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22/01/2024, 18:40 A grande pequena via | Revista Arautos do Evangelho

Editorial RAE262 - Outubro 2023

A grande pequena via

Redação

C om frequência, os ícones de Santa Teresinha do Menino Jesus


estão embebidos de sentimentalismo: olhar languido, postura
afetada, trejeitos edulcorados… No entanto, basta contemplar suas fotografias, como
a da capa desta edição, para notar que a santidade da “florzinha do Carmelo” não tem
nada da ingenuidade que certas ilustrações pretendem inculcar.

Alguém recordará, diante disso, que Teresinha é a Santa da “pequena via”, da


humildade, da despretensão. Efetivamente, de acordo com São Tomás, o orgulho é o
maior obstáculo para a santidade e Nossa Senhora só foi e será chamada bem-
aventurada, porque Se fez “escrava do Senhor” (Lc 1, 38).

Sim, tudo isso é real, mas trata-se apenas de um aspecto da tríade teresiana
para se alcançar a santidade. Ela considerava, ademais, que “para se tornar
santa seria preciso muito sofrer e buscar sempre o mais perfeito” (Manuscrito A,
10r).

Cumpre observar de antemão que a pequena via é bem distinta dos becos
soturnos dos pusilânimes. Na realidade, estes apegam-se a bagatelas e a

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proposta teresiana consistia precisamente no contrário: o esvaziamento de


si mesma para que Cristo ocupasse a sua alma e a elevasse. Tratava-se de 
uma senda que buscava chegar o quanto antes à meta – o Céu –, por meio de um
“elevador” espiritual.

Mais ainda, a busca pela perfeição na Santa de Lisieux era particularmente


magnânima: para ela, o “zelo de uma carmelita deve inflamar o mundo”
(Manuscrito C, 33v) e, inspirando-se no Apóstolo, sua vocação a interpelava a buscar
dons sempre maiores. Repetidas vezes proclamava que queria ser uma “grande
santa”. Por isso, aspirava ser “sacerdote” para levar Cristo nas mãos, mártir para a
Ele se dar por inteiro, cruzada para combater por seu nome, profeta e doutora para
iluminar as almas com sua verdade, e missionária para percorrer todo o orbe
pregando seu Evangelho. Tudo isso reconhecendo que sua vida se consumaria
detrás das grades de uma clausura…

Teresa, enfim, queria ter realizado por Cristo todas as ações possíveis aos Santos.
Sem timidezes, rogava a Jesus “TUDO, TUDO, TUDO” conforme grafou altissonante
numa carta a sua irmã Celina.

Note-se ainda que o “muito sofrer” para alcançar a santidade é um aspecto


frequentemente omitido nos círculos pusilânimes. Como destacou certa vez Dr. Plinio
Corrêa de Oliveira, trabalhar, muitos trabalham; rezar, alguns rezam; sofrer,
ninguém quer… Assim, Teresinha refuta as concepções medíocres de
santidade, inspirada pelo amor de vítima expiatória: “A santidade não
consiste em dizer coisas belas, nem mesmo em pensá-las ou senti-las!…
Ela consiste em sofrer e sofrer totalmente” (Carta 89, 2v). Nessa mesma
missiva a Celina, completa: “A santidade! É preciso conquistá-la na ponta da espada,
é preciso sofrer… é preciso agonizar!”

Às portas da morte, a espada em riste de Teresa não consistiu em


empreender a cruzada de Santa Joana d’Arc, cuja vida tanto a inspirava.
Antes, no lugar de um alazão de combate foi-lhe dado um leito de enfermaria; no
lugar de um estandarte, o crucifixo que empunhava com firmeza. Teria a sua missão
se obliterado?

Claro que não. Ela ensinou que o importante não é o que se faz, mas como
se faz. Uma pequena via trilhada com verdadeiro amor de holocausto torna-se
sempre sublime aos olhos de Deus. Teresa, porque foi autenticamente
pequenina, foi também, nas palavras de São Pio X, “a maior Santa dos
tempos modernos”. ◊

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Santa Teresinha do Menino Jesus em 15/4/1895

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