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OS PAPAS NA HISTÓRIA

INOCÊNCIO III: A disposição de um Papa que enxergou longe


por Eugenio Russomanno

12/03/2013 - Continua a série sobre alguns dos mais significativos pontífices da


História. Desta vez, a vida de um homem que reformou a Igreja com grande
determinação, como a acolhida àquele jovem de Assis...

Giotto, ''Inocêncio III e São Francisco'' .

A evolução da Igreja medieval, iniciada com Gregório VII, chegou a sua


potência máxima com Inocêncio III. O reconhecido chefe supremo da Cristandade
ocidental não mais foi o imperador, mas sim o Papa. “Papa grande e influente, seu
pontificado foi o mais esplêndido período do papado medieval”, escreveu o historiador
John Kelly.

Lotario di Segni é o seu nome. Nasceu em 1160, concluiu os estudos de


Teologia e Direito Canônico em Paris (França) e Bolonha (Itália), sendo acolhido no
colégio cardinalício por seu tio, Clemente III (1187-1191). O enérgico Lotario foi
consagrado Papa aos 37 anos, com o nome de Inocêncio, em 22 de fevereiro de 1198,
dia da festa da Cátedra de São Pedro. No Grande Dicionário Ilustrado dos Papas, de
John Kelly, podemos ler: “Homem muito adequado ao governo, Inocêncio unia
excepcionais dotes intelectuais e força de caráter à determinação, à flexibilidade e a
uma rara habilidade de tratar as pessoas e também à bondade”. Tinha alto conceito da
própria posição de vigário de Cristo – título que fez entrar para o uso comum – “meio
caminho entre o homem e Deus, abaixo de Deus mas acima do homem”, ao qual
estava confiado “o governo não somente da Igreja universal, mas do mundo todo”.

Sua figura nos aparece mais claramente na Breve História da Igreja, de August
Franzen: “Inocêncio era um homem profundamente religioso, rico de grande piedade
interior, dedicado a uma severa ascese que, não obstante o seu claro destino de
dominador e de imperador, continuou sempre, sobretudo, um sacerdote e um pastor.
Como vicarius Christi exerce seu ministério agindo com responsabilidade diante de
Deus. A partir dele, o título vicarius Christi foi assumido por todos os Papas para
caracterizar o seu altíssimo ministério. De baixa estatura e um bonito homem, mas de
saúde frágil, Inocêncio soube unir admiravelmente a sua vasta doutrina com os dons
de excepcional força espiritual, perspicácia, prudência e moderação extraordinárias.
Sobretudo, porém, possuía uma concepção altamente espiritual do ministério do
papado universal. Longe de ser um eclesiástico fanático ou um Papa meramente
político, demonstrou grande espírito aberto a todos os problemas de sua época, em
todos os campos: cultural, político, social e religioso”.

Efetivamente, Inocêncio enfrentou muitos problemas de seu mundo e de seu


tempo: a questão da supremacia de Roma na Igreja (João XXIII, na homilia da festa
dos santos Pedro e Paulo, em 28 de junho de 1982 reporta o “genial comentário de
Inocêncio III”, o qual confirma o primado de Roma, (quae primatum et principatum
super universum speculum obtinebat et obtinet), o controle sobre os Estados
pontifícios contra o projeto suevo de anexar ao Império a Itália meridional, a crise na
Alemanha entre dois candidatos rivais, Felipe de Suévia e Oton de Brunswick (crise
resolvida com a célebre carta do decreto Venerabilem de 1202), a luta constante entre
França e Inglaterra.

Porém, mais do que tudo, Inocêncio sustentou a iniciativa de uma cruzada, a


reforma da Igreja e a luta contra a heresia. A quarta Cruzada (1202 – 1203), nas
intenções do Papa, tinha por objetivo reunir a Igreja do Ocidente com a Igreja do
Oriente: com vistas a isso, Inocêncio se colocou em contato com o imperador do
Oriente, Alessio III Angelo (1195-1203). No entanto, a Cruzada se desviou de seu
percurso para Jerusalém indo em direção a Constantinopla, ao que o Papa se opunha.
Porém, depois da tomada de Constantinopla (12 de abril de 1204), Inocêncio
esperando que a fundação de um patriarcado latino em Bizâncio favorecesse a
reunificação das duas Igrejas.

A sua reforma da Igreja levava adiante a obra de Gregório VII: simplificação do


trabalho da Cúria; maior equilíbrio entre as administrações episcopal e papal; as assim
ditas coisas maiores se tornavam de exclusiva pertinência da Cúria de Roma;
obrigação para os bispos de visitar Roma a cada quatro anos; reformas oportunas da
autoridade administrativa, do monarquismo e do clero cuidaram da manutenção da
ordem... Agiu com uma abertura de longo alcance em relação aos movimentos dos
pobres surgidos no interior da Igreja: Inocêncio interessou-se pelos humildes da
Lombardia, fundou a associação dos “pobres católicos” e, sobretudo, acolheu
benignamente Francisco de Assis quando este, em 1209-1210, foi a Roma para pedir
a confirmação papal para sua primeira pequena comunidade de amigos em Cristo (“As
ordens mendicantes logo se tornaram os mais fortes baluartes da Igreja”, escreve
Franzen).

A luta contra a heresia foi conduzida energicamente, declarando-as “alta


traição a Deus”. Quando seu legado Pedro de Castelnau, da ordem cisterciense, foi
assassinado por heréticos, em 1208, ele convocou a cruzada de 1209 a qual terminou
com massacres e devastações que lançaram uma sombra sobre a segunda metade de
seu pontificado, ainda que o fato não possa ser imputado diretamente ao Papa e, sim,
ao fanatismo do legado pontifício Arnaldo Amalric e do conde Simão de Monfort.

O ápice de seu pontificado foi a convocação do IV Concílio Lateranense, aberto


em novembro de 1215, com cerca de 500 bispos e 800 abades. Seus setenta decretos
incluíam, entre outros, a definição da doutrina eucarística da transubstanciação, a
condenação de todas as heresias, o veto à fundação de novas ordens religiosas; em
particular, as disposições sobre a confissão e a comunhão pascal tiveram duração
permanente.

Morreu em Perúgia, em 16 de julho de 1216, onde foi sepultado. O Papa Leão


XIII, porém, fez transferir seus restos mortais para a Igreja de Latrão, em Roma.
Concluo com uma particularidade: foi o primeiro Papa a usar um brasão pessoal,
tradição renovada até hoje.
O Papa que veio do Purgatório pedir orações a uma
santa
Surpresa por ver um espectro envolto em chamas, esta santa descobriu que estava
diante de ninguém menos que o Papa. Conheça a história desta impressionante
aparição.
Pe. François Xavier Schouppe
Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
7.Dez.2017 - Tempo de leitura: 3 minutos

Permitam-me contar-lhes uma famosa aparição de um Papa a uma santa.

O Papa Inocêncio III morreu no dia 16 de julho de 1216. No mesmo dia, ele apareceu
a Santa Lutgarda, no monastério de Aywières, região central da Bélgica. Surpresa
por ver um espectro envolto em chamas, ela perguntou de quem se tratava e o que
queria.

“Sou o Papa Inocêncio”, ele respondeu.

“Mas seria possível que o senhor, nosso pai comum, se encontrasse em um estado
assim?”, ela perguntou.

“Sim, eu de fato me encontro neste lugar”, ele respondeu. “Estou expiando três
faltas que teriam causado minha perdição eterna. Graças à bem-aventurada
Virgem Maria, obtive o perdão delas, mas tenho de fazer reparação. Ai de mim! Aqui
é terrível e isto durará por séculos, se tu não vieres em meu auxílio. Em nome de
Maria, que obteve para mim o favor de recorrer a ti, ajuda-me.”

Depois de dizer estas palavras, ele desapareceu.

Lutgarda anunciou a morte do Papa a suas irmãs, e juntas elas se dedicaram à


oração e a obras penitenciais em favor do augusto e venerável Pontífice, cujo
falecimento lhes foi comunicado algumas semanas depois, vindo de outra fonte.

Devo admitir que a leitura deste incidente me impactou muito e eu com prazer o
deixaria passar em silêncio, pois relutava em pensar que um Papa, e ainda mais
este Papa, tivesse se condenado a um Purgatório tão longo e terrível.

Sabemos que Inocêncio III, que presidiu em 1215 o célebre Concílio de Latrão, foi
um dos maiores Pontífices a se sentar no trono de S. Pedro. Seu zelo e sua
piedade levaram-no a realizar grandes feitos pela Igreja de Deus e pela santa
disciplina. Como admitir, então, que um homem dessa estirpe fosse julgado com
tamanha severidade pelo Tribunal Supremo? Como reconciliar essa revelação de
Santa Lutgarda com a misericórdia divina?

Por conta dessas questões, passei a tratar essa aparição como algo ilusório,
procurando por razões que dessem suporte a essa ideia.

O que descobri, no entanto, ao contrário disso, foi que a veracidade dessa aparição
é admitida pelos mais sérios autores, não sendo rejeitada por nenhum sequer.
Ademais, o biógrafo dessa santa, Tomás de Cantimpré, é muito transparente ao
escrever e, ao mesmo tempo, bastante reservado. “Devo explicar, leitor”, ele escreve
ao fim de sua narrativa, “que foi da própria boca da piedosa Lutgarda que eu ouvi
as faltas reveladas pelo defunto, as quais eu omito aqui por respeito a um tão
grande Pontífice.”

À parte isso, considerando o evento em si mesmo, poderíamos encontrar uma boa


razão para questioná-lo? Não sabemos nós, afinal de contas, que Deus não faz
acepção de pessoas — e que os Papas aparecem diante do seu tribunal,
portanto, assim como o mais humilde dos fiéis —, que todos, grandes e
pequenos, são iguais diante dEle, e que cada um recebe de acordo com suas obras?
Não sabemos igualmente que aqueles que governam os outros têm uma grande
responsabilidade, e terão de fazer uma severa prestação de contas?

Judicium durissimum his, qui praesunt, fiet: “Será duríssimo o juízo dos que
governam” (Sb 6, 6). É o Espírito Santo quem o declara. Pois bem, Inocêncio III
reinou por dezoito anos e durante tempos muito turbulentos; além disso, acrescentam
os Bolandistas, não está escrito que os julgamentos de Deus são inescrutáveis, e
com frequência muito diferentes dos julgamentos dos homens? Judicia tua
abyssus multa: “Teus juízos são como o grande abismo” (Sl 35, 7).

A realidade dessa aparição não pode, portanto, ser razoavelmente posta em dúvida e
eu não vejo nenhuma razão para omiti-la, dado que Deus não revela mistérios
dessa natureza senão com o fim de que sejam conhecidos para a edificação de
sua Igreja.

Referências

o Extraído e levemente adaptado da obra “Purgatory: Explained by the Lives and


Legends of the Saints” (c. XXII), Londres: Burns & Oates, 1893, pp. 71-73.

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