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O ACESSO À JUSTIÇA E O SISTEMA MULTIPORTAS

A concepção do acesso à justiça de forma democrática como escopo do processo


para o seu desenvolvimento adequado vem sendo amplamente discutida pela doutrina,
na qual tem superado o paradigma arcaico que minimiza a possibilidade na aplicação de
métodos para resolução dos litígios.

À vista disso, com o novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656), novos


aspectos passaram a integrar todo o ordenamento jurídico. Dessa maneira, é possível
compreender a redação do art.3º do novo código como base para a interpretação na qual
o acesso à justiça estaria a serviço de uma mudança paradigmática proporcionando uma
apreciação jurisdicional mais democrática, isso, pois, vai além da noção de acesso à
justiça previsto no art.5º, XXXV, da Constituição Federal (LGL\1988\3).

Ainda em virtude dos avanços normativos, autores (Frank Sander, 1976; Mauro
Cappelletti e Bryant Garth, 1988; Fredie Didier Júnior, 2016) propõem a ressignificação
do acesso à justiça como instrumento1 de implementação do processo colaborativo,
abordando a ideia de um “centro de justiça” dispondo de distintos métodos de resolução
de conflitos.2 Assim, sendo um sistema de integração dos meios adequados para a
solução de conflitos (Sistema Multiportas), estabelece condições de escolha para que o
jurisdicionado resolva a sua demanda da forma a garantir a efetividade e
satisfatoriedade. (Mudar para: efetiva e satisfativa?)

No que tange os modelos alternativos de solução de conflitos, é relevante


definirmo-los como uma representação simplificada e por vezes, interdisciplinar 3, da
apreciação jurisdicional e dos elementos da complexa organização de valores e normas
fundamentais ao processo civil e às disposições normativas e jurisprudenciais, postos
em função das partes para a resolução adequada da lide. Isto posto, o objetivo do artigo
é demonstrar como os modelos de resolução de conflito, em especial, a mediação, se
adéquam meio à crise do judiciário as quais pertencem, as demandas de
responsabilidade civil do direito médico.

Uma consequência natural do estudo foi observada pela necessidade de avanços


técnicos (estratégias de solução adequada da lide) bem como legislativos (escasso
acervo consumerista). Em razão dessa percepção, fato é que apesar de a esfera da
reparação civil não ser capaz de suprir todos os requisitos do arquétipo atual, a
mediação amolda-se às dificuldades concernentes ao objeto de conflito e, portanto,
corroborando para o desenvolvimento e resolução adequada dos litígios.

O foco empírico da pesquisa tem como exemplar o Direito médico, no qual é


bem versado nas demandas de responsabilidade civil do médico e, ainda, em razão das
obrigações e consequentemente os impactos da sua atuação. O instituto da
responsabilidade civil ainda que diversificado prevê fins não extensivos, visto que as
possibilidades de resolução dos conflitos encontram-se atrelados a um sistema de
normas que não abrangem a complexidade e especificidade da lide, tendo em vista o
aumento estimado em 250% do número de processos éticos-profissionais nos Conselhos
Regionais e Federal de Medicina na última década.4

No entanto, a justiça multiportas representa a possibilidade de se preservar a


resolução dos conflitos em âmbito privado, por meio de a atividade jurisdicional estatal
promover a autocomposição (extrajudicial). Isso pois, a ótica da jurisdição voluntária
compreende a autonomia necessária com previsão expressa na Lei de Mediação, Lei
13.140/2015 (LGL/2015/4771), reforçando assim, a legitimidade e juridicidade dos
resultados obtidos por meio dos métodos extrajudiciais.

Portanto, o acesso à justiça com as várias facetas do sistema multiportas é um


campo ideal para a exploração das interconexões entre os modelos de solução de
conflito e as pretensões objeto das demandas litigiosas, o que pretende demonstrar nesta
pesquisa.

1 DIDIER JÚNIOR, Fredie et al., Curso de direito processual civil. Salvador: Juspodivm, 2016;

2 AZEVEDO, André Gomma de (org.). Manual de mediação judicial. 6. Ed. Brasília: CNJ, 2016. 392 p. Disponível em: <

https://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/07/f247f5ce60df-2774c59d6e2dddbfec54.pdf>.

3 CAPPELETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Porto Alegre: Fabris, 1988.

4 MOREIRA CHAVES, Herberth Marçal. Judicialização da medicina: o aumento das demandas judiciais.Medicina S/A. 2022. Disponível em:

https://medicinasa.com.br/judicializacao-da-medicina/.
referências:

https://marcelafaraco.jusbrasil.com.br/artigos/142893290/a-judicializacao-da-medicina-e-o-aumento-da-demanda-indenizatoria-contra-medicos-e-

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