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Artigo Práxis 14 – Faculdade Teológica Sul Americana

Avivamento e Missões: analisando nossa missiologia para descobrir um verdadeiro


avivamento em nosso viver cristão.

Gedeon José Lidório Júnior1

Introdução

Não eram mais que dez horas da noite; estava frio, ventava e o escuro fazia o fogo que
crepitava na fogueira no meio da mata ficar ainda mais vivo. Lembro-me bem desta
fogueira, numa mata, ao sul de Minas Gerais em um acampamento de estudantes de
teologia; estava sozinho olhando a fogueira e pensando em como o fogo queimava e
consumia a madeira, nas vidas que aquecia e da escuridão que iluminava.

Hoje, lembrando dessa fogueira ainda sinto o calor provocado por suas chamas e
penso no calor de homens e mulheres que desejam ser mais santos, de justos
buscando justiça, de filhos sedentos do amor do Pai, de servos querendo tão somente
servir e todos entregando tudo: vida, família, bens, saúde, vontade, para ver
implantado o reino de amor de Jesus, sua legítima e última vontade – se eisà i hasà
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins
daàte a à átosà .8 à– e isto é Missões!

Os ciclos de avivamento e os movimentos missionários

Ronaldo Lidório traz em seu livro Plantando Igrejas uma observação importante sobre
o Espírito Santo e Missões, dando alguns tópicos sobre esta ligação clara entre os
avivamentos históricos e os movimentos missionários. Vejamos:

1
Coordenador Geral de Educação a Distância e Professor na Faculdade Teológica Sul Americana.

1
Fruto de um avivamento, a partir de 1730 John Wesley durante 50 anos pregou cerca
de 3 sermões por dia, a maior parte ao ar livre, tendo percorrido 175.000 km a cavalo
pregando 40.000 sermões ao longo de sua vida.

Fruto de um avivamento, em 1727 a Igreja moraviana passa a enviar missionários para


todo o mundo conhecido da época, chegando ao longo de 100 anos enviar mais de
3.600 missionários para diversos países.

Fruto de um avivamento, em 1784, após ler a biografia do missionário David Brainard,


o estudante Wiliam Carey foi chamado por Deus para alcançar os Indianos. Após uma
vida de trabalho conseguiu traduzir a Palavra de Deus para mais de 20 línguas locais e
sua influência permanece ainda hoje.

Fruto de um avivamento, em 1806 Adoniram Judson tem uma forte experiência com
Deus e se propõe a servir a Cristo, indo depois para a Birmânia, onde é encarcerado e
perseguido durante décadas, mas deixa aquele país com 300 igrejas plantadas e mais
de 70 pastores. Hoje, Myamar, a antiga Birmânia, possui mais de 2 milhões de cristãos.

Fruto de um avivamento, em 1882 Moody pregou na Universidade de Cambridge e 7


homens se dispuseram ao Senhor para a obra missionária e impactaram o mundo da
épo a. Fo a ha ados os 7 de Ca idge , ue i luía Cha les “tudd sua iog afia
publicada no Brasil chama-se O ho e ue o ede ia . Foi pa a a Áf i a, pe o eu
17 países e pregou a mais de meio milhão de pessoas. Fundou A Missão de
Evangelização Mundial (WEC International) que conta hoje com mais de 2.000
missionários no mundo.

Fruto de um avivamento, em 1855 Deus falou ao coração de um jovem franzino e não


muito saudável para se dispor ao trabalho transcultural em um país idólatra e
selvagem. Vários irmãos de sua igreja tentavam dissuadí-lo dize do: pa a ue i tão
longe se aqui na América do Norte há tanto o que faze ? Ele preferiu ouvir a Deus e
foi. Seu nome é Simonton (1833-1867) que veio ao nosso país e fundou a Igreja
Presbiteriana do Brasil.

2
Fruto de um avivamento, em 1950 no Wheaton College cerca de 500 jovens foram
chamados para a obra missionária ao redor do mundo. E obedeceram. Dentre eles
estava Jim Elliot que foi morto tentando alcançar a tribo Auca na Amazônia em 1956. A
partir de seu martírio houve um grande avanço missionário em todo o mundo indígena,
sobretudo no Equador. Outro que ali também se dispõe para a obra missionária foi o Dr
Russel Shedd que é tremendamente usado por Deus em nosso país até o dia de hoje.
(LIDÓRIO, 2007, pg 101 e 102)

Olhando para este simples pano de fundo histórico sobre movimentos missionários
ligados a avivamentos históricos, podemos construir um ponto de inserção do assunto
Avivamento e Missões e olharmos para a Bíblia, principalmente a textos já visitados,
para dali extrairmos conceitos e práticas vivenciais para o dia a dia do povo missionário
de Deus: a igreja!

Construindo uma missiologia através da leitura teológica de textos já conhecidos

Atos
Olhando o texto em Atos, desde o seu início enxergamos que o escritor procurou
trazer a mente dos seus leitores aquilo que era a vontade de Jesus ao falar com seus
discípulos seu último discurso, ou deixar sua última vontade, para que se lembrassem
do que ele tinha ensinado durante todo o tempo em que estivera com eles. É
necessário entender que fazemos parte de um movimento histórico, cristocêntrico,
vivencial e dinâmico, onde os fatos ocorridos desde o início da era cristã trazem um
transfundo histórico extraordinariamente rico, onde se estabelecem os princípios que
subjaz a obra de Cristo na terra, na continuidade da vida no meio da sua igreja; o fato
de que o personagem principal do cristianismo não é a igreja, mas o seu criador, que
também é o conteúdo do próprio evangelho que deve ser pregado e vivido é marcante
– Jesus deixa sobre si mesmo o peso e a responsabilidade para com os eventos e deixa
claro que é ele quem constrói a sua igreja; mesmo tendo ele subido aos céus, sua
mensagem continua viva e eficaz através da vida da sua igreja – Jesus continua
presente no meio e através das ações de amor e perseverança do seu corpo na terra;

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ao olharmos para a igreja nestes dois mil anos que passaram enxergamos o dinamismo
que esta comunidade tem, pois, mesmo tendo passado por tantos confrontos,
conflitos e dores Cristo permanece vivo através dos seus no decorrer dos séculos – ele
continua construindo sua igreja!

Quando se olha para esta igreja, que está sendo construída por Jesus é necessário
enxergar o próprio Jesus – o seu corpo manifestado continuamente através de pessoas
em toda a face da terra que são chamadas pelo seu nome.

Atos 1
Fazendo e ensinando

A igreja é missionária na sua essência e se não for assim perde o propósito de ser igreja
– ou seja, não é nada mais que um ajuntamento social, onde homens e mulheres se
reúnem para satisfazer as suas próprias necessidades e não para glorificar o nome de
Deus.

No princípio do livro de Atos, Lucas dá um molde textual de como ele enxerga na vida
de Cristo na terra – segundo Ronaldo Lidório, em seu livro Atos: a história continua
(LIDORIO: 2008, não publicado) Lucas escolhe com grande esmero as palavras iniciais
do seu segundo livro justamente para demonstrar isso – exp eà ueàaàf ase:à Escrevi o
primeiro livro ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a
ensinar" indica através das expressões gregas pa aà faze à poiein ) e ensinar
(didaskein ) interpoladas por te kai à e apontam para um Jesus que fazia e vivia
antes de ensinar levando-nos a pensar que a ortopraxia (a forma como vivemos, nossa
prática cristã) deve preceder ou homologar a nossa ortodoxia (aquilo que cremos).
Este sutil sumário pode ter estado na mente de Lucas como proposta estrutural do
texto quando os eventos de prática vivencial quase sempre precediam as afirmações
doutrinárias ou propostas teológicas, sendo em todo o livro de Atos apresentada uma
Igreja que vivia Jesus e, por vivê-lo, pregava quem Ele era. O texto tem uma
conformação gramatical onde oà ve oà o eçou à erzato) indica uma ação que
começou a fazer e continua fazendo (o verbo está em uma voz contínua). Jesus, que

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esteve vivo, fez e ensinou, continua fazendo ainda hoje através de sua igreja, o seu
corpo na terra.

Confirmando o comissionamento da Igreja

Após sua ressurreição há um período de 40 dias até a ascensão dele mesmo aos céus.
Esse é um período de confirmação e de meditação entre os discípulos, esperando cada
dia uma nova aparição do Jesus ressurreto, então acontece que estando ele no Monte
das Oliveiras sobe ao céu perante suas vistas – antes disso, porém ele transforma o seu
ensino de três anos para os discípulos em uma das afirmações sintéticas mais fortes
para a vida da Igreja.

Jesus tivera que responder para seus discípulos que não formara sua igreja para se
preocupar com tempos ou épocas (Atos 1.5ss) e então no versículo 8 Lucas introduz a
o ti uidadeà doà assu toà utiliza doà aà exp essãoà g egaà alla" (mas) que poderia ser
t aduzidaà daà segui teàfo a:à apesa à doà ãoà e te di e to da parte central do meu
e si oà falaàso eàoà‘ei oàdeàDeus àvo sàse ãoà evestidosà o àpode à– este poder é
dynamis à – poder do Espírito Santo de Deus – seu poder criador, seu poder
preservador, seu poder transformador é agora um poder comissionador, onde a ênfase
não recai sobre quem recebe o poder, mas sim que o poder pertence ao Espírito Santo
e que ele revestirá sua igreja não apenas para proclamar o evangelho, mas para ser
testemunha viva deste evangelho.

Algumas vezes enxergamos neste texto um Espírito que comissiona a igreja para falar,
mas é pouco provável que o Espírito Santo iria proporcionar uma ação tão limitada ao
seu próprio poder, ele, porém, tem gerado testemunhas e não somente capacitado
sua igreja para pregar ou anunciar de modo audível – a ênfase do texto não recai sobre
a mensagem (pregação do evangelho), mas na transformação de homens e mulheres
em testemunhas que viverão no seu dia a dia e como disse muito bem Francisco de
ássis:à P egueàoàeva gelhoàe àtodoàoàte po.à“eàfo à e ess io,àuseàpalav as .

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Deste modo um avivamento não poderá ser forjado ou forçado, pois ele é de Deus e
ele vem para nos transformar em pessoas tão parecidas com Jesus o quanto possível,
portanto, há de se enxergar Cristo através do seu poder em nós e através de nossas
ações práticas – fazendo; após isso é claro que falaremos, portanto, ensinaremos,
cumprindo assim o mesmo molde textual de Jesus indicado por Lucas no primeiro
versículo do livro de Atos.

É aqui que entra a questão do avivamento – fomos chamados para FAZER (ser alguém
parecido com Cristo) antes de ENSINAR (pregar o evangelho). O avivamento consiste
em transformar pessoas como eu e você em testemunhas verdadeiras de Cristo,
através do poder do Espírito Santo para que este testemunho seja visto, ouvido e
vivido entre todas as nações – isto é Missões!

Atos 2
Entre o capítulo primeiro do livro e o segundo há uma ruptura no entendimento do
que seja a função da igreja por parte dos discípulos. Em Atos 1 eles entenderam eu
deveriam (e seriam!) testemunhas de Jesus entre todas as nações, mas com certeza
muito (ou quase tudo) o que ocorreu quando da descida do Espírito sobre a Igreja era-
lhes estranho – tanto para os discípulos como para todos que viram e ouviram neste
dia.

Eterais glossais – outras línguas

O texto usado por Lucas expõe que as línguas (glosse) que foram usadas pelos
discípulos ao receber o dom do Espírito eram línguas humanas ou idiomas conhecidos.
É um fato notável esta expressão, posto que naquela festa (Pentecostes), que era a
festa judaica mais freqüentada onde milhares de pessoas, judeus de toda parte do
mundo afluíam para Jerusalém. Para que não haja dúvidas que as línguas faladas ali no
Pentecostes era um fenômeno de línguas humanas, no versículo 8 a expressão
confirma ao dizer que cada um ouviu em sua própria língua – o termo usado aqui é
dialektos – expressão usada para designar os dialetos humanos falados por aqueles
que estavam ali presentes.

6
No meio da atordoante sensação de que o mar estava ruidoso (o termo usado para o
som fo teà ueào o iaà oàeve toàe aà e hos ,àusadoàpa aàdesig a àoàest o doàdoà a
e adentrava os ouvidos de todos, o vento do Espírito sopra, derrama-se sobre aqueles
homens e mulheres que ali se reuniam em nome de Jesus, dando-lhes condições
sobrenaturais para que se transformem em testemunhas vivas do seu redentor – e
como não poderia ser diferente, este ato, de capacitar a igreja sobrenaturalmente para
ser testemunha de Jesus resulta (ou redunda) em uma pregação a respeito da vida do
próprio Jesus, num testemunho proclamador a respeito do Filho de Deus e de sua obra
– isso é Avivamento, isso é Missões!

O som abrupto e forte dos 120 discípulos chegava até a rua e atraía milhares dos que
vieram para a festa judaica em Jerusalém e Deus queria com isso demonstrar que o
poder que descia não era para a Igreja em primeiro lugar, no sentido de alegrá-los,
confirmá-losàouà es oàp oduzi àu à ultoà gostoso àe à ueàseàse tisseàaàp ese ça,àoà
toque e o poder do Espírito Santo, mas sim que a voz desta igreja agora revestida fosse
ouvida pelos de perto, pelos de longe, por pessoas que representavam todas as nações
da terra – a primeira ação da Igreja revestida foi a de proclamar a fé em Cristo e a sua
salvação. O objetivo maior era que a igreja cumprisse a razão pela qual foi formada –
uma ekklesia – um povo chamado por Deus para fora dos seus portões, um povo
formado para Deus para que o seu reino fosse implantado em toda a terra, um povo
capacitado por Deus para pregar o evangelho entre todos os povos – isso é
Avivamento, isso é Missões!

Vicedom afirma que uma Igreja cheia do Espírito é uma igreja missionária,
proclamadora do Evangelho, conduzida para as ruas (VICEDOM: 1965), portanto não é
uma igreja que se aliena, se enclausura e fecha-se para o mundo que a cerca.

Deus quer sua igreja nas RUAS e não fechada no CÉNACULO. Saiamos fora de nossos
portões!

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Vivendo em santidade de vida

Após um evento tão ruidoso e grande, aonde milhares chegam-se ao Senhor, escutam
sua voz (tem seus corações compungidos – a expressão em grego é de algo que ferroa
e traz dor) a igreja começa a viver sua vida quotidiana, em meio à normalidade de
alimentação, instrução, trabalho, lazer, comunhão, dificuldades, ansiedades e tudo o
mais que faz da vida uma rotina – era uma igreja que, apesar de ter sido revestida com
um grande poder, precisava continuar vivendo na terra, sendo ainda seres humanos
com necessidades e perspectivas humanas das mais variadas.

A sociedade local precisa ser impactada com a mensagem do evangelho que vêem e
ouvem da igreja revestida, assim como as nações não alcançadas necessitam conhecer
a Cristo e seu plano redentor – isso tudo como fruto do revestimento com o poder do
Espírito Santo, numa demonstração do que Deus pensa sobre avivamento.

Entendo que se desejamos nos tornar uma Igreja visionária onde a sociedade local
seja chocada com o evangelho, onde as etnias sejam conquistadas pela pregação da
Palavra e onde todo o mundo seja impactado com a mensagem, necessitamos ter vida
santa na presença do Senhor. Estratégias evangelísticas, preparação de obreiros e uma
situação econômica estável ajudaria muito nossa Igreja tornar-se um verdadeiro
celeiro missionário para o mundo. Entretanto, se não houver santidade de vida nossas
mensagens serão vazias e nossos esforços em vão. Teólogos poderão dar
direcionamento à Igreja, porém somente homens cheios do Espírito Santo alcançarão o
mundo. Costumo enfatizar que Deus nunca esteve, não está e nunca estará disposto a
usar um povo que não seja santo à LIDÓ‘IO:à 8,à átos:à aà hist iaà o tinua – não
publicado).

Há algo muito interessante a notar em meio a esta vida comum da Igreja – Atos 2.42-
47 relata sistematicamente a vida que a igreja tinha nos dias que sucederam a descida
do Espírito Santo e vemos que era uma igreja perseverante. A expressão grega usada
a uià estaàf aseà à proskartereo àeàsig ifi aàda à o ti uidadeàaàu aàaçãoàap sài te soà
esforço e esta ação, extraordinariamente, não é relatada aqui como uma busca de

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mais poder, de movimentos estáticos e estanques de manifestações sobrenaturais,
mas era uma perseverança, um esforço imenso e intenso em buscar a dout i a dos
apóstolos à– essa igreja, revestida com o poder do Espírito que passara por um evento
grandiosamente maravilhoso como o do Pentecoste não estava apegada apenas ao
sobrenatural, mas reconhecia na naturalidade da exposição e do ensino da palavra de
Deus por parte dos apóstolos como uma continuidade natural da vida cristã, uma
continuidade do próprio revestimento do Espírito algum tempo atrás. Eles esforçavam-
se imensa e intensamente para estarem aos pés dos apóstolos aprendendo mais de
Jesus e de sua vontade.

Essa ação era perseverante também na o u hão e o pa ti do pão à – as


propriedades e bens que eram vendidos de acordo com a necessidade daqueles que
estavam juntos e tinham tudo em comum mostrava que a igreja não apenas entregava
tudo o que tinha como fruto de um movimento fanático empobrecedor, mas que
estavam preocupados e atentos com as necessidades sociais daqueles que faziam
parte da comunidade – e tudo era vendido de acordo com a necessidade e não de
forma aleatória e descabida – esse também era um momento de perseverança – um
movimento de esforço imenso e intenso de pensar em todos os que estão ao nosso
lado devem ter suas necessidades supridas por aqueles que têm mais – João afirma
que se vemos um irmão necessitado e não compartilhamos com ele nossas posses é
porque não entendemos o amor de Deus (I João 3.17). O esforço é que cada um estava
olhando para o outro em primeiro lugar e depois para suas próprias necessidades –
isso não é natural em nós, por isso demanda um esforço perseverante.

O terceiro aspecto da perseverança neste texto é do movimento de oração – eles


perseveravam na oração. Vejamos: os apóstolos estavam com a Igreja; ensinavam a
Palavra de Deus; muitos sinais e prodígios eram feitos; tinham a nítida lembrança da
prodigiosa promessa de Deus sendo cumprida no Pentecostes, mas mesmo assim, esta
igreja sabia que havia necessidade de perseverar na oração – a comunhão com Deus
não era fruto de um revestimento único, estático e estanque que perduraria por toda a
vida, mas era uma busca contínua, imensamente e intensamente perseverante.

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O texto dá uma pausa e prossegue – e o Senhor – acrescentava-lhes dia-a-dia os que
iam sendo salvos.

A frase o Senhor (de kyrios) tem uma explicação bem simples – a igreja sabia que quem
construía a sua igreja era Jesus – e isso nos mostra alguns aspectos interessantes do
seu crescimento:

- era evangelística sem campanhas ou cruzadas evangelísticas;


- era evangelística sem evangelismo intencional e pessoal;
- era evangelística sem folhetos, cultos na praça ou programas de televisão;
- era evangelística sem estratégias especiais para chamar atenção sobre si e sobre a
Igreja;

Eles viviam tão intensamente o evangelho que não precisavam de nenhuma ocasião
especial para compartilhar de Jesus. Não eram necessários apelos, treinamentos
especiais ou convocação pastoral – Jesus era o assunto maior em suas bocas e
corações. Falar de Jesus era a principal ação da igreja, onde diariamente era feito isso –
o impacto dessa vida era tão grande que de acordo com o texto de Lucas, todo dia
eram acrescentadas à igreja pessoas novas na fé por causa do testemunho que davam.

Em 1421, Diego Moranis, cristão conhecido no sul da Espanha pelas suas ricas lojas de
tecido, certo domingo após a siesta, momento em que todos os nobres andavam pelas
ruas acompanhados de suas famílias, saiu correndo pelas ruas e praças rasgando suas
roupas e gritando:

Tenho tido mais lucro que devia;


Tenho pagado mal meus empregados;
Tenho roubado nos dízimos;
Não tenho ajudado viúvas e órfãos
e escolho minhas empregadas por me atraírem pela beleza, apesar de ter esposa.
Oh! Deus, queima o meu coração ou não poderei viver!

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Após três dias de joelhos na praça, com roupas rasgadas e sem comer ou beber,
Moranis voltou para sua casa; havia um sorriso em seus lábios e um brilho em seus
olhos. Reduziu o preço de suas mercadorias, aumentou o salário de seus empregados,
entregou os dízimos atrasados, abrigou órfãos e viúvas em sua casa e no sótão de suas
lojas e pediu perdão em público à esposa e empregadas. Uma nova frase foi colocada
abaixo do nome DIEGO MORANIS esculpido nas lojas maiores – que dizia: QUEIMADO
EM NOME DO “ENHOR .

O que se mostra de avivamento em nossos dias reflete uma ação mais intimista da
Igreja, onde o dom, os dons, a bênção e ação do Espírito Santo são principalmente
para o bem-estar do povo, atender suas necessidades, alentar suas dores, sarar suas
feridas e cuidar para que o desconforto que o mundo oferece não atinja os crentes.

Num mundo globalizado é uma tendência natural pensarmos que tudo já está pronto –
usamos a internet e com isso nossa visão é de que o mundo usa a internet – de acordo
com a empresa de pesquisa comScore (comScore, Inc. a Global Internet Information
Provider) divulgado em março de 2008 apenas 824 milhões de pessoas em todo o
mundo acessam a internet e de acordo com o indexMundi (site de informações
catalogadas de CIA World Factbook) temos uma população estimada de 6,7 bilhões de
pessoas em todo o globo com 1 bilhão de usuários de internet. Assim mesmo
sa e os à ueàaài te età àusadaàpo àtodoà u doà es oà ueàosà ú e osà ost e à
o contrário). Useià aà i te età ueà à oà po toà aisà glo alizado à ueà te osà e à ossaà
aldeia, para mostrar que esta realidade – doà ueà àdeàve dadeàeàdoà ueà sa e os à ouà
afirmamos que é) é muito diferente.

E isso não seria diferente se olharmos para a maneira como pensamos no alcance de
pessoas em todo o mundo pelo evangelho de Cristo. Os desafios são imensos e
somente uma perseverança intensa e imensa pode avançar em meio tamanha
necessidade.

Vejamos alguns dados para mensurarmos o que foi feito até hoje e o que ainda precisa
ser feito.

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Desafios no que tange as nações ainda não alcançadas

Há pelo menos 2227 grupos étnicos sem presença missionária ou que tenham
conhecimento do evangelho e são estes justamente os grupos minoritários em todo o
mundo com maior dificuldade e abertura política, lingüística, geográfica ou cultural.
Ronaldo Lidório expressa que estes últimos grupos são os mais resistentes da história
do cristianismo. A igreja, no decorrer dos séculos, foi realizando o trabalho mais fácil,
onde estava mais permitido entrar, onde se estabeleceria primeiro, onde as barreias
lingüísticas eram menores e assim por diante: estamos hoje, portanto, diante do maior
desafio para a Igreja no tocando a nações (povos) não alcançados com o evangelho.

Desafios no que concerne a condições de língua e tradução bíblica

Das 6528 línguas vivas existentes no mundo hoje, apenas 336 possuem a Bíblia
completamente traduzida e 928 tem o Novo Testamento completo, sendo que 918
têm grandes porções bíblicas apenas. De acordo com a Wyclife precisamos empenhar
a tradução da Bíblia para mais de 4 mil línguas ainda, línguas estas que pertencem a
estes povos ainda não alcançados, línguas minoritárias e faladas por uma pequena
porcentagem da população mundial.

Desafios concernentes a nossa missiologia

Muito tem se falado, desde a década de 80 numa missiologia que estabelece como
prioridade o alcance dos povos não alcançados (PNAs), mas o que se descobre
recentemente (relatórios de crescimento de igreja da World Mission International
confirmam) é que o evangelho não atingiu muitos dos povos ditos como alcançados
satisfatoriamente, sendo que muitos destes (quase 4 mil) tem menos de 2% de
população que conhece Jesus. Isso acontece também no Brasil, onde, segundo a Sepal,
mais de 1000 municípios tem menos de 1% de pessoas que declaradamente se dizem
evangélicas e conhecem pessoalmente seu Salvador.

Nesse universo estatístico há um total ainda de quase 2 bilhões de pessoas que não

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tem acesso a leitura por falta de alfabetização ou porque pertencem a grupos em que
a sua língua não tem escrita formalizada, são ágrafos e mesmo que fossem alcançados
e tivessem a palavra traduzida para seus idiomas não conseguiriam ler pelo simples
fato de serem analfabetos.

O Brasil não vive uma realidade diferente do mundo inteiro. Em nosso país temos 345
tribos indígenas e destas 206 não tem presença missionária (segundo dados do
Instituto Antropos – http://www.instituto.antropos.com.br/).

E tem muito, muito mais mesmo! E o que fazer com tudo isso?

Atos 13.1-3
1 Ora, na igreja em Antioquia havia profetas e mestres, a saber: Barnabé, Simeão,
chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo.
2 E servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me a Barnabé e a
Saulo para a obra a que os tenho chamado.
3 Então, depois que jejuaram, oraram e lhes impuseram as mãos, os despediram.
Antioquia era o último lugar de onde esperaríamos sair algum missionário.

1. Era uma cidade em expansão, o cristianismo estava começando ali e


necessitavam de todas ajuda possível para a sustentação da obra local;
2. A situação política era instável por todo o país – perseguições e controle por
parte do governo; altos níveis de corrupção e decadência moral;
3. A economia era precária pelo fato de que a grande maioria dos seus membros
eram imigrantes e, portanto, ainda não estabelecidos – desempregados;
4. Por evidências históricas crê-se que a Igreja possuía dificuldades locais quanto à
evangelização regional.

Gostaria de tirar deste texto alguns princípios importantes para que como igreja do
Senhor entendamos que Deus espera que coloquemos as mãos no arado e
literalmente aremos a terra mesmo em época de crise pessoal, financeira, política,
emocional, moral ou mesmo eclesiástica, como resposta ao poder dele derivado o qual

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já colocou a nossa disposição através do Espírito Santo que habita e dirige nossa vida –
isso é AVIVAMENTO, isso é MISSÕES!

É necessário entender a conceituação de missionário como algo mais abrangente do


que normalmente pensamos, pois o que está em jogo aqui não são somente povos não
alcançados no sentido restrito da palavra, mas todo o envolvimento da Igreja local com
esses missionários que alcançarão estes povos, bem como, com toda a vida da igreja
local que deverá ser vivida dentro dos moldes do Senhor, onde a perseverança na
palavra de Deus, no seu estudo e meditação, na comunhão entre os irmãos para
suprimento de suas necessidades e convivência mútua, na oração buscando um
relacionamento eficaz com o Senhor. A vida normal da igreja é justamente o palco
perfeito de Deus para um verdadeiro avivamento – é o Senhor (e não nós ou nossos
métodos) que acrescenta dia a dia aqueles que são salvos em nosso meio – isso é o
fruto de avivamento e missões, é o fruto de uma vida saudável na igreja, de uma vida
normal.

Em primeiro lugar no texto em questão, Atos 13 o versículo 1 há uma descrição de


cinco líderes da igreja em Antioquia ( e A tio heia é a expressão usada
demonstrando que ekklesia era aqui usada no sentido de igreja local. Não se refere,
portanto, a qualquer ajuntamento de igrejas como pensam alguns, mas sim à uma
comunidade local) des itosà so à aà atego iaà deà profetai kai didaskaloi à p ofetasà eà
mestres).

P ofetes era aquele ueà falavaàe à o eàdeàDeus àeàta àutilizadoà oàg egoà ti oà
ta toàpa aà p egado à ua toà exposito àdasàleis .à

Oà Didaskalos à à oà est e (de didasko : ensino) aplicado para aquele que possui
discípulos e parece-me que neste caso estes didaskaloi à estava à aisà ligadosà à
instrução dos novos convertidos em Antioquia.

Nestaàlistaàp i ei a e teà à e io adoàBa a àoà ualàe aà atu alàdeàChip e (Atos


4.36). Logo após Lucas cita Simeão referindo-seàp ovavel e teàaàu àaf i a oà Níge à

14
eg o à eà e io aà Lú ioà deà Ci e e à p ovi doà doà o teà daà Áf i a.à Ta à listaà
Manaém, colaço (syntrophos: irmão de leite) de Herodes e finalmente Saulo.

Em segundo lugar o ve sí uloà à o eçaà o à u aà açãoà oletiva:à eà se vi doà elesà aoà


“e ho ... àeàasàduasàpe gu tasà ueàdeve àse àa uiàleva tadasàsão:à ue são eles e
como serviam ao Senhor?

H àt sàpossi ilidadesàpa aàaàdefi içãoàdeà eles àj à ueàoàtextoà ãoào define:

a) refere-se a toda a igreja em Antioquia;


b) refere-se aos cinco líderes do verso anterior;
c) refere-se a Paulo e Barnabé.

Po à aus iaà deà ligaçãoà textualà eioà ueà pode osà ex lui à aà ig ejaà e à á tio uia à
sendo uma terminologia usada para expor os cinco líderes mencionados
nominalmente. Restam-nos assim os líderes do versículo 1 e Paulo e Barnabé do
versículo 2. De qualquer forma estes últimos são também mencionados na lista de
líderes, portanto os utilizaremosà o oàp essupostoàpa aà eles à – os líderes, todos os
citados.

Em terceiro lugar o ve oà se vi do à leitourgounton) utilizado aqui aponta para


aqueles que serviam ao Senhor como leitou goi .ààHaviaàt sàfo asà aisà o u s àdeà
ap ese ta àu aàpessoaà o oà se vo à oà o textoà eotesta entário:

Como "doulos" - o escravo. Nas palavras de Candus "Aquele que pessoalmente


acompanha o seu Senhor para realizar os desejos do seu coração". "Doulos" em um
contexto neotestamentário é aquele que tem um compromisso direto com Deus; que
serve diretamente ao seu Senhor.

Como "diakonos" - o mordomo. Aquele que serve ao seu Senhor através do serviço à
comunidade. Na palavra o termo é usado para aqueles que, sensíveis à necessidade do
corpo de Cristo - física e espiritual - servem a Deus;

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Como "leitourgos" - o edificador. O termo, ligado à "leitourgia" não é restrito como o
usamos hoje para liurgia. Refere-se àquele que serve ao Senhor sendo um canal de
bênção para seus irmãos. O texto afirma que Paulo e Barnabé eram antes de qualquer
coisa "abençoadores, edificadores do Corpo de Cristo". Uma bênção! Como podemos
falar hoje. Eram "leitourgoi" eàe àúlti aàa liseàse via à to Kuryo ,àaoà“e ho .

A característica apontada pelo texto a respeito destes dois homens que iniciaram a
obra missionária como a conhecemos hoje não foi competência intelectual, título, ou
profundidade teológica, mas sim a fidelidade; e fidelidade de vida em relação ao
grupo.

O texto diz que então, servindo eles ao Senhor,à disse (eipe ue ve de lego : fala ,
se comunicar. Pode ser usado tanto para uma comunicação direta quanto via um
mensageiro. Alguns exegetas afirmam que para esclarecer o fato do Espírito ter falado
à igreja Lucas afirmara no primeiro verso a existência de profetas na comunidade.
Outros defendem que, por deixar indefi ido at avés de ue o Espí ito falou,
provavelmente haveria falado através de uma unânime convicção de chamado nos
corações da igreja e liderança em relação a Paulo e Barnabé. O texto, entretanto, não
esclarece como o Espírito falou, porém deixa bem claro a postura da igreja que ouviu:
estavam jejuando e orando) o Espírito Santo: separai-me... .à Oà textoà ãoà es la e eà
como o Espírito se manifestou e eipe – falou – à igreja, mas toda a ação deixa bem
claro que a igreja prontamente ouviu. O conteúdo do ueàEleàfala aàfoià sepa ai- e à
(aphorisate ,à doà ve oà aphorizo à oà ualà à u à ve oà ex lusivistaà ta à usadoà e à
Mateus 25. à ua doà oà pasto à sepa a à asà ovelhasà dosà a ei os.à Apho izo se
diferencia de ekklio pois não se trata de uma separação de relacionamento (eles não
foram excluídos da igreja de Antioquia), mas sim uma separação para uma função (eles
permaneceram ligados à igreja são agora designados para uma função a parte). É o
es oà te oà usadoà osà Do u e tosà deà Ca tago à ua doà idadãosà o u s eram
chamados para engrossar as fileiras do exército romano. Portanto Paulo e Barnabé
seriam separados por que primeiramente haviam sido chamados ( p oskekle ai de
kaleo: chamar com um propósito. Possivelmente o propósito não fora mencionado por

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ser plenamente conhecido por toda a igreja. A expansão do evangelho entre os não
alcançados).

Ainda no versículo temos ergon’ a o a pa a a ual fo a ha ados é um termo


genérico que tanto pode significar um ato quanto uma função e poderia ser usado por
ser esta obra já bem conhecida por todos na Igreja – a evangelização dos gentios – ou
também para chamar a atenção para o ponto principal deste comando: não a obra,
mas sim quem os chamou para esta obra. Demonstra também flexibilidade ministerial:
a obra pode mudar, mas o chamado permanece, pois se baseia naquele que nos
chamou.

Em quarto lugar - A exp essão jejua do e o a do vem como um conjunto que se


completa já que, segundo John “tott,à oà jeju à à u aà açãoà egativaà a ste çãoà deà
comida e outras distrações) em função de uma ação positiva (culto e o ação à (STOTT,
1994, pg 243),à eà e à su se ü iaà i po doà so eà elesà asà ãos... à t az a expressão
epithentes tas cheiras à ueà possuià vastoà sig ifi adoà pa aà oà o eitoà deà e vioà
missionário.

Sinal de autoridade. Esteà i po àdeà ãos à e o taàaoàg egoà l ssi oà ua doàu àpaià
i pu haàsuasà ãos àso eàoàfilhoà ueàlheàsu ede iaà aà hefiaàdaàfa ília,àouàseja,àu aà
transposição de autoridade. Para Paulo e Barnabé isto significaria que eles possuíam a
autoridade eclesiástica para fazer tudo o que a Igreja faria mesmo onde a Igreja não
estivesse presente. É, portanto ao mesmo tempo uma carga de autoridade e
responsabilidade. Como a igreja em Antioquia eles poderiam pregar a Palavra, orar
pelos enfermos e desafiar os incrédulos, mas ao mesmo tempo precisariam também
compartilhar da mesma fidelidade e dedicação que existia em Antioquia.

Sinal de reconhecimento. Também era usado em momentos oficiais como na cidade


de Alexandria quando vinte oficiais foram escolhidos especialmente para guardar a
entrada da cidade que sofria com freqüentes ata uesàdeà ades,àeàso eàelesà fo a à
i postasàasà ãos àe àsi alàdeà e o he i e toàdeà ueàe a àdotadosàdasà ualidadesà
para aquela função. Para Paulo e Barnabé consistia no fato de que a liderança da igreja

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reconhecia não apenas o chamado (que era acima de tudo bem claro), mas também a
capacidade e dons para cumprirem a missão.

Sinal de Cumplicidade.àE o t a osàta à oàg egoà l ssi oàoà i po àdeà ãos à oà


sentido de cumplicidade quando generais eram enviados a terras distantes para
oo de a à u aà p oví iaà eà asà auto idadesà e viado asà i pu ha à asà ãosà
de o st a doàaoàpovoà ueàelesà ãoàse ia àes ue idos ,àouàseja:àpe a e ia à o oà
parte do corpo. Para Paulo e Barnabé significaria dizer que, por mais distantes que
fossem, permaneceriam ligados à igreja de Antioquia. Que esta igreja continuaria
responsável por eles, amando-os, torcendo para que tudo desse certo e com certeza
os sustentando. A meu ver impor as mãos como sinal de autoridade e reconhecimento
não é tão difícil como impor como sinal de cumplicidade, pois este último é um ato
o tí uoà ueàde a daàdedi açãoàeàp ofu doàa o .àKe tàNo ga àafi ouà ueà à aisà
fácil amar aquele que se vê e te à o paixãoà aoà ueà est à se p eà aoà seuà lado
(NORGAN, 1996).

Po fi a ig eja ... os despediu (apelusan ,àdoàg egoà apoluo ueàsig ifi aà faze àasà
honras do envio àe ta àpodeàse àusadoà oàse tidoàdeà li e a ,àsolta ,àpe iti à ueà
v . Creio que havia aqui um aspecto prático onde líderes e irmãos pensaram também
nas necessidades práticas de Paulo e Barnabé. Apoluo é uma expressão formal,
portanto leva-nos a crer que não foram despedidos de forma simples, mas antes
houve um culto onde a igreja oficialmente se reunira para enviá-los: um abençoado
culto de envio.

Conclusão

Pensado isso, de acordo com o texto bíblico, quero então concluir com alguns
princípios que podem ser observados no envio missionário por parte da igreja local e
que se aplica a cada um de nós:

No processo do chamado não há apoio bíblico ao ostracismo. Ou seja, irmãos que


alegam terem ouvido a direção do Espírito Santo quanto à vocação missionária, mas

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que desejam levar adiante esta missão sem a participação da igreja local. Mesmo em
um contexto para-eclesiástico a igreja local precisa permanecer na linha de frente no
processo de seleção e confirmação do chamado. Precisamos crer que o Espírito fala à
Igreja e devemos esperar submissão daqueles que foram chamados.

No processo de chamado não há apoio para a falta de iniciativa. Não há de se


espe a à ape asà pelosà ofi ial e te à issio ios,à poisà todosà deve à te à aà açãoà deà
evangelizar, de anunciar, de pregar – é certo que os apóstolos e líderes da igreja
davam o tom da evangelização, mas a grande massa de evangelização era feita pelos
leigos.

No desafio ao envio missionário devemos evitar o institucionalismo. Ou seja, a Igreja


tomando decisões e definindo metas, estratégias e prioridades a despeito da visão
daqueles que foram chamados. Precisamos crer que Deus colocará nestes corações os
desejos certos e a motivação que vem do Alto.

No desafio de pregar o evangelho, de testemunhar, deve-se primar pelo preparo, em


todo nível que seja possível. Um missionário de nome A.F., após um ano de trabalho
num mundo muçulmano converteu-se ao Islamismo. Tinha apenas um ano de
convertido e feito um curso de preparo bíblico de um ano.

Não devemos enviar para longe aqueles que não são bênção perto. Ou seja, um
critério bíblico que aqui encontramos é que irmãos sob os quais pesam nossa
esperança de abençoarem os que estão distantes de nós devem primeiramente ser
reconhecidamente uma bênção para nós que estamos pertos.

Devemos cobrar de todos os missionários que tenham um PROJETO bem definido,


não um projeto de longo prazo, mas um PROJETO DE VIDA. Ao viver no meio da Igreja
cria-se expectativa daquilo que somos chamados por Deus a fazer – música, pregação,
evangelização na rua, cuidados com outros, serviço, ensino etc. Não ter um projeto de
vida para ação missionária na vida é jogar fora todo o tempo e não querer ser
reconhecido como abençoador do povo de Deus.

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A Igreja deve se envolver no TREINAMENTO MISSIONÁRIO – não esperar que as
ESCOLAS treinem os seus missionários – é necessário um acompanhamento pessoal
integral, testando dons, capacidades e um acompanhamento psicológico/emocional.
Uma missionária inglesa bem preparada, com cursos de mestrado e doutorado em
lingüística e antropologia, se transforma numa das melhores lingüistas do país onde
trabalhou – instável emocionalmente tenta o SUICÍDIO por duas vezes no campo e
teve que ser retirada do campo e proibida de voltar. O preparo missionário deve
iniciar-se na Igreja local e não nas escolas missionárias que devem dar continuidade.

No momento do envio passamos para os enviados autoridade eclesiástica,


reconhecimento de que são qualificados e especialmente cumplicidade com a obra
para o qual foram separados. Ou seja, no processo do envio missionário o cordão
umbilical não é cortado.

Ninguém sabe ao certo como e quando Deus falará, mas o jejum e oração – sinais de
uma comunidade piedosa e crente – são a postura daqueles que ouvirão a voz do
Senhor. Isso é Missões! Isso é Avivamento!

Que Deus, em sua misericórdia e poder, nos use, através do poder do Espírito Santo,
para que um avivamento real desça sobre a Igreja e que coloquemos a mão no arado
para não mais olhar para trás.

.................................................
(Parte deste material foi retirado do livro Entre todos os povos de Gedeon e Ronaldo
Lidório, esgotado e em fase de nova publicação. Publicado na revista Práxis com
autorização dos autores)

REFERÊNCIAS

LIDÓRIO, Ronaldo. Atos: a história continua – Manaus, não publicado


________________. Plantando igrejas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007

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LIDÓRIO JR, Gedeon J. LIDÓRIO, Ronaldo A. Entre todos os povos. Vila Velha: Editora
Fronteiras, 1997
NORGAN, Kent. Sharing the Gospel. England, 1996
STOTT, John. A mensagem de Atos. ABU: São Paulo, 1994
VICEDOM, George F. 1965. The Mission of God. St. Louis: Concordia.

WEBGRAFIA

conSCORE Inc. Global Internet Information Provider – http://www.comscore.com/ -


acessado dia 20 de agosto de 2008, 13h30
indexMUNDI. Site de Miguel Barrientos – baseado em dados divulgados por CIA World
Factbook - http://indexmundi.com/ - acessado dia 14 de agosto de 2008, 17h30
Instituto Antropos – http://instituto.antropos.com.br/ - acessado dia 14 de agosto de
2008, 12h00
Ronaldo e Rossana Lidório – http://www.ronaldo.lidorio.com.br/ - acessado dia 12 de
agosto de 2008, 13h40

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