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O MUNDO EM QUE O
CRISTIANISMO NASCEU
O cristianismo não surgiu em um vácuo, mas em um contexto histórico e cultural
específico. Ele nasceu dentro de um mundo que já tinha as suas próprias religiões,
culturas e estruturas políticas e sociais. Dentro desse contexto, a nova fé abriu
caminhos, ao mesmo tempo em que definia a si mesma. A revelação de Deus e sua
obra redentora tem um caráter histórico impressionante. As Escrituras nos falam
de um Deus que além de ser transcendente, é também imanente, pessoal. Ele está
sempre se comunicando e se relacionando com os seres humanos, entrando e atu-
ando na nossa história. Toda a Escritura dá testemunho dessa verdade. O evento
máximo dessa manifestação de Deus na história foi a encarnação do seu Filho, Je-
sus. Por isso, para nós cristãos, a história tem um sentido dado pelo próprio Deus.
Ela é linear, tem um princípio e um fim, sob a direção providente e soberana do
nosso Deus, o Senhor da história.
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A Igreja Apostólica e o Início do Cristianismo
1. Cultura grega
1. GONZÁLEZ, Justo L,. Uma História do Pensamento Cristão: dos primórdios ao Concilio de
Calcedonia – Vol. 1, São Paulo, Cultura Cristã, Pg. 28.
2. GONZÁLEZ, Justo L,.Uma História Ilustrada do Cristianismo - Vol. 1, São Paulo, Vida Nova,
1995, Pg. 30.
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Alexandre não era simplesmente conquistar o mundo, mas uni-lo sob uma mesma
civilização, de tonalidade marcadamente grega. O resultado disso foi o “helenis-
mo”, que agregava elementos gregos aos diversos povos conquistados. Em termos
gerais, essa ideologia tinha em vista a unidade, que serviu primeiramente ao forta-
lecimento e à expansão do Império Romano e, posteriormente, à pregação e disse-
minação do evangelho por todo o território pertencente ao Império.
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para os moralmente sensíveis. Embora ainda houvesse muitos cultos pagãos, vários
deles foram mantidos por questões de costume, superstições, comércio ou de or-
gulho cívico. As conquistas romanas também contribuíram para que muitos povos
fossem levados à falta de fé em seus deuses, uma vez que eles não foram capazes de
protegê-los. Tudo isso levou a um vácuo espiritual que, consequentemente, serviu
de abertura para a aceitação da nova fé em Cristo.
2. Cultura romana
O Império Romano emergiu um pouco antes da era cristã, quando Otaviano foi
aclamado como César Augusto, tornando-se o primeiro imperador dos romanos
(27 aC - 14 dC). Se a contribuição dos gregos foi nas áreas linguística, cultural e
filosófica, os romanos deram notável contribuição ao mundo em que surgiu o cris-
tianismo nos aspectos político, jurídico e administrativo. Apesar da helenização do
Império, os romanos tinham o domínio militar, mantinham a ordem e faziam as
leis.
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paz, diante das sempre iminentes possibilidades de revoltas ou invasões dos povos
estrangeiros. Assim, o Império protegia e governava as províncias, permitindo que
cada uma elaborasse e administrasse as suas leis e estatutos, à luz do direito romano
e aprovadas pelo Imperador, tendo em contrapartida aceitar a fiscalização romana e
o seu controle militar. A presença do exército permitiu que as viagens, tanto marí-
timas como terrestres, se tornassem mais seguras, o que certamente veio a facilitar
a difusão do cristianismo.
• Ótimo sistema de estradas: Com a Pax romana também veio o crescimento do
comércio e, por causa deste, a construção de estradas. Os romanos construíram
inúmeras estradas que ligavam um lugar ao outro e várias rodovias de concreto que
atravessaram por todo o Império. Isso tornava possíveis viagens cada vez mais lon-
gas, visto que as cidades estavam localizadas estrategicamente às margens dessas
estradas. Como a Palestina, onde nasceu o cristianismo, era um importante cruza-
mento que ligava os continentes da Ásia e da África com a Europa por via terrestre,
o contato e a disseminação da fé cristã foram favorecidos. O ótimo sistema de es-
tradas e o trânsito comercial foram um importante auxílio para a missão de Paulo e
de diversos outros apóstolos em todo o Império.
3. GONZÁLEZ, Justo L,.Uma História Ilustrada do Cristianismo - Vol. 1, São Paulo, Vida Nova,
1995, Pg. 25.
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Como o judaísmo estava contido dentro de um único grupo étnico, tendo apenas
alguns prosélitos, não representava nenhuma ameaça significativa para o Império
Romano. Já o cristianismo, especialmente quando este começou a se propagar por
todo o Império, foi percebido pelas autoridades como uma influência intrinseca-
mente desestabilizadora e ameaçadora da ordem romana, o que levou à oposição e
perseguição
• Culto ao Imperador: Um desafio ainda maior para o cristianismo foi a prática do
culto ao Imperador. Ao falecer um imperador que fosse considerado digno de hon-
ra, podia se tornar uma divindade do Estado Romano através de uma cerimônia de
apoteose concedida pelo Senado. Todos os súditos deveriam reconhecê-lo como
uma divindade e prestar-lhe culto. Esse era um dos meios que Roma utilizava para
fomentar a unidade e lealdade dos súditos em relação ao Império. Negar-se a pres-
tar esse culto era visto como sinal de deslealdade e até mesmo de traição. A recusa
dos cristãos em participar das celebrações públicas de culto aos deuses romanos ou
ao Imperador fazia com que fossem encarados com suspeita e hostilidade. O culto
ao Imperador foi, sem dúvida, o ponto primordial que destravou a perseguição im-
perial nos três primeiros séculos da Igreja.
3. Cultura judaica
4. LATOURETTE, Kenneth Scott, Uma história do cristianismo - vol. 1: Até 1.500 A.D, São
Paulo, Hagnos, 2006, P. 44.
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sua vinda foi justamente para confirmá-los e cumpri-los. Tudo o que Jesus e os
apóstolos fizeram e ensinaram estava fundamentado nas Escrituras Veterotesta-
mentárias. Vemos o uso explícito do Antigo Testamento na explicação dos fatos
e eventos ocorridos com Jesus e na pregação neotestamentária com expressões
como: “segundo as Escrituras”, “como diz a Escritura”, “isto aconteceu para que se
cumprisse a Escritura”. O objetivo destas expressões é indicar a atualidade de uma
palavra dita no passado, reconhecendo sua permanente eficácia. Vemos também o
uso implícito dos conceitos teológicos extraídos do Antigo Testamento. A Igreja
não criou uma linguagem teológica nova, mas apropriou-se da já conhecida lingua-
gem veterotestamentária e a ampliou.
• O monoteísmo: Os judeus receberam a revelação pessoal de Deus e foram esco-
lhidos para serem o seu povo peculiar dentre todos os povos da terra. Eles conside-
ravam seu Deus, Yahweh, como o Deus do universo, o Criador e governador do céu
e da terra. Outros povos tinham seus deuses, mas Yahweh era considerado muito
mais poderoso que eles. Esses eram falsos deuses ou completamente subordinados
a ele. Para o judeu, o centro de sua fé e o seu principal mandamento estavam pre-
sentes na seguinte declaração: “Ouve, ó Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor;
e amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda tua alma, e de toda a tua
força” (Dt 4.6). Muitas vezes, ao longo da sua história, o povo judeu se desviou do
Senhor e foi seduzido pelos deuses dos outros povos e caindo em idolatria. Mas
nunca mais, depois da sua volta do cativeiro babilônico, caíram em politeísmo e
idolatria novamente. Os cristãos creem no mesmo Deus dos judeus, mas é através
da fé em Jesus que os demais povos, outrora separados de Deus, fazem parte do seu
povo escolhido.
• Sistema ético: Além das Escrituras e da fé no único Deus verdadeiro, os cristãos
herdaram do povo judeu o seu sistema ético. Deus deu a lei para o seu povo para
mostrar-lhes o padrão de como deveriam viver (aspectos morais) e como deveriam
se chegar a ele (aspectos cerimoniais). Cada mandamento estava fundamentado no
próprio caráter santo de Deus, por isso encontramos repetidas vezes nas Escrituras
Veterotestamentárias a expressão: “Sejam santos, porque eu, o SENHOR vosso
Deus, sou Santo”. Jesus viveu conforme a ética dada por Deus ao povo judeu. Na
verdade, ele foi o único homem que nunca transgrediu nenhum dos mandamentos
da lei de Deus, revelada nas Escrituras. Ele veio para mostrar, através de sua vida,
como a lei é em sua essência e forma. Jesus não só obedeceu e reafirmou a lei ve-
terotestamentária, como também nos revelou o seu sentido pleno, mostrando a
sua real intenção e profundidade. Sendo assim, a ética cristã está completamente
fundamentada na ética judaica. Por causa de Cristo e através dele, os cristãos são
capacitados a viver de acordo com a ética do povo de Deus.
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5. SHELLEY, Bruce L., História do Cristianismo: uma obra completa e atual sobre a trajetória
da igreja cristã desde as origens até o século XXl, Rio de Janeiro, Thomas Nelson 2018, P. 19.
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Judaísmo e Cristianismo
A Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, conta uma única história: A história de Deus
com o seu povo. O Antigo Testamento conta o início dessa história com a eleição
e formação do povo de Israel e o Novo Testamento continua essa mesma história
mostrando como Deus, através de Cristo Jesus, incluiu os gentios como parte do
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seu povo. É importante saber que nossa história, como povo de Deus, não começa
do nada. Nossas raízes estão em Israel, a igreja é o cumprimento das promessas fei-
tas no Antigo Testamento. Contudo, apesar dessa continuidade histórica, judaísmo
e cristianismo não são a mesma coisa. Apesar de estarmos ligados às raízes judaicas,
precisamos estar atentos à verdade de que o entendimento de Jesus como Messias,
Filho de Deus, é necessário e inegociável.
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