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© Unesco, 1976
Livros Horizonte
R u a das Chagas, 17, l.°-Dto. — Lisboa — Portugal
Impresso em Portugal
1 4 NOV. 1979
Posições/Controvérsias
A crise da planificação e os limites do auxílio externo
Manzoor Ahmed 191
O livro para crianças e os direitos do h o m e m Marc Soriano 199
Notas e Comunicações
Revista de publicações. 304
O s artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessa-
riamente a da Unesco ou da Redacção.
P o d e m ser reproduzidos, sob reserva da autorização do redactor-chefe.
A redacção gostaria de receber para publicação contribuições ou cartas
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Toda a correspondência deve ser dirigida ao redactor-chefe, Perspectivas,
Unesco, 7, Place de Fontenoy, 75700, Paris, France.
Irenäus Eibl-Eibesfeldt
163
Irenâus Eibl-Eibesfeldt
164
A unidade biológica da human. : etologia humana, conceitos e implicações
165
Irenäus Eibl-Eibesfeldt
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A unidade biológica da h u m a n . : etologia humana, conceitos e implicações
167
Irenäus Eibl-Eibesfeldt
l68
A unidade biológica da h u m a n . : etologia humana, conceitos e implicações
169
Irenäus Eibl-Eibesfeldt
170
A unidade biológica da human. : etologia humana, conceitos e implicações
171
Irenãus Eibl-Eibesfeldt
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A unidade biológica da h u m a n . : etologia humana, conceitos e implicações
CONVENÇÕES CULTURAIS
E ESQUEMAS MOTORES INATOS
173
Irenäus Eibl-Eibesfeldt
174
A unidade biológica da human. : etologia humana, conceitos e implicações
ESTRIBILHOS VERBAIS
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Irenäus Eibl-Eibesfeldt
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A unidade biológica da h u m a n . : etologia humana, conceitos e implicações
Ï77
vn-i
Irenäus Eibl-Eibesfeldt
178
A unidade biológica da human. : etologia humana, conceitos e implicações
179
Irenäus Eibl-Eibesfeldt
Referências
l8o
A unidade biológica da h u m a n . : etologia h u m a n a , conceitos e implicações
I8I
Niksa Nikola Soljan
Problemas de teoria
e de política da educação
na Jugoslávia1
182
Problemas de teoria e de política da educação na Jugoslávia
185
Niksa Nikola Soljan
184
Problemas de teoria e de política da educação na Jugoslávia
185
Niksa Nikola Soljan
l86
Problemas de teoria e de política da educação na Jugoslávia
187
Niksa Nikola Soljan
188
Problemas de teoria e de política da educação na Jugoslávia
189
Posições/Controvérsias
Crise da planificação
e os limites d o auxílio externo
Manzoor A h m e d
1. Ver e m Perspectives, vol. v, n.° 4, 1975 e vol. vi, n.° 2, 1976, os artigos de Peter
Williams, Duncan S. Ballantine e A . S. A b r a h a m .
I9I
Manzoor A h m e d
U m falso problema
192
Crise da planificação e os limites do auxílio externo
dade, para que serve saber 1er e escrever, se não há nada para 1er e
muito pouco para escrever na vida de todos os dias?
U m desenvolvimento harmonioso
193
Manzoor Ahmed
194
Crise da planificação e os limites do auxílio externo
x
95
Manzoor A h m e d
196
Crise da planificação e os limites do auxílio externo
!97
Manzoor A h m e d
198
O livro para crianças
e os direitos do h o m e m
Marc Soriano
199
M a r c Soriano
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O livro para crianças e os direitos do h o m e m
201
Marc Soriano
202
O livro para crianças e os direitos do h o m e m
203
Marc Soriano
1. Ver, sobre este ponto, Antonio G R A M S C I , op. cit., desenvolvido por Louis A L T H U S -
SER: « O S aparelhos ideológicos do Estado», em Positions, Paris, Editions sociales,
1976, e Pierre B O U R D I E U e Lean-Claude P A S S E R O N : Les héritiers, Paris, Éditions
de Minuit, 1964, e La reproduction, Paris, Editions de Minuit, 1970.
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O livro para crianças e os direitos do h o m e m
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Marc Soriano
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O livro para crianças e os direitos do h o m e m
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Marc Soriano
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O livro para crianças e os direitos d o h o m e m
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M a r c Soriano
A CRIANÇA E A FERA
2IO
O livro para crianças e os direitos do h o m e m
«BEM COZIDO»
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Marc Soriano
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O livro para crianças e os direitos do h o m e m
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Marc Soriano
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O livro para crianças e os direitos do h o m e m
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Marc Soriano
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O livro para crianças e os direitos do h o m e m
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Elementos para u m "dossier"
Fins e meios
de u m a educação contínua
A Unesco e o desenvolvimento
da educação dos adultos
Durante os últimos dez ou quinze anos, a edu- sociedades a um ritmo que se acelera constan-
cação dos adultos sofreu, num certo número temente, sem dedicar à educação dos adultos
de países, industrializados ou em desenvolvi- uma atenção profunda e contínua e sem a dotar
mento, um impulso considerável e notáveis dos recursos humanos e materiais necessários»
transformações que respondem a uma exigên- recomendou à UNESCO que pensasse na opor-
cia social e individual directamente ligada aos tunidade de empreender uma acção normativa
fenómenos económicos, tecnológicos, políticos respeitante ao desenvolvimento da educação
e culturais do nosso tempo. dos adultos. Como as opiniões expressas pela
Contudo, podemos considerar que, a des- Conferência de Tóquio foram partilhadas pelos
peito do reconhecimento formal da necessidade, órgãos de decisão da UNESCO, procedeu-se
ou até da urgência, de uma expansão substan- à elaboração de um projecto de recomenda-
cial da educação dos adultos, que constitui ção aos Estados membros, cujo texto deu ori-
uma das condições da aplicação efectiva do gem a uma ampla consulta e cuja versão final
conceito da educação permanente, a multipli- foi adoptada por unanimidade pela Conferência
cação das ocasiões oferecidas aos adultos para Geral durante a décima nona sessão realizada
se educarem, assim como a adaptação dos con- em Nairobi, em Outubro-Novembro de 1976.
teúdos e dos métodos utilizados às necessidades Esta recomendação constitui o primeiro ins-
e às aspirações dos adultos, e às particularida- trumento normativo internacional na matéria
des da sua aprendizagem, continuam, em nume- e a sua importância não deve, portanto, ser
rosos casos, a encontrar dificuldades tanto a subestimada. Não se trata, na ocorrência, de
nível dos que tomam as decisões como ao dos uma declaração solene, mas de um conjunto
potenciais «aprendizes». de disposições cuja aplicação é proposta pelos
Embora as três conferências internacionais Estados membros da Organização aos governos
sobre a educação dos adultos convocadas pela respectivos.
UNESCO (Elseneur, I960; Montreal, 1949 De resto, no próprio corpo do instrumento
e Tóquio, 1972) tenham, todas elas, marcado a Conferência Geral recomenda aos Estados
uma etapa na evolução do pensamento no membros que actuem:
domínio em questão, a última destas assem- «... adoptando sob a forma de lei nacional
bleias, largamente representativa, tanto do ou outra, e de acordo com a prática constitu-
ponto de vista geográfico como cultural, depoiscional de cada Estado, medidas destinadas a
de ter recordado «que os países, seja qual for aplicar os princípios formulados na ... reco-
o estádio de evolução em que se encontrem, mendação;
não poderão atingir os objectivos de desenvol- ... levando a recomendação ao conhecimento
vimento pretendidos nem assumir as mutações tanto das autoridades, serviços ou organismos
de toda a natureza que intervêm em todas as responsáveis da educação dos adultos, como de
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A Unesco e o desenvolvimento da educação dos adultos
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A Unesco e o desenvolvimento da educação dos adultos
grar-se na noção mais ampla e indefinidamente reunião muito mais representativa no plano
aberta que é a educação permanente1. mundial. Fizeram-se representar cinquenta e
u m países e quarenta e seis organizações inter-
nacionais enviaram observadores. O tema foi:
História « A educação dos adultos n u m m u n d o e m
transformação». Tinha-se tornado evidente
O s Estados fundadores da U N E S C O decla- que a vida iria passar a ser u m a longa e
raram no Acto constitutivo que « u m a vez constante adaptação a u m contexto material
que a dignidade do h o m e m exige a difusão da e social e m rápida evolução; o domínio desta
cultura e a educação de todos tendo e m vista a evolução afirmava-se, então, c o m o u m ele-
justiça, a liberdade e a paz, existem, para mento essencial da política de toda a nação
todas as nações, deveres sagrados a cumprir desejosa de se adaptar às transformações e
n u m espírito de assistência mútua». A edu- de melhorar a qualidade de vida. Retomando
cação dos adultos entra, pois, desde a sua ori- os termos d o relatório final, «a educação
g e m , nas responsabilidades da U N E S C O . (dos adultos) deverá, pois, ser reconhecida
Três conferências internacionais sobre a edu- por todos os povos c o m o u m elemento nor-
cação dos adultos marcaram etapas decisivas mal, por todos os governos c o m o u m ele-
na evolução das concepções relativas aos seus mento necessário do sistema de ensino de
fins e aplicações. qualquer país».
A segunda guerra mundial e as suas seque- Entre as propostas de estratégia constru-
las dominavam ainda todas as preocupações tiva, distinguimos a ajuda dos países ricos aos
e mais de metade dos vinte e cinco países par- mais pobres, a prioridade dada à alfabetização,
ticipantes na Conferência de Elseneur (1949) o acesso das mulheres a todos os tipos de
eram da Europa Ocidental. Esta conferência educação, a preparação para a participação
exprimiu a ideia de que a educação dos adul- cívica, a valoiização da acção das organiza-
tos deveria deixar de ser « u m empreendimento ções voluntárias, a formação sistemática dos
marginal ao serviço dos interesses pessoais professores de todos os níveis para a prática
de u m a minoria relativa»; c o m u m objectivo da educação dos adultos, a definição progres-
de reconstrução, a população de muitos países siva da profissão de educador de adultos e a
tinha necessidade de u m a educação compen- extensão das atribuições das escolas e das
sadora; manifestou-se, durante os debates, universidades à educação dos adultos. Assis-
u m a enorme necessidade de justiça social e timos essencialmente à afirmação da tese
de compreensão internacional; os debates segundo a qual a educação dos adultos deve
dedicaram pouca importância às ideias rela- ser considerada como parte integrante do
tivas à formação técnica ou profissional e aos conjunto do sistema de educação.
programas de alfabetização; m a s a educação A evolução, desde Montreal, tende a reco-
dos adultos passou a ter c o m o tarefa «satis- nhecer c o m o principal vocação da educação
fazer as necessidades e as aspirações do adulto dos adultos ajudar a compreender, dominar e,
na sua diversidade». se possível, orientar a transformação.
Graças ao impulso desta conferência, a
cooperação internacional adquiriu u m a exten-
são sem precedentes; organizaram-se muitas
reuniões regionais, assim c o m o programas 1. A s contribuições de Lucille Mair, Yusuf O . Kas-
sam, V . S. Mathur e Hilary Perraton, que leremos
experimentais, e m particular programas de mais adiante, foram primeiramente apresentadas
educação de base. A s organizações voluntá- na Conferência sobre a educação dos adultos e o
rias tomaram consciência do seu papel e desen- desenvolvimento organizado pelo Conselho Inter-
volveram a sua acção sobre o plano interna- nacional para a educação dos adultos e m cola-
boração c o m as autoridades tanzanianas (Dar es
cional. Salaam, 21-26 de Junho de 1976). Publicamo-las
A Conferência de Montreal (1960) foi u m a com a amável autorização dos organizadores.
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A Unesco e o desenvolvimento da educação dos adultos
trinta e sete organizações internacionais não as funções sociais e m que tem o direito de
governamentais intervir, de desenvolver todos os talentos que
Os debates que tiveram lugar na Conferên- recebeu da natureza, e de, assim, estabelecer
cia de Tóquio salientaram que a educação entre os cidadãos u m a igualdade de facto e
dos adultos podia ser considerada c o m o : tornar real a igualdade política reconhecida
U m instrumento de tomada de consciência, pela lei: deve ser este o principal objectivo
de socialização e de transformação social; de u m a instrução nacional; e, sob este ponto
ela tende a criar u m a sociedade consciente de vista, ela é, para o poder público, u m dever
dos valores de solidariedade; é mobilizadora, de justiça»1.
todos os homens p o d e m e devem auto-edu- M a s , precisamente porque se destina a adul-
car-se e educar os outros; tos que se encontram perante os grandes pro-
U m instrumento de desenvolvimento do blemas do m u n d o e m que vivem, a edução dos
h o m e m total, considerado na globalidade das adultos, mais do que qualquer outro empreen-
suas funções de trabalho, de lazer, de vida dimento educativo, deve ser concebida c o m o
cívica, de vida familiar; ele tende para o aper- u m a contribuição para a compreensão e solu-
feiçoamento das qualidades físicas, morais e ção destes problemas.
intelectuais; E m primeiro lugar, o da mundialização do
U m instrumento de preparação para a nosso destino. É errado pensar que as distân-
actividade produtiva e para a preparação na cias serão abolidas devido unicamente ao
gestão da empresa; desenvolvimento dos meios de transporte e
U m instrumento de luta contra as aliena- de comunicação. Além disso, o internacio-
ções económicas e culturais e elaboração de nalismo das aspirações e dos valores a que
u m a cultura nacional libertadora e autêntica. acedem certos grupos e colectividades, não
A Conferência de Tóquio, dispondo das impede que se aprofunde, segundo a lógica do
conclusões das conferências intergoverna- sistema actual das relações internacionais, o
mentais sobre as políticas culturais (Veneza, fosso económico e cultural que separa os paí-
1970; Helsínquia, 1972), considerou também ses pobres dos países ricos. E necessário que a
que a educação dos adultos abrangia simul- compreensão e a aceitação da diversidade dos
taneamente a educação permanente e o costumes e das culturas se tornem acessíveis
desenvolvimento cultural e que contribuía ao maior número de pessoas e conduzam,
para as transformar nos dois aspectos indivisí- tanto quanto possível, a u m a solidariedade
veis de u m m e s m o processo. activa a favor dos mais desprovidos.
A educação dos adultos é muitas vezes evo-
cada e m relação c o m a utilização dos tempos
livres. Ora, o problema dos tempos livres
Objectivos e estratégia apresenta-se hoje e m dia tanto aos países
industrializados c o m o aos países e m desen-
O s objectivos que parece desejável e possível volvimento. Para estes, trata-se muitas vezes
atribuir à educação dos adultos não diferem de tempos livres forçados, devido ao subem-
profundamente daqueles c o m que todo o prego. N o s países industrializados, os tempos
empreendimento educativo digno deste n o m e livres desenvolveram-se c o m o u m a realidade
se deveria ocupar. e c o m o u m a necessidade. A necessidade de
Assim, os objectivos consignados por C o n -
dorcet à instrução poderiam também tê-lo
sido à educação dos adultos: «Proporcionar
a todos os indivíduos da espécie h u m a n a os 1. A . C . C O N D O R C E T , Rapport et projet de décret sur
meios de poder satisfazer as suas necessidades Vorganisation générale de l'instruction publique,
apresentados à Assembleia Nacional, e m n o m e do
de assegurar a todos eles a facilidade de aper- Comité de Instrução Pública, a 20 e 21 de Abril
feiçar a sua indústria, de se tornar apto para de 1972.
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A Unesco e o desenvolvimento da educação dos adultos
tempos livres é expressa por algumas pessoas ciação dos adultos e m formação à determi-
c o m o u m a necessidade de evasão da vida nação dos objectivos e dos conteúdos das
«activa» e por outras como u m a necessidade acções e m que são chamados a participar, de
de encontrar, para além do trabalho e das u m elemento essencial de toda a estratégia
diversas obrigações, a possibilidade de se da educação dos adultos.
exprimir mais livremente. Porém, a concen- M a s , existe u m a estratégia única, ou há
tração do tempo de lazer (fins de semana, lugar para variantes? N ã o podemos certa-
férias pagas...) cria u m a superpopulação nas mente abstrair-nos do nível e do tipo de desen-
zonas próprias para os tempos livres. Muitas volvimento, das particularidades próprias dos
formas de lazer alimentam ou favorecem a diversos grupos que constituem as sociedades,
passividade dos indivíduos e a exploração n e m da importância e dos resultados dos sis-
comercial sistemática dos tempos livres con- temas educativos.
traria muitas vezes os objectivos da edu-
A natureza e a intensidade dos problemas
cação.
cuja compreensão e solução a educação dos
Trata-se de atribuir a sua verdadeira dimen- adultos deve procurar facilitar variam, de
são aos tempos livres: período privilegiado facto, profundamente quando se trata de u m
para fazer a experiência da autonomia, para país de desenvolvimento industrial avançado,
dar livre curso às intuições criadoras, para de u m a sociedade e m vias de industrialização,
exprimir outras solidariedades, além das que ou de u m a sociedade rural tradicional. Além
se enraízam no meio do trabalho. disso, as sociedades industriais não apresen-
M a s existem duas características do m u n d o tam fisionomias homogéneas: na maior parte
contemporâneo que atribuem à educação dos dos casos coabitam técnicas de produção que
adultos funções de u m a importância singular: vão desde a produção rural tradicional à elec-
e m primeiro lugar, a explosão dos conheci- trónica, passando pelo artesanato e a produ-
mentos, a evolução rápida das ciências e a ção e m cadeia. A cada situação correspondem
transformação acelerada das técnicas, e tam- necessidades e hierarquias de urgências dife-
b é m dos valores, obrigam permanentemente os rentes, que a educação do adultos deve esfor-
indivíduos não só a renovar os seus conhe- çar-se por acompanhar tão intimamente
cimentos, c o m o a considerá-los provisórios e quanto possível.
transformável o m u n d o que os rodeia; por
outro lado, ao m e s m o tempo que vive n u m Se tivermos e m conta os elementos que aca-
universo cada vez mais mundializado e glo- b e m de ser expostos, é evidente que não existe
bal, o indivíduo sente-se cada vez mais frag- u m a , m a s várias estratégias de educação de
mentado pela dispersão das suas responsabi- adultos.
idades e das suas diversas tarefas, pelas con- Sob este ponto de vista, seria inútil opor
tradições que comportam, pelo isolamento e m u m a estratégia dando prioridade às preocupa-
que o encerram a divisão estanque entre os ções económicas a u m a estratégia baseada
grupos, a falta de tempo, a incapacidade de e m preocupações culturais. É evidente que,
ter u m a visão de conjunto dos acontecimentos. seja qual for o contexto e m que seja obrigada
À educação dos adultos cabe a tarefa de os a desenvolver-se, a educação dos adultos,
ajudar a compensar e a superar estas limita- deveria fixar c o m o objectivo principal suscitar
ções, e a realizar a unidade da sua própria nos adultos, aspirações, atitudes e comporta-
personalidade. mentos independentes, que lhe permitam c o m -
À luz destes raros exemplos, é evidente que, preender e dominar a transformação e parti-
se pretendemos transformar a educação dos cipar no desenvolvimento e na mutação da
adultos n u m instrumento de solução para os sociedade. T a m b é m é evidente que este objec-
problemas colectivos, é necessário que toda tivo não pode adaptar-se a estruturas educa-
a sociedade aceite empenhar-se no processo tivas desligadas da vida, n e m a conteúdos
educativo. Trata-se, juntamente c o m a asso- estreitamente especializados.
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Lucille M a i r
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A educação dos adultos, as mulheres e o desenvolvimento
energias e competencias para negociar o seu da sua sociedade e da sua economia. Perante
estabelecimento através de u m a rede de orga- o resultado duvidoso da quarta e recente
nismos regionais e internacionais fazendo ou C N U C E D 1 , deveríamos marcar u m a pausa
não parte do sistema das Nações Unidas. e interrogarmo-nos sobre o facto da tomada
M a s a crise mundial actual está tão inextri- de consciência da dimensão humana do desen-
cavelmente ligada à crise da energia e a volvimento ser ou não suficiente para se tra-
outros fenómenos monetários e económicos duzir por decisões políticas.
particulares —recessão, inflação, desequilí- À medida que a dimensão h u m a n a da pla-
brios comerciais •— que estes problemas pas- nificação do desenvolvimento assume mais
saram para primeiro plano e que as negocia- importância, sucede o m e s m o c o m a dimensão
ções internacionais que se realizam e m Paris, política. N a verdade, a qualidade da vida deter-
Nairobi, N o v a Iorque e outros locais se debru- mina os objectivos, m a s é o processo político
çam essencialmente sobre os produtos de base, que define os meios e regula o ritmo do desen-
as barreiras comerciais, a dívida internacio- volvimento. Haverá sempre ocasião para efec-
nal, a indexação, as flutuações dos preços e tuar, de maneira explícita, opções políticas,
a transferência das técnicas, problemas cujas quer se trate de descobrir ou de adquirir os
incidências sobre u m a organização do m u n d o recursos necessários.
são fundamentais, devendo esta reorganização E , nesta fase, a crise confunde-se c o m u m
permitir a descoberta de novos recursos de problema de soberania.
desenvolvimento. N o entanto, é perfeitamente Este problema põe-se simultaneamente no
admissível que estas instâncias, cujos centros plano nacional e internacional. Diz respeito
de interesse são inevitavelmente de ordem a todos os membros da comunidade interna-
comercial e financeira, percam de vista as cional, incluindo aqueles cuja soberania se
pessoas abrangidas pelas questões económicas exerceu no passado muito para além das suas
e m discussão. A s decisões económicas e téc- fronteiras e aqueles que acabam de a adquirir.
nicas tomadas transformá-las-ão e m vítimas A maior parte dos recursos necessários ao
ou beneficiários, conforme sejam, ou não, desenvolvimento está ainda nas m ã o s daque-
ditadas por preocupações de ordem humana. les que n e m sempre sabem apreender a exten-
O verdadeiro significado destas negociações são das necessidades do m u n d o relativamente
é, na verdade, a existência presente e futura pouco desenvolvido. Estes recursos estão
de milhões de homens, mulheres e crianças igualmente na posse, de m o d o inquietante,
do m u n d o e m desenvolvimento. daqueles que ainda têm interesse na conser-
E tudo leva a crer actualmente que nos vação do subdesenvolvimento. A libertação
encontramos e m presença de u m a verdadeira destes recursos é, porém, a condição sine
crise de sensibilidade. Ninguém ignora, por qua non do desenvolvimento.
exemplo, que a crise da energia abalou pro- Além disso, compete ainda às nações mais
fundamente a segurança política e económica atingidas pelo problema do desenvolvimento
habitual das democracias industriais ociden- — as que acabam de aceder à independência —
tais. Salientando de m o d o espectacular a assumir plenamente a sua soberania. A «sín-
interdependência que caracteriza o m u n d o drome de dependência», legado do colonia-
contemporâneo, esta crise teve igualmente o lismo, é o corolário do subdesenvolvimento
efeito de incitar certos países a libertarem-se e o inimigo da soberania.
das suas obrigações e m matéria de desenvolvi- É evidente que esta síndrome restringe a
mento internacional. O seu empenhamento, aptidão das nações e m desenvolvimento, c o m o
que sempre se tinha revelado imbuído de maior grupo de Estados independentes, para
certas reservas, parece actualmente recuar e, porem e m causa nos seus próprios funda-
no seio de algumas instâncias regionais e
internacionais, a sua preocupação máxima
1. Conferência das Nações Unidas sobre o comércio
parece consistir e m evitar u m novo abalo e o desenvolvimento.
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Lucille Mair
232
A educação dos adultos, as mulheres e o desenvolvimento
233
Lucille Mair
vantismo popular é, talvez, o obstáculo repre- dos anos sessenta e setenta dizem respeito às
sentado pelo imobilismo de urna burocracia mulheres: este facto basta, só por si, para
que deveria, pelo contrario, pensar nas suas justificar u m a reavaliação e u m a reorientação
relações c o m a população e as instituições destes modelos.
n u m a perspectiva evolutiva, admitir a priori- Todos sabemos que muitas hipóteses de
dade de u m a sobre as outras, adquirir a m a - base emitidas pelos peritos do desenvolvimento
leabilidade que permite o aparecimento de marcaram a sua posição no que respeita às
estruturas criadas pelas necessidades expli- mulheres, pois as estereotipias de ocupações
citas da comunidade e reconhecer o valor de femininas e m que se baseavam não tinham,
muitas estruturas endógenas que constituem muitas vezes, qualquer relação c o m a reali-
precisamente a finalidade de u m projecto dade. A tendência para subestimar a contri-
desse tipo. buição real das mulheres para a economia
O Terceiro M u n d o está cheio de formas nacional e m tão elevado número de países
culturais autênticas que são testemunho da conduziu ao menosprezo das suas possibi-
imaginação de que os povos são capazes para lidades de participação n u m a economia m o -
superar as dificuldades quotidianas nos domí- derna e, por conseguinte, poucos instrumen-
nios da organização religiosa, agrícola, finan- tos do desenvolvimento foram orientados
ceira ou doméstica. Preservar e favorecer o para elas. Este estado de coisas teve c o m o con-
pleno desenvolvimento dos valores e sistemas sequência, e m particular, o enfraquecimento
tradicionais não significa retrocesso, m a s , da tese optimista do «carácter inevitável do
pelo contrário, proceder de m o d o que as progresso» que tinha sido amplamente espa-
novas orientações do desenvolvimento sejam lhada entre os planificadores dos anos cin-
humanistas, racionais e verdadeiramente dinâ- quenta. Foi o contrário que sucedeu c o m as
micas, apoiando-se no fundamento sólido de mulheres, das quais a maior parte desempe-
u m a aquisição antiga e familiar para se lan- nha u m papel menos importante na economia
çar n o inédito e n o desconhecido. actual do que nos sistemas económicos ante-
Alguns factos fazem-nos já pensar que as riores ao desenvolvimento. N a realidade, os
mulheres reagem favoravelmente quando se projectos c o m u m forte coeficiente de capital,
encontram no seio de u m grupo no qual, que vieram reforçar os programas de auto-
para além de qualquer imposição e quadro -assistência da América Latina e outras
rígido, vivem a experiência de relações de regiões e m desenvolvimento fizeram cair e m
interacção e confrontação da sua experiên- desuso as actividades femininas tradicionais
cia c o m as necessidades futuras, o que lhes sem oferecer às mulheres outras alternativas.
permite ir ao encontro de soluções criadoras. O produto nacional bruto global de muitos
Esta verificação é importante na perspectiva destes países aumentou por vezes, é certo,
de toda a concepção alargada do desenvolvi- m a s c o m prejuízo para importantes secto-
mento. N a verdade, é impossível orientarmo- res da população, muito particularmente as
-nos para as políticas inovadoras indispensá- mulheres.
veis neste fim de século sem ter e m conta o Actualmente, alguns dos indicadores mais
que este processo exigirá das mulheres, que graves de subdesenvolvimento e m matéria
constituem a maior parte da população adulta de educação, saúde e possibilidades económi-
do m u n d o e m desenvolvimento e que foram cas, aplicam-se principalmente às mulheres
sempre mantidas à margem desse desenvolvi- do m u n d o e m desenvolvimento. A incrível
mento. extensão dos fenómenos de mortalidade e de
A sua condição constitui simultaneamente subnutrição infantil e m todo o Terceiro
u m a justificação e u m catalizador da trans- M u n d o diz-nos tanto sobre a condição das
formação, pois algumas das provas mais fla- mulheres c o m o sobre a das crianças muito
grantes da incapacidade dos modelos oci- novas. A s mulheres representam a maior
dentais para resolver os problemas humanos percentagem de analfabetos. A sua taxa de
2
34
A educação dos adultos, as mulheres e o desenvolvimento
desemprego de 23 ou 25 por cento encobre a maior parte dos educadores de adultos são
u m número ainda mais alarmante, ou seja, mulheres.
u m nível de desemprego feminino superior a É , contudo, necessário demonstrá-lo mais
30 por cento, isto é, duas vezes mais elevado u m a vez. E , neste contexto, merecem ser
do que o do desemprego masculino. É ainda assinaladas manifestações recentes e signifi-
mais inquietante verificar que poucas estra- cativas do papel que as mulheres desempe-
tégias do desenvolvimento, à escala nacional n h a m na dinâmica do progresso nacional.
ou internacional, se aperceberam verdadei- N o s últimos vinte anos o m u n d o tem sido
ramente do que representa este problema testemunha da notável mobilização de impor-
especificamente feminino no fenómeno do tantes contingentes de mulheres para os movi-
subdesenvolvimento. Talvez seja exacto afir- mentos de libertação da África, da Ásia e da
m a r que este problema é compreendido no América Latina, e m particular do Vietnam,
plano teórico, m a s esta tomada de consciên- de Cuba, de Angola, de Moçambique e da
cia demora a traduzir-se e m factos. E falta Guiné-Bissau. Nestas guerras populares, e m
ainda integrar a condição feminina e m toda que ninguém pode ser civil, as mulheres, com-
a análise e avaliação das políticas do desen- preendendo perfeitamente quais as forças
volvimento. políticas que estavam e m jogo, assumiram
Até m e s m o a Organização das Nações funções estratégicas nos domínios da edu-
Unidas, que contribuiu, mais do que qual- cação, da comunicação e da informação e
quer outra, para revelar ao m u n d o a exten- participaram na luta activa; familiarizaram-se
são inquietante do subdesenvolvimento das rapidamente c o m algumas das novas técnicas
mulheres, só agora começa a tê-lo e m conta indispensáveis a u m a vitória do povo e trans-
de maneira explícita no exame das estratégias mitiram-nas à medida que as iam adqui-
internacionais do desenvolvimento. rindo. Além disso, tiveram ocasião de alargar
N o entanto, toda a concepção alargada os seus horizontes de mulheres. Vieram, assim,
do desenvolvimento e m que critérios qualita- reforçar os recursos disponíveis para esta
tivos venham substituir os critérios quantita- tarefa difícil m a s excitante que representam
tivos pressupõe, c o m o é evidente, que as não só a libertação c o m o a reconstrução
mulheres lhe estejam associadas. nacionais.
É manifesto que as mulheres podem par- A mobilização deste dinamismo que pos-
ticipar de m o d o activo no desenvolvimento, suem as mulheres no estado latente poderia
e m particular no domínio da educação dos abrir vastas possibilidades de acção, na pers-
adultos, e m que as mulheres representam pectiva de u m alargamento dos conceitos e
u m a forte proporção tanto dos professores objectivos do desenvolvimento e certamente
c o m o dos alunos — na região das Caraíbas também da educação dos adultos.
2
35
Yusuf O . Kassam
Escolar, extra-escolar
e justiça social
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Escolar, extra-escolar e justiça social
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Yusuf O . Kassam
dade de oportunidades. Foi assim que Fos- as pessoas exerceriam actividades diferentes,
ter, baseando-se no estudo de u m certo número m a s estas actividades não lhes confeririam
de países asiáticos e ao Sul do Sara concluiu poder sobre a vida do outro. Cada u m agiria
que u m alargamento quantitativo espectacular por conta do outro, e m virtude de u m acordo
das possibilidades de acesso à educação não comum4.»
conduz «a nenhuma modificação sensível da
distribuição relativa das oportunidades entre
Que pode fazer
os grupos regionais ou étnicos ou entre as
categorias socioeconómicas das populações o ensino extra-escolar?
nacionais1. N u m outro estudo recente sobre
E m substituição d o ensino escolar, propôs-se
u m grande número de países da Europa Oci-
muitas vezes o ensino de tipo não clássico
dental, os Estados Unidos e alguns países
c o m o u m meio de atingir u m a maior justiça
africanos, A . Le Gall rejeita «a ideia dema-
social. N o m o m e n t o e m que muitos países
siado simples de que a democratização dos
e m desenvolvimento estão seriamente empe-
ensinos secundário e superior está assegu-
nhados nessa luta longa e difícil que pretende
rada desde que se abram as portas ao maior
transformar o tipo de sociedade forjada pelos
número possível de alunos2.»
colonizadores e destruir os mitos sociais e eco-
Muitas críticas preconizaram a reforma nómicos herdados da dominação imperialista
radical do sistema escolar, enquanto outras ocidental, parece-nos útil examinar c o m o ,
propuseram a abolição completa deste sis- e e m que medida, o ensino extra-escolar pode
tema e o recurso a «soluções de substituição». remediar a injustiça social que é perpetuada
Porém, torna-se cada vez mais evidente que pelo ensino de tipo clássico.
o ensino não pode conduzir a nenhuma trans-
formação a favor da justiça social se a socie- A E D U C A Ç Ã O D E MASSA
dade n o seu conjunto se caracterizar essen-
cialmente por u m a organização desigual e N o s países e m desenvolvimento, e m que o
injusta das relações sociais na produção e n o ensino escolar serve u m a ínfima fracção da
poder político. C o m o afirmaram Chañan e população, o reforço massivo do ensino extra-
Gilchrist, «a escola não é a origem dos males -escolar pode oferecer toda u m a série de pos-
sociais, n e m o reflexofieldos males que decor- sibilidades a u m número muito maior de pes-
rem da sociedade n o seu conjunto3.» soas e contribuir, assim, para tapar o fosso
Por conseguinte, é imperioso modificar a que separa a massa da élite. O primeiro objec-
estrutura socioeconómica da sociedade antes tivo do ensino estra-escolar consiste e m «ofe-
de empreender a reforma do seu sistema edu- recer à massa dos agricultores, dos operários
cativo. Carnoy defende que «a solução de subs- e dos pequenos empresários, assim c o m o
tituição não é a 'escola aberta' c o m o propôs àqueles que nunca entraram n u m a sala de
Silbermann, n e m métodos de ensino ou pro- aula — e que talvez nunca cheguem a entrar —
gramas que apresentem, de m o d o mais eficaz, u m a quantidade de técnicas e de conheci-
conhecimentos colonizadores. Estas reformas mentos úteis que poderão aplicar sem demora
são concebidas para acentuar a legitimação
de u m a estrutura social piramidal e das rela-
ções hierárquicas na produção. O novo tipo de
ensino deveria, pelo contrário, procurar criar 1. Ibid., p. 22.
ou reforçar u m a sociedade não hierárquica, 2. A . L E G A L L , «Differentiation et démocratisation
au second degré et dans l'enseignement supérieur»,
na qual a propriedade não conferiria direitos em: A . L E G A L L e outros, Problèmes actuels de la
sobre as pessoas e na qual — teoricamente — démocratisation des enseignements secondaire
ninguém teria o direito de dominar o vizinho. supérieur, p. 21, Paris, Unesco, 1973.
N ã o seria u m a sociedade 'igualitária', no sen- 3. G . C H A Ñ A N e L . GILCHRIST What school is for,
p. 13, London Methuen and C°, Ltd., 1974.
tido de semelhança entre todos os m e m b r o s ; 4. Martin C A R N O Y , op. cit., p. 366.
238
Escolar, extra-escolar e justiça social
239
Yusuf O . Kassam
240
Escolar, extra-escolar e justiça social
dizem respeito; sob este aspecto, na óptica ocupam da educação dos adultos, assim c o m o
da análise histórica do colonialismo e do pessoas competentes e b e m informadas que
capitalismo, os principios directores enun- habitem na região e organizar os cursos neces-
ciados pelo T A N U estipulam que «para aque- sários. Além disso, o ensino dos adultos e das
les que sofreram a sujeição e a opressão, a outras pessoas que não frequentam a escola
exploração e a humilhação do colonialismo faz actualmente parte integrante das atribui-
e do capitalismo, 'desenvolvimento' é sinó- ções do professor. Para permitir que a escola
nimo de 'libertação'. Tudo o que lhes pro- primária leve a b o m termo os programas de
porcione meios de desempenhar u m maior educação dos adultos, concede-se-lhe u m
papel na tomada de decisões que os atinjam pequeno subsídio suplementar para equipa-
directamente e no m o d o de orientar a sua mento e material, m a s espera-se primeira-
existencia, é u m acto de desenvolvimento, mente que utilize ao máximo os recursos de
m e s m o quando não lhes assegura melhor que já dispõe.
saúde ou melhor alimentação1.» Para preparar os professores para esta nova
tarefa, todos os estabelecimentos de ensino
AS ESCOLAS PRIMARIAS, pedagógico do país inscreveram nos seus pro-
CENTROS D E E D U C A Ç Ã O D O S A D U L T O S gramas cursos sobre a metodologia da edu-
cação dos adultos. O u antes, todos os futuros
Para assegurar o melhor possível a justiça professores são actualmente preparados para
social, podemos também integrar, de u m a ensinar crianças e adultos, e os estágios prá-
certa maneira e n u m a certa medida, o ensino ticos dão-lhes a possibilidade de se familia-
extra-escolar no ensino escolar. Assim, os rizar tanto c o m o ensino primário c o m o c o m
imensos recursos — professores, material edu- a educação de adultos.
cativo, equipamentos e locais — que são nor-
malmente atribuídos ao ensino escolar e m
benefício da minoria, podem também ser
os CENTROS
utilizados para permitir que as massas tirem
D E E D U C A Ç Ã O COMUNITÁRIA
proveito das possibilidades de ensino extra-
escolar. Para tal, é possível — foi o que suce- N a República Unida da Tanzânia, a utili-
deu na República Unida da Tanzânia — fazer zação das escolas primárias c o m o centros
que todas as escolas primárias sejam simul- de educação dos adultos venceu u m a nova
taneamente centros de educação de adultos. etapa c o m a criação daquilo que designa-
« O princípio geral consiste e m fazer da remos por «centros de educação comunitária».
escola primária o principal centro responsá- Segundo o plano estabelecido pelo governo,
vel pela organização da educação dos adultos. trata-se de integrar o ensino escolar e o ensino
A escola tornar-se-á, então, u m centro edu- extra-escolar, por u m lado, e de integrar mais
cativo comunitário, e m que o ensino primário estreitamente a escola primária na comuni-
representa apenas u m a das funções. Assim dade, por outro lado. Este novo plano ins-
concebida, a escola será cada vez mais u m pira-se na experiência de aldeia de Ujamaa
centro de convergência para o conjunto das de Kwamsisi, na região de Tanga, onde u m
necessidades educativas da comunidade, e projecto piloto consistindo na integração
deixará de ser essa instituição, de certo m o d o das actividades da escola primária nas da
isolada, destinada à educação das crianças2.»
O director da escola primária está encar-
regado do conjunto das actividades do cen- 1. T A N U , TANU guidelines 1971, Dar es Salaam,
tro e m matéria de educação dos adultos: Government Printer, 1971.
deve determinar as necessidades da colecti- 2. United Republic of Tanzania, Tanzania second five
vidade, recrutar monitores competentes diri- year plan for economic and social development
gindo-se aos diversos organismos que se (1969-1974;, vol. ï, pp. 157 e 158, Dar es Salaam,
Government Printer, 1969.
241
vn-6
Yusuf O . Kassam
242
V. S. Mathur
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V . S. Mathur
244
Educação dos trabalhadores e organizações populares rurais
guida, que elas sejam efectivamente aplica- sempre os problemas dos trabalhadores e as
das e, por outro lado, desempenha u m papel instituições mais importantes sob este aspecto
muito activo e m matéria de desenvolvimento são muitas vezes as organizações de traba-
cooperativo e fornece, assim, instrumentos lhadores ou as que foram criadas por sua
de produção agrícola, meios de irrigação ou iniciativa o u c o m a sua colaboração. É evi-
outros serviços secundários a pequenos agri- dente que participar n o funcionamento de
cultores marginais para melhorar a eficácia u m a organização é já u m a forma de educação.
e a produtividade da agricultura. Além disso, a organização de trabalhadores
A organização ocupa-se igualmente da que, mais do que qualquer outra, compreende
criação de empregos para as pessoas despro- as necessidades dos seus membros e goza da
vidas de terras, de fornecer u m a formação sua confiança, está muitas vezes mais ins-
aos artífices, de lhes proporcionar matérias- trumentada para lhes organizar programas
-primas e de lhes oferecer outras formas de de estudos. N o entanto, as suas actividades
auxílio que os colocarão e m condições de são muitas vezes refreadas pela falta de
exercer, de m o d o rentável, os respectivos ofí- recursos, sobretudo financeiros. Pode ser
cios. Além disso, encarrega-se de u m certo extremamente útil coordenar as acções desen-
número de actividades económicas tendentes volvidas e m matéria de educação pelas orga-
a melhorar os magros recursos das famílias nizações populares rurais e pela colectividade.
rurais desfavorecidas por meio de projectos São três os principais aspectos da educação
de criação de gado ou de aves de capoeira ou que interessam à organização. C o m o é evi-
ainda da produção de leite. M a s , e m qualquer dente, esta ocupa-se da educação geral dos
dos casos, trata-se sobretudo de ajudar as seus membros que é assegurada, no essencial,
populações pobres das regiões rurais a ava- pelos estabelecimentos encarregados da edu-
liar melhor os seus problemas e as medidas cação dos adultos. Compete-lhe ainda, mui-
a tomar para os resolver e também de lhes tas vezes, ajudar os seus aderentes a enrique-
ensinar a defender e fazer valer os seus inte- cer os conhecimentos de que necessitam para
resses unindo os seus esforços. É necessário exercer as responsabilidades e a profissão
que possam reencontrar a confiança e m si correspondente aos seus objectivos e à sua
próprias e acreditar na virtude de u m a acção função económica. Finalmente, a organização
c o m u m para introduzir as modificações dese- deve, por u m lado, ajudar os seus membros
jáveis para a vida rural. O factor essencial, a compreender melhor os seus objectivos e o
n u m empreendimento deste tipo, é, por- seu papel e, por outro lado, guindá-los à
tanto, a educação sob as suas diferentes for- altura de participar eficazmente no seu fun-
m a s , consistindo o objectivo pretendido cionamento aos diferentes níveis hierárquicos.
e m preparar o proletariado rural para rea- São as organizações interessadas que p o d e m
lizar as transformações sociais desejadas — preparar melhor os seus membros para diri-
tarefa que está muito longe de ser fácil. gir os sindicatos e as organizações de traba-
lhadores rurais e participar de maneira cons-
ciente e reflectida no seu funcionamento, m a s
há lugar, no entanto, para u m a ampla cola-
Educação dos trabalhadores boração c o m outros organismos e m matéria
de educação geral dos adultos e de formação
profissional. Por exemplo, as escolas rurais
A educação dos trabalhadores adquire u m p o d e m ser utilmente requisitadas. Torna-se
sentido diferente segundo os países. N a A m é - imediatamente rentável investir na educação
rica do Norte é quase sinónimo de formação geral dos adultos, pois esta determina u m a
sindical: na Europa, parece ter u m sentido abordagem mais construtiva da produção e
mais amplo e incluir ainda a educação geral da produtividade e u m a participação pro-
dos trabalhadores adultos, assim c o m o a for- funda nos esforços de desenvolvimento; m a s
mação profissional. Contudo, salientam-se
245
V . S. Mathur
246
Hilary Perraton
Mas, o que é a educação dos adultos? É mente, o ensino magistral era a regra e res-
muito simplesmente aprender tudo o que nos pondia às necessidades da maior parte das
possa ajudar a compreender o meio em que sociedades. É evidente que ainda hoje apren-
vivemos e o modo como podemos modificar e demos certamente mais, e m geral, e m famí-
lia e no nosso ambiente imediato do que na
utilizar este meio para o nosso bem-estar. A edu-
cação não se limita ao que se passa na sala escola. M a s n e m esta educação tradicional,
de aula. extra-escolar, n e m a nova educação escolar
Julius Nyerere, 1969 nos proporcionam o que exigimos à educação :
os meios de nos adaptarmos a u m m u n d o
e m mutação, aproveitando as suas vanta-
A razão de ser do ensino à distância — uti- gens e melhorando-o. Esta crise da educação
lização conjunta de textos impressos, da está na origem de muitos esforços tendentes
rádio e do ensino magistral— é evidente: a encontrar outros meios para além do ensino
os que desejam beneficiar da educação são magistral onde esbarramos c o m a penúria
mais numerosos do que todos aqueles que mundial de professores. A s tentativas efec-
os nossos professores esperam ensinar nas tuadas para resolver os problemas da edu-
salas de aula tradicionais. Se a educação é cação através da radiodifusão, desde Salva-
necessária ao desenvolvimento — c o m o su- dor a Samoa, desde a índia ao Peru, encon-
cede — se os que desejam tanto a educação tram-se entre as mais importantes. M a s ,
c o m o o desenvolvimento são cada vez mais c o m o sublinhava u m estudo recente, «os
numerosos — c o m o sucede— é necessário seus efeitos foram muito limitados e m rela-
que encontremos outros meios de ajudar as ção à extensão dos problemas enfrentados»1.
pessoas a aprender. O ensino à distância é A radiodifusão apresenta a vantagem evi-
u m destes meios: pode melhorar a instrução dente de poder penetrar verdadeiramente e m
que as crianças recebem na aula. M a s desem- toda a parte. Se dispusermos de receptores
penha u m papel provavelmente mais impor- (e se pudermos consertá-los quando se ava-
tante na educação dos adultos, e m particular riam), as emissões p o d e m ser ouvidas e m
como Nyerere aponta na citação apresen- qualquer aldeia de África. M a s é muito difí-
tada. cil aprender unicamente através da escuta de
emissões ou da leitura de textos impressos.
Proponho-me examinar aqui os esforços Estamos, portanto, n u m impasse: não pode-
desenvolvidos para promover o desenvolvi- m o s ter professores e m todas as aldeias;
mento ligando o ensino magistral à rádio e
aos textos impressos. Tentarei resumir o que
já foi realizado para orientar a acção futura
e para salientar os problemas ainda não 1. R . N W A N K W O I , «Educational uses of broadcas-
ting», e m : S. W . H E A D (dir. publ.), Broadcasting
resolvidos. in Africa, p. 303, Philadelphia, Temple Univer-
É fácil expor o problema. Ainda recente- sity Press, 1974.
247
Hilary Perraton.
248
Aprender a viver melhor
preferindo fornecer cursos de agricultura im- obter fundos»). O s meios utilizados compu-
pressos, concebidos para o estudo colectivo. nham-se de u m manual, de u m a série de emis-
«Estes cursos apresentam-se sob a forma de sões radiodifundidas e de «notas» destinadas
u m a série de brochuras, contendo cada u m a aos membros dos comités reunidos para ouvir
delas matéria de três ou quatro lições. São as emissões. Estas deveriam seguir-se de u m a
explicados de maneira simples e directa» c o m discussão susceptível de permitir u m a actua-
a ajuda de u m vocabulário que não ultrapassa ção mais eficaz dos comités.
600 palavras1, sendo os termos técnicos defi- Neste caso, utilizaram-se a rádio e os textos
nidos por palavras deste vocabulário de base. impressos para apoiar o trabalho de organi-
Para o estudo destes cursos, o I N A D E S esti- zações políticas já existentes. A estrutura dos
mula a formação de grupos, se possível na base comités forneceu u m modelo para o estudo
de unidades sociais existentes — aldeias, famí- e a acção colectivas. Se este modelo fosse
lias ou grupos etários. Desde o início que os permanente, o programa estender-se-ia por
grupos são acompanhados por u m agente de u m período limitado : a experiência aproximar-
divulgação, que trabalha c o m eles servindo-se -se-ia, então, mais das campanhas tanzanianas
do material disponível para explorar colecti- do que dos grupos rurais acima descritos.
vamente u m terreno. Está prevista a infor-
mação retroactiva: os grupos de agricultores
completam e m conjunto u m questionário à Campanhas de estudo
medida que avançam no estudo de u m a brochu-
ra e enviam-no para a sede do I N A D E S onde E m 1970, a República Unida da Tanzânia
as respostas são examinadas e comentadas. lançou u m a campanha nacional de educação
dos adultos sobre os objectivos e o desen-
Assim, as tribunas radiofónicas rurais e os
volvimento das eleições, utilizando para este
grupos do I N A D E S salientam a discussão e
efeito u m a série de emissões radiofónicas,
a acção colectivas, estimuladas pelo material
textos impressos e grupos de escuta organi-
recebido do exterior. O s grupos devem ser
zados. Três anos depois, «foi lançada u m a
estáveis e, embora se possam apoiar e m insti-
campanha muito mais importante de escuta
tuições sociais existentes, são criados, e m
colectiva sob o n o m e de Mtu ni Afya (literal-
geral, tendo e m vista o ensino rural.
mente «o h o m e m é a saúde»). Abrangeu
cerca de dois milhões de cidadãos. Pela pri-
Auxílio às instituições existentes meira vez, não se tratava de u m a campanha
de informação cívica ou económica: tinha
T a m b é m podemos utilizar os métodos de
por tema a educação sanitária. Está confir-
ensino à distância para ajudar as instituições
m a d o que ela incidiu espectacularmente sobre
existentes. Assim, no Botswana, o ministério
certos hábitos sanitários de u m grande número
e m causa pediu que o Botswana Extension
de pessoas2.» O programa previsto para u m
College elaborasse u m programa destinado
período limitado visava a formação de 75 000
aos comités de desenvolvimento das aldeias;
animadores e deveria permitir não só aumen-
n u m país tão grande c o m o o Botswana não
tar os conhecimentos sobre a saúde, c o m o
teria sido possível reunir todos os membros
ainda melhorar as práticas sanitárias: nas
destes comités para que seguissem u m a for-
duas primeiras semanas, realizaram-se 1200
mação e, assim, os métodos de ensino à dis-
acções colectivas contra o paludismo e, depois
tância pareceram particularmente apropria-
da campanha, foi assinalada a construção de
dos. O programa destinava-se a fornecer infor-
centenas de milhares de latrinas.
mações mais completas sobre o papel dos
comités, as suas relações com a colectividade
e c o m os poderes públicos e o seu campo de 1. Ibid., p . 22.
acção (um capítulo do manual preparado pelo 2. B . L . H A L L e T . D O D D S , Voices for developmen :
the Tanzania national radio study campaigns, p . 9,
College para os comités intitula-se « C o m o Cambridge International Extension College, 1974.
249
Hilary Perraton
250
Aprender a viver melhor
tos que se seguem: o diálogo, a informação — e não de aprender factos novos — do que
retroactiva, o desenvolvimento e as modali- o ensino didáctico2. E m todo o caso, abs-
dades práticas. traindo destas considerações morais e teóricas,
Desde Sócrates a Freire todos os educado- é u m a fórmula mais eficaz. C o m o talvez pro-
res têm pensado que o diálogo está no cerne v e m as latrinas construídas n a República
da educação. E u m a das necessidades que Unida da Tanzânia, e m 1973, após o Mtu ni
enfrentamos é a necessidade de conciliar as Afya; de assinalar ainda que a eficácia dos
economias de escala, que podemos obter por comités de desenvolvimento de aldeia que, no
meio da produção centralizada do material Botswana, se seguiram ao nosso programa,
pedagógico, c o m o diálogo, que é indispen- tem aumentado e que a sua acção de desen-
sável se pretendemos que a educação seja volvimento se intensifica.
libertadora e não «bancária», como diz A combinação do ensino directo c o m mate-
Freire: « N a concepção bancária da educa- rial impresso e radiodifundido b e m concebido
ção, o saber é u m d o m que aqueles que se e cuja produção está centralizada permite
consideram instruídos concedem àqueles que difundir a informação mais rapidamente e
julgam ignorantes1.» Para que o desenvolvi- mais amplamente (e provavelmente c o m m e -
mento seja útil e eficaz, são necessários dois nos despesa) do que unicamente através dos
tipos de conhecimentos: os conhecimentos métodos tradicionais do ensino directo. O diá-
técnicos (melhores métodos de cultura, saúde, logo permite ainda ter e m conta conheci-
planeamento familiar, etc.) fornecidos pelos mentos locais e tornar o ensino mais eficaz.
nossos tecnólogos e pelos nossos cientistas, A informação retroactiva decorre natural-
e também o conhecimento das condições mente do diálogo. U m grupo de estudo e m
locais, dos homens de determinada região, que u m único m e m b r o seja alfabetizado pode
que o c o m u m dos mortais possui. Os nossos fornecer esta informação retroactiva aos
problemas afectivos atingem u m a tal extensão elaboradores do programa. A informação
que os nossos raros tecnólogos não p o d e m retroactiva exerce, pelo menos, três funções.
encarregar-se da educação no plano nacional. E m primeiro lugar, permite que os grupos
Quanto à tarefa que consiste e m adaptar as de estudo participem n o programa — por
suas soluções a u m a situação dada, c o m exemplo, os problemas apresentados por estes
todas as suas particularidades, deve ser da grupos p o d e m ser utilizados e m emissões
competência de todos os que vivem essa situa- radiodifundidas. E m segundo lugar, permite
ção. É aqui que a abordagem do estudo colec- que os que planificam o programa o modifi-
tivo adquire todo o seu sentido. q u e m durante a sua utilização ou prevejam
Determinado serviço de u m ministério pode- a fase seguinte e m função das necessidades
ria muito simplesmente produzir programas locais. Assim, n o Botswana, quisemos conhe-
radiofónicos o u brochuras, por exemplo, cer os tipos de projectos de desenvolvimento
sobre os melhores métodos de cultura, e asse- desejados pelas aldeias, a fim de conceber
gurar-lhes u m a ampla difusão. M a s este m o d o ulteriormente programas mais específicos cor-
de agir impõe às aldeias u m a solução sem ter respondendo a estas necessidades.
e m conta as diferenças locais e reduz os cam- N a ilha Maurícia, a informação retroac-
poneses ao estado de objectos. Pelo contrá- tiva respeitante a u m programa de planea-
rio, se utilizarmos o m e s m o material c o m o mento familiar intitulado A minha vida amanhã
ponto de partida para u m estudo colectivo, forneceu dados susceptíveis de formar a base
os que esperam tirar partido da informação
p o d e m estudá-la, ver c o m o ela se aplica à
sua situação e desempenhar u m papel activo 1. P . FREIRE, Pedagogy of the oppressed, p. 58,
no desenvolvimento que procuram. Além N e w York, Herder, 1972.
2. E . M . ROGERS, F. L . SHOEMAKER; Communica-
disso, o estudo colectivo parece constituir tion of innovations, pp. 288 e segs., N e w York,
u m meio melhor de modificar as atitudes Free Press, 1971.
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Hilary Perraton
252
Aprender a viver melhor
ciar regras gerais para a hora de difusão das A informação retroactiva é u m elemento
emissões, o estilo do material pedagógico a importante, que tem pelo menos três funções:
empregar, a criação de grupos mistos ou não obrigar o aluno a participar no projecto,
e muitos outros problemas que devem ser instruir o educador a fim de aumentar a sua
resolvidos e m cada caso particular. M a s a eficácia e fornecer u m a informação para as
experiência mostra geralmente que a forma- decisões políticas.
ção de animadores é u m elemento determi- O estudo colectivo deve ser concebido
nante que, e m muitos países, suscita talvez — pelo menos para a educação extra-esco-
mais problemas do que na República Unida lar— de tal m o d o que o grupo passe do
da Tanzânia, onde o professor da escola pri- ensino à acção.
mária já é aceite como encarregado também É essencial escolher o animador adequado.
da educação dos adultos. E m outros países, O s animadores de grupo devem receber u m a
os animadores de grupos — e e m especial formação; o seu papel é diferente do de u m
os professores— adaptaram-se dificilmente professor do ensino primário tradicional.
a u m papel onde não se trata de fornecer
informações m a s de estimular a discussão.
Mais u m a vez se podem aplicar as primeiras Problemas
conclusões retiradas da experiência do Bots-
wana: no programa piloto relativo às pasta- A experiência adquirida permite-nos deter-
gens, que foi executado e m Dezembro de 1975, minar as principais dificuldades encontradas
as animadoras obtiveram melhores resultados na execução de numerosos projectos e para
do que os animadores, as mães de família os quais possuímos ainda poucas soluções
foram melhor sucedidas do que os profes- eficazes. Enumero-as resumidamente, consi-
sores, e os animadores recrutados após u m a derando que estão identificadas, embora não
reunião de aldeia (kgotla) realizaram melhor superadas.
trabalho do que os que tinham sido nomea- Programas longos ou curtos: pretendemos
dos por u m divulgador depois de u m a visita campanhas de curta duração, modeladas pelo
ao domicílio do candidato, ao seu local de grupo de escuta tanzaniano, ou programas
trabalho, ao clube ou à organização a que de longo alcance, c o m as tribunas radiofó-
pertencia1. Conclusão provisória, m a s que nicas rurais? A resposta depende muitas
se impõe: é necessário recrutar e formar os vezes da natureza do programa de estudos.
animadores tendo rigorosamente e m conta M a s , frequentemente, a análise dos objecti-
os valores da sociedade e m que trabalham. vos do programa não indica qual é a melhor
N ã o basta que estes animadores saibam como solução, n e m qual é a melhor combinação
dirigir u m grupo de adultos — embora se das duas fórmulas.
trate já de u m a tarefa considerável; devem É sempre difícil assegurar a informação
também, idealmente, ser aceites c o m o ani- retroactiva, particularmente quando se trata
madores e inovadores pela sua própria de u m a operação de grande envergadura. Se
sociedade. provém de u m grande número de grupos,
Podemos, portanto, elaborar agora, para o organismo responsável corre o risco de
os projectos de educação tridireccional, u m a ficar submerso. U m a amostra seria sufi-
primeira série de princípios decorrentes prin- ciente? Para os educadores talvez, m a s não
cipalmente da prática e justificados pelo fornece a resposta individual que pode dese-
sucesso. Resumamo-los: jar u m grupo de estudo ou u m a aldeia.
O s projectos de ensino à distância que A acção deve acompanhar o ensino na
exigem o estudo colectivo são eficazes.
O s projectos devem ser concebidos de tal 1. Evaluation Unit Botswana Extension College,
m o d o que se instaure u m diálogo no seio ínterim evaluation report to grazing committee,
dos grupos. Gaborone, BEC, 1976.
253
Hilary Perraton
maior parte dos casos. M a s , levar u m grupo neira de incorporar u m sistema de ensino
de pessoas a ouvir rádio e m conjunto ou a nestas estruturas, a fim de se adaptarem
estudar é muito diferente de empreender u m a melhor ao ritmo e às necessidades da exis-
acção perdurável. Para resolver problemas tência quotidiana.
deste tipo, é necessário que nos preocupe- Finalmente, estas diversas fórmulas con-
m o s mais c o m a natureza das organizações tribuem apenas c o m alguns elementos de res-
sociais — dos grupos de alunos e da sua situa- posta parcial aos grandes problemas de
ção — do que c o m a produção do material. educação. Muitos educadores expõem demora-
É do lado dos alunos e não dos professores damente as insuficiências do ensino secundário
que se situam os problemas difíceis e impor- tradicional, m a s é muito mais difícil saber o
tantes. que o deve substituir ou completar, para res-
O s centros de estudos por correspondência ponder simultaneamente às necessidades dos
p o d e m parecer muito longe dos grupos de alunos que terminam nesta fase os seus estu-
estudo colectivo sobre os quais nos debruçá- dos a tempo integral, às dos que os prosse-
m o s ; na realidade, são os mesmos indivíduos guem ... e às das sociedade. Talvez se chegue
que são abrangidos. O especialista do desen- a u m a solução parcial combinando judiciosa-
volvimento comunitário que trabalhou n o mente o material pedagógico cuja produção
Botswana Extension College sobre o pro- está centralizada e o estudo colectivo. Talvez
grama de desenvolvimento das aldeias verifi- mais importante ainda é o facto de não nos
cou que, nas reuniões de aldeia, não cessava encontrarmos — muito longe disso — no
de responder a perguntas sobre os programas ponto e m que a maior parte dos indivíduos
de exames. Existem dois problemas: e m pri- pode definir e exprimir as suas próprias
meiro lugar, poderão estes grupos ser igual- necessidades de educação (nem m e s m o na-
mente ligados, de u m a o u outra maneira quele e m que contribuir para este processo é
à educação extra-escolar? E m segundo lugar, considerado o papel central dos responsáveis
poderemos fazer alguma coisa c o m ofimde pela educação dos adultos), actividade cuja
assegurar que estes centros sejam mais do necessidade Paulo Freire apontou e m D a r es
que escolas de terceira categoria para aqueles Salaam 1 . T a m b é m neste caso, a solução par-
que não têm a sorte de aceder aos estabeleci- cial poderia consistir e m incorporar o ensino
mentos de primeira (ou de segunda) cate- directo n u m sistema de ensino à distância e
goria? de informação retroactiva, para conhecer m e -
O s agentes de divulgação desempenham lhor as necessidades humanas fundamentais
e m muitos projectos de educação extra-esco- e m matéria de educação.
lar u m papel importante m a s que entra, por São estes os dados do problema. É por tudo
vezes, e m conflito c o m as suas atribuições isto que a combinação dos diferentes media
tradicionais. O agente de divulgação agrícola ao serviço do ensino pode constituir u m pro-
surge muitas vezes c o m o detentor da chave cesso h u m a n o de contribuir para a educação
dos problemas agrícolas. M a s , quando novas e para o desenvolvimento. N u m m u n d o que
informações chegam por outros meios — tex- carece de recursos educativos, ela pode ser
tos impressos e rádio — o seu papel de infor- de u m a importância capital se aliar a com-
mador ou de guia apaga-se e m proveito de preensão e o conhecimento que o h o m e m da
u m a função de animador. Esta evolução, rua tem da sua própria vida à informação que
que pode ser desejável, é ainda difícil para o a tecnologia nos proporciona actualmente
agente de divulgação. sobre as potencialidades humanas.
A s estruturas sociais existentes, institu-
cionais ou não, são, e m geral, mais impor-
tantes para a população do que os grupos de
1. P. F R E I R E , «Research methods», Studies in adult
estudo ou as tribunas radiofónicas rurais. education, n.° 7, pp. 9 e segs., Dar es Salaam,
Q u e eu saiba, ainda ninguém encontrou m a - Institute of Adult Education, 1973.
254
Gottfried Schneider
255
Gottfried Shcneider
256
L'éducation des adultes en République démocratique allemande
10
Estabelecimento secundário de
ensino politécnico geral
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258
A educação dos adultos na República Democrática Alemã
D e 1970 a 1974, cerca de 60 000 adultos total, mais de 1,5 milhões de pessoas segui-
trabalhando no comércio obtiveram u m cer- ram cursos nocturnos.
tificado de aptidão profissional. E m 1974, mais de 8 milhões de pessoas
Durante o m e s m o período, mais de 100 000 assistiram a mais de 200000 conferências
cidadãos frequentaram cursos nocturnos para
organizadas pela sociedade U R A N I A .
ingressar na Universidade ou n u m a escola
técnica; 450 000 adultos atingiram o nível A proporção dos operários agrícolas qua-
do penúltimo ou do último ano frequentando lificados passou de 9,2 por cento, e m 1960,
cursos nocturnos e cerca de 110 000 frequen- para 54,3 por cento e m 1971 ; atingiu 75 por
taram cursos de línguas estrangeiras; no cento e m 1975.
180
171 446
160
140
125 778 136 866
120
80 86 092
76 100
72 202
71 039
60 64 275
44 300
40 40 856
30 110 32 288
31 727
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12 455
aprendizagem
mulheres
FÍG. 3. Parte da educação socialista dos adultos no crescimento do número de operários qualificados.
259
Gottfried Schneider
O sistema não impõe limite de idade : todos rios que são os m e s m o s para o conjunto do
p o d e m beneficiar segundo os seus próprios país. Por conseguinte, todas as qualificações,
interesses e a maneira mais proveitosa para si adquiridas nos diferentes elementos do sis-
e para a sociedade. Assim, muitos indivíduos tema, correspondem a u m a norma uniforme
de mais de quarenta anos frequentam cursos e são reconhecidas por todas as instituições
nocturnos para melhorar os seus conheci- de aperfeiçoamento. O que implica que os
mentos gerais. Por exemplo, n a empresa trabalhadores possam passar ao nível supe-
pública V E B IFA-Getriebewerk Brandenburg, rior e, se necessário, mudar de instituição
200 dos 300 trabalhadores que seguiam cur- durante u m ciclo de estudos. O s estabele-
sos nocturnos na academia da fábrica, e m cimentos de ensino e os centros de educação
1972, tinham entre vinte e cinco e quarenta das fábricas e das cooperativas, das comunas,
anos e 31 tinham mais de quarenta anos. dos estabelecimentos sanitários, etc., aplicam
Actualmente, u m trabalhador e m quatro princípios uniformes e programas de estudos
participa n u m programa de qualificação orga- obrigatórios e m todo o país. Recebem ins-
nizada e metódica correspondente às neces- truções dos órgãos de Estado competentes,
sidades actuais e futuras da sua profissão e que os controlam. Devido ao seu carácter
da sociedade no seu conjunto «...para desen- estatal, a educação dos adultos é também
volver inteiramente... (as suas) capacidades e, orientada para o desenvolvimento da persona-
após livre decisão, colocar (as suas) forças lidade. Opomo-nos firmemente a u m a valoriza-
ao serviço do b e m c o m u m e do (seu) b e m - ção unilateral das capacidades, principalmente
-estar pessoal...», c o m o diz a Constituição1. manuais, tendo e m vista u m a actividade
estritamente limitada, que não é acompa-
nhada pelo desenvolvimento das aptidões
intelectuais e pela aquisição de conhecimentos
O carácter estatal fundamentais sólidos e de cultura geral.
e cientifico O montante das despesas públicas consa-
da educação dos adultos gradas à educação quase duplicou entre 1962
e 1973, m a s não nos fornece u m a ideia exacta
O proletariado e todas as forças de progresso do total das despesas efectuadas neste domí-
exigiram sempre que a educação tenha u m nio, e m especial c o m a educação dos adultos.
carácter estatal e u m carácter científico. C o m efeito, a formação profissional prática
Constituem actualmente os pilares do con- dos aprendizes e a maior parte das despesas
junto do sistema educativo da República consagradas aos programas de qualificação
Democrática Alemã, incluindo a educação organizados pelas academias dos operários
dos adultos. de fábrica são financiadas pela própria e m -
Documentos jurídicos c o m o a Constitui- presa. E m geral, esta encarrega-se também
ção, a lei sobre o sistema integrado de educa- das despesas originadas pela participação e m
ção socialista e a resolução da Câmara do seminários e cursos, a preparação das pro-
Povo sobre os princípios que regem a forma- vas de exame e a inscrição nos exames. M u i -
ção e o aperfeiçoamento dos trabalhadores tas empresas adquiriram o hábito de subsidiar
precisam que a educação dos adultos é de a compra dos livros técnicos necessários.
carácter estatal e de carácter científico, tanto Todas as empresas industriais pagam sempre
para as questões fundamentais como para as todas as despesas de participação e m cursos
questões secundárias. especiais, reuniões e conferências.
O carácter estatal da educação manifesta-se
especialmente pelo facto de tudo o que con-
duz a u m exame intermédio oufinal,seja qual
1. Constituição da República Democrática Alemã,
for o nível de qualificação, decorrer de pro- de 6 de Abril de 1968, publicada pela Staatswerlag
gramas de estudos e de formação obrigató- der Deutschen Demokratischen Republik, p. 19.
260
A educação dos adultos na República Democrática Alemã
2ÓI
Gottfried Schneider
262
A educação dos adultos na República Democrática Alemã
263
Ignacy Waniewicz
Ontário, província situada no Canadá Central, por cento para os jovens de dezasseis anos, a 69
conta com mais de oito milhões de habitantes. por cento para os jovens de dezassete anos e
A superfície total da província é de mais de a 34 por cento para os jovens de dezoito anos.
quatrocentas mil milhas quadradas (ou seja, O sistema escolar pós-secundário apresenta
mais de um milhão de quilómetros quadrados), duas vias principais: os colégios comunitários,
mas a grande maioria da população vive na com mais de 90 c a m p u s que servem as prin-
parte sul da província, cuja superfície não cipais regiões económicas de Ontário, e as
chega a perfazer um terço da superfície total. universidades.
O sistema escolar de Ontário ministra o Os colégios comunitários foram criados nos
ensino primário e secundário a todas as crian- anos sessenta essencialmente com o objectivo
ças e jovens susceptíveis de beneficiarem desse de proporcionar programas de nível pós-secun-
ensino. O ciclo escolar inclui a escola infantil,dário orientados para o emprego aos diploma-
oito anos de ensino primário e cinco anos de dos do secundário que necessitam de formação
ensino secundário. A escolaridade é obrigató- e de instrução pós-secundárias diferentes das
ria desde 1870. Actualmente, vai dos seis aos fornecidas pelas universidades. Estes estabe-
dezasseis anos; a escola infantil recebe as lecimentos propõem, além disso, programas
crianças de cinco anos que os pais pretendam destinados a responder às necessidades em maté-
enviar para a escola, mas, na prática, quase ria de educação dos adultos e dos jovens não
todas as crianças dessa idade estão inscritas. escolarizados, quer sejam, ou não, diplomados
Depois da segunda metade dos anos sessenta do secundário.
muitas escolas abriram jardins infantis e, em Em 1975-1976, o número de estudantes a
1974, a percentagem das crianças de quatro tempo integral dos colégios comunitários atin-
anos que frequentava estas classes era de 33 por gia cerca de 60 000, contra cerca de 160 000
cento. No que respeita ao secundário, em 1974- estudantes a tempo integral nas universidades.
-1975, a taxa de inscriçõesl elevava-se a 87 No entanto, o número de estudantes que frequen-
tam cursos a tempo parcial nos colégios ultra-
passa consideravelmente o dos estudantes a
tempo integral, enquanto o número de estu-
Ignacy Waniewicz (Canadá). Jornalista, produtor- dantes a tempo parcial nas universidades é de
-realizador de emissões televisivas e sociólogo. Director
de Office of Planning and Development do Ontario 75 000. Além disso, várias centenas de milha-
Educational Communications Authority, em Toronto.
Autor de muitos filmes educativos, de programas
televisivos e de publicações neste domínio, como 1. Isto é, a relação entre o número total dos alunos
A radiotelevisão ao serviço da educação dos adultos inscritos nas classes do secundário, com deter-
— A s lições da experiência mundial (Presses de minada idade, e o número total das pessoas com
V Unesco). esta idade.
264
A educação dos adultos e m Ontário
res de adultos beneficiam das fórmulas de edu- da população. O s serviços educativos de Ontá-
cação de tipo não clássico propostas pelos rio estão, e m larga medida, «abertos» . N o
colégios comunitários e as universidades, assim entanto, tendo e m conta o número de «estu-
como por muitas outras organizações, tais como dantes potenciais» e as suas características
os conselhos escolares locais, as organizações demográficas e socioeconómicas, assim c o m o
sociais, comunitárias ou culturais, as autori- as razões pelas quais os «não-estudantes» não
dades municipais, as escolas privadas, os clubes participam e m actividades de educação, somos
desportivos ou outros, etc. forçados a concluir que os serviços educa-
tivos não estão, actualmente, suficientemente
adaptados às necessidades de muitos grupos
A procura de educação específicos.
a tempo parcial Entre aqueles que teriam necessidade de
u m sistema educativo mais acessível, encon-
Quais são a natureza e o alcance da partici- tram-se as mulheres e as pessoas que exer-
pação deliberada dos adultos e m actividades c e m certos tipos de empregos, tais c o m o os
de educação a tempo parcial, de tipo tradi- empregados de escritório, os operários não
cional ou não, n u m a região que conta c o m qualificados e as pessoas que habitam zonas
muitos estabelecimentos de ensino de tipo rurais. A s mulheres que permanecem e m casa,
tradicional? c o m o , de resto, todas as pessoas imobilizadas,
Para responder a esta questão, efectuou-se procuram t a m b é m possibilidades de educação
u m inquérito por sondagem orientado pelo que lhes estejam adaptadas.
Ontario Educational Communications Autho- O s resultados do estudo indicam claramente
rity ( O E C A ) 1 . O s resultados deste inquérito, que os adultos que trabalham têm necessidade
que foram recentemente publicados2, indi- de fórmulas e de serviços novos e mais diver-
c a m que o número de adultos da provincia sificados e m matéria de educação. Estes ser-
que seguem activamente u m a formação o u viços, cuja necessidade começa a fazer-se sentir,
qualquer tipo de ensino é, de facto, muito deveriam atender — mais d o que os servi-
elevado. O impacto desta forma de educação, ços existentes — às limitações que se devem
assim c o m o o interesse que lhe dedicam aque- ao tempo, à situação geográfica, à possibili-
les que ainda não participam n u m processo dade de deixar o domicílio e à de se deslocar.
de aprendizagem sistemática, são visíveis no Seria também aconselhável conceber serviços
conjunto dos grupos etários constituídos pelos mais adaptados às necessidades particulares
adultos e pelas pessoas que estão n o início dos adultos mais jovens e das pessoas de meia
da terceira idade. Pelo menos 1 400 000 adul- idade.
tos — cerca de 30 por cento da população e m N o s grandes centros urbanos, m e s m o
idade adulta — participam efectivamente nu- quando as possibilidades de educação são
m a actividade de aprendizagem sistemática; largamente abertas, urge pensar nos inúmeros
80 por cento pretendem prosseguir esta acti- grupos de adultos que não p o d e m utilizar as
vidade n u m futuro próximo e mais de 800 000 possibilidades existentes.
adultos — ou seja, cerca de 18 por cento da São necessários esforços suplementares se
população e m idade adulta— que, actual-
mente, não exercem qualquer actividade deste
tipo, exprimem a intenção de empreender
estudos n u m futuro próximo (um o u dois 1. O O E C A assegura o funcionamento de u m a rede
anos). de cadeias de televisão educativa e m Ontário,
difunde programas por meio de sistemas de tele-
U m a das principais conclusões que pode- visão à distância e distribui bandas video pelos
m o s tirar destes dados é que, e m Ontário, as estabelecimentos de ensino.
2. Ignacy W A N I E W I C Z , Demand for part-time lear-
possibilidades de instrução são numerosas e ning in Ontario, publicado pelo Ontario Institute
dativamente acessíveis a u m a grande parte for Studies in Education, Toronto, Canada, 1976.
265
Ignacy Waniewicz
266
A educação dos adultos e m Ontario
vas». Muitas das pessoas que se instruem O ensino de tipo não tradicional abrange
e m determinados domínios ignoram que u m amplo leque de matérias, desde as dis-
exercem u m a actividade educativa e têm ten- ciplinas de carácter profissional e técnico até
dência, portanto, para negar a existência des- ao artesanato e às actividades recreativas.
tas práticas n o que lhes diz respeito. Estudos Contudo, a maioria dos programas que não
efectuados por Allen Tough 1 indicam que conduzem a diplomas consiste e m cursos
quase todos os indivíduos se lançam e m pelo de aperfeiçoamento profissional dos quais a
menos u m a ou duas acções de auto-instrução, maior parte dá lugar à atribuição de u m
por ano, e que este número pode atingir 15 certificado o u de u m atestado.
ou 20 e m certos casos. Talvez seja interes- Algumas universidades criaram colégios
sante notar que todos os autodidactas que se exclusivamente reservados aos estudantes a
definiram c o m o tal durante o nosso inquérito tempo parcial. Assim, o Woodsworth College
participavam e m pelo menos u m programa da Universidade de Toronto põe os recursos
educativo de tipo mais formal. O que parece da Universidade à disposição dos adultos dis-
indicar que os que participam e m actividades postos a empreender estudos sistemáticos a
de educação no quadro de u m estabeleci- tempo parcial. A Universidade conta c o m u m
mento de ensino ou de outra organização total de 20 000 estudantes a tempo parcial,
estão mais conscientes dos esforços de auto- dos quais muitos estão inscritos e m progra-
-instrução que p o d e m empreender. mas de estudos conduzindo a diplomas ou
U m número considerável de adultos bene- certificados. Muitos estudantes seguem cursos
ficia das possibilidades de educação propor- por correspondência. Entre os programas que
cionadas por clubes ou grupos reunindo pes- p o d e m ser seguidos a tempo parcial, incluem-
soas c o m interesses particulares, c o m o os -se, além da preparação dos diplomas de
clubes de leitores, os cine-clubes, os grupos bachelor of arts, de bachelor of science e de
de teatro amador, os clubes desportivos, etc. bachelor of education, os seguintes programas:
N o total, 9 por cento dos programas de edu- primeiro e segundo ano da maior parte dos
cação têm por quadro este género de grupo. programas de formação de engenheiros; pri-
Cerca de 5 por cento dos «estudantes» indi- meiro e segundo ano do programa de formação
caram as emissões de rádio e de televisão de enfermeiras e u m programa de aperfeiçoa-
c o m o u m a das fontes dos seus esforços de mento conduzindo a u m diploma de bachelor
educação: 2 por cento de todas as activi- of science e m reeducação física e profissional.
dades de auto-educação empreendidas por U m colégio análogo, o Atkinson College
adultos baseiam-se e m programas de rádio da Universidade York de Toronto, é u m a
e de televisão. faculdade de letras e de ciências que funciona
Talvez seja interessante descrever resumi- exclusivamente à noite e propõe cursos que
damente alguns dos locais onde se realiza a dão lugar a quatro diplomas: bachelor of arts,
educação dos adultos. bachelor of science, bachelor of arts (adminis-
tration) e bachelor of social work. Este colégio
UNIVERSIDADES funciona segundo o princípio das unidades
de valor e não por anos universitários. N o
As dezassete universidades de Ontário facul- Verão, as aulas efectuam-se também durante
tam aos alunos-estudantes a tempo parcial o dia.
diversos cursos, conduzindo, ou não, a diplo- A Universidade de Waterloo propõe u m
mas. Muitas disciplinas proporcionam u m programa por correspondência incluindo aulas
ensino de tipo tradicional a tempo parcial
concedendo diplomas ao nível do segundo e
do terceiro ciclo do ensino superior. Cerca
1. Allen T O U G H , The adult's learning projects, The
de u m terço dos estudantes inscritos nestes Ontario Institute for Studies in Education,
cursos são estudantes a tempo parcial. Toronto (Canadá), 1971.
267
Ignacy Waniewicz
268
A educação dos adultos e m Ontário
269
Ignacy Waniewicz
U m exemplo:
a zona metropolitana de Toronto
1. U m a das malhas do sistema regional de bibliotecas
Os organismos que propõem programas, de Ontário, que coordena os serviços de biblioteca
dos seis boroughs (bairros) de Toronto e cuja
assim c o m o as possibilidades de educação tarefa consiste essencialmente e m fornecer ser-
permanente, são tão diversos e numerosos que viços de referência centralizados.
270
A educação dos adultos e m Ontário
outros programas versam sobre assuntos muitos cursos gratuitos: e m especial, é o que
diversos c o m o os animais e m geral e os ani- acontece c o m o ensino do inglês c o m o segunda
mais domésticos, a cozinha, a costura, a jar- língua, c o m todos os cursos por correspon-
dinagem, o ordenamento da paisagem, o dência de nível secundário organizados pelo
estudo da natureza, o desenvolvimento pes- Ministério da Educação de Ontário, c o m mui-
soal, as viagens, os vinhos e licores, o jogo e tos cursos de artes plásticas e de artesanato
muitos outros temas ligados às actividades organizados pelos departamentos dos parques
recreativas e interessando o lar e a família. e tempos livres dos boroughs, c o m programas
O repertório fornece u m a lista de cerca de para pessoas da terceira idade, etc.
80 estabelecimentos e organizações da zona
metropolitana de Toronto que patrocinam
estes cursos. Quais são estas organizações? Disparidades geográficas
O s conselhos escolares, os departamentos dos e obstáculos à educação
parques e tempos livres, as bibliotecas públi-
cas dos seis boroughs da zona metropolitana Seria injustificado afirmar que os adultos só
de Toronto. Trata-se também das duas uni- têm possibilidades de educação nos grandes
versidades de Toronto e dos seus colégios, centros metropolitanos; observam-se, porém,
b e m c o m o dos quatro colégios comunitários disparidades consideráveis entre as diversas
que propõem — além dos cursos que condu- zonas da província.
zem a diplomas ou certificados — toda u m a Independentemente da dimensão da popu-
gama de programas de carácter geral ou espe- lação, parece que a presença de u m estabe-
cializados destinados ao «estudante perma- lecimento de ensino pós-secundário n u m
nente» que procura enriquecer-se intelectual, determinado condado predetermina o nível
cultural ou profissionalmente sem as limita- de participação dos adultos nas actividades
ções do ensino de tipo tradicional. Final- de educação na zona considerada. Assim, nos
mente, observamos nesta lista a presença das condados e m que não existe universidade
galerias de artes e dos museus do Toronto, de n e m colégio comunitário, a participação dos
grupos de teatro, ballet e música, de associa- adultos nas actividades de educação é muito
ções que se ocupam da saúde, de grupos e de mais fraca. A presença de u m a universidade
associações étnicas, de associações profis- ou de u m colégio parece incitar os outros
sionais, de sociedades e de institutos religio- organismos locais a oferecer possibilidades de
sos, de clubes de desportos e tempos livres, educação.
de sociedades científicas e de organismos É inegável que, no sul de Ontário, se encon-
públicos. tram possibilidades de educação mais amplas.
A duração dos cursos enumerados no reper- A s universidades situadas a menos de 80 qui-
tório varia consideravelmente, m a s a maior lómetros da fronteira sul do Canadá registam
parte deles dura dez ou vinte e cinco semanas. 90 por cento das inscrições e m programas a
A propina de inscrição varia também e m tempo parcial concedendo u m diploma,
função da duração dos cursos, do tipo de enquanto esta zona conta apenas c o m cerca
ensino e do tipo de organização que os gerem. de 80 por cento da população da província.
Assim, o Toronto Board of Education (Con- Encontramos também nesta região u m grande
selho Escolar de Toronto) propõe u m curso número de programas universitários que não
de quatro semanas sobre o tema «Defensive concedem nenhum diploma; só a cidade de
driver training» (a condução automóvel defen- Toronto — que conta c o m u m quarto da popu-
siva) por 5 dólares, enquanto u m curso por lação da província — regista mais de metade
correspondência de economia internacional das inscrições e m programas universitários
de trinta e quatro semanas apresentado pela que não dão direito a diploma. D o m e s m o
School of Continuing Studies da Universidade m o d o , Toronto e os arredores acolhem m e -
de Toronto custa 100 dólares. Existem, porém, tade dos adultos que se inscrevem e m pro-
271
Ignacy Waniewicz
272
Filippo M . de Sanctis
U m a conquista
dos trabalhadores italianos:
as "150 horas"1
Entende-se, e m Itália, por «150 horas» as tuto dos trabalhadores (lei aprovada a 20
horas-crédito conquistadas pelos metalúr- de Maio de 1970) cujo artigo 10.° prevê dis-
gicos a quando das lutas pela renovação do pensas de serviço pagas para fazer exames, o
contrato de Março de 1973. M a s , para além direito ao trabalho por turnos para facilitar
deste significado principal e imediato, as a assiduidade às aulas e a preparação para os
«150 horas» adquiriram u m significado polí- exames; o direito de recusar horas suple-
tico e cultural considerável. mentares ou o trabalho e m dias feriados.
Tentaremos, no presente artigo, explicar Estas vantagens não são concedidas para
resumidamente do que se trata, fazer o balanço estudos universitários, c o m excepção das
da experiência, descrevê-la nos seus pri- dispensas para exames.
meiros anos, fornecer alguns elementos de M a s foi a renovação dos acordos contra-
avaliação e, finalmente, traçar perspectivas tuais de 1972-1973 que marcou u m progresso
no quadro da sociedade italiana. decisivo : os metalúrgicos obtiveram u m «cré-
dito» de 150 horas para estudos. A s m o d a -
lidades v ê m formuladas n o Contrato Colec-
A conquista das «150 horas» tivo dos metalúrgicos, de Abril de 1973:
pela classe operária «Os trabalhadores que, para melhorar a sua
própria cultura, m e s m o no âmbito da empresa,
O direito ao estudo está plenamente confir- desejem frequentar estabelecimentos públicos
m a d o pela Constituição Italiana (art. 34) e assimilados ou reconhecidos, ou frequentar
pela Declaração dos Direitos do H o m e m , aulas, p o d e m beneficiar de férias pagas de
aprovada pelas Nações Unidas e m 1948, e acordo c o m u m número de horas trienal à
ratificada pelo Parlamento italiano e m 1955. disposição de todos os assalariados». Para ter
M a s , para poder exercer verdadeiramente este direito a u m a dispensa remunerada, o tra-
direito fundamental, os trabalhadores neces- balhador deve seguir u m curso cuja duração
sitaram de trinta anos de luta nas frentes polí- seja o dobro do número de horas requeridas
tica e sindical. (isto é, u m curso de, pelo menos, 300 horas).
O primeiro resultado positivo foi o Esta-
1.
N a redacção deste artigo, apoiámo-nos princi-
palmente nas obras a seguir indicadas das quais
retirámos informações e dados: L . D O R E : Fabbrica
Filippo M. De Sanctis (Itália). Professor de educação e scuola, le 150 ore, R o m a , Editori Riuniti 1975;
dos adultos (Universidade de Florença) e de metodologia Quindicinale di note e commenti CENSIS, n . o s 228
da educação dos adultos (Universidade de Roma). Par- e 229, 15 de Junho de 1975. Foi publicada u m a
ticipou, a diversos títulos, em actividades de educação bibliografia abundante e exaustiva pela revista
permanente, às quais consagrou muitas publicações. Scuola e Città, n . 0 3 7 e 8, 1975.
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Filippo M . de Sanctis
2
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U m a conquista dos trabalhadores italianos: as «150 horas»
Z
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Filippo M . de Sanctis
subalternos. Cerca de 70 por cento dos par- tam 63 por cento do efectivo total. N o con-
ticipantes provêm de familias operárias o u junto, o corpo docente é jovem, recentemente
camponesas cujo nível de instrução raramente licenciado e predominam as mulheres. Quanto
ultrapassa o do certificado de estudos primá- ao extracto social, a maior parte (mais de
rios. Quanto à escolarização obrigatória, 56 por cento) dos professores provém da
73 por cento das pessoas interrogadas deixa- pequena e média burguesia (artífices, comer-
ram a escola antes dos 14 anos. Por outro ciantes, proprietários exploradores, emprega-
lado, 1,8 por cento não possui o certificado dos, técnicos, oficiais subalternos). O s filhos
de estudos primários, 59,7 por cento, pos- de operários agrícolas, de trabalhadores m a -
suem-no, 21,4 por cento frequentaram esta- nuais, de operários não qualificados, repre-
belecimentos secundários do primeiro ciclo, sentam 7,5 por cento dos efectivos, os filhos
16,9 por cento foram ainda mais além, de operários qualificados especializados 8,9 por
0,2 por cento não responderam. cento. O s outros (15,8 por cento) são filhos
O perfil d o participante revela-se através de quadros superiores, de directores de e m -
das suas motivações e expectativas. O «desejo presas, de membros de profissões liberais, de
de transformação», ditado também por u m a oficiais superiores, de professores de univer-
vontade de desenvolvimento pessoal, é mais sidade. O s professores são animados essen-
frequentemente invocado do que a «mobili- cialmente pelas seguintes motivações : desejam,
dade profissional», a «obtenção de u m di- na sua maior parte, «fazer u m a experiência
ploma» o u a «procura de u m emprego». pessoal e m matéria de formação» (67,5 por
Foi assim que 54,8 por cento das pessoas cento das respostas). O s outros pretendem
interrogadas responderam afirmativamente à «fornecer aos operários instrumentos para
pergunta: «Considera que u m nível mais ele- compreenderem melhor a realidade» (66,8 por
vado de instrução o ajudaria a compreender cento), «estabelecer u m contacto h u m a n o
melhor o que realiza no seu trabalho?» c o m os operários» (44,3 por cento) e «elevar
Para 53,5 por cento das pessoas «frequentar o nível cultural desta categoria particular de
as aulas é u m b o m meio de encontrar pessoas alunos» (36,3 por cento).
c o m problemas semelhantes aos meus e de O s temas tratados nas aulas apresentam-se
discutir c o m elas». À s perguntas relativas à pela ordem seguinte : condições e ambiente de
mobilidade profissional, 23 por cento respon- trabalho (64,8 por cento); meio social (51,8 por
deram: «Espero obter u m diploma que m e cento); conteúdo cultural das diversas uni-
proporcione u m a qualificação superior na dades interdisciplinares (40,5 por cento);
minha empresa», 12,9 por cento responde- muito depois v ê m os temas relativos à situa-
r a m : «Pretendo mudar de emprego e o cer- ção sindical (12,4 por cento); à situação polí-
tificado de estudos secundários ajudar-me-á tica (10,2 por cento), aos problemas familia-
seguramente a encontrar outro emprego»; res (4,2 por cento).
apenas 11,3 por cento responderam: «Pre- D e u m m o d o geral, aplicaram-se métodos
tendo obter u m diploma para poder pros- de trabalho que se inspiram na gestão colec-
seguir estudos superiores». Foram muito tiva dos cursos e na interdisciplinaridade,
raras as respostas afirmativas às perguntas colocando-se na óptica seguinte: valorizar a
respeitantes à procura de u m emprego; ape- experiência pessoal dos participantes, dis-
nas 1 por cento das pessoas interrogadas res- tinguir na discussão colectiva os limites
pondeu: «Estou desempregado e, sem diploma, subjectivos das interpretações que cada u m
é muito difícil, o u até impossível, encontrar faz da sua experiência pessoal e procurar as
trabalho». componentes objectivas dos fenómenos; ela-
O s professores são e m número de 575 e borar u m estudo correcto de investigação
53,9 por cento têm entre 26 e 30 anos; 32,3 por circunscrevendo b e m o problema, formulando
cento têm menos de 25 anos, 10,4 por cento hipóteses, recolhendo dados, examinando as
têm entre 31 e 35 anos. A s mulheres represen- primeiras conclusões; desenvolver a aptidão
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U m a conquista dos trabalhadores italianos: as «150 horas»
279
Filippo M . de Sanctis
tos, para q u e m conhece a história deste pro- donar prematuramente. M a s , outros proble-
blema e m Itália (desde as primeiras socie- m a s surgiram por parte dos professores que
dades de auxílio mútuo até hoje), a conquista vieram desempenhar tarefas para as quais não
das 150 horas marcou u m a rotura, u m salto estavam preparados; esta falta de preparação,
qualitativo. É evidente que, tendo e m vista tanto nos comportamentos c o m o nos métodos,
os últimos trinta anos, foi demorado o esta- encerrou os tradicionalistas n u m a atitude de
belecimento consciente de u m a ligação entre recusa e impeliu-os para interpretações res-
movimento operário e educação dos adultos; tritivas, enquanto os inovadores se deixavam
mas é necessário dizer que este atraso foi arrastar por abstracções e improvisações.
totalmente preenchido pelas 150 horas. Estas N o entanto, foi o choque entre o m u n d o do
parecem ter aberto a possibilidade de u m a trabalho e o m u n d o da escola que provocou
mutação — no sentido biológico do termo — as dificuldades mais graves: o facto dos esta-
da teoria e da prática da educação dos adul- belecimentos escolares, que julgam gozar de
tos. Este ponto deveria ser mais profunda- autonomia total, não estarem habituados a
mente abordado do que neste artigo. Afirma- sofrer intervenções nos seus assuntos, pro-
m o s apenas que as 150 horas abrem a via a vocou traumatismos e confrontos, tanto ao
u m sistema de educação dos adultos e m que a nível das relações entre o Ministério da
aquisição de conhecimentos não é neutra Educação Pública e os sindicatos, c o m o n o
(isto é, essencialmente ligada à conservação interior das próprias escolas entre os direc-
do statu quó) mas e m íntima relação c o m o tores e os trabalhadores. Para além das posi-
controle social dos processos criadores do ções dos ministérios, dos inspectores, dos
trabalho, da informação, dos tempos livres, directores, é necessário ver nestes traumatis-
da vida quotidiana. m o s e confrontos a manifestação salutar de
N ã o é u m a tarefa fácil. O s problemas pre- u m fosso entre a escola e a sociedade, u m
cisos suscitados pelos cursos nascem justa- fosso histórico que não pode ser preenchido
mente da resistência à inovação. Encontra- c o m ambiguidades. Queremos dizer que seria
ram-se dificuldades a diversos níveis e e m u m erro procurar atenuá-los ou encobri-los;
diferentes momentos. C o n v é m ter e m conta, é necessário que todas as contradições sur-
para evitar mal-entendidos, que os próprios jam à luz do dia. E m nossa opinião, só u m
trabalhadores continuam agarrados aos velhos confronto, claro e explícito de ideias (de ordem
métodos tradicionais de estudo, na medida institucional e ideológica, administrativa e
e m que alguns deles reclamavam u m a «escola» metodológica) permitirá compreender u m a
— c o m tudo o que ela tem de pior — seme- das principais motivações das «150 horas»:
lhante à que tinham sido obrigados a aban- a reforma da escola italiana.
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Jonathan Gunter e James Theroux
Desenvolver
auditorios de massa
para a rádio educativa:
duas abordagens1
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Jonathan Gunter e James Theroux
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Desenvolver auditórios de massa para a rádio educativa: duas abordagens
É lamentável que o lugar dominante ocupado cação e de duro labor consentidos por u m a
pelas estratégias de aprendizagem e m grupo organização privada dinâmica e b e m finan-
nas publicações especializadas tenha impe- ciada.
dido de apreciar correctamente a solução das Estamos, portanto, e m condições de per-
emissões abertas destinadas a auditores de guntar se as estratégias de aprendizagem e m
massa. grupo são capazes de atrair auditórios de
Recentemente, entre 65 projectos radiofó- massa na maior parte dos países e m desen-
nicos baseados no desenvolvimento, apenas 5 volvimento, onde as condições são diferentes
diziam respeito a emissões abertas destinadas daquelas e m que foram executados os três
a u m auditório de massa não organizado, não projectos exemplares. D e resto, os restantes
cativo1. Todas as outras incluíam emissões dezassete projectos sobre os quais possuímos
directamente ligadas à participação e m u m dados numéricos de escuta, apresentam m e -
programa a longo termo de discussão, de nos de 15 000 auditores. Examinaremos e m
estudo ou de acção e m grupo. seguida dois métodos susceptíveis de ajudar
Os 20 projectos que forneceram indicações projectos deste tipo a atrair u m maior número
sobre a sua escuta destinavam-se todos a de auditores e de assegurar u m a utilização
auditórios organizados, constituídos e m grupo. mais rentável do meio de comunicação de
Apenas três destes projectos atingiram, na que ocupa o primeiro lugar no m u n d o .
opinião dos responsáveis, aquilo que pode-
remos chamar auditórios de massa. Trata-se
do Movimento Brasileiro de Educação de Técnicas publicitárias
Base ( M E B ) , nos primeiros anos sessenta
(com 111006 participantes), das Escolas Servindo-se de u m a sociedade de publicidade
Radiofónicas Sutatenza da A C P O , na Colôm- de N o v a Iorque de renome, para facilitar a
bia (167 451 alunos e m 1968) e da Campanha realização do seu programa de educação, o
a favor da saúde, na República Unida da Tan- Instituto Nacional do Equador para a nutri-
zânia, e m 1973 (2 milhões de participantes). ção pôde elaborar u m projecto de carácter
N o s três casos, estes elevados números podem inovador. A s técnicas da publicidade radio-
explicar-se por circunstâncias excepcional- difundida não tinham ainda sido sistematica-
mente favoráveis. mente aplicadas às necessidades e m matéria
E m primeiro lugar, convém observar que de educação n u m país e m desenvolvimento.
a República Unida da Tanzânia é o único A maneira de ver dos educadores tradicio-
dos três países e m questão onde o auditório nais é fundamentalmente diferente da dos
excedeu 1 por cento do conjunto da popu- organizadores de publicidade comercial. E m
lação. A estatura do presidente Nyerere c o m o geral, os educadores esforçam-se por provocar
h o m e m de Estado, a posição que tomou a grandes transformações (alfabetização, apren-
favor do desenvolvimento rural, e a criação de dizagem da aritmética, formação profissional)
organizações rurais no seio do partido e dos e m pequenos grupos de pessoas. O s publici-
ministérios explicam provavelmente o notá- tários, pelo contrário, cultivam u m auditório
vel sucesso deste projecto de aprendizagem de massa e procuram provocar transformações
e m grupo. mais modestas de comportamento (abandonar
N o Brasil, nos primeiros anos sessenta, o a marca X pela marca Y de u m produto de
governo empenhou-se na mobilização das consumo existente).
massas populares para realizar u m a trans- Embora os educadores reconheçam as dife-
formação social rápida. Depois da mudança
de regime, e m 1964, o número de auditores
do M E B declinou brutalmente. 1. Emile M C A N A N Y , Radio's role in development;
five strategies of use, documento disponível gra-
N a Colômbia, a larga audiência da A C P O tuitamente e m Clearinghouse on Development
é o resultado de vinte e cinco anos de dedi- Communication.
z83
Jonathan Gunter e James Theroux
renças individuais e consagrem muito tempo mãos depois de ir à casa de banho, antes de
aos seus auditórios relativamente «cativos», comer ou antes de preparar os alimentos;
as relações dos publicitários e dos seus audi- para desenvolver a utilização de sabão na
tórios são completamente diferentes. Os publi- lavagem das mãos; para aumentar o número
citários t o m a m c o m o base as necessidades das de pessoas que compreendem que lavar as
massas e as estereotipias culturais. mãos pode matar os parasitas e contribuir
O s publicitários empregam o método de para que se evitem doenças.
«alcance e frequência» que consiste e m intro- Mensagem sobre o sal iodado. Para que se
duzir repetidamente a m e s m a mensagem compre mais sal iodado; para aumentar o
curta nos intervalos dos programas recreativos número de pessoas que compreendem a causa
muito populares junto do auditório que pre- do bócio; para aumentar o número de pes-
tendem atingir. N o Equador, repetiram-se soas que sabem que o sal iodado se vende e m
spots sobre a nutrição dez a quinze vezes por pacotes que permitem distingui-lo do outro
dia durante mais de u m ano e m duas esta- sal; para aumentar o número de pessoas que
ções populares de radiodifusão de duas pro- compreendem que o bócio é u m a doença grave.
víncias. Cada objectivo e a mensagem correspon-
Cada u m destes spots, c o m a duração de dente constituíam o resultado de u m processo
u m minuto, referia-se a u m problema parti- minuciosamente elaborado. Peritos e m maté-
cular de nutrição, para o qual propunha u m a ria de higiene e de nutrição foram consultados
solução realista e económica. Concebida sob sobre os problemas a que se devia conceder
a forma de diálogo, cada mensagem pretendia prioridade. Seleccionaram-se as soluções reco-
atingir objectivos muito específicos: mendadas para obter a certeza de que basta-
Mensagem sobre a malnutrição por falta de ria difundir mensagens de informação e de
proteínas e calorias. Para provocar o maior motivação para que pudessem ser adoptadas
consumo de leguminosas e outros alimentos pelos auditórios desejados. C o m efeito, n u m
que constituem u m a fonte económica de dos países, os peritos, utilizando esta técnica,
proteínas; para que o papel das proteínas tinham recomendado que as populações con-
no corpo h u m a n o se torne mais conhecido. sumissem mais fígado. N o entanto, verificou-
Mensagem sobre o abandono prematuro do -se que esta carne era excessivamente cara e
aleitamento materno. Para favorecer o alei- difícil de encontrar. A solução foi, então,
tamento materno e m relação ao aleitamento considerada inaceitável para ser objecto de
artificial entre a população de fracos recursos; publicidade.
para que se reconheça a superioridade inegá- U m a vez escolhido u m pequeno número
vel do leite materno sobre os outros leites; de temas apropriados, as mensagens foram
para que as mães saibam c o m o preparar outras redigidas, repartidas entre os peritos para
espécies de leite. serem comentadas e, e m seguida, produzidas
Mensagem sobre a água insalubre. Para sob forma provisória. Foram, então, subme-
inculcar o hábito de ferver a água destinada tidas a ensaios preliminares, ouvidas por 100
ao consumo familiar; para que as pessoas ou 200 famílias que faziam parte dos grupos
compreendam que beber água não fervida apontados, examinando-se a sua eficácia
expõe à contracção de doenças; para que mais através da credibilidade e atracção do audi-
famílias t o m e m consciência de que a água tório.
para beber está contaminada ou impura; Depois de modificadas, atendendo às indi-
para aumentar o número de famílias que cações fornecidas pelos ensaios preliminares,
tapam o recipiente que contém água para as mensagens foram gravadas, divulgadas atra-
beber. vés de discos e distribuídas pelas estações
Mensagem sobre os parasitas, as diarreias radiofónicas participantes. Elaborou-se u m
e outras perturbações intestinais. Para que os horário de emissões correspondendo aos hábi-
adultos e as crianças lavem mais vezes as tos de escuta do auditório e m causa. D e
284
Desenvolver auditórios de massa para a rádio educativa : duas abordagens
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Jonathan Gunter e James Theroux
o consumo de sal iodado por meio dos n ú m e - indeterminação que encontramos e m todos os
ros de venda e procurando ver quai dos dois governos.
produtos é utilizado e m casa das familias
interrogadas. INCIDÊNCIAS
Foi recomendada outra técnica de verifica-
ção, m a s não pôde ser aplicada. A s investi- N ã o obstante estas dificuldades, não gostaría-
gações e m matéria da publicidade comercial m o s de deixar o leitor c o m a impressão de que
mostraram que as pessoas que hesitam e m a publicidade só é eficaz nas situações e m
falar francamente do seu próprio comporta- que se apresenta a alternativa «marca X -
mento são facilmente tentadas a falar do dos - marca Y » . Muitas foram as lições tiradas da
vizinhos. E , ao responderem «de ricochete», experiência equatoriana inicial que permiti-
descrevem muitas vezes, afinal o seu compor- ram melhorar os métodos e os resultados,
tamento. A s autoridades do Equador esti- agora comunicados, relativos a outros pro-
m a r a m que este método não era compatível jectos. E m dois países, por exemplo, decidiu-se
c o m a cultura do seu país e não autorizou o que, nos domínios e m que as questões de prin-
seu emprego. cípio apresentem ambiguidades, se renunciará
Outro factor que limita a modificação do às mensagens estabelecidas se não se obtiver
comportamento pode ser considerado ligado u m consenso sobre estas questões. Prevêem-se
a questões de princípio. Quando u m a mensa- para projectos ulteriores u m a formação mais
gem é patrocinada por u m a instituição nacio- desenvolvida dos inquiridores e o melhora-
nal e difundida e m duas províncias, deve mento dos métodos de avaliação dos resul-
estar e m perfeita conformidade c o m a polí- tados.
tica nacional. Para ter u m impacto profundo, Além disso, os primeiros resultados rela-
as mensagens devem ser claras, simples e tivos a outros países mostraram já o sucesso
directas, o que supõe a existência de u m obtido e m tentativas mais ambiciosas efec-
consenso sobre questões de princípio c o m - tuadas para provocar modificações de c o m -
plexas, o que n e m sempre acontece. portamento. N a Nicarágua, anúncios difun-
didos e m todo o país levaram as mães de
Assim, a mensagem mais eficaz respeitante lactentes sofrendo de diarreia a preparar e
ao aleitamento materno deveria afirmar que administrar, e m casa, grandes quantidades de
o leite da m ã e constitui, só por si, a alimen- líquidos, ideia que não lhes tinha surgido.
tação ideal do lactente. Alguns peritos tinham Aprenderam através da rádio a confeccionar
esta opinião; outros, e m especial os do Insti- a bebida receitada e retiveram a receita. Neste
tuto Nacional de Nutrição do Equador, con- caso, os especialistas da nutrição da Nicará-
sideravam que o aleitamento materno deve- gua tinham concordado e m reconhecer que
ria ser obrigatoriamente associado a u m a era este o remédio apropriado contra a
alimentação sólida. A mensagem difundida foi desidratação. Além disso, tinham sido reco-
u m compromisso entre estas duas opiniões lhidas informações quanto ao preço dos
divergentes. ingredientes necessários à sua preparação e
A mensagem mais eficaz quanto à necessi- quanto à possibilidade de os obter. Estas
dade de ferver a água para beber deveria afir- mensagens deveriam ter por efeito u m a dimi-
mar que toda a água para beber teria de ser nuição da taxa de mortalidade infantil.
fervida. É essa, de facto, a opinião de certos Atendendo a que, na Nicarágua, u m óbito
peritos. N o entanto, outros peritos consideram e m cinco se deve à diarreia infantil, esta curta
que, e m vastas regiões do país, não existe mensagem deveria contribuir poderosamente
nenhum risco e m beber água não previamente para melhorar a situação sanitária deste país.
fervida. Assim, mais u m a vez, o impacto da Parecia possível, então, atingir, através da
mensagem difundida foi reduzido devido a publicidade, objectivos mais ambiciosos do
u m a questão de princípio marcada por u m a que a adopção generalizada do sal iodado
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mais ansiada era de que a expressão popular dades o ouviriam — e talvez c o m mais inte-
poderia ajudar a definir os objectivos da c o m u - resse do que o até então testemunhado pelas
nicação e aprofundá-los. Assim, os conceitos emissões consagradas ao desenvolvimento
tradicionais de «informador» e de «auditor» comunitário.
característicos dos mass media deveriam nor- U m estudo efectuado e m 1971 (Vega) para
malmente desaparecer. O s autores do projecto os serviços de Assistência Católica do Equa-
pensavam que programas que cedessem a pala- dor, O X F A M e A I D tinha revelado que,
vra aos camponeses poderiam produzir neles apesar de toda a importância atribuída ao
u m duplo efeito: maior consciência do seu desenvolvimento comunitário pela estação
próprio valor; melhor conhecimento do desen- de rádio, os programas tinham u m impacto
volvimento comunitário. sobre os auditores pouco significativo. Espe-
rava-se que a utilização dos gravadores de
OS OBJECTIVOS cassettes aumentasse este impacto, reunindo
a opinião das populações das numerosas
U m relatório anterior da Agency for Inter- pequenas comunidades abrangidas por Radio
national Development (AID) (Astle, 1969), Mensaje.
descrevendo u m programa escolar radiofó-
nico nas Honduras, atribuía u m a grande parte PRODUÇÃO
do seu sucesso ao sentimento expresso pelos
participantes de «fazer parte de u m grupo Fornecem-se bandas magnéticas virgens aos
despertando para u m a nova vida». Este «sen- auxiliares, que se encarregam de as enviar à
tido do grupo» é tão importante c o m o o sen- estação de Tabacundo quando tiverem rea-
timento experimentado pelo indivíduo que lizado u m a gravação que desejam ver utilizada
acaba de ser b e m sucedido n u m empreendi- por Mensaje Campesino. Todas as bandas
mento e cujas aptidões inutilizadas são salien- recebidas pela estação são escutadas pelo
tadas por ter aprendido a 1er. Observou-se o padre Barriga ou pelo seu assistente. Para
m e s m o fenómeno e m outras pessoas das montar e compor o programa semanal de
Honduras, como foi transmitido pelos moni- meia hora utilizam-se dois gravadores de
tores e auxiliares reunidos e m sessões de for- cassettes. A cassette e m que a emissão foi
mação e encontros mensais. O relatório ligava gravada é conservada e são enviadas novas
estreitamente estes factores ao desenvolvi- cassettes para as comunidades.
mento «da confiança, do interesse e da cons- O programa tem aumentado desde o iní-
ciência de grupo». cio do projecto. Inicialmente, diñmdia-se a
A equipa Universidade de Massachusetts- m e s m a emissão de meia hora aos Sábados e
-Tabacundo partiu do princípio de que u m Domingos. A o fim de dois meses o padre Bar-
«sentido do grupo» mais agudo aumenta no riga decidiu produzir programas diferentes
h o m e m a confiança e m si. Favorecendo o para os dois dias. Depois, após a reunião
desenvolvimento combinado dos conhecimen- acima mencionada, dos auxiliares, a estação
tos e o seu reforço através da comunicação começou a radiodifundir a emissão do
entre aldeias, os responsáveis pelo projecto Domingo à Segunda Feira à tarde, precisa-
consideravam possível que se desenvolvesse mente antes do curso de primeiro ciclo da
a confiança e m si e u m sentimento de efi- escola radiofónica.
cácia. Durante a sua formação, os auxiliares exa-
Podia prever-se sem grandes riscos de erro minaram as diferentes maneiras de utilizar
u m progresso dos conhecimentos relativos os gravadores. O pessoal do projecto não
ao desenvolvimento das comunidades. Pare- recomendou n e m impôs nenhuma utilização
cia provável que se Mensaje Campesino trans- particular. Quanto ao padre Barriga, asse-
mitisse u m projecto de desenvolvimento n u m a gurou que a estação se interessaria por tudo
determinada comunidade, outras comuni- o que se produzisse.
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Tendencias e casos
Os livros constituem frequentemente o fulcro dir t a m b é m da sorte dos autores e dos seus
da actividade e da comunicação intelectuais. manuscritos quando efectuam u m a opção na
Veiculam o saber de país para país e n o inte- massa dos manuscritos que lhes são subme-
rior dos próprios países. tidos. Q u e controle p o d e m realmente exercer
Juntamente c o m outros suportes são os os editores sobre os manuscritos e e m que
captores e os vectores dos conhecimentos, da fundamentam as suas opções? E m particular,
cultura, da informação e dos divertimentos e m que é que diferem os resultados quando
da sociedade. Apesar dos livros se contarem se trata de u m a edição transnacional, local
entre os mais antigos media, a edição é a ou nacional? E m que é que a actividade
menos estudada das indústrias da comuni- intelectual e as estruturas das sociedades são
cação. Nunca suscitou o m e s m o interesse que afectadas pelos editores c o m o agentes do
outros media mais recentes c o m o a radio- saber?
difusão e a imprensa. N a maior parte dos paí- N e n h u m a categoria particular de livro
ses, a profissão encontra-se submersa sob u m a exerce u m a influência exclusiva sobre o
espantosa mistura de folclore e mística sobre desenvolvimento dos conhecimentos. A clas-
a qual só se levanta o véu através de memórias sificação dos livros por categorias intelectuais
dos editores e da história das casas editoras. e culturais é u m a distinção cultural que
Contudo, a influência exercida pelos livros é depende da maneira c o m o u m a sociedade
u m facto reconhecido. Eles alimentaram reli- entende a arte e a cultura. N o entanto, o
giões, inspiraram revoluções; ensinaram, des- presente estudo refere-se mais especialmente
truíram, guiaram, animaram e influenciaram à edição de obras diferentes dos romances e,
a vida dos homens das mais diferentes m a - nesta categoria, aos sectores, da edição, espe-
neiras. cializados na publicação de obras conside-
Escritores, editores, educadores, bibliote- radas especializadas, eruditas, universitárias,
cários e livreiros decidem dos livros que o
público pode 1er. O s editores parecem deci-
1. Este estudo foi primeiramente efectuado, e m Abril
de 1976, n o Institute of Development Studies da
Universidade de Sussex, para a Divisão das
Keith B . Smith (Reino Unido) é editor e consultor ciências sociais aplicadas da U N E S C O . Foi
junto da Inter-Action, cooperativa londrina de meios apresentado n u m a reunião de peritos sobre o
de informação, e director de Third World publications estudo da influência das sociedades transnacionais
de Birmingham. Foi professor no Quénia, director das sobre o desenvolvimento e as relações interna-
exportações das edições William Collins, e efectuou cionais nos domínios da competência da U N E S C O ,
investigações sobre os aspectos internacionais da edição que se realizou e m Paris, e m Junho de 1976.
no Institute of Development Studies da Universidade de Foi revisto na Inter-Action, e m N o v e m b r o de 1976,
Sussex. para Perspectivas.
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Tendências e casos
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Tendencias e casos
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Tendências e casos
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Tendências e casos
nos anos sessenta. Estas tendências pedagó- transferência que resulta de u m contrato inter-
gicas foram transmitidas ao ensino africano nacional directo entre os educadores ou do
pelas vias especializadas graças ao auxílio texto escrito pelos autores. A s transferências
oficial e às adaptações dos editores. O pro- da metrópole para a periferia, e m matéria de
blema de saber se esta influência moderniza- educação, consistiram também, c o m o vimos,
dora que se exerce sobre o ensino africano n u m a transposição para as colónias dos sis-
favorece o desenvolvimento dos alunos é temas de ensino metropolitanos. O s livros
controversa. D o ponto de vista do editor, que seguiram esta transposição constituíram
depende principalmente do grau de adaptação, importantes instrumentos de transferência
A s alterações introduzidas nos manuais de m a - cultural. Durante decénios, os alunos afri-
temática para incorporar o ambiente local canos e asiáticos aprenderam a história, a
dos alunos são insuficientes, se não tiverem geografia e as instituições do Ocidente e as
e m conta certos factores c o m o as variações ciências naturais da zona temperada. Este
culturais da percepção, as atitudes culturais saber constituiu u m a grande parte da baga-
perante a abstracção, as classificações e as g e m intelectual da intelligentsia transnacio-
medidas e u m relativo hábito destas noções. nal da maior parte dos países e m desenvolvi-
O grau de adaptação dos principais ele- mento. C o m a constituição de comissões de
mentos de programa depende, e m grande exame locais e a importância concedida às
parte, da importância do mercado potencial culturas nacionais nos programas escolares,
e da equipa encarregada da adaptação, que é os manuais metropolitanos eram acolhidos
habitualmente u m grupo oficial ou nomeado c o m mais dificuldade e as editoras transna-
pelo ministério. Foi assim que o programa cionais foram obrigadas a responder às exi-
de matemática editado na origem pela C a m - gências locais ou às directivas dos ministérios
bridge University Press para as escolas do da educação. N o s países e m que as taxas de
Reino Unido foi parcialmente adaptado para escolarização são fracas, estes não têm a
o Botswana, o Lesotho e a Suazilândia, m a s m e s m a influência sobre as sociedades de edi-
mais profundamente remodelado para o mer- ção transnacionais e p o d e m eventualmente
cado da África Oriental, que é mais impor- decidir que a reforma dos programas é impos-
tante. Esta actividade de adaptação apre- sível se os novos manuais não forem publi-
senta três novos aspectos. O s dois primeiros cados por edições do Estado.
mostram que este comércio, apesar de rentá- A o nível do ensino superior, os países e m
vel para os editores metropolitanos, não está desenvolvimento têm pouca influência sobre
inteiramente limitado a u m circuito intra- a edição transnacional, excepto quando este
-transnacional : e m primeiro lugar, muitos sector do ensino é importante, c o m o sucede
pedidos de adaptação são oficiais; e m segundo na índia. C o m excepção dos manuais de base,
lugar, alguns dos editores iniciais, c o m o Blac- o mercado oferecido pelos países e m desen-
kie e Chambers ou John Murray, apesar de volvimento é habitualmente demasiado res-
britânicos, não são firmas transnacionais e trito para poder exercer u m a grande influência
alguns dos editores que publicam as adapta- sobre o programa de publicação dos editores
ções pertencem a sociedades quase indígenas, transnacionais.
c o m o a East African Publishing House. A ideologia de base dos editores transna-
O terceiro novo factor é u m pequeno movi- cionais, c o m o a de todas as empresas capita-
mento de manuais adaptados de geografia listas, baseia-se n o lucro. É evidente que as
e de ecologia para as metrópoles e entre os sociedades comerciais publicam algumas colec-
mercados do terceiro m u n d o . ções e alguns títulos de que não esperam bene-
A transferência de novos métodos pedagó- fícios, m a s que se destinam a levar a sua
gicos raramente se deve à iniciativa dos edi- imagem de qualidade. Além disso, o que é
tores escolares transnacionais. N a maior parte ainda mais interessante, alguns grupos de
das vezes, estes asseguram a base material da editores metropolitanos estão animados de
297
vn-io
Tendencias e casos
u m ideal profissional que atenua a sua procura interesses dos leitores do seu país. Pode atri-
do lucro; é o que sucede sobretudo c o m os buir-se u m certo poder àsfiliaism a s , neste
editores universitários ingleses e americanos: caso, trata-se unicamente d o poder de infor-
c o m excepção parcial dos manuais escolares, mar a direcção central do potencial de venda
a edição caracteriza-se por u m mercado muito oferecido pelos leitores e institutos locais.
incerto e u m a proporção elevada de novidades. O que equivale principalmente a interpretar
Assim, é difícil avaliar o potencial de vendas os gostos de u m a intelligentsia local, m a s
de u m manuscrito e é mais fácil justificar transnacional e «metropolitanizada». Assim,
outros critérios de selecção c o m o o valor m e s m o quando os editores transnacionais
intelectual ou literário. A natureza e a apli- publicam manuscritos redigidos por autores
cação destes critérios serão determinadas por dos países e m desenvolvimento, o processo
factores c o m o a estrutura e a tradição da de selecção e, por conseguinte, as listas dos
sociedade, a imagem que o editor tem de si editores têm tendência para reforçar a depen-
próprio e o grupo a que se refere, e pela m e - dência do país e m desenvolvimento e m rela-
dida e m que concebe o seu papel c o m o essen- ção aos países metropolitanos.
cialmente normativo ou essencialmente inter- Esta dependência não seria tão grande se os
pretativo.
leitores dos países e m desenvolvimento fos-
A s editoras transnacionais delegam mais sem mais numerosos e mais diversos. O s edi-
ou menos poder nas suasfiliais.A sua ideo- tores metropolitanos não têm o objectivo de
logia, tal c o m o se manifesta por intermédio alargar os seus mercados através do financia-
das suas estruturas diferentes, determina a mento dos programas de alfabetização a
natureza da sua influência sobre o saber. longo termo ou das bibliotecas rurais. A sua
A s maiores editoras transnacionais designam principal preocupação além da procura do
u m director local que goza de grande auto- lucro, consiste mais e m procurar manuscritos
nomia no que respeita à publicação de manuais de qualidade do que e m aumentar o número
escolares e de obras nas línguas locais, m a s dos leitores. É geralmente o Estado que se
que deve endereçar à direcção central os encarrega de abranger u m público mais amplo,
manuscritos, literários ou não, escritos e m por intermédio das bibliotecas e, por vezes,
línguas de difusão internacional. Nesses casos,
dos gabinetes de publicações que editam m a -
o poder aparente do director local é muito
nuscritos sem qualquer interesse comercial.
superior à sua influência real, pois os manuais
Apesar desta acção do Estado, é provável
estão mais intimamente ligados do que qual-
que a estrutura dominante da distribuição
quer outra categoria de livros às condições
dos livros conduza à separação dos leitores
perceptíveis do mercado. N o s países e m desen-
volvimento, os manuais acompanham geral- por u m fosso ainda mais profundo do que o
mente de perto os programas escolares e as que divide os utentes dos meios de informação.
grandes sociedades transnacionais que os Por outras palavras, à medida que a indústria
editam são as menos dispostas a renunciar ao do livro se desenvolve, alguns sectores da
lucro. população c o m u m estatuto socioeconómico
superior tendem a adquirir conhecimentos
Existem, n o entanto, manuscritos que c o m u m ritmo mais rápido do que os que pos-
dependem menos intimamente das condições
suem u m estatuto inferior, de tal m o d o que a
do mercado local e que dão ao editor que
diferença entre os saberes tende a aumentar
decide da sorte do manuscrito u m a maior
e m vez de diminuir.
liberdade de julgamento. É o caso dos livros
para adultos, documentais, literários ou uni- Assim, apesar dos princípios pluralistas
versitários escritos e m línguas de difusão dos editores transnacionais, as principais
internacional. M a s o poder de decisão per- influências que determinam a repartição do
tence sobretudo aos editores metropolitanos saber, c o m excepção dos manuais escolares,
que conhecem perfeitamente os gostos e os são as decisões tomadas pelos editores metro-
298
Tendências e casos
politanos e o mercado internacional domi- mente nacional não teria tido possibilidade de
nado pela metrópole. o fazer. O que talvez seja largamente provei-
É interessante notar, de passagem, que toso, sobretudo quando se trata de disciplinas
manuscritos que criticam e contestam poli- mais exportáveis, tais c o m o a ciência o u a
ticamente certos países e m desenvolvimento tecnologia, e m que, por exemplo, u m livro
encontram, por vezes, u m editor metropoli- tratando de certos aspectos da silvicultura
tano, enquanto nenhum editor local ou ver- tropical pode tornar-se rentável atingindo
dadeiramente transnacional os poderia pu- u m mercado tropical e m vez de u m mercado
blicar. unicamente nacional. Este alcance internacio-
nal é mais importante para países muito peque-
nos. Assume igualmente u m a importância
Influência sobre os autores crescente n o mercado universitário, onde o
aumento do número de bolsas de estudo deu
A actividade dos editores de livros actua não origem a u m a maior especialização e a u m a
só sobre o consumo intelectual c o m o também certa incidência dos mercados sobre as publi-
sobre a produção. Esta influência faz-se sen- cações altamente especializadas a que estas
tir nas relações entre escritores e casas edi- bolsas exigem o acesso. Poder-se-ia tirar o
toras. m e s m o partido da extensão d o saber se os
Apesar das recentes fusões entre empresas editores dos países e m desenvolvimento tives-
metropolitanas de edição, a indústria do livro sem acesso a u m mercado mundial, o que
tem u m a ideologia essencialmente pluralista. não acontece. Muitas vezes n e m sequer atin-
M e s m o quando fazem parte de u m grupo, gem o mercado d o seu próprio continente,
as sociedades conservam frequentemente u m a apesar de algumas novas empresas c o m boas
relativa independência. O s editores transna- promessas de futuro estarem à altura de
cionais exportaram esta atitude para os países aumentar a sua clientela.
e m desenvolvimento e m que a extensão do É nos domínios mais estritamente culturais,
monopólio de Estado sobre a edição causa c o m o as ciências sociais, a literatura, os livros
as maiores apreensões. São por vezes estas destinados ao grande público e às crianças
apreensões que, entre outros factores, levam as que a edição transnacional deforma a pro-
sociedades transnacionais a facilitar o desen- dução intelectual. Muitos autores, principal-
volvimento de u m a indústria local do livro mente os universitários, possuem duas moti-
perante as edições do Estado. O pluralismo vações : o desejo de comunicar e o de adquirir
oferece aos autores u m a gama mais vasta de prestigio ou ganhar dinheiro. Quando os edi-
possibilidades do que nos países e m que a tores da metrópole recebem os seus manus-
edição está mais centralizada. M a s a escolha critos, transmitem-nos habitualmente a u m
dos títulos publicados não é apenas fruto de leitor, afimde colherem u m a opinião sobre
u m a atitude pluralista, é também determinada o seu valor. Infelizmente, não foi feito n e n h u m
pela maneira como os editores interpretam estudo sobre a interacção entre os editores e
o mercado e pela sua ideologia dominante. os conselheiros, mas é provável que a decisão
C o m o vimos, quando u m autor submete de publicar ou não publicar u m manuscrito
u m manuscrito a u m a casa editora transna- seja tomada tendo e m conta a opinião da
cional, este manuscrito é julgado e m função metrópole, os gostos internacionais e a posi-
de u m mercado internacional, excepto quando ção do autor na élite transnacional. É , por-
se trata de u m manual escolar, de u m manual tanto, u m a autoridade da metrópole, o u
de base, ou de u m a obra redigida n u m a língua orientada para a metrópole, que, por inter-
local. O s editores transnacionais c o m acesso médio dos editores transnacionais,filtrao
a muitos mercados no m u n d o podem, muitas saber à sua entrada nos países e m desenvolvi-
vezes, aceitar u m manuscrito e publicá-lo c o m mento. É neste sentido que u m trabalho pode
fins comerciais, enquanto u m editor pura- adquirir, ou não, legitimidade, pois é muito
z
99
Tendencias e casos
raro que ideias não publicadas adquiram concedido. Simultaneamente, devido a este
autoridade. E m certos sistemas de ensino, subsídio, os livros do editor transnacional
a promoção dos autores universitários depende vendem-se mais baratos do que os livros locais
também dos editores. A necessidade de satisfa- equivalentes dos quais alguns não p o d e m ,
zer os que detêm esta autoridade influencia portanto, ser publicados. O que desanima os
certamente os autores dos países e m desen- autores locais, não significando, porém, que
volvimento. Muitos serão aqueles que escre- o auxílio a favor d o livro seja afinal, preju-
v e m indo ao encontro do que pensam cons- dicial, embora exija u m a avaliação mais reflec-
tituir o desejo da rede transnacional orientada tida.
para a metrópole. E m certas regiões e m que,
para certas categorias de livros, c o m o as
publicações universitárias das Antilhas, o
público é particularmente limitado, os auto- Editores
res devem quase inevitavelmente apontar nacionais e locais
para u m público internacional. nos países e m desenvolvimento
E m certos países e m desenvolvimento, os
autores devem optar entre duas categorias de O s editores transnacionais exercem igual-
editores locais, os editores comerciais e os mente u m a influência indirecta sobre o saber
outros. Excluindo a índia, as edições uni- devido à sua influência sobre a edição nacio-
versitárias comerciais são raras. O número nal nos países e m desenvolvimento. Para
das editoras universitárias subsidiadas tem estudar este fenómeno, devemos, e m primeiro
aumentado na Ásia e na África Ocidental, lugar, estabelecer u m a distinção entre as
m a s o número de obras publicadas é ainda diferentes categorias de editores nacionais.
limitado. E m geral, é menos prestigioso ser A s estruturas da edição local e nacional
publicado por estes editores locais do que por nos países e m desenvolvimento são a resul-
editores transnacionais. Alguns escritores afri- tante de factores muito diversos: grau de
canos apreciados reagem actualmente contra alfabetização e de instrução, política dos
a predominância das casas editoras trans- governos e m matéria de edição de Estado no
nacionais confiando aos editores locais alguns domínio da educação, desenvolvimento dos
dos seus manuscritos. Esta atitude insere-se serviço de biblioteca e do poder de compra,
n u m pequeno movimento de protesto a que disponibilidade dos diversos elementos da
já aludi. infra-estrutura dos manuscritos e m relação
Assim, por u m lado, o acesso ao mercado às livrarias, passando pelas tipografias, acesso
internacional assegura aos editores transna- ao capital e à arte, atitude do governo perante
cionais a rentabilidade de u m certo número os editores capitalistas, os editores estrangei-
de títulos e, por outro lado, a orientação ros e os editores de Estado, poder e influência
metropolitana do editor transnacional con- dos editores nacionais e locais. É neste con-
jugate c o m o transnacionalismo do país e m texto que surgem duas grandes categorias de
desenvolvimento, para impedir a legitimação casas editoras nos países e m desenvolvimento :
da produção intelectual desse país. as edições comerciais e as edições não comer-
Algumas formas de ajuda a favor do livro ciais. A s organizações não comerciais são
prejudicam a produção de escritos locais; habitualmente organizações de Estado que
é o que sucede, e m particular, c o m as medidas publicam manuais, o u empresas de edição
graças às quais os editores transnacionais universitárias subsidiadas por universidades
obtêm subsídios para as suas publicações. ou institutos. O s editores de Estado benefi-
Estas medidas originam u m a diminuição do ciam quase sempre de u m monopólio sobre
preço de venda e proporcionam aos compra- os manuais do ensino primário. Situam-se
dores a possibilidade de adquirir u m livro habitualmente entre u m a instituição que
que não teriam podido obter sem o subsídio reflecte a ideologia política nacional, c o m o o
300
Tendências e casos
301
Tendências e casos
mais intelectuais sejam publicadas por casas embora menos caros, não possuíam u m a apa-
editoras transnacionais e as raras obras de rência tão atraente c o m o os livros publicados
fundo publicadas pelos editores locais são, pelos editores transnacionais. E m outros
geralmente, desacreditadas. E m muitos países casos, os editores dos países e m desenvolvi-
e m desenvolvimento onde assim acontece, mento parecem sofrer de u m a dependência
o desequilíbrio é, pelo menos parcialmente, psicológica que os leva a querer atingir as
restabelecido pela actividade de editores normas dos editores metropolitanos sem ter
locais subsidiados, tais c o m o as imprensas e m conta as condições locais. Esta atitude
universitárias. Ultimamente, os editores trans- origina sempre u m aumento d o preço dos
nacionais começaram a publicar livros de livros e restringe, portanto, a difusão do seu
preparação e romances de diversão, m a s nada conteúdo.
permite ainda dizer se esta atitude reduzirá
a cisão existente ou se porá e m perigo o
principal mercado dos editores locais.
A s três principais influências
U m a das vantagens históricas dos editores
transnacionais metropolitanos consiste e m exercidas pela edição
terem a sua sede no centro de redes de c o m u - transnacional
nicação e de transporte da África e da Ásia.
O s editores dos países e m desenvolvimento O que sobressai mais nitidamente do que
estão instalados na periferia e esta estrutura acabamos de dizer é o alcance internacional
radical tem influência sobre o envio de livros que os editores transnacionais dão ao saber
e documentação de u m ponto para outro. e à difusão do saber, dos conhecimentos, das
A s comunicações intelectuais entre países e m ideias, do trabalho de criação, etc., entre os
desenvolvimento, e m vez de se fazerem direc- que d o m i n a m as línguas de difusão interna-
tamente, passam geralmente pelos centros cional e ocasionalmente entre os leitores que
metropolitanos. Esta situação é menos nítida utilizam línguas locais. A sua acção tem reper-
na Ásia Oriental onde os livros circulam entre cussões internacionais e reforça a compreen-
países c o m o H o n g - K o n g , Singapura e Malásia. são e a apreciação intelectuais entre nações.
T a m b é m é menos nítida na América do Sul Esta transferência não se faz e m sentido único
e na América Central onde os livros publica- u m a vez que os editores transnacionais acei-
dos na Argentina ou no México se vendem tam os manuscritos de autores de países e m
e m outros pontos do continente. desenvolvimento e lançam-nos n o mercado
Entre os editores mais intelectuais da África internacional. Deste ponto de vista, o inter-
e da América Latina, nota-se u m a tendência nacionalismo dos editores transnacionais é
para querer igualar o estilo e as normas das tão positivo para o público c o m o para os
metrópoles e m matéria de produção e de escritores.
apresentação dos livros. Assim, ocupam-se Salientei ainda u m a característica menos
tanto da qualidade do papel c o m o da enca- reconhecida da edição transnacional e que
dernação e das ilustrações. Atenua-se a dis- resulta não tanto d o seu internacionalismo
tinção entre os elementos funcionais de apre- c o m o da sua base metropolitana. Quase todos
sentação (legibilidade, solidez) e a apresentação os editores transnacionais têm a sua sede nos
luxuosa, a qualidade superior do papel e países metropolitanos o u no país que domina
as capas coloridas. Alguns editores locais a região. T ê m , assim, u m a orientação metro-
sentem-se obrigados a caminhar neste sentido, politana que, associada a outros factores,
u m a vez que o gosto evoluiu devido à fami- v e m reforçar a dependência intelectual dos
liarização dos compradores c o m os m o d o s países e m desenvolvimento. Esta síndrome
de apresentação metropolitana. Estes edito- é o resultado da maneira c o m o se constitui
res citam casos e m que o pessoal dos minis- o saber e é o produto da história colonial;
térios da educação recusou livros porque, actualmente, é reforçado por elementos do
302
Tendencias e casos
303
Notas e comunicações
Revista de publicações
O principio de base da pedagogia reside na adaptação de ultrapassar o modelo monolítico constituído pela
dos métodos de ensino aos alunos. N u m a escola pri- utilização de u m a língua oficial única. O número de
mária c o m u m não se ensina a alunos de oito anos o Perspectivas dedicado, e m 1976, à educação bilingue
cálculo diferencial ou as equações químicas relativas e multilingue constitui u m testemunho do interesse
ao cracking dos hidrocarburetos. M e s m o quando suscitado e m larga escala pelo problema da escolari-
u m indivíduo ultrapassa largamente as capacidades zação e m língua materna — o que poderia ser consi-
da maioria dos alunos, é totalmente inútil tentar ensi- derado u m ponto de partida para a elaboração de
nar-lhas. N o entanto, os sistemas de educação de mui- novos programas, e m vez de u m a «inovação metodo-
tos países baseiam-se, pelo menos e m parte, na violação lógica».
destes princípios elementares: ensina-se n u m a língua Entre a variedade de publicações que descrevem
que, pelo menos u m a parte dos alunos — e, e m cer- as tentativas de diversas nações no sentido de enfren-
tos regimes coloniais ou neocolonialistas, a quase tar o problema da educação e m língua materna, foram
totalidade dos alunos— compreendem c o m dificul- seleccionadas quatro como representativas dos dife-
dade. Por motivos de ordem histórica, ideológica e rentes tipos de estudo sobre o assunto. Estas publica-
«prática», a maior parte dos sistemas de educação ções têm e m c o m u m u m a preocupação explícita:
assentam na utilização de u m a língua oficial, pelo como utilizar as línguas maternas no processo de edu-
menos no interior de determinadas zonas geográ- cação? Implicitamente, elas estão ligadas por u m
ficas; por vezes, coexistem duas línguas oficiais no m e s m o fenómeno subjacente de carácter sociopolítico:
m e s m o território; raramente serão mais do que duas. a l''ngua dominante no ensino está ligada, na maior
A s consequências deste estado de coisas no plano edu- parte das vezes, a u m sistema de dominação social e
cativo são geralmente desastrosas para maioria das económica e m que as diferenças de línguas designam
crianças (e dos adultos), obrigados a estudar n u m a u m ou mais grupos como dependentes. A pedagogia
língua diferente da língua materna 1 . e a política estão intimamente relacionadas.
Durante os últimos anos muitas nações tomaram
consciência, de m o d o espectacular, da possibilidade 1. Ver, mais adiante, u m a excepção importante.
304
Notas e comunicações
Enseignement et langue maternelle en Afrique occiden- geral, de alto nível, embora u m a certa desigualdade
tale é u m a colectânea de ensaios redigidos por educa- possa ser atribuída a diferenças das condições locais
dores da África ocidental (Serra Leoa, Benim, G a n a e ou à experiência dos colaboradores: enquanto u m
Nigéria). Fornece-nos u m resumo dos esforços desti- autor se estende exageradamente sobre u m projecto
nados a resolver os problemas relativos à língua nos piloto relativo ao emprego de u m a única língua afri-
países cujas fronteiras foram determinadas no século cana, n u m a só escola, outro, n u m estudo dedicado
passado pelos interesses das potências coloniais da ao projecto «Livros de leitura» do Estado des Rivières
Europa Ocidental, e não pelas afinidades étnicas ou na Nigéria, aborda c o m coerência e e m menos páginas
linguísticas dos povos interessados. E m comparação u m vasto programa incluindo a elaboração de livros
c o m muitas outras partes do m u n d o , a diversidade de leitura para as primeiras classes e m quinze línguas,
linguística desta região é absolutamente surpreendente. acompanhados de guias para os professores e de u m a
A Serra Leoa, c o m u m a população de pouco menos documentação sobre os sistemas de ortografia utili-
de quatro milhões de habitantes, possui pelo menos zados.
18 línguas reconhecidas, das quais algumas apresen- O aspecto mais estimulante das actividades des-
tam, além disso, importantes diferenças dialécticas; critas é talvez o desenvolvimento rápido do estudo cien-
no capítulo sobre o Gana, afirma-se que «nunca nin- tífico das línguas africanas. O s autores contribuem
guém soube quantas línguas se falam no território c o m u m a documentação bastante pormenorizada
do país» (p. 76). Graças a u m resumo histórico do sobre os trabalhos desenvolvidos pelos linguistas para
ensino das línguas maternas na África Ocidental e a dotar de u m a ortografia as numerosas línguas que,
u m a excelente introdução sobre a evolução das polí- até agora, nunca foram escritas. Existe algo de cati-
ticas desenvolvidas pelos Estados contemporâneos, vante na obra imensa que constitui a passagem para-
o leitor está à altura de compreender o aparecimento lela de dezenas de culturas do m u n d o da tradição
progressivo de políticas nas quais o inglês e o fran- oral para a luz crua e analítica do alfabetismo. Este
cês — que são actualmente as principais línguas uti- movimento, iniciado e m diversos pontos durante o
lizadas no ensino (em particular aos níveis secundários último século, principalmente pelos missionários cris-
e superior) — começam, nas escolas primárias, a dar tãos, foi rapidamente acelerado c o m o desenvolvi-
lugar às línguas africanas. A evolução para o emprego mento das técnicas linguísticas modernas. O estudo já
das línguas maternas dos alunos é ainda embrionária, mencionado sobre o projecto «Livros de leitura» do
m a s os autores prevêem que a «língua materna será Estado des Rivières expõe o método de normalização
provavelmente introduzida no ensino primário, den- linguística aplicado simultaneamente a mais de u m a
tro de dez anos, na maior parte dos países que, actual- dúzia de línguas; a descrição prmenorizada da maneira
mente, se limitam rigorosamente ao inglês e ao fran- c o m o a ortografia é modificada, tanto pela tradição
cês» (p. 21). c o m o pela prática, afimde responder às necessidades
Estas tentativas não surpreenderão os especialistas dos leitores é relativamente rara nas revistas não
avisados de África, m a s serão úteis aos leitores que especializadas e merece ser lida.
desejam ter u m a visão de conjunto dos factores lin- A crítica a fazer a este livro consiste e m afirmar que
guísticos que afectam a evolução do ensino nas nações o leitor gostaria de saber mais sobre as abordagens
africanas. O s dirigentes políticos devem esforçar-se adoptadas no resto da África Ocidental. Dispõe dos
por desenvolver as bases de u m a identidade nacional, fragmentos de u m mosaico que, u m dia, deveria ser
lutando contra os problemas suscitados pelo subde- completado.
senvolvimento económico e pela diversidade étnica. Living and learning in two languages: bilingual-
O poder de divisão resultante da preferência conce- -bicultural education in the United States transportá-
dida a u m a língua autóctone e m detrimento de todas baos para urn ambiente totalmente diferente: nos
as outras desempenhou o papel de travão sobre a Estados Unidos, os educadores encontram, nas salas
tomada de decisões e suscitou curiosas anomalias. de aula, u m número surpreendente de grupos linguís-
U m autor observa, por exemplo, que, no Gana, «o ano ticos — imigrantes de todas as partes d o m u n d o ,
que marcou o ponto culminante do nacionalismo foi índios da América, e cidadãos americanos de língua
também o que viu baixar a importância das línguas espanhola ou francesa cuja terra-natal foi absorvida
nacionais no ensino» (p. 83). A s tentativas são, e m pela expansão do país através do continente ou das
3°5
Notas e comunicações
Caraíbas (Porto Rico). N a pátria da teoria do «cadi- única língua oficial, o inglês, o texto dá a impressão
nho» (melting pot), a acção conjugada dos grupos inexacta de que a recente decisão tomada pelo Q u e -
de pressão étnicas, das legislações federais e dos Esta- beque de transformar o francês na única língua oficial
dos, assim c o m o das decisões dos tribunais, suscitou da província constitui, de algum m o d o , u m a excepção.
u m vasto movimento tendente a modificar os objectivos A s considerações sobre a União Soviética são parti-
tradicionais da assimilação cultural e linguística nas cularmente fracas e teriam ganho e m se apoiar e m
escolas. obras de consulta sérias c o m o as de Lewis 1 ou Bar-
O principal defeito do livro de von Maltitz reside tley. Finalmente, ter-se-iam evitado digressões inúteis,
no facto de ignorar as incidências profundas de ordem o que teria melhorado a obra.
sociológica e política do reconhecimento das línguas O autor, u m a professora que conhece b e m as classes
minoritárias nas escolas americanas. Embora se afirme bilingues, dá o melhor de si própria nas breves descri-
na introdução que «os aspectos políticos da educação» ções das experiências bilingues a que assistiu enquanto
são amplamente ignorados, o ponto de vista domi- redigia o livro. M a s os seus resumos ocasionais sobre
nante da maioria anglo-saxónica reflectido n o con- a pedagogia e o clima dessas classes perdem-se, por
teúdo dos programas bilingues é aceite de facto: vezes, na massa dos dados; assim, u m capítulo enu-
estes devem ajudar os alunos anglo-saxónicos a apren- mera, u m a a u m a , todas as respostas a questionários
der u m a língua estrangeira, tal c o m o devem ensinar submetidos a funcionários dos departamentos da edu-
inglês aos alunos de língua minoritária. O autor revela cação dos cinquenta Estados; trata-se de u m a fonte
pouca simpatia pelos grupos minoritários partidários de informações preciosas que u m a abordagem temá-
de u m a abordagem «separatista», e m que os estudantes tica teria permitido explorar melhor. E m suma, este
de língua minoritária estão agrupados e isolados de estudo pretende tratar de todas as formas da educação
todos os alunos de língua inglesa, a fim de preservar bilingue e bicultural e m cada Estado dos Estados Uni-
melhor o seu património cultural e linguístico. O reco- dos, assim c o m o e m Porto Rico, tarefa que teria posto
nhecimento dos direitos das línguas minoritárias está à prova as capacidades do autor mais informado e
intimamente ligado ao de igualdade social e política; mais experimentado. Infelizmente, m e s m o apesar de
é evidente que têm sido feitos progressos, m a s o autor resumir inúmeros dados, o estudo não proporciona
não parece ter u m a opinião coerente sobre os laços ao leitor u m a visão clara dos factos. O assunto merece
que u n e m os conflitos inevitáveis aos problemas ser tratado mais correctamente.
gerais do ensino bilingue. N ã o encontramos e m parte E m França, muitos voluntários dedicam-se desde há
nenhuma u m resumo preciso da política americana anos a ajudar os trabalhadores imigrados, e m especial
sobre este ponto, m a s existem algumas contradições os que vêm de África e dos países do Mediterrâneo.
evidentes: na página 178, podemos 1er que os créditos O Colectivo de Alfabetização representa u m dos gru-
federais servirão apenas para a «integração dos alunos pos que criticam do m o d o mais radical a política actual
(de língua inglesa e minoritária)», enquanto no pará- do governo neste domínio. A sua obra colectiva mais
grafo seguinte se precisa que este princípio foi expli- recente, L'alphabétisation des travailleurs immigrés,
citamente suprimido da exposição de princípios revista coloca deliberadamente a política e a pedagogia no
que figura e m destaque no Bilingual Education Act m e s m o plano. A primeira secção deste livro traça u m
(Educations Amendments of 1974). U m capítulo dedi- quadro ideológico e m que a alfabetização é conside-
cado à maneira como outros países tratam as suas rada c o m o fazendo parte da luta pela transformação
minorias linguísticas («How other countries deal with social. Para os membros do Colectivo, só as aborda-
their language minorities») contém erros e utiliza gens mais revolucionárias (ou c o m o tal consideradas)
fontes de informação medíocres. Para apontar u m são dignas de elogios: os programas de alfabetização
exemplo, afirma-se (p. 101) que «o inglês e o fran- funcional da U N E S C O são declaradamente acusados
cês são as línguas oficiais do Canadá»; e m seguida,
u m a nota precisa: «excepto na província do Quebe-
que» (p. 119). Esta afirmação não tem e m conta a 1. E . Glyn L E W I S , Multilinguism in the Soviet Union,
diferença que existe entre a política do governo fede- Aspects of language policy and its implementation,
ral e m matéria de língua oficial e as políticas das dez Haia e Paris, Mouton, 1972. Ver a comunicação
províncias. Enquanto numerosas províncias têm u m a feita por Z . Z A C H A R I E V , Perspectives, vol. IV,
n.° 4, 1974, pp. 625 e segs. ( N D L R ) .
306
Notas e comunicações
de «reforçar simultaneamente a exploração das clas- gogia apropriada através da qual o animador adapta
ses dominadas pela sua integração no desenvolvi- o curso a essas exigências, levando progressivamente
mento capitalista, e a dominação ideológica das classes os alunos a admitir a necessidade de adquirir, e m pri-
favorecidas sobre aquelas» (p. 28); apesar de se apon- meiro lugar, o domínio da expressão oral. O livro
tarem alguns elementos positivos da obra de Freire termina c o m u m dossier que propõe mais de quarenta
(um «grande passo e m frente» e m comparação c o m temas de lições, designadas por «contactos».
os métodos tradicionais), esta também é criticada na Assim, esta obra apresenta u m a abordagem inte-
medida e m que se limita à «libertação das consciên- grada do ensino aos trabalhadores imigrados — u m a
cias», sem ligar a alfabetização ao combate ideoló- posição política, u m guia teórico de pedagogia lin-
gico; u m capítulo inteiro critica o que actualmente guística e u m a série de exemplos de lições. Parece
se pratica e m França. Apenas dois modelos de pro- adaptada ao seu objectivo —isto é, à formação de
grama de alfabetização recebem elogios: os da Repú- monitores c o m o fim de alfabetizar os trabalhadores
blica Popular da China e da Guiné-Bissau. A obra imigrados e m França — apesar da sua audiência
mantém, ao longo da sua análise crítica, u m a certa correr o risco de ser limitada devido à sua visão política.
posição ideológica — o que talvez seja u m a quali- Infelizmente, não fornece dados sobre a eficácia da
dade — m a s a auto-satisfação e o tom de superioridade metodologia proposta, embora assente manifesta-
dos autores correm o risco de desagradar a muitos mente na experiência. E m suma, este livro está redigido
leitores. N a verdade, é inútil procurar o mínimo traço c o m coerência, rigor e clareza.
de humildade ideológica — m e s m o quando o colec- A última obra escolhida, o Anuário da Sociedade
tivo confessa francamente ter cometido erros peda- Canadiana para o estudo da educação, Le bilinguisme
gógicos no início das suas actividades (ver pp. 93-95). dans l'éducation canadienne: la recherche et les problè-
N o entanto, m e s m o o leitor que não partilhe da mes, apresenta u m panorama dos problemas do bilin-
posição ideológica dos autores poderá apreciar a pri- guismo vistos por especialistas das investigações sobre
meira parte da obra c o m o documento sobre a activi- a educação. O aspecto mais original desta colectânea
dade e m curso. A análise dos diversos grupos e inte- de artigos reside no interesse que concede aos pro-
resses representados no movimento de alfabetização blemas que se põem fora do Quebeque e que rara-
e m França é profunda, frequentemente correcta mente são focados nas publicações; estes problemas
(embora polémica) e por vezes muito perspicaz. Ver, dizem respeito aos índios e aos Esquimós (Inuit) ori-
por exemplo, a nota dedicada aos «interesses de classe» ginários da América do Norte, pois as minorias fran-
divergentes dos diversos subgrupos de trabalhadores cófonas importantes não vivem no Quebeque, e aos
imigrados (pp. 53-54). grandes grupos não ingleses e não franceses (em espe-
O tom m u d a na segunda secção do livro, onde são dial ucranianos) das províncias da planície. Além
expostos métodos de ensino bastante tradicionais mas disso, u m artigo trata da elaboração de programas
actualizados. Destina-se aos monitores de alfabetização para o ensino do francês c o m ajuda das técnicas de
e apresenta u m esboço das principais teorias linguís- «imersão precoce»: as crianças anglófonas são ins-
ticas a partir das quais é possível abordar a alfabe- truídas exclusivamente e m francês na escola infantil
tização dos adultos que falam línguas minoritárias. e na primeira ou nas duas primeiras classes da escola
O s autores rejeitam, juntamente, as abordagens que, primária, e m seguida, o inglês é progressivamente intro-
no caso dos trabalhadores que não falam francês, duzido nas outras classes.
começam por lhes ensinar a escrever e a 1er u m a Este ponto interessa aos leitores que desejam c o m -
língua que eles não compreendem. Nas primeiras fases preender os problemas do Canadá no seu conjunto,
da formação dá-se prioridade à expressão oral, quando m a s decepciona os que estão particularmente desejosos
os adultos estão à altura de falar e compreender o de conhecer melhor os problemas actuais do Quebeque
francês, passa-se ao ensino da escrita e da leitura. a relação entre a língua e as posições políticas nesta
O s autores sabem, porém, por experiência, que muitos província. Além disso, o leitor não canadiano talvez
trabalhadores, devido ao condicionamento que sofre- se sinta desorientado pela complexidade das questões
ram nos países de origem (em particular e m África), jurídicas e constitucionais subjacentes aos artigos e
esperam e exigem a abordagem inversa. N u m caso que os autores supõem conhecidas (excepto no que
semelhante, o colectivo sugere o emprego de u m a peda- respeita à educação dos índios e dos Esquimós).
3°7
Notas e comunicações
Apesar dos problemas do Quebeque não serem fiáveis e, no entanto, contradizem u m conjunto muito
examinados, o que provoca u m sério desequilíbrio, mais extenso de investigações sobre os inconvenientes
a obra fornece u m precioso contributo na medida sociais deste método, segundo os quais, como foi
e m que nos revela u m Canadá cuja diversidade lin- dito no início desta comunicação, o ensino de u m a
guística e cultural parece superior à que apresentam, segunda língua é muito prejudicial aos alunos, crian-
e m geral, as obras de consulta disponíveis. Vários ças ou adultos. Os diferentes autores apelam para fac-
autores examinam as incidências politicas, sociais e tores não linguísticos para explicar esta aparente
pedagógicas de políticas susceptíveis de ultrapassar a contradição: o efeito produzido pelo emprego de u m a
dicotomia clássica inglês-francês e de permitir o uso segunda língua dependeria de factores e de atitudes
de outras línguas nas escolas. São, por vezes, franca- contextuais, e não da própria linguagem. As crianças
mente polémicos e, sem excepção, abordam o contexto pertencentes a u m grupo social dominante (do ponto
político do ensino bilingue. N a verdade, os especia- de vista económico, político e/ou cultural) parecem
listas da educação ou da linguística observarão que tirar proveito desta fórmula, enquanto resultados
alguns artigos se estendem mais sobre os problemas exactamente opostos se observem entre as que fazem
políticos do que sobre os problemas de investigação. parte de grupos sociais dependentes — daí a aliena-
Apenas u m artigo constitui u m amplo balanço, apoiado ção cultural característica das minorias socialmente
numa bibliografia completa. desfavorecidas (por exemplo, a minoria canadiana
U m dos temas de investigação tratados merece, francesa fora do Quebeque, os índios, os imigran-
muito particularmente, ser mencionado como con- tes, etc.). Estes dados, retirados da experiência cana-
clusão desta comunicação: os autores procuram, por diana, exigem u m a verificação cuidadosa a partir de
repetidas vezes, referir-se a u m a importante contra- outras fontes de informação: assim, e m certos novos
dição que sobressai dos diversos trabalhos. E m vários Estados Africanos, poderá a maioria da população
pontos do Canadá efectuaram-se estudos rigorosos representar u m grupo dependente quando é obrigada
para avaliar os efeitos das técnicas de «imersão pre- a superar o obstáculo criado pelo ensino dispensado
coce»; a maior parte das investigações conhecidas con- na língua da antiga potência colonizadora? M e s m o
firmam que estes programas são muito eficazes na ao nível da pedagogia, é evidente que a questão do
aprendizagem do francês e que, além disso, não pro- bilinguismo na educação não pode ser tratada sem
vocam efeitos secundários prejudiciais ao inglês dos ter em conta os problemas gerais das relações sociais
alunos interessados. N a verdade, os sucessos repetidos e políticas.
deste programa piloto levaram muitos pais a mudar
de atitude a este respeito e incitaram os professores STACY CHURCHILL
a rever a concepção tradicional que consiste em adiar Professor associado e m Ontario Institute
o estudo de u m a segunda língua até à escola secun- for Studies in Education (OISE) e e m
dária ou, pelo menos, até ao fim da escola primária. School Graduate Studies da
As investigações e m que esta tendência se apoia são Universidade de Toronto (Canadá).
308
Notas e comunicações
de u m especialista eminente c o m o o professor Ronald abranger o que nos parece essencial na problemática
Dore, que consagrou longos anos ao estudo destes da obra: o papel da educação no sistema social e a
problemas e cuja rica experiência abrange u m a grande fragilidade de toda a reflexão sobre a «doença dos
variedade de países? diplomas» que não tenha e m conta a ideologia e as
E m primeiro lugar, n u m esforço de rigor, Dore opções sociopolíticas dos países e m causa. Sob este
rejeita as explicações de tipo mecanista e a-histórico. aspecto, o autor estabeleceu u m contraste nítido e
Depois de apresentar, resumidamente, o problema da lúcido entre os objectivos apontados e as medidas
inflação dos diplomas no seu contexto específico concretas tomadas e não se deixou influenciar por
(desde o fim do período colonial), o autor mostra, conclusões superficiais elogiosas para as opções rei-
através de quatro estudos de casos referentes a países vindicadas pelos países estudados. A s páginas sobre a
tão diferentes c o m o o Reino Unido, o Japão, o Sri República Unida da Tanzânia são particularmente
Lanka e o Quénia, que o papel da educação e o signi- pertinentes sob este ponto de vista.
ficado do diploma estiveram intimamente ligados às C o m excepção do capítulo xn—digressão tanto mais
condições históricas do desenvolvimento económico supérflua que o autor já se referiu brilhantemente ao
e escolar destes países, chegando, assim, à sua tese do dossier da descolarização n u m a nota actualmente
«efeito do desenvolvimento tardio» (the late develop- clássica «False prophets: The Cuernavaca critique of
ment effect). O sistema de educação japonês desen- school» (IDS, Discussion paper n.° 12) — a terceira
volveu-se de maneira muito diferente do do Reino parte da obra trata das soluções «radicais»: retirar
Unido; algumas destas diferenças devem-se às tradi- inteiramente à escola a sua função de selecção social —
ções culturais e às estruturas sociais dos dois países; por meio de testes de aptidão e não por meio de testes
mas, para a tese do autor, as mais pertinentes devem-se de resultados pedagógicos; «aprendizagem durante a
ao facto do Japão ter iniciado a sua industrialização carreira e não no início da carreira, educação e for-
mais tarde do que o Reino Unido. O caso do Sri mação». A experiência chinesa é apontada c o m o u m
Lanka talvez seja mais complexo, sobretudo por causa exemplo extremo deste tipo de estratégia. A s implica-
dos factores linguísticos que atrasaram a «digestão» ções éticas e políticas de soluções radicais; o seu signi-
do conhecimento ocidental; porém, o atraso no início ficado e m termos de sistemas de valor para a sociedade
da industrialização provocou u m efeito ainda mais (e, e m especial, o significado do esforço e da justiça)
dramático sobre a inflação dos diplomas e suas uti- as perspectivas do ponto de vista da igualdade e da
lizações na selecção dos empregos. O Quénia possui democracia, etc., constituem outros tantos assuntos
u m sistema mais jovem e mais complexo do que o Sri abordados nos últimos capítulos.
Lanka; «o efeito do desenvolvimento tardio» é ainda Chegado ao fim desta obra fortemente documentada
mais espectacular. Dore conclui assim o seu diagnós- e poderosamente construída, o leitor poderá verificar:
tico: «Quanto mais recente é o processo de desenvolvi- a) a riqueza e a necessidade da introdução das dimen-
mento..., mais ampla será a utilização dos diplomas sões históricas e m toda a análise dos problemas da
para seleccionar os empregos, mais rápida será a taxa educação; b) o mérito da multidisciplinaridade da
de inflação das qualificações e a educação será mais abordagem de Ronald Dore que não hesita e m apelar
fortemente dominada pelos exames, c o m prejuízo dos paralelamente e, por vezes, contraditoriamente, para
seus objectivos fundamentais». a psicologia, a sociologia, a economia, a educação-
A segunda parte da obra intitulada «a sabedoria -pedagogia e a ciência política para interpretar as expe-
convencional» é dedicada a u m a análise crítica das riências estudadas; c) que é inútil propor reformas de
soluções e das teorias apresentadas pelos especialistas educação, ou apreciar o realismo de toda a solução
dos problemas de educação e a u m a enumeração das — para o problema da inflação dos diplomas, por
abordagens convencionais para enfrentar o problema exemplo — sem referência ao contexto sociopolítico,
da inflação dos diplomas, particularmente nos países aos objectivos pretendidos, aos meios disponíveis e
e m que o desejo de reformas da educação é muito às medidas tomadas pelos países para os atingir. Por
intenso, c o m o na República Unida da Tanzânia, todas estas razões, não duvidamos de que esta obra
Cuba e Sri Lanka. Dore mostra que estas reformas contribuirá útil e significativamente para o progresso
tinham poucas possibilidades de sucesso. Sendo assim, das ciências da educação e de que existem grandes
o discurso modifica-se naturalmente, alarga-se para vantagens na sua leitura.
309
Notas e comunicações
N o entanto — e talvez devido à qualidade do livro — u m objectivo para as categorias dominadas e é rejei-
não podemos deixar de exprimir u m certo número de tado pelas categorias dominantes. Só o combate pela
críticas, certamente inspiradas e m algumas discor- transformação pode gerar a alteração das relações
dâncias de fundo quanto às conclusões do autor. sociais e, portanto, modificar as realidades da socie-
Apesar das precauções tomadas e das referências aos dade desigual; combate de natureza dialéctica e prá-
contextos socioistóricos, a problemática da desi- tica, evidentemente. Nesta perspectiva, as propostas
gualdade e da democracia é, na verdade, apresentada — que Dore considera modestas — contidas no capí-
numa óptica que podemos apelidar de «funcionalista» tulo xiii, só são legítimas e realistas se forem criadas
e de «determinista», e não n u m a óptica «dialéctica». pelos grupos dominados e pressupõem acções e m
Por outras palavras, Dore parece considerar a desi- profundidade para modificar as relações sociais.
gualdade como u m a realidade quase inevitável e m A origem ou a paternidade das propostas são tão
todo o sistema social — o mundo confuciano é utó- importantes, ou mais, do que os conteúdos. U m a outra
pico—, resultante ou sendo determinada pelas dife- característica da óptica funcionalista e determinista
renças de aptidões e de perfis entre indivíduos; ela é é, no caso presente, u m a confusão entre a análise
funcional, pois é compatível com a gestão de toda a sociopolítica da problemática da desigualdade e a sua
sociedade que é ordenada segundo as responsabili- interpretação redutora e m termos psicológicos e
dades e as qualidades dos diferentes grupos sociais; individualistas. Não é por acaso que Dore, nos últimos
o objectivo (para quem?) consiste e m torná-la aceitá- parágrafos da sua obra, se baseia na diversidade de
vel, minimizando-a; trata-se, portanto, de ter espe- talentos dos indivíduos e das necessidades sociais
rança e de acreditar que o sistema social possa natu- para exprimir algumas dúvidas sobre o futuro, ape-
ralmente evoluir para u m mundo menos desigual e sar do seu optimismo. Enquanto nos recusarmos a
mais democrático, desejando u m a modificação pro- considerar que a problemática da desigualdade é tam-
gressiva das atitudes e das mentalidades que contri- bém, alguns dizem sobretudo, de natureza dialéctica
buem para esta situação. O que leva a admitir, por e essencialmente de poder entre grupos — seremos
outro lado, que, através de medidas apropriadas conduzidos à resignação que Dore tem o mérito de
— de estímulo ou de orientação dos comportamen- rejeitar, ou à especulação de que a história acabará
tos — seja possível eliminar a estratificação da socie- por transformar o h o m e m — diploducus — da socie-
dade e m grupos fundamentalmente e m situações de dade desigual, no h o m e m confuciano da sociedade
conflito. A óptica «dialéctica» admite que as relações (sem classes?).
entre grupos moldam e determinam a existência dos JACQUES H A L L A K
grupos e são, e m última análise, mais essenciais; instituto Internacional
a transformação das relações entre grupos constitui de Planificação da Educação.
Concordando total ou parcialmente ou discordando sas e m Pedagogia dos Oprimidos com o pretexto dema-
inteiramente das ousadas propostas formuladas pelo siado sumário de que não podem aplicar-se a u m a
autor para melhorar as escolas públicas americanas, «tecnocracia como a nossa». Diga-se de passagem que,
esta obra parecerá sempre estimulante, por vezes apesar do termo «tecnocracia» ser empregue muitas
provocadora e irritante, e os especialistas da educação vezes para qualificar e criticar a sociedade americana
— incluindo os que partilham das tendências refor- contemporânea, nunca é definido, o m e s m o suce-
madoras do professor Bowers— encontrarão nela dendo com o sentido atribuído pelo professor Bowers
muitos motivos de suprpresa, para não dizer mais. às noções capitais de «cultura» e de «alfabetismo».
O autor menciona os estudos feitos por Paulo Muitos leitores sentir-se-ão desanimados pela obs-
Freire no Brasil, mas rejeita e m bloco as ideias expres- curidade do estilo e pelo carácter famoso e puramente
310
Notas e comunicações
palavroso de certas passagens, c o m o , por exemplo, diferença sensível entre o que é ensinado e as reali-
a seguinte (escolhida entre muitas outras): «Muitos dades da existência, então, seremos obrigados a renun-
reforços utilizados na escola estão ligados à cultura ciar às nossas ilusões a respeito da escola... e a pro-
baseados no consumo que, segundo alguns críticos da curar transformar radicalmente o sistema de ensino».
sociedade, está na própria origem das perturbações N o capítulo intitulado «Realidades sociais e mitos
do comportamento que tanto inquietam os que estão educativos» — que é, talvez, o melhor do livro —
empenhados e m o modificar». o professor Bowers critica o sistema escolar actual
Apesar destas deficiências, a orientação das refor- e aponta-lhe várias lacunas. Baseando-se e m citações
mas do ensino propostas pelo autor é sedutora. extraídas de oito manuais e guias pedagógicos conclui
C o m a ajuda de argumentos iconoclastas, mas sólidos, que, e m geral: « U m a impressão de irrealismo emana
lança ataque sobre ataque contra certas inovações da maior parte das informações fornecidas nas esco-
e m voga que, e m sua opinião — tal c o m o na minha — las primárias a respeito da sociedade. A s explicações
correm o risco de reduzir estas actividades humanas relativas ao trabalho, à tecnologia, ao progresso e à
que são o ensino e a aprendizagem a u m a tecnologia comunidade reflectem mitos tradicionais atávicos que
de autómatos. Trata-se, por exemplo, da teoria e da tinham sentido no início do processo de industrialia-
prática do «condicionamento operante» de B . F . Skin- lização, mas que estão actualmente inteiramente ultra-
ner (as crianças não são cobaias); do «sistema dos passados c o m o fontes de compreensão ou de percep-
prémios de ensino» (truque que permite iludir a ver- ção da realidade».
dadeira questão, que consiste e m determinar «como A solução de substituição proposta consiste e m criar
se devem formar os jovens para os preparar para u m a u m «meio protegido e m que os alunos possam estudar
vida que tenha sentido»); e do ensino «competencia- livremente a natureza e as implicações da sua própria
lista» (que é incompatível c o m u m «processo de cultura». Mais precisamente: «Podemos considerar
investigação autêntico que implica que as respostas que a escola assegura ao aluno u m moratória psicos-
não sejam conhecidas antecipadamente»). social» estimulando-o a avaliar a sua cultura sem
O autor sublinha que, e m matéria de inovação recear u m a punição... se não chegar às conclusões
— m e s m o não tecnocrática— os entusiasmos não ratificadas pela sociedade dominante».
podem nunca contribuir para o melhoramento do U m a reforma deste tipo teria, b e m entendido, inci-
ensino. «As reformas pontuais perdem muitas vezes dências múltiplas e complexas do ponto de vista da
a sua eficácia devido aos elementos não modificados política e da logística da educação. O professor Bowers
do sistema educativo». Aplicando a sua própria teoria, propõe-se inscrever nos programas, a título de exem-
o professor Bowers preconiza portanto — e é o que plo, duas unidades de estudo concebidas segundo o
constitui a parte essencial da sua obra — nada mais do sistema da «moratória psicossocial», u m a sobre a
que u m a reforma global c o m múltiplas repercussões tecnologia e outra sobre o tempo. Sublinha ainda a
das quais seria difícil apresentar u m a enumeração necessidade de recrutar e de formar novos tipos de
rápida e completa sobre todos os aspectos do sistema professores («caracterizados por u m alto grau de tole-
educativo. rância e m relação à complexidade, u m a imagem de si
Começa por indicar que o ensino público americano positiva, ausência de ideias preconcebidas... e gosto
representa «para além da família ... a tentativa mais de participar c o m outros e m actividades criativas»),
sistemática no sentido de socializar a juventude adap- assim c o m o u m maior número de administradores de
tando-a à concepção dominante da realidade, tal espírito aberto.
c o m o é compreendida pelos adultos da classe média». O livro evita as duas armadilhas e m que caem
Esta concepção é feita de «postulados culturais, de actualmente muitos dos estudos teóricos americanos
explicações e de normas consagradas» — referindo-se sobre a reforma do ensino; não se inspira n u m futu-
às «características actuais da sociedade e do ambiente». rismo quimérico, n e m e m entusiasmos irresponsáveis.
C o m o poderemos avaliar esta acção «socializante» M a s deixa certamente subsistir no espírito dos leito-
da educação? res u m certo número de dúvidas — e m especial, na
« A escola fornece explicações realistas, m a s não minha opinião, as duas seguintes:
podemos afirmar que não induza as crianças e m erro E m primeiro lugar, e m que medida a noção de
ao perpetuar mitos disfuncionais. M a s , se existe u m a «moratória psicossocial» é realista de u m ponto de
311
Notas e comunicações
vista pedagógico? A escola nova seria u m «meio pro- tradicional segundo a qual a responsabilidade do
tegido», mas não u m «claustro», afirma o professor ensino compete à comunidade local, para adoptar
Bowers. D e facto, os programas de estudos que pro- u m sistema de autogestão da escola pelos professores
põe a título de exemplo atribuem u m a importância e os alunos mais velhos. M a s , quem tomará a iniciativa
considerável à observação e experiência directas da de u m a reforma tão ousada? C o m o parece evidente,
sociedade local. M a s , será possível mergulhar os alu- não será a comunidade local que, na opinião do autor,
nos na realidade e simultaneamente protegê-los con- desconfia, por natureza, de toda a transformação
tra esta m e s m a realidade? conceber u m a instituição radical do ensino opondo-se-lhe necessariamente.
que seja torre de marfim e, ao m e s m o tempo, «uni- « A discussão de problemas sociais de fundo, ou sim-
versidade aberta» ao nível escolar? estar na sociedade plesmente u m a descrição precisa de problemas sociais,
e permanecer autónomo? será geralmente considerada u m a ameaça por certos
E m segundo lugar, graças a que operação política indivíduos ou grupos sociais que se lamentarão de
oculta conseguiríamos criar e multiplicar escolas que o dinheiro dos contribuintes sirva para incentivar
capazes de assegurar u m a «moratória psicossocial»? a subversão na escola».
N a sua conclusão, intitulada «Que poderemos fazer?», É este o «calcanhar de Aquiles» da atraente pro-
o professor Bowers propõe alguns elementos de u m a posta do professor Bowers: trata-se, de facto, de
estratégia: m a s as suas sugestões não são convin- «subversão».
centes, pois não aponta nenhuma razão para aqueles
que estão à altura de fazer o que «poderia ser feito» A R T H U R GILLETTE
sejam efectivamente tentados a fazê-lo. N u m capí- Departamento da juventude,
tulo anterior recomenda que se renuncie à concepção Unesco
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