Você está na página 1de 38

O

Concílio

de

Niceia
1
O Concílio de Niceia - Parte 1

O Primeiro Concílio de Niceia ocorreu em 325, durante o reinado do imperador


romano Constantino I, o primeiro a aderir ao cristianismo. Considerado como o
primeiro dos três concílios fundamentais na Igreja Católica, foi a primeira
conferência de bispos ecuménica (do Grego oikumene, "mundial") da Igreja
cristã. Lidou com questões levantadas pela opinião Ariana da natureza de Jesus
Cristo: se uma Pessoa com duas naturezas (humana e Divina) como zelava até
então a ortodoxia ou uma pessoa com ...

apenas a natureza humana. Foi um dia na história que marcaria, nos séculos
vindouros da História Ocidental, o princípio do fim de conceitos como o da pré-
existência e da reencarnação, e de importantes conceitos Cosmogónicos como a
distinção entre o Deus Ignoto e o Logos, ou Demiurgo, ao mesmo tempo que
promovia o distanciamento entre o Homem e o Cristo. Ao mesmo tempo, afirmava
a ideia de uma humanidade passiva, “corrompida pelo pecado original”, à qual
restava e bastava acreditar na literalidade dos factos históricos da vida de Jesus
Cristo e obedecer cegamente aos padres da Igreja – exclusivos intermediários entre
Deus e o povo – para ser salva.

Constantino desejava um Império forte e unido. Naturalmente que, para manter o


seu domínio sobre o povo e estabelecer uma ditadura religiosa, as autoridades
eclesiásticas teriam que promover o obscurecimento e a ignorância do
conhecimento existente nas brilhantes escrituras e filosofias arcaicas (e
perenes…), que constituíam um obstáculo aos objectivos da nova religião imperial.

2
Foi no Concílio de Niceia que se deram dados passos decisivos no sentido de criar
uma nova religião unificada, engendrada de forma a servir ao Imperador como
forma de domínio político e social.

O Deus do Império deveria ser suficientemente forte para se opor aos Deuses do
Olimpo, ao Jeová dos Hebreus e ao Buda do Oriente. Misturando as divindades
arcaicas orientais com as antigas histórias de Moisés, Elias e Isaías, foram assim
convenientemente criados os símbolos da nova Igreja Romana. De igual modo,
para a fabricação desta nova religião, assimilaram-se as práticas do paganismo
mais convenientes, enquanto, em paralelo, todas as filosofias contrárias aos
interesses da Igreja e do Império eram suprimidas ou ocultadas. O Concílio de
Niceia constituiu-se como o primeiro de vinte e um concílios (oficialmente
reconhecidos) realizados ao longo dos séculos com o fim de fabricar e consolidar a
teologia de uma nova religião concebida para o fácil controlo das populações.

Embora tenham havido concílios anteriores, o de Niceia foi o primeiro considerado


como Concílio Ecuménico e o primeiro que foi alvo de convocação. E, certamente, é
o mais celebrado pela Igreja Católica Romana, em toda a sua história. Iremos ver
como nele foram instituídas as primeiras “ferramentas” facilitadoras da criação do
profissionalismo religioso e do afastamento entre o Homem e o ideal de Cristo;
como foram criados os fundamentos da teologia da nova Igreja Cristã, alicerçados
na deificação de Jesus e sua consubstanciação com o Deus Pai, bem como na
escolha dos Evangelhos que, a partir deste Concílio, passaram a ser os únicos
textos considerados como sagrados no Cristianismo.

A Conjuntura

Vejamos então o conjunto de circunstâncias que levou a este acontecimento


decisivo da nossa história e cultura. Até Constantino, Roma exigia uma obediência
total ao estado mas tinha bastante abertura à livre expressão da liberdade do
pensamento religioso. Em Roma coexistiam grupos que professavam a Tradição
Hermética Egípcia, o Zoroastrismo Persa, o Budismo Oriental, o Monoteísmo Judeu,
bem como grupos Gnósticos, Filósofos Platónicos, e outros. Esta confluência de
diversidade religiosa e filosófica permitia o intercâmbio de tradições e
ensinamentos, contribuindo assim para o desenvolvendo de uma teologia bastante
rica. Alexandria era o centro de aprendizagem deste império (que então integrava)
e a sua biblioteca era a mais famosa da antiguidade. Além do mais, a sua
localização geográfica proporcionava a congregação de pessoas grupos de várias
culturas e credos. Entretanto, a acumulação de riqueza nos estratos sociais mais
altos, a cobrança de impostos injustos aos pobres, a escravatura disseminada e o
desrespeito pela vida humana, tinham chegado a um ponto de decadência que se
tinha alastrado, e que estava agora a corromper o coração do império.

3
Neste contexto vários grupos Gnósticos2 floresciam em Alexandria.
Simultaneamente, nasciam escolas filosóficas e grandes instrutores religiosos que
procuravam despertar, nos seus alunos, ideais mais nobres.

Grupos Gnósticos foram aos Cristãos primitivos, verdadeiros herdeiros da Religião-


Sabedoria. Até 250 DC, as suas ideias difundiram-se e foram amplamente
toleradas. Eles ensinavam que o caminho para a libertação se encontrava pela
obtenção da Gnose, o conhecimento das verdades sagradas do Universo Espiritual.
Para os cristãos dos primeiros séculos, Cristo era o símbolo vivo da centelha divina
em cada Homem; e Jesus, o Homem sublimado, era o “… Chréstos, ou discípulo no
Caminho ascendente, (que) havia chegado a ser um poder maior, Christos, ao
realizar a união permanente com o seu Espírito, a Mônada Divina, o Pai. Neste
estado crístico, Jesus volveu-se apto para ser o veículo de uma Entidade (ainda)
mais excelsa, um Mestre de Mestres – o Cristo manifestado em Jesus”3. Através da
sua vida e morte, era demonstrada a via da libertação e ensinavam-se os segredos
da ascensão espiritual.

Em contraste com a cultura Romana, estes grupos de Cristãos ensinavam a


simplicidade, muitas vezes levando vidas ascéticas. Denunciavam a escravatura, a
opressão e a brutalidade dos Jogos romanos, onde se sacrificavam os
desfavorecidos, às centenas, em espectáculos de carnificina. Roma tinha sido até
ai bem sucedida a silenciar protestos populares por meio da morte ou suborno.
Estes grupos Cristãos, porém, não eram permeáveis a ameaças: não tinham medo
da morte, não eram tentados por suborno, e continuavam a aumentar.

Entretanto, paralelamente, as facções Cristãs mais literalistas, mais fanáticas e que


se vieram a tornar Ortodoxas, viram o seu poder confirmado por Constantino. Em
314, um mês depois da morte de Miltiades, Bispo de Roma, o Imperador
Constantino nomeou publicamente Silvestre como o sucessor daquele. Silvestre foi
o primeiro bispo de Roma a ser coroado como um príncipe. Constantino doou-lhe
terras, palácios, poder judicial, dinheiro, força política e até controlo sobre o
exército, estendendo assim o seu poder e autoridade sobre todo o Império. Ao ter
aceite a aliança entre o Estado e a Igreja, Silvestre foi o primeiro Papa a ter
verdadeiro poder temporal. Em troca, promovia-se o papel divino do Imperador
Constantino.

Em sequência, dois anos antes da realização do Concílio de Niceia, o Imperador


Constantino declara oficialmente o Cristianismo (Ortodoxo) como a religião do
império Romano. Consequentemente, toda a Igreja passou também a receber
grandes poderes, promovendo assim o apetite pela riqueza da classe eclesiástica.
Toda a nova classe de líderes da Igreja Romana deixou então de ser estrangeira no
mundo, para ser parte activa no sistema político vigente, acumulando riqueza e
dominando congregações. Os Bispos tornaram-se homens de poder e de política,
assim como conselheiros do Imperador, alguns gozando de grande prestígio e
cooperando com o Imperador na construção da nova religião, como foi um exemplo
Eusébio de Cesareia.

4
Localização e participantes

Niceia (hoje Iznik), é uma cidade da Anatólia (hoje parte da Turquia). No verão de
325, os bispos de todas as províncias foram chamados ao primeiro concílio
ecumênico em Niceia: um lugar facilmente acessível à maioria dos bispos,
especialmente aos da Ásia, Síria, Palestina, Egipto, Grécia, Trácia e Egrisi (Geórgia
ocidental). O número dos membros não pode exatamente ser indicado; Atanásio
contou 318, Eusébio somente 250. Foram oferecidas aos bispos as comodidades do
sistema de transporte imperial - livre transporte e alojamento de e para o local da
conferência - para encorajar a maior audiência possível. Constantino abriu
formalmente a sessão. A religião cristã nesses tempos era majoritária unicamente
no Oriente. No Ocidente era ainda minoritária, especialmente entre os pagãos,
vilas rústicas. Daí o nome de pagãos para os gentios. Uma exceção era a região de
Cartago ou Túnis. Portanto, os bispos orientais estavam em maioria; na primeira
linha de influência hierárquica estavam três arcebispos: Alexandre de Alexandria,
Eustáquio de Antioquia, e Macário de Jerusalém, bem como Eusébio de Nicomédia
e Eusébio de Cesareia. Entre os bispos encontravam-se Stratofilus, Bispo de Pitiunt
(Bichvinta, reino de Egrisi).

O ocidente enviou não mais de cinco representantes na proporção relativa das


províncias: Marcus de Calábria de Itália, Cecilian de Cartago de África, Osio de
Córdoba (Hispânia), Nicasius de Dijon, na França, e Domnus de Stridon da província
do Danúbio. Estes dignitários eclesiásticos naturalmente não viajaram sozinhos,
mas cada qual com sua comitiva, de modo que Eusébio refere um grupo numeroso
de padres acompanhantes, diáconos e acólitos.

Entre os presentes encontrava-se Atanásio, um diácono novo e companheiro do


Bispo Alexandre de Alexandria, que se distinguiu como o "lutador mais vigoroso
contra os arianos" e similarmente o patriarca Alexandre de Constantinopla, um
presbítero, como o representante de seu bispo, mais velho.

O Papa em exercício na época, Silvestre I, não compareceu ao Concílio. A causa de


seu não comparecimento é motivo de discussões: uns falam que recusou o convite
do imperador esperando que sua ausência representasse um protesto contra a
convocação do sínodo pelo imperador, outros que Silvestre já ancião estava,
impossibilitado, portanto de comparecer. Silvestre já fora informado da condenação
de Ário ocorrida no Sínodo de Alexandria (320 a 321) e para o Concílio de Niceia
enviou dois representantes Vito e Vicente (presbíteros romanos).

Ao que parece, quem presidiu o Concílio foi o Bispo Osio. Que Osio presidiu o
Concílio afirma-o Atanásio, contemporâneo de fato (Apol. de fuga sua, c. 5),
afirmam-no implicitamente os próprios arianos escrevendo que ele "publicara o
sínodo de Niceia" (Ap. Athânas, Hist. arian. c. 42)".

5
Outra fonte da influência, apesar do não comparecimento do Bispo de Roma, é que
as assinaturas dos três clérigos - Osio, Vito e Vicente - estão sempre em primeiro
lugar, bem como a citação de seus nomes pelos historiadores do Concílio, o que
seria estranho, dado que o Concílio se deu no Oriente, e os três clérigos eram
ocidentais - o primeiro um Bispo espanhol e os outros dois sacerdotes romanos. Só
o fato de serem representantes do Papa explicaria tal comportamento.

Portanto, é mais provável a impossibilidade do comparecimento de Silvestre, do


que um protesto contra o imperador

As questões doutrinárias

Este Concílio deliberou sobre as grandes controvérsias doutrinais do Cristianismo


nos séculos IV e V. Foi efetuada uma união entre o extraordinário eclesiástico dos
conselhos e o Estado, que concedeu às deliberações deste corpo o poder imperial.
Sínodos anteriores tinham-se dado por satisfeitos com a proteção de doutrinas
heréticas; mas o concílio de Niceia foi caracterizado pela etapa adicional de uma
posição mais ofensiva, com artigos minuciosamente elaborados sobre a fé. Este
concílio teve uma importância especial também porque as perseguições aos
cristãos tinham recentemente terminado, com o Édito de Constantino.

A questão ariana representava um grande obstáculo à realização da ideia de


Constantino de um império universal, que deveria ser alcançado com a ajuda da
uniformidade da adoração divina.

Os pontos discutidos no sínodo eram:

A questão ariana

A celebração da Páscoa

O cisma de Milécio

O baptismo de heréticos

O estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio.

Embora algumas obras afirmem que no Concílio de Niceia discutiu-se quais


evangelhos fariam parte da Bíblia não há menção de que esse assunto estivesse
em pauta, nem nas informações dos historiadores do Concílio, nem nas Atas do
Concílio que chegaram a nós em três fragmentos: o Símbolo dos apóstolos, os
cânones, e o decreto senoidal. O Cânone Muratori, do ano 170, portanto cerca de
150 anos anterior ao Concílio, já mencionava os evangelhos que fariam parte da
Bíblia. Outros escritores cristãos anteriores ao Concílio, como Justino, Ireneu, Papias

6
de Hierápolis, também já abordavam a questão dos evangelhos que fariam parte
da Bíblia.

É um fato reconhecido que o anti-judaísmo, ou o anti-semitismo cristão, ganhou um


novo impulso com a tomada do controle do Império Romano, sendo o concílio de
Niceia um marco neste sentido. Os posteriores Concílios da Igreja manteriam esta
linha. O Concílio de Antioquia (341) proibiu aos cristãos a celebração da Páscoa
com os Judeus. O Concílio de Laodiceia proibiu os cristãos de observar o Shabbat e
de receber prendas de judeus ou mesmo de comer pão ázimo nos festejos judaicos.

A Crescente Controvérsia

Naturalmente, as vozes dos Gnósticos, cujos valores não se coadunavam com os


do Império Romano, e que recusavam a interpretação literal da vida de Jesus
promovida pela facção ortodoxa, constituíam sum perigo para a Igreja de
Constantino. Os Gnósticos entendiam Deus a um nível metafísico e místico, e
sugeriam uma relação com o Divino bem mais madura qdo ue a promovida pelos
ortodoxos-literalistas. Em consequência, começaram a surgir verdadeiros focos de
discórdia e diferendos vários, que vinham a causar grande ressentimentos na
comunidade ortodoxa e a contribuir para debilitar cada vez mais a relação entre
estes grupos.

Diferentemente da facção ortodoxa, os Cristãos originais, Gnósticos, consideravam


o Deus Jeová dos Judeus como o Demiurgo, o Criador ou Governante do mundo
imperfeito, do mundo inferior, e não como o Pai de que falava Jesus ou muito
menos como o Absoluto,. Pretendiam ainda alguns dos grupos Gnósticos cortar a
ligação a este Deus caprichoso, ou melhor, separar o Cristianismo das noções de
um Deus ciumento e vingativo que aparece em tantas páginas do Antigo
Testamento 4.

Em acréscimo, nos primeiros tempos do Cristianismo discutia-se na Igreja Ortodoxa


a segunda vinda de Cristo (Parusia). Acreditava-se – e a Igreja continua até hoje a
subscrever esta ideia - que a humanidade estava prestes a entrar numa idade
gloriosa em que Cristo voltaria para recompensar os que nele acreditavam,
castigar os que não acreditavam nele e voltar a dar vida física àqueles que tinham
morrido em seu favor. Por contraste, a generalidade dos Gnósticos não defendiam
essas crenças literalistas. Tal como a crucificação, a ressurreição física não
significava nada para eles, pois a verdadeira vitória estava em transcender o corpo
físico (e a natureza animal), não em transporta-lo depois da morte. A ressurreição
de Cristo não era interpretada de uma forma literal mas sim simbólica, referindo-se
a uma transformação interior levada a cabo na Iniciação nos Mistérios.

Outros diferendos, como a Doutrina das Emanações, e as doutrinas sobre a Criação


do Universo, suscitavam de igual modo feroz reacção nos Cristãos ortodoxos,
tendo-se atingido o ponto máximo de controvérsia – que levou à convocação do

7
Concílio de Niceia por Constantino – com a discussão em torno da Doutrina da
Trindade.

A Controvérsia “Ariana”

Discutida pela primeira vez no Concílio de Antióquia em 269 DC, as divergências


sobre Doutrina da Trindade alcançam o seu climax no Concílio de Niceia, quando do
diferendo entre Arius (e seus seguidores, os “Arianos”) e o Bispo Alexandre de
Alexandria (e seu protegido Atanásio), relativamente à consubstancialidade de
Jesus com Deus Pai, defendida por este(s) último(s).

Até então, em muitas comunidades Cristãs, era o ensinamento preponderante que


Jesus fora um homem que, em virtude da sua vida perfeita e sem pecado, recebera
pelo baptismo a Iniciação, tornando-se (um) Salvador do Mundo. Este tinha sido
também o ensinamento da Igreja até então, nomeadamente através de Paulo de
Samosata (260 – 272 DC), Bispo de Antioquia.

Esta concepção foi seguida por Arius, um presbítero da Igreja de Alexandria.


Começava, no entanto, a surgir a tendência materializante da facção ortodoxa.
Deste modo, e ao contrário de Arius, Alexandre, Bispo de Alexandria, afirmava nos
seus sermões que, em relação ao mistério da Trindade, o Filho era igual ao Pai, que
o gerara, e da mesma substância. Dava-se início, assim, à formulação das três
pessoas da divindade cristã ortodoxa, uma trindade antropomorfizada e que não
admite divindade superior.

Arius, tendo sabido dos sermões do Bispo, declarou-lhe oposição e afirmou


publicamente a sua dedução lógica: se o filho era gerado pelo Pai, tem que ter
havido um tempo, um momento em que o Filho não existia, ou seja, o momento
anterior à sua criação. O Filho tinha, portanto, tido um começo, um início.
Antagonizando o Bispo Alexandre, Arius iniciou uma forte campanha ensinando em
Igrejas e assembleias públicas a doutrina de que Jesus Cristo era filho do Pai, criado
pelo Pai e, portanto, uma criatura. Em resposta o Bispo Alexandre escreveu a
vários Bispos, incluindo ao Bispo Alexandre de Constantinopla, denunciando Arius e
os seus seguidores por tentarem evitar a deificação de Cristo.

O verdadeiro propósito do Concílio de Niceia

Constantino terá percebido que a controvérsia entre os seus Bispos podia constituir
uma ameaça e ser um impedimento à unidade do Império Romano. Ou, talvez
ainda mais provavelmente, Constantino terá visto nesta conjuntura uma
oportunidade para a unidade da religião que ele pensava impor ao império (e como

8
forma de controlar a população), e que acabou por assentar na facção que se
opunha a Arius – a facção que veio a ser a ortodoxa.

A nova religião imperial, assente numa mistura confusa das ideologias dos vários
grupos Cristãos e Pagãos, permitia a difusão desejada. A adaptação (desvirtuadora,
embora) das tradições do passado, facilitaria também a sua aderência pelos povos
de Roma.

Adicionalmente, ao atribuir “origens divinas” à Igreja Cristã de Roma, garantia-se


que Deus ficava acessível apenas à hierarquiaeclesiástica – controlada por
Constantino – e não ao indivíduo comum. Constantino estendia então e reforçava o
seu poder político através de todo o Ocidente, garantindo também que, como
Imperador defensor da Igreja, se revestia ele próprio de uma manto divino.

Quanto à moralidade que Jesus teria ensinado, esta seria gradualmente modificada
de acordo com interesses do Império e da Igreja, que impunha que “fora da igreja
não há salvação”, evitando focos de dissidência.

Por último, e de modo a garantir a adesão da população a um catecismo pouco


credível, a Igreja postulou a ideia que acreditar nos eventos históricos da vida de
Jesus era o suficiente para a salvação, fundando-se assim a “Religião Imperial
Católica Apostólica Romana” ou, por outras palavras, o Cristianismo Imperial de
Constantino.

O Concílio de Niceia - Parte 2

Historiadores do Concílio de Niceia - Uma boa fonte para o estudo deste período
histórico é-nos apresentada hoje sob a forma da obra de Edward Gibbon, um

9
historiador representativo do iluminismo inglês do século XVIII, ainda hoje lida e
traduzida para várias línguas: A história do declínio e queda do império romano. Há
diversas obras a respeito do Concílio de Niceia, mas de fato os historiadores que
gozam de mais credibilidade e são a fonte desse período histórico para os demais
autores são os próprios contemporâneos do Concílio de Niceia: Eusébio, Sócrates
de Constantinopla, Sozomenes, Teodoreto e Rufino, ...

junto com algumas informações conservadas por Atanásio e uma história do


Concílio de Nicéia escrita em grego no século V por Gelásio de Cícico.

O carácter, a sociedade, e os problemas

A cristandade do século II não concordava sobre a data de celebração da Páscoa da


ressurreição. As igrejas da Ásia Menor, entre elas a importante igreja de Éfeso,
celebravam-na, juntamente com os judeus, no 14º dia da primeira lua da
primavera (o 14º Nisan, segundo o calendário judaico), sem levar em consideração
o dia da semana. Já as igrejas de Roma e de Alexandria, juntamente com muitas
outras igrejas tanto ocidentais quanto orientais, celebravam-na no domingo
subsequente ao 14º Nisan. Com vistas à fixação de uma data comum, em 154 ou
155, o bispo Policarpo de Esmirna, entrou em contato com o papa Aniceto, mas
nenhuma unificação foi conseguida e o assunto permaneceu em aberto.

Foi no concílio de Niceia que se decidiu então resolver a questão estabelecendo


que a Páscoa dos cristãos seria sempre celebrada no domingo seguinte ao
plenilúnio após o equinócio da primavera. Apesar de todo esse esforço, as
diferenças de calendário entre Ocidente e Oriente fizeram com que esta vontade
de festejar a Páscoa em toda a parte no mesmo dia continuasse sendo um belo
sonho, e isso até os dias de hoje.

Além desse problema menor, outra questão mais séria incomodava a cristandade
católica: como conciliar a divindade de Jesus Cristo com o dogma de fé num único
Deus?

Na época a inteligência dos cristãos ainda estava à procura de uma fórmula


satisfatória para a questão, embora já houvesse a consciência da imutabilidade de
Deus e da existência divina do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Nesse quadro, um
presbítero de nome Ário passa a defender em Alexandria a ideia de que Jesus é
uma "criatura do Pai", não sendo, portanto, eterno. Em suas pregações, Ário por
várias vezes insistia em afirmar em tom provocativo que "houve um tempo em que
o Filho não existia". Dizia que Cristo teria sido apenas um instrumento de Deus mas
sem natureza divina. A esse ensinamento de Ário aderiram outros bispos e
presbíteros. Sobretudo, o bispo Eusébio de Cesareia, conhecido escritor da igreja,
que se colocou do lado de Ário.

Por outro lado, a doutrina de Ário, ou arianismo, foi prontamente repudiada pelo
restante dos cristãos, que viam nela uma negação do dogma da Encarnação. O

10
repúdio mais radical talvez Ário tenha encontrado no bispo Alexandre de
Alexandria e no diácono Atanásio, que defendiam enfaticamente a divindade de
Cristo. Um sínodo foi convocado e a doutrina do Ário foi excluída da igreja em 318.
Mas o número de seus adeptos já era tão grande que a doutrina não pode ser mais
silenciada. A situação se agravava cada vez mais e, desejoso de resolver de vez a
questão, o imperador Constantino, que recentemente, no ano de 324 d.C., havia se
tornado o imperador também do oriente convoca um concílio ecumênico.

Dado este importante, pois apesar de Constantino agora ser o imperador também
do oriente mostra a independência que os Bispos orientais (a maioria no Concílio)
tinham do seu recente imperador.

Os procedimentos

O concílio foi aberto formalmente a 20 de maio, na estrutura central do palácio


imperial, ocupando-se com discussões preparatórias na questão ariana, em que
Arius, com alguns seguidores, em especial Eusébio de Nicomédia, Teógnis de Nice,
e Maris de Chalcedon, parecem ter sido os principais líderes; as sessões regulares,
no entanto, começaram somente com a chegada do imperador. O imperador abriu
a sessão na condição de presidente de honra e, depois, assistiu às sessões
posteriores, mas a direção das discussões teológicas ficou com as autoridades
eclesiásticas do Concílio.

Nem Eusébio de Cesárea, Sócrates, Sozomenes, Rufino e Gelásio de Cícico,


proporcionam detalhes das discussões teológicas. Rufino nos diz tão somente que
se celebraram sessões diárias, as opiniões de Ario eram escutadas e discutidas
com seriedade, apesar que a maioria se declarava energicamente contra suas
doutrinas.

No início os arianos e os ortodoxos mostraram-se incondescendentes entre si. Os


arianos confiaram a representação de seus interesses a Eusébio de Cesareia, cujo
nível e a eloquência fez uma boa impressão perante o imperador. A sua leitura da
confissão dos arianos provocou uma tempestade de raiva entre os oponentes.

No seu interesse, assim como para sua própria causa, Eusébio, depois de ter
cessado de representar os arianos, apareceu como um mediador. Apresentou o
símbolo (credo) baptismal de Cesareia que acabou por se tornar a base do Credo
niceno.

A votação final, quanto ao reconhecimento da divindade de Cristo, foi um total de


300 votos a favor contra 2 desfavoráveis. A doutrina de Ario foi anatematizada e os
2 Bispos que votaram contra e mantiveram sua posição contrariando a posição do
Concílio foram exilados pelo imperador.

11
A profissão de Fé e os cânones do Concílio de Niceia

O Concílio de Nicéia estabeleceu 20 cânones, os quais darão seqüência ao Credo.


Um breve resumo de seu conteúdo:

Cânon I - Eunucos podem ser recebidos entre os clérigos, mas não serão aceitos
aqueles que se castram.

Cânon II - Aqueles que provieram do paganismo não poderão ser imediatamente


promovidos ao Presbiterato, pois não é de conveniência um neófito sem uma
provação de algum tempo. Mas se depois da ordenação constatou-se que ele
anteriormente pecara, que seja afastado do Clero.

Cânon III - Nenhum deles deverá ter uma mulher em sua causa, exceto sua mãe,
irmã e pessoas totalmente acima de suspeita.

Cânon IV - Um bispo deve ser escolhido por todos os bispos da província ou, no
mínimo, por três, apresentando os restantes seu assentimento por carta; mas a
escolha deve ser confirmada pelo metropolita.

Cânon V - Quem foi excomungado por algum bispo não deve ser restituído por
outro, a não ser que a excomunhão tenha resultado de pusilanimidade ou contenda
ou alguma outra razão semelhante. Para que esse assunto seja resolvido
convenientemente, deverá haver dois sínodos por ano em cada província - um na
Quaresma e o outro no outono.

Cânon VI - O bispo de Alexandria terá jurisdição sobre o Egito, Líbia e Pentápolis;


assim como o bispo Romano sobre o que está sujeito a Roma. Assim, também, o
bispo de Antioquia e os outros, sobre o que está sob sua jurisdição. Se alguém foi
feito bispo contrariamente ao juízo do Metropolita, não se torne bispo. No caso de
ser de acordo com os cânones e com o sufrágio da maioria, se três são contra, a
objeção deles não terá força.

Cânon VII - O bispo de Aélia seja honorificado, preservando-se intactos os direitos


da Metrópole.

Cânon VIII - Se aqueles denominados Cátaros voltarem, que eles primeiro façam
uma profissão de que estão dispostos a entrar em comunhão com aqueles que se
casaram uma segunda vez, e a dar perdão aos que apostataram. E nessas
condições, aquele que estava ordenado continuará no mesmo ministério, assim
como o bispo continuará bispo. Àquele que foi Bispo entre os Cátaros permita-se
que, no entanto, seja um corepíscopo ou goze a honra de um presbítero ou bispo.
Não deverá haver dois bispos numa única igreja.

12
Cânon IX - Quem quer que for ordenado sem exame deverá ser deposto, se depois
vier a ser descoberto que foi culpado de crime.

Cânon X - Alguém que apostatou deve ser deposto, tivessem ou não consciência de
sua culpa os que o ordenaram.

Cânon XI - Os que caíram sem necessidade, ainda que, portanto, indignos de


indulgência, no entanto lhes será concedida alguma indulgência, e eles deverão
ser "genuflectores" por doze anos.

Cânon XII - Aqueles que sofreram violência e indicaram que resistiram, mas depois
caíram na maldade e voltaram ao exército, deverão ser excomungados por dez
anos. Mas, de qualquer modo, a maneira de fazerem penitência deve ser
examinada. O bispo poderá tratar mais brandamente alguém que está fazendo
penitência e se mostrou zeloso em seu cumprimento do que quem foi frio e
indiferente.

Cânon XIII - Os moribundos devem receber a comunhão. Mas se alguém se


recupera, deve ser posto no número daqueles que participam das preces, e
somente com eles.

Cânon XIV - Se alguns dos catecúmenos caíram em apostasia, deverão ser


somente "ouvintes" por três anos; depois poderão orar com os catecúmenos.

Cânon XV - Bispos, presbíteros e diáconos não se transferirão de cidade para


cidade, mas deverão ser reconduzidos, se tentarem fazê-lo, para a igreja para a
qual foram ordenados.

Cânon XVI - Os presbíteros ou diáconos que desertarem de sua própria igreja não
devem ser admitidos em outra, mas devem ser devolvidos à sua própria diocese. A
ordenação deve ser cancelada se algum bispo ordenar alguém que pertence a
outra igreja, sem consentimento do bispo dessa igreja.

Cânon XVII - Se alguém do clero praticar usura ou receber 150% do que emprestou
deve ser excluído e deposto.

Cânon XVIII - Os diáconos devem permanecer dentro de suas atribuições. Não


devem administrar a Eucaristia a presbíteros, nem tomá-la antes deles, nem
sentar-se entre os presbíteros. Pois que tudo isso é contrário ao cânon e à correta
ordem.

Cânon XIX - Os Paulianistas devem ser rebatizados. Se alguns são clérigos e isentos
de culpa devem ser ordenados. Se não parecem isentos de culpa, devem ser
depostos. As diaconisas que se desviaram devem ser colocadas entre os leigos,
uma vez que não compartilham da ordenação.

Cânon XX - Nos dias do Senhor e de Pentecostes, todos devem rezar de pé e não


ajoelhados.

13
Nas atas do Concílio de Niceia, assinadas por todos os bispos participantes, com
exceção dos dois seguidores de Ario, constou o texto da seguinte profissão de Fé:

"Cremos em um só Deus, Pai todo poderoso, Criador de todas as coisas, visíveis e


invisíveis; E em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado do Pai, unigênito,
isto é, da substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial do Pai, por quem todas as coisas
foram feitas no céu e na terra, o qual por causa de nós homens e por causa de
nossa salvação desceu, se encarnou e se fez homem, padeceu e ressuscitou ao
terceiro dia, subiu aos céus e virá para julgar os vivos e os mortos; E no Espírito
Santo. Mas quantos àqueles que dizem: 'existiu quando não era' e 'antes que
nascesse não era' e 'foi feito do nada', ou àqueles que afirmam que o Filho de Deus
é uma hipóstase ou substância diferente, ou foi criado, ou é sujeito à alteração e
mudança, a estes a Igreja Católica anatematiza".

O Concílio

Segundo Helena Blavatsky uma névoa de mistério envolve este concílio, o qual “…
pode muito bem ser chamado de misterioso. Havia mistério, em primeiro lugar, no
número místico dos seus 318 5 bispos, a que Barnabé deu muita importância; além
disso não há concordância entre os escritores antigos quanto à época e ao local de
realização dessa reunião, nem mesmo sobre quem seria o bispo que a presidiu” 6.
Não obstante, os frutos da realização deste concílio marcaram de forma indelével o
curso da nossa civilização.

Segundo a história oficial da Igreja Católica, o concilio terá sido presidido pelo
próprio Imperador Constantino, e nele terá estado presente Eusébio de Cesareia,
um dos maiores apoiantes da Ortodoxia, que mais tarde reescreveu a história da
Igreja, segundo a perspectiva do Cristianismo Imperial de Constantino.

Deve-se a este concílio duas ferramentas chave da teologia da igreja Católica:

A decisão de quais, entre os muitos Evangelhos existentes, eram inspirados pelo


Divino, ou seja, a selecção dos Evangelhos oficiais (e a subsequente erradicação de
todos os escritos considerados apócrifos);

A formulação Oficial da Doutrina da Trindade, em que a Igreja rejeita o principio


“Ariano” (de Arius) e afirma que Jesus é da mesma substância (ou seja, é a mesma
entidade) que Deus.

Consequentemente, o Credo de Niceia foi redigido e modificado (nele se inserindo


várias redundâncias) de forma a identificar o Pai com o Filho. Quem discordou, foi
pura e simplesmente perseguido pelo imperador.

14
Ainda durante os vários séculos posteriores, os concílios defenderam as visões
mais antagónicas e contraditórias sobre a Doutrina da Trindade, visando reforçar
cada vez mais a ideia da identidade de Jesus como Deus Absoluto, e o consequente
afastamento do Homem e do ideal do Cristo. É exemplo a proclamação de Maria,
mãe de Jesus, como “Theotokos” – mãe de Deus – no Concílio de Éfeso realizado
em 431 DC.

O Concílio – a seleção dos Evangelhos

Quanto à selecção dos Evangelhos, diz-nos HBP na sua obra “Ísis sem Véu”:

“Todo o atual dogmatismo religioso da Igreja se deve à Sortes Sanctorum, a prática


de lançar à sorte alguma coisa com o fim da adivinhação, exercida pelo clero
cristão primitivo e medieval. Não sendo capazes de concordar quais dos numerosos
Evangelhos seriam os mais divinamente inspirados, foi resolvido no concílio de
Nicea deixar a decisão nas mãos da intervenção milagrosa” 7. Como tal, os actuais
Evangelhos Canónicos são estes e não outros devido à Sortes Sanctorum.

Curiosamente esta prática de adivinhação era considerada uma prática sagrada, se


feita pelo clero cristão primitivo e medieval. Porém, se exercido por leigos, hereges
ou pagãos o sortes sanctorum convertia-se, se acreditarmos nos piedosos padres,
em sortes diabolurum ou sortilégio (feitiçaria) 8.

Ainda segundo Helena Blavatsky, “… Pappus diz-nos no seu Synodicon daquele


Concilio: ‘Depois de terem promiscuamente colocado todos os livros que tinham
sido referidos para determinação ao Concílio sob a mesa de comunhão de uma
Igreja, eles (os Bispos) imploraram ao Senhor para que os livros inspirados fossem
parar em cima da mesa, e assim sucedeu (…) Com base na autoridade das
testemunhas eclesiásticas, portanto, tomamos a liberdade de dizer que o mundo
cristão deve a sua ‘Palavra de Deus’ a um processo adivinhatório, pelo qual a
Igreja, em seguida, condenou vítimas infelizes como conjuradores, encantadores,
mágicos, feiticeiros e vaticinadores e os queimou aos milhares. Falando desse
fenómeno verdadeiramente divino da escolha dos manuscritos, os padres da Igreja
dizem que o próprio Deus preside ao Sortes”’ 9.

Refira-se que, nos primeiros séculos do Cristianismo. os Evangelhos teriam


chegado a ser mais de 300. A sua redução para somente 4, decorrente do Concílio
de Niceia, e o facto de se conhecerem hoje mais de 60 Evangelhos ditos
“apócrifos” (como os de Tomé, de Pedro, de Filipe, de Tiago, dos Doze Apóstolos,
dos Hebreus, etc.) vem demonstrar o papel preponderante da Igreja Católica na
eliminação e adulteração dos primeiros escritos cristãos. Adicionalmente, sabe-se
que os diversos grupos de Cristãos Gnósticos, de que são exemplo os Ebionitas e
os Nazarenos, tinham os seus próprios Evangelhos, muito diferentes dos textos
seleccionados sob os auspícios de Constantino.

15
Reforçando a incoerência de todo este processo, e de acordo com um dos
compiladores da obra “Apócrifos, os Proscritos da Bíblia”, houve textos que, não
obstante eliminados da Bíblia Romana, viriam mais tarde a ser nela reintegrados,
como são exemplos o Livro da Sabedoria (atribuído a Salomão), o Eclesiástico ou
Sirac, as Odes de Salomão, o Livro de Tobias, o Livro de Macabeus, e outros mais.
Outra parte de escritos veterotestamentários ficou, no entanto, de fora, como o
famoso Livro de Enoch, o Livro da Ascensão de Isaías, e os Livros III e IV dos
Macabeus.

O Concílio – o Credo Niceno

Para prover a nova religião de origens divinas, os Bispos reconstruíram um credo


existente, enfatizando a consubstanciação do Filho com o Pai, de Jesus com Deus:

“Creio em Deus Pai Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra, e de todas as coisas
visíveis e invisíveis;

E em um Senhor Jesus Cristo, filho unigénito de Deus, gerado de Seu Pai antes de
todos os tempos, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro,
gerado e não criado, consubstancial ao Pai (…)”

De facto, como já foi dito, um dos dois pontos na agenda do Concílio, foi a
discussão sobre a natureza de Cristo e a natureza da sua relação com Deus: se o
Pai tinha existido antes do Filho, e se Pai e Filho eram da mesma natureza ou
“apenas” de natureza semelhante. A discussão centrou-se à volta de uma variação
da palavra grega “homos”: em grego a palavra “homos” significa da mesma
natureza ou substância, consubstancial. No entanto, adicionando um “i” à palavra –
“homoios” – passa a significar de natureza semelhante. Decidiram os Bispos que o
termo correcto para designar Jesus seria, na língua Grega, “homos”, ou seja,
consubstancial.

A Trindade de Hipóstases divinas existente no Hinduísmo e no antigo Egito, assim


como em todos os sistemas religiosos e filosóficos arcaicos 10, foi assim decalcada
e antropomorfizada. Consequentemente o Concílio decidiu que a Trindade Cristã
seria constituída por Três Pessoas: o Pai, o Filho (Jesus) e o Espírito Santo, e que
Jesus, o Filho, era consubstancial a Deus.

Nos Mistérios e religiões arcaicas que antecederam a Cristandade, era bem


conhecido que o termo “Filho de Deus” se usava para designar o grau de Iniciação
nos mais altos Mistérios, a realização da sua natureza divina por parte do iniciado.
Quando um aspirante alcançava, através da Iniciação, de grandes provas e
sofrimentos, um elevado estado de perfeição, o seu nome era transformado em
Christos, o “purificado” 11. Para a generalidade dos grupos Gnósticos, Jesus era a
Sabedoria e a palavra de Deus em virtude da sua indissolúvel união com o Verbo.

16
Cristo, filho de Deus, corresponde analogicamente ao segundo Aspecto do Logos e
o princípio Cristico, ou Buddhi, no homem.

Como é óbvio, estas considerações metafísicas por muito enriquecedoras do ponto


de vista do conhecimento religioso-filosófico que fossem, não beneficiavam em
nada o poder e a autoridade da classe eclesiástica, que se começava a formar no
Império através do domínio da facção ortodoxa nas paróquias.

Se os padres da Igreja Ortodoxa fizessem a distinção entre a preexistência da alma


de Jesus (ou Jesus homem) e o Cristo ao qual ele ascendeu, isso implicava
obviamente que qualquer alma podia, da mesma forma que Jesus, vir a identificar-
se com o Filho e, portanto, a progredir na direcção de uma União com a Divindade.
O poder e a autoridade do Clero, como únicos mediadores entre Deus e o Homem,
seriam, desta forma, ameaçados.

Os padres tomaram portanto a direcção contrária – uma direcção que lhes


permitisse o controlo absoluto dos seus crentes, um movimento na direcção da
absoluta deificação de Jesus.

Em oposição, vários Bispos favoráveis às teses de Arius apresentaram um outro


credo ao concilio, o qual foi rasgado, resultando na excomunhão de Arius. O livro
de Arius foi igualmente queimado no próprio concílio. Uma confissão de fé (o Credo
Niceno) foi então escrita no concílio e assinada por todos os presentes, de acordo
com ordem dada por Constantino. Todos os que se recusaram a assinar o Credo,
foram banidos.

O Credo subscrito em Niceia é muito mais do que a afirmação da Divindade de


Jesus: é também a afirmação da nossa separação de Cristo e do Divino.

Entretanto, curiosamente, o Credo Niceno é também visto por alguns estudiosos


como um simples (mas pouco lúcido) desenvolvimento da fórmula “O Buddha, A
Lei, A Comunidade Monástica (Buddha, Dharma, Sangha), tendo sido o Concílio o
momento em que o Cristianismo rompeu definitivamente com o Budismo
eclesiástico, visto que os Essenos, os Terapeutas e os Gnósticos são identificados
como o resultado da fusão entre o pensamento Indiano e Semítico, demonstrado
por comparação entre a vida de Jesus e Buddha. Na parte lendária, ambas as
histórias são idênticas. A parte lendária é contrastada com a característica
correspondente noutras religiões, principalmente com a história Védica do
Visvakarman” 12.

Aliás, são patentes as similaridades do Credo Niceno com a antiga doutrina Hindu.
Krishna era considerado como a incarnação de Visnhu, cuja função era análoga à
Segunda Pessoa da Trindade Cristã. No Bhagavad-Gita (datado aproximadamente
de 250 AC), o mesmo Krishna é representado como a suprema personificação de
Brahman – a divindade suprema que desce para iluminar o homem e contribuir
para a sua salvação. Isto vem evidenciar, uma vez mais, que o Credo proposto pela
facção ortodoxa e feito assinar pelos Bispos em Niceia resultou de uma amálgama

17
fabricada com elementos de outras doutrinas mais antigas, adaptadas aos
interesses e objectivos da nova religião imperial.

Posteriormente, ao longo da História da Igreja Católica, e no decorrer de vários


concílios, foram também adicionadas ao Credo Niceno diversas outras referências
reflectindo a constante adaptação da religião fabricada, nomeadamente a inclusão
da passagem “… e encarnou pelo Espírito Santo na Virgem Maria…” e “… também
por nós foi crucificado e sob Pôncio Pilatos”, numa clara tentativa de enfatizar um
elemento Histórico na vida literal de Jesus, justamente por ser um elemento
controvertido” 13.

Conclusão

Como vimos, a política do Império Romano foi lentamente assimilada na Igreja,


sendo formulada uma religião totalitária com o nome de Catolicismo Romano. A
ascensão de Constantino foi um período de grande crescimento da Igreja, com o
criar da religião oficial do Império.

Vimos também que no concilio de Niceia se dão os primeiros passos no sentido de


construir os alicerces da teologia desta igreja oficial: são “sorteados” os
Evangelhos “Divinamente” inspirados, e Jesus Cristo é oficialmente declarado como
Deus.
Após este acto, haverá sempre, para muitos, um abismo entre a humanidade e
Cristo. De acordo com os padres pós-Niceia, Jesus é o próprio Deus Eterno
Imanifestado e Absoluto. Também a noção de “Iniciação” é eliminada. As doutrinas
gnósticas e esotéricas, cujos ensinamentos incidiam na evolução espiritual,
tornaram-se supérfluas e indesejáveis. A teologia resultante do Credo Niceno
promoveu uma passividade em que, de acordo com aquela fórmula, qualquer
pessoa tem apenas que aceitar o credo, partilhar dos sacramentos, obedecer aos
Bispos e à Igreja, bem como às decisões dos concílios, e será “salvo”.
Este concílio e as doutrinas daí advenientes prepararam também o terreno no qual
floresceram as doutrinas do pecado original e do Inferno Eterno, contribuindo para
a degradação e aviltamento da humanidade.

Vimos ainda que o triunfo do Cristianismo não pode ser separado da influência
politica do Império Romano. Ao promover o casamento entre igreja e estado, os
líderes da igreja tornaram-se monarcas e Constantino foi quase foi considerado um
santo. Consequentemente, uma das grandes preocupações da Igreja foi (não a
teologia) mas a eliminação de todos os elementos que se atravessaram na
obtenção do poder absoluto. A partir daqui e até 1798 (quando os exércitos de
Napoleão entraram em Roma), o Papa e as Monarquias governaram em uníssono.

18
Quando Constantino morreu, em 337, foi Baptizado (ironicamente só no seu leito
de morte e por um seguidor de Arius) e enterrado na consideração que se tornara
um décimo terceiro apóstolo. Na iconografia eclesiástica foi representado como
recebendo uma coroa da mão de Deus…

O Concilio de Nicéia - outra visão

Por Paty Witch Maeve 09/04/2010 - 325 D.C ? É realizado o Concílio de Nicéia, atual
cidade de Iznik, província de Anatólia (nome que se costuma dar à antiga Ásia
Menor ), na Turquia asiática. A Turquia é um país euro-asiático, constituído por uma
pequena parte européia, a Trácia, e uma grande parte asiática, a Anatólia. Este foi
o primeiro Concílio Ecumênico da Igreja, convocado pelo Imperador Flavius Valerius
Constantinus (285 - 337 d.C), filho de Constâncio I. Quando seu pai morreu em 306,
Constantino passou a exercer autoridade suprema na Bretanha, Gália ( atual
França ) e Espanha. Aos poucos, foi assumindo o controle de todo o Império
Romano. Desde Lúcio Domício Aureliano (270 - 275 d.C.), os Imperadores tinham
abandonado a unidade religiosa, com a renúncia de Aureliano a seus "direitos
divinos", em 274. Porém, Constantino, estadista sagaz que era, inverteu a política
vigente, passando, da perseguição aos cristãos, à promoção do Cristianismo,
vislumbrando a oportunidade de relançar, através da Igreja, a unidade religiosa do
seu Império. Contudo, durante todo o seu regime, não abriu mão de sua condição
de sumo-sacerdote do culto pagão ao "Sol Invictus". Tinha um conhecimento
rudimentar da doutrina cristã e suas intervenções em matéria religiosa visavam, a
princípio, fortalecer a monarquia do seu governo.

Na verdade, Constantino observara a coragem e determinação dos mártires


cristãos durante as perseguições promovidas por Diocleciano, em 303. Sabia que,
embora ainda fossem minoritários ( 10% da população do império ), os cristãos se
concentravam nos grandes centros urbanos, principalmente em território inimigo.
Foi uma jogada de mestre, do ponto de vista estratégico, fazer do Cristianismo a
Religião Oficial do Império : Tomando os cristãos sob sua proteção, estabelecia a
divisão no campo adversário. Em 325, já como soberano único, convocou mais de
300 bispos ao Concílio de Nicéia. Constantino visava dotar a Igreja de uma doutrina
padrão, pois as divisões, dentro da nova religião que nascia, ameaçavam sua
autoridade e domínio. Era necessário, portanto, um Concílio para dar nova
estrutura aos seus poderes.

E o momento decisivo sobre a doutrina da Trindade ocorreu nesse Concílio.


Trezentos Bispos se reúnem para decidir se Cristo era um ser criado (doutrina de
Arius) ou não criado, e sim igual e eterno como Deus Seu Pai (doutrina de
Atanásio). A igreja acabou rejeitando a idéia ariana de que Jesus era a primeira e
mais nobre criatura de Deus, e afirmou que Ele era da mesma "substância" ou
"essência" (isto é, a mesma entidade existente) do Pai.

19
Assim, segundo a conclusão desse Concílio, há somente um Deus, não dois; a
distância entre Pai e Filho está dentro da unidade divina, e o Filho é Deus no
mesmo sentido em que o Pai o é. Dizendo que o Filho e o Pai são "de uma
substância", e que o Filho é "gerado" ("único gerado, ou unigênito", João 1. 14,18;
3. 16,18, e notas ao texto da NVI), mas "não feito", o Credo Niceno, estabelece a
Divindade do homem da Galiléia, embora essa conclusão não tenha sido unânime.
Os Bispos que discordaram, foram simplesmente perseguidos e exilados. Com a
subida da Igreja ao poder, discussões doutrinárias passaram a ser tratadas como
questões de Estado. E na controvérsia ariana, colocava-se um obstáculo grande à
realização da idéia de Constantino de um Império universal que deveria ser
alcançado com a uniformidade da adoração divina.

O Concílio foi aberto formalmente a 20 de maio, na estrutura central do palácio


imperial, ocupando-se com discussões preparatórias na questão ariana, em que
Arius , com alguns seguidores, em especial Eusébio , de Nicomédia; Teógnis, de
Nice, e Maris, de Chalcedon, parecem ter sido os principais líderes. Como era
costume, os bispos orientais estavam em maioria. Na primeira linha de influência
hierárquica estavam três arcebispos : Alexandre, de Alexandria; Eustáquio, de
Antioquia e Macário, de Jerusalém, bem como Eusébio, de Nicomédia e Eusébio, de
Cesaréia. Entre os bispos encontravam-se Stratofilus, bispo de Pitiunt (Bichvinta,
reino de Egrisi). O ocidente enviou não mais de cinco representantes na proporção
relativa das províncias : Marcus, da Calabria (Itália) ; Cecilian, de Cartago (África) ;
Hosius, de Córdova (Espanha); Nicasius, de Dijon (França) e Domnus, de Stridon
(Província do Danúbio). Apenas 318 bispos compareceram, o que equivalia a
apenas uns 18% de todos os bispos do Império. Dos 318, poucos eram da parte
ocidental do domínio de Constantino, tornando a votação, no mínimo, tendenciosa.
Assim, tendo os bispos orientais como maioria e a seu favor, Constantino aprovaria
com facilidade, tudo aquilo que fosse do seu interesse. As sessões regulares, no
entanto, começaram somente com a chegada do Imperador. Após Constantino ter
explicitamente ordenado o curso das negociações, ele confiou o controle dos
procedimentos a uma comissão designada por ele mesmo, consistindo
provavelmente nos participantes mais proeminentes desse corpo.

O Imperador manipulou, pressionou e ameaçou os partícipes do Concílio para


garantir que votariam no que ele acreditava, e não em algum consenso a que os
bispos chegassem. Dois dos bispos que votaram a favor de Arius foram exilados e
os escritos de Arius foram destruídos. Constantino decretou que qualquer um que
fosse apanhado com documentos arianistas estaria sujeito à pena de morte. Mas a
decisão da Assembléia não foi unânime, e a influência do imperador era
claramente evidente quando diversos bispos de Egito foram expulsos devido à sua
oposição ao credo. Na realidade, as decisões de Nicéia foram fruto de uma minoria.
Foram mal entendidas e até rejeitadas por muitos que não eram partidários de
Ário.

Posteriormente, 90 bispos elaboraram outro credo (O "Credo da Dedicação") em,


341, para substituir o de Nicéia. (...) E em 357, um Concílio em Smirna adotou um
credo autenticamente ariano. Portanto, as orientações de Constantino nessa etapa

20
foram decisivas para que o Concílio promulgasse o credo de Nicéia, ou a Divindade
de Cristo, em 19 de Junho de 325. E com isso, veio a conseqüente instituição a
Santíssima Trindade e a mais discutida, ainda, a instituição do Espírito Santo, o que
redundou em interpolações e cortes de textos sagrados, para se adaptar a Bíblia às
decisões do conturbado Concílio e outros, como o de Constantinopla, em 38l, cujo
objetivo foi confirmar as decisões daquele. A concepção da Trindade, tão obscura,
tão incompreensível, oferecia grande vantagem às pretensões da Igreja. Permitia-
lhe fazer de Jesus Cristo um Deus. Conferia a Jesus, que ela chama seu fundador,
um prestígio, uma autoridade, cujo esplendor recaia sobre a própria Igreja católica
e assegurava o seu poder, exatamente como foi planejado por Constantino. Essa
estratégia revela o segredo da adoção trinitária pelo concílio de Nicéia. Os teólogos
justificaram essa doutrina estranha da divinização de Jesus, colocando no Credo a
seguinte expressão sobre Jesus Cristo : ?Gerado, não criado?. Mas, se foi gerado,
Cristo não existia antes de ser gerado pelo Pai. Logo, Ele não é Deus, pois Deus é
eterno!

Espelhando bem os novos tempos, o Credo de Nicéia não fez qualquer referência
aos ensinamentos de Jesus. Faltou nele um "Creio em seus ensinamentos", talvez
porque já não interessassem tanto a uma religião agora sócia do poder Imperial
Romano. Mesmo com a adoção do Credo de Nicéia, os problemas continuaram e,
em poucos anos, a facção arianista começou a recuperar o controle. Tornaram-se
tão poderosos que Constantino os reabilitou e denunciou o grupo de Atanásio. Arius
e os bispos que o apoiavam voltaram do exílio. Agora, Atanásio é que foi banido.
Quando Constantino morreu ( depois de ser batizado por um bispo arianista), seu
filho restaurou a filosofia arianista e seus bispos e condenou o grupo de Atanásio.
Nos anos seguintes, a disputa política continuou, até que os arianistas abusaram
de seu poder e foram derrubados. A controvérsia político/religiosa causou violência
e morte generalizadas. Em 381 d.C, o imperador Teodósio (um trinitarista)
convocou um concílio em Constantinopla. Apenas bispos trinitários foram
convidados a participar. Cento e cinqüenta bispos compareceram e votaram uma
alteração no Credo de Nicéia para incluir o Espírito Santo como parte da divindade.
A doutrina da Trindade era agora oficial para a Igreja e também para o Estado. Com
a exclusiva participação dos citados bispos, a Trindade foi imposta a todos como
"mais uma verdade teológica da igreja". E os bispos, que não apoiaram essa tese,
foram expulsos da Igreja e excomungados.

Tudo isso nos leva a crer que o homem chamado "Jesus Cristo" na maneira descrita
nos Evangelhos nunca existiu. Suas peripécias são fictícias; não padeceu sob
nenhum Pôncio Pilatos; não foi nem poderia jamais ser a única Encarnação do
Verbo; e qualquer Igreja, seita ou pessoa que diga o contrário ou está enganada ou
enganando. Não quero dizer com isto que um homem assim não pudesse ter
nascido, pregado e padecido. Segundo a Doutrina Teosófica, teria existido um
homem chamado Joshua Ben Pandira. Tais homens nascem continuamente, e
continuarão a nascer por todos os tempos: Encarnações do Logos, Templos do
Espírito Santo, Cruzes de Matéria coroadas pela Chama do Espírito.

21
Direi mais: Houve, em certa ocasião, um homem que alcançou no mais alto grau a
consciência de sua própria Divindade; e este homem morreu em circunstâncias
análogas (porém não idênticas!) àquelas narradas nos Evangelhos. Seu nascimento
perdeu-se na noite dos tempos: ele foi o original do "Enforcado" ou "Sacrifício" no
Tarô, e os egípcios o conheciam pelo nome de Osíris. Foi esse Iniciado quem
formulou na carne a fórmula do Deus Sacrificado. Esta é a fórmula da Cerimônia da
Morte de Asar na Pirâmide, que foi reproduzida nos mistérios de fraternidades
maçônicas da tradição de Hiram, das quais o exemplo mais perfeito foi o Antigo e
Aceito Rito Escocês. O Grau 33° desse rito indicava uma Encarnação do Logos, a
descida do Espírito Santo; a manifestação, na carne, de um Cristo; a presença do
Deus Vivo. Por volta do século IX, o credo já estava estabelecido na Espanha,
França e Alemanha. Tinha levado séculos desde o tempo de Cristo para que a
doutrina da Trindade "pegasse". As políticas do governo e da Igreja foram as razões
que levaram a Trindade a existir e se tornar a doutrina oficial da Igreja. Como se
pode observar, a doutrina trinitária resultou da mistura de fraude, política, um
imperador pagão e facções em guerra que causaram mortes e derramamento de
sangue. As Igrejas Cristãs hoje em dia dizem que Constantino foi o primeiro
Imperador Cristão, mas seu "cristianismo" tinha motivação apenas política. É
altamente duvidoso que ele realmente aceitasse a Doutrina Cristã. Ele mandou
matar um de seus filhos, além de um sobrinho, seu cunhado e possivelmente uma
de suas esposas. Ele manteve seu título de alto sacerdote de uma religião pagã até
o fim da vida e só foi batizado em seu leito de morte. ************ OBS.: Em 313
d.C., com o grande avanço da "Religião do Carpinteiro", o Imperador Constantino
Magno enfrentava problemas com o povo romano e necessitava de uma nova
Religião para controlar as massas. Aproveitando-se da grande difusão do
Cristianismo, apoderou-se dessa Religião e modificou-a, conforme seus interesses.
Alguns anos depois, em 325 D.C, no Concílio de Nicéia, é fundada, oficialmente, a
Igreja Católica...

O Concilio de Nicéia - Parte 3

Há que se ressaltar que, "Igreja" na época de Jesus, não era a "Igreja" que
entendemos hoje, pois se lermos os Evangelhos duma ponta à outra veremos que a

22
palavra «Igreja», no sentido que hoje lhe damos, nem sequer neles é mencionada
exceto por aproximação e apenas três vezes em dois versículos no Evangelho de
Mateus (Mt 16, 18 e Mt 18, 17), pois a palavra grega original, usada por Mateus,
ekklêsia, significa simplesmente «assembléia de convocados», neste caso a
comunidade dos seguidores da doutrina de Jesus, ou a sua reunião num local,
geralmente em casas particulares onde se liam as cartas e as mensagens dos
apóstolos.

Sabemo-lo pelo testemunho de outros textos do Novo Testamento, já que os


Evangelhos a esse respeito são omissos. Veja-se, por exemplo, a epístola aos
Romanos (16,5) onde Paulo cita o agrupamento (ekklêsia) que se reunia na
residência dum casal de tecelões, ...

Áquila e Priscila, ou a epístola a Filémon (1, 2) onde o mesmo Paulo saúda a


ekklêsia que se reunia em casa do dito Filémon ; num dos casos, como lemos na
epístola de Tiago (2, 2), essa congregação cristã é designada por «sinagoga». Nada
disto tem a ver, portanto, com a imponente Igreja católica enquanto instituição
formal estruturada e oficializada, sobretudo a partir do Concílio de Nicéia, presidido
pelo Imperador Constantino, mais de 300 anos após a morte de Cristo. Onde
termina a IGREJA PRIMITIVA dos Atos dos Apóstolos e começa o Catolicismo
Romano?

Quando Roma tornou-se o famoso império mundial, assimilou no seu sistema os


deuses e as religiões dos vários países pagãos que dominava. Com certeza, a
Babilônia era a fonte do paganismo desses países, o que nos leva a constatar que a
religião primitiva da Roma pagã não era outra senão o culto babilônico. No decorrer
dos anos, os Líderes da época começaram a atribuir a si mesmos, o poder de
"senhores do povo" de Deus, no lugar da Mensagem deixada por Cristo. Na época
da Igreja Primitiva, os verdadeiros Cristãos eram jogados aos leões. Bastava se
recusar a seguir os falsos ensinamentos e o castigo vinha a galope. O paganismo
babilônico imperava a custa de vidas humanas. No ano 323 d.C, o Imperador
Constantino professou conversão ao Cristianismo. As ordens imperiais foram
espalhadas por todo o império:

As perseguições deveriam cessar! Nesta época, a Igreja começou a receber


grandes honrarias e poderes mundanos. Ao invés de ser separada do mundo, ela
passou a ser parte ativa do sistema político que governava. Daí em diante, as
misturas do paganismo com o Cristianismo foram crescendo, principalmente em
Roma, dando origem ao Catolicismo Romano. O Concílio de Nicéia, na Ásia Menor,
presidido por Constantino era composto pelos Bispos que eram nomeados pelo
Imperador e por outros que eram nomeados por Líderes Religiosos das diversas
comunidades. Tal Concílio consagrou oficialmente a designação "Católica" aplicada
à Igreja organizada por Constantino : "Creio na igreja una, santa, católica e
apostólica". Poderíamos até mesmo dizer que Constantino foi seu primeiro Papa.
Como se vê claramente, a Igreja Católica não foi fundada por Pedro e está longe de
ser a Igreja primitiva dos Apóstolos...

23
Os documentos incluídos no assim-chamado "Novo Testamento" (a saber, os
Quatro Evangelhos, os Atos, as Cartas e o Apocalipse) seriam falsificações
perpetradas pelos patriarcas da Igreja Romana na época de Constantino, por eles
chamado "o Grande" porque permitiu esta contrafação, colaborando com ela.

Constantino não teve sonho algum de "In Hoc Signo Vinces". Tais lendas teriam
então sido inventadas pelos patriarcas romanos dos três séculos que se seguiram,
durante os quais todos os documentos dos primórdios da assim-chamada "era
Cristã" existentes nos arquivos do Império Romano foram completamente
alterados. O que realmente aconteceu na época de Constantino, foi que, aliados os
presbíteros de Roma e Alexandria, com a cumplicidade dos patriarcas das igrejas
locais, dirigiram-se ao Imperador, fizeram-lhe ver que a religião oficial era seguida
apenas por uma minoria de patrícios, que a quase totalidade da população do
Império era cristã (pertencendo às várias seitas e congregações das províncias);
que o Império se estava desintegrando devido a discrepância entre a fé do povo e
a dos patrícios; que as investidas constantes de seitas guerreiras essênias da
Palestina incitavam as províncias contra a autoridade de Roma; e que, resumindo,
a única forma de Constantino conservar o Império seria aceitar a versão Romano-
Alexandrina do Cristianismo. Então, os bispos aconselhariam o povo a cooperar
com ele; em troca, Constantino ajudaria os bispos a destruírem a influência de
todas as outras seitas cristãs! Constantino aceitou este pacto político, tornando a
versão Romano-Alexandrina do Cristianismo na religião oficial do Império.
Conseqüentemente, a liderança religiosa passou às mãos dos patriarcas Romano-
Alexandrinos, que, auxiliados pelo exército do Imperador, começaram uma
"purgação" bem nos moldes daquelas da Rússia moderna. Os cabeças das seitas
cristãs independentes foram aprisionados; seus templos, interditados; e
congregações inteiras foram sacrificadas nas arenas das províncias de Roma e
Alexandria. Os gnósticos gregos, herdeiros dos Mistérios de Elêusis, foram
acusados de práticas infames por padres castrados como Orígenes e Irineu (a
castração era um método singular de preservar a castidade, derivado do culto de
Átis, do qual se originou a psicologia Romano-Alexandrina). Os essênios foram
condenados através do hábil truque de fazer dos judeus os vilões do Mistério da
Paixão; e com a derrota e dispersão finais dos judeus pelos quatro cantos do
Império, a Igreja Romano-Alexandrina respirou desafogada e pode dedicar-se
completamente ao que tem sido sua especialidade desde então: AJUDAR OS
TIRANOS DO MUNDO A ESCRAVIZAREM OS HOMENS LIVRES.

Em resumo: Por influência dos imperadores Constantino e Teodósio, o Cristianismo


tornou-se a religião oficial do Império Romano e entrou no desvio. Institucionalizou-
se; surgiu o profissionalismo religioso; práticas exteriores do paganismo foram
assimiladas; criaram-se ritos e rezas, ofícios e oficiantes. Toda uma estrutura
teológica foi montada para atender às pretensões absolutistas da casta sacerdotal
dominante, que se impunha aos fiéis com a draconiana afirmação : "Fora da Igreja
não há salvação". Além disso, Constantino queria um Império unido e forte, sem
dissensões. Para manter o seu domínio sobre os homens e estabelecer a ditadura
religiosa, as autoridades eclesiásticas romanas deviam manter a ignorância sobre
as filosofias e Escrituras. A mesma Bíblia devia ser diferente. Devia exaltar Deus e

24
os Patriarcas mas, também, um Deus forte, para se opor ao próprio Jeová dos
Hebreus, ao Buda, aos poderosos deuses do Olimpo. Era necessário trazer a
Divindade Arcaica Oriental, misturada às fábulas com as antigas histórias de
Moisés, Elias, Isaías, etc., onde colocaram Jesus, não mais como Messias ou Cristo,
mas, maliciosamente, colocou Jesus parafraseado de divindade no lugar de Jezeu
Cristna, a segunda pessoa da trindade arcaica do Hinduísmo. Nesse quadro de
ambições e privilégios, não havia lugar para uma doutrina que exalta a
responsabilidade individual e ensina que o nosso futuro está condicionado ao
empenho da renovação interior e não à simples adesão e submissão incondicional
aos Dogmas de uma Igreja, os quais, para uma perfeita assimilação, eram
necessários admitir a quintessência da teologia : "Credo quia absurdum", ou seja,
"Acredito mesmo que seja absurdo", criada por Tertuliano (155-220), apologista
Cristão.

Disso tudo deveria nascer uma religião forte como servia ao império romano. Veio
ainda a ser criados os simbolismos da Sagrada Família e de todos os Santos, mas
as verdades do real cânone do Novo Testamento e parte das Sagradas Escrituras
deviam ser suprimidas ou ocultadas, inclusive as obras de Sócrates e outras
Filosofias contrárias aos interesses da Igreja que nascia. Esta lógica foi adotada
pelas forças clericais mancomunadas com a política romana, que precisava desta
religião, forte o bastante, para impor-se aos povos conquistados e reprimidos por
Roma, para assegurar-se nas regiões invadidas, onde dominava as terras, mas não
o espírito dos povos ocupados. Em troca, o Cristianismo ganhava a Universalidade,
pois queria se tornar "A Religião Imperial Católica Apostólica Romana", a Toda
Poderosa, que vinha a ser sustentada pela força, ao mesmo tempo em que
simulava a graça divina, recomendando o arrependimento e perdão, mas que na
prática, derrotava seus inimigos a golpes de espada. Então não era da tolerância
pregada pelo Cristianismo que Constantino precisava, mas de uma religião
autoritária, rígida, sem evasivas, de longo alcance, com raízes profundas no
passado e uma promessa inflexível no futuro, estabelecida mediante poderes, leis
e costumes terrenos. Para isso, Constantino devia adaptar a Religião do
Carpinteiro, dando-lhes origens divinas e assim impressionaria mais o povo o qual
sabendo que Jesus era reconhecido como o próprio Deus na nova religião que
nascia, haveria facilidade de impor a sua estrutura hierárquica, seu regime
monárquico imperial, e assim os seus poderes ganhariam amplos limites, quase
inatingíveis. Quando Constantino morreu, em 337, foi batizado e enterrado na
consideração de que ele se tornara um décimo terceiro Apóstolo, e na iconografia
eclesiástica veio a ser representado recebendo a coroa das mão de Deus.

Resumindo, isso é a própria história de terror abafada pela fé cristã. E... nós somos
o lado negro da história?

Os 21 Concílios Ecumênicos

25
A guisa de recapitulação de toda a história da Igreja, apresentamos uma síntese da
história dos Concílios.

1 - Concílio de Nicéia I (325)

O primeiro Concílio Ecumênico foi o de Nicéia I, reunido de 26/05 a 25/07/325.


Desde o Século II, os cristãos voltaram a sua atenção para as verdades da fé
reveladas pelo Evangelho, procurando penetrar-lhes o sentido. Sem dúvida, uma
das que mais se impunham a reflexão dos fiéis, era a questão do relacionamento
de Jesus Cristo com Deus Pai ou com o único Deus (revelado no Antigo
Testamento): seria Jesus realmente Deus ou apenas criatura?&& Após correntes
que concebiam Jesus como inferior ao Pai, o presbítero Ario de Alexandria em 312
começou a ensinar que o Logos (ou o Filho) era, como criatura, subordinado ao Pai;
daí os nomes de sua escola: arianismo ou subordinacionismo. O Imperador
Constantino, que concedera a paz aos cristãos mediante o Edito de Milão em 313,
quis contribuir para a solução da controvérsia teológica assim originada,
convocando um Concílio universal para Nicéia (Ásia Menor) em 325. O Papa S.
Silvestre, idoso como era, fez-se representar na assembléia, dando-lhe a
autoridade legítima. Os padres conciliares, após acalorados debates.

1) definiram que o Filho de Deus é consubstancial (homoousious) ao Pai - o que


significa que não é criado, mas compartilha a essência do Pai (ou a Divindade).
Esta verdade foi expressa no Símbolo de Nicéia;

2) fixaram a data de Páscoa, que seria celebrada no primeiro domingo após a


primeira lua cheia da Primavera;

3) estabeleceram a ordem de dignidade dos Patriarcados:Roma, Alexandria,


Antioquia, Jerusalém. O Papa S. Silvestre confirmou as decisões do Concílio.

2 - Concílio de Constantinopla I (381)

Após a controvérsia sobre a divindade do Logos, os cristãos se voltaram para a do


Espírito Santo: houve quem professasse ser o Espírito Santo mera criatura. O
arauto principal desta tese foi Macedônio, bispo de Constantinopla; donde o nome
de Macedonismo ou Pneumatomaquismo que Ihe foi dado. O lmperador Teodósio
(379-395), zeloso da reta fé, houve por bem convocar novo Concílio Ecumênico
desta vez para Constantinopla. Esta assembléia reuniu-se de maio a julho de 381.
Firmou três decisões principais:

1) O Espírito Santo é Deus, da mesma substância que o Pai e o Filho. Em


conseqüência, o Símbolo de fé Niceno foi completado com as palavras: “Cremos no

26
Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, que é adorado e
glorificado com o Pai e o Filho e que falou pelos Profetas”.

2) Foram condenados todos os defensores do arianismo sob qualquer das suas


modalidades.

3) A sede de Constantinopla ou Bizâncio foi atribuída uma preeminência sobre as


demais logo após a de Roma, pois Bizâncio era considerada “a segunda Roma”. O
Concílio de Constantinopla I não contou com a presença do Papa ou de algum
legado deste. Todavia foi reconhecido explicitamente pela Sé de Roma a partir do
século VI, no que concerne às suas proposições de fé (divindade do Filho e do
Espírito Santo).

3 - Concílio de Éfeso (431)

Após o estudo da SS. Trindade, os cristãos se detiveram sobre Jesus Cristo: como
poderia ser Deus e homem ao mesmo tempo? Levando adiante idéias de autores
anteriores, Nestório, bispo de Constantinopla, pôs-se a combater o título
Theotokos, Mãe de Deus, que os cristãos desde o século III atribuíam a Maria SS...
Tal título significava que em Jesus havia uma só pessoa - a divina -, que, além de
possuir tudo o que Deus possui, dispunha de verdadeira natureza humana. Para
Nestório, a humanidade de Jesus seria apenas o templo ou a revestimento do Filho
de Deus; a divindade teria passado par Maria, mas não nascera de Maria, a que
implicava uma pessoa humana em Jesus distinta da segunda pessoa da SS.
Trindade. Tal doutrina causou celeuma entre as cristãos, de modo que a lmperador
Teodósio II (408-450) convocou um Concílio Ecumênico a se realizar em Éfeso (Ásia
Menor) de junho a setembro de 431. O Papa S. Celestino I (422-432) fez se
representar par S. Cirilo de Alexandria. O Concílio de Éfeso:

1) condenou e depôs Nestório, rejeitando a sua doutrina. Não elaborou fórmula de


fé, mas aprovou a segunda carta de S. Cirilo a Nestório;

2) condenou a pelagianismo (doutrina excessivamente otimista no tocante a


natureza humana) e o messalianismo (corrente de espiritualidade que apregoava a
total apatia ou uma Moral indiferentista).O Papa S. Celestino I confirmou as
decisões do Concílio de Éfeso.

4 - Concílio de Calcedônia (451)

O pensamento teológico, tendo superado a Nestorianismo (que cindia Jesus Cristo,


atribuindo-lhe dois eu ou duas pessoas) esteve sujeito a movimento pendular. A
tese de ortodoxia, que rejeitava a dualidade de pessoas, foi exageradamente
enfatizada no chamado “monofisismo” ou “monofisitismo”. Com efeito, Eutiques de

27
Constantinopla, adversário de Nestório e seguidor de S. Cirilo, ultrapassou o seu
mestre, ensinando o seguinte: em Cristo, não havia apenas uma só pessoa (um só
eu), mas havia também uma só natureza, visto que a natureza divina absorvera a
humana. Tal posição suscitou ardente controvérsia, pois se lhe opunham Teodoreto
de Ciro, Domno de Antioquia e a próprio Papa Leão I (440- 461). O Imperador
Marciano (450-457) convocou então um Concílio Ecumênico para Éfeso, o qual,
iniciado nesta cidade, foi transferido para Calcedônia (junto a Constantinopla);
durou de 8 de outubro a novembro de 451. São Leão Magno, Papa, enviou seus
legados, assim como uma carta que definia a doutrina ortodoxa: em Cristo há uma
só pessoa, mas duas naturezas (a divina e a humana) não confundidas entre si. Tal
doutrina foi aclamada pelos padres conciliares, que condenaram Eutiques e a
monofisismo aos 25/10/451. O Concílio de Calcedônia também se voltou para
questões disciplinares, condenando a simonia, os casamentos mistos e proibindo
as ordenações absolutas (isto é, realizadas sem que o novo clérigo tivesse
determinada função pastoral). Em seu famoso cânon 28, a Concílio reconheceu a
Sé de Constantinopla, a cidade imperial, os mesmos privilégios que à de Roma. O
Papa S. Leão Magno recusou-se a aprovar este cânon, visto que Roma é a sede dos
Apóstolos Pedro e Paulo, ao passo que Constantinopla não foi sede de Apóstolo,
mas derivava sua importância do simples fato de ser sede do lmperador.

5 - Concílio de Constantinopla II (553) O Concílio de Calcedônia não conseguiu pôr


termo às controvérsias cristológicas. Em 527 subiu ao trono imperial de Bizâncio
Justiniano I, que muito se interessava por assuntos teológicos; em conseqüência,
julgou que serviria a causa da verdade e da Igreja se condenasse três autores do
Século V tidos como nestorianos: Teodoro de Mopsuéstia, Teodoreto de Ciro e Ibas
de Edessa. Originou-se assim a controvérsia dos Três Capítulos, visto que os bispos
orientais e ocidentais assumiram atitudes diversas diante da posição de Justiniano.
Este constrangeu o Papa Vigílio a ir de Roma a Constantinopla para apoiar o
Imperador. Finalmente Justiniano resolveu convocar um Concílio Ecumênico para
dirimir a controvérsia. Este, reunido em Constantinopla de 5/05 a 2/06/553,
condenou os Três Capítulos. O Papa Vigílio aprovou tal condenação depois de
proclamada pelo Concílio, dando assim foros de legitimidade tanto ao Concílio de
Constantinopla II quanto ao seu decreto condenatório. O Papa S. Gregório I, em
591, confirmou o mencionado Concílio, que foi fortemente agitado par causa da
indevida ingerência do lmperador.

6 - Concílio de Constantinopla III (680/1) O monofisitismo, que não se extinguiu


após a Concílio de Calcedônia, assumiu nova forma (assaz sutil) chamada
monotelitismo. Este ensinava que em Cristo havia uma só vontade (a divina) e um
só princípio de atividade ou energia (o divino) - o que redundaria em unidade de
natureza ou monofisismo. O protagonista desta tese era a Patriarca Sérgio de
Constantinopla, ao qual se opunha Sofrônio de Jerusalém. A disputa suscitou, da
parte do lmperador Constantino IV Pogonato (668-685), a convocação de bispos,
inclusive legados papais, para Constantinopla; assim teve origem mais um Concílio
Ecumênico (7/11/680 a 16/09/681). O monotelitismo foi então condenado e

28
afirmou-se a existência, em Cristo, de duas vontades (a divina e a humana)
moralmente unidas entre si, e de dois princípios de atividade. Os Papas S. Agatão
(678-681) e São Leão II (682-683) confirmaram as sentenças do Concílio.

7 - Concílio de Nicéia II (787) O Concílio de Constantinopla III encerrou a série de


controvérsias teológicas sobre Jesus Cristo, sua Divindade e sua humanidade; os
pontos essenciais referentes à SS. Trindade e à Encarnação do Filho estavam
definidos. Todavia os teólogos não cessaram de estudar as verdades da fé. Novo
motivo de disputas veio a ser o uso de imagens nas igrejas, dando ocasião à
controvérsia iconoclasta. Desde os primeiros séculos os cristãos costumavam
pintar e esculpir as figuras de Cristo a dos santos, não a fim de adorá-las, mas no
intuito de melhor poder voltar sua atenção para o Senhor a seus irmãos mártires
ou confessores da fé. Todavia, sob a influência do judaísmo a do islamismo, houve
cristãos no século VIII que se puseram a combater o uso das imagens; os
lmperadores Leão III o Isáurico (717-741), Constantino V Coprônimo (741-775),
Leão IV (775- 780) favoreceram o iconoclasmo. O principal defensor das imagens
foi São João Damasceno (†749), que, juntamente com outros cristãos, padeceu
árdua perseguição por causa de sua fidelidade à Tradição cristã. Morto Leão IV, a
rainha-mãe regente, que patrocinava o culto das imagens, resolveu, de comum
acordo com o Papa Adriano I. (772- 795), convocar um Concílio Ecumênico para
Nicéia. Este realizou-se de 24/09 a 23/10/787; foi então lida a carta do Papa ao
Patriarca Tarásio de Constantinopla e a Irene em favor das imagens; o Concílio
declarou outrossim que reconhecia a intercessão de Maria, dos anjos e dos Santos,
assim como o culto da Cruz e das imagens; tal culto seria relativo ao Senhor Jesus
e aos santos, de modo tal que ao primeiro (Jesus Cristo) se prestaria adoração e
aos santos veneração. Após o Concílio, a luta ainda continuou salientando-se então
o patriarca Nicéforo de Constantinopla e o monge Teodoro Studita como defensores
das imagens. No Ocidente o Imperador Carlos Magno (800-814) mostrou-se
propício ao iconoclasmo, o que não teve graves conseqüências na vida do povo
cristão.

8 - Concílio de Constantinopla IV (869/870) A exposição até aqui mostra como os


cristãos orientais eram propensos a discussões teológicas, As vezes de índole sutil.
Tais controvérsias punham não raro o Oriente em confronto com o Ocidente,
especialmente com a sé de Roma, onde havia menos acume dialético. As tensões
foram, a partir de 859, alimentadas pela atitude do patriarca Fócio de
Constantinopla. Este em 867 reuniu um Sínodo em Constantinopla, que, sob a
inspiração de Fócio, proferiu a condenação da Sé de Roma. Então o Papa Adriano II
(867-872) e o lmperador Basílio I (867-886) entenderam-se sobre a convocação de
um Concílio Ecumênico, que teve lugar em Constantinopla de 5/10/869 a
28/02/870; os padres conciliares assinaram um documento que prescrevia a todos
a Submissão à Igreja de Roma, “na qual a fé sempre se conservou sem mancha”.
Fócio foi condenado por fomentar o cisma. O Concílio reafirmou outrossim a ordem
de precedência das cátedras patriarcais: Roma, Constantinopla, Alexandria,

29
Antioquia, Jerusalém. O culto das imagens foi confirmado. O Papa Adriano II
aprovou as decisões do Concílio.

9 - Concílio do Latrão I (1123) Com o Concílio de Constantinopla IV termina a Série


dos Concílios Ecumênicos realizados, no Oriente. Em 1054 deu-se o cisma de
Constantinopla, que perdura até hoje (excetuados breves períodos de reatamento).
De então por diante, os Concílios Ecumênicos serão todos celebrados no Ocidente.
Nos Séculos X e XI, a Igreja latina sofreu do mal da ingerência do poder político na
distribuição dos bispados; os Imperadores e os senhores feudais queriam nomear
os prelados de acordo com os seus interesses políticos, praticando assim o que se
chama “a investidura leiga”; A autoridade eclesiástica tocaria apenas dar a ordem
sacra ao candidato designado exclusivamente pelo poder civil. Como se
compreende, desta prática resultavam bispos sem vocação pastoral e,
conseqüentemente, o clero se ressentia. de relaxamento da respectiva disciplina;
havia outrossim simonia, e nicolaísmo. Em Roma, a própria cátedra de Pedro era
cobiçada pelas famílias nobres da cidade e das redondezas, que tentavam impor-
lhe os seus favoritos. Com o Papa Gregório VII (1073-85) começou a forte réplica da
Igreja a tal situação ou a luta do sacerdócio e do Império, que redundaria em
fortalecimento do Papado. Em 1122 o Papa Calixto II (1119-1124) e o lmperador
Henrique V assinaram a Concordata de Worms, que assegurava à igreja plena
liberdade na escolha e ordenação de seus bispos. Tal resultado foi promulgado pelo
Concílio do Latrão I, convocado pelo Papa Calixto II para Roma e celebrado de
18/03 a 16/04/1123 por cerca de trezentos bispos e abades. Os cânones definidos
pelo Concílio versavam todos sobre a disciplina eclesiástica. Com efeito, voltaram-
se contra a simonia, o nicolaísmo e proibiram a ordenação de bispos que não
tivessem sido escolhidos canonicamente. Em particular no tocante ao celibato
sacerdotal, note-se que desde os primeiros séculos foi abraçado espontaneamente
pelos clérigos; o Concílio de Elvira (Espanha), por volta de 306, foi o primeiro a
promulgar tal praxe em âmbito regional; no decorrer dos séculos, subseqüentes
Concílios regionais confirmaram o celibato dos clérigos. O Concílio do Latrão I não
criou a lei do celibato, mas apenas corroborou a legislação vigente nas diversas
regiões da lgreja, usando os seguintes termos: “Proibimos expressamente aos
presbíteros, diáconos e subdiáconos viver com concubinas e esposas como
coabitar com outras mulheres, excetuam-se apenas aquelas com as quais o
Concílio de Nicéia permitiu habitar unicamente por motivo de necessidade, a saber:
mãe, irmã, tia paterna e outras a respeito das quais não pode haver suspeita”. As
decisões do Concílio do Latrão I foram confirmadas pelo Papa Calixto II.

10 - Concílio do Latrão II (1139) Este dista do anterior apenas dezesseis anos. Foi
convocado pelo Papa lnocêncio II (1130-1143) para reafirmar a unidade e a
disciplina da Igreja após o cisma do antipapa Anacleto II. Na verdade, em 1130,
quando morreu o Papa Honório II, foi eleito o Papa legítimo Inocêncio II; todavia
uma facção elegeu ilegitimamente Pedro de Leão como antipapa Anacleto II. Este
conseguiu prevalecer em Roma - o que levou lnocêncio II a deixar a cidade eterna.

30
São Bernardo, tendo reconhecido lnocêncio como Pontífice legítimo, moveu reis,
nobres e todo o povo de Deus a apoiarem o Papa. Este conseguiu voltar a Roma em
1133; finalmente, Anacleto faleceu aos 25/01/1138. Foi então que lnocêncio,
desejoso de consolidar a unidade da Igreja, reuniu mais de quinhentos bispos e
abades no Concílio do Latrão II, de 4 a 30/04/1139. Esta assembléia corroborou os
cânones dos Concílios regionais anteriores, proibindo a simonia e o nicolaísmo; aos
clérigos vetou outrossim o exercício da medicina e da advocacia. Rejeitou a usura
ou os juros; quem cedesse a esta prática, seria tido como infame. Os decretos do
Concílio foram confirmados por Inocêncio II

.
11 - Concílio do Latrão III (1179) A luta da lgreja medieval contra os lmperadores,
de um lado, e contra males internos, de outro lado, prosseguiu mesmo após os
Conciliares anteriores. Alexandre III teve um pontificado longo (de 1159 a 1181),
durante o qual quatro antipapas se sucederam por instigação dos lmperadores
germânicos, especialmente de Frederico I Barbarroxa (1152-1190). Eram Vítor IV
(1159-64), Pascoal III (1164-68), Calixto III (1168-78), Inocêncio III (1178-80).
Durante o mesmo pontificado agravou-se o movimento dos Cátaros ou albigenses,
hereges dualistas, que assolavam regiões do Norte da Itália e do Sul da França. No
final do seu pontificado Alexandre III quis reunir um Concílio Ecumênico para tomar
as providências exigidas pelas circunstâncias. Tal assembléia se reuniu na basílica
do Latrão de 5 a 19 de março de 1179. Entre outras medidas promulgadas então,
destacam-se:

A - a regulamentação das eleições papais; doravante seriam exigidos 2/3 dos


votos, ficando excluído qualquer recurso a autoridades leigas para dirimir dúvidas
oriundas no processo eleitoral;

B - rejeição do acúmulo de benefícios ou funções dentro da Igreja por parte de uma


só pessoa;

C - recomendação da disciplina da Regra aos monges e aos cavaleiros regulares,


que interferiam indevidamente no governo da Igreja;

D - promoção e organização do ensino, em favor de estudantes que não pudessem


pagar seus mestres;

E - condenação das heresias da época, que tinham um fundo dualista (catarismo)


ou de pobreza mal entendida (a Pattária, o movimento dos Pobres de Lião ou
Valdenses). O Papa Alexandre Ill, confirmou as decisões do Concílio.

12 - Concílio do Latrão IV (1215) O pontificado de lnocêncio III (1198-1216)


representa o apogeu do prestígio papal em toda a história da Igreja. Ao termo da
sua gestão, marcada, entre outras coisas, pelo surto das Ordens mendicantes, pelo
combate aos albigenses, pela intervenção em questões da lgreja da lnglaterra.

31
Inocêncio III quis reunir um Concílio Ecumênico. Convocado desde 19/04/1213 para
abrir-se a 19/11/1215, o Concílio teve sua primeira sessão aos 11/11/1215, com a
presença de 412 bispos, 800 abades e Superiores de Ordens Religiosas,
embaixadores de reis e nobres, que perfaziam uma bela imagem da grandeza da
Igreja governada por Inocêncio. O Concílio decretou:

1- a condenação dos albigenses e valdenses, assim como a dos erros de Joaquim


de Fiore, que esperava o fim do mundo para breve, apoiando-se em falsa exegese
bíblica; o Concílio professou a existência dos demônios como sendo anjos bons que
abusaram do seu livre arbítrio pecando;

2 - a realização de mais uma cruzada para libertar o Santo Sepulcro de Cristo, que
se achava nas mãos dos muçulmanos;

3 - a profissão de fé na Eucaristia, tendo sido então usada a palavra


“transubstanciação”;

4 - a obrigação da confissão e da comunhão anuais. O Concílio legislou ainda sobre


vários pontos da disciplina e da Liturgia da lgreja, abrangendo ampla área da vida
eclesial. Aprovado pelo Papa lnocêncio III, é o mais importante dos Concílios antes
do de Trento.

13 - Concílio de Lião I (1245) Ao grande Papa Inocêncio III sucederam-se Honório III
(1216- 1227), Gregório IX (1227-1241), Celestino IV (1241), lnocêncio IV (1243-
1254). Este período foi, sem dúvida, glorioso para o Papado, mas caracterizou-se
pela recrudescência da luta entre o Sacerdócio e o lmpério. Na Alemanha, o
lmperador Frederico II (1215-50) foi pessoa marcante; afilhado do Papa Inocêncio
III, teve uma Corte de soberano oriental ou sultão, dada ao luxo desenfreado e um
tanto recoberta pelo véu do mistério. Inocêncio IV, sentindo-se inseguro em Roma,
transferiu sua resistência para Lião na França, onde poderia contar com a tutela do
rei São Luís IX. Lá o Papa quis reunir os bispos da Igreja universal para considerar o
procedimento do Imperador, as invasões dos árabes e dos mongóis no Oriente e a
reunião dos cristãos gregos com os latinos. O Concílio durou de 28/06 a
17/07/1245, limitando-se quase unicamente a ouvir o depoimento de Tadeu de
Suessa, delegado do lmperador; após o que o monarca foi excomungado.

14 - Concílio de Lião II (1274) Após Frederico II a luta entre o Sacerdócio e o


Império declinou - o que levou Gregório X (1271-1276), um santo Pontífice, a
procurar o reatamento de cristãos bizantinos e ocidentais. Para tanto, escreveu ao
Imperador Miguel VIII o Paleólogo, de Constantinopla, mostrandolhe que a reunião
de todos os cristãos fortalecidos fortaleceria a presença dos mesmos no Oriente. O
lmperador Miguel mostrou-se disposto a aceitar a união com Roma, apesar dos
protestos de dignitários da Corte bizantina. Por isto, enviou legados a Lião, aonde o
Papa convocara todos os bispos da lgreja. O Concílio durou de 7/05 a 17/07/1274.
Conseguiu realmente a reunião de latinos e bizantinos sob o primado do Papa. A
fim de evitar as constantes intervenções políticas de Imperadores e nobres na

32
eleição dos Papas, o Concílio promulgou novas medidas para garantir a liberdade
dos eleitores, entre as quais a prescrição de permanecerem em local fechado a
chave ou conclave. O Papa Gregório X abriu e encerrou o Concílio dando plena
aprovação aos seus atos.

O Concilio de Nicéia - Parte 4

15 - Concílio de Viena-França(1311-12) O Papa Clemente V (1305-1314) teve que


enfrentar o rei da França Filipe IV o Belo, que representava, na época, o surto do
absolutismo dos monarcas independentes do Sacro Império Romano. O rei cobiçava
os bons da Ordem dos Templários. Esta era constituída por cavaleiros que,
mediante votos religiosos, se consagravam a Deus a se comprometiam a defender
os peregrinos de Terra Santa. No fim do século XIII os Templários haviam perdido a
sua finalidade específica de cavaleiros; enriquecidos por doações, começaram a
provocar a ambição do rei.

Este então pôs-se a pressionar o Papa, levando-lhe acusações contra os Templários,


a fim de obter a extinção da Ordem. Clemente V, não querendo assumir a sós a
responsabilidade de tal atitude, convocou para 16 de outubro de 1311 o Concílio
Ecumênico de Viena (França); o local se deve ao fato de que os Papas residiam em
Avinhão desde 1305. - A assembléia se reuniu até 6/05/1312.

33
Acabou cedendo as instâncias de situação criada pelo rei, declarando supressa a
Ordem dos Templários. Estiveram na pauta conciliar também os Franciscanos, dos
quais uma corrente, dita “dos Espirituais”, alimentava idéias exageradas ou mesmo
heréticas sobre a maneira de viver a pobreza. O franciscano Pedro Olivi foi
outrossim condenado por sua doutrina, que admitia no ser humano elementos
intermediários entre a alma e o corpo. O Papa Clemente V confirmou as decisões
do Concílio.

16 - Concílio de Constança (1417) , A crescente ingerência da França na história do


Papado levou não somente ao exílio de Avinhão (1305-1378), já mencionado
anteriormente, mas também ao Grande Cisma do Ocidente. Com efeito, quando o
Papado voltou a fixar residência em Roma no ano de 1378, o primeiro conclave
realizado na Cidade Eterna elegeu o Papa Urbano VI (1378-89), ao qual um grupo
de Cardeais, influenciado pelo rei da França, opôs o antipapa Clemente VII (1378-
94), que ocupou a sede de Avinhão. Houve então, daí por diante, duas obediências
na lgreja: a de Roma, autêntica, e a de Avinhão, espúria. Desejosos de remediar a
este mal, vários Cardeais e bispos se reuniram em Pisa num “pseudo-Concílio
Ecumênico” de 1409; declararam depostos o Papa e o antipapa a elegeram
Alexandre V, que se tornou o segundo antipapa, com sede em Pisa. A situação
perplexa assim oriunda foi superada aos poucos pela intervenção do lmperador
Sigismundo (1410-37). Este resolveu convocar um Concílio para Constança em
1414. Tal assembléia não era legítima, pois se reunia sem a aquiescência do Papa
ou do bispo de Roma; os bispos e teólogos reunidos começaram por afirmar o
conciliarismo ou declarar (ilegitimamente) a supremacia do Concílio Ecumênico
sobre. o Papa, de tal modo que o Romano Pontífice deveria submeter-se às
decisões do Concílio. Em conseqüência, depuseram o antipapa João XXIII. Quanto a
Gregório XII, o Papa legítimo, resolveu convocar os Padres Sinodais reunidos em
Constança, para que doravante pudessem constituir autêntico Concílio Ecumênico;
tendo os referidos bispos aceito o mandato, Gregório XII renunciou as funções
papais, de modo que a cátedra de Pedro ficou vacante. Por sua vez, Bento XIII, o
antipapa residente na Catalunha, foi deposto pelo Concílio. Estava assim aberta a
via para a legítima eleição do sucessor de Gregório XII. O novo Papa foi finalmente
escolhido aos 11/11/1417 com o nome de Martinho V. O Concílio de Constança só
se tornou legítimo a partir de sua 36a. sessão, ou seja, depois que Gregório XII lhe
conferiu autoridade para agir. Donde se vê que a apologia de conciliarismo feita
anteriormente não tem valor teológico ou jurídico. Após a eleição de Martinho V, os
padres conciliares ainda condenaram a doutrina de João Wiclef, João Hus e
Jerônimo de Praga, que eram precursores de Lutero. Tomaram medidas relativas à
disciplina do clero a estipularam que periodicamente se realizariam Concílios
Ecumênicos para atender ao governo de Igreja.

17 - Concílio de Ferrara-Florença (1438-1445) Martinho V, desejoso, de continuar a


obra dos Concílios anteriores, convocou um Concílio Ecumênico para Basiléia
(Suíça) em 1431. Eis, porém, que os padres em Basiléia reafirmaram o
conciliarismo, rejeitado anteriormente - o que provocou conflitos entre a
assembléia de Basiléia e o sucessor de Martinho V, que era Eugênio IV. Em
conseqüência, este Papa resolveu dissolver o Concílio de Basiléia e convocar outro

34
para Ferrara em 1438; esta assembléia teria por principal objetivo promover a
reunião de gregos e latinos.O Concílio de Ferrara, aberto aos 10/01/1438, contou
com a presença do lmperador bizantino João o Paleólogo e de sua comitiva.
Desabonou as resoluções do Concílio de Basiléia. A peste tendo surgido em Ferrara,
o Papa Eugênio IV transferiu a assembléia para Florença. O tema principal dos
estudos foi a extinção do cisma: após prolongadas conversações, os conciliares
puseram-se de acordo sobre os pontos teológicos e disciplinares controvertidos,
assinando a Bula Laetentur caeli de 06/07/1439. Também voltaram à unidade da
lgreja cristãos monofisitas (coptas, etíopes a armênios). Em fins de 1442, já tendo
partido os gregos, o Papa transferiu o Concílio para Roma. Neste cidade, ainda
voltaram a unidade da lgreja os monofisitas da Mesopotâmia, alguns grupos de
nestorianos (caldeus) e de maronitas (monotelistas) da ilha de Chipre. Infelizmente,
a união com Bizâncio foi efêmera, pois os prelados do Patriarcado de
Constantinopla se recusaram a aceitá-la.

18 - Concílio do Latrão V (1512-1517) A vida da Igreja, após o Concílio de Ferrara-


Florença, viu-se agitada por causas de diversas: persistência de correntes
conciliaristas, que eram fomentadas pelos monarcas desejosos de criar lgrejas
nacionais independentes de Roma..., além do que, havia necessidade de sérias
medidas disciplinares. Diante disto, o Papa Júlio II convocou mais um Concílio
Ecumênico que foi inaugurado aos 03/05/1512 e só se encerrou aos 16/03/1517
sob o pontificado do Papa Leão X. Condenou a Pragmática Sanção de Bourges,
declaração que favorecia a criação de uma Igreja Nacional de França. Com isto o
conciliarismo foi mais uma vez rejeitado. Em lugar de tal documento, a Santa Sé e
a França assinaram uma Concordata que regulamentava as relações entre os dois
Estados. No setor doutrinal, o Concílio tomou posição de grande importância,
condenando a tese segundo a qual a alma humana é mortal e uma só para todos
os homens; tal tese, segundo o seu autor Pietro Pomponazzi, seria verídica no
plano filosófico, ainda que falsa no plano teológico. - Foram outrossim tomadas
medidas disciplinares relativas ao clero (seus estudos a sua formação) e a
pregação; exigiuse o Imprimatur para livros que versassem sobre fé ou teologia;
seria queimado todo livro não munido de devida permissão. Infelizmente, as
resoluções do Concílio, oportunas como eram, não encontraram eco nos diversos
países católicos, pois o clima da época, bafejado por cultura pagã, dificultava uma
séria e profunda conversão dos cristãos. Como quer que seja, o Concílio do Latrão
V preparou a grande Reforma da lgreja, promulgada pelo de Trento.

19. Concílio de Trento (1545-47, 1551-52, 1562-63) Este foi o mais importante
Concílio de toda a história, importância esta que se explica pela problemática que
enfrentou (a Reforma protestante) e as soluções que adotou. Pouco depois de
lançar o seu brado de protesto contra a lgreja em 1517, Lutero apelou para a
realização de um Concílio Ecumênico que considerasse os pontos por ele lançados
em rosto à Igreja. Todavia este apelo só começou a encontrar resposta sob o
pontificado de Paulo III (1550-55). As razões do adiamento eram várias: o Papa
Leão X não deu grande importância ao gesto de Lutero; além disto, havia certa
resistência, de parte dos clérigos, a uma reforma dos costumes na Igreja; ademais
a situação geral da Europa era de agitação política. Foi precisamente a agitação

35
religiosa e política da Europa que cindiu a realização do Concílio em três etapas na
cidade de Trento: A primeira fase (1545-47) definiu mais uma vez o cânon das S.
Escrituras a declarou a Vulgata latina isenta de erros teológicos. Abordou as
questões discutidas sobre o pecado original, a justificação, os sacramentos, a
residência dos bispos nas respectivas dioceses. A peste tendo começado a grassar
em Trento, o Papa transferiu o Concílio para Bolonha. O Imperador Carlos V tendo-
se oposto a esta determinação, foi necessário suspender o Concílio. A segunda fase
continuou em Trento (1551-52) sob o Papa Júlio III (1550-55). Promulgou longa
exposição a cânones sobre a Eucaristia (presença real, transubstanciação,
culto ... ). Algo de semelhante ocorreu no tocante ao Sacramento da Penitência
(necessidade, partes essenciais, satisfação) e a Unção dos Enfermos (origem,
efeitos, ministro, sujeito...). O Concílio, aos 28/04/1552, foi mais uma vez suspenso
por motivo de pressões políticas. O Papa Pio IV (1559-1565) reabriu o Concílio aos
18/01/1562. Esta terceira fase reafirmou as verdades referentes ao S. Sacrifício da
Missa, aos sacramentos da Ordem, do Matrimônio, ao purgatório, e invocação dos
santos, as imagens e as indulgências. Promulgou também resoluções a respeito
dos Religiosos e das monjas. Pela Bula Benedictus Deus (26/01/1564) Pio IV
confirmou todos os textos conciliares, dando por encerrado o Concílio que havia de
marcar profundamente o catolicismo dos tempos modernos.

20 - Concílio do Vaticano I (1869-70) Após o Concílio de Trento, a tendência ao


esfacelamento dos valores de ldade Média mais a mais se fez sentir. A Revolução
Francesa (1789) significou o brado de razão e do nacionalismo contra a fé. Seguiu-
se-lhe o século XIX, que foi marcado pelo materialismo e o ateísmo fora de Igreja, e
dentro da lgreja pelos ecos das tendências conciliaristas e do separatismo, que
solapavam a autoridade papal e a unidade da lgreja. Foram estes fatores que
induziram o Papa Pio IX (1846-78), aconselhado por eminentes figuras do
episcopado e do laicato católicos, a convocar o 20º Concílio Ecumênico para o
Vaticano. A grande assembléia de 764 padres conciliares se reuniu de 8/12/1869 a
20/10/1870, tendo por objetivo fazer frente ao racionalismo do século XX, como o
Concílio de Trento fizera frente ao protestantismo do século XVI. Infelizmente o
Concílio foi suspenso (não encerrado, porém) prematuramente por causa do início
da guerra franco-alemã em setembro de 1870. Promulgou, porém, duas
Constituições Dogmáticas de real importância: - uma, a Dei Filius, sobre a fé
católica ensina que Deus se revela através da criação como também através de
Jesus Cristo; por conseguinte, pode ser reconhecido tanto pela razão como pela fé,
as quais não podem estar em desacordo entre si; - a outra, a Pastor Aeternus,
referente a Igreja, definiu a infalibilidade do Pontífice Romano quando fala ex
cathedra sobre assuntos de fé e de Moral. O Concílio trataria também dos bispos e
dos demais membros da lgreja se não tivesse sido interrompido abruptamente. Tal
tarefa haveria de ser a do Concílio do Vaticano II.

21 - Concílio do Vaticano II (1962-65) Como dito, o Concílio do Vaticano I ficou


incompleto, deixando em suspensão diversas questões teológicas e pastorais. Os
Papas desde São Pio X (1903-14) pensaram em reativar os trabalhos do Concílio:
todavia as circunstâncias não favoreciam tarefa de tal envergadura. Foi a coragem
do idoso Papa João XXIII (1958-63) que convocou o 21º Concílio Ecumênico da

36
história aos 25/01/1961. Este certame foi inaugurado aos 11/10/1962 sob João
XXIII, e encerrado aos 7/12/1965, sob o Papa Paulo VI. Tinha em mira, de modo
geral, realizar o aggiornamento ou a atualização da lgreja numa época em que os
costumes e as mentalidades evoluem com rapidez surpreendente. O alcance deste
Concílio foi enorme: sem perder o contato com a Tradição, os padres conciliares
promulgaram dezesseis documentos (Constituições, Decretos, Declarações), que
levaram em consideração os principais temas que se impunham à reflexão da
Igreja. O Concílio teve índole eminentemente pastoral, isto é, visou a vida cristã e a
sua disciplina, em vez de se voltar para definições de fé ou de Moral. A abertura
equilibrada dos documentos conciliares pode ser percebida em seus traços
marcantes: - renovação da Liturgia, que deveria ser celebrada em estilo mais
comunitário e acessível aos fiéis; - reafirmação da lgreja como Sacramento,
estruturado por Pedro e a hierarquia, sem deixar de responsabilizar, na medida
precisa, todo o povo de Deus; - abertura para os demais cristãos (protestantes,
ortodoxos e outros) que não se acham em plena comunhão com a Igreja de Cristo
entregue a Pedro a seus sucessores; - declaração sobre as religiões não cristãs, nas
quais os padres conciliares realçaram a existência de elementos positivos; -
declaração sobre a liberdade religiosa, que significa o direito, inerente a todo
homem, de formar livremente a sua consciência diante de Deus e da fé; - tomada
de posição da Igreja frente as diversas facetas que o mundo de hoje Ihe apresenta:
família, comunidade política, economia, cultural, paz e guerra... Em síntese, pode-
se dizer que o Concílio do Vaticano II foi uma das mais significativas realizações da
lgreja nos tempos modernos, portadora de amplas conseqüências (das quais
algumas foram menos felizes em virtude de falsa compreensão dos textos e da
mente dos padres conciliares).

CONCLUSÃO

Quatro observações parecem oportunas à margem da história dos Concílios:

1) Os Concílios refletem nitidamente a história da Igreja a seus embates. Foram


solenes assembléias em que a Igreja comunitariamente se voltou para os desafios
que a caminhada através dos tempos Ihe suscitava. As decisões dos Concílios, por
isto, hão de ser lidas e compreendidas sempre à luz do respectivo contexto
histórico,

2) Os primeiros Concílios eram convocados pelos Imperadores e não pelo bispo de


Roma ou o Papa. A lgreja, em seus primeiros séculos, embora fosse confiada a
Pedro, não podia ter governo tão centralizado como o teve a partir da Idade Média,
visto que as comunicações eram outrora difíceis entre Oriente e Ocidente.
Contudo, para que as definições dos Concílios tivessem autoridade, foi sempre
necessário que o bispo de Roma as aprovasse e confirmasse. Nenhum Concílio tem
poder de decisão sem a participação e o apoio do Papa, ainda que esta aprovação
Ihe seja dada depois de realizado o Concílio.
3) A teoria conciliarista, que pretendia estabelecer os Concílios

37
acima dos Papas, não representava o pensamento tradicional da lgreja e, por isto,
não prevaleceu.- Violava o conceito de Igreja, sacramento e dom de Deus, em favor
da concepção de Igreja, sociedade meramente humana ou “república”.

4) Quem estuda a história dos Concílios (infelizmente a que vai proposta nestas
páginas, teve de ser resumida ao extremo), tem a ocasião de reconhecer a ação de
Deus entre os homens. A Igreja subsiste até hoje não por causa dos valores dos
homens que a integram (estes valores existiram e existem, sem dúvida! ), mas por
causa da presença eficaz de Deus que a sustenta através dos séculos.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Conc%C3%ADlio_de_Niceia
http://biosofia.net/2005/09/21/o-concilio-de-niceia/
http://www.veritatis.com.br/article/1341
http://www.cleofas.com.br/

38

Você também pode gostar