmação (crisma) que consiste na imposição de mãos, na unção com óleo e no
pronunciamento de uma fórmula pelo bispo. Foi introduzida pela igreja. Momento em que o
batizado reafirma sua fé (nossa profissão de fé).
3) Eucaristia. Onde o próprio Cristo está presente com sua natureza divina e sua natureza
humana, fisicamente nos elementos (pão e vinho).
4) Penitência. Para restaurar e renovar sua graça salvadora. É a confissão de pecados diante de
um sacerdote. Um tipo de tribunal no qual o sacerdote julga com base nos livros penitenciais os
pecados confessados. Embora absolva o penitente da culpa e da punição eternas, impõe uma
ampla variedade de penalidades, na terra ou no purgatório.

7
1Co 10.1-4: “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram
pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. Todos eles comeram de
um só manjar espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia.
E a pedra era Cristo.”
8
Rm 4.11: “E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a
ser o pai de todos os que creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça.”
9
1Co 5.7: “Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também
Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.”
10
Cl 2.11: “Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da
carne, que é a circuncisão de Cristo.”
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5) Extrema unção. Serve para preparar a pessoa que está à beira da morte para a morte.
Liberta a alma de seus defeitos e concede força necessária para enfrentar a morte.
6) Santas ordens. Distingue o sacerdote do leigo. Um dom do Espírito Santo que concede ao
sacerdote o poder de transformar o pão e o vinho da missa no corpo e no sangue de Cristo
literalmente, e de perdoar os pecados.
7) Casamento. O sacerdote não apenas une os cônjuges por meio de vínculos naturais, mas
também por meio da graça sobrenatural e os fortalece para que perseverem em mútuo amor
até a morte.

Pelo lado dos reformadores, Bavinck diz que, apesar de toda a apreciação da beleza dos
sacramentos da Igreja de Roma, o que define a questão para os cristãos protestantes é a
evidência escriturística que está ausente para os cinco sacramentos que Roma acrescentou ao
batismo e à Ceia do Senhor.

Para os reformadores, havia dois sacramentos, tanto no AT quanto no NT. No AT, a circuncisão
e a páscoa; e no NT, o batismo e a Ceia do Senhor ou Santa Ceia. A CFW, cap. 27, par. 5 diz: “Os
sacramentos do Antigo Testamento, quanto às coisas espirituais por eles significadas e
representadas, eram, em substância, os mesmos que os do Novo Testamento” (Cf. 1Co 10.1-4).

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Capítulo 9. O Batismo Cristão e o Pedobatismo


Introdução

Ambos os sacramentos estão enraizados no Antigo Testamento. O Batismo tem sua raiz na
circuncisão do Antigo Testamento. Toda criança do sexo masculino, ao oitavo dia de vida,
deveria ser submetido ao ato da circuncisão (Gênesis 17:1211). Porém, a partir do momento em
que Jesus veio ao mundo, a circuncisão já não é mais necessária, pois Ele instituiu uma outra
cerimônia, não somente para os meninos de oito dias, mas para todo aquele que crê [cristãos
adultos] e para seus filhos que também fazem parte da mesma aliança com Cristo [crianças]
(Colossense 2:11-1512).

O Batismo e a aliança da graça

Quando olhamos para o Antigo Testamento, o que vemos em Gênesis 15 é uma cerimônia de
aliança que era bastante típica para o tempo de Abraão. Quando duas partes faziam uma
aliança, eles dividiram / cortavam o animal ao meio e passavam através das partes, declarando
assim que aquele era um acordo de vida ou morte, e que mereceria ser resgado ao meio caso
violassem o acordo. Neste caso, somente Deus passou através das partes porque só Ele estava
fazendo promessas (Gn 15.17). Ele estava instituindo Sua aliança com Abraão.

O que esse evento tem a ver com o batismo?

Quando Deus entra em aliança com Seu povo, fazendo-lhes promessas de redenção, Seu
padrão é atestar a autenticidade da aliança ao dar algum tipo de sinal externo. Por exemplo,
quando Ele prometeu a Noé que Ele jamais destruiria o mundo novamente através de um
dilúvio, Deus colocou Seu arco no céu. Esse arco foi um sinal visível que confirmou a promessa
de Deus para o futuro deste planeta. Ele estava dizendo que toda vez que vemos um arco-íris,
devemos lembrar que Deus prometeu nunca mais destruir o mundo novamente com uma
inundação.

De maneira semelhante, depois de instituir Sua aliança com Abraão, Deus deu a Abraão e seus
descendentes um sinal de sua participação na aliança: a circuncisão. Este sinal tinha um duplo
significado. Por um lado, o corte do prepúcio era um sinal de que Deus estava dizendo: “Estou


11
Gn 17.12: “O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo
nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe.”
12
Cl 2.11-15: “Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da
carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente
fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. E a vós outros, que estáveis
mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando
todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual
nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades,
publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.”
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cortando você do resto da humanidade caída e consagrando você como uma nação para mim
mesmo”. Ao mesmo tempo, o sinal era um testemunho para o povo, dizendo, “Ó Deus, se eu
deixar de cumprir os termos desta aliança, se eu deixar de ser fiel a Ti nesta relação de aliança,
que eu seja cortado de todos os benefícios de Tuas Promessas da aliança”.

O ritual da circuncisão foi dado para todas as gerações de israelitas como o sinal da antiga
aliança. É por isso que, se pedíssemos a um judeu que identificasse o sinal da aliança de Deus
com Seu povo, ele diria que o sinal é a circuncisão.

Assim como a circuncisão foi o sinal da antiga aliança, o batismo é o sinal da nova aliança. De
uma maneira muito real, o que a circuncisão foi para o Velho Testamento, o batismo é para o
Novo Testamento. Vemos essa conexão próxima na carta de Paulo aos Colossenses (Cl 2.9-15).

Continuidade da aliança

Agora, é claro que a circuncisão e o batismo não são idênticos, assim como a antiga aliança e a
nova aliança não são idênticas. Mas, como R.C Sproul diz, estas duas alianças não estão em
guerra uma contra a outra. Não existe uma antítese radical entre eles. Há um elemento de
descontinuidade, e é por isso que falamos sobre o antigo e o novo. Se não houvesse nenhuma
diferença entre eles, a distinção entre a antiga e a nova aliança não teria sentido. No entanto, a
nova aliança não está em um estado de total descontinuidade da antiga aliança. Além dos
elementos de descontinuidade, há elementos fortes de continuidade. A nova aliança não
destrói a antiga aliança; antes, a nova aliança cumpre e constrói sobre a antiga.

Dada esta continuidade, é de se esperar que existam muitos paralelos entre os antigos e os
novos pactos. Por exemplo, como já vimos, ambos os pactos têm sinais externos de inclusão,
circuncisão e batismo. Ambos estes sinais têm a ver com os benefícios da salvação que Deus
realiza nas vidas daqueles que creem. Tanto a circuncisão como o batismo significam as
promessas de Deus. E em ambos os casos, é Deus quem institui o sinal.

O ato soberano de Deus é criticamente importante para entender o significado do batismo.


Isso significa que a integridade do sinal não depende da pessoa que o administra ou da pessoa
que o recebe. Se alguém é batizado por um ministro que mais tarde abandona o ministério e
abandona a fé, essa pessoa não precisa ser batizada novamente. Da mesma forma, o fracasso
de quem é batizado a levar uma vida exemplar não diminui ou prejudica o sinal. A integridade
do batismo repousa sobre a pessoa que fez a promessa e o instituiu - Cristo.

Isso nos leva ao ponto central que quero abordar - o significado do batismo. Vimos que é um
sinal da nova aliança, mas é um sinal de quê? Qual é o seu significado?

Um sinal aponta para além de si. O batismo não é a salvação e tudo o que a salvação implica.
Mas ele é o sinal que nos aponta para os benefícios de Cristo que recebemos pela fé.

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O Artigo 34 da Confissão Belga afirma:

Cremos e confessamos que Jesus Cristo, que é o fim da lei (Romanos 10.4), ao derramar
o Seu sangue pôs fim a todo e qualquer outro derramamento de sangue que se poderia
ou deveria fazer como expiação ou satisfação pelos pecados. Ele aboliu a circuncisão,
que envolvia sangue, e instituiu em lugar dela o sacramento do batismo. Pelo batismo
somos recebidos na igreja de Deus e separados de todos as outras pessoas e falsas
religiões, para estarmos totalmente comprometidos com Ele, de quem carregamos a
marca e o emblema, que nos serve como testemunho de que Ele será eternamente o
nosso Deus e Pai gracioso.

A CFW, Capítulo 28 diz:

I. O Batismo é um sacramento do Novo Testamento instituído por Jesus Cristo, não só


para solenemente admitir na igreja a pessoa batizada, mas também para servir-lhe de
sinal e selo do pacto da graça, de sua união com Cristo, da regeneração, da remissão
dos pecados e também da sua consagração a Deus, por meio de Jesus Cristo, a fim de
andar em novidade de vida. Esse sacramento, segundo a ordenação de Cristo, há de
continuar em sua Igreja até o fim do mundo.

Talvez a característica mais marcante desse parágrafo da CFW seja o número de vírgulas, cada
vírgula desencadeando uma cláusula que indica um significado particular do batismo:

a) Sinal e selo do pacto da graça: Aliança que Deus fez com o ser humano após a Queda. Cap. 8
da CFW diz que nesse pacto da graça Deus livremente oferece aos pecadores a vida e a
salvação por Jesus Cristo.

b) União com Cristo: O Novo Testamento nos ensina que, em nosso estado natural, estamos
afastados / separados de Deus. Isso significa que estamos fora da comunhão com Deus, fora de
Cristo, não em comunhão com Ele. Assim, quando passamos da incredulidade para a fé,
fazemos uma transição. Nós entramos no reino de Deus, em comunhão com Deus, e em uma
relação de salvação com Jesus Cristo depois de estar fora dessas coisas. A salvação, então, é
um movimento de um reino para outro reino, do reino das trevas para o reino da luz. Essa é a
ideia de Paulo em Gálatas 3.27: “porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos
revestistes.”

c) Regeneração: A visão reformada da regeneração está ligada ao conceito de pecado original.


Confessamos que o homem está caído, que toda pessoa nasce em um estado de corrupção
herdado de Adão e Eva. O batismo é um sinal da promessa de Deus de regenerar Seu povo,
liberá-los da escravidão moral do pecado original, purificar suas almas da culpa e purificá-las
para que possam entrar em um relacionamento de salvação com Ele. Assim, tudo o que
acontece no trabalho do Espírito Santo de nos mudar de dentro para fora é significado pelo

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sacramento do batismo. É por isso que o uso da água está no coração do batismo. É um sinal de
purificação do pecado.

d) Remissão dos pecados e consagração: O quarto significado que a confissão identifica é


“remissão dos pecados”. Nossa justificação está enraizada e fundamentada no ministério de
Cristo, que tomou nossos pecados sobre si mesmo e satisfez as exigências da justiça de Deus
através de Sua obra expiatória.

Por um lado, a morte de Jesus na cruz satisfez a justiça do Pai. Por outro lado, como o bode
expiatório do Antigo Testamento, ao qual os pecados do povo foram transferidos
cerimoniosamente e que depois foi enviado para a escuridão do deserto (Levítico 16), Cristo
tornou-se nosso bode expiatório. Assim, quando o batismo é administrado, a promessa de
Deus de remissão dos nossos pecados é significado.

Por fim, a CFW aponta para a nossa “consagração a Deus, por meio de Jesus Cristo, a fim de
andar em novidade de vida”. Aqui a confissão toca em nossa rendição a Deus, na conversão
(retorno) de nossos próprios caminhos intencionais para seguir a Cristo em submissão a Seu
senhorio. Tendo sido “crucificado com Cristo” (Gálatas 2:20) em nossa união mística com Ele,
somos ressuscitados para uma nova vida, com novos corações que são capazes de escolher os
caminhos de Deus. Queremos andar nesses caminhos, e o batismo é um sinal dessa rendição,
dessa consagração, e da mudança de vida (novidade de vida).

Além de tudo isso, o batismo no Novo Testamento é um sinal de nossa morte e ressurreição
com Cristo. O batismo indica nossa identificação com a morte de Cristo; Por ele, confessamos
que Sua morte foi por nós, que em Sua expiação Ele pagou a penalidade por nosso pecado. Ele
foi ressuscitado como o primogênito de muitos irmãos (Romanos 8.29). Assim, a vitória sobre a
morte, em nome de todos os que estão em Cristo, é também significada pelo batismo.

O modo de batismo

Creio que a igreja primitiva reconheceu essa falta de certeza nas Escrituras (argumentos a favor
e contra batismo por imersão e aspersão). Em um lugar onde a água era escassa e onde poucas
congregações tinham seus próprios edifícios, muito menos pias batismais ou piscinas, a igreja
não era extremamente rígida sobre como o batismo deveria ser realizado. Vemos isso a partir
do Didache, um “manual” da igreja, que data do final do século I ou início do segundo século:

Mas, quanto ao batismo, assim batizarás. Tendo primeiro recitado todas estas coisas,
batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em águas vivas. Mas se tu não
tens água viva, então batiza em outra água; e se tu não és capaz de batizar em água fria,
então em água quente. Mas, se não tiveres, derrama água três vezes na cabeça, em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mas, antes do batismo, aquele que batiza e
aquele que é batizado jejue, e todos os outros que são capazes; e ordenarás ao que é

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batizado que jejue um dia ou dois antes de ser batizado. (Capítulo 7, tradução de J. B.
Lightfoot)

O escritor do Didache era dogmático sobre o uso da fórmula Trinitária no batismo, mas era
flexível quanto ao modo que era empregado. Assim, desde os primeiros dias, os cristãos
usaram uma variedade de modos para batizar. O modo não importa muito, contanto que o
caráter do sinal do sacramento fosse comunicado.

Minha conclusão é que a questão do modo de batismo não deve dividir os cristãos. A questão
tem sido examinada e debatida por dois mil anos, e estamos longe de chegar à uma conclusão.
Esta é uma área da prática da igreja onde somos chamados a tolerar uns aos os outros e não
caluniar ou difamar aqueles que praticam um modo diferente do que preferimos. O pano de
fundo é que todos estão tentando dizer basicamente a mesma coisa através de qualquer modo
empregado (imersão ou aspersão) - que o destinatário está incluído no corpo de Cristo. A
quantidade de água não deve ser causa de divisões na igreja.

Batismo infantil (Pedobatismo)

Talvez a controvérsia mais importante sobre esse sacramento seja a questão da legitimidade
do batismo infantil – se devemos ou não batizar crianças. Os principais argumentos usados à
favor do batismo infantil são: (1) as diversas passagens em que famílias inteiras são batizadas (e
entre seus membros, provavelmente, deveriam existir crianças: At 16.15,33; 1Co 1.16). (2) Paulo
trata o batismo como uma contrapartida espiritual da circuncisão (Cl 2.11,12), indicando que
este paralelo poderia ser estendido às crianças.

Alister McGrath diz que existem três grandes correntes sobre esta questão na tradição cristã:

1) O batismo infantil expia a culpa do pecado original.


O batismo infantil obtinha remissão tanto das transgressões quanto do pecado original. Essa
corrente teve início com Cipriano de Cartago, que entendia que o batismo infantil expiava a
culpa do pecado. Agostinho (séc.4) fundamenta o batismo infantil argumentando que Cristo é
o Salvador de todos – inclusive das crianças; logo, todos precisam de redenção, que pode ser,
ao menos em parte, oferecida pelo batismo.

2) O batismo infantil não se justifica.


Tertuliano já dizia o contrário, ele afirmava que o batismo tinha que ser adiado até a época em
que a criança pudesse “conhecer a Cristo”. Essa corrente entende que o batismo só deve ser
ministrado quando o indivíduo mostrasse sinais da graça, arrependimento e fé (Credobatismo –
posição da Igreja Batista). Eles entendem que a prática do “batismo de crentes” fundamenta-
se no pressuposto que o batismo representa uma declaração pública de fé por parte de uma
pessoa convertida. A conversão ocorre antes do batismo; o batismo representa apenas a
profissão pública daquilo que já aconteceu.

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3) O batismo infantil baseia-se na aliança entre Deus e seu povo.
A tradição protestante buscou justificar a prática do batismo infantil, vendo-o como um sinal
da aliança entre Deus e seu povo. Na igreja, de acordo com essa corrente, o batismo infantil é
visto como um equivalente direto do rito judaico da circuncisão.

As confissões reformadas seguem essa corrente de pensamento:

O parágrafo 4 da CFW diz: “Não só o que professam a sua fé em Cristo e obediência a ele, mas
também os filhos de pais crentes (ainda que só um deles o seja) devem ser batizados”.

A Confissão Belga, artigo 34, afirma:

Rejeitamos, portanto, o erro dos anabatistas, que não se contentam com o batismo que
uma vez receberam e que, além disto, condenam o batismo dos filhos pequenos dos
crentes. Nós cremos, porém, que eles devem ser batizados e, com o sinal da aliança,
devem ser selados, assim como as crianças em Israel eram circuncidadas com base nas
mesmas promessas que foram feitas a nossos filhos. Cristo, de fato, derramou seu
sangue para lavar, igualmente, as crianças dos fiéis e os adultos. Por isso, elas devem
receber o sinal e o sacramento da obra que Cristo fez para elas, como o Senhor, outrora,
na lei, determinava que as crianças participassem, pouco depois do seu nascimento, do
sacramento do sofrimento e da morte de Cristo, através da oferta de um cordeiro, que
era um sacramento de Jesus Cristo. Além disto, o batismo tem, para nossos filhos, o
mesmo efeito que a circuncisão tinha para o povo judeu. É por esta razão que o
apóstolo Paulo chama ao batismo: “a circuncisão de Cristo” (Colossenses 2:11)

O Catecismo de Heidelberg ensina:


Pergunta 74: As crianças pequenas devem ser batizadas?
Resposta: Sim. As crianças, assim como os adultos, pertencem à aliança e à igreja de Deus.
Através do sangue de Cristo lhes são prometidos, da mesma forma que aos adultos, a redenção
do pecado e o Espírito Santo, que opera a fé. Assim as crianças, por meio do batismo como
sinal da aliança, devem ser enxertadas na igreja de Cristo e distinguidas dos filhos dos
incrédulos. Na velha aliança isso era feito pela circuncisão, que, na nova aliança, foi substituída
pela instituição do batismo.

A Segunda Confissão Helvética, capítulo 20 “Do Santo Batismo”, caminha na mesma estrada
reformada ao afirmar:

Condenamos os anabatistas, que negam que as criancinhas recém-nascidas dos fiéis


devam ser batizadas. Mas, segundo o ensino evangélico, “dos tais é o Reino de Deus”, e
as mesmas se encontram na aliança de Deus. Por que, então, não deve o sinal da aliança
de Deus ser conferido a elas? Por que não devem aqueles que são propriedade de Deus
e estão na sua Igreja ser iniciados pelo santo batismo? Condenamos os anabatistas em
outras das suas doutrinas peculiares, que eles sustentam em oposição à Palavra de
Deus. Não somos, portanto, anabatistas e nada temos em comum com eles.

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Catecismo Maior de Westminster:
Pergunta 167: Como devemos tirar proveito do nosso Batismo?

Resposta: O dever necessário, mas muito negligenciado, de tirar proveito de nosso Batismo
deve ser cumprido por nós durante toda a nossa vida, especialmente no tempo de tentação,
quando assistimos à administração desse sacramento a outros:

1) por meio de séria e grata consideração da sua natureza e dos fins para os quais Cristo o
instituiu, dos privilégios e benefícios conferidos e selados por ele e do voto solene que nele
fizemos por meio de humilhação devida à nossa corrupção pecaminosa, às nossas falhas, e ao
andarmos contrários à graça do Batismo e aos nossos votos;

2) por crescermos até à certeza do perdão de pecados e de todas as mais bênçãos a nós
seladas por esse sacramento;

3) por fortalecer-nos pela morte e ressurreição de Cristo, em cujo nome fomos batizados para
mortificação do pecado e a vivificação da graça e

4) por esforçar-nos a viver pela fé, a ter a nossa conversação em santidade e retidão como
convém àqueles que deram os seus nomes a Cristo, e a andar em amor fraternal, como
batizados pelo mesmo Espírito em um só corpo.

Conclusão

O Batismo não é simplesmente uma cerimônia cognitiva (que envolve conhecimento


intelectual). Ela deve ser desfrutada, experimentada, de modo que nossa fé se fortaleça e nós
possamos crescer unidos a Cristo e uns aos outros.

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Capítulo 10. A Ceia do Senhor


Introdução
De acordo com a CFW, 29.1:

“Na noite em que foi traído, nosso Senhor Jesus Cristo instituiu o sacramento de seu
corpo e sangue, chamado Ceia do Senhor, para ser observado em sua igreja até o fim do
mundo, para ser uma lembrança perpétua do sacrifício que em sua morte ele fez de si
mesmo; para selar, aos verdadeiros crentes, todos os benefícios provenientes desse
sacrifício para o seu nutrimento espiritual e crescimento nele, e seu compromisso de
cumprir todos os seus deveres para com ele; e ser um vínculo e penhor de sua
comunhão com ele e uns com os outros, como membros do seu corpo místico”

1. A controvérsia na época da Reforma (Quanto à presença de Cristo)

a) O ensino romanista. Transubstanciação. O pão se torna carne e o vinho se torna sangue,


mediante a consagração do sacerdote. E continuam tais permanentemente. Cristo está em
cada átomo dos elementos. Participar do corpo é participar de Cristo. A substância do pão e do
vinho é miraculosamente transformada em corpo e sangue de Cristo. O pão e o vinho não são
mais pão e vinho, embora pareçam ser. O Concílio de Trento, em 1551, definiu a
transubstanciação como a posição da Igreja Católica: “Após a consagração do pão e do vinho,
nosso Senhor Jesus Cristo está verdadeiramente, real e substancialmente, contido no
venerável sacramento da santa eucaristia, sob a aparência daquelas substâncias ali presentes”
(Decreto sobre a Santíssima Eucaristia).

b) O ensino luterano. Consubstanciação. Esta é temporária. Limita-se à ocasião do sacramento.


Depois, os elementos são pão e vinho comuns. Ensina que o corpo e o sangue de Cristo estão
presentes “em, com e sob” a forma de pão e vinho, que, em si mesmos, permanecem sendo
pão e vinho. O corpo e o sangue de Cristo podem assim ser recebidos tanto pelo crente com
pelo descrente, mas só́ o crente é que tira beneficio desse fato.

c) O ensino memorial simbólico. Ensinado por Zuínglio. A Ceia é um ato de comemoração


simbólico. Nega que o Cristo glorificado, agora no céu, esteja presente de qualquer modo que
palavras tais como “corporalmente”, “fisicamente” ou “localmente” possam sugerir. É algo
memorial, que nos remete ao sacrifício de Cristo na cruz.

d) O ensino da presença espiritual. É o ensino calvinista. Os elementos são simplesmente pão e


vinho, e permanecem sendo pão e vinho, mas o Espírito Santo faz com que o cristão desfrute
espiritualmente da presença de Cristo. Os elementos (pão e vinho) representam o corpo e o
sangue simbolicamente. Calvino ensinou que, enquanto o pão e o vinho permanecem
imutáveis, o Espírito eleva o crente através da fé, para gozar da presença de Cristo de um modo
que é glorioso e real, ainda que indescritível. A presença de Cristo no sacramento não está nos

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elementos, mas no coração do crente. Participar do pão e do vinho significa participação
espiritual dos benefícios da morte de Cristo, ou seja, da expiação.

2. A natureza da Ceia do Senhor.

a) Teoria romanista. A Ceia do Senhor é tanto um sacramento como um sacrifício. Como


sacramento – “ex opere operato” – alimenta a alma por meio da substancia real de Cristo
comida e bebida. Como um sacrifício, Cristo é realmente oferecido de novo para expiação do
pecado, repetindo-se assim a obra consumada na cruz.

b) Ponto de vista reformado. De acordo com o Breve Catecismo de Westminster, pergunta 96,
“Que é a Ceia do Senhor? A Ceia do Senhor é um sacramento, no qual dando-se e recebendo-se
pão e vinho, conforme a instituição de Cristo, se anuncia a sua morte, e aqueles que participam
dignamente, não de uma maneira corporal e carnal, mas pela fé́, tornam-se participantes de
seu corpo e sangue, com todas as suas bênçãos para seu alimento em graça.”

A Ceia do Senhor é um memorial; mas é também um emblema ou sinal da profissão; e é


também uma apresentação simbólica dos grandes fatos da expiação na morte de Cristo. O
corpo e o sangue de Cristo não são recebidos corporalmente, mas o que Jesus fez mediante o
seu corpo e o seu sangue é recebido por aqueles que participam com fé́. O sacramento
significa, sela e comunica os benefícios da redenção.

Herman Bavinck afirma que a Ceia, como um meio de graça, tem o propósito de nutrir nossa
alma, fortalecer nossa fé, santificar nossa vida e aprofundar nossa união com Cristo. Participar
da mesa do Senhor amadurece nosso relacionamento e nossa comunhão com Cristo e sua
Igreja.

A Ceia do Senhor tem uma referência passada à morte de Jesus na cruz; e tem uma referência
presente à nossa participação corporativa em Cristo, mediante a fé. Mas também tem uma
referência futura pelo fato de ser uma garantia da segunda vinda de Cristo. A Ceia do Senhor
encoraja o cristão em sua caminhada diária e em sua esperança futura.

Concordância Confessional Reformada da Presença de Cristo na Ceia

• Confissão de Fé de Westminster 29, seções 2, 5 e 7.


• Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 170.
• Breve Catecismo de Westminster, Pergunta 96.

• Confissão Belga, cap. 35. “não nos enganamos, dizendo que, o que comemos e
bebemos, é o próprio corpo natural e o próprio sangue de Cristo. Porém, a forma pela
qual os tomamos não é pela boca, mas, espiritual, pela fé. Desta maneira, Jesus Cristo
permanece sentado a direita de Deus, seu Pai, no céu e, contudo, Ele se comunica a nós

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pela fé. Nesta ceia festiva e espiritual, Cristo nos faz participar de si mesmo com todas
as suas riquezas e dons e deixa-nos usufruir tanto de si mesmo como dos méritos de seu
sofrimento e morte. Ele alimenta, fortalece e consola nossa pobre alma desolada pelo
comer de seu corpo, e a reanima e renova pelo beber de seu sangue.”

• Catecismo de Heidelberg, Pergunta 76, 78 e 79.


Pergunta 76: O que significa comer o corpo crucificado de Cristo e beber seu sangue
derramado?
R. Significa aceitar com verdadeira fé todo o sofrimento e morte de Cristo e assim
receber o perdão dos pecados e a vida eterna. Significa também ser unido cada vez mais ao
santo corpo de Cristo, pelo Espírito Santo que habita tanto nEle como em nós.

Pergunta 78: Pão e vinho, então, se transformam no próprio corpo e sangue de Cristo?
R. Não. Neste ponto há igualdade entre o batismo e a ceia. A água do batismo não se
transforma no sangue de Cristo, nem tira os pecados. Ela é somente um sinal divino e uma
garantia disto. Igualmente o pão da santa ceia não se transforma no próprio corpo de Cristo,
mesmo que seja chamado “corpo de Cristo”, conforme a natureza e o uso dos sacramentos.

Pergunta 79: Por que, então, Cristo chama o pão “seu corpo” e o cálice “seu sangue” ou
“a nova aliança em seu sangue”, e por que Paulo fala sobre “a comunhão do corpo e do sangue
de Cristo”?
R. É por motivo muito sério que Cristo fala assim. Ele nos quer ensinar que seu corpo
crucificado e seu sangue derramado são o verdadeiro alimento e bebida de nossas almas para a
vida eterna, assim como pão e vinho mantêm a vida temporária. E, ainda mais, Ele nos quer
assegurar por estes visíveis sinais e garantias, primeiro: que participamos de seu corpo e
sangue, pela obra do Espírito Santo, tão realmente como recebemos com nossa própria boca
estes santos sinais, em memória dEle; e segundo: que todo o seu sofrimento e obediência são
nossos, tão certo, como se nós mesmos tivéssemos sofrido e pago por nossos pecados.

• Segunda Confissão de Fé Helvética, cap. 21. Também traz um longo argumento sobre a
presença espiritual de Cristo na Ceia.

Proibida a reprodução deste material 49


Bibliografia
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada (vol. 4). São Paulo: Cultura Cristã, 2012.

BERKHOF, L. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

CALVINO, João. As Institutas - Edição Clássica (vol. 4) São Paulo: Cultura Cristã,
2006.

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