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• ANTROPOLOGIA

AULA 2 – A experiência sensível, o senso comum, a memória e a imaginação

Aula 2 - Antropologia. Vamos continuar nossa investigação sobre o ser humano. Como
falávamos, antes de começar a perceber o que é humano no ser, precisamos compreender
essas primeiras características do ser. Eu estava tentando desvendar para vocês através dessas
experiências iniciais do homem. Comentava da minha filha, Maria Helena, que apontava para a
bola e me perguntava: "O que é aquilo?" Ainda que só com o gesto, já podíamos responder,
apontando para o objeto e dizendo "bola", "carrinho", "boneca". Com isso, começamos a dar os
primeiros passos para aquilo que futuramente vai ser tipicamente humano. Que experiência é
essa? Esse primeiro ímpeto interior, essa interrogação que é sempre feita na linguagem,
aprendemos a chamar de pronomes interrogativos. Ou seja, um ímpeto interior que aponta
para um nome vai ser respondido como um substantivo, como uma substância: "bola". Daqui a
algum tempo, quando estivermos mais avançados, pode ser respondida por um substantivo
abstrato, ou seja, algo que tem uma presença não no mundo físico, mas sim no mundo
metafísico, no mundo muito mais durável. Esses primeiros ímpetos infantis do ser humano dão
esse primeiro passo, onde depois começaremos a evoluir com os outros movimentos.
Ou seja, com mais outras interrogações. Vejam se não é assim: quando começamos a
perceber as próximas perguntas e até os próximos livros, os próximos brinquedos que
colocamos na presença dos nossos filhos, eles veem primeiro uma presença. Depois que
percebem essas diferenças ao redor deles, notam que sobre essas presenças existem outros
movimentos, outras coisas. Então começam outras perguntas, outros pronomes interrogativos.
Perguntam "qual é?", "qual cor?", "quantos dedos?", e aprendem os números. Vejam que
temos outras classes para responder a esses outros ímpetos interiores, essas outras
interrogações. Se temos um substantivo que dá uma plataforma inteira onde algo acontece,
como "bola", uma bola onde várias coisas ocorrem. Essa bola pode aparecer outra vez com
outra cor, outras quantidades de bola, bola que realiza vários tipos de ação, que sofre vários
tipos de reação. Uma bola que, com o tempo, muda de lugar, que pode ser minha e, daqui a
pouco, ser do meu irmão. Uma bola que pode estar furada, em determinado estado, ou que
habitualmente pode ser usada para uma brincadeira. Por que estou falando isso para vocês?
Porque todas essas características, que são próprias do ser, são buscadas por ímpetos interiores
dentro do ser humano. O ser humano tem um vínculo, algo que o impulsiona para que ele dê
essas respostas, para essas presenças. E esse vínculo, ao longo do tempo, faz com que as
pessoas aprendam a ter um mediador que faz com que tudo isso aconteça.

Então, sobre essa presença da bola, dessa realidade, estabelecemos um vínculo com ela,
que é expresso por palavras. Começamos a conversar sobre isso, mesmo que, depois de um
tempo, a bola esteja ausente. É esse caminho que nos faz perceber o ser "bola" e algumas
capacidades que, eventualmente, evidenciam um ser muito mais potente, duradouro e com
mais capacidades do que a bola. Vamos começar a observar as faculdades desse novo ser que
chamamos de ser humano. Percebam a mediação que existe entre nós, através desses
movimentos que são antropológicos e que nos levam em direção a essas percepções. Assim,
quando respondo para minha filha e, mesmo que ela nunca mais visse uma bola, eu, como ser
humano, poderia passar a vida falando para ela sobre aquela bola. Não mais uma presença
física, mas agora uma presença num mundo além do físico. Posso falar de uma bola no passado,
no futuro ou de uma bola que não está presente. Posso conceituar o que é uma bola. Agora, a
experiência é sensível, e embora não possamos qualificar a bola como um ser vivo, ela ainda é
um ser. Depois, pelas características de cada ser, quando começam a ter um movimento
próprio que é autopropulsado, percebemos suas nuances. Ou seja, existe uma espécie de
motor dentro de certos seres que os faz movimentar por si próprios. Eles são autogerados, não
como uma máquina de combustão interna que necessita de ignição, mas como seres que, ao se
manifestarem fenomenicamente, realizam-se por si mesmos. Existem características específicas
que os compõem. Por exemplo, sabemos que todos os seres vivos possuem certos elementos
que os seres inanimados podem ou não ter. Alguns até chamam isso de "partícula da vida"
porque reconhecem certas características distintivas nos seres vivos que lhes conferem a
capacidade de auto movimentação. Essa animação, ou "anima", que, ao explorarmos o mundo
das emoções, nos permitirá entender quais são esses movimentos e para onde nos conduzem.

Portanto, os seres vivem sobre uma plataforma, uma substância, um substantivo que
podemos qualificar com adjetivos, numerar com numerais, referir com pronomes, descrever
ações através de verbos e posicionar no tempo com advérbios. Há essa mediação que
aprendemos a chamar de classes gramaticais, que atuam como intermediárias entre o ser
humano e o não humano. Esta mediação pela linguagem concede ao ser humano capacidades
que outros seres não possuem. Por exemplo, ainda que o ser esteja ausente para o ser
humano, ele pode ser. Ele tem uma espécie de eternidade, porque eu consigo fazê-lo durar.
Através dessa primeira experiência sensível, que outros seres, como as plantas no reino vegetal
e animais no reino animal, também têm, começamos a ter, na mente da minha filha, o que
Aristóteles chamou de separação do conteúdo fático para o conteúdo ético. Isso dá origem ao
mundo sem a presença material da coisa, mas com uma presença ideia. Isso também existe, de
uma maneira incipiente, no mundo dos animais. Afinal de contas, a comida pode não estar ali,
mas um cachorro pode latir, como se comunicando com uma linguagem, pedindo aquela
comida que não está ali. A questão desse desenvolvimento e do avançar desse raciocínio na
vida do ser humano é que, em certo momento, o cachorro tem um limite de suas capacidades,
que usualmente chamamos de faculdades em antropologia, e ele não consegue mais
desenvolver a partir do mundo físico. Que capacidades são essas? Conforme Aristóteles dizia,
nada vem para o nosso mundo intelectual sem antes passar pelos sentidos. Então, obviamente,
se eu falasse para uma pessoa sobre algo que ela nunca viu no mundo fático, dificilmente ela
conseguiria ter uma noção dessa coisa no mundo.
Ela conseguiria somente se aproximar disso se utilizasse vários conceitos próximos do
mundo do intelecto, vários conceitos abstratos para ir aproximando, ou então através de
símbolos, fazendo com que ela imaginasse coisas bastante próximas daquilo que ela nunca viu.
Isso é uma capacidade que nós temos. Então, através da experiência dos sentidos, conseguimos
dar o primeiro passo para pegar um mundo material e elevá-lo a um segundo patamar.
Realizamos uma espécie de operação de imaterialização ou uma operação que vai levar para o
mundo espiritual, para o mundo do nous, que era a palavra grega que Aristóteles, por exemplo,
utilizava para falar sobre o que hoje chamamos de intelecto potencial. Então, como podemos
começar a explorar esses mundos através dos sentidos? Eles nos guiam nessa experiência. Se
falo em café, os meus sentidos que percebem a bola, o café, a luz, começam a dar respostas
para cada coisa, e essas respostas são armazenadas em nossa memória. Como isso é
organizado dentro de nós para perceber que o gosto do café é diferente da textura do café, e
perceber cada uma dessas coisas com um sentido diferente? Através de uma próxima
capacidade que diferencia o que é doce daquilo que é verde, uma experiência do meu paladar e
do que percebo com a minha visão. Esse segundo mundo, esse segundo degrau da capacidade
humana, que também existe em outros seres, não é propriamente humano; chamamos de
senso comum. Preciso que a gente gaste um pouco de tempo, porque no senso comum, mesmo
que a gente não tenha uma vida propriamente intelectual, conseguimos nos orientar no
mundo. Por isso, inclusive, que se diz de maneira grosseira que o conhecimento que as pessoas
têm, muitas vezes, é um senso comum. Acabei de falar para vocês das categorias de Aristóteles.

Quais são essas categorias? Substância, espaço, tempo, ação, relação, reação, estado,
hábito, quantidade e qualidade. Essas 10 categorias precisam de um mediador para que
consigamos fazer efetivamente essa mediação entre os seres e o ser humano, através do que
aprendemos a chamar de classes gramaticais. Dentro dessa experiência de conseguir olhar para
o mundo, para a bola, para o café e perceber essa estrutura existente neles, que expresso com
classes gramaticais, observem o que acontece quando começamos a querer nos orientar no
mundo através do conhecimento do senso comum. Entramos no que aprendemos a chamar de
mundo simbólico. Vejam, as classes gramaticais vão se cruzando à medida que aprendemos a
denominar o amarelo do sol do mesmo amarelo da batata frita ou do girassol. É o senso de que
existe uma semelhança nessas coisas que faz com que, através do mundo sensível, guardemos
essas experiências nas caixas que parecem ser melhor. Por exemplo, quando observamos dois
seres no mundo que têm a mesma quantidade, dizemos que eles são simbólicos. Ou seja, eu
tenho sete dias da semana, tenho sete pecados capitais, tenho as sete faculdades humanas. Por
que dizemos que existe uma ligação simbólica entre essas coisas? Porque quando os sentidos
vão armazenando tudo isso nas caixas do nosso senso comum, essas coisas vão se conectando
na categoria que é mediada por uma classe gramatical de quantidade, expressa através de um
numeral. Por exemplo, a quantidade do que aprendemos a chamar de planetas, ou do que
antigamente conseguíamos ver no céu, que eram os sete astros que faziam o movimento, se
relaciona com as sete faculdades humanas. Percebemos que há alguma ligação simbólica entre
eles. Por que se conectam aqui? Porque se encontram lá no nosso senso comum, nessa
categoria que chamamos de quantidade. Assim como mencionei o exemplo do sol e do girassol,
por que vemos essa semelhança entre eles? Existe uma semelhança de forma, aquele formato
redondo, e uma semelhança de cor. Essas semelhanças que fazem um ser símbolo do outro, e
até levam um pouco do seu nome, indicam que se conectam de alguma forma no mundo
simbólico, percebido em nosso senso comum, e são guardados na mesma "caixa" do que
chamamos de qualidade.
Então, eu tenho aqui qualidade e qualidade. Perceba, se eu colocar aqui em cima
"girassol", estamos falando sobre girassol aqui em cima. E se eu colocar aqui, nesse outro lado
da matriz simbólica (a simbólica, segundo norte-americana, é uma matriz de intelecção), do
lado de cima da matriz, vemos "girassol" e, do lado de baixo dessa matriz, vemos o "sol". Eles se
conectam em suas qualidades. Se eu encontrar outros seres, por exemplo, que se conectam na
relação do tempo, ou na relação de uma ação, ou na própria relação, que é uma das categorias,
e se eu pego seres que se conectam, ou seja, que meu senso comum percebe por uma força
simbólica, ela está aí. Ela funciona antes do nosso mundo intelectual. Ainda estou falando do
mundo dos sentidos, que ainda carrega um sentido em si. Está na minha cabeça como
memória, mas eu ainda consigo ver na minha cabeça o amarelo, ainda consigo sentir na minha
cabeça o cheiro que faz um ser parecido com outro pelo cheiro. Percebem isso? Então, todas
essas informações no senso comum formam essa espécie de matriz simbólica, que é o mundo
onde percebemos a interação dos seres e que vão nos orientando no mundo. É dentro desse
mundo, é dentro dessa relação simbólica, que começa a aparecer em nossa cabeça o que
começamos a chamar de hipóteses. Aí, dentro desse mundo, já vamos percebendo que as
coisas vão se conectando. Mas percebam o que é importante: está em nossa cabeça, mas ainda
tem resquício dos sentidos. A partir do momento que pegamos essa memória e fazemos a
mediação dela com uma palavra, e agora, se as palavras não tiverem mais sentido, mas se
transformarem em uma comunicação, aprendemos a chamar de oração. Então, tiramos do
mundo das ações, do mundo dos entes completamente e estamos levando para uma espécie
de mundo das orações, oração no sentido gramatical mesmo. Estou falando: "A bola azul do
meu papai vai ser usada para jogar futebol amanhã na casa do meu primo". Vejam, essa
orientação é toda mediada no senso comum e consigo levá-la desse mundo para esse mundo
das orações através de várias mediações e começa a adentrar no mundo dos conceitos. Esse
mundo dos conceitos é o que aprendemos a chamar de propriamente humano. E onde isso
funciona? Começa a funcionar através do que aprendemos a chamar de poder do intelecto
humano. Lá em cima, onde a imaginação faz uma mediação para o mundo que vai deixando de
ter os sentidos concretamente, vai tendo só palavras, vai, por assim dizer, ficando imaterial, vai
desencarnando. Os animais, as plantas, os moneras, os protozoários, os outros reinos não têm
mais poder nenhum que os faça se orientar nesse mundo. Os seres humanos têm esse poder.
Aprendemos a chamar esses poderes de intelecto passivo e intelectual ativo. Ainda não falamos
de algumas outras faculdades que costumamos ouvir falar: a volição, a faculdade cognitiva, a
vontade, a faculdade sensível, a faculdade imotiva. Em breve posicionaremos isso. Então, essas
aulas aqui serão uma espécie de matriz onde vocês conseguirão ver de uma maneira geral,
principalmente a partir do momento que eu introduzir o que é no mundo real a personalidade
do homem. Proposto isso, conseguirão pegar os conceitos de algumas bibliografias que
mostrarei e se orientar no mundo real, principalmente através dele, em direção ao bem. E,
muitas vezes, quando precisarem definir conceitos, poderão recorrer aos livros da extensa
bibliografia para conversar somente nesse mundo intelectual.
Então, como funciona esse mundo do intelecto passivo e ativo? Que mundo é esse?
Vamos voltar lá, onde começamos a nos orientar na primeira aula. Vejam, consigo me orientar
no mundo metafísico através do mundo físico, no mundo imaterial através do mundo material,
no mundo invisível através do visível. O ser humano trouxe tudo desse mundo físico, do visível,
do material. Ele fez com que, mesmo que perca a presença, por exemplo, da bola, ainda consiga
continuar orientado no mundo sem ela. Ele tem capacidade para isso, enquanto os outros seres
têm coisas do sentido presas à imaginação. Ela consegue operar. Chamado visão, tenho uma
imagem de um cavalo e também uma imagem de um chifre. Em cima do senso comum, como
assim? Consigo, através da minha imaginação, construir um unicórnio. Como se faz isso? Na
minha cabeça, tenho uma imagem – produto de um sentido humano chamado visão – de um
cavalo e também de um chifre, que vi no touro. Consigo pegar aquele chifre do touro, retirá-lo
– estou operando com a minha imaginação, é uma função da visão, isso não é intelecto – e
colocá-lo na cabeça do cavalo. Então, aponto para esse ser que não está no mundo dos entes,
mas está no mundo das mentes e consigo dar um nome para ele: "O que é aquilo?" Posso
chamar de unicórnio. Aqui começa a diferença do ser humano. Vocês percebem que o
cachorro, o cavalo ou os animais mais evoluídos, que se diz chegar próximos ao ser humano,
não conseguem fazer isso. Eles não conseguem utilizar a sua imaginação mediada pela
linguagem para construir um novo mundo. O ser humano já consegue. Quando ele adentra esse
novo mundo mediado pela palavra, começamos a chamar isso de "intelectus". E aí, o intelecto
não tem mais essa mediação do que são os sentidos. Quando vejo a definição de uma palavra
através de uma oração, quando existe uma ciência muito própria de definições, a mais simples
que conhecemos é a árvore de Porfírio. Então, para tentar explicar algo que é específico,
pegamos o genérico e vamos especificando. Por exemplo, quando quero diferenciar caneta de
lápis, falamos qual é o gênero deles: objetos que escrevem. Para especificar: um escreve com
tinta e o outro com grafite. Isso do gênero já não aparece mais no mundo dos entes. Os outros
seres, que vivem só com as capacidades do mundo dos entes, não conseguem mais se orientar
no mundo dos gêneros. O ser humano começa a subir nesses mundos, como sobe no que
aprendemos a chamar de taxonomia. Então, sobe da espécie para o gênero, do gênero para a
classe, da classe para a ordem, da ordem para o filo, e do filo para o reino. A ordem correta é:
reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie. O ser humano consegue isso, subindo até
poder falar de um reino, de um filo, de uma classe. E isso vem muito do intelecto, que consegue
fazer uma espécie de subida, utilizando a mediação das palavras, do imaterial, convergindo
para uma unidade, a espécie que se encontra lá em cima no reino, que tem uma unidade que
consegue dar sentido para tudo isso que está embaixo e unificar tudo como se tivesse saindo
tudo de uma espécie de uma mente só.
Então, essa abstração que vai subindo é do imaterial ao material, do mais durável ao
menos durável. São alterações do que aprendemos a chamar de intelecto. E Diego, qual é a
diferença? Qual é a maneira de operar do intelecto passivo para o intelecto ativo? Então, para
fechar, no ano passado, falando sobre os sentidos, eu não segui uma ordem estrita. Estou
falando principalmente de uma maneira fenomenológica para depois organizar isso em nossa
experiência. Então tenham paciência e tentem sempre fazer essa atividade, essa ação que é
propriamente humana. Percebendo uma ação dentro de mim e falando: "O nome disso é
intelecto passivo", ou "O nome disso é intelecto ativo". Vejam, o intelecto passivo, trazendo
para o mundo dos sentidos, nos ajuda a nos orientar para depois passar para o mundo do
imaterial. O intelecto passivo desempenha um papel semelhante ao da memória, mas agora ele
não está mais com a memória sensitiva, ele está com uma memória intelectual. Ele guarda
conceitos. Consegue pegar uma oração e encarná-la. Por exemplo, se eu tenho a frase "É um
objeto que escreve e tem tinta", eu consigo pegar essa mediação de palavras e atribuí-la a uma
imagem de caneta. Estou fazendo essa volta para que percebam que podemos ascender ao
mundo intelectual. No entanto, também poderíamos ficar no plano das palavras, usando-as
para descrever objetos, sem necessariamente vinculá-las a imagens ou entidades concretas.
Nesse mundo intelectual, orientamo-nos através dessas palavras que formam conceitos.
Então, esse mundo das orações e essa palavra, nesse sentido, carregam essa beleza.
Esse mundo das orações, dessas frases feitas que são conceitos, é uma espécie de lugar onde
conseguimos guardar esses conceitos. Assim como no mundo dos sentidos, eu prendo na
memória o que sinto, no intelecto, guardo conceitos em uma espécie de memória intelectual. É
o nosso intelecto passivo que consegue olhar para as coisas de uma maneira que desmaterializa
e se fixa nisso. Mais adiante, através da analogia, consigo operar nesse mundo com esses
conceitos e construir outros conceitos imateriais a partir de conceitos já existentes. Essa é uma
produção do intelecto ativo. No entanto, ficaríamos completamente desorientados se não nos
conectássemos ao mundo físico. Se vivermos apenas nesse mundo intelectual, estaremos em
um ambiente extremamente vulnerável, pois tudo pode acontecer. Esse mundo possui uma
durabilidade extrema, uma eternidade. Ainda que as gerações passem, esses conceitos podem
persistir. Mas veremos adiante que esses conceitos só têm sentido na mente do que
aprendemos a chamar de pessoa. Ainda que seja no jeito que os teólogos interpretam como a
pessoa divina, só nos orientaremos nesse mundo se tivermos características de pessoa, o que
abordaremos nas próximas aulas. Tá bom, o que precisa ficar aqui para vocês são dois sentidos
muito importantes. Então, primeiro, essa gradação de capacidade onde a gente passa a ter os
sentidos propriamente humanos. Ou seja, eles deixam de ser esses sentidos que os seres mais
elevados, antes de nós, têm, como os animais, e passam a ser da origem ao ser humano. A
gente consegue intermediar, através das categorias do ser, utilizando a palavra. No mundo da
palavra, nas classes gramaticais, a gente consegue reproduzir toda essa matriz de intelecção
que orienta a gente no mundo sensível como uma orientação do mundo intelectual. Então,
vejam, uma pessoa que não tem vida intelectual consegue se orientar pela simbólica no mundo
físico. Então, vocês veem que tem gente que não tem vida intelectual, e você fala assim:
"Caramba, aquele cara nunca estudou, nunca fez uma faculdade, mas ele sabe exatamente
como ganhar dinheiro. Como é que ele faz isso?" Ele faz isso com senso comum, porque lá no
senso comum está a matriz simbólica que toca o amarelo do girassol, que toca aquilo que ele
precisa para fazer no mundo concreto para ele ganhar dinheiro. Ele consegue se orientar pelo
senso comum, tocando nesses pontos dessa matriz, e ele vai se orientando no mundo assim. Tá
bom, então a gente para por aqui agora e, na próxima aula, a gente começa a ver como esse
mundo dos sentidos, através das experiências do nosso dia a dia, vai se organizar. E aí a gente
vai fixar de uma maneira bela como vamos nos orientar na vida real e nossa personalidade
através dessas coisas. Tá bom, pessoal? Até a próxima.

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