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Abóbada Celeste Dos Templos

Maçônicos

Ir \Cláudio Rodrigues Ivanov

São Paulo, 21 de março de 2017

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INTRODUÇÃO

Neste trabalho apresento as informações que encontrei ao pesquisar a respeito do


significado das estrelas que figuram na decoração do teto de alguns templos maçônicos,
mostrando diferentes justificativas para a relação entre os corpos celestes e os cargos da
Loja.
É interessante verificar que, na antiguidade, “planeta” era todo corpo celeste que
não fosse reconhecido como uma estrela, inclusive o Sol e a Lua.
Também interessa destacar que dentre os ritos reconhecidos da Maçonaria, nem
todos incluem em seus templos uma representação da abóbada celeste.

SIMBOLISMO DO HEMISFÉRIO NORTE – E O SUL?


A Maçonaria é Universal e, por isso, a decoração das Lojas são padronizadas em
conformidade com sua origem que, sabidamente, se deu em países do hemisfério norte,
considerando a visão que nossos irmãos de então tinham da abóbada celeste naquela
região, com as constelações e movimentos percebidos lá. Como o importante é a questão
simbólica, as lições filosóficas e doutrinárias dela advindas, sobretudo relativamente à
senda do iniciado desde as Trevas até a Luz, usa-se a visão do hemisfério norte mesmo
aqui no sul.
Já que no hemisfério sul não temos a mesma vista celeste dos nossos irmãos do
norte, ficou a pergunta: Como seria a abóboda celeste de um templo com a nossa visão
do céu? As questões filosóficas e o simbolismo sofreriam alguma alteração incompatível
com a tradição?
Minha pesquisa revelou que o calendário maçônico mais usado em todo o mundo é
o equinocial, bem próximo do calendário religioso hebraico, cujo início se dá em 21 de
março (o mês por eles chamado de “Nissan”) de forma que o calendário não se adapta,
em hipótese alguma, a outro hemisfério, tão somente ao Norte. No caso do Rito Escocês,
a senda iniciática percorrida pelo Iniciado parte da Primavera (constelação de Áries) no
topo do Norte na confluência com a parede ocidental, percorre setentrião até a
constelação de Virgem, cruza o equador do Templo até a constelação de Libra, passa
pelo topo do Sul a partir da confluência com a grade oriental, percorre o meridião e se
encerra no extremo do Ocidente na constelação de Peixes. Essa trajetória alude ao
Iniciado e aos quatro ciclos da Natureza (primavera, verão, outono e inverno)
representados pelos alinhamentos com as constelações correspondentes representadas
pelas doze Colunas Zodiacais.
Os cultos solares da antiguidade, base de quase todas as religiões, sempre tiveram
o Sul como Meio-Dia (daí a alusão ao “meridião” feita acima) e a volta do Sol pelo Norte.
Embora a Maçonaria não seja uma religião, as mensagens doutrinárias relativas ao
aperfeiçoamento humano, como método de ética e moral do ecletismo maçônico, não
deixariam de sofrer essa influência.
Ademais, no mundo da antiguidade (entenda-se Mesopotâmia e arredores), os
principais corpos celestes visíveis eram justamente Formalhaut, Aldebaran, Régulus e
Antares, que, há mais de 4000 anos, sinalizavam o início das estações, fatos essenciais
aos ritos religiosos e mágicos, além da óbvia importância para as atividades agrícolas.
José Castellani, em diversas de suas obras, e nas revistas “A Trolha” e “O Prumo”,
diz ser suficiente para Simbologia Maçônica que somente o Sol, a Lua e as nuanças de
cor Dia/Noite estejam na Abóbada Celeste, não sendo essencial a presença dos planetas

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e estrelas, acrescentando que, no passado, o teto das lojas ostentavam a representação
das doze constelações zodiacais (Rev. “A Acácia” nº 29/1995).
Hiran L. Zoccoli, autor da obra “A Abóbada Celeste na Maçonaria”, diz que, após
examinar divergentes estampas do céu maçônico, confrontando-as com a diversidade dos
tetos existentes, estudou os fundamentos da Astronomia e concluiu pela incompatibilidade
da presença simultânea de aspectos dos dois hemisférios na abóbada do templo
maçônico, de forma que, baseando-se em padrões astronômicos, defendeu a existência
de duas novas abóbadas: uma para as lojas do Hemisfério Norte, e outra para as do Sul.
Nelas faz representar todas as constelações zodiacais e todos os planetas conhecidos do
Sistema Solar, acrescentando na boreal (hemisfério norte) a Estrela Polar e na austral
(hemisfério sul) a constelação do Cruzeiro do Sul.

RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO – G.O.B. - 2009

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Apud GOB - 2001

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Particularmente concluo que, embora alguma adaptação da decoração da abobada
celeste para a visão do hemisfério sul seja possível, tal adaptação perderia sua conexão
com as antigas tradições esotéricas, forçando, de qualquer forma, o estudo das alegorias
tomadas do ponto de vista dos irmãos do norte, com potencial para dificultar, mais do que
avivar, o interesse e a admiração dos neófitos.

OS CORPOS CELESTES E OS CARGOS DA LOJA


Por que justamente tais corpos celestes foram escolhidos e qual o critério para
associá-los aos cargos da loja?
Primeiramente devemos ter em conta um fato muito importante: o sistema solar
representado na abóbada é baseado no que se conhecia no século XVII: não contempla
Urano, Netuno e Plutão, já que eram totalmente desconhecidos.
Naquela época fervilhavam no pensamento filosófico os conceitos alquímicos e
rosacruzes, fato que também deixou sua marca ao trazer para a abóbada maçônica os
mesmos planetas associados aos metais alquímicos, ao simbolismo das estações do ano
e a certos aspectos astrológicos. Como o interesse imediato aqui é com a abóbada
adotada no R\E\A\A\, foi em seus corpos celestes que me debrucei.
Régulus é a principal estrela de constelação de Leão, animal símbolo de Deus; a
chegada do Sol em Leão marcava o início do verão para as antigas civilizações do
hemisfério norte. Por se encontrar quase exatamente sobre a eclíptica, Régulus assume
um caráter de regente dos demais corpos celestes, o que o associa ao M\de CCer\

Spica pertence à constelação de Virgem e seu nome significa “espiga”. Os


primitivos instrumentos de escrita usados por gregos e romanos não eram penas, mas
canetas feitas com caules ocos de certos vegetais chamados “spículas”, daí sua
associação com o cargo de Sec\

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Órion é uma constelação equatorial facilmente identificada por sua configuração
retangular onde se destacam três estrelas mais brilhantes, formando o que é conhecido
desde a antiguidade como o “Cinturão de Órion”, chamadas também de “Três Marias” e
de “Três Reis Magos”, sendo somente estas três representadas na abóbada.
Representam todas as tríades simbólicas e, portanto, associadas à idade dos AApr\
MM\. Na tradição árabe, a constelação de Órion era chamada de “A Ovelha de Cinto
Branco”, o que a associou ao avental do Apr\ e a tornou regente do 1º grau.

Formalhaut é uma estrela de luz branca que era utilizada na orientação dos
navegantes e atualmente serve de referência aos cosmonautas. Seu nome é uma
simplificação do árabe “Fan-al-Hout-al-Ganoubi” que significa “a boca do peixe do sul”. Na
versão grega do dilúvio, foi esse peixe quem bebeu a água do dilúvio e salvou o mundo.
Na mitologia egípcia, o “peixe do sul” era sagrado por considerarem que ele teria engolido
o falo amputado de Osíris. É então associado ao cargo de Ch\ remetendo-nos à sua
atividade organizadora dos eventos sociais entre os IIrm\, especialmente o ágape.

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A constelação de Touro é formada por um aglomerado de aproximadamente 140
estrelas e Hyades (ou Híadas), que é o conjunto de 5 estrelas que forma um “V”, que
desenha a cara do touro nessa constelação. O sol em Touro anuncia a primavera no
hemisfério norte, a época do “renascimento” e estas 5 estrelas estão dispostas de tal
forma que podem ter inspirado a marcha do C\ M\, tornando este conjunto o regente do
2º grau.
Plêiades é uma nebulosa que também compõem a constelação de Touro, e suas 7
estrelas são visíveis a olho nu. São chamadas “As 7 Irmãs que choram” em referência às
filhas de Atlas e Pleione da mitologia grega. As Plêiades anunciavam um tempo bom e
agradável quando surgiam entre 22 de abril e 10 de maio; regem os M\ M\, a plêiade de
homens justos, os 7 necessários à abertura dos trabalhos.
Aldebaran também compõe a constelação de Touro. Seu nome vem do árabe e
significa “o sequaz” (o seguidor) ou “o adepto”. Sua posição, no meio do teto, marca o
ponto vernal há 4.000 anos; no zodíaco, Aldebaran é um dos olhos do Touro. O Touro é
o símbolo da segurança material, riqueza, fertilidade e honra, representando assim o
Tes\.

A Ursa Maior é considerada a constelação mais antiga já registrada. Por


encontrarem-se perto do polo norte, são visíveis por quase todo o hemisfério. Para os
egípcios, simbolizava a imortalidade, já que era visível o ano todo. Na Abóbada estão
representadas as 7 estrelas mais importantes da constelação e a última estrela da cauda
da Ursa Maior recebe o nome de “Alkaid”, também conhecida como “Benetnasch”.
Estes nomes compõem a frase árabe “Qaid al Banat ad Nash” que significa “A chefe

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das filhas do grande ataúde”. Os árabes representavam esta constelação como um caixão
com três carpideiras, associando-a ao grau de M\ M\. Esta Constelação é a regente dos
M\ I\, pois as quatro estrelas da cauda formam o chamado “arco real”, atributo dos M \
I\.

Antares é conhecida como o astro rival de Marte (Ares para os gregos – Antares =
Anti-Ares). Esta estrela também é avermelhada, podendo-se confundi-la com Marte, e
localiza-se no coração da constelação de Escorpião. Embora Marte fosse conhecido,
ele não figura na abóbada do Rito Escocês homologada pelo Grande Oriente do Brasil,
enquanto Antares é. Isto se explica pelo desejo de expressar no Templo a repulsa à
violência (já que Marte é o deus da guerra), num local onde só se deve encontrar a paz.
Por estes atributos, é associada ao G\ do T\ ou Cob\.

Sírius é a estrela mais brilhante da noite e pode ser vista de qualquer lugar do
planeta. Seu nome é de origem grega e significa “Cintilante” ou “Ardente”. Chamada
também de Stela Pitagoris ou Estrela Flamígera, pertence à constelação do Cão Maior
e, na antiguidade, Sírius anunciava a época mais quente do verão. Os egípcios a
associavam ao deus Osíris e construíram vários templos dedicados a Sírius; também há
indícios de que Sírius serviu de base para o calendário egípcio, já que seu surgimento
marcava a época da cheia do rio Nilo.

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Essa influência egípcia fica clara no livro dos “Atos dos Apóstolos” (7:43), que cita o
tabernáculo de Moloch e “a estrela do vosso deus Renfan”. Renfan era um dos nomes
pelos quais os egípcios chamavam Sirius. O Antigo Testamento contém várias outras
passagens que citam o deus Moloch e, no livro I Reis (11:4-8), ninguém menos do que o
Rei Salomão edifica um altar em homenagem a Moloch, sob influência de suas esposas.
Por Salomão ter cedido às pressões das esposas, colocando interesses materiais a frente
das questões espirituais, o episódio simboliza a dualidade entre matéria e espiritualidade,
relacionando-se diretamente com o simbolismo maçônico: o material prevalece no grau de
Apr\, mede forças com o espiritual no Grau de C\, e então o espiritual prevalece no
grau de M\. Assim, Sírius, a Estrela Flamígera, representa as forças e os perigos que
podem desvirtuar até o homem mais sábio do caminho da retidão que leva à Verdade;
representa o iniciado que consegue integrar-se ao Universo, o homem-deus (Cristo, Buda
ou mesmo Hércules), o iluminado que transcende a condição humana. Por isso é
associada ao 2º Vig\ e, colocada sobre o seu altar, fica oculta no grau de Apr\ pois seu
rico simbolismo é direcionado ao grau de C\.
Arcturus é a Estrela Alfa da Constelação de Bootis, que em grego quer dizer
“guardião de animais” ou “pastor”. Por sua posição junto à Ursa Maior, é conhecida como
a “Guardiã do Urso”. Corresponde ao cargo de Or\, o guardião da Lei e do Oriente. Sua
posição no céu do Templo é exatamente em cima da grade do Oriente.

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O Sol era associado ao deus grego Hélios, que percorria o céu numa carruagem de
fogo puxada por quatro cavalos (as estações do ano). Luz maior do céu, representa o V\
M\ e é colocado no Oriente, sobre o eixo da Loja.
A Lua era associada à deusa grega Selene (Luna para os romanos), irmã de Hélios,
que também percorria o céu numa carruagem: de prata e com apenas dois cavalos, que
representavam a dualidade e a harmonia dos opostos. Por receber e refletir a luz do Sol
ela é associada ao 1º Vig\.
Mercúrio era associado ao deus romano de mesmo nome (para os gregos era
Hermes e para os egípcios Toth), representado carregando um bastão com duas
serpentes entrelaçadas – o Caduceu – símbolo da harmonia dos opostos; um par de
sapatos e um capacete, ambos alados. Era o mais rápido dos deuses, atributo muito
apropriado ao planeta com a órbita mais rápida do Sistema Solar. Mensageiro dos deuses
e planeta mais próximo do Sol, Mercúrio é associado ao 1º Diác\.
Vênus era associado à deusa Afrodite, a deusa da beleza e do amor. Conhecido
ainda hoje como “Estrela Vésper”, é a primeira a aparecer no céu ao entardecer. Vênus
era o “mensageiro do dia”, anunciando a hora de começar e de encerrar o período de
trabalho. Por surgir sempre perto da Lua, é associado ao 2º Diác\.
Marte, associado ao deus da guerra Ares, como já vimos, não figura no interior do
T\ mas alguns autores o colocam simbolicamente no Átrio, associando-o ao Cobr\
Ext\.
Júpiter era associado ao deus grego Zeus, pai de todos os outros deuses, deus
supremo do Universo, guardião do direito, defensor do Estado e do matrimônio. Com
estes atributos, representa o Past-Master assentado à esquerda do V\ M\ e, por isso, o
planeta figura no Oriente à esquerda do Sol.
Saturno é o segundo maior planeta do Sistema Solar, com dezoito anéis e mais de
sessenta satélites, dos quais nossos irmãos do passado só percebiam três anéis e nove
satélites. Associado ao deus grego Cronos, pai de Zeus e senhor do tempo e da
eternidade, o planeta Saturno figura no teto maçônico com um anel e nove satélites. Os
nove satélites representam os nove cargos sefiróticos (V\M\, Or\, Sec\, Tes\,
Chanc\, 1º e 2º VVig\, M\ de Cer\ e Cob\ ou Guar\ do T\) e, com o anel ao redor
de seu equador, é associado à Cadeia de União.
Na representação da abóbada celeste, até as nuvens têm significado: representam
a elevação da consciência e a pureza de pensamento que ascendem em direção ao
Cosmos.

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Referencias:
• Blog http://iblanchier3.blogspot.com.br/2014/10/abobada-celeste.html
matéria “A Abóbada Celeste” – Ir \ Pedro Juk
• Blog https://focoartereal.blogspot.com.br/2014/05/observacoes-quanto-
abobada-celeste-na.html matéria “Observações quanto a abóbada celeste – na visão de
um aprendiz” - Ir\ Marco Túlio Freire.
• Blog https://focoartereal.blogspot.com.br/2011/10/o-estudo-da-abobada-
celeste.html matéria “O Estudo da Abóbada Celeste” - Ir\Adayr Paulo Modena.
• Site http://stellamatutina658.blogspot.com.br/2016/02/o-ceu-de-uma-loj-
maconica.html – Ir\ Lucindo de Moraes Sarmento Júnior.
• Blog http://eventosmitologiagrega.blogspot.com.br/2010/10/pleiades.html
matéria “Plêiades, as estrelas que choram” - por Lucia de Belo Horizonte.
• Site https://farm3.static.flickr.com/2191/2329771602_37751f73d7_b.jpg
figura de uma abóbada conforme Ritual editado pelo GOB em 2001.
• Site https://farm3.static.flickr.com/2040/2329768760_d982caab77_b.jpg
figura de uma abóbada conforme elaborada por Albert Pike.
• Site http://www.explicatorium.com/constelacao/ursa-maior.html – Ursa Maior:
informação, história e lendas.
• Blog http://astrovidas.blogspot.com.br/2014/05/a-constelacao-de-touro-
aldebaran.html – A constelação de Touro, Aldebaran a Estrela do Leste, por Rui
Antonio Santos.

• Blog https://ludwigtaliesin.blogspot.com.br/2011/09/misterios-de-
regulusfomalhaut-e-spica.html – Fomalhaut – por Ludwig Taliesin.
• Site http://www.zenite.nu/antares-a-dama-de-vermelho/ - Antares, a dama de
vermelho.
• Site http://www.zenite.nu/sirius-miss-universo/ - Sírius, Miss Universo.
• Site http://www.noesquadro.com.br/2011/02/estrela-flamigera.html – A
Estrela Flamígera – por Kennyo Ismail.
• site https://pt.wikipedia.org/wiki/Saturno_(planeta) – Saturno (Planeta).
• Ritual: Rito Escocês Antigo e Aceito – Grande Oriente do Brasil – São Paulo,
2009.
• Bíblia Sagrada – Edições Paulinas – São Paulo, 1980.

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