Você está na página 1de 2

PLANO DE ENSINO

Curso de extensão: Ensino Social da Igreja


Ano/Semestre: 2021 / 1
Professor: Dr. Wilson Dallagnol
Aluno: Carlos Francisco Gomide
Tarefa – responder:
1) Qual é o contexto sócio-econômico-político em que surge o Ensino Social da Igreja – ESI?
A descoberta das Américas e o surgimento de novos mercados e formas de exploração do comércio
trouxeram grandes benefícios para burgueses, banqueiros e grande parte da nobreza. No topo da estrutura
social estava a nobreza, que se instalou nas grandes cidades em luxuosos palácios ou mansões, seguida pela
alta burguesia, enriquecida pelo comércio e pelos negócios financeiros. Em contrapartida, os camponeses,
que constituíam a classe menos favorecida, viviam em condições extremamente desfavoráveis. Estes,
recorreram muitas vezes a revoltas. (Conferência: Doutrina Social da Igreja - história e conceitos
fundamentais; Dom José Reginaldo Andrietta; 2017)
O final do século XVIII trouxe mudanças econômicas e políticas que culminou em profundas mudanças
sociais. Em 1776 ocorreu a independência dos Estados Unidos e em 1789 ocorreu a Revolução Francesa,
período que marcou a Primeira Revolução Industrial, com o uso do carvão. No bojo dessa revolução forjou-
se o movimento operário, que se tornou progressivamente organizado. Mais tarde, a indústria emergente
passaria por uma segunda revolução com a descoberta e introdução da eletricidade. (Conferência: Doutrina
Social da Igreja - história e conceitos fundamentais; Dom José Reginaldo Andrietta; 2017)
No final do século XIX, o capitalismo avançou rapidamente. As Revoluções Industriais representaram não
apenas uma mudança tecnológica, mas uma nova forma do capital e do trabalho se relacionarem, numa
época caracterizada pela ascensão da burguesia ao poder, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos.
Conjuntamente com o desenvolvimento industrial, formou-se a classe operária e houve crescimento caótico
das cidades. As condições de trabalho e de vida das massas urbanas se tornaram marcadas por grande
exploração e miséria. (Conferência: Doutrina Social da Igreja - história e conceitos fundamentais; Dom José
Reginaldo Andrietta; 2017)
Nesse contexto, a Igreja se viu confrontada por novos problemas de ordem política, cultural e social,
especialmente o capitalismo exacerbado e o comunismo ateu.
A resposta da Igreja surge com a advertência da necessidade de intervir de modo novo: na Encíclica Rerum
Novarum, o Papa faz da condição social dos operários o tema central de sua carta e nela, pela primeira vez
um documento do magistério católico dedicou-se integralmente à chamada “questão social”, com a
particularidade importante de abordar a “condição dos operários”.
Desde então, a cada pontificado, cada transformação da sociedade, em sua organização geopolítica,
ideológica e produtiva, gerava novos problemas sociais que exigiam novas respostas de ação social da Igreja,
desde então, o Ensino Social é sempre atualizado sob a inspiração do Espírito Santo.
2) Por que se faz necessário à Igreja, no seu Magistério Pastoral, se pronunciar sobre as questões
socais e agir no mundo em que vivemos?
Afora uma grande quantidade de referências bíblicas sobre a justiça social e a dignidade do homem frente às
coisas, principalmente frente às realidades materiais, o magistério da Igreja muitas vezes alertou para a
necessidade de elevar o homem à categoria de objeto central também de toda obra humana, posto que o ser
humano já era o primaz na criação divina.
Seja por encíclicas, seja pelos ensinamentos dos Padres e dos Doutores da Igreja, as orientações pastorais sempre
se preocuparam em buscar uma “ação conjunta de toda a Igreja, com caráter evangelizador, frente à globalidade
da realidade, particularmente as situações que geram sofrimentos humanos” (Conferência: Doutrina Social da
Igreja - história e conceitos fundamentais; Dom José Reginaldo Andrietta; 2017).
A Gaudium et Spes afirma que “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje,
sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no
seu coração” (Gaudium et Spes, 1).
E completa dizendo que “Para levar a cabo esta missão é dever da Igreja investigar a todo momento os sinais dos
tempos e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração,
às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e futura, e da relação entre ambas. É
necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações e o seu carácter
tantas vezes dramático” (Gaudium et Spes, 4).
Na Doutrina dos Doze Apóstolos encontramos a seguinte instrução: “Não te desviarás do necessitado, mas
compartilharás todas as coisas com teus irmãos e não dirás que sãos tuas. Se somos coparticipes no imortal,
quanto mais devemos iniciá-lo já, a partir daqui?” (Doutrina dos Doze Apóstolos, sec. II)
Também São Clemente, o quarto Papa do Cristianismo, falecido no ano 102, diz que “o uso comum de tudo que
há neste mundo, destinava-se a todos, porém, devido à iniquidade um disse que isso era seu e o outro disse que
aquilo era dele e assim fez-se a divisão entre os mortais”.
São Basílio diz: “O pão que guardas na tua dispensa pertence ao faminto, como pertence ao nu o agasalho que
escondes em teus armários. Os sapatos que apodrecem em tuas gavetas, pertence ao descalço, ao miserável
pertence a prata que ocultas” e São João Crisóstomo afirma que “Deus nunca fez uns ricos e outros pobres. Ele
deu a mesma terra para todos. A terra é toda do Senhor e os frutos da terra devem ser comuns a todos. As palavras
‘meu’ e ‘teu’ são motivos e causa de discórdia. A comunidade de bens é uma forma de assistência mais adequada
à natureza do que a propriedade privada” enquanto Santo Agostinho diz: “se desses do que é teu, seria
liberalidade; como dais do que é dele (Jesus presente no pobre) é uma simples restituição”.
Concluo que a realidade social no final do século XIX representava um desafio à pregação do Reino e apresentava
uma perspectiva de crescente conflito que colocava a Igreja entre o capitalismo e o comunismo sem atenção à
dignidade de grandes massas de pessoas, o que “motivou uma especial solicitude pastoral para com as ingentes
massas de homens e mulheres” que viviam entre estes dois braços do pensamento político-econômico, então
“Era necessário um renovado discernimento da situação, apto a delinear soluções apropriadas para problemas
insólitos e inexplorados” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja).
E atualmente, a cultura de descarte de indivíduos colocados à margem do processo econômico têm criado
multidões de necessitados. É inimaginável pensar que os homens podem deixar Lázaro sentado à beira de suas
calçadas e virarem o olhar para outro lado toda vez e quem entrarem ou saírem de seus confortáveis lares,
levando uma satisfatória e despreocupada vida.
O Ensino Social vem alertar para a desumanidade presente em nossa organização econômica, social e política.
Pobres, sempre os teremos, mas seres humanos não são descartáveis e a produção de miséria não é somente
um efeito colateral do progresso tecnológico-econômico que sustenta este modelo social, antes, é um pilar deste
progresso. Portanto, este alerta da Igreja contra a produção da miséria para grandes parcelas da população é
uma missão profética da Igreja e a ESI é o centro do pensar evangélico que sustenta o diálogo necessário para
estabelecer um modelo social centrado na dignidade de toda vida humana.

Você também pode gostar