O CULTO
IMPERIAL
ROMANO
INDICE:
1. A IGREJA ANTIGA
1. A IGREJA ANTIGA
zelo profundo por Cristo e um severo senso de moralidade, deram-lhe notável e poderosa
influência. Em muitos escritos refutou falsas acusações contra os cristãos e o Cristianismo,
salientando o poder da verdade cristã. Os homens que realizaram trabalho de mestres nas
igrejas foram de utilidade extraordinária no desenvolvimento do Cristianismo daqueles
dias.
Por suas vidas, especialmente pelo seu grande amor fraternal e também pelo
amor aos descrentes, pela fidelidade e coragem sob as perseguições e pelo testemunho oral
da história do Evangelho, esses desconhecidos servos de Cristo levaram aos pés do
Salvador a quase totalidade dos que foram ganhos para a causa do Evangelho naquele
tempo. Nunca faremos uma apreciação segura das conquistas que a Igreja fez nesses
séculos se esquecermos que elas foram alcançadas em meio à mais feroz perseguição.
Os detalhes de sua vida que antecedem à sua chegada na Palestina nos são
desconhecidos. Porém muitos historiadores admitem que ele era descendente de uma
nobre família romana e que desposara uma parenta do imperador Tibério chamada Cláudia
Prócula.
Alguns escritores antigos o chamam de procurador, entretanto, este título parece ter
sido concedido aos governadores da Judéia num período posterior ao de Pilatos. Conforme
uma inscrição encontrada nas ruínas do Anfiteatro de Cesaréia Marítima, no ano de 1961,
o seu verdadeiro ofício era o de Prefeito. Esta lápide encontra-se hoje no Museu de
Jerusalém.
Pilatos habitualmente residia em Cesárea, que era a capital oficial e estava situada à
beira mar. Esta cidade foi construída por Herodes o Grande, que lhe deu este nome com o
intuito de lisonjear o imperador César Augusto.
Permaneceram ali durante cinco dias e cinco noites. Ao final, Pilatos, indignado
com aquele tumulto, convidou os judeus para que se apresentassem diante dele.
Primeiramente mostrou-se cordial como se quisesse atender os seus pedidos. Enquanto o
povo se reunia, apareceram três esquadrões que o cercaram de todos os lados. Pilatos, a
fim de intimidá-los, ordenou que suas tropas desembainhassem as espadas.
Esta ameaça só fez acirrar ainda mais o ânimo daqueles judeus. Através do gesto de
desnudar os seus pescoços, quiseram demonstrar ao governador que preferiam morrer a
ver a Cidade Santa profanada com imagens de falsos deuses. Temendo desordens ainda
maiores, Pilatos recuou. Mandou então tirar os estandartes, bem como as insígnias
imperiais de Jerusalém.
Flávio Josefo narra outro episódio ocorrido durante seu mandato. Pilatos mandou
construir um aqueduto para levar água das imediações de Belém até Jerusalém. Porém,
devido ao alto custo do projeto, resolveu então tomar o dinheiro do tesouro do Templo
chamado Korbonan. Este fato deu origem a uma grande rebelião e, para reprimi-la, o
governador usou de um cruel estratagema.
Contudo, o mais grave dos casos sucedidos durante o seu mandato foi o violento
massacre ocorrido no Monte Garazim no ano 35. Um samaritano por acreditar haver
chegado o tempo messiânico, convenceu o povo a tomar armas contra os romanos. Pilatos,
ao ser alertado sobre o fato, ocupou o caminho que leva até este monte sagrado dos
samaritanos e ordenou ao seu exército que apunhalasse os revoltosos. Muitos destes
morreram e outros foram feitos prisioneiros.
Nos séculos seguintes apareceram diversas legendas sobre sua pessoa. Algumas
delas diziam que Tibério mandou executá-lo, lançando seu corpo no rio Tibre. Outras,
tendo como base o Evangelho apócrifo de Nicodemos, apresentavam-no como
conver¬tido ao cristianismo junta¬mente com sua mulher Prócula.
Por causa de Flávio Josefo[9] se pensava que a Judéia fora governada por
procuradores (epítropos, em grego, procurator, latim), mas hoje se sabe, graças a uma
inscrição sobre Pilatos encontrada em Cesaréia[10], que, até Cláudio, os governadores
romanos da Judéia tinham o título de éparchos ou praefectus = prefeito. Após Cláudio,
que se tornou Imperador no ano 41, podemos falar de “procuradores”. Portanto, a partir de
Cúspio Fado (44-46). Entretanto, os dois títulos, para as províncias imperiais, como era o
caso da Judéia, eram equivalentes, tendo perdido o significado original da época da
República. Tanto o prefeito como o procurador tinham funções fiscais, militares e
judiciais[11].
Pôncio Pilatos, prefeito da Judéia, que pronuncia a sentença de morte contra Jesus
de Nazaré, é um governante duro e decidido, que nunca simpatizou com os judeus.
Herodes Agripa I, escrevendo ao Imperador Calígula, descreve-o como inflexível por
natureza e cruel por causa de sua obstinação. Acusa-o de venal, violento, extorsivo e
tirânico. Pertence à ordem dos cavaleiros, classe de pessoas ricas, muitos de origem
humilde e até descendentes de escravos, que fizeram fortuna das mais variadas maneiras.
Certa vez, Pilatos manda que seus soldados entrem em Jerusalém, à noite, levando
efígies do Imperador nos estandartes. Quando amanhece, o povo se revolta com tal
afronta, e ele tenta reprimi-lo. Mas tem que ceder diante da grande coragem dos judeus
que preferem morrer a transgredir a Lei. Nas palavras de Flávio Josefo:
“Certa feita, Pilatos mandou levar, de noite, para Jerusalém, um certo número de
imagens veladas do César, que os romanos chamavam de ‘estandartes’. Mal o dia
clareou, uma grande agitação tomou conta da cidade. Todos quantos chegavam perto,
enchiam-se de indignação com o espetáculo, que eles tomaram como uma zombaria grave
à lei que proibia colocar qualquer imagem que fosse no interior da cidade. Pouco a pouco
Organizado por Eliezer Lucena 11
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
No sexto dia Pilatos sentou-se numa tribuna, no grande hipódromo da cidade, e convocou
o povo, como se quisesse comunicar-lhe uma notícia. Em seguida, porém, fez aos soldados
o sinal antes combinado, para cercarem os judeus, de armas na mão. Envolvidos por três
fileiras de homens armados, os judeus foram tomados de violenta comoção diante do fato
inesperado. Pilatos mandou massacrá-los, caso não admitissem a presença de imagens do
Imperador em seu meio. Fez então novo sinal aos soldados para desembainharem as
espadas. Os judeus, à uma, jogaram-se por terra, como se tivessem combinado entre si, e
ofereceram o pescoço desnudo, declarando em alta voz que preferiam deixar-se matar a
transgredir a Lei. Esta atitude heróica do povo em defesa de sua religião causou grande
espanto em Pilatos. Ele ordenou, então, que as insígnias do Imperador fossem retiradas
de Jerusalém”[13].
[9] . “O território de Arquelau foi assim reduzido a província e Copônio, um romano da ordem dos
cavaleiros, foi enviado por Augusto como procurador (epítropos), com plena autoridade”, diz JOSEFO,
F., Bellum Iudaicum, 2, 117.
[10] . A inscrição foi encontrada no teatro romano de Cesaréia Marítima por uma expedição
arqueológica italiana dirigida por Antonio Frova. Diz: TIBERIEVM PON]TIVS PILATVS
PRAEF]ECTUS IVDA[EA]E.
[11] . Cf. SCHÜRER, E., Storia del Popolo Giudaico al Tempo de Gesù Cristo I, Brescia, Paideia, 1985,
pp. 441-444.
[12] . Cf. SPEIDEL, K. A., O julgamento de Pilatos. Para você entender a Paixão de Jesus, São Paulo,
Paulus, 1979, pp. 91-92.
[13] . JOSEFO, F., Bellum Iudaicum, 2, 169-174.
Pôncio Pilatos foi prefeito da província romana da Judéia do ano 26 d.C. até o ano
36 ou começo do 37 d.C. Sua jurisdição chegava até a Samaria e aIduméia. Antes destas
datas pouco é sabido da sua vida. O título do cargo que exerceu foi o de praefectus
(prefeito), da mesma forma que todos aqueles que ocuparam esse cargo antes do
Imperador Cláudio e está confirmado por uma inscrição que apareceu na Cesáréia. O titulo
procurador que alguns antigos autores utilizam para referir-se e este cargo, é um
anacronismo. Os evangelhos referem-se a ele de forma genérica com o título de
"governador". Como prefeito tinha que manter a ordem na província e administrá-la tanto
judicial como economicamente.
Portanto, devia de estar à frente do sistema judicial (conforme consta que fez no
processo de Jesus) e recolhia os impostos para manter as necessidades da província e de
Roma. Dessa última atividade não existem provas diretas, ainda que o incidente do
aqüeduto, contado por Flávio Josefo (veja abaixo), é certamente uma conseqüência dela.
Além disso, encontraram-se moedas dos anos 29, 30 e 31, que sem margem de erro foram
mandadas fazer por Pilatos. Mas, acima de tudo ele passou à História por ter sido quem
mandou executar a Jesus de Nazaré; ironicamente, com isso seu nome foi incluído no
símbolo da fé cristã: "padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado...".
Segundo contam Filão e Flávio Josefo, seu relacionamento com os judeus não
era bom. Na opinião de Josefo, os anos em que Pilatos esteve como prefeito foram anos
turbulentos na Palestina, e Filão escreve que o governador caraterizava-se pela "sua
venalidade, sua violência, seus roubos, seus assaltos, sua conduta abusiva, as freqüentes
execuções de prisioneiros que não tinham sido julgados, e uma ferocidade sem limites"
(Gaio 302). Ainda que nestas apreciações com certeza influam a intencionalidade e a
compreensão própria dos autores, a crueldade de Pilatos, como sugerido em Lc.13,1,onde
é mencionado o incidente de uns homens da Galiléia que tiveram seu sangue misturado ao
dos sacrifícios por ordem do governador, é indubitável.
Nos séculos seguintes surgiu todo tipo de lendas sobre sua pessoa. Algumas lhe
Sua presença no Credo é de muita importância porque nos lembra que a fé cristã
é uma religião histórica e não um programa ético ou uma filosofia. A redenção operou-se
num lugar concreto do mundo, a Palestina, num tempo concreto da história, quando Pilatos
era prefeito da Judéia.
cruz, já que ele era acusado por aqueles da mais alta categoria entre nós, os que o
haviam amado desde o inicio não pararam de causar perturbações. E até agora a tribo
dos cristãos, assim chamados por causa dele ainda não se extinguiu.
FLAVIO JOSEFO - ANTIGUIDADES JUDAICAS LIVRO 18 VERSOS 63-64
Um outro ato seguinte de crueldade, não registrado por Flavio Josefo, mas incluído
no Evangelho de Lucas 13:1, se refere ao massacre de peregrinos judeus da Galiléia
viajando para Jerusalém com suas oferendas sacrificiais, este relato de Lucas está ao que
tudo indica em harmonia com os relatos dos historiadores JOSEFO E FILON que retratam
Pilatos como muito cruel.
precisavam ser cortadas, porém de maneira sutil para não aborrecer as multidões
que gostavam de ouvi-lo. Nas dependências do Santuário, a “polícia do Templo”,
a única força armada judia oficialmente tolerada, era responsável pela ordem.
Cabia a ela prender eventuais desordeiros.
(13) Mais tarde enviaram a Jesus alguns dos fariseus e herodianos para o
apanharem em alguma coisa que ele dissesse.
Não sabemos até que ponto os elogios pronunciados pelos fariseus eram
sinceros. Sabemos que alguns deles tinham Jesus em alta estima por causa de Sua
sabedoria. Quando eles declararam que Jesus ensinava “o caminho de Deus”, eles
Lhe atestaram que instruía de maneira clara, ensinava bem a maneira pela qual
Deus queria que o povo pensasse e vivesse. Não havia como duvidar da
religiosidade de Jesus e seu respeito ante a lei.
De repente, alguém do grupo apresentou uma pergunta explosiva a Jesus:
A cilada, perante a qual Jesus se via, era quase perfeita: se Ele concordasse
com o pagamento, seria tido por todos os peregrinos presentes, sedentos de
liberdade, como covarde e traidor dos judeus; mas negando-o, perante os ouvidos
atentos dos herodianos seria desmascarado como rebelde político, imediatamente
preso por incitação ao povo.
Mas Jesus, percebendo a hipocrisia deles, perguntou: “Por que vocês estão me
pondo à prova? Tragam-me um denârio para que eu o veja.”
Fica evidente que Jesus não possuía esta moeda, o “denário tiberiano”. O
Talmude menciona um tal Rabbi Menachem Bem Simai, “filho dos Santos”,
porque este nunca na sua vida havia nem olhado para essa moeda, pois ela feria o
segundo mandamento de Deus: a proibição de fazer imagens. O mestre da
Galiléia tampouco possuía essa moeda, portanto, mandou que lhe a
apresentassem.
(16) Eles lhe trouxeram a moeda, e ele lhes perguntou: “De quem é esta imagem
e esta inscrição?”
“Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou
nas águas debaixo da terra” (Ex. 20.4).
A palavra “imagem” também lembra Gênesis 1.27:
“Criou Deus o homem a sua imagem, a imagem de Deus o criou”.
(17) Então Jesus lhes disse: “Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus”.
Do outro lado, o papa Bonifaz VIII usou no ano 1308, na bula papal, “Unam
Sanctam”, a argumentação para exigir obediência ao Reino terreno da Igreja.
Nenhuma das duas grandes figuras da história cristã ficou se perguntando
porque Jesus, como bom judeu, podia na sua resposta mencionar primeiro os
direitos de César e só então falar dos direitos de Deus! Era algo inconcebível para
um judeu! E mais: ninguém havia perguntado a Jesus sobre o que é devido a
Deus; a pergunta limitava-se à obrigação para com o Imperador. Aos que
interpelaram Jesus interessava a questão do poder. Jesus, no entanto respondeu
quanto à obediência. Ele mesmo havia declarado em outro lugar que:
“Tudo vem de ti, e nós apenas te devemos o que vem de tuas mãos”
(2 Crônicas 29.14b).
Há algo que é “de César” e que impede você de seguir a Jesus? Devolva-o!
Você foi feito a imagem de Deus, você não deve ser devedor de outro!
John Dominic Crossan no livro God and Empire: Jesus Against Rome, Then and
Now (2007), diz que: "há um ser humano do primeiro século, que foi chamado de
Divino, Filho de Deus, Deus e Deus dos deuses, e cujos títulos foram Senhor, Redentor,
Libertador e Salvador do Mundo. Os cristãos provavelmente irão pensar que esses
títulos foram originalmente criados e aplicados exclusivamente a Cristo. Mas
antes de Jesus ter existido, todos esses termos pertenciam a César Augusto".
Crossan cita que a adoção dos mesmos titulos pelos primeiros cristãos para
referi-se a Jesus era uma forma de negar-los a César Augusto. "Eles estavam
tirando a identidade do imperador romano e dando-lhe a um judeu camponês. O
que era ou uma brincadeira e uma particularidade muito baixa, ou o que era pelos
romanos chamado majistas e que nos conhecemos como alta traição".
v. 15: Ele, porém, conhecendo sua hipocrisia, disse: "Por que me pondes à prova? Trazei-
me um denário para que o veja. 16: Eles trouxeram. E ele disse:"De quem é esta imagem e
a inscrição?" Responderam-lhe: "De César".
Ti. CAESAR DIVI - AVG. F. AVGVSTVS, por extenso: TIBERIUS CESAR DIVI
AUGUSTI FILIUS AUGUSTUS, ou seja: TIBÉRIO CÉSAR, AUGUSTO, FILHO DO
DIVINO AUGUSTO.
Assim, quais seriam as coisas que Jesus identifica como sendo de César no
recurso da solicitação pelo denário? A resposta só pode ser uma: são as moedas
dos denários.
O denário tinha uma força simbólica muito forte no Império Romano. Ele
simbolizava inicialmente o poder político e econômico dos romanos, já que era,
simultaneamente, instrumento da política imperial, cambial (era moeda oficial e
parâmetro para o câmbio com outras moedas) e fiscal (era a moeda oficial para
pagamento dos tributos) do império. Além disso, era indiscutivelmente também
um símbolo religioso, pois concedia atributos divinos aos soberbos, o que retrata,
sobretudo, o título de "Augusto" (= venerável).
Outra coisa: por que Jesus, em sua resposta, faz referência a Deus, quando a
pergunta de fariseus e herodianos referia-se exclusivamente a César?
MOEDAS ROMANAS
Um Aureo com o busto do Imperador Augusto (63 a.C. - 14 d.C.), juntamente com a
inscrição AVGVSTVS DIV F. (Augusto, filho do Divino).
Um Dupôndio com a imagem do general Germânico numa quadriga (15 a.C. - 19 d.C.).
Germânico encontrou e trouxe de volta a Roma os seus estandartes, do que restava de três
legiões massacradas na Batalha da Floresta de Teutoburgo (9 d.C.). O sucesso destas
campanhas, valeram-lhe o cognome Germânico pelo qual ficou conhecido.
reforço das fronteiras. Ele consolidou seu poder político, sistematicamente eliminando seus
rivais. Durante sua regência, por volta do ano 30, Jesus Cristo foi espancado até a cruz.
RESUMO
O presente artigo aborda as manifestações de resistência cultural e religiosas na realidade
cristã do primeiro século da Era Cristã. Em consonância com as recentes pesquisas e
interpretações da historiografia, parte da constatação sobre a relação de antagonismo que o
cristianismo, entre outros movimentos de cunho religioso, mantinham em relação ao
imperativo religioso romano do culto ao imperador. Tal relação de antagonismo se
encarnou no simbolismo de diversas narrativas que podem ser identificadas nos
documentos que compõem o
NovoTestamento bíblico.
O objetivo do presente trabalho é apresentar indícios, ainda que indiretos (mas nem por
isso
Organizado por Eliezer Lucena 26
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
É nesse contexto que começam a surgir dentro de sua narrativa evangélica paralelos entre
Jesus e outros personagens importantes da historia pagã, principalmente os imperadores
romanos.
Um dos diversos exemplos que podem ser tomados para ilustrar esse fato consiste nas
estórias bíblicas sobre o nascimento e infância de Jesus. Segundo Brown (2005), toda a
tradição herdada sobre Jesus se limita ao tempo de duração de seu ministério, o que
significa que não existiram materiais tradicionais antigos sobre a infância de Jesus.
Essa ausência de materiais antigos sobre a infância de Jesus possibilitou a elaboração de
materiais que foram assimilados pela tradição e passaram a fazer parte da memória de
Jesus. A criação dessas lacunas ajudou no processo de metamorfoseamento da imagem de
Jesus, a qual começou antes desses documentos terem sido escritos:
Não se deve perder de vista que a redação final dos evangelhos não foi feita sem antes ter
passado por um complexo período oral, havendo, portanto, uma seleção natural dos
relatos que estavam sendo redigidos. Esse processo, longo e gradual, influenciou o rumo
teológico que estava em formação nas comunidades cristãs (SCARDELAI, 1998, p. 299).
A redação dos Evangelhos bíblicos se deu numa etapa mais avançada da história do
cristianismo primitivo, cujo intuito foi “oficializar” as tradições recebidas “populares” que
mais tarde se tornaram o núcleo da fé cristã ocidental.
Tradições orais possuem características bastante específicas. De acordo com Arens (2007,
p.
71-72), “pelo fato mesmo da comunicação ao longo do tempo, em toda comunicação oral
se produz uma série de alterações”.
De fato, o período oral das tradições de Jesus foi o bastante para que várias lendas e
acréscimos se desenvolvessem na tradição popular sobre a imagem de Jesus – a qual
acabou se tornando uma “imagem de culto” elaborada pela imaginação coletiva. Por isso,
Meier (1998, p. 150), de forma honesta, comenta que: “É preciso levar em conta a criação
de lendas na tradição do evangelho”.
Duas das mais importantes matrizes para a criação e assimilação de material da tradição de
Jesus foram a cultura helenística e a romana. Sendo que: “[...] os camponeses judeus,
inspirados por esperanças apocalípticas, não admitiam ser privados da sua liberdade do
domínio opressivo estrangeiro e nacional” (HANSON; HORSLEY, 1995, p. 63), era
inevitável que houvesse antagonismos ao poder imperial regente na Judéia, muitos dos
quais se deu através da violência armada, e que se cristalizaram sob a forma de
“movimentos messiânicos” cujos principais objetivos era “a restauração da justiça
socioeconômica” (HANSON; HORSLEY; 1995, p. 115).
O próprio Jesus de Nazaré, fundador do movimento que deu origem ao cristianismo, foi
violentamente perseguido e sumariamente executado através da crucificação, porque as
suas reivindicações sob a forma de pregação também negavam enfaticamente os poderes
imperiais romanos e os poderes oligárquicos judaicos como legítimos.
Desse modo, alguns judeus e cristãos poderiam adotar uma política de luta agressiva e
direta contra os romanos, enquanto outros judeus e cristãos poderiam adotar outras
estratégias, talvez menos explícitas.
Uma das formas usadas pelo cristianismo primitivo para protestar contra o império foi
equiparar (ou sobrepujar) Jesus a César como o “Senhor do Universo”. Pelo fato desse
protesto ter se dado somente nos âmbitos da mentalidade e do discurso (pois não havia
formas de se concretizar na realidade, mas apenas na crença), pode-se encontrar vestígios
desse protesto em vários textos bíblicos e principalmente nos Evangelhos.
Crossan (2004, p. 450) afirma que: “Isso não é, já se vê, apenas uma série de
coincidências acidentais”, e complementa: “Esse paralelismo fundamental é, portanto,
antagonismo profundo: dois programas escatológicos que se chocam um com o outro. O
cristianismo sabia disso desde o início e de maneira clara. Roma sabia disso desde o início,
mas de maneira obscura” (CROSSAN, 2004, p. 451).
De fato, como a obra lucana é dupla – o terceiro evangelho e o Atos dos Apóstolos – pode-
se também perceber um duplo objetivo que vez por hora se entrelaça em todas as
narrativas: descrever a expansão do cristianismo como acontecimento de importância
cósmica, pondo-a na estrutura cronológica do mundo, da história e dos governantes
seculares, os quais, todos, serão afetados por eles.
Desse modo, Lucas tentou traçar a rota que mudaria o curso domundo mediterrâneo – a
rota do cristianismo. Por isso, coloriu suas narrativas com detalhes exatos – ou melhor,
“vivos” – do mundo mediterrâneo, na medida em que narrava o processo de expansão
missionária cristã.
O discurso de Paulo no Areópago, em Atenas, narrado em Atos 17, ilustra muito bem isso:
era o cristianismo entrando e agitando o mundo secular dominado pelo Império Romano.
Em Atos dos Apóstolos, Lucas dedica atenção especial em citar, acuradamente,
governantes e instituições políticas de várias e regiões da Ásia Menor e do Mediterrâneo,
incluindo Instituições religiosas: Os Neokoros (Guardiões do Templo de Ártemis), os
ouvires de Efeso, o proconsul Sergio Paulo, Gálio o proconsul da Acaia, os proconsules da
Ásia, os litores, os politarcas, o Areópago (onde se faziam discursos políticos), o “homem
principal de Malta”, estratopedarca, os tetrarcas, Quirino, etc.
No ano décimo quinto do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era
governador da Judéia, Herodes tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia
e da Traconítide, e Lisânias tetrarca de Abilene, sob o pontificado de Anás e Caifás, [...] o
Espírito Santo desceu sobre [Jesus] em forma corporal, como pomba. E do céu veio uma
voz: “Tu és o meu Filho; eu, hoje, te gerei”.
A atenção enfática dada por esse evangelista aos governantes locais – e principalmente
romanos – é ressaltada no relato sobre o nascimento de Jesus, que se deu, segundo o autor
lucano, nos dias em que Quirino era governador da Síria, quando César Augusto
promulgou um edito determinando que todo o mundo sob o jugo romano fosse recenseado
(LUCAS2.1,2).
Brown (2005, p. 496), por outro lado, afirma que o interesse particular de Lucas em ligar o
nascimento de Jesus a esses acontecimentos romanos não é de todo desconhecido, e que
não somente o nascimento, mas também seu ministério é colocado em uma consonância
cronológica com o tempo romano, numa forma deliberada de justapor Jesus ao império:
Desse modo, os relatos lucanos seria uma resposta à propaganda imperial romana e a sua
ideologia imperial e cultual.
De acordo com Bonz (apud KOESTER, 2005, p. 55), o autor do Evangelho de Lucas (que
foi o mesmo autor de Atos dos Apóstolos) não estava alheio aos meios propagandísticos
do culto imperial: “o modelo literário da obra de Lucas foi a antiga epopéia grega recriada
na obra latina de , de Virgilio”. A Eneida, de fato, trata sobre as origens de Roma e realiza
elogios publicitários a César Augusto.
Desse modo, o Evangelho de Lucas apresenta justaposições explícitas entre Jesus e César
Augusto, em um jogo claro de contraposições em que a figura de Jesus Cristo não apenas
assimila atributos e designações augustianas, mas também é colocado em um nível
superior ao imperador romano.
Naqueles dias [do nascimento de Jesus], apareceu um edito de César Augusto ordenando
o recenseamento de todo o mundo habitado. [...] O anjo do Senhor apareceu-lhes [a José,
Maria e aos pastores e a Glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de
grande temor. O anjo, porém, disse-lhe: “Não temais! Eis que vos anuncio uma grande
alegria, que será para todo o povo: Nasceu-vos um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na
cidade de Davi”. (grifo nosso).
Nessa passagem, o autor do Evangelho de Lucas usa a palavra [Augoustou] para designar
o César Augusto. Esse uso, que se caracteriza pela transliteração grega de um nome latim
não é comum. Em Atos 25.21-25, o autor usa a palavra grega Sebastos , equivalente grego
do latim, como título. Desse modo, o autor de Lucas usa o nome individual de César com
o objetivo de contrapô-lo ao nome de Jesus, também apresentado de forma individual
(BROWN, 2005, p. 793).
Essa contraposição entre Jesus Cristo e César Augusto é ainda mais acentuada pelo uso
lucano do termo “hoje” (“Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor”), que
denota o nascimento de Jesus e o contrasta às celebrações do dia do nascimento de
CésarAugusto:
A hipótese de que “neste dia, nasceu [...] um Salvador”, de Lucas (2,11) é alegação cristã
contrária à propaganda imperial associada à celebração do aniversário de Augusto é
Organizado por Eliezer Lucena 33
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
O Tibre é um rio no território italiano, com nascente na Toscana, cujas margens passam
por Roma (GIORDANI, 1985).
Desse modo, podemos afirmar que a narração lucana do nascimento de Jesus apresenta um
“desafio implícito a essa propaganda imperial, não negando os ideais imperiais, mas
proclamando que a verdadeira paz do mundo foi trazida por Jesus” (BROWN, 2005, p.
497).
Brown (2005, p. 497) também comenta que as alusões lucanas à “paz” (cf. Lc 1.79; 2.14)
também se enquadram nesse quadro de antagonismos fomentado pelo cristianismo antigo
em relação ao culto imperial, pois enquanto os exércitos romanos proclamavam a “ paz
Augusta”, os exércitos celestiais proclamavam a “paz Christi ”.
De fato, nem César Augusto e nem Jesus de Nazaré escaparam de serem caracterizados
como “prodígios” em suas infâncias: o primeiro, motivado pela propaganda imperial que
rondava em todo o império romano; o segundo, motivado pela oposição à teologia
imperial, pelo desejo de equiparar (ou mesmo superar) Jesus a César e pelo intento de
mostrar a grandeza e a ascendência divina do messias desde o início de sua infância.
5- CONCLUSÃO
Desse modo, torna-se clara a existência de um forte conflito ideológico entre primeiros
cristãos e o culto imperial romano, mais especificamente do primeiro em relação ao
segundo. Apesar da atitude anti-beligerante do cristianismo primordial em relação ao
Império Romano, os cristãos primitivos não aceitaram de bom grado as propostas
teológicas do culto que os dominadores traziam, e não se calaram diante da exigência de se
prestar reverência e adoração a imagem do imperador.
O marco desse trabalho foi demonstrar que discursos antiimperialistas estão presentes,
ainda que de forma simbólica e camuflada, nos escritos do Novo Testamento cristão, que
se constituem os primeiros escritos da religião cristã.
BIBLIOGRAFIA:
A Bíblia sem mitos: ARENS, Eduardo. Uma introdução crítica. São Paulo: Paulus, 2007.
O Nascimento do Messias: BROWN, Raymond E. comentário das narrativas da infância nos evangelhos de
Mateus e Lucas. São Paulo: Paulinas,
J o filho de deus (e o imperador não é): A simbolização de discursos antiimperialistaselatos...
O nascimento do Cristianismo: 2005 (Coleção bíblia e história). CROSSAN, John Dominic. : o que aconteceu nos
anos que se seguiram à execução de Jesus. São Paulo: Paulinas,
O queijo e os Vermes: 2004. GINZBURG, Carlo. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006.
HANSON, John S.; HORSLEY, Richard A. movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus,
Bandidos, profetas e messias.
Jesus e o império: 1995. HORSLEY, Richard A. o reino de Deus e a nova desordem mundial. Tradução de
Euclides Luiz Calloni. São Paulo: Paulus, 2004.
Introdução ao Novo Testamento: KOESTER, Helmut. História e literatura do cristianismo primitivo. São Paulo:
Paulus, 2005.Vol. II.
Um judeu marginal: MEIER, John P. : Repensando o Jesus Histórico: as raízes do problema e da pessoa.
3. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1993.Vol. I.
Um judeu marginal: Repensando o Jesus Histórico: Milagres. Rio de Janeiro: Imago, 1998.Vol. II, livro III.
Movimentos messiânicos no tempo de Jesus: SCARDELAI , Donizete: Jesus e outros messias. São Paulo: Paulus,
1998.
OS SUÍNOS MARATONISTAS
Este erro bíblico seria cômico se não fosse trágico. Já ouvimos professores e
pastores tentando explicar o inexplicável, e alunos e fiéis tentando compreender o
incompreensível. Trata-se do desembarque de Jesus na margem do Lago da Galiléia na
cidade de Gadara quando foi recebido por dois homens possessos de espíritos impuros. Na
narrativa bíblica Jesus expulsou os espíritos, que antes de saírem pediram permissão para
entrar numa manada de porcos que pastava ali próximo, ao entrar nos porcos os espíritos
causaram um ataque de loucura nos suínos que correram, precipitaram-se no mar e
morreram afogados. Vamos ler a passagem bíblica:
Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois
endemoninhados, saindo dentre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia
passar por aquele caminho. E eis que gritaram: Que temos nós contigo, ó Filho de
Deus! Vieste aqui atormentar-nos antes de tempo? Ora, andava pastando, não longe
deles, uma grande manada de porcos. Então, os demônios lhe rogavam: Se nos expeles,
manda-nos para a manada de porcos. Pois ide, ordenou-lhes Jesus. E eles, saindo,
passaram para os porcos; e eis que toda a manada se precipitou, despenhadeiro abaixo,
para dentro do mar, e nas águas pereceram. Mt 8:28a32
pelo monte uma grande manada de porcos. E os espíritos imundos rogaram a Jesus,
dizendo: Manda-nos para os porcos, para que entremos neles. Jesus o permitiu. Então,
saindo os espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada, que era cerca de dois
mil, precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, onde se afogaram. Mc
5:1a13
Mas como encontrar o motivo que gerou o erro bíblico analisado, já que é
impossível que os porcos tenham percorrido 50 km, ou mesmo 12 km? O leitor pode ficar
espantado se nós começarmos as perguntas de outra forma: Houve mesmo este episódio?
Havia quantos homens possessos? Qual a cidade em questão? Qual evangelista está
correto?
O leitor agora deve estar se perguntando: Será que o texto do Evangelho de Mateus
está errado? Será que errados estão os textos dos Evangelhos de Marcos e Lucas? Será que
todos estão errados e o correto é a conjectura de Orígenes? Vamos continuar...
Organizado por Eliezer Lucena 38
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
Para compreender este episódio de forma alegórica, o leitor deve ter em mente que
este Evangelho foi escrito para uma platéia judaica. Logo o texto do Evangelho de Marcos
deve ser lido com “olhos judeus”, ou seja, é necessário para o leitor conhecer as práticas e
as crenças judaicas citadas no episódio, caso contrário, a interpretação do Midrash poderá
ser prejudicada ou — muito pior — ser interpretada como literal. A interpretação de um
Midrash é subjetiva, portanto vamos relatar as práticas e as crenças judaicas e, ao final, o
leitor irá fazer sua própria interpretação.
Um judeu religioso não tem como prática visitar o cemitério, salvo quando por
prescrição da Lei Judaica. Uma das crenças judaicas com relação aos espíritos dos mortos
é que eles existem e que, inclusive, podem ouvir nossas conversas dirigidas a eles, pois
passam a existir no nosso mundo, porém em um outro plano espiritual. Depois da morte, o
espírito da pessoa destaca-se do corpo e, após o período de luto, retorna a Deus. Neste
episódio que estamos analisando, os espíritos chamados pelos cristãos de “demônios” são
para os judeus, espíritos de pessoas que não tiveram uma vida honesta, justa e pautada pela
obediência aos Mandamentos da Lei de Deus e por isso estão atormentados e não
retornaram a Deus. Estes espíritos atormentados freqüentam as residências em que
moravam e os cemitérios em que seus corpos estão enterrados. Às vezes se apoderam do
corpo de pessoas ou até de animais que ficam então possessos. Para realizar o exorcismo, a
religião judaica sugere que haja um número mínimo de dez pessoas sendo um deles um
rabino praticante da Lei que fará a conjuração do espírito, perguntando o seu nome, o que
quer ou precisa para finalmente exorcizar o espírito do corpo da pessoa ou animal
possesso. Quando o rabino exorciza um espírito, ele ordena que o espírito saia de perto de
qualquer cidade, povoado ou vila e siga em direção ao deserto, floresta, abismo ou mar.
Outra possibilidade é ordenar ao espírito que retorne a Deus. O exorcismo no judaísmo é
visto como um ato de extrema misericórdia para com o possesso e também para com o
espírito.
Já os “demônios” são crias de Lilith, a primeira mulher de Adão. Lilith teve filhos-
demônios com Adão, com Asmodeu o chefe dos demônios, com os anjos e até com seus
próprios filhos-demônios. Os demônios e os anjos não precisam de corpos, pois podem se
materializar e adquirir qualquer forma, e por este motivo os demônios nada tem haver com
o episódio narrado.
A resposta para o erro encontrado deve ser precedida pela escolha de uma das duas
suposições que mostramos ao leitor. A diferença entre a interpretação literal e a
interpretação de um midrash é que na primeira opção a resposta é objetiva, enquanto que
na segunda opção a resposta é subjetiva. Entretanto, dependendo da escolha do leitor, a
resposta suscitará outro problema que o leitor deverá conviver com ele: Se a interpretação
literal for escolhida o leitor terá que reconhecer o erro bíblico, se a escolha for pelo
midrash então o leitor terá que reconhecer que o episódio não existiu como a maioria dos
cristãos acredita.
“Por volta desse tempo, havia Jesus, um homem sábio. Pois ele era alguém que praticava
feitos surpreendentes e um mestre de pessoas que recebiam o extraordinário com prazer.
Ele motivou muitos judeus e também muitos gregos. E quando Pilatos o condenou à cruz,
já que ele era acusado por aqueles da mais alta categoria entre nós, os que o haviam
amado desde o inicio não pararam de causar perturbações. E até agora a tribo dos
cristãos, assim chamados por causa dele ainda não se extinguiu.’
Antiguidades Judaicas 18:63-64
O texto é tão claro que quase dispensaria comentários, porém vamos comentar.
Josefo diz que foi Pilatos quem condenou Jesus visto que ele Jesus era acusado pelos da
mais alta categoria entre os judeus. Quem seriam esses judeus que faziam parte da mais
alta categoria judaica? Com certeza o texto não deixa dúvidas que eram os Saduceus que
compunham a maior parte do Sinédrio juntamente com Herodes e os de seu partido, ou
seja, parte do Sinédrio, Herodes e os seus juntamente com Pilatos foram os que mataram
Jesus segundo o testemunho de Flávio Josefo. Vejamos agora outro testemunho histórico,
porém de um historiador romano.
“Nero criou bodes expiatórios e puniu com todo refinamento os notoriamente depravados
cristãos (como costumavam ser chamados). O fundador dessa seita, Cristo, fora
executado durante o reinado de Tibério pelo governador da Judéia, Pôncio Pilatos. Mas
apesar desse revés temporário, a fatal superstição renasceu, não só na Judéia (onde esse
mal tinha começado), mas até mesmo em Roma. Onde todas as praticas degradadas e
vergonhosas florescem na Capital.”
Anais - Públio Cornélio Tácito
Tácito viveu do ano 56 à 120 E.C. portanto estava inteirado dos acontecimentos na
Palestina, principalmente porque ele registrou a rebelião judaica contra Roma, que
aconteceu de 66 a 73 E.C.em suas conhecidas coleções HISTÓRIAS.
O culto imperial em Roma iniciou-se com Octaviano César Augusto, que era filho
adotivo de Júlio César. O imperador era assim visto como um Deus (augustus) e por isso
muitos imperadores acrescentaram ao seu nome o título de augustus.
Atos 18: 1 depois disto, deixando Paulo Atenas, partiu para Corinto. 2 lá, encontrou
certo judeu chamado Áquila, natural do ponto, recentemente chegado da Itália, com
Priscila, sua mulher, em vista de ter Cláudio decretado que todos os judeus se retirassem
de Roma. Paulo aproximou-se deles. 3 e, posto que eram do mesmo ofício, passou a
morar com eles e ali trabalhava, pois a profissão deles era fazer tendas. 4 e todos os
sábados discorria na sinagoga, persuadindo tanto judeus como gregos.
Em Corinto Paulo encontra Priscila e Áquila judeus que foram expulsos de Roma
devido à perseguição do imperador Cláudio contra os judeus no ano de 49. Cabe aqui uma
pergunta: que judeus eram esses que o imperador Cláudio expulsou de Roma? Existem
citações históricas que o Imperador Cláudio que sucedeu Calígula favoreceu os judeus em
várias oportunidades:
Enfim existem outros benefícios que os judeus gozaram durante o reinado de Cláudio
como imperador. Então por que ele expulsaria os judeus de Roma? O historiador romano
Suetônio fala de distúrbios entre os judeus romanos causados por um tal:
“ Os judeus foram expulsos de Roma por promoverem distúrbios, instigados por um tal
de CHRESTUS.” Vida de Claudio – Caio Suetônio Tranquilo historiador romano
Um tal CHRESTUS em latim que seria a mesma coisa que CHRISTUS em grego.
Claudio CTA os disturbios que ele atribui a Cristo, ou seja, os judeus que foram expulsos
de Roma eram os judeus que creram em Cristo, eram os judeus nazarenos que cresciam
muito em Roma e anunciavam que Cristo era o Messias e filho de Deus, e isto se chocava
contra o culto aos imperadores romanos, pois os tais eram os únicos filhos de Deus. Esta
pratica de cultuar e construir Templos para os imperadores romanos teve inicio com o
sucesso de Augusto César que unificou o império romano e trouxe a paz romana e
prosperidade para todo o império. Deste ponto em diante o imperador se tornou o único
filho de Deus que devia ser adorado e venerado em todo o império, é obvio que os judeus
cristãos não veneravam o imperador e ainda espalhavam que Yeshua era o filho de Deus
por isto eles foram expulsos de Roma. Desta forma conseguimos entender como e porque
PRISCILA E ÁQUILA um casal de judeus que foram expulsos de Roma e já criam em
Yeshua foram parar na cidade de Corinto. Então não foi Paulo que levou o evangelho, ou
seja, as boas novas da salvação até a cidade de Roma, pois isto aconteceu bem antes dele
Paulo ter sido levado para Roma. Quem então levou o evangelho até Roma? A resposta é
simples, foram aqueles judeus que estavam em Jerusalém para celebrar a festa de
Pentecostes no capitulo 2 de Atos. Eles não só levaram as boas novas para Roma como
para a Antioquia, Alexandria e todas as partes do mundo conhecido de então. Então alguns
teólogos e judeus messiânicos defenderem que somente 144.000 judeus creram em Yeshua
e depois dos 144.000 os judeus rejeitaram Yeshua e sua mensagem, e assim a pregação se
voltou para os gentios é muita falta de informação bíblica em primeiro lugar e histórica em
segundo lugar. Em Roma muitos judeus creram e foram expulsos de lá, em Antioquia os
judeus de lá creram e formaram uma grande comunidade, em Corinto a Igreja era na casa
de um casal de judeus, em Alexandria se formou uma grande comunidade de judeus que
creram em Yeshua e assim em todas as terras que compunham o império romano as boas
novas se espalharam e cresceram entre os judeus primeiramente e depois entre os gentios.
Escolhi o testemunho de Eusébio de Cesáreia por ele citar outros dois historiadores que
relatam em seus escritos quase a mesma história, ou seja, Hegésipo que foi contemporâneo
do apostolo Paulo e Tiago, Flávio Josefo que foi testemunha ocular do ocorrido e ainda
cita Clemente de Alexandria que foi um dos pais da igreja narrou à mesma história.
“Não conseguindo mais suportar o testemunho daquele que, por causa do elevado nível
que tinha atingido na virtude e na piedade, era considerado o mais justo dos homens,
mataram-no, usando como ensejo a anarquia reinante, já que Festo havia morrido na
Judéia, deixando o distrito sem governante nem líder. Ora, quanto ao modo pelo qual
Tiago morreu, já foi declarado pelas palavras de Clemente: Que ele foi lançado de uma
ala do templo e espancado com um malho até a morte.”
História Eclesiástica. Eusébio de Cesáreia – Livro 2 capitulo 23
“Hegésipo, que pertence à geração seguinte à dos apóstolos, fornece o relato mais exato
a seu respeito em seu quinto livro, como se segue: “ Ora, Tiago, o irmão do Senhor que,
por haver muitos com esse nome, era chamado Justo por todos desde os tempos do Senhor
até o nosso, recebeu o governo da igreja juntamente com os apóstolos. Este era santo
desde o ventre de sua mãe. Ele não bebia vinho, nem bebida fermentada, e se abstinha de
alimento animal; nenhuma navalha passava sobre sua cabeça; jamais se ungia com óleo e
jamais ia aos banhos. Somente ele tinha permissão de entrar no Santuário.Jamais vestia
roupas de lã, mas de linho. Ele costumava entrar sozinho no Templo, sendo com
freqüência visto de joelhos, intercedendo para que o povo fosse perdoado, de modo que
seus joelhos ficaram duros como os de um camelo por causa de suas súplicas habituais,
ajoelhando-se diante de Deus. Assim por sua piedade extrema era chamado o Justo ou
Tzadique que significa justiça e proteção do povo.”
História Eclesiástica. Eusébio de Cesáreia – Livro 2 capitulo 23
O nosso tema não é este sobre judeus e gentios e Torah e lei a Noética, nosso objetivo é
mostrar que não foi somente Jesus que morreu tanto nas mãos do império romano quanto
nas mãos da família de Anás e Kaifás. Como vimos acima Tiago foi morto pelas mãos do
Sumo Sacerdote Anano que era neto de Anás e filho de Kaifás, os mesmos que fizeram um
complô juntamente com Herodes e Pilatos para matarem a Jesus. E mesmo após matarem
Tiago o Justo, irmão de Jesus, a perseguição não cessou à família de Jesus como veremos
abaixo.
O Simão que Eusébio cita no texto acima era o irmão de Tiago e também irmão de Jesus
que o próprio Hegésipo confirma que era irmão do Senhor Jesus em seu testemunho que
deixou por escrito, ou seja, Hegésipo viveu na época de Tiago e Paulo e seu testemunho
vale muito mais do que o de Eusébio que viveu no século IV. Infelizmente mataram Jesus,
mataram Tiago, mataram Simão, e depois por fim mataram a Judas o último dos irmãos de
Jesus, todos morreram por um único motivo, todos eles eram da descendência de Davi, ou
seja, eram herdeiros legítimos ao trono de Israel, e também o império romano perseguiu
até aos sobrinhos de Jesus por serem da família de Davi, como mostra o texto abaixo
“Também se diz que Vespasiano, após a captura de Jerusalém, ordenou uma busca para
encontrar todos os da família de Davi, para que não restasse entre os Judeus ninguém da
família real e, por esse motivo, outra violenta perseguição foi infligida aos judeus.”
História Eclesiástica- Eusébio de Cesárea - Livro 3 capitulo 12
“Ora, quando o mesmo Domiciano deu ordens para que os descendentes de Davi fossem
mortos, diz uma antiga tradição, alguns dos hereges acusaram os descendentes de Judas
como irmão de nosso Salvador segundo a carne, porque eram da família de Davi e, como
tais, estavam relacionados com Cristo. Isso é declarado por Hegésipo como se segue:
“Ainda viviam da família de nosso Senhor os netos de Judas, chamado irmão de nosso
Senhor de acordo com a carne. Esses foram delatados como pertencentes à família de
Davi e levados a Domiciano pelo Evocado, pois esse imperador estava tão alarmado
quanto Herodes com a manifestação de Cristo. Ele lhes perguntou se eram da família de
Davi, e eles confessaram que sim.”
História Eclesiástica- Eusébio de Cesárea- Livro 3: 19-20
O testemunho de Hegésipo que viveu no primeiro século da era cristã registrado pelo
Bispo e historiador Eusébio de Cesáreia em seu livro História Eclesiástica nos dá
informações importantíssimas para reconstruirmos a verdade, tanto quanto mais próxima
da realidade histórica. A respeito da morte de Simão, que Eusébio afirmava ser primo de
Jesus, o próprio Hegésipo de quem Eusébio usou as fontes históricas afirmava ser ele
irmão de Jesus. Bem como você deve ter percebido a liderança da comunidade nazarena
ou os da Caminho, que bem depois passou a ser conhecida como os cristãos, era exercida
pela família de Jesus. Segundo este estudo podemos perceber que os primeiros lideres da
assim hoje chamada igreja foram:
E todos sem exceção foram perseguidos tanto pela família de Kaifás e Anãs que
participaram do complô que resultou na morte de Jesus e Anano que foi responsável pela
morte de Tiago quanto pelo império romano e seus imperadores que queriam acabar com
os descendentes da família de Davi. O motivo já dissemos aqui que era não deixar nenhum
herdeiro legitimo ao trono do reino de Israel e conseqüentemente acabar com as
expectativas messiânicas do povo judeu, que um dia surgiria um descendente de Davi que
restabeleceria o Reino de Israel e os libertaria do jugo inimigo, em outras palavras, o
império romano queria acabar com o mal pela raiz, exterminando a família de Davi, no
caso aqui a família de Jesus. É importante também notar que enquanto a família de Jesus e
os apóstolos comandaram a comunidade nazarena de Jerusalém e estavam vivos, a
comunidade manteve-se integra, pura, sem se desviar do seu objetivo e ensino inicial,
porém logo na terceira e quarta geração subseqüente a coisa já descambou segundo
testemunhos históricos que vão do século I ao século IV, como os testemunhos lidos acima
de Hegésipo do século primeiro, Clemente de Alexandria e por fim Eusébio de Cesárea
A CIDADE DE ÉFESO
A CIDADE DE LAODICEIA
NERO - O INCENDIÁRIO
Com Sétimo Severo, que governou o império de 193 a 211, a perseguição foi
regorosa, mas não generalizada. O Egito e o norte da África foram as regiões que mais
sofreram. Em Alexandria muitos mártires eram diariamente queimados, crucificados ou
degolados, entre os quais Leônidas, pai de Orígenes. Em Cartago, Perpétua, senhora nobre,
e sua fiel escrava Felicidade, foram estraçalhadas pelas feras.
A teologia imperial havia sido inaugurada por Augusto César, que governou Roma de
31 a. C. até 14 d. C. Seu pai era o deus Apolo, que o concebeu em sua mãe Átia. Incrições
referm-se a ele como “FILHO DE DEUS”, “SENHOR”, e “SALVADOR”, aquele que
trouxe “paz à terra”. Depois de sua morte, foi visto subindo ao céu para ocupar lugar
permanente entre os deuses. Seus sucessores seguiram o costume de ostentar títulos
divinos, inclusive Tibério, imperador entre 14 e 37 d. C., que portanto reinava durante a
época da atividade pública de Jesus. Para os súditos judeus, o desfile de Pilatos
personificava não somente uma ordem social rival, mas também uma teologia rival.
O cortejo militar imperial era muito comum na época de Jesus durante o I século. Era
um habito dos governadores romanos da Judéia estar e irem para Jerusalém durante as
principais festas judaicas. Faziam isto nem tanto pelo respeito as festividades mas sim pela
probabilidade de tumultos e problemas que podiam ser gerados por ocasião da
comemorações e assim podiam estar pessoalmente na cidade e liderar uma possível
repressão ao tumulto. Frequentemente haviam tumultos e os ânimos ficavam acirrados
principalmente por ocasião da páscoa que era uma comemoração da libertação do povo
judeus de um império do passado. A missão das tropas de Pilatos era reforçar a guarnição
romana estacionada permanentemente na FORTALEZA ANTONIA, voltada para o
templo judeus e os seus pátios.
O reino de Deus que Jesus pregava seria instaurado por ele, entrando em Jerusalém
montado num jumento jovem, nunca usado, em cumprimento das profecias dos profetas.
Esse rei, montado num jumento banirá a guerra da Terra, não haverá mais carruagens,
cavalos ou arcos. Ele anunciará a paz às nações, ele será um rei de paz. O cortejo de Jesus
se contrapunha ao de Pilatos que estava acontecendo do outro lado da cidade. Esse
contraste entre Reino de Deus e o Reino de César está no centro não somente do
evangelho de Marcos, mas da história de Jesus e do inicio do cristianismo. Este confronto
entre esses dois reinos continuou durante a última semana da vida de Jesus.
"Porque não obraram por zelo, mas por paixão; para derramar sua ira contra nós,
espoliando-nos. Não demore, ó Deus, em devolver o mal sobre suas cabeças, para
mudar em desonra o orgulho do dragão. Não esperei muito tempo para que Deus
fizesse aparecer sua insolência degolada nas colinas do Egito, desprezada como
a mais fútil besta do mar e da terra. Seu cadáver era jogado pelas ondas com
grande ignomínia, não havia quem o enterrasse, porque Ele o aniquilou
vergonhosamente. Não refletiu que era apenas um homem, não tinha pensado no fim.
Falou assim: Sou o dono do mar e da terra; porém não percebeu que Deus é o Grande,
o Forte, por seu tremendo poder"[12] .
O mistério do mal -*
Apocalipse 17: 1 Um dos Anjos das sete taças veio me convidar: «Venha! Vou lhe mostrar
como será julgada a grande prostituta, que está sentada à beira de muitas águas. 2 Os
reis da terra se prostituíram com ela. Os habitantes da terra ficaram bêbados com o vinho
da sua prostituição. 3 E o Anjo me levou em espírito até o deserto. Aí eu vi uma mulher
sentada sobre uma Besta de cor escarlate, cheia de títulos blasfemos. A Besta tinha sete
cabeças e dez chifres. 4 A mulher usava vestido cor de púrpura e escarlate. Estava toda
enfeitada de ouro, pedras preciosas e pérolas. Tinha na mão um cálice de ouro cheio de
abominações, que são as impurezas de sua prostituição. 5 Na fronte da mulher estava
escrito um nome misterioso: «Babilônia, a Grande, a mãe das prostitutas e das
abominações da terra.» 6 Reparei que a mulher estava embriagada com o sangue dos
santos e com o sangue das testemunhas de Jesus.
Apocalipse 17: 7 O Anjo, porém, me disse: «Por que você está admirado? Vou explicar-lhe
o mistério da mulher e da Besta com sete cabeças e dez chifres que carrega a mulher. 8 A
Besta que você viu, existia, mas não existe mais. Ela está para subir do Abismo, porém
caminha para a perdição. Os habitantes da terra vão ficar admirados ao verem a Besta.
São esses que desde a fundação do mundo não têm seu nome escrito no livro da vida.
Ficarão admirados porque a Besta existia, não existe mais, mas vai aparecer de novo.
Apocalipse 17: 9* Aqui é preciso ter inteligência para entender: as sete cabeças são sete
montes, sobre os quais a mulher está assentada. São também sete reis. 10 Cinco já
caíram, um existe, e o outro ainda não veio; mas, quando vier, ficará por pouco tempo. 11
A Besta que existia e não existe mais, ela mesma é o oitavo rei, e é também um dos sete,
mas caminha para a perdição. 12* Os dez chifres que você viu são dez reis, que ainda não
receberam um reino. Estes, porém, receberão autoridade como reis por uma hora apenas,
juntamente com a Besta. 13 Esses reis pensam a mesma coisa: entregar o poder e a
autoridade para a Besta. 14 Todos juntos farão guerra contra o Cordeiro. Mas o Cordeiro
os vencerá, porque o Cordeiro é Senhor dos senhores e Rei dos reis. E com ele, vencerão
também os chamados, os escolhidos e os fiéis.»
Apocalipse 17: 15 O Anjo continuou a me explicar: «Você viu aquela prostituta que está
sentada perto de muitas águas. Essas águas são povos, multidões, nações e línguas
diversas. 16* Os dez chifres que você viu, juntamente com a Besta, começarão a odiar
aquela prostituta, a despojarão e a deixarão nua. Comerão suas carnes e a queimarão. 17
Pois Deus colocou no coração deles o desejo de realizarem o seu próprio plano: vão
entregar sua realeza à Besta, até que as palavras de Deus estejam cumpridas. 18 Essa
mulher que você viu é a Grande Cidade que está reinando sobre os reis da terra».
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* 17-19: João mostra que o julgamento realizado pelo anúncio do Evangelho faz
aparecer a verdade; e esse julgamento tem dois aspectos: - negativo: desvenda o
mistério do mal que domina as cidades, e apresenta a destruição dele (17-18); -
positivo: mostra que a história caminha para a vitória do Ressuscitado. Cristo realiza
a comunhão dos homens com Deus: nisto consiste o Reino (casamento do Cordeiro:
Ap 19).
* 6-8: A visão das cidades, com sua aparência de riqueza e poder, é maravilhosa e
hipnotiza, provocando a alienação que faz adorar a Besta. Por isso, é preciso ter senso
crítico diante da realidade. A descrição da Besta lembra o título de Deus, mas ela vem
do nada e caminha para o nada. O autor se refere à decadência do império romano
sob Nero, e o seu ressurgimento com Vespasiano, e também a maldade de Nero que
revive em Domiciano.
* 9-11: As sete cabeças são as sete colinas de Roma. São também sete reis, isto é,
imperadores do séc. I. Deles já caíram cinco: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e
Nero. Um existe (Vespasiano), e o outro durará pouco (Tito, que reinou só dois
anos). A Besta é o oitavo (Domiciano) e, ao mesmo tempo, é um dos sete, ou seja, o
imperador Domiciano que agora persegue os cristãos, reencarnando a crueldade
de Nero.
* 12-15: Os dez chifres são os países dominados por Roma, unidos a ela para lutarem
contra Cristo, que os vencerá juntamente com seus discípulos. As águas são as
multidões seduzidas pelo absolutismo romano.
* 16-18: O julgamento se realiza através da luta entre as nações que buscam o poder.
Os dominados se revoltam e destroem o dominador.
O objetivo dessa descrição é mostrar com detalhes o por quê tal cidade é destruída.
Um anjo traz tal revelação para João (17,1).
Primeiramente vem uma visão de Roma, a meretriz (vs. 3-6). Através das indicações
do texto torna-se claro concluir que essa mulher é a cidade de Roma (Ver vs.9a e
v.18). Suas vestes e adornos enfatizam sua “realeza e riqueza” (v.4). Ela está
“assentada sobre a besta” (v.3), que é o império romano (ver cp. 13), mostrando
assim que governa-o e é o seu centro. Ela é descrita como a “mãe das meretrizes e das
abominações da terra” (v.5), sendo, portanto, o centro de todo o mal que havia no
mundo de então. Sua última e principal característica é “estar embriagada com o
sangue dos santos” (v.6. Ver 13,7.15).
Continuando a descrição da besta, ela tem “dez chifres” que são dez reis (v.12)
aliados a ela e que têm poder por um período curto de tempo (“uma hora”). São
submissos à besta (v.13). Formam uma frente para combater o Cordeiro, que os
vence (v.14. Essa batalha é apresentada em 19,11-21).
Assim como o primeiro anjo introduziu a visão de Roma (17,1-3), um outro faz o
anúncio de sua queda (18,1-3). Embora essa destruição se apresente como já tendo
acontecido (“caiu, caiu” - v.2), ela, na realidade, será efetuada no futuro. Tal modo de
falar é para enfatizar que sua ruína “já está determinada”.
A queda de Roma não é um fato isolado na história. Ela tem conseqüências. E elas se
manifestam para aqueles que se relacionavam com a capital do império.
Primeiramente os reis da terra se lamentam com a destruição da cidade (vs.3 e 9).
Eles participavam de seu poder e agora sentem a perda dele. Em segundo lugar,
temos os mercadores da terra (vs. 3. 11-16) que se enriqueceram através do
comércio com ela. Terão que buscar lucro em outro lugar. E, em terceiro lugar, vem
os mercadores do mar, a marinha mercante (vs. 17-19) que também se enriqueceu
por transportar as mercadorias de e para Roma no oceano Mediterrâneo. Todas essas
pessoas sofreram com a destruição de sua parceira. Deixaram de auferir lucros com a
ausência dela. Pode ser que entre elas se encontrassem cristãos. Isso mostra como é
perigoso viver uma religiosidade superficial, que esconde uma vida essencialmente
profana, e que se vende ao sistema de influências, ao lucro com negócios escusos.
Hoje não será assim também???
7. OS ESCRAVOS
* 9-11: As sete cabeças são as sete colinas de Roma. São também sete reis, isto é,
imperadores do séc. I. Deles já caíram cinco: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e Nero.
Um existe (Vespasiano), e o outro durará pouco (Tito, que reinou só dois anos). A Besta é
o oitavo (Domiciano) e, ao mesmo tempo, é um dos sete, ou seja, o imperador
Domiciano que agora persegue os cristãos, reencarnando a crueldade de Nero. O autor
se refere à decadência do império romano sob Nero, e o seu ressurgimento com
Vespasiano, e também a maldade de Nero que é revivida em Domiciano, poré bem pior, a
perseguição se estendeu por todo o império romano.
APOCALIPSE 21: OS SETE TIPOS DE PESSOAS QUE SÃO ALVO DA IRA DE DEUS
7 O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho.
8 Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos,
aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que
lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte.
OS COVARDES
OS INCRÉDULOS
OS ABOMINÁVEIS
OS ASSASSINOS
OS IMPUROS
OS FEITICEIROS
OS IDÓLATRAS
Culto Imperial
Desde o principio, as autoridades romanas tinham considerado o cristianismo uma
seita subversiva, apesar de terem levado alguns anos para os romanos distinguirem os
cristãos dos judeus. Os cristãos, da mesma forma que os judeus, recusavam-se a adorar os
deuses romanos ou o imperador, sendo portanto considerados “ATEUS” e “PESSOAS
QUE ODIAVAM A HUMANIDADE”. Além disso, pareciam formar uma sociedade
secreta – um anátema para os romanos. O simples fato de ser cristão era considerado um
crime contra o Estado. Plínio, governador da Bítinia, de 111 a 131 d.C., PERGUNTOU
AO IMPERADOR Trajano se todos os cristãos deveriam ser punidos automaticamente. A
resposta que recebeu foi esta:
“ Sim, a menos que provem sua negação do cristianismo fazendo sacrifício aos deuses –
só neste caso serão libertados”.
O Imperador Romano
Imperador romano é a denominação que os historiadores usam para se referir aos
governantes do Império Romano, fase da Roma Antiga sucessora da época conhecida
como a República Romana.
O título de «Imperador Romano» não definia uma função precisa e legal, senão que é um
jeito de sintetizar uma complicada reunião de cargos e poderes que foram acrescentados,
subtraídos ou mudados no percurso dos séculos. Todos os títulos associados
tradicionalmente ao imperador tinham a sua origem na época republicana.
O conceito de imperador romano depende em grande medida do ponto de vista dos
historiadores, toda vez que para os mesmos romanos não havia a associação moderna do
conceito monárquico com 'império' e 'imperador', mantendo o Império Romano as
instituições políticas e as tradições da República Romana, incluindo o Senado e as
assembléias.
O termo imperator
Originariamente, o nome Imperator significava um general vitorioso que tivera sido
aclamado pelas suas tropas e tendo, portanto, direito ao triunfo, concedido pelo Senado e
pelo povo.
Depois de Augusto, o título foi incorporado como praenomen por todos os imperadores
romanos. Ao título de imperator seguia, geralmente, o número de vezes que o imperador
tinha sido aclamado pessoalmente ou pelos seus generais.
O posto de imperador não era uma magistratura nem nenhum outro cargo do Estado
(de fato, carecia de um uniforme como se prescrevia para os magistrados, senadores e
cavaleiros, se bem que os últimos imperadores sim foram distinguidos com a toga púrpura,
dando origem à frase «vestir a púrpura» como sinônimo da assunção da dignidade
imperial). Também não existiu um título regular para o cargo até ao século III d.C. Os
títulos normalmente associados à dignidade imperial eram Imperator (com o significado de
comandante supremo militar), César (que originalmente teve o significado de cabeça
designada, Nobilissimus Caesar) e Augustus (augusto, com o significado de 'majestoso' ou
'venerável'). Após o estabelecimento da Tetrarquia por Diocleciano, a palavra "Caesar"
passou a designar os dois sub-imperadores menores, e "Augustus" os dois imperadores
maiores. Os imperadores das primeiras dinastias eram considerados quase como a cabeça
do Estado. Como princeps senatus, o imperador podia receber as embaixadas estrangeiras
chegadas a Roma; porém, Tibério considerava que isto era trabalho para um grupo de
senadores sem necessidade da sua presença. Por analogia, e em termos modernos, estes
primeiros imperadores poderiam ser considerados como chefes de estado.
Na discussão sobre quem foi o primeiro imperador romano deve ter-se em conta que
no final do período republicano não existia um novo título que implicasse um poder
individual semelhante ao de um monarca. Tomando como referência a tradução literal de
Imperator para o português, o mesmo Júlio César teria sido imperador, como muitos
outros generais romanos antes que ele. Em lugar disso, e após o fim das guerras civis
durante as que Júlio César liderou os seus exércitos para conseguir o poder, tornou-se
claro por um lado que não existia consenso sobre o retorno da monarquia, e por outro, que
a presença a um tempo de tantos altos governantes com iguais poderes outorgados pelo
Senado lutando entre eles devia chegar ao seu fim.
Júlio César
Com objeto de atingir essa monarquia não declarada, Júlio César, e alguns anos
mais tarde Octávio, de uma forma mais sutil e gradual, trabalharam para acumular os
cargos e títulos de maior importância na República, fazendo que os poderes associados a
ditos cargos fossem permanentes e evitando que ninguém com idênticas aspirações
pudesse acumular ou conservar poderes por si mesmos.
Júlio César percorreu uma parte considerável do caminho nesta direção, ostentando os
cargos republicanos de cônsul (quatro vezes) e ditador (cinco vezes); conseguindo ser
nomeado 'ditador vitalício' (dictator perpetuus) no 45 a.C. Também tinha sido Pontífice
Máximo durante várias décadas, e preparado a sua futura deificação (iniciando o chamado
Culto imperial). Embora fosse o último ditador da República, Júlio César faleceu muitos
anos antes do colapso final das instituições tradicionais republicanas que abriram espaço
ao sistema que os historiadores modernos chamaram Principado.
César Augusto
Na época do seu assassinato (44 a.C.) César já era o homem mais poderoso de
Roma, mas sem ser princeps, condição que os historiadores modernos consideram
determinante para considerá-lo imperador. Apesar disso, conseguiu algo que somente um
monarca teria podido conseguir, se bem que isto somente se faria evidente muitas décadas
depois da sua morte: tornara hereditários os seus grandes poderes republicanos, através do
seu testamento, no qual adotava Octávio e designava-o como o seu único herdeiro político.
Ao longo da sua vida política, Octávio, também conhecido como César Augusto,
recebeu e adotou vários títulos que diferençavam a sua condição da do restante dos
políticos, mas nenhum que claramente o denominasse como imperador, evitando
prudentemente os títulos de rei e ditador, fatais para César. Foi proclamado Augusto, mas
este era considerado um apelido, mais que um título. Recebeu também o título de Pontifex
maximus. Além disso, Octávio fez se nomear pelo Senado com os títulos de Imperator,
Augustus e Princeps senatus (o primeiro a falar no Senado). Deste último título deriva a
denominação de Principado para forma de poder que Augusto desenvolvera. Recebeu do
senado a encomenda da tribunicia potestas (o poder do tribunado), sem necessidade de ser
um dos tribunos.
O culto imperial
Ainda em vida de Júlio César, este consentiu na ereção de uma estátua sua, a cujo pé
rezava a inscrição Deo invicto ('Ao Deus Invencível') em 44 a.C. O mesmo ano fez-se
nomear ditador vitalício. O seu herdeiro, Augusto, fez construir um templo em Roma
dedicado ao 'Divino Júlio' (Divus Iulius). Como filho adotivo do deificado Júlio, Augusto
também recebeu o título de Divi filius (filho de deus).
Tácito descreve nos seus Annales (IV, 37-38 e 55-56) que Augusto e Tibério
permitiram que se erigisse um único templo na sua honra durante as suas vidas. Estes
templos continham, porém, não somente as estátuas do imperador governante, que podia
ser venerado à maneira de um deus, senão que também se dedicavam a Roma (à cidade de
Roma, no caso de Augusto, e ao Senado no de Tibério). Ambos os templos estavam
situados na parte asiática do Império Romano. O tempo de Augusto estava situado em
Pérgamo, enquanto Tibério não consentiu nenhum outro templo ou estátua na sua honra à
parte das existentes em Esmirna, cidade eleita em 26 entre onze candidatas para erigir
estes templos. Tibério assegurou frente do Senado que preferia ser mais recordado mais
pelos seus atos que pelas pedras. Mas permitiu, por outro lado, a construção de um templo
em honra do seu antecessor e pai adotivo, o já Divus Augustus, em Tarragona, em 15 d.C.
A religião cristã foi declarada: strana et illicita: estranha e elícita (decreto senatorial
de 35), exitialis: perniciosa (Tácito), prava e immodica: malvada e desenfreada (Plínio),
nova et malefica: nova e maléfica (Suetônio), tenebrosa et lucifuga: obscura e inimiga da
luz (Octavius de Minucio), detestabilis: detestável (Tácito); depois foi posta fora da lei e
perseguida, porque considerada como o mais perigoso inimigo do poder de Roma, que se
baseava na antiga religião nacional e no culto do imperador, instrumento e símbolo da
força e unidade do Império.
Os três primeiros séculos são a época dos mártires, que terminou em 313 com o
edito de Milão, com o qual os imperadores Constantino e Licínio deram liberdade à Igreja.
A perseguição nem sempre foi contínua e geral, isto é, estendida a todo o império, nem
sempre igualmente cruel e cruenta. A períodos de perseguições seguiam-se períodos de
relativa tranqüilidade.
Uma vez que as catacumbas contêm a prova e a confirmação da vida admirável dos
cristãos, como é descrita pelos apologistas, apresentamos alguns de seus trechos
significativos, que constituem como que uma carta de identidade dos cristãos dos
primeiros tempos.
(2Cor 6,9-10). Nada possuem, mas tudo têm em abundância. São desprezados, mas
encontram no desprezo a glória diante de Deus. Ultraja-se a sua honra e acrescenta-se
testemunho à sua inocência. Insultados, abençoam (1Cor 4,12). Demonstram-se insolentes
com eles, e eles tratam-nos com respeito. Fazem o bem e são punidos como malfeitores. E
punidos, gozam, como se lhes dessem vida. Os judeus fazem-lhes guerra como raça
estrangeira. Os Gregos perseguem-nos, mas aqueles que os odeiam não sabem dizer o
motivo de seu ódio".
A vida dos cristãos demonstra a grandeza e a beleza de sua religião (livro III, 15)
"Encontra-se nos cristãos um sábio domínio de si, exerce-se a continência, observa-se o
matrimônio único, a castidade é conservada, a injustiça é excluída, o pecado extirpado em
sua raiz, pratica-se a justiça, a lei é observada, a piedade é apreciada com fatos. Deus é
Organizado por Eliezer Lucena 73
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
roupas, que seguem o mesmo gênero de vida e têm as mesmas necessidades de vida?
Lembramo-nos de dar graças a Deus, Senhor e criador, e não recusamos nenhum fruto de
sua obra. É certo que usamos as coisas com moderação, não de forma exagerada ou
errada. Coabitamos convosco e freqüentamos o foro, o mercado, os banhos, os negócios,
as oficinas, as estalas, participando de todas as atividades. Também navegamos convosco,
combatemos no exército, cultivamos a terra, exercemos o comércio, trocamos as
mercadorias e colocamos à venda, para o vosso uso, o fruto do nosso trabalho. Não
entendo realmente como podemos parecer inúteis e improdutivos para os vossos negócios,
quando vivemos convosco e de vós. Sim, há quem tenha motivos para lamentar-se dos
cristãos, porque não pode comerciar com eles: são eles os protetores de prostitutas, os
rufiões e seus cúmplices; e também os criminosos, os que matam com veneno, os
encantadores, os adivinhos, os feiticeiros, os astrólogos. Grande coisa ser improdutivos
para essa gente!... E depois, nas prisões jamais encontrais um cristão, a não ser por
motivos religiosos. Nós aprendemos de Deus a viver na honestidade".
CORRESPONDÊNCIA ENTRE AS IGREJAS DE ROMA E DE CARTAGO
gloriosos. Exaltava as empresas dos pais, prevendo as dos filhos. Com a vossa plena
concórdia, com a vossa fortaleza, destes luminoso exemplo de união e constância a todos
os cidadãos . Irmão caríssimo, o Senhor em sua Providência adverte-nos previamente que
é iminente a hora da prova. Deus, em sua bondade e em sua preocupação pela nossa
salvação, concede-nos as suas benéficas sugestões em vista do nosso próximo combate.
Pois bem, em nome daquela caridade, que nos liga reciprocamente, ajudemo-nos,
perseverando com todo o povo em jejuns, vigílias e oração. São estas as armas celestes
que nos fazem permanecer sólidos e perseverantes. São estas as armas espirituais e as
flechas divinas que nos protegem. Recordemo-nos reciprocamente na concórdia e
fraternidade espiritual. Rezemos sempre e em todos os lugares uns pelos outros, e
procuremos aliviar os nossos sofrimentos com a caridade recíproca" (Carta 60, 1-2).
Quem quiser viver fora dela, manter a própria identidade para não se confundir com
ela, é excluído da civilização humana. Roma tinha um grande temor dos "estrangeiros",
dos "diferentes" que poderiam pôr em discussão a sua segurança. E assim como
estabeleceu a "concórdia universal" com a feroz eficiência de suas legiões, entende mantê-
la também a golpes de espada, crucifixões, condenações aos trabalhos forçados, exílios.
Numa palavra: Roma usa a "limpeza étnica" como método para tutelar a própria tranqüila
segurança de ser "o mundo civil".
Os cristãos eram, portanto, tidos também por Tácito como gente desprezível, capaz
de crimes horrendos. Os crimes mais infames atribuídos aos cristãos eram o infanticídio
ritual (como se na renovação da Ceia do Senhor, quando alimentavam-se da Eucaristia,
sacrificassem uma criança e comessem suas carnes!) e o incesto (clara deformação do
abraço da paz que se dava na celebração da Eucaristia "entre irmãos e irmãs"). As
acusações, nascidas do mexerico do povo simples, foram assim sancionadas pela
autoridade do Imperador, que perseguia os cristãos e os condenava à morte. A partir
daquele momento (testemunha Tácito) acrescentou-se à conta dos Cristãos um novo crime:
Organizado por Eliezer Lucena 79
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
o ódio contra o gênero humano. Plínio o Jovem escreverá, ironicamente, que daquele
momento em seguida poder-se-ia condenar qualquer um à morte.
Acusados de ateísmo
São muito poucas as notícias da perseguição que atingiu os Cristãos no ano 89,
sob o imperador Domiciano. É, de particular importância, a notícia trazida pelo historiador
grego Dione Cássio, que foi pretor e cônsul em Roma. Ele afirma no livro 67 da sua
História Romana que sob Domiciano foram acusados e condenados "por ateísmo"
(ateòtes) o cônsul Flávio Clemente e sua mulher Domitila, e com eles muitos outros que
«tinham adotado os costumes judaicos». A acusação de ateísmo, nesse século, dirige-se a
quem não considerava a majestade imperial como divindade absoluta. Domiciano,
duríssimo restaurador da autoridade central, pretende o culto máximo à sua pessoa, centro
e garantia da "civilização romana". É admirável que um intelectual como Dione Cássio
chame de "ateísmo" a recusa do culto ao imperador. Significa que em Roma não se admite
nenhuma idéia de Deus que não coincida com a majestade imperial. Quem tem uma idéia
diversa é eliminado como gravemente perigoso à "civilização romana". Plínio o Jovem,
governador da Bitínia no Mar Negro, estava voltando em 111 de uma inspeção em sua
populosa e rica província quando um incêndio devastou a capital, Nicomédia. Muito
poderia ter sido salvo se houvessem bombeiros. Plínio relata ao imperador Trajano (98-
117): «Cabe-te, senhor, avaliar a necessidade criar uma associação de bombeiros de 150
homens. De minha parte, farei com que essa associação não acolha senão bombeiros…».
Trajando responde recusando a iniciativa:
«Não esqueças que a tua província está nas mãos de sociedades desse tipo. Qualquer que
seja o seu nome, qualquer que seja a destinação que quisermos dar a homens reunidos em
corporação, isso permite, sempre e rapidamente as hetérias. O temor das hetérias (nome
grego das "associações") prevaleceu sobre o medo dos incêndios. O fenômeno era antigo.
As associações de qualquer tipo que se transformavam em grupos políticos tinham levado
César a interditar todas as associações no ano 7 a. C.: «Quem quer que forme uma
associação sem autorização especial, é passível das mesmas penas dos que atacam à mão
armada os lugares públicos e os templos». A lei estava sempre em vigor, mas as
associações continuavam a florescer: dos barqueiros do Sena aos médicos de Avenches,
dos mercantes de vinho de Lion aos trombeteiros de Lamesi. Todas defendiam os
interesses de seus inscritos fazendo pressões sobre os poderes públicos. Plínio não
demorou em aplicar a interdição das hetérias num caso particular que lhe foi apresentado
no outono de 112. A Bitínia estava cheia de Cristãos: «É uma multidão de gente de todas
as idades, de todas as condições, espalhada pelas cidades, nas aldeias e nos campos»,
escreve ao Imperador. Continua dizendo que recebeu denúncias dos construtores de
amuletos religiosos, perturbados pelos Cristãos que pregavam a inutilidade de tais
bugigangas. Instituíra uma espécie de processo para conhecer bem os fatos, e tinha
descoberto que eles costumavam «reunir-se num dia fixo, antes do levantar-se do sol,
cantar um hino a Cristo como a um deus, empenhar-se com juramento a não cometer
crimes, a não cometer nem roubos, nem assaltos, nem adultérios, e a não faltar à palavra
dada. Eles têm também o hábito de reunir-se para tomar a própria refeição que, apesar
dos boatos, é alimento ordinário e inócuo».
Organizado por Eliezer Lucena 80
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
escreve Fábio Fuggiero - acredita-se que o mundo antigo tenha combatido a nova fé com
as armas do direito e da política. Numa palavra, com as perseguições. Se isso pode ser
verdade (embora apenas em parte) para o primeiro século da era cristã, já não o é a partir
de meados do segundo século. Seja o mundo da "gentios" (= pagãos) seja a Igreja
compreendem, mais ou menos na mesma época, a necessidade de combater-se e de
dialogar no terreno da argumentação filosófica e teológica. «A cultura antiga, treinada por
séculos em todas as subtilezas da dialética, pode opor armas intelectuais refinadíssimas ao
complexo doutrinal cristão e, logo, a própria Igreja, tomando consciência da força que o
pensamento clássico exerce como freio da expansão do evangelho, vê a necessidade de
elaborar um pensamento filosófico e teológico genuinamente cristão, mas capaz ao mesmo
tempo, de exprimir-se numa linguagem e em categorias culturais inteligíveis por parte do
mundo greco-romano, no qual se vem inserindo sempre mais».
“Recolhendo gente ignorante, que pertence à mais vil população, os cristãos desprezam
as honras e a púrpura, e chegam até mesmo a chamar-se indistintamente de irmãos e
irmãs… O objeto de sua veneração é um homem punido com o último dos suplícios e, do
lenho funesto da cruz, eles fazem um altar, como convém a depravados e criminosos.”
Em meados do século terceiro (por volta de 250) percebeu-se que a festa acabara. A
Leste, formara-se o poderoso império Sassânida, que fez duríssimos ataques aos Romanos.
Em 260 foram capturados o imperador Valeriano e todo o seu exército de 70 mil homens,
e devastadas as províncias do Leste. A peste acabou com as legiões supérstites e espalhou-
se por todo o Império. Ao Norte formara-se um outro aglomerado de povos fortes: os
Godos. Espalharam-se pela Mésia e pela Dácia. O Imperador Décio e o seu exército
Organizado por Eliezer Lucena 83
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
tinham sido massacrados em 251. Os Godos desceram devastando do Norte até Esparta,
Atenas, Ravena. Eram terríveis os amontoados de destroços que deixavam. A maior parte
das pessoas cultas, que não puderam ser substituídas, perderam a vida ou tornaram-se
escravas. A vida regrediu ao estado primitivo e selvagem. A agricultura e o comércio
foram aniquilados. Nesse tempo de grave incerteza cai a segurança garantida pelo Estado.
Agora são os gentios (=pagãos) que se tornam "irracionais", a confiar não mais na ordem
imperial mas na proteção das divindades mais misteriosas e estranhas. Surge no Quirinal,
em Roma, um templo à deusa egípcia Isis, o imperador Eliogábalo impõe a adoração do
deu Sol, o povo recorre a ritos mágicos para manter a peste distante. Entretanto, mesmo no
século terceiro dão-se anos de terríveis perseguições contra os cristãos. Não mais por
causa da sua "irracionalidade" (num mar de gente que se entrega a ritos mágicos, o
cristianismo é agora o único sistema racional), mas em nome da renascida limpeza étnica.
Muitos imperadores, mesmo sendo bárbaros de nascimento, vêem no retorno à unidade
centralizada a única via de salvação. E decretam a extinção dos cristãos, sempre mais
numerosos, para lançar fora da etnia romana esse "corpo estranho", que se apresenta
sempre mais como uma nova etnia, pronta a substituir aquela que já declina do império
fundado nas armas, na rapina, na violência.
Maximino Trace (235-238) teve uma reação violenta e brutal contra o que tinham
sido amigos do seu predecessor, Alexandre Severo, tolerante com os cristãos. A igreja de
Roma foi devastada com a deportação às minas da Sardenha dos dois chefes da
comunidade cristã, o bispo Ponciano e o presbítero Hipólito.
A atitude para com os Cristãos não fora alterada entre a gente simples; demonstra-o
a verdadeira caça aos cristãos desencadeada na Capadócia quando se acreditava ver neles
os culpados de um terremoto. A revolta popular diz-nos o quanto os cristãos ainda fossem
considerados "estranhos e maléficos" pelo povo. (Cf. K. Baus, Le origini, p. 282-287). Sob
o imperador Décio (249-251) desencadeia a primeira perseguição sistemática contra a
Igreja, com a intenção de desenraiza-la para sempre. Décio (sucessor de Filipe o Árabe,
muito favorável aos cristão, se não ele mesmo cristão), é um senador originário da
Panônia, e muito apegado às tradições romanas. Sentindo profundamente a desagregação
política e econômica do império, acreditou que podia restaurar a sua unidade recolhendo
Organizado por Eliezer Lucena 84
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
todas as energias ao redor dos protetores do Estado. Todos os habitantes são obrigados a
sacrificar aos deuses e recebem, depois disso, um certificado. As comunidades cristãs
estão abaladas pela tempestade. Quem recusa-se ao ato de submissão é preso, torturado,
justiçado: como o bispo Fabiano em Roma e, com ele, muitos sacerdotes e leigos. Em
Alexandria houve uma perseguição acompanhada de saques. Na Ásia, os mártires foram
numerosos; entre eles, os bispos de Pérgamo, Antioquia, Jerusalém. O grande estudioso
Orígenes foi submetido a uma tortura desumana, e sobreviveu quatro anos aos suplícios,
reduzido a uma larva humana.
burocracia, que tornava impossível fugir ao fisco, punia de modo desumano quem
conseguia fazê-lo e custava muitíssimo ao estado. As taxas eram tão pesadas que tiravam a
vontade de trabalhar. A solução foi proibir que se abandonasse o lugar de trabalho, o
pedaço de terra que se cultivava, a oficina, o uniforme militar. «Teve início, dessa forma -
escreve F. Oertel, professor de história antiga na Universidade de Bonn - a feroz tentativa
do Estado de espremer a população até à última gota… Sob Diocleciano é realizado um
socialismo integral de estado: terrorismo de funcionários, fortíssima limitação da ação
individual, progressiva interferência estatal, pesadas taxações».
A profunda revolução
As últimas perseguições sistemáticas do terceiro e quarto séculos resultaram
ineficazes como aquelas esporádicas do primeiro e segundo séculos. A limpeza étnica
invocada e apoiada pelos intelectuais greco-romanos não fora realizada. Porque? Porque, à
distância, as acusações indignadas de Celso resultaram o melhor elogio aos Cristãos:
O apelo à dignidade de toda pessoa, mesmo a mais humilde, a igualdade diante de Deus (o
ponto mais revolucionário da mensagem cristã) tinha feito silenciosamente o seu caminho
na consciência de tantas pessoas e de tantos povos, que os Romanos tinham relegado a
posições miseráveis de nascidos escravos e
de lixo humano.
Um único fato parece ser unanimidade entre escritores do século I, escritores esses
quer tanto adeptos ou adversários de Jesus: que por ordem do procurador romano, Pôncio
Pilatos, Jesus foi condenado e crucificado cerca aproximadamente no ano 30 da nossa era.
Tácito, o aristocrático historiador romano (c.a. 55-115), nada sabendo virtualmente sobre
Jesus, não menciona mais do que isto. Relatando a história do infame Nero (imperador de
54 à 58), diz que este, acusado de atear enormes incêndios em Roma:
“Culpou e castigou com supremos requintes de crueldade uma classe de pessoas odiadas
pelos seus vícios, a quem a plebe chamava de cristãos. Chrestus (Christus), o fundador da
denominação, sofrera a pena de morte no reinado de Tibério, por sentença do procurador
Pôncio Pilatos, e a perniciosa superstição foi contida durante algum tempo, apenas para
rebentar de novo, não apenas na Judéia, o ninho da doença, mas na própria capital
(Roma), onde se congrega e floresce tudo quanto de horrível ou vergonhoso existe no
mundo.”
Tácito, Anais 15:44-2-8.
“Pilatos, ouvindo-o ser acusado por homens contando-se entre os mais reputados entre
nós... condenou-o a ser crucificado.”
Flavio Josefus, Antiguidades dos judeus 18:63.
“Após a paixão e morte de Jesus de Nazaré seus primeiros seguidores que eram
chamados de “OS DO CAMINHO” ou de “OS NAZARENOS” entenderam que Jesus era
o Messias anunciado pelos profetas que viria no final dos tempos para libertar ISRAEL do
jugo das nações e reuni-los todos os judeus e israelitas espalhados pelos quatro cantos da
terra na terra de ERTZ IZRAEL. Assim sendo muitos judeus saíram mundo afora levando
a mensagem da BOA NOVA que quer dizer EVANGELHO aos seus compatriotas
espalhados pelos reinos no mundo. Muitos criam que Jesus era de fato o Messias devido
os relatos dos milagres que ele realizara, outros porém, não criam, porque entendiam que
muitas profecias não haviam ainda sido cumpridas para a chegada do Messias. Assim
com as viagens de enviados judeus para os diversos lugares do mundo da época a
mensagem em poucos anos se espalhou por todo o império romano e o movimento dos
seguidores de Jesus de Nazaré cresceu muito a principio porém como mais uma seita
judaica, pois Jesus era judeu, ensinava a Lei judaica aos pobres e simples, mais ainda
Jesus ensinava uma interpretação muito elevada da TORAH a lei de Moisés e dos
profetas.
que Jesus só realizou milagres após ser batizado e ter-se ouvido uma voz do céu que
disse: “ Tu és meu filho, eu hoje te gerei.” Por outro lado havia os judeus de Alexandria
que eram versados tanto em TORAH quanto nos filósofos gregos como PLATÃO E
PITAGORAS e sua filosofia do LOGOS, ou seja, do verbo de Deus, que foi gerado por
Deus para Deus criar todas as coisas por meio dele e etc. Assim para uns Jesus era
apenas um homem e para outros Jesus era Divino. Alguns seguidores de Valentino
interpretam de forma diferente o significado deste tipo de paradoxos. Segundo o tratado
sobre a ressurreição achado em Nag Hammadi, sendo Jesus o “Filho do Homem”, sendo
humano, ele sofreu e morreu como o resto da humanidade. Mas sendo também “Filho de
Deus”, o espírito divino que nele residia não podia morrer: neste sentido ele transcendeu
o sofrimento e a morte. Este foi o grande tema do debate teológico dos dois primeiros
séculos Jesus homem ou Divino os cristãos proto-ortodoxos que defendiam a literalidade
das escrituras bem como estes eventos como fatos históricos insistiam que Jesus era um
ser humano, e que todos os cristãos “intelectualmente corretos” devem tomar a
crucificação como um acontecimento histórico e literal. Este debate deixou vestígios no
que veio a ser o CREDO APOSTÓLICO estabelecido pelos cristãos proto-ortodoxos que
vieram a ser mais tarde os ortodoxos. Para se assegurarem de tal, colocaram no Credo,
enquanto elemento central da fé, a afirmação simples que: “Jesus Cristo sofreu sob
Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.”
Desta forma os debates teológicos de um lado e as chamadas heresias que por sua
vez tinham que ser combatidas pela chamada proto-ortodoxia, tais embates serviam para
desenvolver as doutrinas e dogmas da chamada Grande Igreja Universal (Católica), em
outras palavras, a ortodoxia só veio a ser o que é devido as heresias, porque para refutar
uma doutrina ou um pensamento considerado herético era preciso formular novos
conceitos, doutrinas e dogmas para provar que o outro pensamento era herético, desta
forma a heresia precedeu sempre a ortodoxia. Tanto é verdade que o CREDO
APOSTÓLICO é um resumo de IV ou V séculos de acirradas e acaloradas disputas
teológicas.
O que é que se encontra por trás desta veemência? Por que razão a fé na paixão e
morte de Cristo se torna um elemento essencial ou ainda como dizem alguns O Elemento
Essencial do cristianismo ortodoxo? Só conseguiremos responder satisfatoriamente a esta
questão se reconhecermos o que realmente e de fato a controvérsia envolvia para os
cristãos dos séculos primeiro e segundo da nossa era, ou seja, era uma questão prática
urgente: De que forma deverão os crentes responder à perseguição, a qual levantava a
ameaça iminente do seu próprio sofrimento e morte?
Nenhuma questão mais imediata para os discípulos de Jesus, tendo eles próprios
vivido os eventos traumáticos da sua traição e aprisionamento, e ouvido relatos do seu
julgamento, tortura e agonia final. A partir dessa altura, em especial quando os mais
proeminentes dentre eles, Pedro e Paulo, foram presos e executados em Roma, cada cristão
reconhecia que a afiliação ao movimento de Jesus os colocava em perigo. Tanto Tácito
como Suetônio, historiadores da corte imperial (Ca. 115), que partilhavam um desprezo
total pelos cristãos, mencionam o grupo principalmente enquanto alvo da perseguição
oficial do império. Ao contar a vida de Nero, Suetônio relata, numa lista das coisas boas
que o imperador fez, que:
“ foi infligido castigo aos cristãos, uma classe de gente dada a novas e maléficas
superstições.”
Suetônio, Vida de Nero 6:16.
Trajano avisou porém Plínio para não aceitar acusações anônimas, “visto elas
constituírem um mau exemplo, e serem indignas do nosso tempo”. Plínio e Trajano
concordarem que qualquer pessoa que recusasse tal gesto de lealdade deveria ter crimes
sérios a esconder, em especial porque a penalidade para a recusa era a execução imediata.
Justino, um filósofo convertido ao cristianismo c.a. 150-155 d.C., escreveu
ousadamente ao imperados Antonino Pio e a seu filho, o futuro imperador Marco Aurélio,
ao qual se dirigia enquanto colega filósofo e “amante do conhecimento”, para protestar
contra a injustiça a que estavam sujeitos os cristãos na cortes imperiais.
Justino relata um caso recente passado em Roma: uma mulher que havia participado
com o marido e os servos do casal em diversas formas de atividade sexual, regadas a
vinho, ela, porém converteu-se ao cristianismo através da influência do seu mestre
Ptolomeu, e recusando-se subseqüentemente a participar nesse tipo de atividades. Os sue
amigos, esperando algum tipo de reconciliação, persuadiram-na a não procurar divorciar-
se. Mas quando ela soube que, numa viagem a Alexandria no Egito, o marido se
comportara de forma mais flagrante do que nunca, iniciou um processo de divórcio e
deixou-o. O marido, ultrajado, apresentou imediatamente uma queixa judicial contra a
mulher, “afirmando que ela era um cristão”. Ao ser deferida uma petição desta para adiar o
julgamento, o marido atacou o seu mestre de cristianismo. O juiz Urbico, ouvindo a
acusação, fez uma única pergunta a Ptolomeu: Era cristão? Quando reconheceu, Urbico
sentenciou-o imediatamente à morte. Ouvindo esta ordem, um homem na sala de
audiências chamado Lúcias desafiou o juiz:
“Qual é o fim deste julgamento? Por que motivo castigastes este homem, que não é
adultero, nem fornicador, nem gatuno, nem ladrão, nem foi condenado por qualquer tipo
de crime, sendo sim alguém que apenas confessou ser chamado pelo nome de cristão? O
vosso julgamento, Urbico, não enaltece o Imperador Pio, nem o filósofo, o filho de César
Marco Aurélio, nem o sagrado Senado.
Justino, II Apologia 2.
Urbico replicou apenas, ”Pareceis ser um deles”. E quando Lúcias disse, “Sou-o, de
fato”, Urbico condenou-o – e a uma segunda pessoa que se manifestara no público – a
seguirem Ptolomeu na morte.
Recontando esta estória, Justino assinala que qualquer pessoa pode usar a acusação
de cristianismo para resolver todo o tipo de questões pessoais contra um cristão: “Também
eu espero, pois, que contra mim conspirem e me crucifiquem” – talvez, acrescenta, um dos
Organizado por Eliezer Lucena 91
O culto imperial e a perseguição aos cristãos
seus rivais profissionais, o filosofo cínico chamado Crescens. E Justino estava certo; foi
aparentemente a acusação de Crescens que conduziu à sua prisão, julgamento e
condenação em 165 d. C. O julgamento foi conduzido por Rústico, um amigo pessoal de
Marco Aurélio (que, por essa altura, sucedera ao pai como imperador), o qual ordenou a
execução de Justino juntamente com o grupo completo dos seus estudantes e discípulos,
cujo crime era aprenderem filosofia cristã com ele Justino. O registro do julgamento revela
que Rústico perguntou a Justino:
“Onde vos reunis? ... “Onde quer que seja da nossa preferência e oportuno”, disse
Justino. “Seja como for, achais podemos reunir-nos todos no mesmo lugar? Não é assim;
para os cristãos, Deus não se circunscreve a um único lugar; invisível, ele enche os céus e
a terra, sendo adorado e glorificado por crentes em toda a parte.”
“Rústico o prefeito disse, “Dizei-me onde vos reunis? Onde juntais os vossos
discipulos?
“Justino disse, “Tenho vivido por cima dos banhos de um certo Martino, filho de
Timiotino, e durante a totalidade do período da minha estadia em Roma (e esta é a minha
segunda) não conheci outro local de reunião senão esse. Quem assim o desejasse podia
vir ao meu refúgio e eu transmitir-lhe-ia as palavras da verdade.”
O prefeito Rústicos disse, “Admitis, então ser um cristão?””Sou, sim,” disse
Justino.
O martírio dos Santos Justino, Chariton... e a sua comunidade. Recensão A, 3.
“Bem,” disse o prefeito Rústico, “passemos então à questão em causa, uma matéria
necessária e premente. Concordai em oferecer sacrifício aos deuses”.
“Ninguém de espírito são”, disse Justino, “se voltaria da piedade para a impiedade”.
O prefeito Rústico disse, “Se não obedecerdes, sereis punidos sem dó”.
O martírio dos Santos Justino, Chariton... e a sua comunidade. Recensão A, 3.
“Fazei o que vos aprouver; somos cristãos, e não oferecemos sacrifícios a ídolos”
O martírio dos Santos Justino, Chariton... e a sua comunidade. Recensão A, 3.
Rústico sentenciou:
Atendendo a este perigo, que procedimento deveria um cristão adotar? Deveria essa
pessoa, uma vez presa e acusada, confessar ser cristão, só para receber uma ordem de
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O culto imperial e a perseguição aos cristãos
execução: decapitação imediata caso fosse afortunada bastante para possuir cidadania
romana, como Justino e os seus companheiros, ou, para os não-cidadãos, tortura
prolongada como espetáculo numa arena desportiva pública? O u deveria essa pessoa
renegar e fazer o gesto simbólico de lealdade a Roma e aos imperadores adorando suas
estátuas – na intenção de mais tarde expiar a mentira?
*GENIUS era o nome dado ao deus criado pelos sacerdotes romanos de acordo com
a vontade do imperador, que era tido como um deus entre os cidadãos romanos.
“GENIUS” era tido como o espírito divino do próprio imperador. GÊNIUS foi criado
para atender às mais diversas situações do povo romano e principalmente para combater o
CHESTUS o Salvador dos cristãos. A cada um dos deuses romanos (Apolo, Afrodite,
Cibeles, Vesta, Vênus, etc.) lhe eram feitos, festivais, adorações anuais, mensais, semanais
etc., assim não era diferente com GENIUS.
Um relato proveniente do Norte da África c.a. 180 d.C. descreve a forma como o
prócônsul Saturnino, confrontado com nove homens e três mulheres acusados
publicamente de serem cristãos, se esforçou por salvar as suas vidas dizendo:
“Se regressardes aos vossos sentidos, podereis obter o perdão do nosso senhor o
imperador... Também nós somos um povo religioso, e a nossa religião é muito simples:
Juramos pelo GENIUS do nosso senhor o imperador e oferecemos preces pela sua saúde
– como vós deveis fazer também”.
Atos dos Mártires Cilitanos 1-3. Mártires Cristãos 86-87.
prorrogação de trinta dias com as palavras: “Pensem nisso”. Mas trinta dias depois, após
haver interrogado os acusados, Saturnino foi forçado a dar a ordem:
Esperato disse: “Graças a Deus!” Nazarlo disse: “Hoje seremos mártires no céu.
Graças a Deus!”
Condenado a ser enviado da Síria para Roma a fim de ser morto por animais
selvagens no anfiteatro público, Inácio de Antioquia, acorrentado e fortemente guardado,
escreveu para os cristãos em Roma, suplicando-lhes que não intercedessem em seu favor:
“Escrevo a todas as igrejas para avisar formalmente todas as pessoas que eu estou
pronto para morrer voluntariamente por Deus, se vós não o impedirdes. Suplico-vos que
não me sejais uma “amarga amabilidade”. Deixai-me ser devorado pelos animais,
através dos quais posso atingir Deus. Eu sou o trigo de Deus, e serei moído pelos dentes
das feras selvagens, de modo a poder tornar-me o puro pão de Cristo... Façai-me este
favor... Deixai abater-se sobre mim o fogo, e a cruz, e deixai-me lutar com animais
selvagens, cortando e despedaçando, quebrando os ossos, mutilando os membros,
esmagando todo o meu corpo... se assim eu puder chegar a Jesus Cristo!”
Atos dos Mártires Cilitanos 4:1-5:3. Mártires Cristãos 86-87.
Para Inácio de Antioquia, que significado tem a paixão de Cristo? O bispo diz que:
“Em verdade Jesus Cristo ... foi perseguido sob Pôncio Pilatos, em verdade foi
crucificado e morreu.”
Inácio, Trálios 9.1.
Justino, a quem a tradição chama “o mártir”, declara que, antes da sua conversão,
quando era ainda filósofo platônico, testemunhou pessoalmente cristãos sofrendo tortura e
execução públicas. Segundo diz, a coragem destes convenceu-o de que eram divinamente
inspirados. Protestando contra a perseguição mundial de cristãos, menciona aqueles que
foram perseguidos na Palestina c.a. 135 d. C.:
“Como é evidente, ninguém pode aterrorizar ou submeter aqueles de nós que pelo
mundo afora acreditam em Jesus Cristo. Pois é evidente que apesar de sermos
decapitados, e crucificados, e atirados às feras selvagens, acorrentados, queimados, e
sofrermos todas as outras espécies de tortura, não abandonamos a nossa confissão; mas
quanto mais coisas dessas acontecem, tanto mais outras pessoas, em maior número, se
tornam crentes.”
Justino, Dialogo com Trifo 110:4.
“Jesus Cristo, nosso mestre, que nasceu com este fim, foi crucificado sob Pôncio
Pilatos e morreu, e regressou à vida”.
Justino, I Apologia 13.
Um amigo influente destes cristãos, Vécio Espágato, que tentou intervir no seu
julgamento, foi mandado calar aos berros:
“O prefeito limitou-se a perguntar se ele também era cristão. Quando, na sua voz
mais clara, admitiu que sim, O prefeito sentenciou-o à morte juntamente com os outros.
Os servos destes, torturados para se lhes extrair informações confessaram finalmente que,
como os romanos suspeitavam, os seus patrões cristãos cometiam atrocidades sexuais e
canibalismo.”
Martires de Lion 9, em Martires Cristãos 64-65.
Informa o relato de uma testemunha que esta evidencia virou a população contra os
cristãos:
Todos os dias, novas vitimas eram feitas – os membros mais atuantes das igrejas de
Lyon ou da cidade vizinha de Vienne, no rio Rhône, a trinta quilômetros de distância -
eram presas e brutalmente torturadas na prisão enquanto aguardavam o dia da execução
em massa, marcado para o dia 1 de Agosto.
Aqui caberia uma pergunta crucial, Por que o mês de Agosto foi escolhido para tais
festividades e extermínio dos cristãos?
"seu" mês também tivesse 31 dias. Antes dessa mudança, agosto era denominado Sextilis
ou Sextil, visto que era o sexto mês no calendário de Rômulo (calendário romano).
“Blandina foi pendurada num poste e exposta como isca aos animais selvagens que
foram largados sobre ela. A sua posição lembrava a forma de uma cruz, e através da sua
prece fervente suscitou entusiasmo intenso entre aqueles que estavam a ser supliciados...
Mas como nenhum dos animais lhe tocou, foi baixada do poste e conduzida de novo à
prisão para ser preservada para outro padecimento... por mais pequena, fraca e
insignificante que ela fosse, ela estava decidida a inspirar os seus irmãos... Finalmente,
no último dia dos jogos de gladiadores, Blandina foi trazida de novo, desta vez
acompanhada por um rapaz de quinze anos chamado Pôntico. Traziam-nos todos os dias
para fazerem observar a tortura dos outros, enquanto tentavam persuadi-los a jurar pelos
deuses de Roma. E porque perseveraram e condenaram os seus perseguidores, a multidão
enfureceu-se com eles, de forma que... os sujeitaram a todas as atrocidades e os fizeram
passar sucessivamente por todas as torturas”. Martires de Lion 9, em Martires Cristãos
67-81.
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O culto imperial e a perseguição aos cristãos
Após ter sido chicoteado repetidamente, maltratado por animais, forçado a sentar-se
numa tampa de ferro colocada sobre uma fogueira para carbonizar a sua carne, Pôntico
morreu. Blandina tendo sobrevivido às mesmas torturas:
“Acabou por ser atirada para uma rede e deixada à mercê de um touro. Após
diversas investidas do animal contra Blandina, ela perdeu a consciência do que se estava
a passar... Assim também ela foi oferecida em sacrifício, enquanto os próprios pagãos
admitiam que, na sua experiência, jamais mulher alguma sofrera tanto”. Martires de
Lion 9, em Martires Cristãos 67-81.
Máximo ordenou que fosse trazido Cipriano à audiência que mantinha no mesmo dia no
átrio Sauciolo. Quando ele apresentou-se, o procônsul Galério Máximo disse ao bispo
Cipriano:
“ És Tascio Cipriano? O bispo Cipriano respondeu: “Sim, sou eu.” O procônsul Galério
Máximo disse: “És tu que te apresentaste como chefe de uma seita sacrílega?” O bispo
Cipriano respondeu: “Sou eu.” Galério Máximo disse: “Os santíssimos imperadores
ordenam-te que sacrifiques.” O bispo Cipriano disse: “Não o faço.” O procônsul
Galério Máximo disse: “Reflete bem.” O bispo Cipriano disse: “Faz o que te
ordenaram. Não há o que refletir numa coisa tão justa.”
Galério Máximo, depois de ter conferido com o colégio dos magistrados, com dificuldade
e contra a vontade, pronunciou a sentença: "Viveste longamente de modo sacrílego e
agregaste muitíssimos à tua seita criminosa, e te fizeste inimigo dos deuses romanos e de
seus sagrados rituais. Os piedosos e santíssimos imperadores Valeriano e Galieno
Augustos e Valeriano nobilíssimo César não conseguiram reconduzir-te à observância de
suas cerimônias religiosas. E, por isso, a partir do momento que te tornaste autor e
instigador dos piores crimes, serás tu mesmo de exemplo àqueles que associaste às tuas
ações criminosas. Com o teu sangue será sancionado o respeito às leis". Ditas essas
palavras, leu em voz alta o decreto escrito numa tabuinha: "Ordeno, Tascio Cipriano, que
sejas punido com a decapitação". Após a sentença a multidão dos irmãos (os cristãos)
dizia: "Nós também queremos ser decapitados juntamente com ele". Surgiu, por isso, uma
grande agitação entre os irmãos e muita gente seguiu-o. E assim Cipriano foi levado ao
campo de Sesti, e ali despojou-se do manto e do capuz, ajoelhou-se por terra e prostrou-se
em oração ao Senhor. Tirou em seguida a dalmática (uma sobreveste) e entregou-a aos
diáconos, ficando apenas com a túnica de linho, e assim permaneceu à espera do
carnífice. Quando este chegou, o bispo ordenou aos seus que lhe dessem vinte e cinco
moedas de ouro. Entretanto os irmãos estendiam diante dele pedaços de tecido e lenços
(para recolher o sangue como relíquia). Depois o grande Cipriano vendou com as
próprias mãos os olhos, mas como não conseguisse amarrar as pontas do lenço, o
presbítero Juliano e o subdiácono Juliano vieram ajudá-lo. Assim o bispo Cipriano
padeceu o martírio e o seu corpo, por causa da curiosidade dos pagãos, foi deposto num
lugar próximo onde pudesse ser subtraído ao olhar indiscreto dos pagãos. À noite, foi
tirado de lá e levado embora com fachos e tochas acesas e acompanhado até o cemitério
do procurador Macróbio Candidiano localizado na via das Campanas perto das piscinas.
Poucos dias depois morreu o procônsul Galério Máximo. O santo bispo Cipriano padeceu
o martírio em 14 de setembro, sob os imperadores Valeriano e Galieno, reinando porém
nosso Senhor Jesus Cristo, a quem se dá honra e glória nos séculos dos séculos. Amém!"
(Das Atas Proconsulares, 3-6).
Bibliografia:
1. O que Jesus disse? O que Jesus não disse? Bart D. Ehrman. Editota Prestigo/Ediouro
2. Verdades e mentira sobre o chamado Jesus. Aderbal Pacheco. Editora DPL.
3. A face oculta das religiões. José Reis Chaves. Editota Martin Claret.
4. O evangelho perdido de “Q” e as origens cristãs. Burton L. mack. Editota Imago.
5. Ditos primitivos de Jesus. Uma introdução ao ‘proto-evangelho de ditos”Q”. Santiago Guijarro
Oporto.
6. As várias faces de Jesus. Geza Vermes. Editora Record.
7. A paixão. Geza Vermes. Editora Record.
8. Natividade. Geza Vermes. Editora Record.
9. Quem é quem na época de Jesus. Geza Vermes. Editora Record.
10. O judaísmo e as origens do cristianismo III. David Flusser. Editora Imago.
11. Quem matou Jesus. John Dominic Crossan. Editora Imago.
12. A Dinastia de Jesus. James D. Tabor. Editora Ediouro.
13. A ultima semana. Markus Brog e John Dominic Crossan. Editora ...
14. Como ler os evangelhos. Felix Morach. Editora Paulus.
15. Cristo é a questão. Wayne Meeks. Editora Paulus.
16. Jesus: uma pequena biografia. Martin Forward. Editora Cultrix.
17. A odisséia dos essênios. Hugh Schonfield. Editora Mercuryo.
18. História dos Hebreus. Flavio Josefo. Editora CPAD.
19. Guerras Judaicas. Flavio Josefo. Editora Juruá.
20. História Eclesiástica. Eusébio de Cesáreia. Editora CPAD.
21. A Bíblia de Jerusalém. Editora Paulus.
22. Mussar Avicha - A ética dos pais, Rabino Ari Friedman, Editora Sefer.
23. A Ética do Sinai – ensinamentos dos sábios do Talmud. Irving M. Bunim. Editora Sefer.
24. O judaísmo e as origens do cristianismo I, II e III, David Flusser. Editora Imago.
25. Jesus dentro do judaísmo. J.H. Charlesworth. Editora Imago.
26. As intrigas em torno dos manuscritos do mar morto. Michael Baigent e Richard Leigh. Editora
Imago.
27. Para compreender os manuscritos do mar morto. Hershel Shanks. Editora Imago.
28. Quem escreveu OS manuscritos do mar morto. Norman Gold. Editora Imago.
29. O messias antes de Jesus. Israel Knohl. Editora Imago.
30. O mito cristão e os manuscritos do mar morto. John M. Allelgro. Publicações Europa América.
31. Introdução aos livros apócrifos e pseudoepígrafos do Antigo Testamento e aos manuscritos de
Qumran. L. Rost. Paulus Editora.
32. Apócrifos I, II, III, IV, os proscritos da Bíblia. Compilação e comentários por Maria Helena de
Oliveira Tricca. Editora Mercuryo.
33. O quinto evangelho de Tomé. Huberto Rohden. Editora Martin Claret.
34. O evangelho de Judas. Bart D. Ehrman.
35. Evangelhos Gnósticos. Elaine Pagels. Editora Objetiva.
36. Além de toda crença. Elaine Pagels. Editora Objetiva.
37. Evangelhos Gnósticos. Marcia Maia. Editora Mercuryo.
38. Heresia, o jogo de poder das seitas cristãs nos primeiros séculos depois de Cristo. Joan O’Grady.
Editora Mercuryo.
39. Nag Hammadi, Evangelho de Tomé, textos gnósticos e as origens do cristianismo. R.Kuntzmann e
J. D. Dubois. Paulus Editora.
40. Gnose. Philip Gardiner. Editora Pensamento.
41. O livro do Profeta Enoch I e II.
42. Textos de Qumran, Florentino, Editora Vozes.
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44. Os Manuscritos do Mar Morto, Geza Vermes, Editora Mercúryo.
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