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CURITIBA
2021
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CURITIBA
2021
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1 INTRODUÇÃO
Ler A Divina Comédia é passear em lugares apenas imaginados, onde nenhum homem
nunca esteve, mas que Dante Alighieri descreve com maestria e riqueza de detalhes. Através
das suas palavras, descemos às profundezas do Inferno e seus nove círculos, e podemos
observar o lado obscuro do ser humano, com seus crimes e pecados. Depois fazemos a longa
trajetória de subida pelos sete círculos do monte do Purgatório, onde as almas estão
gradualmente sendo purificadas das suas máculas, almejando alcançar a perfeição para então
poderem finalmente se unir a Deus. E, por fim, partindo do Paraíso terrestre, no topo do
Purgatório, somos levados ao Paraíso celestial, onde passeamos por suas nove esferas e
conhecemos um sem número de almas puras, até chegarmos ao Empíreo, na presença do próprio
Deus.
Além de todas as descrições grandiosas dos cenários fantásticos, o que enriquece ainda
mais esse percurso são as figuras que Dante encontra pelo caminho. São personagens baseados
em pessoas reais, que em alguns casos revelam suas histórias, mas às vezes é dada apenas uma
referência sobre sua vida. Acerca desses é preciso uma pesquisa mais minuciosa para entender
porque Dante, na sua descrição, os coloca na posição em que estão, visto que as almas são
distribuídas no Inferno e no Purgatório conforme a gravidade dos seus pecados, e no Paraíso,
de maneira similar, de acordo com as suas virtudes.
No Paraíso, Dante encontra diversos beatos, pessoas que fizeram boas coisas na sua
vida, muitos deles eclesiásticos da Igreja Católica que foram santificados depois da sua morte.
Duas figuras importantes mencionadas extensamente por ele são São Francisco e São
Domingos, e é sobre a vida e obra destes que se pretende o presente estudo.
2 SÃO FRANCISCO
Ele continuou pregando uma vida simples e modesta, cuidando dos enfermos e
mendigando; reuniu um certo número de seguidores e fundou a ordem mendicante dos Frades
Menores, mais conhecidos como Franciscanos, aprovada a princípio de forma precária pelo
Papa Inocêncio III (1210) e depois de maneira definitiva por Honório III (1223). Sua ordem
renovou o catolicismo do seu tempo, pois tinha o hábito da pregação itinerante, ao invés de
ficarem confinados em mosteiros, como era comum a todas as outras ordens. Eles criam que o
Evangelho devia ser seguido à risca por imitar a vida de Cristo, o que os levou a desenvolver
uma profunda empatia e bondade pelas pessoas, especialmente os mais pobres. Sua bondade
também se estendia a todas as criaturas na natureza, o que fez de São Francisco o patrono dos
animais e do meio ambiente.
Segundo a tradição, em 1224, no Monte Alverne, Francisco recebeu os estigmas de
Cristo. Doente e quase totalmente cego, ele deu instruções para ser sepultado nu na terra nua,
sem caixão. Morreu em 1226, aos 44 anos, na Porciúncula, uma igreja em Assis. Apenas dois
anos depois da sua morte, em 1228, foi declarado santo pelo Papa Gregório IX. Uma nova
basílica foi inaugurada em Assis em 1230, onde até hoje se encontram suas relíquias e seu
túmulo.
simples e se desapeguem dos bens materiais, procurando imitar a vida e o ministério terrestre
de Jesus. O estilo de vida simples ajuda os membros da ordem a demonstrar solidariedade com
os pobres e a trabalhar pela justiça social. Mas além da pobreza exterior, comandada
expressamente na sua Regra primitiva, que proibia os monges até de andarem calçados e
possuírem domicílio fixo, Francisco enfatizava a pobreza interior, que envolve se despojarem
de toda pretensão a aquisições intelectuais, morais ou espirituais, pois são consideradas como
expressões de orgulho e individualismo.
No final do Canto XI São Tomás reprova os irmãos de sua Ordem dos dominicanos,
acusando-os de irem em busca de outros pastos e outros alimentos; desse modo Dante critica a
corrupção generalizada entre os dominicanos, especialmente por meio da venda de indulgências
e da interpretação do direito canônico. Os exemplos de corrupção eclesiástica opõem-se
obviamente ao de Francisco, que com a sua vida simples quis voltar a propor o ideal de pobreza
evangélica de Jesus e dos seus discípulos.
3 SÃO DOMINGOS
era tentar converter os cátaros, ou albigenses, que era um movimento cristão considerado
herético, pois tinha ideias de renovação da igreja e, entre outras coisas, negava a existência de
um Deus único e recusava a validade os juramentos. O movimento ganhou muita força no sul
da Europa e Europa Ocidental, entrando em conflito direto com a Igreja Romana. A pregação
de São Domingos não alcançou o sucesso esperado, que era a conversão em massa dos
albigenses, o que resultou no início da Guerra Santa, ou Cruzada.
São Domingos, chamado de “santo soldado”, ou “soldado de Deus”, era intolerante
em relação ao que era considerado heresia. A Cruzada começou em 1208 com o extermínio de
entre 7 e 8 mil pessoas em Bèziers, na França, tendo sido uma matança indiscriminada que não
levou em conta a afiliação religiosa, mas cujo objetivo era instaurar o terror para evitar a
resistência. A fim de extinguir definitivamente a heresia o papa Gregório IX criou o Tribunal
do Santo Ofício, instituição eclesiástica de caráter “judicial”, que tinha por principal objetivo
inquirir heresias – por isso também é conhecido como Inquisição – e que estabeleceu a
hegemonia da Igreja através de ameaças, violência e tortura. As ordens mendicantes (os
dominicanos, auxiliados pelos franciscanos) foram designadas pelo Papa como exterminadores
e os principais responsáveis e executores da “Santa” Inquisição. Uma das últimas batalhas
contra os cátaros foi em 1244, em Montségur, causando o fim do catarismo1.
Domenico morreu em 1221 em Bolonha, onde ainda está sepultado, e foi canonizado
pelo Papa Gregório IX em 1234.
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1 Como curiosidade, a banda inglesa de heavy metal Iron Maiden gravou em 2003 uma música chamada
“Montségur”, em que conta a história dessa batalha.
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nasceu em Calaruega após um sonho premonitório de sua mãe, e que manifestou desde criança
a propensão à humildade e à pobreza, para então crescer e se dedicar aos estudos doutrinários,
até obter de Inocêncio III a aprovação da nova Ordem com o objetivo de combater os hereges.2
Paralelamente ao que foi dito sobre Francisco e a Pobreza, aqui também é narrada a celebração
do casamento entre Domingos e a Fé. Domingos então se dedica ao estudo da teologia, não para
enriquecer como os degenerados dominicanos farão mais tarde pela deturpada interpretação do
direito canônico, mas pela vontade de servir a Igreja e defendê-la de seus inimigos.
O paralelo entre Domingos e Francisco é, portanto, evidente, pois ambos nasceram
como “mendigos”, tanto pela abstinência de bens terrenos como pela devoção à missão
religiosa, com a diferença de que Francisco abraça um ideal de pobreza santificada, enquanto
Domingos prega a doutrina e luta para erradicar a heresia, especialmente a albigense na
Provença. Boaventura explica que, se Domingos foi uma roda da carruagem da Igreja que lutou
e venceu sua batalha contra as heresias, Francisco foi a outra roda. Porém, agora o sulco traçado
por aquela roda foi abandonado, de modo que existe o mal em vez do bem. A Ordem
Franciscana outrora seguiu os passos de seu fundador, mas naquele momento seguia na direção
oposta, pois é acusada por Boaventura de ter traído a Regra do fundador.
4 CONCLUSÃO
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Os dominicanos traziam muito mais vantagens para a Igreja, pois com suas “Guerras Santas” eles conquistavam
terras, trazendo poder e dinheiro para a Sé, diferente dos franciscanos, que não traziam ganho nenhum. Por isso,
a ordem dos dominicanos foi muito mais rapidamente autorizada do que a dos franciscanos.
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REFERÊNCIAS