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Resumo: O presente trabalho envolve breve estudo acerca das técnicas de distinguishing
que foram previstas pelo legislador do novo Código de Processo Civil, à luz dos Princípios da
Igualdade, da Celeridade e do Acesso à Justiça, com a pretensão de verificar a adequação
dos mecanismos aos motivos que impulsionaram o legislador a instituir um sistema
brasileiro de precedentes.
Abstract: This paper involves a brief study about the distinguishing techniques that were
provided by the legislator of the new Civil Procedure Code, in light of the Principles of
Equality, Celerity and Access to Justice, with the purpose of verifying the adequacy of the
mechanisms to the motives that prompted the legislator to institute a Brazilian precedent
system.
Sumário:
I.Introdução - II.O mecanismo do distinguishing - III.As técnicas de distinguishing no novo
CPC - IV.Conclusão - V.Bibliografia
I.Introdução
A importância conferida pelo legislador do novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015)
à criação e respeito aos precedentes jurisprudenciais é notória.
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Técnicas de distinguishing no novo Código de Processo
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Judiciário” 1.
Uma jurisprudência mais uniforme e estável contribuiria, ainda, com a tão almejada
diminuição do alto número de recursos interpostos perante os tribunais, que evidencia a
crise de demandismo enfrentada por um Poder Judiciário que precisa conciliar o amplo
direito de acesso à justiça, previsto pelo inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal,
com a escassez de recursos materiais e humanos disponíveis para a satisfação dos anseios
de uma sociedade que, com razão, clama tanto por justiça como por celeridade na
prestação jurisdicional.
Como o mero crescimento físico do Poder Judiciário estaria longe de resolver o problema,
podendo, na verdade, alimentar a demanda pelos serviços jurisdicionais2, uma das
soluções em que o legislador mais apostou foi justamente a instituição de uma cultura de
respeito e vinculação aos precedentes formados pelos tribunais, a começar pela edição do
art. 332, que traz previsão acerca da improcedência liminar de pedidos que contrariem
entendimento consolidado de acordo com as hipóteses descritas em seus incisos, e do art.
926, segundo o qual “os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la
estável, íntegra e coerente”.
O art. 927, por sua vez, enumera em seus incisos aquelas decisões que deverão ser
observadas pelos juízes e tribunais durante o julgamento das demandas. O uso da palavra
no imperativo (“observarão”) não parece deixar dúvidas sobre a vinculação dos julgadores
ao teor das sobreditas decisões, cuja aplicação adquire caráter compulsório3.
"[...] se o caput da norma é obscuro, cabe à teoria explicitar que em todas as hipóteses
lembradas pelo legislador, o que realmente pode ter efeito obrigatório perante os juízes e
tribunais é a ratio decidendi ou os efeitos determinantes da decisão. Isto, aliás, está bem
claro no artigo que trata da fundamentação da sentença4."
A correta identificação da ratio decidendi das decisões, por sua vez, é de especial
importância para garantir a implantação acertada da doutrina dos precedentes, de maneira
a assegurar que situações fáticas semelhantes obtenham a mesma solução, protegendo,
assim, a confiança que o cidadão tem no Poder Judiciário e a legítima expectativa de que
seu caso não terá tratamento diverso daquele que já foi solidificado pela jurisprudência.
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Nesse sentido, a observação do modelo adotado pelos países de Common Law revela a
busca pelas vantagens por eles experimentadas, como a maior ponderação antes do
ajuizamento de uma demanda e o elevado índice de acordos celebrados antes dos
julgamentos, devido à ampla previsibilidade do resultado a ser proclamado pelo Judiciário
com relação à contenda.
"[...] a cultura dos precedentes realça a importância de o juiz apurar e esclarecer de forma
detalhada as premissas fáticas relevantes ao julgamento do caso. Intui-se: o papel do juiz
na condução ativa do processo é essencial por uma série de razões. Em primeiro lugar, a
melhor definição das questões leva, inegavelmente, a índice invejável de acordos
anteriores ao julgamento. Em segundo lugar, ainda que o caso vá a julgamento, seja por
júri (jury trial), seja pelo próprio juiz (bench trial), a considerar que as questões foram bem
delineadas, a justificar logicamente a relevância das provas produzidas, levará à aplicação
do precedente que tenha sido construído sobre fatos essencialmente análogos6."
Ao discorrer sobre a doutrina do stare decisis, Antonio Carlos Marcato expõe que
“determinada decisão somente é considerada obrigatória com respeito à ratio decidendi a
ela subjacente, ou seja, o princípio geral de direito estabelecido como seu fundamento”8,
de maneira que a identificação da ratio decidendi (ou holding, para os norte-americanos),
que corresponde justamente aos fundamentos jurídicos que embasam a conclusão jurídica
externada pelo tribunal, é de extrema importância, uma vez que, em sentido estrito, ela
representa o próprio precedente9.
Conforme explicam Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira10,
a ratio reflete uma norma geral concebida a partir de raciocínio indutivo que leva em
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consideração uma situação concreta. Dessa forma, ela se desprende do caso específico que
foi julgado, podendo ser utilizada em casos futuros que contenham situações concretas
semelhantes.
Essa é a lição de Neil Duxbury sobre o assunto, que esclarece que “distinguir entre casos é,
em primeiro lugar, uma questão de demonstrar diferenças factuais entre o caso anterior e
o presente – de mostrar que a ratio de um precedente não se aplica satisfatoriamente ao
caso em questão”11.
Ressalta o autor, no entanto, que a técnica não se resume à mera distinção entre casos,
mas à arguição de que esta distinção é material, devendo o magistrado fornecer uma
justificativa suficientemente convincente para a não aplicação do precedente12.
Nessa toada, o próprio autor destaca a dúvida que pode surgir com relação à eficácia do
instituto, considerando que, sendo os próprios juízes responsáveis por fazer a referida
distinção com base em seus critérios pessoais de relevância, poderia se tornar
relativamente fácil a rejeição de um precedente por mera conveniência do julgador.
"Como cabe aos próprios juízes identificar diferenças significativas – para determinar, por
assim dizer, seus próprios critérios de relevância -, não seria fácil para eles distinguir e
afastar a autoridade de qualquer precedente? Às vezes será fácil, sem dúvida, mas
geralmente não; porque distinguir adequadamente é tanto uma norma judicial quanto a
própria doutrina do stare decisis. O juiz que tentar distinguir casos com base em fatos
materialmente irrelevantes será provavelmente descoberto com facilidade. Advogados e
outros juízes que tenham motivos para investigar seus esforços provavelmente não terão
problemas em mostrar que esta é uma iniciativa de alguém descuidado ou desonesto e,
portanto, sua reputação pode ser prejudicada e sua decisão recorrida. O fato de os juízes
terem o poder de distinguir não significa que eles possam desconsiderar os precedentes
sempre que lhes for conveniente14."
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A técnica, assim, incentiva o acesso à ordem jurídica justa, que satisfaça os anseios da
sociedade mediante o fornecimento de respostas adequadas às demandas judicializadas,
reduzindo a noção bastante comum de que o Poder Judiciário é produtor de soluções
lotéricas e descomprometidas, que levam o jurisdicionado a crer que a propositura de uma
ação é mais uma aventura cujo resultado será baseado na sorte, do que a busca honesta
pela tutela apropriada de direitos assegurados pelo próprio sistema jurídico.
"Há que se preocupar, outrossim, com o direito substancial, que, sobre ser ajustado à
realidade social, deve ser interpretado e aplicado de modo correto. Já se disse alhures que,
para a aplicação de um direito substancial discriminatório e injusto, melhor seria dificultar
acesso à Justiça, pois assim se evitaria o cometimento de dupla injustiça15."
"Art. 489, § 1º – Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
Apesar de não ter uma redação verdadeiramente ideal, que se propusesse a definir no que
consiste a fundamentação de uma decisão em vez de estabelecer em que situações ela
deve ser reputada como nula por falta de fundamentos, o artigo traz disposições
importantes, especialmente nos incisos V e VI de seu § 1º, que fazem clara referência à
técnica do distinguishing e à doutrina dos precedentes em si.
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"A necessidade de o juiz não poder simplesmente invocar a ratio para decidir requer a
assimilação da premissa de que a ratio é direito que, assim, impõe-se para a resolução da
demanda ou do recurso. É preciso perceber que, do mesmo modo que o juiz não pode
invocar uma lei sem situá-la no contexto do caso, não pode invocar um precedente sem
demonstrar que regula a questão de direito posta no caso17."
O inciso VI, por sua vez, prevê de maneira expressa a técnica da distinção, anunciando que
o juiz que deseje afastar a incidência de um precedente invocado pela parte deverá tecer
demonstração cabal de que a ratio decidendi dele extraída não contém a solução adequada
para o caso concreto.
Note-se, assim, que é possível se falar em distinguishing quando a distinção entre o caso
concreto sob análise e o paradigma seja verificada tanto em razão da inexistência de
compatibilidade entre os fatos fundamentais discutidos e aqueles que foram determinantes
para formação da ratio decidendi do precedente quanto pelo fato de existir alguma
peculiaridade no caso sob julgamento que afaste a aplicação do precedente, não obstante
possam existir pontos de aproximação entre eles18.
Por outro lado, conforme ensinam Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria
de Oliveira19, uma vez que é praticamente inconcebível que entre duas demandas se
verifique uma identidade fática absoluta, ainda que o julgador identifique peculiaridade
que diferencie o precedente do caso sob análise, poderá se utilizar da mesma regra jurídica
por ele externada e aplicá-la ao caso concreto em julgamento.
Dessa forma, ao notar a existência de uma distinção, o magistrado pode optar – sempre de
maneira amplamente justificada – entre dois caminhos: (i) promover um restrictive
distinguishing, através do qual o juiz confere à ratio decidendi uma interpretação restritiva,
por entender que as particularidades do caso sub judice impedem a aplicação da tese
jurídica oriunda do paradigma; ou (ii) promover um ampliative distinguishing, que se
verifica naquelas ocasiões em que, não obstante as diferentes particularidades que
caracterizam o caso em análise, o juiz decide estender-lhe a mesma resposta que foi
conferida ao caso que deu origem ao precedente, por entender que aquela tese jurídica lhe
é aplicável21.
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a distinção, demonstrando que o caso não se amolda às razões determinantes que levaram
à formação do precedente e por isso merece solução jurídica diversa.
O ampliative distinguishing, por sua vez, é possível em razão do inciso V do § 1º do art. 489
do CPC, através do qual se permite que o juiz aplique determinado precedente ao caso sob
julgamento, desde que faça uma análise profunda que se preste a identificar os
fundamentos determinantes do paradigma e a demonstrar que o caso concreto se amolda
a estes mesmos fundamentos.
Diante disso, Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira concluem
pela existência de certa maleabilidade na aplicação dos precedentes, que auxilia no
entendimento de que a adoção de um paradigma para resolver um caso concreto revela
atividade hermenêutica, e não engessada22:
"Percebe-se, com isso, certa maleabilidade na aplicação dos precedentes judiciais, cuja
ratio decidendi (tese jurídica) poderá, ou não, ser aplicada a um caso posterior, a depender
de traços peculiares que o aproximem ou afastem dos casos anteriores. Isso é um dado
muito relevante, sobretudo para desmistificar a ideia segundo a qual, diante de um
precedente, o juiz se torna um autômato, sem qualquer outra opção senão a de aplicar ao
caso concreto a solução dada por outro órgão jurisdicional23."
O novo Código de Processo Civil prevê, ainda, outras técnicas específicas de distinguishing,
que serão tratadas a seguir.
A primeira que se destaca é aquela prevista no art. 1.037, §§ 9º a 13º24 do Códex, que
evidencia técnica de distinção no contexto dos incidentes de julgamento dos recursos
extraordinário e especial repetitivos.
Conforme dispõe o inciso II do referido artigo, após a seleção do recurso que representará
a controvérsia, o relator “determinará a suspensão do processamento de todos os
processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no
território nacional”.
Dessa forma, a ideia ventilada nos mencionados parágrafos tem o objetivo de munir com
uma técnica de distinção aquela parte cujo processo foi indevidamente sobrestado, que
poderá requerer o prosseguimento de sua demanda a partir da demonstração de que ela
versa sobre questão distinta daquela tratada no recurso afetado.
Através desse método, a parte deve fazer um requerimento para a autoridade julgadora
que estiver responsável pelo processamento da causa na fase em que ela se encontra,
devendo a parte contrária ser ouvida dentro de cinco dias. Se a distinção for reconhecida,
o processo volta a ter prosseguimento normal, sendo que dessa decisão cabe recurso de
agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro grau de jurisdição, e agravo
interno, se estiver no tribunal.
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Apesar de o método estar previsto em sede de artigo que trata dos recursos especial e
extraordinário repetitivos, o entendimento da doutrina é de que ele pode ser aplicado em
sede de qualquer técnica que escolha uma causa piloto para julgamento de questão
repetitiva, como é o caso do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – IRDR que,
para ser julgado, também demanda a suspensão dos casos semelhantes que estão em
trâmite no Estado ou na região (art. 982, inciso I, do CPC)25.
Uma questão que surge com a instituição desse mecanismo gira em torno daqueles
processos que apresentam cumulação de demandas. Isso porque, se apenas um dos
pedidos formulados corresponder à questão que será objeto de julgamento em recurso
representativo da controvérsia, a parte que escolheu cumular ações em uma mesma
demanda – dando, inclusive, maior efetividade ao Princípio da Economia Processual –
poderá ser vítima de grande frustração ao ser obrigada a suportar a suspensão integral de
seu processo mesmo quando uma parcela de sua causa não guardar qualquer relação com
a matéria que será resolvida através do caso repetitivo.
Em nossa opinião, esse requerimento parece perfeitamente possível quando o processo for
composto de pedidos autônomos e independentes27.
Os pedidos independentes, por outro lado, são aqueles entre os quais não existe vínculo de
prejudicialidade. Sua apreciação não é afetada pelo julgamento de outros pedidos que
possam compor a demanda, ou seja, não existe relação de subordinação, ao contrário do
que ocorre com os pedidos dependentes.
Nos parece que a aplicação da técnica com esse objetivo ganha suporte a partir da
previsão, no art. 356 do novo CPC28, do julgamento antecipado parcial do mérito que, em
si mesmo, já admite a possibilidade da cisão da demanda.
Dessa forma, uma vez que o próprio legislador trouxe previsão expressa que autoriza a
fragmentação do momento decisório em sede de uma mesma ação, não haveria óbice para
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admitir que uma parcela de uma demanda pudesse permanecer suspensa em razão da
instauração de incidente de julgamento de recursos repetitivos, enquanto a outra parcela
tivesse regular tramitação, podendo até mesmo ser sentenciada de maneira
absolutamente independente.
Outro mecanismo de distinguishing foi previsto pelo legislador no âmbito do art. 1.029, §
1º30, que versa sobre os recursos especial e extraordinário interpostos com base em
dissídio jurisprudencial, e do art. 1.043, § 4º31, que traz a previsão acerca dos Embargos de
Divergência.
Trata-se de uma técnica de distinção inversa, uma vez que a regra exige, para cabimento
dos recursos, que a parte demonstre que não existe distinção entre o acórdão recorrido e
o paradigma, motivo pelo qual se pleiteia a aplicação do mesmo tratamento ali despendido
ao caso concreto em questão.
Nesse sentido, exige-se que a parte promova cotejo analítico suficiente entre o acórdão
recorrido e o paradigma, a fim de que seja reconhecida a existência de identidade fática
entre os casos julgados.
A técnica não representa novidade, uma vez que o cabimento dos mencionados recursos
nessas hipóteses já encontrava previsão no Código de Processo Civil de 1973 (artigos 541,
parágrafo único, e 546). No entanto, o mecanismo ganha força em razão das disposições
previstas no art. 489, § 1º, em especial no tocante ao seu inciso VI, que prevê a nulidade
de decisão que “deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente
invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou
a superação do entendimento”, forçando o tribunal responsável pela admissão e
julgamento do recurso a proferir decisão mais bem fundamentada.
A primeira versão do Código de Processo Civil de 2015 também previa outra técnica de
distinguishing no art. 1.042, § 1º, inciso II, alíneas a e b32.
Essa disposição, no entanto, acabou sendo revogada durante a vacatio legis do código pela
Lei 13.256/2016, juntamente com a antiga redação do art. 1.04233, de maneira que hoje já
não é mais cabível a interposição de agravo quando a decisão denegatória for fundada na
aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
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recursos repetitivos.
A mesma lei incluiu os §§ 5º e 6º no art. 96634 do Códex, que versa sobre a ação rescisória.
A disposição parece ter sido adicionada em contrapartida à alteração feita no art. 1.042,
uma vez que prevê novo meio para impugnar decisões que antes eram recorríveis através
de agravo ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça.
A princípio, as disposições colocam um peso a mais na avaliação que deve ser feita pelos
magistrados ao julgarem uma causa, uma vez que, se não analisarem corretamente o caso
concreto em comparação com o precedente que pretendem aplicar, podem acabar
deixando abertura para futura ação rescisória.
Nesse sentido, é possível que o dispositivo incentive a cooperação entre as partes, uma vez
que a ausência de distinção bem feita pode prejudicar tanto a parte vencida quanto a parte
vencedora da demanda, que poderá se tornar ré em futura ação rescisória e ver
prolongada a solução definitiva para uma causa que, muito provavelmente, já terá se
arrastado por vários anos antes de alcançar o trânsito em julgado.
Por outro lado, a nova alternativa inserida pelo legislador é sensivelmente mais complicada
e demorada do que aquela antes prevista pela redação original do art. 1.042, podendo
sujeitar as partes a inconvenientes que militam de maneira absolutamente contrária aos
Princípios da Celeridade e da Economia Processual.
Imagine-se, por exemplo, uma ação rescisória proposta com fulcro nos §§ 5º e 6º do art.
966 que vise à desconstituição de decisão que tenha inadmitido recurso especial ou
extraordinário com base na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão
geral ou em julgamento de recursos repetitivos.
Após anos de processamento, que contam com o excessivo desgaste das partes e o
dispêndio ainda maior de recursos financeiros, caso a ação rescisória seja julgada
procedente seu único efeito será o de fazer com que o recurso especial ou extraordinário da
parte autora seja admitido na ação original e remetido para o tribunal competente para
julgamento, situação que poderia ser resolvida de maneira muito mais simples, célere e
barata tivesse o legislador simplesmente mantido a redação original do art. 1.042, com a
previsão de interposição de agravo em casos como esse.
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Técnicas de distinguishing no novo Código de Processo
Civil
IV.Conclusão
A timidez do legislador nesse aspecto, porém, pode ter sido providencial, destinada a
primeiro estabelecer uma fase de adaptação da comunidade jurídica brasileira a uma
sistemática de precedentes, para só então incrementar a legislação com sanções
destinadas a fortalecer esta técnica de julgamento.
Assim, temos, na prática, uma experiência voltada à objetivação dos debates judiciais, que
só dará frutos com o reforço, pretendido pelo legislador, da dimensão e relevância de uma
fundamentação adequada. Só assim vislumbramos a possibilidade real e concreta de
desenvolvimento e progresso de um sistema brasileiro de precedentes, capaz de trazer
todos os benefícios pretendidos pelo legislador.
V.Bibliografia
BRAGA, Paula de Sarno; DIDIER JR., Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
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Técnicas de distinguishing no novo Código de Processo
Civil
direito processual civil. 11. ed. rev., atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 2.
DUXBURY, Neil. The nature and authority of precedent. Cambridge: Cambridge University
Press, 2008.
MARCATO, Antonio Carlos. Crise da justiça e influência dos precedentes judiciais no direito
processual civil brasileiro. Tese (Professor Titular de Direito Processual Civil) – Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação de tutela. 11. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009.
MARINONI, Luiz Guilherme. Comentários aos artigos 926 a 928. In: DANTAS, Bruno;
DIDIER JR., Fredie; TALAMINI, Eduardo; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (Coord.).
Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015.
MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 8. ed. Salvador:
JusPodivm, 2016. v. u.
NUNES, Dierle. Comentários aos artigos 1.036 a 1.041. In: DANTAS, Bruno; DIDIER JR.,
Fredie; TALAMINI, Eduardo; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (Coord.). Breves
comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
PUOLI, José Carlos Baptista. Precedentes Vinculantes? O CPC “depois” da Lei n. 13.256/16.
In: APRIGLIANO, Ricardo de Carvalho; LUCON, Paulo Henrique dos Santos; ORTHMANN,
André; SILVA, João Paulo Hecker da; VASCONCELOS, Ronaldo (Coord.). Processo em
jornadas. Salvador: JusPodivm, 2016.
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3 Essa mesma conclusão é partilhada por José Carlos Baptista Puoli: “Mesmo não tendo
utilizado diretamente o termo ‘vinculante’ é evidente que o propósito do legislador foi o de
ampliar a vinculação dos membros do Judiciários às decisões e ou enunciados sumulados
contemplados nos incisos do artigo 927 [...]. Enfim, é certo que o legislador pretendeu sim
ampliar no CPC as hipóteses de vinculação e o fez em nome de objetivos nobres, qual seja,
a busca, reitere-se, por maior segurança jurídica e a tentativa de se ter aplicação
isonômica do Direito. Para além destes objetivos também há evidente intuito gerencial,
consistente na busca de técnicas que permitam resolver mais rapidamente causas
repetitivas por intermédio da aplicação de precedentes a processos futuros que versem
sobre a mesma temática. Com o mesmo viés tem-se, inclusive, a criação de mecanismo
que permite criar o próprio precedente com maior rapidez” (PUOLI, José Carlos Baptista.
Precedentes vinculantes? O CPC “depois” da Lei 13.256/16. In: APRIGLIANO, Ricardo de
Carvalho; LUCON, Paulo Henrique dos Santos; ORTHMANN, André; SILVA, João Paulo
Hecker da; VASCONCELOS, Ronaldo (Coord.). Processo em jornadas. Salvador:
JusPodivm, 2016. p. 499-500).
4 MARINONI, Luiz Guilherme. Comentários aos artigos 926 a 928. In: DANTAS, Bruno;
DIDIER JR., Fredie; TALAMINI, Eduardo; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (Coord.).
Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015. p. 2077.
5 Leiam-se as palavras de Daniel Penteado de Castro, que sustenta que “[...] a valorização
do precedente judicial significa racionalização no julgamento de demandas, além de
prestigiar a previsibilidade, segurança jurídica, estabilidade de decisões e desestímulo à
litigiosidade, por conta da consolidação de entendimento contrário referente a
determinada matéria” (CASTRO, Daniel Penteado de. Antecipação de tutela sem o requisito
da urgência: panorama geral e perspectivas no novo Código de Processo Civil. Salvador:
JusPodivm, 2017. p. 180).
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7 Ibidem, p. 45.
9 BRAGA, Paula de Sarno; DIDIER JR., Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
direito processual civil. 11. ed. rev. atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2016. v. 2. p. 455.
10 Ibidem, p. 456.
12 Ibidem, p. 114.
13 Nesse sentido, destaca Luiz Guilherme Marinoni que “como é óbvio, poder para fazer o
distinguishing está longe de significar sinal aberto para o juiz desobedecer precedentes que
não lhe convêm” (MARINONI, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 5. ed. rev., atual.
e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. p. 232).
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18 BRAGA, Paula de Sarno; DIDIER JR., Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
direito processual civil... cit., p. 504.
19 Ibidem, p. 505.
20 Nesse sentido, leia-se a lição de Luiz Guilherme Marinoni: “É interessante perceber que
o sistema de precedentes, quando visto a partir da técnica da distinção, sem perder a sua
função de preservação da estabilidade, torna-se maleável e capaz de permitir o
desenvolvimento do direito, dando conta das novas realidades e das situações que,
embora antigas, não foram anteriormente tratadas, sem que, com isso, seja preciso o
rompimento do sistema ou a revogação do precedente que ainda é necessário e suficiente
para tratar das situações que contemplou desde a sua origem. Portanto, realizar distinção
para aplicar ou deixar de aplicar um precedente é algo que milita, a um só tempo, para a
estabilidade e para o desenvolvimento do direito” (MARINONI, Luiz Guilherme.
Precedentes obrigatórios... cit., p. 236).
21 BRAGA, Paula de Sarno; DIDIER JR., Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
direito processual civil... cit., p. 505.
22 No mesmo sentido, José Rogério Cruz e Tucci assevera que “Em primeiro lugar, o juiz do
common law deve aproximar os elementos objetivos que possam identificar a demanda em
julgamento com eventual ou eventuais decisões anteriores, proferidas em casos análogos.
Procede-se, em seguida, ao exame da ratio decidendi do precedente. Dependendo da
postura do juiz, pode este ser interpretado de modo restritivo (restrictive distinguishing)
ou ampliativo (ampliative distinguishing). Isso significa que não se exige submissão “cega”
a anteriores decisões [...]. Por essa razão, deve ser assinalado que stare decisis não é
apenas uma teoria que historicamente resguardou a estabilidade e a uniformidade, visto
que suas restrições e ampliações inerentes, bem como os fatores que determinaram a
inaplicabilidade de precedentes judiciais, permitem a inafastável flexibilidade do
ordenamento do common law, indispensável à evolução e ao progresso do direito” (CRUZ
E TUCCI, José Rogério. Parâmetros de eficácia e critérios de interpretação do precedente
judicial. In: AMARAL, Guilherme Rizzo; MITIDIERO, Daniel (Coord.). Processo civil:
estudos em homenagem ao Professor Doutor Carlos Alberto Álvaro de Oliveira. São Paulo:
Atlas, 2012. p. 257).
23 BRAGA, Paula de Sarno; DIDIER JR., Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
direito processual civil... cit., p. 506.
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§ 11º – A outra parte deverá ser ouvida sobre o requerimento a que se refere o § 9º, no
prazo de 5 (cinco) dias.
25 NUNES, Dierle. Comentários aos artigos 1.036 a 1.041. In: DANTAS, Bruno; DIDIER
JR., Fredie; TALAMINI, Eduardo; ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa (Coord.). Breves
comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p.
2330-2331.
26 Ibidem, p. 2331.
28 Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos
formulados ou parcela deles:I – mostrar-se incontroverso;
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§ 2ºA parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão
que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso
contra essa interposto.
§ 4ºA liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser
processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz.
§ 5ºA decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.
29 Nas palavras de Luiz Guilherme Marinoni: “Esse problema se torna ainda mais marcante
quando se pensa na cumulação dos pedidos e, especialmente, na circunstância de que essa
cumulação é estimulada pelo princípio da economia processual. Ora, a impossibilidade de
cisão do julgamento do mérito, isto é, do julgamento antecipado de apenas um dos pedidos
cumulados, torna risível qualquer economia que se pretenda por meio da cumulação”
(MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação de tutela. 11. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009. p. 283).
32 Eis a redação original do dispositivo: Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão de
presidente ou de vice-presidente do tribunal que:
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II – inadmitir, com base no art. 1.040, inciso I, recurso especial ou extraordinário sob o
fundamento de que o acórdão recorrido coincide com a orientação do tribunal superior;
III – inadmitir recurso extraordinário, com base no art. 1.035, § 8o, ou no art. 1.039,
parágrafo único, sob o fundamento de que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a
inexistência de repercussão geral da questão constitucional discutida.
33 Redação atual do caput do art. 1.042: Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do
presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário
ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de entendimento firmado em
regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos.
34 Art. 966 – A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:[...]
[...]
§ 5º – Cabe ação rescisória, com fundamento no inciso V do caput deste artigo, contra
decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos
repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida
no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento.
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