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OS FUNDAMENTOS

EPISTEMOLÓGICOS DA PRÁTICA
DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR
Professor Me. Jonatas Marcos da Silva Santos
DIREÇÃO

Reitor Wilson de Matos Silva


Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho


Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha
Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli
Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia
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Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey
Projeto Gráfico Thayla Guimarães
Design Educacional Rossana Costa Giani
Design Gráfico Thayla Guimarães

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a Distância; SANTOS, Jonatas Marcos da Silva;

Fundamentos da Educação. Jonatas Marcos da Silva Santos;
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.
25 p.
“Pós-graduação Universo - EaD”.
1. Fundamentos. 2. Educação. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 370


CIP - NBR 12899 - AACR/2

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


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sumário
01 09| A EPISTEMOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM A CIÊNCIA

02 13| O TRABALHO EPISTEMOLÓGICO NA PRÁTICA DOCENTE

03 15| AS FONTES DE APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO


OS FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DA PRÁTICA
DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Discutir os conceitos que compõem o quadro da epistemologia e sua
relação com a ciência.
•• Compreender como a prática do profissional de educação está intrinseca-
mente ligada à ciência e à filosofia.
•• Compreender as fontes de apropriação do conhecimento pelo profissional
de educação no ensino superior.

PLANO DE ESTUDO

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


•• A epistemologia e a sua relação com a ciência
•• O trabalho epistemológico na prática docente
•• As fontes de apropriação do conhecimento
INTRODUÇÃO

Olá, caro(a), aluno(a)! Neste estudo vamos buscar juntos entender o conceito de epis-
temologia e perceber sua importância para a prática docente. Sabemos o quanto
é importante a apropriação do conhecimento pelo profissional da educação, no
entanto, isso requer de nossa parte a aquisição de conceitos básicos que compõem
a compreensão dos métodos de produção do conhecimento científico.
Procuraremos entender o que é a epistemologia nos seus significados e na pro-
dução do discurso que ela faz sobre a ciência. Você irá perceber que a epistemologia
é fundamental para o próprio processo de apropriação do conhecimento. Vamos
buscar na história e na etimologia do termo, as relações que ela possui com a reflexão
filosófica e com o conhecimento científico. Será esse um dos trabalhos mais impor-
tantes que desafia o profissional docente, ou seja, a compreensão das relações que
se estabelecem entre filosofia e ciência? E qual é o ponto de partida para a constru-
ção epistemológica? Vamos buscar responder essas questões e muitas outras.
Podemos começar dizendo que primeiramente queremos estabelecer que o
ponto de partida da epistemologia é a reflexão filosófica que se realiza sobre a ciência
racional e objetiva, esta não vista, porém, como objetividade imutável. Vamos enten-
der como nos dias de hoje muitos cientistas concebem o conhecimento de forma
dinâmica o que leva a uma constante reflexão epistemológica. Outro ponto impor-
tante que iremos propor será uma reflexão sobre os princípios que compõem a teoria
científica.
Pós-Universo 7

Diante dos desafios que a produção do conhecimento nos propõe, procurare-


mos observar como se apresentam sujeito e objeto, consciência e fenômeno, no ato
de apropriação do conhecimento.
A epistemologia é o resultado da relação entre esses dois elementos. Por isso
é tão necessário entender como se apresentam as formas de conhecimento que
foram sendo plasmadas a partir desta relação. Isso para dizer que estas formas são
os referenciais na apropriação do conhecimento pelo profissional docente. Entre as
principais fontes da epistemologia, vamos estudar: o dogmatismo, o ceticismo, o ra-
cionalismo, o empirismo.
A compreensão e descrição pedirá ajuda à fenomenologia, a qual entendere-
mos melhor na unidade IV. Fenomenologicamente são colocados cinco problemas
principais quando tratamos do problema do conhecimento. Por querermos traba-
lhar de forma mais circunscrita e aprofundar melhor o tema da epistemologia como
fundamento da educação, vamos indagar sobre as possibilidades do conhecimento
humano. Em um segundo momento iremos trazer a epistemologia que fundamen-
ta a reflexão sobre a origem do conhecimento.
Desejo a você um bom estudo!
8 Pós-Universo
Pós-Universo 9

A EPISTEMOLOGIA E
SUA RELAÇÃO COM A
CIÊNCIA
Sabemos que a Universidade é o lugar da produção e socialização do conhecimento.
Além da qualificação dos profissionais de educação, a universidade contribui também
com o ensino dos processos de investigação científica.
A apropriação do conhecimento por meio da pesquisa pelo profissional da edu-
cação, no entanto, requer esclarecimento epistemológico sobre alguns conceitos
básicos que compõem a compreensão da ciência. Conceitos como teoria, metodologia,
crítica, reflexão, precisam estar presentes na inteligência dos docentes pesquisadores
para que possam efetivamente produzir uma boa pesquisa e atividades pedagógi-
cas producentes no âmbito das atividades de ensino.

quadro resumo

Descartes estava convencido de que é possível uma reforma do entendi-


mento humano e das ciências (...) Essa reforma deve ser feita pelo sujeito
de conhecimento quando este compreende a necessidade de encontrar
fundamentos seguros para o saber e se, para tanto, instituir um método.
Os objetivos principais do método são: 1) assegurar a reforma do intelecto
para que este siga o caminho seguro da verdade (portanto, afastar a preven-
ção da precipitação). 2) oferecer procedimentos pelos quais a razão possa
controlar-se a si mesma durante o processo de conhecimento sabendo que
caminho percorrer e sabendo reconhecer se um resultado obtido é verda-
deiro ou não. 3) permitir a ampliação ou o aumento dos conhecimentos
graças a procedimentos seguros que permitam passar do já conhecido ao
desconhecido. 4) oferecer meios para que os novos conhecimentos possam
ser aplicados, pois o saber deve, no dizer de Descartes, tornar o homem
‘senhor da natureza.’(CHAUI, 2012, p. 166).
Fonte: CHAUI, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2012
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A etimologia de um termo
A epistemologia, etimologicamente significa o discurso (logos) sobre a ciência (episte-
me). Isso não quer dizer que seja um discurso destituído da compreensão do próprio
processo de aquisição do conhecimento. Esse termo aparece na literatura filosófica
a partir do século XIX, indicando a reflexão filosófica sobre a produção do conheci-
mento científico.
Neste sentido a epistemologia foi incorporando importantes termos na sua
discussão, como: hipótese, observação, experimentação, processos, interpretação,
subjetividade, objetividade, intersubjetividade, entre outros.
Por muito tempo, influenciados pelo positivismo mecanicista, esses termos apa-
reciam mais como determinações de regras metodológicas prescritivas e a ciência
era concebida somente dentro de padrões deterministas, totalmente desconexos
com o mundo subjetivo e a cultura do cientista.
Perguntas importantes surgem no campo educacional quando consideramos os
fundamentos epistemológicos, tais como: quais os critérios para dizer que estamos
fazendo ciência? Como dizer que uma pesquisa é científica? Quais elementos nos
levam a dizer que determinado tipo de conhecimento é científico? Qual a relação
entre ciência e educação? É possível construir conhecimento científico na docência?
E inúmeras outras questões podem ser abordadas.
Não podemos esquecer que a complexidade destas questões nos remetem às
teorias científicas e os critérios que definem os procedimentos que sustentam a pro-
dução do conhecimento. Isso gera as verdadeiras discussões que estão à base dos
princípios da educação e que então são os problemas centrais da apropriação do
conhecimento pelo profissional docente.
A Epistemologia para Lalande (1996) pode ser designada com a filosofia da ciência,
porém, com um sentido mais específico, pois não é estudo dos métodos científi-
cos e muito menos a estruturação estática da realidade à maneira do positivismo.
Epistemologia é a crítica que se constrói a partir dos princípios, das hipóteses e re-
sultados das mais diversas ciências que conhecemos. Não podemos esquecer que a
epistemologia não é a mesma coisa que teoria do conhecimento, mas ambas cons-
tituem uma relação inseparável.
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Segundo Kökche (2005) o estudo dos critérios do conhecimento foi desenvolvido


tanto por filósofos quanto por cientistas e “tem como objetivo evidenciar os meios
do conhecimento científico, elucidar os objetos a que se aplica e fundamentar a va-
lidade deste conhecimento, por meio de estudo crítico e descritivo dos princípios,
das hipóteses, do processo e dos resultados das diversas ciências” (KÖCHE, 2005, p.
15). Até 1927 a epistemologia era simplesmente um ramo da teoria do conhecimen-
to, somente com o Círculo de Viena ela se consolidou como campo de investigação
própria.

A epistemologia e o quadro geral de


conhecimento
Mesmo assim continua sendo uma tarefa complexa estabelecer uma localização da
epistemologia tal como a conhecemos dentro de um quadro mais geral do conhe-
cimento. Japiassu (1992, p. 23 ) afirma

““
Seu estatuto está longe de poder ser definido, tanto em relação às ciências,
entre as quais pretende instalar-se como disciplina autônoma, quanto em
relação à filosofia, de que insiste em separar-se sem se dar conta de que uma
de suas razões de ser é postulá-la como uma das exigências fundamentais
de qualquer olhar crítico e reflexivo sobre as ciências que se vêm criando e
transformando o mundo através dos produtos que não cessam de lançar
em nossa cultura.

Não é tarefa fácil responder aos questionamentos que se colocam para a relação
entre ciência e filosofia, questionamentos que correspondem ao discurso episte-
mológico. Para Japiassu (1992) o discurso da epistemologia é duplo, ou seja, é um
discurso sistemático baseado na filosofia e que tem como objeto a ciência. É possí-
vel colocar a epistemologia fora do campo filosófico? Segundo Japiassu (1992, p. 25)
“Tradicionalmente, a epistemologia é considerada como disciplina especial no inte-
rior da filosofia.” Neste sentido a epistemologia é uma filosofia das ciências.
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Pós-Universo 13

O TRABALHO
EPISTEMOLÓGICO NA
PRÁTICA DOCENTE
Existe uma epistemologia do profissional docente segundo Becker (2005). Já para
Colom e Rodrigues (2004) é necessário uma desconstrução do conhecimento pedagó-
gico na educação. Porém, o trabalho que desafia o profissional docente é compreender
as relações que se estabelecem entre filosofia e ciência. Mas, qual seria o ponto de
partida para a construção epistemológica? Segundo Japiassu (1981) existem quatro
elementos que não podem ficar de fora do trabalho epistemológico.
O primeiro é ficar claro que o ponto de partida é a ciência racional e objetiva, não
vista como expressão de uma objetividade absoluta e imutável. Nos dias de hoje, a
maioria dos cientistas reconhecem que o conhecimento é dinâmico e dificilmente
encontraremos alguém que afirme posições dogmáticas quando o assunto é ciência.
Outro ponto importante é que a reflexão não pode ficar presa à pretensão de
perfeccionismo dos princípios que compõem a teoria científica. “Porque nenhuma
teoria científica pretende fundar-se em princípios firmemente estabelecidos e per-
feitamente coerentes entre si.”(JAPIASSU, 1981, p. 03).
É importante também que os métodos de investigação científica passem pelo
crivo da crítica e estejam em consonância com seus objetos de estudo. Por fim outra
questão candente diz respeito às conclusões que chegam os cientistas. Elas estão
bem longe de serem neutras e “extrapolações de ordem filosófica que normalmen-
te fazem, estão longe de ser sempre solidamente fundadas.” (JAPIASSU, 1981, p. 03).

A epistemologia e os outros campos


do conhecimento
Disso decorre que a epistemologia não é simplesmente como afirma Japiassu (1992),
uma disciplina criada para consideração do conhecimento científico já produzido,
mas que é uma forma de estudo dos fundamentos que dão possibilidade para que
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o conhecimento exista. A epistemologia neste sentido estuda as possibilidades para


que possamos falar em conhecimento que está sendo produzido. “Ela não se inter-
roga sobre suas condições concretas de elaboração, de gênese, de organização, de
estruturação ou de crescimento. Daí as questões fundamentais: como é possível o
conhecimento?, o que é conhecimento?” (JAPIASSU, 1992, p. 27).
É importante dizer que a epistemologia se relaciona com disciplinas bastante
diferentes. Segundo Japiassu (1992) a filosofia das ciências, a história das ciências, a
psicologia das ciências e a sociologia do conhecimento, não podem se desenvolver
sem o reconhecimento da importância da epistemologia. Todos os grandes filósofos
foram também teóricos do conhecimento, e se colocaram questões sobre as possi-
bilidades da ciência e do conhecimento.
A epistemologia faz parte de um contexto histórico, ou seja, quem constrói a episte-
mologia são pessoas situadas em um contexto cultural. A partir desta vertente histórica
alguns estudiosos dão maior ênfase ao estudo da natureza da ciência, estabelecendo
explicações e modelos interpretativos que se relacionam com a história e a sociologia.
Muitos docentes em sua prática docente se fundamentam em epistemologias
que descrevem os processos de pesquisa e delineiam os procedimentos e objetivos,
definem conceitos e explicitam o método. É neste sentido que é possível falarmos
da construção racional; e se dizemos que a ciência é fruto também de uma ativida-
de racional, a epistemologia nos diz quais critérios sustentam essa racionalidade.
Por isso na apropriação do conhecimento é de fundamental importância o docente
analisar epistemologicamente os componentes dos conhecimentos que constituem
a racionalidade da ciência. A epistemologia pode dotar os docentes dos conheci-
mentos necessários “para que tenham os fundamentos epistemológicos que os
auxiliem a compreender o que vem a ser a ciência, a sua distinção dos outros tipos
de conhecimento não científicos, o seu processo de construção e os critérios de cien-
tificidade.”(KÖCHE, 2005, p. 28).
Por fim devemos dizer que a epistemologia não possui uma significação comple-
tamente construída e acabada. Nem todos, que produzem o conhecimento, aceitam a
contribuição da epistemologia dentro da ciência. Neste sentido é trabalhada em modo
bastante flexível no ensino superior. Qualquer que seja a significação que é dada para
a epistemologia, um fator imprescindível é importante, ela não pretende ser mais um
tipo de conhecimento dogmático e imutável, portanto, ela revela um caráter intrin-
secamente interdisciplinar, capaz de dialogar com todos os campos do saber.
Pós-Universo 15

AS FONTES DE
APROPRIAÇÃO DO
CONHECIMENTO
Diante do conhecimento humano apresentam-se sujeito e objeto, consciência e fe-
nômeno. O conhecimento é o resultado que aparece na relação entre esses dois
elementos. Vamos buscar entender algumas formas de conhecimento que foram se
configurando a partir desta relação, para perceber se permanecem referenciais na
apropriação do conhecimento pelo profissional docente nos dias de hoje. Entre essas
fontes de apropriação temos: o dogmatismo, o ceticismo, o racionalismo, o empirismo.
Para Hessen (1999) a fenomenologia nos leva a considerar cinco problemas
principais quando o assunto é conhecimento. Primeiro devemos indagar sobre as
possibilidades do conhecimento humano; segundo precisamos encontrar a origem
do conhecimento; terceiro buscar qual é a essência do conhecimento que produ-
zimos; quarta questão diz respeito aos tipos de conhecimento humanos; e por fim
é preciso estabelecer os critérios de verdade que fundamentam a elaboração do
conhecimento.
Para nós será importante por enquanto, aprofundar a questão das possibilidades
e origem do conhecimento, para entender como nos apropriamos do saber e com-
preender a contribuição da epistemologia na prática docente.

saiba mais

Como o tema que iremos abordar é muito importante para compreender


a epistemologia e as práticas de apropriação do conhecimento pelo pro-
fissional docente, saiba mais sobre o assunto com o professor Johannes
Hessen da Universidade de Colônia, no seu livro Teoria do Conhecimento
citado em nossa bibliografia.
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
16 Pós-Universo

O sujeito apreende o objeto?


Temos uma vasta literatura no que diz respeito à temática da teoria do conhecimen-
to ou epistemologia. Zilles (1995) abordou a questão da teoria do conhecimento de
uma maneira bastante profícua. Porém, vamos nos basear principalmente na epis-
temologia das ciência humanas de Rabuske (1987) e Hessen (1999).
Neste sentido, para a visão dogmatista (do grego dógma significa: “aquilo que
alguém crê ser verdadeiro”). Nessa visão, pressupõe-se que o sujeito apreende o objeto.
Segundo Hessen (1999, p. 29) “a possibilidade e a realidade do contato entre sujeito e
objeto são pura e simplesmente pressupostas. É auto-evidente que o sujeito apreen-
de seu objeto, que a consciência cognoscente apreende aquilo que está diante dela.”
Na posição dogmatista o problema do conhecimento não chega nem mesmo a ser
colocado, ou seja, “para o dogmatismo, o conhecimento não chega a ser um problema,
repousa sobre uma visão errônea da essência do conhecimento.” (HESSEN, 1999, p. 29).
A relação entre sujeito e objeto não é problematizada na concepção dogmatista, pois
nesta visão o conhecimento não é concebido como inter relação entre sujeito e objeto.
Pós-Universo 17

Aprofundando um pouco mais, o conhecimento dogmático afirma que os


objetos de conhecimento se apresentam ao sujeito como tais e não aceita a
função relacional que fundamenta o conhecimento. A percepção e o pensamen-
to são minimizados nesta concepção de conhecimento, pois os objetos, segundo
o dogmatismo, nos são dados corporalmente tanto na percepção quanto no
pensamento. “Num caso desconsidera-se a percepção, por meio do qual deter-
minados objetos nos são dados; no outro, desconsidera-se a função pensante.”
(HESSEN, 1999, p. 30).
É importante saber que esta atitude ingênua de pensar, constitui uma das primei-
ras formas de abordar a realidade, seja na perspectiva psicológica quanto na histórica.
Esta epistemologia dominou o mundo grego nos inícios da filosofia. De um modo
geral, a questão epistemológica do conhecimento, não constituiu um problema para
os primeiros filósofos gregos.
O ceticismo (sképtesthai, significa: examinar) pode ser considerado o contrá-
rio do dogmatismo. Para o cético não é possível a relação entre sujeito e objeto.
No ceticismo não é possível uma compreensão do objeto realizada pelo sujeito.
Nesta forma extrema de conceber a realidade, não é possível ao sujeito conce-
ber qualquer juízo sobre a realidade. Para Hessen (1999) se o dogmatismo anula
as potencialidades do sujeito, para a visão ceticista, o objeto é completamente
anulado.
Para o ceticismo o olhar recai somente sobre a questão de como o sujeito
produz o conhecimento humano. Para o cético é impossível o contato entre
sujeito e objeto, a consciência está condenada a esta limitação. Em um dizer mais
claro, para o cético não há conhecimento possível, pois entre verdades opostas
que aparecem numa proposição, tanto uma quanto a outra podem ser aceitas.
Para o cético não há conhecimento possível, pois entre verdades opostas
que aparecem numa proposição, tanto uma quanto a outra podem ser aceitas.
Na idade moderna encontramos nas obras de Montaigne o ceticismo ético para
questões dos valores. Temos também o ceticismo religioso, quando afirmamos que
o conhecimento religioso não é possível. Por fim existe também o ceticismo metó-
dico que para Hessen (1999) é a atitude de colocar questionamentos em tudo o que
aparece como sendo verdadeiro.
18 Pós-Universo

De onde vem o conhecimento?


Vamos começar esta última parte da unidade propondo um juízo bem concreto pra
entendermos quais são as fontes do conhecimento. Se eu digo ‘o ar é essencial para
viver’, eu o faço a partir da observação de que ninguém pode viver sem respirar o ar.
Disso decorre que este tipo de conhecimento é experimental, pois eu observo que
as pessoas ques estão vivas, estão respirando.
Mas talvez você não tenha percebido, quando elaboramos que sem ar ninguém
sobrevive, estamos concluindo que o ar é necessário à vida, ou seja, a consciência
cognoscente constrói uma relação complexa entre ar, vida e sujeitos. Essa conexão
causal entre os aspectos da realidade, realizada pelo pensamento não é dada na rea-
lidade mesma, o que nos leva a conclusão que no conhecimento existem elementos
que nos chegam da realidade e outros que se constituem no pensamento. Qual a
verdadeira fonte do conhecimento, a experiência ou a razão?
Para Hessen (1999, p. 48) “chama-se racionalismo (de ratio, razão) o ponto de vista
epistemológico que enxerga no pensamento, na razão, a principal fonte do conhe-
cimento humano.” O conhecimento racional é aquele que tem as características de
necessidade e validade universal. Se a razão afirma que dado conhecimento é de de-
terminada maneira e não pode mudar, segundo as regras da razão, e vale sempre em
todo lugar, esse é um conhecimento racional. Um exemplo deste tipo de conheci-
mento é a proposição: as partes são menores que o todo. Se eu afirmasse o contrário
a razão mesma percebe que algo estaria contraditório e não seria possível dizer que
este é um conhecimento de origem racional.
Contrário ao racionalismo, surgiu o empirismo (de empeiría, experiência), que
afirma ser a experiência a fonte do verdadeiro conhecimento. O apriorismo racional
vem fortemente negado pelo empirismo, ou seja, a razão não nenhum elemento
que não lhe tenha sido entregue senão pela experiência. O ato de cognição retira
seu conteúdo não da razão, mas da experiência. O ser humano nasce uma ‘tabula
rasa’ sobre o qual somente a experiência pode escrever algo.
Todos os conceitos que elaboramos são possíveis porque experienciamos os
mundo que nos envolve. Neste sentido quando somos crianças e depois adultos,
vamos construindo o conhecimento a partir das percepções sensíveis da realidade.
E somente a partir dessas percepções é possível construirmos os conceitos gerais e
representações concretas.
Pós-Universo 19

reflita

Hoje em dia como podemos perceber que o empirismo é uma concepção


de abordagem epistemológica presente no ensino e aprendizagem, bem
como na apropriação do conhecimento pelos professores?
Fonte: elaborado pelo autor

Para Hessen (1999) a maioria dos racionalistas eram matemáticos, já os empirista eram
em sua grande parte ligados às ciências naturais, campo onde a experiência da ob-
servação é fundamental no processo de construção do conhecimento. “

““
É muito natural que alguém, trabalhando principal e exclusivamente de
acordo com esses métodos das ciências naturais, esteja inclinado de antemão
a colocar os fatores empíricos acima dos racionais. Se o epistemólogo de
orientação matemática chega facilmente a encarar o pensamento como
única fonte de conhecimento, o filósofo provindo das ciências naturais estará
inclinado a considerar a experiência como a fonte e o fundamento de todo
o conhecimento humano. (HESSEN, 1999, p. 55).

O empirismo tem sua importância na história da epistemologia humana. Sua im-


portância está ligada à oposição ao da concepção racionalista, isto é, o extremismo
de considerar somente a razão como fonte de construção do conhecimento. Isso
também não quer dizer que o extremo oposto de concepção empirista esteja isenta
de críticas e limitações. O conhecimento será sempre uma relação racional e expe-
riencial entre o sujeito e o objeto.
atividades de estudo

1. Discutimos em nosso primeiro encontro desta unidade a importância da funda-


mentação epistemológica do conhecimento científico. Para isso fomos buscar na
literatura filosófica uma definição do que é a epistemologia. Considerando a etimo-
logia da palavra, epistemologia significa:

a) Discurso sobre a filosofia crítica


b) Discurso sobre a ciência
c) Discurso da relação entre ciência e os dogmas religiosos
d) Discurso do método da ciência
e) Discurso sobre a epoché da fenomenologia.
2. A epistemologia apareceu na discussão filosófica a partir do século XIX, para indicar
uma necessária reflexão sobre a produção do conhecimento científico. Neste sentido
a epistemologia foi incorporando importantes termos na sua discussão. Assinale a
alternativa correta

I) Incorporou, principalmente termos criados pela engenharia ambiental, entre outros.


II) Assumiu como objeto de estudo termos da metafísica.
III) Incorporou no seu discurso termos como: hipótese, observação, experimenta-
ção, processos, interpretação, subjetividade, objetividade, intersubjetividade,
entre outros.
IV) Não incorporou no seu discurso termos como: hipótese, observação, experimen-
tação, pois esses termos são objetos da filosofia.
V) A epistemologia como reflexão filosófica sobre a ciência apareceu somente no
século dezenove.
a) Somente as alternativas III e V estão corretas
b) Somente as alternativas II e IV estão corretas
c) Somente as alternativas I e V estão corretas
d) Somente as alternativas III e IV estão corretas
e) Todas as alternativas estão corretas.
atividades de estudo

3. Vimos que o racionalismo é a perspectiva epistemológica que afirma ser a razão a


nossa principal fonte do conhecimento. Considerando o que discutimos assinale a
alternativa correta.

a) O conhecimento empírico é aquele que tem as características de necessidade e


validade universal.
b) A vontade pode afirmar que dado conhecimento é de determinada maneira e
não pode mudar.
c) Fundamentado sobre as regras da razão, podemos dizer que um dado compor-
tamento vale sempre em todo lugar.
d) Um exemplo de conhecimento racional pode ser encontrado na proposição: as
partes são menores que o todo.
e) Quando o método percebe que algo é descrito corretamente, então não é pos-
sível dizer que este é um conhecimento de origem fenomenológica.
resumo

Caro(a) aluno(a)! Neste estudo vimos o que é a epistemologia e ao mesmo tempo definimos qual o
seu papel na prática docente. Buscamos um pouco mais perceber quais as principais fontes que a
epistemologia nos apresenta na apropriação do conhecimento pelo profissional da educação. Isso
certamente exigiu de nós uma certa busca de clareza a respeito dos conceitos epistemológicos
fundamentais que compõem os métodos de produção do conhecimento científico e filosófico.

Entendemos que a epistemologia no seu significado mais profundo é a construção de discur-


so crítico sobre a ciência, e relacionamos a epistemologia, como processo fundamental, com a
apropriação do conhecimento. Todo termo tem sua história, muitas vezes enriquecido pela eti-
mologia, a partir desses elementos, buscamos as relações que ele possui com a reflexão filosófica
e com o conhecimento científico.

Dissemos que primeiramente queríamos encontrar o ponto de partida da epistemologia. Vimos


que esse ponto de partida é a reflexão filosófica que se realiza sobre a ciência racional e objeti-
va, encarada na sua dinamicidade, não como objetividade imutável. Isso, porque, como vimos,
muitos cientistas concebem o conhecimento de forma dinâmica. Outro ponto importante que
tratamos foi a reflexão sobre os princípios que compõem a teoria científica.

Muitos desafios se apresentam a partir da produção do conhecimento, neste sentido observa-


mos como se apresentam sujeito e objeto na relação de produção do conhecimento. Vimos que
a epistemologia é o resultado do ato relacional entre esses dois elementos. Por isso que busca-
mos entender como são as formas de conhecimento construídas a partir desta relação. Entre as
principais fontes da epistemologia, estudamos: o dogmatismo, o ceticismo, o racionalismo, o
empirismo.

Pedimos ajuda à fenomenologia para circunscrever os cinco problemas principais a serem en-
carados pela epistemologia. Trabalhamos por razões metodológicas, o tema da epistemologia
como fundamento da educação, indagando sobre as possibilidades do conhecimento humano
e trouxemos uma reflexão sobre a origem do conhecimento.
material complementar

LIVRO

Título: Teoria do Conhecimento

Autor: HESSEN, Johannes.

Editora: Martins Fontes

Sinopse: Esta exposição sobre a teoria do conhecimento originou-


-se nas aulas proferidas pelo autor na Universidade de Colônia. Isso
explica o esforço, não tanto para a tudo oferecer soluções comple-
tas, mas para apresentar de modo claro e minucioso o sentido dos
problemas e as diferentes possibilidades de solução, sem renun-
ciar a um exame crítico e a uma tomada de posição. O autor tem a
convicção de que o sentido último do conhecimento filosófico não é tanto solucionar enigmas
quanto descobrir maravilhas.
referências

BECKER, Fernando. A epistemologia do professor: o cotidiano da escola. 12. ed. Petrópolis: Vozes,
2005.

CHAUI, Marilena de Souza. Convite à filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2012.

COLOM, Antoni J.; RODRIGUES, Jussara Haubert. A (des) construção do conhecimento pedagó-
gico: novas perspectivas para a educação. Porto Alegre: Artmed, 2004.

HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

JAPIASSU, Hilton. Introdução ao pensamento epistemológico. 7. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1992.

_____, Hilton. Nascimento e morte das ciências humanas. 2. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1982.

_____, Hilton. Questões epistemológicas. Rio de Janeiro: Imago, 1981. (Serie Logoteca )

KÖCHE, José Carlos. Pesquisa Científica: critérios epistemológicos. Petrópolis: Vozes, 2005.

LALANDE, André. Vocabulário técnico e científico da filosofia. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

RABUSKE, Edvino. Epistemologia das ciências humanas. Caxias do Sul: EDUCS, 1987.

ZILLES, Urbano. Teoria do conhecimento. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1995.


resolução de exercícios

1. b) Discurso sobre a ciência

2. a) Somente as alternativas III e V estão corretas

3. d) Um exemplo de conhecimento racional pode ser encontrado na proposição: as


partes são menores que o todo.

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