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Critérios para decisões fundamentadas e a possibilidade de o tribunal julgar


o mérito da causa madura em caso de sentença não fundamentada:
(in)compatibilidade?

CRITÉRIOS PARA DECISÕES FUNDAMENTADAS E A POSSIBILIDADE DE O


TRIBUNAL JULGAR O MÉRITO DA CAUSA MADURA EM CASO DE SENTENÇA
NÃO FUNDAMENTADA: (IN)COMPATIBILIDADE?
Standards for justified decisions and the judgement from the court of appeals – whenever the
evidences are taken in case of not motivated sentences: (in)compatibility?
Revista de Processo | vol. 278/2018 | p. 141 - 164 | Abr / 2018
DTR\2018\10637

Guilherme Antunes da Cunha


Doutorando e Mestre em Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/RS).
Especialista em Processo Civil e Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professor da Graduação e Coordenador do Curso de Pós-
graduação em Processo Civil da Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul – FADERGS.
Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) da FADERGS. Advogado.
antunesdacunha@icloud.com

Lívia Ferraz de Souza


Pós-graduanda em Direito do Trabalho e Previdenciário pelo Centro Universitário Ritter dos Reis.
Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul –
FADERGS. Advogada. liviaferrazs@hotmail.com

Área do Direito: Civil; Processual


Resumo: O presente ensaio tem como objetivo analisar os critérios para a fundamentação das
decisões, instituídos pelo novo Código de Processo Civil, à luz da possibilidade de o tribunal julgar,
em apelação, o mérito da causa madura mesmo em caso de sentença não fundamentada à luz
destes critérios, com o fito de verificar eventual incompatibilidade entre os institutos. A pesquisa se
caracteriza por ser bibliográfica, cujos dados foram coletados por meio de livros jurídicos, artigos
científicos e legislação. A investigação destas inovações trazidas pela nova lei processual civil
brasileira tem o fim especial de perquirir se o julgamento do mérito em segundo grau, sem devolver
ao primeiro grau para a prolação de uma sentença fundamentada à luz dos critérios legais,
enfraquece ou não o objetivo de alcançar decisões judiciais motivadas adequadamente, fim instituído
por um processo civil que se pretenda democrático.

Palavras-chave: Novo Código de Processo Civil – Alterações – Princípios – Motivação das decisões
judiciais – Efeito devolutivo da apelação – Incompatibilidade – Artigo 489, § 1º, NCPC – Artigo 1 -
013, § 3º, IV, NCPC
Abstract: This paper intents to analyze the criteria for a motivated judicial decisions, instituted from
the New Civil Procedure Code, regarding to the possibility to the Courts of Appeal to decide the merit
of a case ready to be resolved even if the first degree sentence was not motivated according those
criteria. The purpose is to verify eventual incompatibility between those institutes. The research is
bibliographic and the data was collected form doctrine books, articles and legislation. The inquiry
about the innovations brought from New Civil Procedure Code has the objective to discuss if a merit
decision, provided from the Court of Appeal, without send back the case to first degree judge for him
to provide a motivated decision according those criteria weaken or not the aim to reach judicial
decisions properly motivated, goal instituted from a civil procedure which intents to be democratic.

Keywords: New Civil Procedure Code (Law 13 - 105/15) – Changes – Principles – Motivation of
judgments – Devolutive effect of the appeal – Incompatibility – Article 489, § 1, NCPC – Article
1013, § 3, IV, NCPC
Sumário:

1.Considerações introdutórias - 2.Fundamentação das decisões judiciais e a possibilidade de o


tribunal julgar o mérito da causa madura em caso de sentença não fundamentada - 3.Considerações
finais - 4.Referências

1.Considerações introdutórias
A recente entrada em vigor do novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656), em 18 de março de
2016, vem gerando na comunidade acadêmica, assim como nos demais operadores do direito,

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diversas dúvidas, questionamentos e propagado amplas discussões. Este estudo busca explorar duas
das alterações apresentadas pela nova Lei processual civil, a fim de fomentar a reflexão acerca da
efetividade da garantia constitucional da motivação das decisões judiciais no processo civil brasileiro.
Neste momento de recente entrada em vigor da nova Lei, relevantes são as análises sobre as
mudanças ocasionadas, buscando prever, na medida do possível, o que de fato se alterará no
cotidiano daqueles que partilham da vida forense, e, no caso deste ensaio, no tocante ao direito à
correta e adequada motivação das decisões judiciais.
Com efeito, o objeto da presente investigação é relacionar os critérios para a fundamentação das
decisões, instituídos pelo novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656) (art. 489, § 1º), com a
possibilidade de o tribunal julgar, em apelação, o mérito da causa madura, mesmo em caso de a
sentença não fundamentada descumprir tais critérios, com objetivo de verificar eventual
incompatibilidade entre os institutos.
Importa ressaltar que a questão relativa à fundamentação das decisões judiciais diz respeito
diretamente a um processo civil que se pretenda democrático e que atenda ao princípio do
contraditório, sendo os tribunais, pois, também responsáveis pela garantia da democracia, o que faz
necessária a investigação em apreço, cujo objetivo, afinal, é tratar do papel do magistrado de
primeiro grau e dos tribunais de apelação enquanto instituições do sistema de justiça.
2.Fundamentação das decisões judiciais e a possibilidade de o tribunal julgar o mérito da
causa madura em caso de sentença não fundamentada
2.1.Critérios para uma decisão judicial fundamentada adequadamente instituídos pelo
novo Código de Processo Civil
O artigo 489 integra o Capítulo XIII (Da sentença e da coisa julgada), da Seção II (Dos elementos e
dos efeitos da sentença), do Livro I (Do processo de conhecimento e do cumprimento de sentença),
da Parte Especial, do novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656).
Acerca do tema, em entrevista concedida ao site Consultor Jurídico, Nunes & Streck (2016)
observam que, inobstante à nulidade aplicável às decisões não fundamentadas, a teor do disposto
pela Constituição Federal (LGL\1988\3), como já mencionado, é fato recorrente sua inobservância, a
despeito da obrigatoriedade de serem considerados todos os argumentos relevantes suscitados pelas
partes, assim como é corriqueira a utilização de fundamentações superficiais e genéricas, sem
qualquer relação com o caso concreto.
Cumpre referir que, para a aplicação do direito, é necessária a interpretação de fatos, provas e
fontes dotadas de autoridade institucional, as quais consistem em leis e precedentes, conforme
destacam Marinoni et al. (2015). Para os autores:
[...] interpretar significa individualizar possíveis significados dos fatos, das provas e dos textos com
que se expressam legisladores e juízes, valorar argumentativamente esses possíveis significados e
decidir entre os significados concorrentes.
Ainda, advertem que a justificação das decisões é ferramenta essencial ao funcionamento adequado
do sistema jurídico pátrio (MARINONI et al., 2015, p. 491).
Amaral (2015, p. 590) destaca que o magistrado deve expor os motivos determinantes de seu
convencimento, “tanto para o acolhimento, total ou parcial dos argumentos da parte vencedora,
quanto para o desacolhimento, total ou parcial, dos argumentos da parte derrotada”. Por sua vez,
Lucon (2015, p. 1) aduz que o inciso II do art. 458, do CPC de 1973, possuía, como requisito da
decisão judicial, a exposição pelo juiz dos fundamentos que conduzem ou não ao acolhimento do
pedido do autor. Assevera que
A mesma ideia consta do novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656), mas com amplitude bem
maior, já que, além de mencionar que são elementos essenciais da sentença os fundamentos “em
que o juiz analisará as questões de fato e de direito”, conforme art. 489, II, do novo CPC (LGL\2015
\1656), estabelece em seis incisos o que não se considera motivação.
Por ocasião da elaboração do novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656), foi adotada pelo
legislador a técnica de estabelecer hipóteses de se considerar não fundamentada a decisão, como
esclarece Lucon (2015). Marinoni et al. (2015) destacam que o artigo 489, do NCPC (LGL\2015
\1656), observou o preceito, já existente, de que a fundamentação deve ser concreta, estruturada e
completa, devendo conter a análise dos argumentos relevantes apresentados pelas partes e tendo
como ponto de partida critérios claros e pertinentes.
A fundamentação deficiente equipara-se à fundamentação ausente, conforme enfatiza Teresa Arruda
Alvim (2005), tese que, segundo Amaral (2015), influenciou a elaboração do artigo 489 do NCPC
(LGL\2015\1656), bem assim que consta expressamente de seu texto que o dever de fundamentar

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satisfatoriamente se estende a toda decisão proferida no curso processual, não se referindo somente
às sentenças e acórdãos, como se depreende do § 1º.
Assinala Amaral (2015), resumidamente, que as principais modificações trazidas pelo artigo 489, do
NCPC (LGL\2015\1656), consistem na “previsão expressa das hipóteses de falta de fundamentação e
no método de interpretação da sentença” (AMARAL, 2015, p. 589). O § 1º do art. 489, do NCPC
(LGL\2015\1656), é específico ao determinar que não será considerada fundamentada a decisão
que:
I – se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicitar sua relação
com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência
no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador;
V – se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento
(BRASIL, 2015).
Wambier et al. (2015, p. 793) propõem que o § 1º do artigo 489 do NCPC (LGL\2015\1656) consiste
em verdadeira inovação, “pois diz que a garantia da fundamentação das decisões judiciais, de índole
constitucional, não se tem por satisfeita, se a fundamentação não atender a certos parâmetros de
qualidade. Ou seja, não é qualquer fundamentação que satisfaz”. Enfatizam que essa exigência recai
sobre qualquer decisão judicial.
Nesse sentido, Nery Jr. e Andrade Nery (2015) salientam que eventual generalidade ou “vazio” do
texto, constante da fundamentação, estão abarcados pelas hipóteses dos incisos I, II, III, V e VI,
enquanto a ausência de enfrentamento de todos os argumentos que poderiam contrariar a decisão
judicial está prevista no inciso VI.
Nas palavras de Koremblum (2015, p. 1), “o § 1º do artigo 927 (NCPC (LGL\2015\1656)) traz
expressa remição ao § 1º do artigo 489, sinalizando que os julgadores deverão sempre observar a
regra deste quando do enfrentamento das hipóteses elencadas naquele”. Ao que tange à motivação
das decisões no novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656), disserta:
Pretende o legislador trazer o mais profundo enfrentamento às questões apresentadas no curso dos
processos, aptos a ensejar a completa compreensão pelas partes dos fatos e fundamentos que
levaram os julgadores a proferir as decisões nos casos concretos (KOREMBLUM, 2015, p. 5).
Também analisando as disposições do ovo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656) sobre o tema,
Lucon (2015, p. 18) observa:
Na atualidade, por conta de um contexto normativo incerto, caracterizado pela predominância de
dispositivos legais e pela valorização das normas jurisprudenciais, o risco de serem proferidas
decisões dessa natureza é elevada. Por isso, o novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656)
brasileiro andou bem ao adotar a técnica de estabelecer hipóteses em que não são consideradas
motivadas as decisões judiciais.
Marinoni et al. (2015) asseveram que, não obstante à fórmula apresentada pelo artigo 489, do NCPC
(LGL\2015\1656), a sentença deve ser estruturada pela racionalidade decisória, cuja obrigatoriedade
de que para cada decisão haja a correspondente justificação é elemento básico e imprescindível. Na
ótica dos autores, a racionalidade ocorre nas esferas interna (lógica) e externa (argumentativa).
Fundamentar visa a evidenciar a racionalidade das alternativas de interpretação, oferecendo material
necessário para a formação de precedentes e fomentando seu controle.
Nery Jr. e Andrade Nery (2015, p. 1154) defendem a seguinte posição sobre a positivação, no NCPC
(LGL\2015\1656), das hipóteses de não fundamentação adequada da decisão judicial:
É muito difícil indicar critérios objetivos de fundamentação sem a análise de cada caso concreto,
portanto; o mais importante talvez seja ressaltar a clareza no desenvolvimento da argumentação
pelo juiz, e isso não se faz mediante a normatização do que seria ou não fundamentação inexistente-
insuficiente, mas mediante o desenvolvimento pessoal do próprio juiz, que deve ter entre as
qualidades exigidas para o exercício da profissão o domínio da linguagem e da construção de texto.

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A existência ou não de fundamentação é, portanto, muito mais fluida e subjetiva do que a simples
indicação legal pode fazer crer. [...] A jurisprudência terá, portanto, de dar contornos mais fluidos a
esses dispositivos até mesmo em razão da própria subjetividade que cerca o assunto.
Amaral (2015) observa que é comum a prolação de decisões que, mesmo sendo de impacto
processual, limitem-se à indicação, paráfrase ou reprodução de texto legal, sem referência às
particularidades do caso concreto ou correspondência explícita à causa ou questão decidida. Já
Marinoni et al. (2015, p. 492) lecionam que “a fundamentação tem de ser concreta, vale dizer, tem
de dizer respeito à situação jurídica deduzida em juízo pelas partes”.
A fim de represar a prática das decisões insuficientes ou deficientes, Nery Jr. & Andrade Nery (2015)
salientam que o inciso I do § 1º, do art. 489, objetiva compelir a utilização de fundamento, pelo
magistrado, que poderia embasar qualquer decisão, sendo expressamente vedado, a partir de então,
o emprego de modelo pronto, que não deverá ser considerado como decisão fundamentada, sob
pena de nulidade, a teor do que dispõe o dispositivo constitucional (art. 93, IX, CFRB/88).
Wambier et al. (2015, p. 794) advertem que o inciso I, do artigo em tela, faz sentido perante
decisões com base em norma jurídica (lei ou princípio) cuja redação conste conceito vago ou
indeterminado, conforme determina o inciso II do artigo.
A relevância do dispositivo legal utilizado para a solução do caso em julgamento, para Marinoni et al.
(2015), deve ser demonstrada sem imprecisões. Os autores dissertam, com fulcro neste artigo, que
se tornou intolerável o não apontamento da relação do dispositivo legal com o caso em análise,
tampouco o significado com o qual o dispositivo está sendo utilizado na hipótese.
A necessidade da demonstração da correlação da aplicação da norma apontada como razão de
decidir ao caso concreto ocorre porque, comumente, tanto os princípios como os textos legais vêm
carregados de conceitos vagos e indeterminados (WAMBIER et al., 2015, p. 794):
As leis contêm conceitos vagos e ocasionalmente trazem “cláusulas gerais”, que são expressões
marcadamente carregadas de conteúdo axiológico, pois incorporam princípios. São sempre,
intencionalmente, extremamente fluídas (vagas, indeterminadas) e seu conteúdo é construído
paulatinamente pelo trabalho da doutrina, mas principalmente, também, pelo labor jurisprudencial
[...].
Salientam Wambier et al. (2015, p. 794), também, que a gradação da indeterminação conceitual,
evidenciando que quanto mais vago o conceito, por óbvio que mais completa deverá ser a
fundamentação, no sentido de não permitir que pairem dúvidas quanto à aplicação da norma ao
fato.
Ora também é defeso o uso de paráfrases, devendo ser indicadas as razões de fato e de direito
sujeitas à incidência daquele determinado texto normativo. Para Amaral (2015, p. 591), o disposto
no inciso indicado:
[...] dá azo a que a parte prejudicada impugne decisões desse tipo por falta de fundamentação, ao
não considerar fundamentada a decisão que se limita a indicação, à reprodução ou à paráfrase de
ato normativo sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida.
O inciso II, do § 1º, do mesmo artigo, sob a ótica de Nery Jr. e Andrade Nery (2015), o qual coíbe a
utilização de conceitos jurídicos indeterminados, diz respeito a inviabilizar a mera referência a
conceitos legais indeterminados (a exemplo: boa-fé e justo título), fazendo-se necessário a
especificação pelo juiz sobre em que consiste tal conceito legal naquele caso concreto, eximindo o
conteúdo decisório de qualquer abstração; concretude sem a qual não deverá ser reconhecida como
fundamentada a decisão.
Acerca deste inciso, Amaral (2015) adverte que é a presença da motivação que fará a distinção entre
uma decisão arbitrária e a que constrói a efetiva solução jurídica à lide a partir de conceitos
indeterminados. Sustenta que:
Será carente de fundamentação, assim, a decisão que empregar conceitos jurídicos indeterminados
ou cláusulas gerais sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso concreto. Como
exemplos de decisões que padecem de tais vícios, temos aquelas que empregam como lesão grave
ou de difícil reparação, plausibilidade do direito, prova irrefutável (todos ligados ao direito
processual), ou, ainda, justa causa, boa-fé objetiva, função social do contrato, moralidade, dignidade
da pessoa humanaetc. (mais afeitos ao direito material), sem especificar o quê entendem por tais
conceitos e o porquê de sua incidência no caso concreto (AMARAL, 2015, p. 592).
Marinoni et al. (2015) esclarecem que o legislador, ao empregar termos vagos no texto legal, está,
na realidade, a requerer a colaboração do julgador para agregar nitidez. Assim, defendem que a
mera invocação de termos desse tipo pelo magistrado, e, vale ressaltar, também pelas partes, não

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configura legítima razão a validar posição jurídica ou fundamentar decisão, devendo ser explanada
sua pertinência ao caso concreto.
No inciso III, do § 1º, tem-se a limitação à motivação genérica. Amaral (2015), esmiuçando o
conteúdo do dispositivo, destaca que a decisão genérica se trata daquela que não enfrenta os
argumentos específicos trazidos pelas partes no caso concreto, lembrando que, caso enfrente, não
se enquadrará na exigência deste inciso, ainda que possa o decisório ser considerado nulo ou
deficiente por fundamento diverso.
São fartas as decisões em âmbito recursal que padecem deste vício, conforme Amaral (2015).
Salienta que, ante a massificação de processos, é expediente corriqueiro a rejeição pelos tribunais
de embargos de declaração e negativa de seguimento a recursos dirigidos aos tribunais superiores
sem menção alguma das circunstâncias do caso, dos argumentos da peça recursal e com reprodução
genérica de precedentes ou súmulas nos modelos utilizados.
Para Wambier et al. (2015, p. 795), este inciso visa a coibir as decisões “vestidinho preto”, aquela
que se pode utilizar em situações diversas sem incorrer em erro. Por conseguinte, Marinoni et al.
(2015, p. 493) referem que “se a fundamentação é redigida de tal maneira que se presta para
justificar qualquer decisão, então se considera que inexiste fundamentação”. Asseveram que a
fundamentação do decisório é a resposta judicial para a solução do caso concreto, não havendo
sentido em ser “descolada” dos argumentos aduzidos pelas partes, tampouco sem a demonstração
indubitável das razões para julgar nesta ou naquela direção.
No inciso IV, do § 1º do artigo 489, por sua vez, para Nery Jr. e Andrade Nery (2015), vem expresso
o alvitre do legislador de que sejam examinados todos os argumentos das partes, que por si só e em
tese alicerçaram a decisão. Todos os pontos colacionados pelos litigantes, capazes de alterar o
desfecho adotado, devem ser pronunciados pelo magistrado.
Entretanto, defendem Nery Jr. e Andrade Nery (2015) a diferença entre decisão sucinta e decisão
não fundamentada. Para os autores, a primeira não significa necessariamente motivação deficiente.
Ainda que o juiz não tenha obrigação de responder a todos os argumentos das partes, possui o
dever quanto à análise de todas as questões que fundamentem, de forma essencial, a rejeição ou o
acolhimento do pedido.
Wambier et al. (2015, p. 795) consideram este inciso reflexo da “noção contemporânea do
contraditório”, pela qual o magistrado oportunamente demonstrará haver participado efetivamente
do mesmo por meio da adequada fundamentação de sua decisão. Acrescentam que, conforme exige
o inciso, da ausência do enfrentamento de todos os argumentos que remetem aos porquês do modo
de decidir, no caso concreto:
[...] decorre um interessante efeito: só no contexto do processo em que foi proferida é que pode
uma decisão ser avaliada no sentido de ter sido bem fundamentada. Não basta sua coerência interna
corporis, é necessário que se refira a elementos externos à sua coerência interna, afastando-os, de
molde até mesmo a reforçar o acerto da decisão tomada (WAMBIER et al., 2015, p. 795).
Amaral (2015, p. 593) esclarece que “não se pode confundir argumentos com fundamentos”.
Marinoni e Mitidiero (2013) aduzem que fundamentos consistem nos pontos suscitados pelas partes
que ensejam a procedência ou improcedência do pedido veiculado. Ao revés dos argumentos, que
para Amaral (2015) são acessórios dos fundamentos, não passando de variações do discurso que
visa a convencer o julgador a acolher os fundamentos do pedido (ou da defesa).
Na vigência do CPC de 1973, consoante Amaral (2015), a jurisprudência consolidou entendimento de
que o órgão julgador não está obrigado a rebater todos os argumentos (um por um) suscitados pelas
partes, mas enfrentar a demanda com observância às questões imprescindíveis ao deslinde do caso,
apenas (o autor referiu, como base, o AgRg no AREsp 31.742/RJ, rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T.,
j. 04.10.2011, Dje 17.10.2011). Na contramão vem o inciso IV, o qual determina que todos os
argumentos, capazes, em tese, de infirmar a conclusão do magistrado sejam enfrentados.
Marinoni et al. (2015) sustentam que o juiz possui o dever de debate. Em observância ao
contraditório, deve enfrentar todos os argumentos e fundamentos relevantes trazidos pelas partes.
Notadamente, afirmam que o legislador cuidou de ressalvar que argumento relevante, no âmbito
processual, é aquele capaz de infirmar, em tese, a conclusão adotada pelo julgador, consistente no
argumento idôneo para a construção do julgamento.
Na tentativa de dirimir possíveis controvérsias relativas à nomenclatura argumento-fundamento,
Amaral (2015) clarifica que o inciso em comento pretende que sejam enfrentados, na prática, todos
os fundamentos, tanto do pedido quanto da defesa, bem como os argumentos que os tangenciam,
sempre que puderem influenciar na conclusão do julgado, “sob pena de negativa de prestação
jurisdicional” (p. 593).

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O inciso V, para Nery Jr. e Andrade Nery (2015), remonta ao inciso I, do § 1º, do artigo em tela.
Trata-se da imposição de exame dos fatos e do direito da causa que se amoldam ao precedente ou
enunciado de súmula invocados pela decisão do magistrado. A indicação “solta” de enunciado de
súmula ou precedente não caracteriza a fundamentação da decisão, que possui o dever de indicar as
circunstâncias do caso concreto que respectivamente se relacionam à jurisprudência ou à súmula
apontada.
Corroboram com a posição mencionada Wambier et al. (2015), considerando o disposto no inciso V,
idêntico à disposição do inciso I, pois a pertinência entre a demanda com a súmula ou precedente
apontados pela decisão deve, obrigatoriamente, vir demonstrada. O inciso V trata novamente de
coibir a motivação genérica, conforme Amaral (2015). O autor assevera que, ao invocar o
precedente, o magistrado não pode ignorar as questões específicas postas pelas partes sem aplicá-lo
ao caso concreto, baseando sua decisão em teses pré-fixadas.
Marinoni et al. (2015, p. 493) apontam que “trabalhar com precedentes significa individualizar
razões e conectá-las às hipóteses fático-jurídicas que nela recaem”. Assim, entendem que não há
sentido em colacionar julgados sem a devida individualização de suas origens e pertinência com a
hipótese em comento. Não se pode, na visão dos autores, simular a aplicação de precedentes sem a
efetiva individualização de razões que guardem com a causa, fazendo a ligação da ratio decidendi
com o caso em exame.
Finalmente, acerca do inciso VI do artigo em exame, Nery Jr. e Andrade Nery (2015) mencionam que
devem ser demonstradas especificamente as razões da eventual não aplicação de precedente ou de
súmula trazida pelas partes. Sobre este inciso, Amaral (2015, p. 594) declina:
Na nova sistemática processual instituída pelo atual CPC (LGL\2015\1656), não é mais dado ao juiz
afastar de modo discricionário os precedentes, súmulas ou jurisprudência vinculante dos tribunais
[...] estando a eles vinculado. Assim, para deixar de seguir enunciado de súmula, precedente ou
jurisprudência vinculante invocado pela parte, é dever do juiz fundamentar sua decisão, ao que está
limitado a (i) demonstrar que há distinção determinante entre o caso que deu origem ao enunciado
de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte e o caso concreto ou (ii) demonstrar
que o enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte foi superado.
Para Wambier et al. (2015, p. 796), a determinação do inciso VI está inclusa no inciso V, devendo,
por decorrência lógica, ser explicitadas as razões de não aplicação daquela súmula, jurisprudência ou
precedente aludidos à hipótese dos autos.
Na hipótese de distinção do precedente com relação ao caso em julgamento, Marinoni (2011) leciona
que o magistrado deve demonstrar as diferenças fáticas que impedem a ratio decidendi de amoldar-
se do primeiro para o segundo.
Nas palavras de Marinoni et al.(2015, p. 494), “a fidelidade ao direito constitui fidelidade ao
precedente”. Sendo assim, em havendo precedente, deve ser analisado. A ausência de demonstração
da distinção entre o precedente invocado pela parte e o caso sub judice, implica “violação do dever
de fundamentação”. Não havendo diferença entre os eventuais precedentes invocados e a hipótese,
devem ser adotados como razões de decidir.
Já no caso de superação do entendimento anterior, Amaral (2015) pondera que não parece viável
que as instâncias inferiores antecipem a superação dos precedentes, o que, para o autor, é reforçado
pelo § 2º do artigo 927. Aduz que, sob a lógica que conduz a lei processual civil, deve o próprio
órgão do qual se originou o enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente rever seu
posicionamento para que se possa depreender eventual superação.
2.2.O efeito devolutivo da apelação e o julgamento pelo tribunal de causa madura ainda
que a sentença padeça de adequada motivação
No Capítulo II, do Título II (Dos Recursos), intitulado “Da Apelação”, parte integrante do Livro III
(Dos processos nos tribunais e dos meios de impugnação das decisões judiciais), da Parte Especial,
do novo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656), tem-se o artigo 1.0131, cuja correspondência
parcial no CPC de 1973 era o artigo 515.
Segundo Nery Jr. e Andrade Nery (2015), este artigo ampliou as possibilidades de julgamento
imediato da causa, pelo tribunal, previstas no artigo 515 do CPC (LGL\2015\1656) revogado,
incluindo as hipóteses de sentença extra, ultra ou citra petita; da que padeça de ausência de
fundamentação, ou, ainda, da que declare decadência ou prescrição.
Wambier et al. (2015) asseveram que os §§ 1º e 2º deste artigo descrevem o efeito devolutivo da
apelação, em sua dimensão horizontal, enquanto o caput denota seu efeito extensivo (tantum
devolutum quantum apellatum).

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Adentrando na análise do parágrafo que nos interessa no presente estudo, no caso, o § 3º, Marinoni,
Arenhart e Mitidiero (2015) lecionam que o mesmo permite ao tribunal julgar a causa ainda que a
matéria não tenha sido apreciada pelo juízo a quo, independentemente de requerimento da parte,
desde que não haja nada mais a provar ou alegar pelos litigantes. Assim, de acordo com os autores,
o tribunal poderá julgar desde logo o mérito, em se tratando de causa madura, que consiste
naquelas nas quais já constam “todas as alegações necessárias feitas e provas admissíveis colhidas”
(MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2015, p. 944), ou seja, as devidamente instruídas.
Por seu turno, Amaral (2015) destaca que a jurisprudência já havia se encarregado de interpretar
extensivamente as hipóteses de causa madura para julgamento, antes previstas no § 3º, do artigo
515, do CPC de 1973, devendo ser a lide julgada pela instância hierarquicamente superiora desde
que em condições de julgamento imediato. Desse dispositivo, consideramos relevante destacar, sob
a ótica deste estudo, que o inciso IV, do § 3º, determina que deva ser decretada a nulidade da
sentença na qual faltar fundamentação.
No entendimento de Nery Jr. e Andrade Nery (2015), o inciso em tela denota que o tribunal julgue
direto a causa, demonstrando as referências que embasam o julgamento, observando a economia
processual, e salientam a evidente alusão ao artigo 93, IX, da CFRB/88.
Wambier et al. (2015) referem que do inciso se depreende que a ausência de fundamentação deve
ser suprida pelo tribunal ad quem; entretanto, para os autores, tal disposição somente é aplicável no
caso de o tribunal decidir no mesmo sentido do juízo de origem. Aduzem que é vedado ao tribunal
modificar o sentido da decisão cuja fundamentação é ausente, tampouco é seu papel qualificá-la
como equivocada e corrigi-la, mesmo porque será inviável a compreensão do que restou decidido (já
que sem fundamentação).
Esta é hipótese de aplicação quando o apelo só recorre da sentença que versar sobre as chamadas
preliminares de mérito, sob o único argumento de ausência de fundamentação, como afirma
Wambier et al. (2015).
2.3.Decisões judiciais fundamentadas e o julgamento do mérito pelo tribunal em caso de
sentença não motivada adequadamente quando da causa madura: (in)compatibilidade?
Assim, o intuito deste estudo consiste na verificação sobre se os dispositivos legais referidos
possuem coerência, quando combinados, partindo do ponto de vista do próprio texto legal, até os
achados na teoria jurídica atinente ao processo civil. Da leitura do artigo 1.013, principalmente do
IV, do § 3º, impossível não refletir acerca de uma possível incompatibilidade com o artigo 489, § 1º,
do NCPC (LGL\2015\1656), incongruência que é a proposta de exame deste estudo.
O Enunciado de número 307, decorrente do IV encontro do Fórum Permanente de Processualistas
Civis, ocorrido em dezembro de 2014, relacionou os exatos dois artigos objeto de análise. Vale
consignar sua redação:
307. (Art. 489, § 1º; art. 1.013, § 3º, IV) Reconhecida a insuficiência da sua fundamentação, o
tribunal decretará a nulidade da sentença, e, preenchidos os requisitos do § 3º do art. 1.013,
decidirá desde logo o mérito da causa. (Grupo: Competência e invalidades processuais).
Ainda que haja a relação expressa entre os dois dispositivos, verifica-se que a prescrição do
enunciado não propicia maiores esclarecimentos sobre o tema.
Siqueira (2015), em artigo publicado no endereço eletrônico jurídico Portal Processual, assevera que,
A aplicação da técnica prevista no art. 1.013, § 3º, IV do novo CPC (LGL\2015\1656) pressupõe que
o tribunal tenha, efetivamente, decretado a nulidade da sentença por ausência de adequada
fundamentação. É necessário, assim, que o órgão ad quem verifique a presença de alguma das
hipóteses descritas no art. 489, § 1º ou de qualquer outra situação que indique violação do dever de
motivação das decisões judiciais, para, dando provimento ao recurso (ou atuando de ofício), anular a
sentença.
A contenda reside, conforme Siqueira (2015), na consequência que será adotada quando configurada
uma das hipóteses previstas no § 1º, do artigo 489 (ou outra similar, tendo em vista que o rol é
exemplificativo), pois, de acordo com o CPC (LGL\2015\1656) anterior, a medida tomada era a
remessa dos autos ao juízo originário para pronúncia de nova decisão. Conforme a regra contida no
artigo 1.013, § 3º, IV, o julgador ad quem está obrigado ao julgamento imediato da lide no caso de a
instrução haver findado.
Entretanto, Siqueira (2015) salienta não se tratar de permissão para o juízo singular proceder nas
circunstâncias que ensejam a nulidade da decisão, mas sim questão de praticidade, sopesando os
princípios, e, em nome de princípios diversos e não menos relevantes, como a duração razoável do
processo, o legislador entendeu por bem suprimir um grau de jurisdição e atribuir ao tribunal o

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julgamento, desde logo, do mérito.


Destaca que o § 3º, do artigo 515 do CPC de 1973 (introduzido pela Lei 10.352 de 2001), viabilizou
que o tribunal adentrasse ao mérito da causa, ao reformar sentença terminativa, se a instrução
probatória estivesse completa, em prol do deslinde mais célere do litígio (SIQUEIRA, 2015).
Nesse passo, Gonçalves Filho (2015), em ensaio disponível no mesmo portal eletrônico,
complementa que o § 3º, do ora revogado artigo 515, inseriu na lei processual a chamada teoria da
causa madura, propiciando que os tribunais analisassem o mérito quando já houvesse elementos
suficientes nos autos, ou quando se tratasse de matéria exclusivamente de direito. Salienta que tal
aspecto gerou controvérsia doutrinária com relação à necessidade de conter expressamente, nos
pedidos recursais, o exame direto do mérito pelo tribunal.
Gonçalves Filho (2015) assevera, ainda, que a determinação do artigo 1.013, § 3º, IV, visa a
positivar entendimento já consolidado pela doutrina e jurisprudência, tanto é assim que a redação
atual alterou o verbo “pode” (o tribunal pode julgar desde logo a lide) para “deve” (o mérito desde
logo ser decidido, quando o processo estiver em condições de imediato julgamento). Defende que
esta alteração busca acabar com a dúvida quanto à necessidade de pedido expresso pela parte
quanto ao julgamento imediato pelo tribunal.
Outrossim, Siqueira (2015) observa que o 1.013, § 3º, IV, não dá azo a que se deixe de pronunciar a
nulidade, mas sim amplia as possibilidades de julgamento imediato do mérito em grau recursal, e
que, mesmo havendo a anulação da sentença, os autos não mais se remeterão ao primeiro grau, em
consideração a um julgamento definitivo em menor lapso de tempo.
Em anuência, Gonçalves Filho (2015) adverte que a finalidade do artigo 1.013, § 3º, IV, é a
celeridade processual, em homenagem ao princípio da duração razoável do processo. Nesse
diapasão, aduz que poderia se configurar verdadeira colisão entre direitos fundamentais, sendo
necessária a análise do caso concreto, utilizando como ponto de partida um juízo de ponderação.
A nulidade da sentença deve ser proferida pelo tribunal, segundo Siqueira (2015), devendo constar
não somente da fundamentação do acórdão, como também de sua parte dispositiva, com o veredito
sobre o mérito.
Concluindo, Siqueira (2015) reforça que o inciso IV do § 3º do artigo 1.013, não desvaloriza o § 1º
do artigo 489, já que a nulidade da sentença existirá e será pronunciada, ao incorrer em alguma de
suas hipóteses, dando lugar a outro pronunciamento judicial. Aduz que não vislumbra qualquer
violação à garantia constitucional da motivação das decisões judiciais, pois será evitado que decisão
deficiente, em confronto às determinações do § 1º, do artigo 489, seja válida e produza efeitos.
Finaliza dispondo que eventual inconstitucionalidade poderia ser arguida em qualquer circunstância
de aplicação da teoria da causa madura, decorrente de suposta infringência ao princípio do duplo
grau de jurisdição.
Em sentido contrário se posiciona Oliveira (2015), em artigo também publicado no Portal Processual,
salientando que, ao considerar-se isoladamente o disposto no § 1º do artigo 489, pode parecer que
alguns dos desvios ocorridos na prática judiciária cotidiana foram abarcados pelo novo Código,
referente ao tema, afigurando tornar a técnica de fundamentar mais complexa e rigorosa.
Entretanto, para o autor, da leitura do disposto no § 3º, IV, do artigo 1.013 se depreende que:
[...] nesse sentido é que se verifica que o aparente rigor dos parágrafos do art. 489, na prática,
acaba por se ver esvaziado por uma disposição situada na regulamentação do efeito devolutivo dos
recursos, que determina que, mesmo diante da invalidade da sentença por falta de fundamentação,
caberá ao tribunal decidir desde logo o mérito da causa se o processo estiver em condições de
julgamento (art. 1.013, § 3º. inc. IV). Ou seja, caso o processo esteja suficientemente instruído, a
nulidade decorrente da falta de fundamentação deverá ser relevada, e o tribunal passará desde logo
ao julgamento do mérito.
Consubstanciando a leitura dos dois dispositivos, Oliveira (2015) conclui que, na prática, não haverá
anulação pela ausência de fundamentação, mas tão somente por eventual instrução abreviada da
demanda. Aduz que se houver possibilidade de imediato julgamento pelo tribunal, a nulidade não
será pronunciada.
O afastamento da anulação da decisão não fundamentada se tornou regra geral, ante a vigência da
nova Lei processual civil, segundo Oliveira (2015), que defende a seguinte ideia:
Sem que à sua inobservância corresponda a sanção de nulidade, portanto, com a supressão da
decisão viciada do mundo jurídico, o dever de motivar as decisões judiciais na forma posta pelo art.
489, §§ 1º e 2º, se converte para todos os efeitos em uma espécie de recomendação ou de conselho
aos juízes, a que não se seguirá qualquer repercussão prática de maior relevância. [...] Pode se dizer
mesmo que a emenda trazida pelo novo Código é em alguma medida pior do que o soneto de

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Buzaid, pois a desconsideração da nulidade por falta de fundamentação não ocorrerá apenas nas
situações dos parágrafos, mas se estenderá também a omissões grosseiras como a absoluta
ausência de análise das questões de fato e direito em que se fundam a demanda e a resposta.
Com efeito, Oliveira (2015) destaca que da leitura combinada dos dois dispositivos, impossível não
atentar para possível inconstitucionalidade, uma vez que o próprio texto constitucional comina a
sanção de nulidade para a ausência de decisão fundamentada. Salienta que, desse modo, não cabe
ao legislador ordinário dispor sobre a relevância à pronúncia de nulidade da decisão, como ocorreu
no caso do § 3º, IV, do artigo 1.013. Pondera que:
De fato, simplesmente declarar a invalidade da sentença, sem retirá-la do mundo jurídico para que
um novo julgamento seja imposto ao órgão de origem, não corresponde materialmente a uma
anulação, mas sim a uma simples observação marginal na fundamentação do acórdão. Por essa
razão, a regra aqui comentada nos parece irremediavelmente inconstitucional.
Em suma, para Oliveira (2015), a disposição constante do § 3º, IV, do artigo 1.013, diminui a
utilidade da controversa alteração atinente à motivação das decisões judiciais no novo CPC
(LGL\2015\1656), já que a nulidade da sentença não será pronunciada, com o imediato julgamento
pela instância superior. A anulação sucederia somente se o feito padecesse de instrução deficiente,
sendo, inclusive, dispositivo inconstitucional, à medida que ao não aplicar a sanção de nulidade por
ausência de correta fundamentação, afronta o preceito constitucional do inciso IX, do artigo 93, da
CRFB/88. Por fim, sustenta que a proposta do 3º, inciso IV, do artigo 1.013, “é um verdadeiro
anticlímax para a crença no potencial transformador do novo Código, nesse particular”.
De conformidade ao entendimento exposto por Oliveira (2015), importante considerar o
ensinamento de Portanova (2008) de que o contraditório não é meramente nominal e formal,
devendo, pois sim, ser pleno e efetivo, preocupando-se com a dignidade da pessoa humana e, cada
vez mais, com a qualidade da defesa. O autor complementa, aduzindo que este princípio cuida de
influir, de fato, no convencimento do magistrado, inclusive criando dúvidas em seu convencimento.
Assim, pode-se deduzir que uma decisão cuja fundamentação é deficiente não atende a esse fim.
Sob a mesma ótica, Oliveira e Mitidiero (2012) asseveram que o contraditório diz respeito à
participação das partes no desenvolvimento e resultado do processo, com influência ativa e efetiva
sobre os provimentos jurisdicionais, o que pertine a todas as decisões do órgão judicial, não somente
a decisão final, como também refere Amaral (2015), justificando que consta expressamente do texto
do artigo 489, NCPC (LGL\2015\1656), que o dever de fundamentar satisfatoriamente se estende a
toda decisão proferida no curso processual.
Wambier et al. (2015) igualmente enfatizam que esta exigência recai sobre qualquer decisão judicial,
e que o artigo 489, NCPC (LGL\2015\1656), reforça a concepção de não ser mais aceitável que
qualquer fundamentação seja considerada satisfatória. Asseveram ser inadmissível que paire dúvidas
quanto à aplicação da norma ao fato.
Ainda, Wambier et al. (2015, p. 793) propõem que o § 1º, do artigo 489, do NCPC (LGL\2015\1656),
consiste em verdadeira inovação, “pois diz que a garantia da fundamentação das decisões judiciais,
de índole constitucional, não se tem por satisfeita, se a fundamentação não atender a certos
parâmetros de qualidade”. Em especial ao que tange ao inciso IV, do § 1º, do artigo 489, consideram
um reflexo da “noção contemporânea do contraditório”, pela qual o magistrado oportunamente
demonstrará haver participado efetivamente do mesmo por meio da adequada fundamentação de
sua decisão (p. 795).
Para Amaral (2015, p. 590), o magistrado deve expor os motivos determinantes de seu
convencimento, “tanto para o acolhimento, total ou parcial dos argumentos da parte vencedora,
quanto para o desacolhimento, total ou parcial, dos argumentos da parte derrotada”. Bueno (2014)
disserta que a motivação das decisões assegura a transparência da atividade judiciária e viabiliza
que se exerça o controle sobre as mesmas
Marinoni et al. (2015) sustentam que o juiz possui o dever de debate. Em observância ao
contraditório, deve enfrentar todos os argumentos e fundamentos relevantes trazidos pelas partes, e
destacam que o artigo 489, do NCPC (LGL\2015\1656), observou o preceito, já existente, de que a
fundamentação deve ser concreta, estruturada e completa.
Com efeito, Nunes et al. (2011) destacam que o contraditório não se limita ao dizer e contradizer
formal entre as partes no transcorrer processual, sem que gere efetiva contribuição para a
fundamentação da decisão. Baptista da Silva (2000), por sua vez, sustenta ser o contraditório
princípio do próprio conceito de função jurisdicional.
A legitimidade dos atos judiciais provém da obediência aos preceitos constitucionais, conforme lição
de Rosemiro Pereira Leal (2009), a partir da possibilidade de consagração de seus princípios, em

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especial do princípio da vinculação ao Estado Democrático de Direito.


Koremblum (2015, p. 1) afirma que “sob o pálio de um Estado Democrático de Direito, é natural que
toda e qualquer decisão judicial seja suficientemente fundamentada, apta a demonstrar ao
jurisdicionado a ratio iudicandi”. Costa (2013) adverte que fundamentar as decisões é um dever
judicial fundamental e um direito do cidadão. Bueno (2014) assinala que não se poderiam aceitar
decisões judiciais não fundamentadas sem confrontar o modelo constitucional vigente.
Nessa perspectiva, verifica-se que a ausência de fundamentação da decisão judicial está em pleno
descompasso aos princípios basilares do Estado Democrático de Direito, afrontando o princípio da
obrigatoriedade da motivação das decisões jurisdicionais e não fomentando o adequado exercício do
contraditório. Por conseguinte, não se pode dar guarida a decisões sem suficiente fundamentação,
seja ela proferida por qualquer grau de jurisdição.
Inobstante, a redação do inciso IV, § 3º, do artigo 1.013, aparenta permitir que, ao menos ao juízo a
quo, está autorizado emitir decisão deficientemente fundamentada – o que impede o correto
exercício do contraditório, com todas as suas consequências – sem que sofra qualquer sanção.
Sobre o efeito devolutivo da apelação, Nery Jr. (2010) leciona que, para que haja devolutividade, é
necessária a aptidão do recurso para provocar o reexame da decisão impugnada. Rosinha (2012, p.
72) sustenta ser:
[...] inegável que o efeito devolutivo encontra-se atrelado ao princípio dispositivo, que, por sua vez,
está ligado à atividade de provocação da parte [...] configurando assim um sistema onde o julgador
encontra-se limitado em examinar as matérias e questões apontadas pelo recorrente.
A esse respeito, Tesheiner (2006, p. 1) acrescenta:
Pode-se imaginar um sistema em que o tribunal somente possa examinar as matérias e questões
apontadas pelo apelante; outro, em que ao tribunal seja dado examinar tudo quanto diga respeito à
ação, inclusive em prejuízo do apelante (reformatio in pejus), além de sistemas intermediários.
Barbosa Moreira (2012), salienta que a delimitação do efeito devolutivo é precisar o que está sendo
submetido ao tribunal ad quem, de acordo com o recurso, e medir sua profundidade é determinar
com que material deve trabalhar o tribunal para o julgamento. Assim, a extensão da devolução
limita-se pelo que é efetivamente impugnado no recurso, consoante lição de Araken de Assis (2001).
Nesse viés, “é a parte recorrente que delimita a extensão do recurso e a devolução se opera nessa
extensão, não podendo o tribunal avançar naquilo que não lhe foi devolvido, sob pena de extrapolar
o âmbito do recurso” (RIBEIRO, 2016, p. 45).
Barbosa Moreira (2012) esclarece que o objeto do efeito devolutivo está em determinar em que
medida competirá ao tribunal a apreciação de todas as questões suscitadas e discutidas no processo,
no que tange aos fundamentos do pedido ou da defesa, sempre limitado à matéria impugnada.
Assim também entendem Didier Jr. e Cunha (2016, p. 145), para os quais poderá o tribunal, em
profundidade, analisar todo o material constante dos autos, limitando-se sempre à extensão fixada
pelo recorrente; assim, a extensão do efeito devolutivo determina os limites horizontais do recurso,
o que se pode decidir, enquanto a profundidade define o material com o qual o órgão ad quem
trabalhará para decidir a questão que lhe foi submetida.
Com relação específica ao novo CPC (LGL\2015\1656), não houve limitação ou redução do efeito
devolutivo da apelação, havendo, pois sim, uma ampliação, na medida em que foram incluídas
outras hipóteses de julgamento imediato do mérito do recurso, desde que a causa esteja madura e
não restem preclusas questões resolvidas na fase de cognição (RIBEIRO, 2016).
Nesse contexto, Ribeiro (2016, p. 127) também constata que “o sistema processual civil vigente
alimenta profunda desvalorização das decisões proferidas pelos juízes de primeiro grau”, bem como
Mitidiero (2011), que esclarece que em nosso sistema recursal, os tribunais estão funcionalmente
sobrepostos aos juízos de primeira instância.
Wambier et al. (2015) referem que, da leitura do inciso IV, § 3º, do artigo 1.013, NCPC (LGL\2015
\1656), se depreende que a ausência de fundamentação deve ser suprimida pelo tribunal ad quem.
Nery Jr. & Andrade Nery (2015) sustentam que o artigo de lei observa o princípio da economia
processual. Sobre o mesmo dispositivo, Marinoni, Arenhart e Mitidiero (2015) lecionam que ele
permite ao tribunal julgar a causa ainda que a matéria não tenha sido apreciada pelo juízo a quo,
independentemente de requerimento da parte.
Com o fito de elucidar, Wambier et al. (2015) discorrem que esta é hipótese de aplicação quando o
apelo só recorre da sentença que versar sobre as chamadas preliminares de mérito, sob o único
argumento de ausência de fundamentação.

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Como reflexo às proposições do § 1º, 489, do novo CPC (LGL\2015\1656), Lenio Streck (2016), em
artigo publicado em sua coluna nominada Senso Incomum, no site Consultor Jurídico, refere à ADI
interposta pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) contra a
resolução de número 39, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), a qual dispõe o que, decorrente do
novo CPC (LGL\2015\1656), deve ser aplicado ao processo do trabalho. A ADI permeada pela
Anamatra se insurge acerca da obrigatoriedade no cumprimento dos dispositivos da nova Lei
processual civil, e um dos principais artigos refutados na ADI é justamente o 489.
Numa tentativa de mapear, preliminarmente, quais aspectos do novo Diploma processual civil (que
sofreram alterações) vêm sendo cumpridos pelos tribunais brasileiros, Streck (2016) apresenta, no
mesmo artigo, breve pesquisa realizada por meio das páginas eletrônicas de alguns destes tribunais,
em período compreendido entre 18 de março e 04 de maio de 2016. Uma de suas constatações foi a
de que “alguns tribunais insistem em não cumprir” as determinações do § 1º, do artigo 489,
encontrando diversas decisões em que seus incisos não foram aplicados. Diante dos resultados de
sua busca, comenta que “as notícias não são animadoras”.
Nunes e Streck (2016), por ocasião da entrevista cedida ao site Consultor Jurídico, sustentam que o
artigo 489 estabelece “verdadeira criteriologia decisional”. Referem que esta é a alteração do novo
Diploma legal que culminou em maior resistência advinda da magistratura, e a título exemplificativo,
declinam que na Justiça do Trabalho surgiram enunciados, já aprovados, decidindo não ser este
dispositivo aplicável a eles (magistrados da área trabalhista), o que, para os juristas entrevistados,
significa que estes julgadores se consideram acima da lei. Concluem que a precípua obrigação dos
agentes públicos é o cumprimento das leis.
O artigo 489 demonstrou a preocupação do legislador com o aumento da qualidade das decisões
judiciais, e, consequentemente, ao que parece, com uma prestação jurisdicional mais precisa e
efetiva, o que se coaduna aos pilares do novo Diploma legal.
Por sua vez, o inciso IV, do § 3º, do artigo 1.013, entretanto, dá a entender que o juízo originário, ao
cometer o equívoco de fundamentação ausente, que enseja o grave vício de nulidade, terá seu
trabalho por ali encerrado, ao passo que o tribunal, ao perceber a falha, deverá saná-la.
Ora, importa gizar a posição de Didier Jr. e Cunha (2016, p. 199), para os quais esta regra pode
produzir um efeito colateral, podendo o magistrado de primeiro grau, deliberadamente, não atender
aos comandos do § 1º, do art. 489, do NCPC (LGL\2015\1656), pois sabe que, mesmo que o tribunal
invalide a sentença por falta de motivação, os autos não retornarão para que nova sentença seja
proferida.
Como observam Felipe Scalabrin, Miguel Costa e Guilherme Antunes da Cunha (2017), tal medida
desvincula o magistrado de primeiro grau dos deveres de motivação das decisões de acordo com os
critérios do § 1º, do art. 489, do NCPC (LGL\2015\1656), na medida em que o Tribunal poderá julgar
a causa se esta estiver madura. Dessa forma, e em que pese o permissivo legal, deve o tribunal
devolver os autos à origem, cassando a sentença, determinando a prolatação de novo decisum, à luz
dos ditames do art. 489, § 1º, do NCPC (LGL\2015\1656). Apenas dessa forma os magistrados de
origem estarão comprometidos com uma decisão adequadamente motivada.
O enfraquecimento do processo, conforme Nunes e Streck (2016), em entrevista ao site Consultor
Jurídico, por se acreditar que se trata de um mero instrumento, consiste em ponto de vista que deve
ser superado com a vigência da nova Lei processual civil. A decisão não deve ser finalística ou
teleológica, e sim fruto do diálogo entre todos os atores processuais, rechaçando-se o que vem
simplesmente da mente do juiz. Salientam que não há razão para que se continue a estudar o direito
se persistir a mentalidade de que “o juiz decide como quer e pronto”. Defendem que o artigo 489, se
bem aplicado, significa grande avanço.
A preocupação deste estudo, diante da apontada constatação, foi sinalizar suposto antagonismo dos
dispositivos e registrar o questionamento sobre como a jurisprudência e os estudiosos se
encarregarão de delinear este paradoxo.
Oportunamente, com relação específica ao § 1º, do artigo 489, NCPC (LGL\2015\1656), Nery Jr. e
Andrade Nery (2015, p. 1.154) aduzem que “a jurisprudência terá, portanto, de dar contornos mais
fluidos a esses dispositivos até mesmo em razão da própria subjetividade que cerca o assunto”, o
que se acredita que deva se estender à leitura conjunta dos dois dispositivos legais objetos de
análise neste trabalho, no decorrer da prática forense.
3.Considerações finais
Este estudo buscou explorar duas das alterações apresentadas pela nova Lei processual civil,
consistentes no disposto pelos artigos 489, § 1º, e 1.013, § 3º, inciso IV, a fim de fomentar a
reflexão sobre a efetividade da garantia constitucional da motivação das decisões judiciais. Para

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tanto, foi discorrida breve explicação acerca dos dois dispositivos legais em tela, e analisada
eventual hipótese de incompatibilidade entre eles.
Da leitura combinada dos artigos em análise, vislumbrou-se que a controversa modificação na
motivação das decisões judiciais e seu aparente rigor, materializada no § 1º do artigo 489, poderá
ser obstruída pela disposição contida no inciso IV, § 3º, do artigo 1.013. Ainda, verificou-se possível
evidência de um enfraquecimento na disposição contida no § 1º do artigo 489, que parecia buscar
coibir a prolação de decisões deficientes.
Resta ser esclarecido, tanto pela jurisprudência quanto pelos estudos jurídicos, sobre quais serão as
matérias que deverão ser analisadas pelo juízo ad quem, como resposta a recurso de decisão
proferida pelo juízo a quo cuja fundamentação foi ausente. Parece-nos necessário, ainda, sanar a
dúvida sobre qual significado terá, na prática, a sanção de nulidade da decisão não adequadamente
fundamentada, considerando que o processo não deverá voltar ao juízo originário para correção do
vício, e sim ser imediatamente julgado pelo colegiado, como se o vício não houvesse existido.
Em suma, a adequada fundamentação das decisões judiciais diz respeito diretamente a um processo
civil que se pretenda democrático e que atenda ao princípio do contraditório, sendo os tribunais,
pois, também responsáveis pela garantia da democracia, o que faz necessária a investigação em
apreço, cujo objetivo, afinal, é tratar do papel do Magistrado de primeiro grau e dos tribunais de
apelação enquanto instituições do sistema de justiça.
Pouco efetivo (e, quiçá, nada pedagógico), em relação às sentenças de primeiro grau, o dispositivo
que permite ao tribunal julgar, em apelação, o mérito da causa madura mesmo em caso de sentença
não fundamentada à luz dos critérios de motivação fixados pelo art. 489, § 1º, do CPC/15 (LGL\2015
\1656). Sem dúvida, o que melhor atenderia o contraditório seria devolver os autos ao primeiro grau
para nova sentença, o que incrementaria o contraditório e, em consequência, refletiria nas (“novas”)
razões de apelação das partes, fazendo do processo civil mais democrático e trazendo mais
efetividade aos critérios de fundamentação das decisões.
4.Referências
AMARAL, G. R. Comentários às alterações do novo CPC (LGL\2015\1656). São Paulo: Ed. RT, 2015.
ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa. Nulidades do processo e da sentença. São Paulo: Ed. RT, 2005.
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Alegre, 2001.
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1
Art. 1.013CPC/2015 (LGL\2015\1656). A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria
impugnada.
§ 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e
discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo
impugnado.
§ 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a
apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
§ 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo
o mérito quando:
I – reformar sentença fundada no art. 485;
II – decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da
causa de pedir;
III – constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV – decretar a nulidade da sentença por falta de fundamentação.
§ 4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível,
julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de
primeiro grau.

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§ 5º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é impugnável na


apelação. (grifo nosso)

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