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Faz sentido que seus pais não fossem meros plebeus, pois a bibliografia
mais antiga, chamada Legenda Assídua, que Desde o início seus pais
quiseram que eles recebessem uma boa educação. Ele iniciou a vida
com uma verdadeira educação na Igreja de Santa Maria que era
cuidada pelos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho, recebendo o
Trivium e Quadrivium e, Santo Antônio, manifestou desde cedo um
talento singular para os estudos, com uma capacidade de memorização
única, além de uma sensibilidade espiritual promissora; essas são as
duas características mais belas de Santo Antônio: estamos falando de
um homem que tinha uma vida intelectual e tinha uma vida de
piedade. Mais tarde, quando Fernando entrar para a Ordem dos
Franciscanos e se tornar Santo Antônio, ele vai receber uma cartinha de
São Francisco, que era muito avesso ao estudo da Teologia por parte
dos seus Frades, encarregou Santo Antônio a montar um centro de
estudos em Bolonha para ensinar Teologia aos Frades, e diz São
Francisco: "desde que não perca o espírito de oração", a piedade, o
sentido sobrenatural dos estudos. E essa é a grandeza de Santo Antônio
desde o início: inteligência e uma espiritualidade fecunda.
Esta é a regra de Jesus Cristo que deve ser preferida a todas as regras, as
instituições, as tradições, os expedientes, “porque o servo não é maior que o
seu senhor, nem o enviado maior do que quem o enviou” (Jo 13, 16).
Desejando também ser mártir, frei Antônio, então com cerca de 24 anos,
parte como missionário para o Marrocos. Como, porém, os anseios
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parte como missionário para o Marrocos. Como, porém, os anseios
humanos nem sempre correspondem aos desígnios de Deus, ao chegar a
terras marroquinas, frei Antônio adoece, provavelmente de malária —
doença que deixaria sua saúde debilitada pelos próximos dez anos até
sua morte. Por causa disso, convencem-no a partir para outras terras. As
crônicas mais antigas como a Vida Assídua, nos falam que ele pegou um
navio em Marrocos e uma tempestade os levou para a Sicília na Itália.
Notas de rodapé:
O superior pediu a frei Antônio que pregasse aos irmãos ali reunidos,
não porque o tivesse em conta, mas porque presumiu que, sendo
sacerdote, possuía ao menos conhecimentos básicos de latim - e, naquela
época, os requisitos para ser ordenado era saber o Latim suficientemente
para que se rezasse a missa. Embora relutante no início, por obediência
Antônio se pôs a pregar. A partir de palavras simples e acanhadas
manifestaram-se aos poucos a eloquência e a intrepidez de um gigante.
De uma fagulha da Palavra de Deus desencadeou-se imediatamente um
incêndio que fazia arder o coração de todos os presentes. Ninguém ficou
indiferente às palavras daquele pregador, cujo talento até então se
desconhecia:
[...] tendo a sua língua ou antes, pena (cf. Sl 44, 2) do Espírito Santo,
mostrado no decorrer do sermão a mais rara eloquência, e o dom de
dissertar muito em pouco, os Frades, pasmados em extremo,
ouviam mui atentos, todos sem excepção a pregação do servo de
Deus. Se a inesperada elevação das suas sentenças assombrava os
ouvintes, não menos o espírito com que falava e a sua ardentíssima
caridade os edificava [2].
Notas de rodapé:
Para aqueles que desejarem ter acesso ao original latino das Fontes
Antonianas, existe uma edição bilíngue, em latim e italiano, com grande
aparato crítico, introdução histórica e notas comparativas entre
manuscritos. Essa edição foi organizada pelo frei Vergilio Gamboso e
publicada pelas edições Messaggero Padova. Das Obras completas de
Santo Antônio, com todos os seus sermões, havia uma edição bilíngue,
latim e português, organizada pelo frei Henrique Pinto Rema na década
de 1970, mas que infelizmente se encontra esgotada e à qual é difícil ter
acesso hoje em dia. Mais recentemente, em 2019, os Sermões de Santo
Antônio foram publicados em português pela editora Vozes.
Essa postura cética acerca dos milagres cai por terra quando vemos, por
exemplo, em pleno século XX, sob as barbas do cientificismo, os
extraordinários feitos de São Padre Pio, que ressuscitou mortos, curou
enfermos e apareceu a muitas pessoas por bilocação. Se tais milagres
aconteceram tão próximos de nós com o Padre Pio, por que não teriam
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aconteceram tão próximos de nós com o Padre Pio, por que não teriam
ocorrido com o Doutor Evangélico, que pregou aos peixes em Rimini,
que fez uma mula adorar o Santíssimo Sacramento e realizou tantos
outros feitos portentosos que levaram à conversão dos hereges?
Assim, combinaram que o herege deixaria sua mula três dias presa sem
alimento, e que a soltaria no meio do povo, estando o cátaro com uma
boa ração e o frei com o Santíssimo Sacramento, para verem a quem o
animal se dirigiria. Chegado o dia, ao término da Missa, Santo Antônio
dirigiu-se para o meio do povo, conduzindo com reverência o
Santíssimo Sacramento, enquanto um apetitoso alimento era
apresentado ao animal. Então, pedindo silêncio, o frade com muita fé
exortou aquela criatura a servir de instrumento ao seu divino Criador:
“Pelo poder e em nome do teu Criador, a quem eu, embora indigno, tenho
verdadeiramente em minhas mãos, ordeno-te que sem demora te aproximes
com humildade e lhe prestes a devida reverência. A ver se dessa forma os
malvados hereges se capacitam definitivamente de que toda a criatura está
sujeita ao Criador, a quem a dignidade sacerdotal tem entre as mãos sobre o
altar” [4].
O mesmo fato, descrito com mais detalhes, foi visto pelo frei Juliano de
Espira, na Vida Segunda (cap. V, n. 10–12), como uma atestação
sobrenatural da louvável eloquência de Santo Antônio:
Mas não podemos omitir, nesta altura, um episódio que redunda em seu
louvor. Uma vez, estando os irmãos reunidos em Capítulo na Provença, o
nosso Santo pregou docemente sobre o tema da cruz e sobre os tormentos
infligidos a Jesus durante a Paixão. E eis que aparece, suspenso no ar, por
estupendo e incrível milagre, o glorioso Pai S. Francisco, ainda vivo
naquela altura, mas habitando noutra longínqua região. Em sinal de
aprovação das palavras do homem de Deus e a mostrar quão digno era da
imitação dos ouvintes, manifesta-se aos olhos dos presentes com os braços
abertos como no patíbulo da cruz e, abençoando os seus filhos presentes,
traçou sobre eles o sinal da cruz [7].
Por fim, podemos mencionar como outro grande feito de Santo Antônio
a conversão do arcebispo de Bourges, Dom Simon de Sully, em
novembro de 1225, o qual mais tarde viria a ser nomeado cardeal pelo
Papa Gregório IX, em 18 de setembro de 1227. Narra a Legenda
Rigaldina (cap. VIII, n. 21–23) que isso ocorrera graças a uma pregação
do frade durante o Sínodo de Bourges:
Depois disso, em 1226, frei Antônio foi nomeado custódio dos frades de
Limoges. Nessa região, fundou um convento na cidade de Brive-la-
Gaillarde próximo de uma gruta, o que fazia o santo recordar-se de sua
vida eremítica em Monte Paolo. Foi nessa época que faleceu São
Francisco de Assis, em 3 de outubro de 1226. Isso levará à convocação do
Capítulo Geral de Pentecostes, em 6 de junho de 1227, do qual frei
Antônio participará como custódio.
Notas de rodapé:
Como Superior, exercia sua autoridade não pelo poder, mas pela
virtude, sobretudo a humildade. A Legenda Rigaldina (cap. V, n. 10)
destaca que “o Santo guardou as marcas da sua humildade de quatro
modos, a saber: escondendo a sua ciência, ocupando-se assiduamente
nos ofícios humildes, em viagem mostrando-se inferior ao
companheiro, nos cargos humilhando-se em tudo” [2]. Assim, frei
Antônio vivia o espírito franciscano de fazer-se pobre, obediente e
humilde por amor a Cristo e para se configurar a Ele.
Nota de rodapé:
Senhora gloriosa,
bem mais que o sol brilhais.
O Deus que vos criou
ao seio amamentais.
Ao Pai e ao Espírito,
poder, louvor, vitória,
e ao Filho, que gerastes
e vos vestiu de glória [6].
Notas de rodapé:
E como explica o Papa Pio XII: “Foi este precisamente o motivo por que
desde o primeiro momento se começou a tributar na sagrada Liturgia a
Santo Antônio o culto próprio dos Doutores da Igreja” [1], culto este que
foi oficialmente reconhecido pelo referido Pontífice, justamente porque,
nos ensinamentos de Santo Antônio, a Igreja reconheceu um legado
doutrinal próprio dos grandes mestres espirituais. Por isso, nesta aula,
vamos buscar conhecer a doutrina deste santo que recebeu o título de
Doutor Evangélico.
Vê-se com isto que os Sermões de Santo Antônio não são, propriamente
falando, sermões, no sentido de pregações orais a serem feitas na Missa;
mas, sim, peças literárias e meditativas que, mais do que pregadas de
viva voz, precisam ser lidas e meditadas em silêncio, contemplando
tanto na beleza da forma quanto na profundidade do conteúdo a ação
sobrenatural do Verbo de Deus, fonte de toda beleza e verdade. Esta é,
portanto, a finalidade destes sermões: unir-nos mais a Nosso Senhor
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portanto, a finalidade destes sermões: unir-nos mais a Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Notas de rodapé:
1. Pio XII, Carta Apostólica “Exulta Lusitania Felix”, de 16 jan. 1946.
2. Antonio Royo Marín, Grandes mestres da vida espiritual.
Campinas: Ecclesiae, 2019, p. 239.
Não sabemos com exatidão qual missal Santo Antônio usava; não bate
perfeitamente com o Missal da Cúria Romana, nem com o Missal
Seráfico, nem com os do Norte da Itália e também não é o Missal dos
Agostinianos de Coimbra. Existe a hipótese de que ele usava um missal
do Sul da França, mas é possível que ele usava todos ao mesmo tempo.