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Camile Costa
Alyane Dornelles
D536
Direito e inovação: uma combinação necessária/. Camile Costa,
Alyane Dornelles. (Organizadoras). Porto Alegre: OABRS.
2021. 125p.
ISBN: 978-65-88371-10-7
1. Direito 2. Inovação I. Título
340
DIRETORIA/GESTÃO 2019/2021
CONSELHO PEDAGÓGICO
CORREGEDORIA
OABPrev
COOABCred-RS
PREFÁCIO
O contexto global atual convida, mais do que nunca, a inovar. A agilidade das mudanças e
seu impacto sistêmico exige uma constante reinvenção e aprimoramento de soluções nas
mais diversas áreas. Novos problemas surgem e antigos problemas buscam novas soluções.
Neste contexto, os desafios são evidentes e o mesmo pode ser dito para as oportunidades. A
escolha está nos olhos de quem vê.
Escolhendo o olhar das oportunidades, o Grupo de Estudos em Direito e Inovação da ESA-
OAB/RS, que tive a honra e satisfação de co-fundar, vê nos desafios o impulso para fazer
mais e melhor, buscando no compartilhamento de experiências e conhecimentos a inspiração
para inovar com consistência e autenticidade. É neste espírito que o presente e-book é
apresentado, como a compilação de trabalhos produzidos pelos membros do Grupo ao longo
dos anos de sua existência.
Os temas abordados unem aspectos inovadores do Direito material com a prática da
advocacia, trazendo de forma clara e acessível temas de importante relevo para uma atuação
cada vez mais responsável e multidisciplinar. Além de artigos analisando importantes
inovações legislativas e seus impactos na atuação jurídica, a tecnologia é trazida como
importante aliada da estratégia jurídica, juntamente às soft skills e metodologias de gestão,
demonstrando-se como o seu aprimoramento impacta diretamente em uma advocacia eficaz
que agrega valor ao cliente.
De big data, blockchain, compliance digital e data mapping até soft skills, legal analytics,
ADR e metodologias ágeis, o presente e-book brinda a advocacia com importantes
contribuições para o constante aprimoramento dos serviços jurídicos, com o objetivo de
estimular a inovação com criatividade, legitimidade e protagonismo.
Desejando uma excelente leitura, fico à disposição para futuras interações.
Camile Costa
Advogada e Fundadora do Grupo de Estudos Direito e Inovação ESA-OAB/RS
Contatos em camile.costa@gmail.com e @camilecostaconsultoria.
2
APRESENTAÇÃO
Apresentar o e-book “Direito e Inovação: uma combinação necessária” reveste-se, para nós,
de um significado especial. A coletânea de artigos, organizada pelas advogadas e
moderadoras do Grupo de Estudos Direito e Inovação, Camile Costa e Alyane Dornelles,
será lançada no momento histórico em que, na Escola Superior da Advocacia do Rio Grande
do Sul, reconhecemos que professores e professoras, moderadores e moderadoras devem ter
suas competências digitais bem desenvolvidas, estando preparados para serem pesquisadores
reflexivos de sua prática pedagógica, criadores de experiências de aprendizagem,
protagonistas de sua formação profissional ao longo da vida, além de terem capacidade de
inovar na resolução de problemas complexos, de liderar a mudança necessária nos espaços
educacionais e atuar como cidadãos digitais. Em tempos de pandemia, a tecnologia se
mostra uma aliada para o desenvolvimento destas novas competências e as discussões
travadas no Grupo de Estudos e nos artigos que compõem este e-book revelam a importância
de se integrar conhecimentos e práticas sobre o bom uso e o uso seguro da tecnologia.
Os artigos trazidos nesse e-book tratam dos mais diversos temas relevantes para a advocacia
e sobre eles são lançados múltiplos olhares acerca dos impactos das tecnologias na ciência
do Direito, bem como a necessidade dos profissionais de acompanharem essas inovações,
desenvolvendo habilidades específicas. A urgência frente às mudanças, somada à
necessidade dos profissionais do direito de acompanharem essas inovações, fez com que
percebêssemos que existe uma era pós-pandemia com desafios ainda maiores. A coletânea,
nesse sentido, retrata as reflexões que a Escola Superior da Advocacia do Rio Grande do Sul
(ESA/OAB-RS), braço cultural da Ordem dos Advogados do Brasil, juntamente com o
Grupo de Estudos Direito e Inovação, vem promovendo acerca das intersecções da
tecnologia no contexto jurídico e educacional, tendo a segurança digital e as prerrogativas
da classe como metas.
Aos leitores e às leitoras, desejamos uma boa e profícua leitura e que esta obra sirva de
inspiração para que a advocacia contribua para o debate acerca do uso da tecnologia da
informação com o objetivo de possibilitar a todos o acesso à justiça e ao conhecimento.
SERVIÇOS JURÍDICOS
Camile Costa1
“[…] a nova Lei Civil se distingue da anterior pela frequente referência de seus
dispositivos aos princípios de equidade, de boa-fé, de equilíbrio contratual, de
correção (correttezza), de lealdade, de respeito aos usos e costumes do lugar das
convenções, de interpretação da vontade tal como é consubstanciada, etc, etc,
sempre levando em conta a ética da situação, sob cuja luz a igualdade deixa de
1
Advogada com formação em Negociação em Harvard e LLM em International Commercial Law and Dispute
Resolution pela Swiss International Law School. Consultora em Negociação, Soft Skills e Autogestão para
Advogados/as. Fundadora do Grupo de Estudos Direito e Inovação ESA-OAB/RS. Co-fundadora do Meeting
de Negociação. Mediadora credenciada pelo ADR/ODR International. Contatos em camile.costa@gmail.com
e @camilecostaconsultoria.
2
Para mais informações sobre o impacto desta era em nossa realidade, vide: A Era da Informação: Economia,
Sociedade e Cultura. Manuel Castells. Editora Fundação Calouste Gulbenkian. 2002.
3
Para maior aprofundamento acerca do advento e consequências da sociedade do conhecimento, vide:
Sociedade Pós-Capitalista. Peter Drucker. Editora Pioneira.1993.
4
A Quarta Revolução Industrial. Klaus Schwab. Tradução: Daniel Moreira Miranda. Editora Edipro. 2016.
5
https://ab2l.org.br/radar-dinamico-lawtechs-e-legaltechs/
6
O Novo Código Civil Brasileiro: em Busca da "Ética da Situação". Judith Hofmeister Martins-Costa. 2001.
Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/ppgdir/article/download/49214/30844. Acesso em 05/09/2021.
4
“Operar no modo "fast forward" significa antecipar o problema. Ao lidar com seus
clientes, o advogado ou advogada deixa de ser o objeto reativo dos eventos e passa
a ser o planejador ativo dos cenários".11
Um ponto chave a ser levado em conta neste processo de personalização está no fato
de que a efetividade das soluções jurídicas está diretamente relacionada à percepção dos
destinatários dessas soluções: os clientes. A partir desta constatação, fica evidente a
necessidade, e o atual desenvolvimento, de uma advocacia que cada vez mais entende a sua
relevância no cenário atual de mudanças ágeis e exponenciais e, assim, busca maior
7
Prefácio do livro Diretrizes Teóricas do Novo Código Civil Brasileiro. Judith Martins Costa, Gerson Luiz
Carlos Branco. São Paulo, Ed. Saraiva, 2002.
8
Nas palavras de Miguel Reale, em seu discurso na cerimônia de sanção do Código Civil de 2002: “Desde o
pórtico dos Direitos da personalidade – inexistente no Código de 1916 – até as normas estabelecidas em razão
da função social da propriedade e do contrato; desde a maioridade aos dezoito anos até a revisibilidade do
regime de bens no casamento; desde a extinção do “pátrio poder”, substituído pelo “poder familiar”, até os
dispositivos que salvaguardam o real interesse da prole; desde as novas figuras criadas no campo do Direito
das Obrigações até a disciplina da atividade empresarial; desde a preferência dada às “cláusulas abertas”,
propiciadoras de ampla compreensão hermenêutica e de maior interferência do juiz na solução dos conflitos,
até as novas regras sobre responsabilidade objetiva; desde a constante remissão aos princípios de equidade
e de boa-fé até o tratamento da posse de bens imóveis em razão do valor do trabalho que a motiva; desde a
eliminação de formalidades absurdas na lavratura dos testamentos até a preservação dos direitos dos
herdeiros, do cônjuge inclusive, é toda uma nova atmosfera normativa que surge no mundo do Direito, com
paradigmas de renovado humanismo existencial.” disponível em http://miguelreale.com.br/. Acesso em
05/09/2021.
9
Para maior detalhamento acerca das habilidades necessárias para uma advocacia contemporânea,
especialmente no tocante ao desenvolvimento das dimensões do advogado e advogada como designer (que cria
condições preventivas e atua nos contextos em que os problemas surgem) e resolutor de problemas, veja:
Preventive Law and Creative Problem Solving: Multi-dimensional Lawyering, Thomas D. Barton and James
M. Cooper. 2001. Disponível em http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-
solving-multi-dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs. Acesso em 05/09/2021.
10
Para aprofundamentos acerca de ferramentas úteis para a identificação prévia de potenciais problemas e
conflitos, que permitem a atuação em sua causa, de forma a prevenir que ocorram, veja o completo e
esclarecedor estudo da evolução do Direito e consequentemente da advocacia em: Preventive Law and Problem
Solving: Lawyering for the Future. Thomas D. Barton. Editora Vandeplas Pub. 2009.
11
Tradução livre de: "Operating in the Fast Forward mode means that the lawyer anticipates the problem. In
dealing with individual clients, the lawyer moves from being the reactive object of events, to becoming the
planful shaper of environments".Preventive Law and Creative Problem Solving: Multi-dimensional
Lawyering, Thomas D. Barton and James M. Cooper. 2001. Disponível em http://restorativejustice.org/rj-
library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-dimensional-
lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs. Acesso em 05/09/2021.
5
entendimento e conexão com os reais interesses dos clientes, de forma a elaborar soluções
jurídicas personalizadas e eficazes.
É neste contexto que percebemos o advento de uma “advocacia multiportas”, que
conhece as possíveis formas e métodos de resolução de disputas (judiciário, arbitragem,
mediação, conciliação, negociação, dispute boards, expert assessor, desenho de sistemas de
disputas, minitrials…) e auxilia seu cliente a optar pela forma ou método mais adequado para
a solução da disputa em questão12. É também neste cenário que vemos o advento de startups
com soluções tecnológicas em análise de dados jurídicos (legal analytics, jurimetria,
volumetria), que permitem o aprimoramento do diagnóstico da situação e da análise das
possibilidades de solução (levando-se em conta o investimento de tempo, custo, riscos,
chances de êxito), consequentemente aumentando a assertividade na elaboração das opções
e caminhos que comporão a estratégia jurídica a ser apresentada ao cliente.
Como consequência do advento da consciência acerca das opções existentes em
métodos de resolução de disputas, juntamente às soluções tecnológicas em legal analytics,
torna-se necessário o aprimoramento de habilidades para além da lei, isto é, para além das
chamadas hard skills jurídicas (conhecer o Direito). Tais habilidades consistirão justamente
naquelas que permitirão maior entendimento dos reais interesses do cliente e maior
assertividade na elaboração, comunicação e condução das soluções jurídicas personalizadas
ao caso concreto, podendo ser chamadas de habilidades humanas ou soft skills.
Assim, as soft skills entram mais do que nunca como uma necessidade latente para a
advocacia, pois, uma vez constituídas pelas habilidades de comunicação efetiva, pensamento
estratégico, análise e visão sistêmicas, flexibilidade mental, equilíbrio emocional,
colaboração, negociação, criatividade e disposição para o aprendizado contínuo (life long
learning), mais do que "buscar direitos", elas auxiliarão os advogados e advogadas a buscar
soluções realmente efetivas, a partir da ótica dos próprios envolvidos. Assim, somadas ao
conhecimento jurídico e às tecnologias disponíveis, as habilidades humanas permitem à
advocacia o desenho de soluções jurídicas legítimas, seguras e eficazes, pois possibilitam
unir a segurança jurídica às reais necessidades e interesses dos destinatários de seus serviços.
Em vista do exposto, percebe-se a alta relevância de cada vez mais proporcionar aos
operadores do Direito ambientes que estimulem o entendimento do cenário atual de estímulo
12
Para maior aprofundamento em sistemáticas e ferramentas de análise de cenários para definição do método
de resolução de conflitos mais adequado ao caso concreto, veja: Frank E.A. Sander & Stephen B. Goldberg,
Fitting the Forum to the Fuss: a User-Friendly Guide to Selecting an ADR Procedure. Negotiation Journal
vol.10. Program on Negotiation - Harvard Law School. 1994.
6
13
Sociedade Pós-Capitalista. Peter Drucker. Editora Pioneira. 1993. pg. 157.
14
Para maior aprofundamento acerca das práticas de gestão centradas em reconhecer e potencializar as
habilidades dos membros da organização, veja: Reinventando as organizações. Frederic Laloux. Editora Voo.
2019.
7
REFERÊNCIAS
Fitting the Forum to the Fuss: a User-Friendly Guide to Selecting an ADR Procedure. Frank
E.A. Sander & Stephen B. Goldberg, Negotiation Journal vol.10. Program on Negotiation -
Harvard Law School. 1994.
BARTON, Thomas D.; COOPER, James M.. Preventive Law and Creative Problem
Solving: Multi-dimensional Lawyering.. 2001. Disponível em
<http://restorativejustice.org/rj-library/preventive-law-and-creative-problem-solving-multi-
dimensional-lawyering/1796/#sthash.ov8K4SLA.dpbs> Acesso em 05/09/2021.
BARTON, Thomas D. Preventive Law and Problem Solving: Lawyering for the Future.
Editora Vandeplas Pub. 2009.
ABSTRACT Technological development and constant innovation in the most diverse areas,
including legal, culminated in a change in the labor market. In this way, methodologies
called agile were developed, characterized by the incremental delivery of results with added
value, self-organizing teams and flexibility for changes. In this sense, the objective of this
research is to evaluate the applicability of these agile methodologies, namely Scrum and
kanban, in law firms, in order to ascertain whether they are adaptable and adequate for better
results and effectiveness in fulfilling the tasks inherent to the routine of lawyers and legal
teams. Therefore, from the hypothetical-deductive approach method, through qualitative
technique, with an exploratory objective and bibliographic procedure, based on national and
foreign doctrine, it is concluded that there is applicability of agile methods in law firms and
their implementation, due to its agile characteristics, it is adequate to improve productivity.
Keywords: Agile Methodology; Scrum; Kanban; Law Firm Management.
1. INTRODUÇÃO
A execução de projetos e de tarefas é atividade essencial em toda sociedade,
empresarial ou de pessoas, para seu crescimento e desenvolvimento. Usualmente, utiliza-se
a metodologia tradicional, baseada no modelo cascata, que tem como linha-guia a hierarquia
entre os participantes do projeto e a linearidade de entrega, de modo que, somente quando o
produto passar por todas as fases da produção, ele será entregue.
15
Advogada. Mestranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
9
16
SOMMERVILLE, Ian. Engenharia de Software. 9. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2011, p.
39
17
FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020,
p. 36.
18
BECK, K. et al. Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software. 2001. Disponível em
<http://agilemanifesto.org/iso/ptbr/manifesto.html>. Acesso em 20 fev. 2021.
19
FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020,
p. 37.
20
Ibidem, p. 31.
21
MARUPING, Likoebe M; VENKATESH, Viswanath; AGARWAL, Ritu. A Control Theory Perspective on
Agile Methodology Use and Changing User Requirements. Information Systems Research, v. 20, n. 3, p.
377-399, 2009, p. 378.
22
FELIPE, Danilo Almeida; PINHEIRO, Tânia Saraiva de Melo. Seleção de tecnologias digitais para a
gerência de projetos em disciplinas de projeto integrado. #Tear: Revista de Educação, Ciência e Tecnologia ,
v. 7, n. 1, 2018, p. 7.
11
23
DIGITAL. AI. 14th Annual State of Agile Report. 2020. Disponível em < https://stateofagile.com/>.
Acesso em 20 fev. 2021.
24
SCHWABER, Ken; SUTHERLAND, Jeff. Guia do Scrum. 2017. Disponível em
<https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2017/2017-Scrum-Guide-Portuguese-Brazilian.pdf>.
Acesso em 20 fev. 2021.
25
FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020,
p. 13.
26
SCHWABER, Ken; SUTHERLAND, Jeff. Guia do Scrum. 2017, p. 3. Disponível em
<https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2017/2017-Scrum-Guide-Portuguese-Brazilian.pdf>.
Acesso em 20 fev. 2021.
27
Ibidem, p. 4.
28
Ibidem, p. 6.
29
FELIPE, Danilo Almeida; PINHEIRO, Tânia Saraiva de Melo. Seleção de tecnologias digitais para a
gerência de projetos em disciplinas de projeto integrado. #Tear: Revista de Educação, Ciência e Tecnologia,
v. 7, n. 1, 2018, p. 7.
12
30
FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020,
p. 44.
31
SCHWABER, Ken; SUTHERLAND, Jeff. Guia do Scrum. 2017, p. 12. Disponível em
<https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2017/2017-Scrum-Guide-Portuguese-Brazilian.pdf>.
Acesso em 20 fev. 2021.
32
FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020,
p. 45.
33
SCHWABER, Ken; SUTHERLAND, Jeff. Guia do Scrum. 2017, p. 13. Disponível em
<https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2017/2017-Scrum-Guide-Portuguese-Brazilian.pdf>.
Acesso em 20 fev. 2021.
34
Ibidem, p. 7.
35
OLIVEIRA, Ricardo Lair Franco; PEDRON, Cristiane Drebes. Métodos Ágeis: Uma Revisão Sistemática
sobre Benefícios e Limitações. Brazilian Journal of Development. v. 7. n. 1, p. 4520 - 4535, 2021, p. 4527.
13
assertividade no chamado pull system, no qual o ritmo da produção é ditado pela demanda,
sem a acumulação de estoque36.
O kanban é uma ferramenta bastante visual e adaptável, sendo composta de um cartão
com as informações necessárias de produção e entrega, de modo que, quando a demanda é
concluída, os cartões são realocados no quadro, conforme seu estado, entre “a fazer”,
“fazendo” e “feito”. Assim, o método é adaptado para situações de gerenciamento de
projetos, em que os cartões remetem a cada atividade que deve ser realizada visando o
cumprimento da data e qualidade de entrega, sendo cada atividade adicionada em uma
coluna de acordo com seu andamento37.
Dessa forma, essa metodologia permite o acompanhamento do fluxo de trabalho e
facilita a visualização de possíveis obstáculos na produção38, cabendo à equipe estar atenta
ao processo de atualização do fluxo de trabalho para a condução dos processos. Assim, está
assentada sobre três pilares essenciais, quais sejam, a visualização do fluxo do trabalho, a
limitação desse fluxo e seu acompanhamento e gerenciamento durante o processo39.
A visualização do fluxo de trabalho deve se limitar ao fluxo que ocorre na realidade,
não ao que é virtualmente definido pela organização, pois diversas equipes definem seus
próprios processos internos, divergindo do modelo determinado pela organização. Já a
limitação do fluxo de trabalho torna necessário que estejam explícitos os itens de trabalho
que compõem cada fase do processo, sendo um dos pontos-chave do método, pois é o
responsável por tornar o kanban um sistema puxado (pull system), no qual a capacidade de
produção é definida pela demanda40.
Por fim, o acompanhamento e gerenciamento do fluxo de trabalho tem o objetivo de
tornar evidentes os problemas, indicando adaptações e propondo formas de evitá-los ou
resolvê-los. Para sua efetividade, é necessário uma política sólida de garantia de qualidade e
acompanhamento contínuo da cadência de produção - ou elaboração das atividades -
associada com um fluxo otimizado visando a produtividade41.
36
MONDEN, Yasuhiro. Sistema Toyota de Produção. Porto Alegre: Grupo A, 2015, p. 9.
37
MONDEN, Yasuhiro. Sistema Toyota de Produção. Porto Alegre: Grupo A, 2015, p. 274.
38
FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso de Scrum e
Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação (Mestrado Profissional em
Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020,
p. 47.
39
BOEG, Jesper. Kanban em 10 passos. C4Media, 2010, p. 5. Disponível em:
http://www.gianfratti.com/WP/wp-content/uploads/2018/04/InfoQBrasil-Kanban10Passos.pdf. Acesso em: 06
Mar 2021.
40
Ibidem.
41
Ibidem.
14
42
MONDEN, Yasuhiro. Sistema Toyota de Produção. Porto Alegre: Grupo A, 2015.
43
Ibidem.
44
AZANHA, Adrialdo, Argoud, Ana Rita Tiradentes Terra; CAMARGO JÚNIOR, João Batista de;
ANTONIOLLI, Pedro Domingos (2017). Agile project management with Scrum: A case study of a Brazilian
pharmaceutical company IT project. International Journal of Managing Projects in Business, v. 10. n. 1, p.
121–142, 2017, p. 138.
45
IAMANDI, Oana; POPESCU, Sorin; DRAGOMIR, Mihai; MORARIU, Cristina. A critical analysis of
project management models and its potential risks in software development. Quality Management. v. 16. n.
149, p. 55-61, 2015, p. 60.
46
OLIVEIRA, Alex Miranda. Desenvolvimento de uma Metodologia de Gestão de Projetos Baseada num
Modelo Híbrido. 2020. 111f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Instituto Superior de
Engenharia do Porto, Porto, 2020, p. 33.
47
Ibidem, p. 34.
48
FRANCO, Eduardo Ferreira. Um modelo de gerenciamento de projetos baseado nas metodologias ágeis
de desenvolvimento de software e nos princípios da produção enxuta. 2007. fl. 113. Dissertação (Mestrado
em Sistemas Digitais) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 12.
49
Ibidem p. 13
15
50
EDER, Samuel et al. Diferenciando as Abordagens Tradicional e Ágil de Gerenciamento de Projetos.
Production, São Paulo , v. 25, n. 3, p. 482-497, jul./set. 2015, p. 490.
51
EDER, Samuel et al. Diferenciando as Abordagens Tradicional e Ágil de Gerenciamento de Projetos.
Production, São Paulo, v. 25, n. 3, p. 482-497, jul./set. 2015, p. 493.
52
Ibidem.
53
OLIVEIRA, Alex Miranda. Desenvolvimento de uma Metodologia de Gestão de Projetos Baseada num
Modelo Híbrido. 2020. 111f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Instituto Superior de
Engenharia do Porto, Porto, 2020, p. 36.
54
Ibidem, p. 38.
16
de uma lista de atividades e tarefas, sem rigor de planejamento. Por outro lado, no
gerenciamento tradicional, as tarefas são organizadas de forma hierárquica e sequencial55.
A quarta diferença consiste no tempo de elaboração do cronograma de produção,
visto que no gerenciamento tradicional, há a consideração do projeto como um todo, por
vezes sem a participação do cliente ou da equipe de desenvolvimento, enquanto nas
metodologias ágeis, o plano é estruturado por partes, em pequenos espaços de tempo, a partir
da interação entre os membros da equipe e os clientes56.
A quinta diferença se refere ao tempo do projeto e as mudanças ocorridas, pois,
enquanto no método tradicional o objetivo é seguir o plano do projeto, com atenção aos
relatórios de acompanhamento, avaliando seu progresso por meio de indicadores de tempo,
custo e percentual de execução do projeto, nos métodos ágeis as mudanças necessárias são
identificadas por meio de controle visual e reuniões diárias, sendo o progresso avaliado por
meio de resultados tangíveis57.
Por fim, as metodologias ágeis e tradicional, se diferenciam em relação ao controle
do escopo do processo. Nos métodos ágeis, a verificação do progresso do projeto se dá por
meio de prioridades apontadas pelo cliente e é registrada informalmente nas reuniões diárias.
Já na gestão tradicional, o cliente não define as prioridades do projeto, ele recebe as
informações por meio da empresa de desenvolvimento58.
Dessa forma, Oliveira (2020) aponta como uma das desvantagens do modelo de
cascata a impossibilidade de mudanças de requisitos, visto que esse é o primeiro passo do
modelo, havendo alteração nos requisitos, seria necessária a reestruturação de todo o projeto.
O que implica também em apontar que uma das desvantagens é seu processo sequencial, no
qual apenas há início de uma fase quando a anterior for finalizada59. Por fim, o autor aponta
que um erro simples pode acarretar em elevados custos, visto que só é identificável ao final
do processo, quando da entrega do produto ao cliente.
Nesse contexto de aversão à mudança e pouca flexibilidade, surgiram os métodos
ágeis, focando na entrega ao cliente e no incremento do produto por fases, com base em
transparência, alta flexibilidade e equipes auto-organizadas. Assim sendo, investiga-se sua
55
EDER, Samuel et al . Diferenciando as Abordagens Tradicional e Ágil de Gerenciamento de Projetos.
Production, São Paulo , v. 25, n. 3, p. 482-497, jul./set. 2015, p. 493.
56
Ibidem, p. 494.
57
Ibidem, p. 494.
58
Ibidem, p. 494.
59
OLIVEIRA, Alex Miranda. Desenvolvimento de uma Metodologia de Gestão de Projetos Baseada num
Modelo Híbrido. 2020. 111f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Instituto Superior de
Engenharia do Porto, Porto, 2020, p. 36.
17
60
SANTOS, Beatrice Paiva; ALBERTO, Agostinho; , LIMA, Tânia Daniela Felgueiras Miranda; CHARRUA-
SANTOS; Fernando Manuel Bigares. INDÚSTRIA 4.0: DESAFIOS E OPORTUNIDADES. Revista
Produção e Desenvolvimento, v. 4, n. 1, p. 111-124, 2018, p. 115.
61
DAVIS, Anthony E. The Future of Law Firms (and Lawyers) in the Age of Artificial Intelligence. Revista
Direito GV, v. 16, n. 1, Jan./Apr. 2020, p. 3.
62
TREVISANUTO, Tatiene Martins Coelho. A Revolução 4.0 e os Impactos na Área Jurídica. Revista
JurisFIB, v. 9, n. 1, Edição Especial 20 anos FIB, p. 183 -193, fev. 2018, p. 191.
18
havendo difusão de prioridades, e por sua vez, as tarefas são desenvolvidas dentro de um
prazo maior.
Todavia, com o avanço tecnológico e pressão por resultados, a partir da
implementação de ferramentas digitais e de outras metodologias, abre-se espaço para uma
revolução no mercado jurídico, especialmente dentro dos escritórios de advocacia, a fim de
mudar a forma de trabalho dos advogados.
Com a adoção dos métodos ágeis, as equipes devem priorizar as metas, desempenho
de tempo, custos e funcionalidade para a determinação de quanto de agilidade seria
necessário63. Nesse contexto, o Scrum é adaptável de acordo com as necessidades da
organização, podendo ser adotado de maneira híbrida64, em conjunto com outras
metodologias, especialmente, como propõe a presente pesquisa, com o kanban.
Na aplicação da metodologia ágil nos escritórios de advocacia, deve-se indicar o
product owner para representar a equipe, o scrum master, como coordenador dos prazos e
tarefas, e os desenvolvedores - no caso, os advogados - para executarem as tarefas. Isso
porque as equipes jurídicas precisarão ser planas, e não piramidais 65, de modo que a equipe
será estruturada de forma auto-organizável e dotada de autonomia para priorizar tarefas e
definir como elas serão executadas.
Igualmente, o uso adequado do método kanban nos escritórios de advocacia
colaboram com o Scrum e possibilitam o aumento de agilidade nas produções, visto que há
melhora na colaboração dos envolvidos nos processos, pois todos têm acesso ao andamento
de todos os prazos, abrindo espaço para discussão de teses e estratégias, bem como traz
transparência ao andamento do trabalho no escritório. A transparência no andamento das
rotinas dentro do escritório e da execução de tarefas é essencial à produtividade, visto que
evita trabalho redobrado, com constante questionamento acerca das tarefas, bem como troca
de e-mails e relatórios pormenorizados.
Diante desse cenário, com o compartilhamento de todas as informações acerca das
tarefas e a autonomia das equipes, desenvolve-se internamente a colaboração, o que
potencializa a eficiência da entrega de resultados aos clientes, uma vez que eles podem
63
LEE, Gwanhoo; XIA, Weidong. Toward Agile: An Integrated Analysis of Quantitative and Qualitative Field
Data on Software Development Agility. MIS Quarterly, v. 34. n. 1, p. 87-114, 2010, p. 105.
64
IAMANDI, Oana; POPESCU, Sorin; DRAGOMIR, Mihai; MORARIU, Cristina. A critical analysis of
project management models and its potential risks in software development. Quality Management. v. 16. n.
149, p. 55-61, 2015, p. 60.
65
DAVIS, Anthony E. The Future of Law Firms (and Lawyers) in the Age of Artificial Intelligence. Revista
Direito GV, v. 16, n. 1, Jan./Apr. 2020, p. 7.
19
participar ativamente do processo, elencando o que é mais importante e o que de fato possui
interesse de receber de forma antecipada.
Unindo as metodologias ágeis apresentadas nesta pesquisa, verifica-se que o quadro
do kanban será o referencial para as reuniões diárias do Scrum, debatendo-se as prioridades
e identificando as interrupções do fluxo de trabalho, em conjunto com toda a equipe.
Conforme Gonçalves et al., apontam, as principais competências nas equipes ágeis são
“conhecimento técnico especializado, conhecimento de métodos ágeis de projetos,
comunicação, saber trabalhar em equipe, capacidade de execução, flexibilidade, liderança,
colaboração e proatividade”66.
Nesse sentido, os métodos ágeis estão sendo utilizados como inovações de processos,
agregando valor ao trabalho executado no cotidiano das equipes67. Inclusive, deve-se
destacar que o uso do Trello como instrumento de gerenciamento ágil de processos, aponta
evidências na melhora de apresentação de resultados na área educacional68.
Desse modo, verifica-se que as características da aplicação das metodologias ágeis
são hígidas a melhorar o prazo e escopo dos projetos em decorrência de “fixação de metas
compatíveis, auxílio de mudanças necessárias no projeto, comprometimento da equipe e
facilitação de fluxo de trabalho”, bem como aumentar o grau de satisfação do cliente e da
própria equipe69.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo teve como objetivo principal mostrar a relevância da aplicação dos
métodos ágeis nos escritórios de advocacia, em especial os métodos Scrum e kanban, os
quais podem ser utilizados para apresentar uma maior efetividade na produção e
desenvolvimento de trabalhos internos, inclusive trazendo uma maior satisfação do cliente
para com seus advogados e os serviços prestados.
66
GONÇALVES, Laila Cristina Couto; OLIVEIRA, Silvia Alves. Assumpção de; PACHECO, Jéssica
Carvalho Amaral; SALUME, Paula Karina. Competências requeridas em equipes de projetos ágeis: um estudo
de caso em uma Edtech. Revista de Gestão e Projetos. v. 11, n. 3, p. 72-93, set/dez. 2020, p. 90.
67
ALVES, Eder Junios; BAX, Marcello Peixoto; GONÇALVES, Carlos Alberto. Métodos Ágeis sob a Ótica
da Informação. Inf. Inf., Londrina, v. 22, n. 3, p. 178 – 210, set./out. 2017, p. 203.
68
ISABELLA, Anderson de Ramada; SCAFUTO, Isabel Cristina. Implementação do Método Ágil com a
Utilização da Plataforma Trello no Gerenciamento de Projetos Educacionais. Revista CESUMAR. v. 25, n. 1,
p. 228-239, jan./jun., 2020.
69
OLIVEIRA, Ricardo Lair Franco; PEDRON, Cristiane Drebes. Métodos Ágeis: Uma Revisão Sistemática
sobre Benefícios e Limitações. Brazilian Journal of Development. v. 7. n. 1, p. 4520 - 4535, 2021, p. 4531.
20
REFERÊNCIAS
ALVES, Eder Junios; BAX, Marcello Peixoto; GONÇALVES, Carlos Alberto. Métodos
Ágeis sob a Ótica da Informação. Inf. Inf., Londrina, v. 22, n. 3, p. 178 – 210, set./out. 2017.
AZANHA, Adrialdo, Argoud, Ana Rita Tiradentes Terra; CAMARGO JÚNIOR, João
Batista de; ANTONIOLLI, Pedro Domingos (2017). Agile project management with Scrum:
A case study of a Brazilian pharmaceutical company IT project. International Journal of
Managing Projects in Business, v. 10. n. 1, p. 121–142, 2017.
21
DAVIS, Anthony E. The Future of Law Firms (and Lawyers) in the Age of Artificial
Intelligence. Revista Direito GV, v. 16, n. 1, Jan./Apr. 2020.
DIGITAL. AI. 14th Annual State of Agile Report. 2020. Disponível em <
https://stateofagile.com/>. Acesso em 20 fev. 2021.
FONTES, Marcelo Henrique Ferreira. Implantação de metodologia ágil de projetos com uso
de Scrum e Kanban na produção de conteúdos educacionais. 2020. 71 f. Dissertação
(Mestrado Profissional em Administração do Desenvolvimento de Negócios) - Universidade
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020.
LEE, Gwanhoo; XIA, Weidong. Toward Agile: An Integrated Analysis of Quantitative and
Qualitative Field Data on Software Development Agility. MIS Quarterly, v. 34. n. 1, p. 87-
114, 2010.
OLIVEIRA, Ricardo Lair Franco; PEDRON, Cristiane Drebes. Métodos Ágeis: Uma
Revisão Sistemática sobre Benefícios e Limitações. Brazilian Journal of Development. v. 7.
n. 1, p. 4520 - 4535, 2021.
1. INTRODUÇÃO
Os operadores do direito, que tentam fazer com que o direito resguarde direitos e
acompanhe as relações humanas, passou a ter uma nova preocupação: como dar segurança
e resguardar garantias nas relações em um ambiente intangível?
Embora a migração de muitas atividades e ações para o meio virtual já fosse um
movimento esperado, como a pandemia de COVID-19, que assola o mundo desde o final de
2019, esta deu um salto gigantesco. Um reflexo dessa migração e o grande número de
conflitos – comerciais, pessoais, entre outros – havidos por meio digital.
Ambiente este, onde, algumas tecnologias, ainda são desconhecidas não só dos
próprios detentores de direitos como por grande parcela dos operadores do direito. A
70
Advogado. Especialista em Direito Digital e Proteção de Dados pela (EBRADI), LLM em Direito e Processo
tributário (FMP).
71Abreviação de Aplicação móvel, que é um software desenvolvido para ser instalado em um dispositivo
eletrônico móvel – exemplo: celular, tablet, entre outros.
72TEIXEIRA, Tarcísio. Direito digital e processo eletrônico. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 249.
24
Prova é um instrumento jurídico pelo qual se demostra ao julgador, nos mais diversos
procedimentos73, a ocorrência ou não de um fato, conforme apresentam Rennan Thamay e
Maurício Tamer74:
73Procedimentos estes que podem ser: oficiais - processo judicial, procedimento arbitral, procedimentos
oficiais administrativos (como o processo administrativo disciplinar - PAD), entre outros; como não oficiais -
tratativas de acordo, investigações internas de empresas, entre outros.
74THAMAY, Rennan Faria Krüger, TAMER, Maurício Antonio. Provas no direito digital: conceito de prova
digital, procedimentos e provas digitais em espécie. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 28.
25
A expressão “prova”, para Daniel Willian Granado, pode ser definida em dois
significados: “[…] um objetivo, abrangente dos meios destinados a convencer o juiz dos
fatos relativos ao processo; outro subjetivo, relativo à '‘convicção que as provas produzidas
geram no espírito do juiz quanto à existência ou inexistência dos fatos’"75.
A prova não apenas é um meio destinado a convencer alguém – entenda-se aqui não
somente o Juiz/Estado, nos meios oficiais, como os mais diversos julgadores nas diversas
aplicações da prova, meios não oficiais – como também traz uma característica tríplice de
meio, resultado e atividade, conforme ensina Arruda Alvim76:
75ALVIM, Eduardo Arruda. GRANADO, Daniel Willian. FERREIRA, Eduardo Aranha. Direito processual
civil. 6.ed. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 599.
76ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria geral do processo e do processo de conhecimento.
17. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: ed. RT, 2017, p. 830.
77MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Prova e convicção, 5. ed., rev., atual, e ampl. São
Paulo: Ed. RT, 2019. p. 68.
78Nesse ponto, os autores trazem de forma mais eloquente e extensa o conceito depreendido nesse paragrafo,
como se observa: “Os fatos ocorrem no respectivo plano, no plano fático. A eles cumpre dar a leitura jurídica
devida a partir da construção normativa que deles se extrai. Os meios probatórios são os instrumentos por meio
dos quais os fatos saem do plano puramente fático e adentram aos processos ou procedimentos. Deixam de ser
puramente fatos para representar um acontecimento, dentro do processo ou procedimento, juridicamente apto
a levar o destinatário ao convencimento sobre o interesse jurídico respectivo. Meios probatórios, são, assim,
esses meios de transferência ou trans porte dos fatos de fora dos processos ou procedimentos para dentro. O
que os diferencia e permite, por assim dizer, a categorização na expressão provas em espécie, é onde e como
os fatos foram registrados e, por consequência, como se dará essa transferência para dentro dos processos e
procedimentos. Assim, por exemplo, se o fato foi registrado na memória de alguém, a prova testemunhal será
26
o meio probatório habilitado a levar tal fato para dentro do processo ou procedimento. Se o fato estiver
registrado em determinado documento (compra e venda de imóvel, recibo de pagamento, certidão de
nascimento ou óbito, postagem em mídia social, envio de e-mail etc.), a prova documental seria o meio apto.
Se a transferência do fato para dentro do processo ou procedimento depender de sua tradução técnica
especializada (digital, médica, de engenharia etc.), a prova pericial será o meio próprio.” (THAMAY, Rennan
Faria Krüger, TAMER, Mauricio Antonio. Provas no direito digital: conceito de prova digital, procedimentos
e provas digitais em espécie. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 30 -31).
79 Nesse ponto, sobre o direito constitucional à prova, interessante verificar o aprofundamento feito por José
Roberto dos Santos Bedaque, que define: “Natureza constitucional do direito à prova. A premissa estabelecida
no item anterior, além de compatível como escopo do processo, confere efetividade à garantia da ampla
produção probatória, cuja natureza constitucional é incontroversa. O acesso efetivo à prova é direito
fundamental, compreendido nas ideias de acesso à justiça, devido processo legal, contraditório e ampla defesa
(art. 5.°, XXXV, LIV e LV da CF/1988). Assegurar o direito de ação, no plano constitucional, é garantir o
acesso ao devido processo legal, ou seja, ao instrumento tal como concebido pela própria Constituição Federal.
Entre os princípios inerentes ao processo, destacam-se o contraditório e a ampla defesa. Expressões diferentes
para identificar o mesmo fenômeno: a necessidade de o sistema processual infraconstitucional assegurar às
partes a possibilidade da mais ampla participação na formação do convencimento do juiz. Isso implica,
evidentemente, a produção das provas destinadas à demonstração dos fatos controvertidos. Contraditório
efetivo e defesa ampla compreendem o poder conferido à parte de se valer de todos os meios de prova possíveis
e adequados à reconstrução dos fatos constitutivos, impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
afirmado. O direito à prova é componente inafastável do princípio do contraditório e do direito de defesa [...].
Necessário examiná-lo do ponto de vista da garantia constitucional ao instrumento adequado à solução das
controvérsias, dotado de efetividade suficiente para assegurar ao titular de um interesse juridicamente protegido
em sede material a tutela jurisdicional. Em última análise, o amplo acesso aos meios de prova constitui
corolário natural dos direitos de ação e de defesa. Para que o processo possibilite real acesso à ordem jurídica
juta, necessária a garantia da produção da prova, cujo titular é, em princípio, a parte, mas não exclusivamente
ela, pois ao juiz, como sujeito interessado no contraditório efetivo e equilibrado e na justiça das decisões,
também assiste o poder de determinar as provas necessárias à formação de seu convencimento.” (BEDAQUE,
José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz, 7. ed., rev., atual. e ampl., São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2013, p. 25-27).
80REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1986. p 60.
27
Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A
desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento
obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de
ilegalidade ou de inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido,
porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua
estrutura mestra. Isto porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que os sustêm e
alui-se toda a estrutura nelas esforçada.
Desta feita, constata-se que os princípios, por sua essência, trazem mandamentos
imperativos, cogentes, e que sua afronta ou negativa, trarão ao ato – que o afrontou ou o
denegou – uma carga de ilegalidade e/ou inconstitucionalidade. Assim, cientes da
importância dos princípios no ordenamento jurídico brasileiro, passaremos a análise dos
princípios constitucionais aplicáveis – abordando apenas o que entendemos serem os mais
relevantes – referentes às provas.
2.2.1 – Contraditório, ampla defesa e vedação a prova obtida por meio ilícito
meio para aferir a prova) que estiverem a seu alcance. Em outras palavras, o que a lei não
proíbe expressamente pode ser utilizado como meio de prova. Tal afirmação é de suma
importância para este estudo, uma vez que o direito não acompanha de forma integral a
evolução tecnológica (que traz novas tecnologias e técnicas diariamente), existindo nesse
interregno um lapso de amparo legal, devendo o operador do direito valer-se das normas
programáticas do sistema, como os princípios, para se tentar uma garantia jurídica em pontos
aos quais a legislação ainda não avançou ou se manifestou. Em suma a ampla defesa consiste
no direito de produzir provas e manifestações em direito admitidas (vedada a produção de
prova por meio ilícito87), tendo um papel fundamental essa compreensão dentro do contexto
digital e das novas tecnologias, por trazerem uma nova gama de formas para essa efetivação
e comprovação desses direitos constitucionalmente garantidos, que nem sempre vêm
amparados pela legislação.
87 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: […] LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos” (grifo nosso) (BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> Acesso em:
05 mar. 2021).
88THAMAY, Rennan Faria Krüger, TAMER, Maurício Antonio. Provas no direito digital: conceito de prova
digital, procedimentos e provas digitais em espécie. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 18-19.
30
perfazem em suportes fáticos e esses são demonstra dos a partir dos meios
probatórios, nada mais coerente que o ordenamento processo viabilize a realização
da prova e que tal atividade goze das possibilidades ajustadas à realidade. Por sua
vez, o acesso jurisdicional efetivo é aquele que, com a redundância necessária da
expressão, de fato traz resultados efetivos em relação aos fins a que se propõe.
89O autor compreende que o sistema constitucional e processual brasileiro foi pensado para que houvesse uma
garantia de certeza das decisões com um respeito a jurisprudência, o que na prática não se apresentou efetivo.
A fim de recuperar e, realmente, efetivar esse pensamento (mais de 26 anos após a promulgação da Constituição
da República) o novo CPC trouxe uma ideia mais firme nesse ponto – com a criação do Incidente de
uniformização de jurisprudência – que visa um maior respeito a jurisprudência e tenta trazer uma segurança
jurídica de que as decisões serão respeitadas, replicadas e mantidas.
31
a elucidação do processo. Nesse ponto cabe ressaltar que existem fatos que não dependem
de prova, como os elencados no Art. 374 do CPC90: “Não dependem de prova os fatos: I –
notórios; II – afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária; III – admitidos no
processo como incontroversos; IV – em cujo favor milita presunção legal de existência ou
de veracidade”. Assim, por serem incontroversos entre os litigantes, estes fatos não
necessitam de prova.
Seguindo a lógica processual da produção probatória, entramos no ônus da prova
(ônus no dicionário tem como sinônimos – incumbência, encargo tarefa), ou seja, a quem
cabe fazer a prova. Com o intuito de apenas apresentar, de forma sucinta (já que o tema
poderia ser objeto de um livro, como recorrentemente o é) para dar um norte ao leitor,
abordaremos o ônus da prova apenas pelo critério estático e distributivo do ônus da prova,
nesse ponto elucida Fernando da Fonseca e Camilo Zufelato91:
Dessa forma temos que a prova poderá ter três modelos92 de modificação quanto a
regra do ônus da prova: a) modificação convencional (as partes consensualmente
O documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos fatos que
o escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião ou o servidor declarar que ocorreram
em sua presença (art. 405, CPC). Como já aventado acima, quando a lei exigir
instrumento público como da substância do ato, nenhuma outra prova, por mais
especial que seja, pode suprir-lhe a falta (art. 406, CPC). Quando, no entanto, o
documento feito por oficial público incompetente ou sem a observância das
formalidades legais, sendo subscrito pelas partes, tem a mesma eficácia probatória
do documento particular (art. 407, CPC)
Obviamente, havendo inversão legal do ônus da prova, a situação probatória do autor fica muito mais cômoda.
c) modificação judicial: em caráter excepcional autoriza o juiz a distribuir o ônus da prova de modo diverso
ao estabelecido na lei (distribuição dinâmica do ônus da prova). O art. 373, §§ 1º e 20 do CPC permite a
distribuição diversa ônus da prova desde que o juiz o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar
à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído, quando diante de peculiaridades da
causa relacionadas (a) à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo conforme a regra
geral de distribuição do ônus da prova, ou (b) à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário.
(GAJARDONI, Fernando Fonseca. ZUFELATO, Camilo. Tribunais e MPU - Processo Civil - Para Analista.
6ª edição revista, atualizada e ampliada. Salvador: Jus Podivm, 2017, pg. 242-243).
93 GAJARDONI, Fernando Fonseca. ZUFELATO, Camilo. Tribunais e MPU - Processo Civil - Para
Analista. 6ª edição revista, atualizada e ampliada. Salvador: Jus Podivm, 2017, p. 250.
33
Diante do descrito, para que possamos entrar no sistema da prova que as partes
podem produzir, ou seja, a prova particular ou a livre prova (desde que a lei não exija forma
específica – como demonstrado a cima), cabe trazer a definição de documento eletrônico e
documento digital, uma vez que na doutrina arquivista internacional e na nacional 94 (nesse
ponto o sistema brasileiro é regido pelo CONARQ – Conselho Nacional de Arquivos –
instituição que é vinculada ao Arquivo Nacional do Ministério da Justiça e é órgão do
SINAR – Sistema nacional de Arquivos) apresentam distinções que são de suma importância
para os operadores do direito, como vemos:
CPC, mas a definição trazida pelo CPC no artigo 441: “Serão admitidos documentos
eletrônicos produzidos e conservados com a observância da legislação específica”, traz um
questionamento: tendo-se em vista os avanços tecnológicos – que variam de minuto a minuto
– se a forma de produção ou armazenamento ainda não estiver sido previsto na legislação o
quê faz o operador?
Nesse ponto é necessário retornarmos aos ensinamentos de José Miguel Garcia
Medina e Teresa Arruda Alvim Wambier95: "Considera-se documento qualquer
representação material de um fato. Assim, filmes, fotografias, documentos eletrônicos
(considera-se, ex vi legis, documentos) são, cada um ao seu modo, documentos”.
A legislação – nesse ponto a inovação se deu pela lei 11.419/2006 - Dispõe sobre a
informatização do processo judicial – que nos traz a possibilidade da digitalização de
documentos físicos e a utilização de documentos produzidos eletronicamente como meio
admissível de prova, nesse ponto leciona Tarcísio Teixeira96:
A preocupação da legislação é dar higidez a prova, fazendo com que ela não seja
adulterada, forjada, ou de qualquer outra forma modificada, a fim de macular o processo, e
não afrontar o princípio da vedação a utilização de prova obtida por meio ilícito. Ao
analisarmos a legislação anterior devemos tratar de uma distinção: documento digitalizado
(documento físico que é transformado em eletrônico), o documento digital (geralmente
produzido por meio eletrônico como as extensões PDF e DOC e assinado ou não
eletronicamente, o e-mail, as mensagens trocadas em um aplicativo de vídeos produzidos e
mantidos na plataforma digital – exemplo: Youtube)
95MEDINA, José Miguel Garcia, e WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Processo civil moderno. São Paulo:
RT, 2009, v. 1, p. 217.
96TEIXEIRA, Tarcísio. Direito digital e processo eletrônico. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 254-255.
35
97TEIXEIRA, Tarcísio. Direito digital e processo eletrônico. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 251.
98TEIXEIRA, Tarcísio. Direito digital e processo eletrônico. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 259-260.
36
99Traduzido do texto “A blockchain is a distributed computing architecture where a computer is called a node
if they are participating in the blockchain network. Every node has full knowledge of all the transactions that
have occurred, information is shared. Transactions are grouped into blocks that are successively added to the
distributed database. Only one block at a time can be added, and for a new block to be added it has to contain
a mathematical proof that verifies that it follows in sequence from the previous block. The blocks are thus
connected to each other in a chronological order”. (BERGQUIST, Jonatan H. Blockchain technology and smart
contracts: Privacy-preserving tools. 2017.62f. Dissertação (Mestrado), Uppsala Universitet, Uppsala, 2017, p.
11. Disponível em: <http://uu.diva-portal.org/smash/get/diva2:1107612/FULLTEXT01.pdf> Acesso em: 07
mar. 2021).
100THAMAY, Rennan Faria Krüger, TAMER, Maurício Antonio. Provas no direito digital: conceito de prova
digital, procedimentos e provas digitais em espécie. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 174.
37
A segurança da rede se dá pelo fato de que cada bloco trazer a informação de todos
os anteriores, e que todos os blocos da cadeia têm a mesma informação, ou seja, uma vez
colocado uma informação na rede, esta nunca mais poderá ser apagada. Com vistas a essa
funcionalidade, cada vez mais surgem plataformas que disponibilizam a tecnologia para
efetivação e registro de atos e/ou documentos.
Nesse ponto, com os avanços da tecnologia e com o alto custo de atas notariais, cada
vez mais os operadores do direito têm se utilizado da tecnologia para a efetivação e
armazenamento de atos da vida digital. Os tribunais já estão se deparando, ainda de forma
muito incipiente, com a utilização dessa nava forma de armazenamento de provas, como se
observa no julgamento da 5ª Câmara de Direito Privado do TJ/SP101, que de forma indireta
reconhece o armazenamento, como se observa:
101TJSP, Agravo de Instrumento n° 2237253-77.2018.8.26.000, 5* C. Dir. Privado, Rel. Des. Fernanda Gomes
Machado, j. 19.12.2018.
38
4. CONCLUSÃO
O presente trabalho teve como objetivo (i) demonstrar o sistema legal da prova,
passando pela teoria geral da prova, abordando o conceito de prova, seus princípios
norteadores, o objeto da prova e o ônus da prova (ii) em um segundo ponto apresentou-se o
conceito de prova documental, sua estruturação junto a legislação: prova digital e prova
eletrônica e se abordou a aplicação da tecnologia Blockchain no sistema de validação e
102THAMAY, Rennan Faria Krüger, TAMER, Maurício Antonio. Provas no direito digital: conceito de prova
digital, procedimentos e provas digitais em espécie. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 177-178
39
armazenamento da prova.
A abordagem desse trabalho foi de trazer ao leitor um panorama quanto a prova,
trazendo a legislação (em especial a Constituição), os princípios e a doutrina como base do
estudo, mas não deixando de apresentar a jurisprudência a cerca dos pontos abordados. O
intuito não foi o de esgotar o tema, longe disso, a preocupação foi a de trazer uma
amostragem – concisa, porém levemente aprofundada – do que está acontecendo no mundo
referente ao tema abordado e de instigar o leitor a procurar aprofundamento sobre o tema, e
assim enriquecer a discussão.
A tecnologia ainda é um tema pouco abordado na academia, o que faz com que boa
parte dos operadores do direito tenham certa resistência a sua utilização. Em contraponto a
tecnologia permeia nossa vida, cada vez mais estamos conectados e dependentes da
tecnologia, nossas relações se dão no âmbito digital, quase que diariamente, nada mais justo
que o estudo da prova (que no processo serve para comprovar a existência, ou não, de uma
fato) seja vista pela forma da tecnologia.
A Blockchain se apresenta como uma alternativa mais econômica do que as
existentes (podendo custar 1/20 do valor de uma ata notarial) e segura (em que pese a
segurança jurídica dos documentos registrados em uma ata notarial, estes ainda podem sofrer
alterações e modificações) o que não pode ocorrer no sistema, que é, hoje em dia,
incorruptível e imutável. Com todas esses pontos favoráveis a sua desmistificação e estudo
deve ser cada vez mais incentivado dentro do direito.
Em suma, o presente trabalho tentou trazer as vantagens de se pensar o direito pela
perspectiva da tecnologia, sem deixar as garantias legais inerentes, mas de pensar formas
alternativas e seguras para a perfectibilização dos direitos. Assim, apresentando a tecnologia,
sua aplicação e o seu condessamento com o direito vigente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria geral do processo e do processo
de conhecimento. 17. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: ed. RT, 2017.
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz, 7. ed., rev., atual. e
ampl., São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.
MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Prova e convicção, 5. ed., rev.,
atual, e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2019.
MEDINA, José Miguel Garcia, e WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Processo civil
moderno. São Paulo: RT, 2009, v. 1.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 12ª ed. – São Paulo:
Malheiros, 2000.
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 1986.
TEXEIRA, Tarcisio. Direito digital e processo eletrônico. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
TJSP, Agravo de Instrumento n° 2237253-77.2018.8.26.000, 5* C. Dir. Privado, Rel. Des.
Fernanda Gomes Machado, j. 19.12.2018.
41
THAMAY, Rennan Faria Krüger, TAMER, Maurício Antonio. Provas no direito digital:
conceito de prova digital, procedimentos e provas digitais em espécie. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2020.
Leiluce Guedes103
1. INTRODUÇÃO
103
Pós-graduada em Direito Processual Civil. Especialista em Direito Digital. Graduada em Administração
de Empresas. Advogada – OAB/RJ n° 170.691.
43
104
Inteligência artificial pode ter várias definições, como a ciência e engenharia de produzir sistemas
inteligentes. Outro conceito relaciona-se a área de pesquisa da computação dedicada a buscar métodos ou
dispositivos computacionais que possuam ou multipliquem a capacidade racional do ser humano de resolver
problemas, pensar ou, de forma ampla, ser inteligente. Também pode ser definida como o ramo da ciência da
computação que se ocupa do comportamento inteligente ou ainda, o estudo de como fazer os computadores
realizarem coisas que, atualmente, os humanos fazem melhor. (LUGER, 2004).
105
SOLOVE, Daniel. Understanding Privacy. Cambridge. Harvard University Press, 2008.
44
106
PINHEIRO e Peck, P. Proteção de dados pessoais - comentários à Lei n. 13.709/2018 LGPD, São Paulo,
2018
107
WARREN, Samuel D.; BRANDEIS, Louis, D. Right to privacy. Harvard Law Review, v. IV, n. 5,
December, 1890. Disponível em: http://faculty.uml.edu/sgallagher/Brandeisprivacy.htm. Acesso em:
26/05/2021.
108
RODOTÀ, Stefano. A vida na sociedade da vigilância. Rio de Janeiro: Renovar, 2008
45
109
Regulamento 2016/679 da União Européia. Disponível em: https://gdpr-info.eu/, acesso em 29/05/2021
110
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Rio de Janeiro, Forense, 2021
46
111
DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais. Rio de Janeiro, Renovar, 2006.
47
112
A expressão Internet das Coisas, é utilizada para designar a conectividade e interação entre vários tipos de
objetos do dia a dia, sensíveis à internet. (SANTOS; PEDRO, 2016, p. V apud MAGRANI, 2018, p. 44)
48
113
O machine learning (cuja tradução para o português é aprendizado de máquina) é um método de análise de
dados que automatiza a construção de modelos analíticos. É um ramo da inteligência artificial baseado na ideia
de que sistemas podem aprender com dados, identificar padrões e tomar decisões com o mínimo de intervenção
humana.
49
4. RISCOS À PRIVACIDADE
Conforme já mencionado, Big Data é uma ferramenta que amplia a capacidade das
organizações, partindo da vigilância e do monitoramento da vida dos indivíduos, num
processo de análise e interpretação de um grande volume de dados coletados remotamente.
Tudo que está disponível on-line, independente da diversidade da fonte ou da informação,
seja aparentemente irrelevante ou consideravelmente importante, está ao alcance do Big
Data, pode ser recolhido e futuramente agrupado conforme o interesse da organização que o
detém.
50
114
Software que avalia réus americanos cria injustiças na vida real: Tribunais americanos utilizam programa
para basear decisões judiciais. Disponível em: a ProPublica testou o software e descobriu graves
distorçõeshttps://apublica.org/2016/06/software-que-avalia-reus-americanos-cria-injusticas-na-vida-real/,
acesso em 28 de junho de 2021.
53
de posse de dados pessoais não fornecidos e rastros digitais identificados de seus usuários
realizam interferência no custo do serviço oferecido, de modo a ferir obrigações legais de
igualdade e transparência.
Talvez a grande questão relacionada à proteção de dados diante do Big Data seja o
fato de que as informações geradas com um objetivo claro e determinado são arquivadas,
transformadas em dados e depois reutilizadas para outros objetivos. Os exemplos
demonstraram que os efeitos da manipulação de dados podem ocorrer na esfera privada
atingindo a vida de determinado indivíduo de forma leve como no caso da Target, ou podem
colocar em risco a democracia de um país como nas eleições americanas de 2016 e até
interferir na sentença de prisão de um indivíduo, conforme no caso do sistema penal
americano.
Em vigor desde 2020, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) começa a aplicar
sanções às empresas e organizações que não estiverem em conformidade, a partir de agosto
deste ano e promete mudar a forma como as instituições públicas e privadas tratam as
informações pessoais. A lei tem o objetivo de colocar o país no patamar de outras nações
americanas e das europeias, que há muitos anos possuem leis específicas para tratar da
proteção de dados e da privacidade no ambiente virtual.
A LGPD tem por objetivo a criação de regras para o uso de dados pessoais (leia-se
pessoas físicas, já que as jurídicas não estão contempladas nessa lei). Estabelece, como
âmbito de aplicação dessas regras, toda operação realizada com dados pessoais, como as que
se referem à coleta, recepção, utilização, arquivamento, comunicação, transferência, etc.
Inclui-se aí qualquer meio de obtenção da informação, seja digital ou físico. Segundo a
norma, dados pessoais são as informações que podem identificar alguém - são não somente
o nome, mas endereço, telefone, CPF, etc. A lei dá ainda maior segurança ao tratamento dos
dados sensíveis, que são aquelas informações relacionadas à origem racial ou étnica,
convicções religiosas, opiniões políticas, orientação sexual, saúde ou vida sexual,
informações essas passíveis de discriminação se expostas ou vazadas.
No âmbito do Big Data espera-se que a lei traga mudanças, visto que traz previsões
e regulamentações a respeito da obtenção de dados pessoais, técnicas de mineração e
tratamento de dados. O artigo 20 da Lei, por exemplo, declara que o titular dos dados tem o
54
5. CONCLUSÃO
poder daqueles que detêm as informações, quais sejam as empresas manipuladoras dos dados
pessoais. Constatamos, a partir daí, um paradoxo entre a grandiosidade das bases de dados
das organizações e de todos os movimentos que podem advir da manipulação pelas
organizações de Big Data, com a necessidade de proteção da privacidade e da intimidade
que é direito de todo indivíduo.
Nesse novo momento exige-se uma mudança em relação à visão anterior do direito
de intimidade, em que se buscava garantir um controle sobre os dados pessoais pelo próprio
indivíduo, o que parece não ser mais possível nessa nova realidade. Todo esse movimento
acelerado e sem precedentes, em decorrência de sua íntima capacidade de interferir na
efetivação de direitos individuais, desafia princípios que devem ser observados no
tratamento de dados pessoais como o direito à intimidade e privacidade.
Diante de todas essas transformações, uma luz tem surgido. A legislação brasileira,
que aos poucos tem sido implantada, introduz regulação estatal sobre uma realidade
contemporânea. A ética dos operadores das redes digitais e das empresas de marketing da
era digital, agora diante da Lei Geral de Proteção de Dados, tem um novo patamar e devem
se adequar a tal realidade. Medidas como a criação da LGPD são necessárias ao
desenvolvimento social saudável, tanto dentro do mundo virtual como fora dele.
O cenário para concretização de um sistema específico de proteção de dados pessoais
se mostra bem encaminhado no Brasil, embora exija a adequação dos agentes econômicos
interessados nas vantagens e benefícios decorrentes das atividades de tratamento de dados
pessoais. Da mesma forma, um movimento no sentido de conscientização dos titulares
quanto ao valor de seus dados se faz necessário para adequada aplicação das normas e
funcionamento desse sistema. Por ora resta aguardar a completa vigência da lei, para ser
possível averiguar se seus moldes bastarão ou não à segurança do cidadão.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, Maria Amália Oliveira de. A gestão de dados pessoais por grandes empresas:
considerações geopolíticas e jurídicas. Cadernos Adenauer XX: Proteção de dados pessoais:
privacidade versus avanço tecnológico. Rio de Janeiro, 2019.
BIONI, Bruno. Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Rio de Janeiro, Forense, 2021
56
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 8. ed. rev. ampl. São Paulo: Paz e Terra, 1v,
2005.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, Teoria Geral do Direito Civil, 1.
vol., São Paulo, Ed. Saraiva, 1982.
LANEY, Doug. 3D Data Management: Controlling Data Volume, Velocity, and Variety
(2001). https://blogs.gartner.com/doug-laney/files/2012/01/ad949-3D-Data-Management-
Controlling-Data-Volume-Velocity-and-Variety.pdf. Acesso em 26 de maio de 2021.
LEONARDI, Marcel. Fundamentos de Direito Digital. 4ª ed. Rio de Janeiro: RT, 2012.
LUGER, George F. Inteligência Artificial. 6º ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil,
2004.
MAGRANI, Eduardo A internet das coisas. Rio de Janeiro : FGV Editora, 2018.
MARTINS, Daniel. Big Data, revolução digital e o Direito, 2019. Disponível em:
http://mercurylbc.com/bigdata-revolucao-digital-e-o-direito/. Acesso em 04 de Maio de
2021
MARTINS Guilherme Magalhães. Direito Privado e Internet. São Paulo: Atlas, 2014.
SILVA NETO, A. M.. Privacidade na Internet – Um Enfoque Jurídico. São Paulo: Edipro,
2001.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 10. ed., São Paulo,
Malheiros Editores, 1992.
WARREN, Samuel D.; BRANDEIS, Louis D. The right to privacy. Harvard Law Review,
1890.
WINER, J. Globalization and the Harmonization of Law. London: BookEns Ltd, 1999.
58
115
Advogada. Bacharel em Direito pela PUCRS. Com expertise em direito autoral e processo civil. Membra
do Grupo de estudos de direito e inovação e Direito Digital pela ESA/RS. Membra do grupo de direito digital
ministrado pelo Professor Juliano Madalena
116
MARQUES, Claudia Lima. Diálogo das fontes. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 25.
117
Código das melhores práticas de governança corporativa. 5.ed. / Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa. - São Paulo, SP: IBGC, 2015. p. 20-21.
59
BOAS PRÁTICAS
Tratam-se de medidas técnicas e organizativas adequadas utilizadas de fato para
proteger os dados pessoais. Sem ter a intenção de exaurir, mas à título exemplificativo:
I - Documentos físicos
Antes de qualquer atitude, as boas práticas devem-se iniciar nas atitudes simples do
cotidiano da empresa, com a política da mesa limpa, desligando o monitor do computador
quando se ausentar e a segurança de dados nos próprios documentos físicos.
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), através do Boletim Informativo nº 09
119
, traz alguns parâmetros para os trâmites de documentos físicos, senão vejamos:
118
LEONARDI. Marcel. Tutela e privacidade na internet. São Paulo: Ed. Saraiva. 2011. p.148
119
https://www.gov.br/gsi/pt-br/assuntos/dsi/boletim-informativo-mensal-1/boletim-informativo-
no09.pdf/view
60
Com isso, nota-se que atitudes simples se mostram adequadas para garantir a
segurança dos dados que tramitam de forma física, sendo uma forma eficaz de mitigação de
riscos de incidentes.
120
loc. cit.
61
121
SCHERTEL. Laura. Privacidade e dados pessoais, Panorama Setorial da Internet, nº 02, Junho, 2019, p. 14.
63
Alyane Dornelles122
Marina Risson123
122
Advogada. Bacharel em Direito pela PUCRS. Especialista em Direito Digital e Proteção de Dados pela
Escola Brasileira de Direito. Membra do Grupo de estudos de direito e inovação e Direito Digital pela ESA/RS.
123
Advogada. Bacharel em Direito pela UFN com expertise em compliance e direito civil. Especialista em
Direito do Trabalho pela PUCRS. Membra do Grupo de estudos de direito e inovação pela ESA/RS.
124
MULLER,Sabine, Alexandre Morais da Rosa. LGPD- Lei Geral de Proteção de Dados dispositivo legal que
alterou a forma de tratamento dos dados pessoais no Brasil. Iasc,2020. Disponível em
<https://iasc.org.br/2020/12/lgpd-lei-geral-de-protecao-de-dados-dispositivo-legal-que-alterou-a-forma-de-
tratamento-dos-dados-pessoais-pelas-empresas-no-brasil>. Acesso em: 05 de março de 2021
125
SÁ, Marcelo Dias de. Análise do impacto da nova lei de proteção de dados pessoais nas aplicações de
internet das coisas. Brasília,2019, p. 15
64
A Lei de Proteção de Dados (LGPD) tem como um dos seus propósitos essenciais a
proteção dos direitos fundamentais da pessoa natural, bem como de seus dados pessoais,
uma vez que fazem parte da sua personalidade e intimidade.
Neste seguimento ZANON (2012)126 explica que os bens jurídicos tutelados pela
privacidade e pelo direito à proteção dos dados pessoais não são coincidentes. Na
privacidade tutela-se a integridade psíquica do indivíduo (a necessidade humana de ter para
si uma esfera de reserva). A proteção dos dados pessoais resguarda a pessoa de não ser
discriminada pelas suas crenças religiosas, suas opiniões políticas e filosóficas, por sua etnia,
condições de saúde ou orientação sexual; proteger os dados pessoais significa também evitar
que o indivíduo seja impedido de acessar bens e serviços, a princípio só oferecidos àqueles
com ‘boas credenciais’; conferir proteção aos dados pessoais implica, ainda, livrar-se de
etiquetas e chancelas.
O direito à privacidade, esfera do direito à vida privada, está intimamente conectado
à proteção da dignidade e personalidade humanas. (SARLET, Ingo Wolfgang, 2012, p.
390)127. O reconhecimento da proteção de dados como um direito autônomo e fundamental
não deriva de uma dicção explícita e literal, porém da consideração dos riscos que o
tratamento automatizado traz à proteção da personalidade à luz das garantias constitucionais
de igualdade substancial, liberdade e dignidade da pessoa humana, juntamente com a
proteção da intimidade e da vida privada. (DONEDA, D. 2014. cap. 3).128
Na sociedade da informação, a privacidade deve ser entendida de forma funcional,
de modo a assegurar a um sujeito a possibilidade de “conhecer, controlar, endereçar,
interromper o fluxo das informações a ele relacionadas” (RODOTÀ, 2008, p. 92)129.
Assim, o direito à privacidade é explicado como um direito que um indivíduo tem de
se destacar (se separar) de um grupo, isolando-se da observação dele ou como, ainda, o
direito ao controle das informações veiculadas sobre si mesmo. (FERNANDES, 2017, p.
487)130.
126
ZANON, João Carlos. Direito à Proteção dos Dados Pessoais. Dissertação (Mestrado em Direito). PUCSP,
2012. p.178-179.
127
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 390.
128
DONEDA, D. O Direito Fundamental à Proteção de Dados Pessoais. In: MARTINS, G. M. (Coord.) et al.
Direito Privado & Internet. São Paulo: Atlas, 2014. cap. 3.
129
RODOTÀ, 2008, p. 92
130
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional / Bernardo Gonçalves Fernandes. 9
ed. Ver., ampl. E atual. – Salvador: JusPOIVM, 2017. p. 487.
65
Nessa toada, verificamos que a proteção de dados, dada sua extrema importância,
ganha status de direito fundamental, sendo, portanto, um marco legislativo crucial ante a
preocupação social com a proteção à privacidade, frente ao avanço da tecnologia e o
compartilhamento de dados que a Lei Geral de Proteção de Dados visa tutelar.
131
COMENALE, Felipe Becari. O direito na sociedade da informação. Jus, 2018. Disponível em: <
https://jus.com.br/artigos/65068/o-direito-na-sociedade-da-informacao>. Acesso em: 05/03/2021.
132
https://blogs.cisco.com/sp/the-zettabyte-era-officially-begins-how-much-is-that
https://www.networkworld.com/article/3325397/idc-expect-175-zettabytes-of-data-worldwide-by-2025.html
133
CISCO. The Zettabyte Era: trends and analysis. Cisco, jun. 2016. Disponível em: http://
66
gigabytes será superada e o cálculo da quantidade de dados será feito na ordem zettabyte e
até mesmo em yottabyte134. Então, significa dizer que a produção do tráfego de dados é
imensa, infinita e incalculável. Surgindo daí a necessidade de regulação da arquitetura da
rede com intuito de preservar o titular de dados frente a esse emaranhado de dados decorrente
da intensa atividade online (LESSING, 2008)135 .
Com a massiva produção de dados surge a ideia de vigilância onipresente, que
segundo EBERLIN (2020)136 pode ser assim classificada:
A partir desse cenário nos deparamos com o conceito de “big data” (EBERLIN,
2020), que comumente é caraterizado pelos “4Vs”, sendo eles: volume, velocidade,
variedade e veracidade.
É importante lembrar que o “big data” não apresenta um amontoado de dados
pessoais que podem ser processados, mas também as formas pelas quais os dados de uma
determinada área pode ser relacionados, com os dados de outras áreas e analisados para
realizar novas inferências e descobertas (RICHARDS, 2017)137.
Deste modo as leis de proteção de dados advêm da preocupação mundial acerca da
necessidade de, mesmo que minimante, fornecer ao titular destes dados maior controle e
autonomia em sua utilização.
Portanto, cumpre-nos discorrer acerca da classificação de o que é dado, assim
partimos da premissa que dados são distribuídos entre pessoais e pessoais sensíveis, e são
eles que a Lei Geral de Proteção de Dados visa proteger.
A Lei Geral de Proteção de Dados, introduz a distinção entre “dados pessoais” e
“dados pessoais sensíveis”. O motivo dessa distinção é estabelecer uma camada adicional de
www.cisco.com/c/en/us/solutions/collateral/service-provider/visual-networking-index-
-vni/vni-hyperconnectivity-wp.html.
134
Gigabyte é uma unidade de medida de informação que equivale a 1.000.000.000 bytes; zettabyte é uma
unidade de informação que corresponde a 1.000.000.000.000.000.000.000.
(1021) bytes; e yottabyte é uma unidade de medida de informação que equivale a 1024 bytes.
135
LESSIG, L. Code version 2.0. Unknown: Edição do Kindle, 2008.
136
EBERLIN, Fernando Büscher von Teschenhausen. Direitos da Criança na Sociedade da Informação:
Ambiente Digital, Privacidade e Dados Pessoais. 1. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2020. v. 1. 280p.
137137
RICHARDS, Neil m. The dangers of Surveillance. Harvard Law Review, [s.1], v. 126, n.7, p 1934-1965,
maio 2013.
67
proteção aos dados pessoais que o legislador compreende como mais importantes ao titular
de dados, no sentido que o seu eventual vazamento (ou acesso não autorizado) acarretaria
maiores prejuízos a ele138.
A lei classifica dados pessoais como qualquer informação que possa ser relacionada
a uma pessoa natural identificada ou identificável, e dado pessoal sensível como dados
acerca da origem ética e racial, preferência religiosa, opinião partidária, filiação sindical,
filosófica, política, e dados de saúde, orientação e vida sexual, dado genético e biométrico
vinculados à pessoa natural.
É fato que todas as empresas, de certo modo possuem dados pessoais e sensíveis,
mesmo que este não seja o seu o seu objeto principal de negócio.
Quando a finalidade da empresa não é a utilização de dados139, verificamos a
existência de tais dados especialmente nos recursos humanos, marketing, cadastro de
clientes, fornecedores e parceiros.
Feita essa consideração inicial é sobre esse aspecto que o presente trabalho se
debruça, sobre como as pequenas e microempresas podem mapear os dados que possuem e
estar em conformidade com a lei, o que esmiuçaremos melhor nos próximos tópicos.
138
MALDONADO, Viviane Nóbrega. BLUM, Renato Ópice. LGDP - Lei Geral de Proteção de Dados
Comentada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019.
139
Grandes players do mercado em que movimentam a economia com base em informação e publicidade
direcionada baseada em dados.
140
MIRANDA, Marcelo Gonçalves, Lei Geral de Prote¸c˜ao de Dados – LGPD. 2019. p. 4
68
Realizando o cotejo, temos que, o mapeamento de dados vem para cumprir com a
exigência do artigo 37 da Lei Geral de proteção de dados que determina que o controlador e
o operador devem manter registro das operações de tratamento de dados pessoais que
realizarem, especialmente se baseado no legítimo interesse.
Conforme dispõe PINHEIRO, Patrícia Peck Garrido (2019)142 nesse contexto surge
um dos mais importantes métodos de adequação ao novo Código de Defesa da Privacidade:
o mapeamento de dados, figura essa que permite demostrar de que forma a corporação
141
Rodolfo Pamplona Filho e Vicente Vasconcelos Coni Junior, A LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
PESSOAIS E SEUS IMPACTOS NO DIREITO DO TRABALHO, Universidade de Salvador, 2020,
disponível em https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/view/6744 acesso em 06/03/2021
142
PINHEIRO, Patrícia Peck Garrido. Nova lei brasileira de proteção de dados pessoais (LGPD) e o impacto
nas instituições públicas e privadas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019. p. 74-76.
69
responsável pela gestão de dados pessoais está lidando com a privacidade e segurança da
informação de seus titulares.
Nesse sentido NÓBREGA, Viviane (2019) 143 elenca alguns dos pontos essenciais
que devem estar contidos no mapeamento de dados:
TEMA ITEM
Tipo de Dados Categorias de dados trafegadas nesse fluxo (ex:
cadastrais, transacionais, especiais, sensíveis,
trabalhistas, etc.)
Volume de Dados O volume de dados trafegados nesse fluxo e a
frequência desse tráfego (ex: online, diária, semanal,
mensal, etc.)
Etapas do fluxo de dados Descrição das etapas de tratamento do fluxo: coleta,
armazenagem, sanitização, enriquecimento,
processamento, segmentação, inferências,
transferências, descarte.
Tecnologias Apontar as principais tecnologias utilizadas nesse
fluxo de dados. (ex: sistemas, aplicações, bancos de
dados que suportam o fluxo, etc.)
Locais de Armazenamento Indicar os locais onde o dado é coletado,
armazenado, tratado ou processado. Nesse momento,
deve-se indicar se é internamente ou externamente.
Origem dos Dados Indicar as principais origens dos dados (entradas) e
canais de captura de dados (ex: site, aplicativos,
estabelecimentos físicos, SAC, parceiros, empresas
coligadas, etc.)
Campanhas de Marketing Informar como os dados pessoais são tratados
visando campanhas de marketing. Indicar quais os
tipos de dados pessoais são utilizados.
143
Adaptado de LGPD: Lei Geral de Proteção de Dados pessoais: manual de implementação. Viviane
Nóbrega Maldonado (coord.). São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019.
70
o Software terceirizados;
O mapeamento dos dados pessoais é a principal ação a ser tomada na sua gestão
de riscos. Ele envolve tanto os dados de clientes quanto os de colaboradores e é o
que vai garantir que a sua empresa está em conformidade com a lei. Esse processo
tem como objetivo identificar quais dados estão em posse da empresa e assegurar
sua privacidade dos dados, salvaguardando empresas que porventura possam vir a
enfrentar problemas como vazamentos, denúncias e afins. A adequação pode ser
um processo demorado, dependendo do estágio de aderência da empresa à Lei
Geral de Proteção de Dados.
144
VARELLA, Luísa. Tratamento de dados: como fazer em compliance com a LGPD? 17 de fev. de 2020.
Disponível em: https://www.compugraf.com.br/tratamento-de-dados-comofazer-em-compliance-com-a-lgpd/.
Acesso em 05 de mar. de 2020.
72
negativos o custo excessivo de compliance para com as leis de proteção de dados e de certa
maneira a oposição à inovação.
Nesse cenário é bom lembrar que discretamente a ANPD (Agência Nacional de
Proteção de Dados) vem sendo instituída no Brasil. E a ela compete145, a edição de normas
e orientações para micro e pequenas empresas no processo de adequação.
Em 29/01/2021 o referido órgão iniciou uma pesquisa de tomada de subsídios sobre
a regulamentação da aplicação da LGPD, para microempresas e empresas de pequeno porte
e startups. Desde já, é importante referir que é possível que existam flexibilizações, ou
edições de normas mais especificas para àquelas empresas que se enquadrem no conceito de
micro/pequena empresa e startups146.
Muito embora se espere que haja adoção de critérios objetivos para implementação
destinadas as PME’s, podemos utilizar como norte, estudo comparado com a GDPR (
General Data Protection Regulation). Por exemplo, na Europa, o DPO147 só é exigido das
empresas que tratam grandes volumes de dados. Ou quando esses dados têm potencial de
risco para seus titulares. Assim, não necessariamente as PMEs precisarão de um DPO.148 No
entanto é preciso dizer que enquanto a ANPD não editar resolução que dispense a presença
do encarregado do tratamento de dados, a LGPD é aplicável a todos os tipos de negócio.
Assim importante iniciar o mapeamento de dados através de uma mobilização inicial,
qual seja: envolvimento dos empresários para verificação de quais dados são coletados e
armazenados. E verificar se há necessidade de armazenamento destes dados, aqui a máxima
de quanto mais dados melhor deve ser rechaçada (MALDONADO, 2019).
Simplificar processos para melhor atender as PME’s também perpassa em conhecer
o tipo de negócio e o mapeamento de todas as áreas de negócio que tratam dados pessoais e
possuem o condão de, em caso de vazamento destes dados, causar danos aos titulares de
dados. Maldonado (2019), sugere que a adequação ao plano de implementação a realidade
das pequenas e médias empresas devem englobar:
145
Art. 55-J. Compete à ANPD: (...) XVIII - editar normas, orientações e procedimentos simplificados e
diferenciados, inclusive quanto aos prazos, para que microempresas e empresas de pequeno porte, bem como
iniciativas empresariais de caráter incremental ou disruptivo que se autodeclarem startups ou empresas de
inovação, possam adequar-se a esta Lei;
146
https://www.gov.br/anpd/pt-br/assuntos/noticias/ainda-na-semana-internacional-da-protecao-de-dados-
anpd-inicia-tomada-de-subsidios-sobre-microempresa < Acesso em 05/03/2021>
147
Data protection officer equivalente ao encarregado na LGPD
148
Maldonado
73
149
O termo compliance, deriva do verbo em inglês to comply, e segundo Marcela Blok, “ é estar em
conformidade é o dever de cumprir regulamentos internos e externos impostos às atividades da instituição.
“Ser compliance” equivale a conhecer as normas da organização, seguir os procedimentos recomendados, agir
em conformidade e sentir o quanto é fundamental a ética e a idoneidade em todas as atitudes humanas e
empresariais. [...] De forma sucinta Compliance é o conjunto de esforços para atuar em conformidade com leis
e regras diversas inerentes às atividades da empresa, assim como estar em consonância com códigos de ética e
políticas de conduta internas da corporação. BLOCK, Marcella. Compliance e Governança Corporativa. 1. Ed. Rio de Janeiro:
Editora Freitas Bastos, 2007. 290 ISBN 97888579872822.
74
150
Advogado. Especialista em Processo Civil pela Verbo Jurídico. Pós-graduando em Proteção de dados e
Direito Empresarial pela Legale. DPO certificado pela ASSESPRORS. Membro do Grupo de estudos de
direito e inovação e Direito Digital pela ESA/RS.
151
MINISTÉRIO DA ECONOMIA, Governo destaca papel da Micro e Pequena Empresa para economia do
país. Disponível em: < https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2020/outubro/governo-destaca-
papel-da-micro-e-pequena-empresa-para-a-economia-do-pais > Acesso em 05 de março de 2021.
75
também que são justamente as empresas menores as que terão maiores dificuldades de
adequação e implementação da Lei Geral de Proteção de Dados.
Em Portugal, a realidade econômica das empresas quase não difere da realidade
brasileira. Conforme dados152 do INE – Instituto Nacional de Estatísticas – e o Gabinete de
Estratégias e Estudos (GEE), as micro e pequenas empresas representam 96,3% dos negócios
portugueses.
As regulações para tratamento de dados no Brasil e em Portugal, impõem um verdadeiro
desafio para as pequenas e microempresas que coletam e tratam os dados pessoais, haja vista
que, estas empresas não possuem condições financeiras e nem ferramentas ou ainda, recursos
humanos para a efetiva adequação e implementação das leis.
Embora a previsão da LGPD de que todas as empresas que têm acesso a dados pessoais
estão obrigadas a cumprir a lei, o mesmo diploma legal no seu artigo 55-J, inciso XVIII
determina que a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) deverá dispensar
tratamento diferenciado e especial para as micro e pequenas empresas. É o que vem disposto
no artigo 55-J, inciso XVIII da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais que assim dispõe:
Temos então, que o legislador delegou à ANPD a edição de normas e orientações para
que as PMEs se adequem à LGPD. Compete, portanto, a Autoridade Nacional de Proteção
de Dados, promover e ofertar condições para as pequenas empresas, de modo que as faça
cumprir a lei, não somente atuando sob a égide das punições e sanções previstas.
As sanções administrativas que a LGPD prevê em caso de descumprimento, são
advertência, publicização da infração, bloqueio para utilização dos dados (penalidade que
impede a empresa de tratar os dados), eliminação dos dados pessoais, além de multa que
varia de 2% do faturamento da empresa até o limite de R$ 50 milhões por infração conforme
anteriormente mencionado.
152
PORTUGAL, Gabinete de estratégia e estudos Ministério da Economia <
https://www.gee.gov.pt/pt/documentos/estudos-e-seminarios/participacao-em-conferencias/2018-12/2707-
investimento-num-mercado-estavel-e-aberto/file > Acesso em 05 de março de 2021.
76
153
ESPANHA, Agencia Española Protéccion Datos – A Guide to Privacy by Design <
https://www.aepd.es/sites/default/files/2019-12/guia-privacidad-desde-diseno_en.pdf > Acesso em
05.03.2021
154
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2018/2018/lei/L13709compilado.htm > Acesso em 06.03.2021
77
155
BRASIL, Tecnoblog – LGPD: Punições serão aplicadas somente a partir de agosto de 2021 <
https://tecnoblog.net/345726/lgpd-punicoes-serao-aplicadas-a-partir-de-agosto-de-2021/ > Acesso em
06.03.2021
78
1. INTRODUÇÃO
156
Advogada com atuação em Direito Digital, Compliance, Empresarial e Responsabilidade Civil decorrente
de trânsito. CEO da empresa Tecnologia de Formação em Trânsito SA. Especialista em Responsabilidade Civil
e MBA Executivo em Direito em andamento na área de Gestão e Business Law. Data Protection Officer (DPO)
certificada pelo Serpro/Datashield. Membro da Comissão Especial de Direito de Trânsito da OAB/RS e
moderadora do Grupo de Estudos de Direito de Trânsito pela Escola Superior de Advocacia (ESA) – gestão
2019 e 2020. Professora e Palestrante. Membro fundadora e vice-secretária da ABATRAN – Associação
Brasileira de Advogados de Trânsito.
157
Veríssimo, Carla. Compliance : incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2017,
pág. 13.
158
https://www.oabrs.org.br/arquivos/file_605906e164ff6.pdf. Acessado em 04 de julho de 2021.
79
Pode ser afirmado com tranquilidade que as lojas virtuais (e-commerce), pelo grau
de dados coletados, sejam os dados financeiros para pagamento dos produtos adquiridos, até
as informações de perfil de consumo de seus clientes, deverão adotar políticas rigorosas de
implantação de compliance digital, com controle de segurança de fornecedores, treinamento
constante da equipe de vendas, canal de denúncia, anonimização de dados de clientes e outras
práticas que iremos abordar de forma pormenorizada no presente artigo.
No primeiro capítulo será esclarecido o contexto em que surgiu as práticas de
compliance e a evolução do tema também para o direito digital, de proteção de dados, além
do conceito de compliance digital e sua relevância para empresas privadas, trazendo à tona
o que deve ser levado em consideração para que uma empresa veja como um meio
competitivo e necessário em sua organização. No segundo capítulo será abordado o impacto
da Lei Geral de Proteção de Danos (LGPD) e o mapeamento e avaliação de riscos que as
empresas e instituições deverão implementar em seu cotidiano. O terceiro e derradeiro
capítulo, abordará as boas práticas na implantação de compliance digital em lojas virtuais
(e-commerce), tema extremamente necessário e urgente nos dias de hoje.
159
VERÍSSIMO, Carla. Compliance : incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2017,
pág. 14.
160
Idem. Pág. 15.
80
Em que pese o tema tenha tomado relevância nos últimos anos, em decorrência do
uso massivo de dados pessoais, o Brasil foi considerado pioneiro ao tratar sobre o assunto
quando instituiu o Habeas Data com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual
se mostra perfeitamente atual quando trata sobre direitos e garantias fundamentais. Ainda,
antes do advento da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), já tínhamos debates
e normas fragmentadas e assistemáticas, como as previstas no Código Civil, Código de
161
https://www.oabrs.org.br/arquivos/file_605906e164ff6.pdf. Acessado em 04 de julho de 2021.
81
162
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
Pág. 14.
163
Idem. Pág. 15.
164
DE LIMA, Ana Paula M. Canto, HISSA, Carmina Bezerra e SALDANHA, Paloma Mendes Saldanha,
coord. Direito digital: debates contemporâneos – 1 ed.- São Paulo: Thomas Reuters Brasil, 2019, pág. 265.
82
Para os colaboradores, seria o local apropriado para debater sobre assuntos éticos, morais e
seguros, sem privilégios a pessoas ou análise de resultado financeiro que podem trazer para
a empresa.
Implantar mecanismos de compliance digital nas empresas é transformá-las em
instituições competitivas, por estarem em conformidade com o ordenamento jurídico no que
pertine à segurança da informação e possuírem uma gestão de qualidade. Embora não seja
tarefa fácil, por exigir constante evolução, em pouco espaço de tempo será requisito para
contratações de fornecedores, sendo habitual em empresas que fazem exportação de
produtos e serviços.
HISSA e GALAMBA165 sustentam que a legislação de proteção de dados obriga
todas as empresas a se adequarem e implantarem uma estrutura de compliance voltada à
LGPD, eis que a norma cria a figura do controlador, que seria o responsável pelas decisões
referentes ao tratamento de dados pessoais do usuário (aquele que decide quais dados
pessoais são coletados, transmitidos, processados e até excluídos).
Por mais que não pareça necessário para microempreendedores ou consultórios e
clínicas em geral, atualmente o sistema mais comum de gerenciamento de dados de clientes
são armazenados nas nuvens, justamente pela facilidade de acesso e controla à distância, o
que de alguma forma já potencializa o risco envolvido.
Entende-se que na sociedade atual, em que os dados são capturados em quase todos
os produtos e serviços, e os avanços tecnológicos fomentam ideias e inovações, devemos
estar conscientes de que se um dado existe, ele está sujeito a ataques, vazamentos e outros
riscos. Nesse sentido, ZAMPERLIN (2019)166 ensina que a educação digital é um direito de
todos e deve ser promovida na medida em que ela é aliada fundamental para o exercício
dessas aptidões.
A capacitação dos trabalhadores para novos negócios e tecnologias não deve ser vista
como um ônus do empregador, mas sim como um elemento estratégico de gestão empresarial
e de investimento em educação digital corporativa e profissionalização da companhia.
Apesar de muitos especialistas em LGPD insistirem em tratar o tema como
“adequação à lei geral de proteção de dados”, SAAVEDRA (2020)167 esclarece que os
165
DE LIMA, Ana Paula M. Canto, HISSA, Carmina Bezerra e SALDANHA, Paloma Mendes Saldanha,
coord. Direito digital: debates contemporâneos – 1 ed.- São Paulo: Thomas Reuters Brasil, 2019, pág. 119.
166
DE LIMA, Ana Paula M. Canto, HISSA, Carmina Bezerra e SALDANHA, Paloma Mendes Saldanha,
coord. Direito digital: debates contemporâneos – 1 ed.- São Paulo: Thomas Reuters Brasil, 2019, pág. 236.
167
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
83
conceitos utilizados são os mesmos da área de compliance, tais como tone from the top,
Código de Ética e de Conduta, Políticas, Procedimentos e Controles internos, Investigações
Internas, Treinamentos, Canais de Denúncia, auditoria, Due diligence, risk assessment etc.,
indicando que o termo compliance digital se torna adequado para tratar sobre o tema.
Assim como a Lei Anticorrupção, a LGPD estimula a implantação de compliance
nas empresas, inserindo a necessidade de boas práticas quando se coleta e trata dados
pessoais, além de atribuir às empresas a responsabilidade pela divulgação em eventual
incidente. A autora HISSA (2019)168 esclarece que:
168
DE LIMA, Ana Paula M. Canto, HISSA, Carmina Bezerra e SALDANHA, Paloma Mendes Saldanha,
coord. Direito digital: debates contemporâneos – 1 ed.- São Paulo: Thomas Reuters Brasil, 2019, pág. 125.
169
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
170
VERÍSSIMO, Carla. Compliance : incentivo à adoção de medidas anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2017,
pág. 274.
84
171
DE LIMA, Ana Paula M. Canto, HISSA, Carmina Bezerra e SALDANHA, Paloma Mendes Saldanha,
coord. Direito digital: debates contemporâneos – 1 ed.- São Paulo: Thomas Reuters Brasil, 2019, pág. 266 e
267.
172
Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2021/06/22/sistemas-do-grupo-fleury-
caem-empresa-diz-que-foi-alvo-de-ataque-hacker.ghtml. Acessado em 03/07/21.
85
173
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
86
174
Disponível em: https://gdpr-info.eu/art-25-gdpr/. Acessado em 03/07/21.
175
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
176
https://exame.com/tecnologia/samsung-pede-que-clientes-evitem-discutir-assuntos-pessoais-em-frente-de-
sua-smarttv/
177
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
178
https://exame.com/tecnologia/pessoas-com-pouca-bateria-no-celular-pagam-mais-no-uber/
179
Art. 46. Os agentes de tratamento devem adotar medidas de segurança, técnicas e administrativas aptas a
proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas de destruição, perda,
alteração, comunicação ou qualquer forma de tratamento inadequado ou ilícito.
§ 1.º A autoridade nacional poderá dispor sobre padrões técnicos mínimos para tornar aplicável o disposto no
caput deste artigo, considerados a natureza das informações tratadas, as características específicas do
tratamento e o estado atual da tecnologia, especialmente no caso de dados pessoais sensíveis, assim como os
princípios previstos no caput do art. 6.º desta Lei.
87
apesar de não identificar as medidas de segurança que deverão ser adotadas pelas
organizações, até pela incapacidade de o texto legal acompanhar os avanços tecnológicos de
forma eficaz, repassa ao órgão ou empresa privada a responsabilidade de demonstrar aptidão
em aderir à técnicas de compliance como estratégia de governança.
A Diretiva UE 2016/680180, em seus mais de 100 (cem) ‘considerandos’ esclarece no
Considerando n.º 51 que:
§ 2.º As medidas de que trata o caput deste artigo deverão ser observadas desde a fase de concepção do produto
ou do serviço até a sua execução.
Art. 47. Os agentes de tratamento ou qualquer outra pessoa que intervenha em uma das fases do tratamento
obriga-se a garantir a segurança da informação prevista nesta Lei em relação aos dados pessoais, mesmo após
o seu término.
Art. 48. O controlador deverá comunicar à autoridade nacional e ao titular a ocorrência de incidente de
segurança que possa acarretar risco ou dano relevante aos titulares.
Seção II
Das Boas Práticas e da Governança
Art. 50. Os controladores e operadores, no âmbito de suas competências, pelo tratamento de dados pessoais,
individualmente ou por meio de associações, poderão formular regras de boas práticas e de governança que
estabeleçam as condições de organização, o regime de funcionamento, os procedimentos, incluindo
reclamações e petições de titulares, as normas de segurança, os padrões técnicos, as obrigações específicas para
os diversos envolvidos no tratamento, as ações educativas, os mecanismos internos de supervisão e de
mitigação de riscos e outros aspectos relacionados ao tratamento de dados pessoais.
§ 1.º Ao estabelecer regras de boas práticas, o controlador e o operador levarão em consideração, em relação
ao tratamento e aos dados, a natureza, o escopo, a finalidade e a probabilidade e a gravidade dos riscos e dos
benefícios decorrentes de tratamento de dados do titular.
§ 2.º Na aplicação dos princípios indicados nos incisos VII e VIII do caput do art. 6.º desta Lei, o controlador,
observados a estrutura, a escala e o volume de suas operações, bem como a sensibilidade dos dados tratados e
a probabilidade e a gravidade dos danos para os titulares dos dados, poderá:
I – implementar programa de governança em privacidade que, no mínimo:
a) demonstre o comprometimento do controlador em adotar processos e políticas internas que assegurem o
cumprimento, de forma abrangente, de normas e boas práticas relativas à proteção de dados pessoais;
b) seja aplicável a todo o conjunto de dados pessoais que estejam sob seu controle, independentemente do
modo como se realizou sua coleta;
c) seja adaptado à estrutura, à escala e ao volume de suas operações, bem como à sensibilidade dos dados
tratados;
d) estabeleça políticas e salvaguardas adequadas com base em processo de avaliação sistemática de impactos
e riscos à privacidade;
e) tenha o objetivo de estabelecer relação de confiança com o titular, por meio de atuação transparente e que
assegure mecanismos de participação do titular;
f) esteja integrado a sua estrutura geral de governança e estabeleça e aplique mecanismos de supervisão internos
e externos;
g) conte com planos de resposta a incidentes e remediação; e
h) seja atualizado constantemente com base em informações obtidas a partir de monitoramento contínuo e
avaliações periódicas;
II – demonstrar a efetividade de seu programa de governança em privacidade quando apropriado e, em especial,
a pedido da autoridade nacional ou de outra entidade responsável por promover o cumprimento de boas práticas
ou códigos de conduta, os quais, de forma independente, promovam o cumprimento desta Lei.
§ 3.º As regras de boas práticas e de governança deverão ser publicadas e atualizadas periodicamente e poderão
ser reconhecidas e divulgadas pela autoridade nacional. Art. 51. A autoridade nacional estimulará a adoção de
padrões técnicos que facilitem o controle pelos titulares dos seus dados pessoais.
180
Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-
content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016L0680&rid=1#:~:text=O%20exerc%C3%ADcio%20das%20fun%
C3%A7%C3%B5es%20de,o%20que%20lhes%20%C3%A9%20solicitado. Acessado em 04/07/2021.
88
181
Não possui tradução na língua Portuguesa, tendo um significado mais abrangente ao atribuir a um indivíduo
ou organização a obrigação de aceitar a responsabilidade, deveres e consequências de todas as suas ações, e
demonstrá-las de forma transparente.
182
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
89
183
Idem.
184
Da Silva, Nelson Ricardo F e outros. Análise De Risco Parametrizada 2.0, e-Book Kindle.
185
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
186
Disponível em: https://blog.focal-point.com/understanding-the-differences-between-pias-and-the-gdprs-
dpias. Acessado em 03/07/21.
187
Essa análise também serve para reconhecer ou prover medidas mitigatórias necessárias para evitar ou reduzir
os riscos identificados. Essa metodologia atua como um facilitador da implementação da privacy by design,
exigido pela GDPR.
90
identificar riscos, que surgem do processamento de dados pessoais e para minimizar esses
riscos ao máximo e o mais rápido possível188.
Após a realização de uma avaliação de risco de dados, do data mapping, do PIA e do
DPIA, a instituição estará apta e munida de informações suficientes para elaborar um projeto
de implementação de Compliance Digital. As legislações exigem, porém, que a Privacy by
Design seja implantada na aplicação da implementação do Compliance Digital, conforme já
descrito e detalhado acima.
Além disso, é de suma importância que a instituição tenha um Código de Ética e de
Conduta instituído, a fim de que os colaboradores e todas as partes envolvidas possuam
ciência dos valores da empresa, bem como haja a criação de um comitê interno de dados e
informações sobre o canal de denúncias da empresa, procedimento em que haverá a
investigação de eventuais acusações de forma ética, imparcial e assertiva.
Como boa prática na implantação de compliance digital, com previsão no art. 41 da
LGPD189, é a nomeação de um encarregado de dados - Data Protection Officer (DPO) -, o
qual será responsável por gerenciar o sistema de gestão de dados, sendo indicado pelo
controlador com a finalidade de aceitar reclamações e comunicações dos titulares dos dados,
receber comunicações da autoridade nacional de dados de adotar as providências
necessárias, assim como realizar treinamentos e orientar funcionários a respeito das
melhores práticas de privacidade e proteção de dados e executar demais funções que
porventura a autoridade nacional de dados solicitar. No Brasil, muito se discute se o DPO
188
Na GDPR, não estar em conformidade com as exigências da DPIA pode levar à aplicação de multas, que
serão impostas à autoridade de dados da empresa ou organização. As etapas do DPIA seguem passos
semelhantes à implementação de sistemas de gestão de compliance e estão estruturados em descrição do
escopo; avaliação da necessidade e proporcionalidade; medidas existentes; avaliação de riscos; medidas
mitigatórias; documentação e monitoramento e revisão.
189
Seção II
Do Encarregado pelo Tratamento de Dados Pessoais
Art. 41. O controlador deverá indicar encarregado pelo tratamento de dados pessoais.
§ 1º A identidade e as informações de contato do encarregado deverão ser divulgadas publicamente, de forma
clara e objetiva, preferencialmente no sítio eletrônico do controlador.
§ 2º As atividades do encarregado consistem em:
I - aceitar reclamações e comunicações dos titulares, prestar esclarecimentos e adotar providências;
II - receber comunicações da autoridade nacional e adotar providências;
III - orientar os funcionários e os contratados da entidade a respeito das práticas a serem tomadas em relação à
proteção de dados pessoais; e
IV - executar as demais atribuições determinadas pelo controlador ou estabelecidas em normas
complementares.
§ 3º A autoridade nacional poderá estabelecer normas complementares sobre a definição e as atribuições do
encarregado, inclusive hipóteses de dispensa da necessidade de sua indicação, conforme a natureza e o porte
da entidade ou o volume de operações de tratamento de dados.
91
seria um cargo obrigatório a ser implementado na empresa, deixando tal discussão a ser
esclarecida pela ANPD.
Oportuno esclarecer que a função do DPO é meramente consultiva, não podendo ser
responsabilizado por eventual aplicação de sanção ou responsabilidades ao controlador
advindas de violação à LGPD. Não cabe a ele adotar nenhuma medida junto a qualquer
operação de tratamento de dados. Desta forma, encontrando-se ciente dos riscos, cabe ao
controlador a decisão de adotar ou não as orientações do Encarregado.
Ademais, o DPO irá acompanhar o desenvolvimento de protocolos e procedimentos
internos, para que as empresas executem de maneira lícita ações relacionadas aos dados
pessoais que envolvam a coleta, tratamento, armazenamento e gerenciamento de
informações e dados pessoais. Além disso, deverá coordenar a realização de auditorias para
verificar o uso e o processamento dos dados, analisando a conformidade com a legislação.
Sobre os treinamentos e capacitações da equipe em relação a contextualização da
LGPD no ambiente de trabalho, ZAMPERLIN (2019)190 leciona que a capacitação que
ocorre in company permite aos empregados maior possibilidade de reflexão e:
Por isso não há razões para que as empresas promovam treinamentos apenas – e
essa unicidade é frisada – por obrigações legais, em razão da legislação de
compliance ou de proteção de dados, por exemplo. Claro que se houver algum
incidente que implique na responsabilidade da empresa, sua diligência com
treinamentos internos será um dos fatores analisados, e com grande peso, para
mensurar eventual condenação.
Dessa forma, verifica-se que o mapeamento dos riscos da atividade e da proteção dos
dados coletados e armazenados pelas instituições e companhias exigem que haja,
principalmente, análise dos riscos da instituição (risk assessment), inventário e registro de
dados (data mapping), Privacy Impact Assessment (PIA), e o Data Protection Impact
Assessments (DPIA), a fim de permitir a implantação de compliance digital de forma efetiva.
190DE LIMA, Ana Paula M. Canto, HISSA, Carmina Bezerra e SALDANHA, Paloma Mendes Saldanha,
coord. Direito digital: debates contemporâneos – 1 ed.- São Paulo: Thomas Reuters Brasil, 2019, pág. 244.
92
191
Da Silva, Nelson Ricardo F et al. Análise De Risco Parametrizada 2.0, e-Book Kindle.
93
Ainda, é de suma importância que os termos de uso estejam de acordo com a política
interna da empresa e que sejam visíveis e cumpridos em sua integralidade. Os termos de uso
divulgam e esclarecem aos usuários quais as regras para a efetivação da compra. É
extremamente válido, na medida em que servirá como um contrato com o consumidor,
resguardando-lhe de eventuais riscos jurídicos. Neste instrumento haverá a delimitação das
situações em que será responsável por eventual ressarcimento, políticas para devoluções e
eventuais situações em que será afastado o dever de indenizar (de forma proativa).
192
Disponível em: https://www.kaspersky.com.br/resource-center/definitions/cookies. Acessado em 03/07/21.
193
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
94
194
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
95
195
BIONI, Bruno et al (Coords.). Tratado de Proteção de Dados Pessoais. Grupo GEN, 2020. [Grupo GEN].
96
196
Ransomware é um tipo de malware que restringe o acesso ao sistema infectado com uma espécie de bloqueio
e cobra um resgate em criptomoedas para que o acesso possa ser restabelecido. Caso não ocorra o mesmo,
arquivos podem ser perdidos e até mesmo publicados.
197
Disponível em: https://raidbr.com.br/quais-as-diferencas-entre-malware-e-ransomware/. Acessado em
03/07/2021.
198
Injeção de SQL (do inglês SQL Injection) é um tipo de ameaça de segurança que se aproveita de falhas em
sistemas que interagem com bases de dados através de comandos SQL, onde o atacante consegue inserir uma
instrução SQL personalizada e indevida dentro de uma consulta (SQL query) através da entradas de dados de
uma aplicação, como formulários ou URL de uma aplicação.
199
Disponível em: https://www.devmedia.com.br/sql-injection/6102. Acessado em 03/07/2021.
200
Por serem muito parecidos, muitas pessoas confundem os ataques DoS com os DDoS. A principal diferença
entre os dois é na forma com que eles são feitos. Enquanto o ataque DDoS é distribuído entre várias máquinas,
o ataque DoS é feito por apenas um invasor que envia vários pacotes.
Os ataques DoS são bem mais fáceis de evitar com algumas regras em firewalls. Além disso, é preciso uma
conexão de banda larga e um computador capaz de enviar muitos pacotes ao mesmo tempo para que esse tipo
de ataque tenha sucesso.
201
Disponível em: https://www.techtudo.com.br/artigos/noticia/2012/01/entenda-o-que-sao-os-ataques-dos-e-
ddos.html#:~:text=A%20principal%20diferen%C3%A7a%20entre%20os,com%20algumas%20regras%20em
%20firewalls.. Acessado em 03/07/2021.
202
Disponível em: https://ico.org.uk/for-organisations/guide-to-data-protection/guide-to-the-general-data-
protection-regulation-gdpr/lawful-basis-for-processing/contract/. Acesso em 04 de julho de 2021.
97
5. CONCLUSÃO
Em síntese, pode-se concluir que a Lei Geral de Proteção de Dados, absorve boa parte
das regras instituídas pela GDPR e que se rigorosamente aplicada pela Autoridade Nacional
de Proteção de Dados (ANPD) no Brasil, as empresas que possuem menor estrutura
corporativa e de governança, as quais podem apresentam maior vulnerabilidade no
armazenamento dos dados pessoais, irão sucumbir pela falta de estruturação e capacidade de
investir em segurança da informação.
Inicialmente, as lojas virtuais terão a tarefa de mapear os riscos de sua atividade,
sendo necessária a elaboração do PIA, analisando como coletam, usam e compartilham
informações que são pessoalmente identificáveis, e do DPIA, onde a organização deverá
analisar quaisquer riscos potenciais em relação à proteção de dados.
Quanto maior o número de funcionários envolvidos e em contato com os dados
coletados de clientes, maior a vulnerabilidade das empresas, as quais deveriam adotar regras
de anonimização e pseudoanonimização das informações do seu banco de dados. Ainda,
além da proteção em relação ao acesso por parte dos colaboradores, tem-se a necessidade de
criação da cultura de proteção de dados, fornecendo treinamentos constantes e veiculando
regras claras no Código de Conduta da Empresa, onde a proteção de dados pessoais dos
clientes são uma constante entre os valores da instituição.
Há ainda a clara indicação de estruturar equipes de trabalho e comitê de ética para o
trabalho permanente acerca da atualização e monitoramento da segurança da informação da
empresa, sendo exigível a nomeação de um Encarregado de Dados (DPO), que será
responsável por coordenar os trabalhos e propor mudanças.
Em se tratando de negócios digitais, como as lojas virtuais, os cuidados serão
redobrados, pois além dos dados coletados de forma habitual em uma empresa, terão dados
financeiros e de profiling (análise do perfil de consumo do cliente através de inteligência
artificial), sendo extremamente necessário o consentimento, informação e transparência,
além da comunicação clara sobre a finalidade da coleta de dados personalizados.
O presente artigo alertou também sobre a necessidade de privacy by design, em que
a privacidade de dados é presente em todos os elementos organizacionais da empresa,
destacando também a necessidade de analisar desde o fornecedor do fornecedor (toda a
99
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2019. Disponível em: https://blog.focal-point.com/understanding-the-differences-between-
pias-and-the-gdprs-dpias. Acesso em 03/07/21.
205
Advogada, consultora jurídica em proteção de dados (LGPD), certificada em DPO pela Assespro-RS,
capacitada em práticas colaborativas pelo IBPC. Graduada pela PUCRS, membro do Grupo de Estudos Direito
e Inovação da OAB/RS. Membro da Comissão Especial de Proteção de Dados e Privacidade- CEPDP-
OAB/RS.
206
Advogada, bacharel em Direito pela ULBRA, especialista em direito tributário pelo IBET, membro do
Grupo de Estudos de Direito e Inovação da OAB/RS
207
Segundo o relatório, 14,2 milhões desses processos, ou seja, 18,5%, estavam suspensos, sobrestados ou
arquivados provisoriamente e esperavam alguma situação jurídica futura. Deste modo, descontando tais
processos, em andamento, ao final de 2019 existiam 62,9 milhões de processos. In Justiça em Números 2020:
ano-base 2019/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2020, p. 93. Disponível em:
https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/08/WEB-V3-Justi%C3%A7a-em-N%C3%BAmeros-2020-
atualizado-em-25-08-2020.pdf. Acesso em: 10 fev. 2021.
208
Justiça em Números 2020: ano-base 2019/Conselho Nacional de Justiça – Brasília: CNJ, 2020, p. 74.
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/08/WEB-V3-Justi%C3%A7a-em-
N%C3%BAmeros-2020-atualizado-em-25-08-2020.pdf. Acesso: em 30 jan. 2021.
209
TARTUCE, Fernanda. Conciliação em juízo: o que (não) é conciliar? In: SALLES, Carlos Alberto de;
LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação,
conciliação e arbitragem - Curso de Métodos adequados de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020, p. 211.
102
210
SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Resolução de Disputas: Métodos Adequados para Resultados Possíveis e
Métodos Possíveis para Resultados Adequados. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos
Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem -
Curso de Métodos adequados de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 13.
211
SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Resolução de Disputas: Métodos Adequados para Resultados Possíveis e
Métodos Possíveis para Resultados Adequados. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos
Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem -
Curso de Métodos adequados de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 14.
212
A doutrina mais recente tem adotado novo significado para a letra A, que passou a designar a palavra
Adequado. Assim, a sigla MASC também pode indicar “meios adequados de solução de conflitos”.
103
Em inglês, a sigla ADR (alternative dispute resolution) vem sendo repensada para
que a letra A passe a representar appropriate: mais do que meramente alternativos,
os mecanismos devem ser adequados para a abordagem da controvérsia a partir da
consideração de fatores como o tipo de litígio e as condições das partes. 214
213
SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Resolução de Disputas: Métodos Adequados para Resultados Possíveis e
Métodos Possíveis para Resultados Adequados. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos
Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem -
curso de Métodos adequados de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 16.
214
TARTUCE, Fernanda. Conciliação em juízo: o que (não) é conciliar? In: SALLES, Carlos Alberto de;
LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação,
conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020, p. 209 - 210.
215
Encontra previsão nos termos do art. 3º, §3º do CPC: “Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional
ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre
que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução
consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do
Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.” BRASIL. Código de Processo Civil (CPC). Lei
n. 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 17 fev. de 2021.
216
BRASIL. Resolução nº 125/2010 do CNJ. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156.
Acesso em 18 fev. 2021.
217
SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Resolução de Disputas: Métodos Adequados para Resultados Possíveis e
Métodos Possíveis para Resultados Adequados. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos
Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem -
curso de Métodos adequados de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 16.
104
218
PAIVA, Fernanda; OBERG, Flávia Maria Rezende Nunes; ARAÚJO, Inês Guilhon de; PASSALACQUA,
Maria Stela Palhares; ALMEIDA, Tânia. Práticas Colaborativas – Uma necessária mudança no Direito de
Família. p. 285 – 286. Disponível em https://ibdfam.org.br/assets/upload/anais/305.pdf Acesso em: 18 fev.
2021.
219
TATAGIBA, Laís Borges. Sujeitos Sem Face. In: MENEZES, Bruna Silva; PADILHA, Gabriel; De Lucca,
Jamile Garcia. Comitê de Jovens Profissionais Colaborativos do Instituto Brasileiro de Práticas
Colaborativas. CJPC Publicações, 2020, p. 15. Disponível em: https://ibpc.praticascolaborativas.com.br/wp-
content/uploads/2020/12/E-book-final-publicar-1.pdf. Acesso em: 18 fev. 2021.
220
Excetua-se a homologação do acordo pelo Poder Judiciário;
105
221
A característica fundamental desse tipo de negociação é que os dois lados envolvidos tentem encontrar uma
solução juntos, de forma que todos saiam ganhando.
222
TATAGIBA, Laís Borges. Sujeitos Sem Face. In: MENEZES, Bruna Silva; PADILHA, Gabriel; De Lucca,
Jamile Garcia. Comitê de Jovens Profissionais Colaborativos do Instituto Brasileiro de Práticas
Colaborativas. CJPC Publicações, 2020, p. 17 - 18. Disponível em:
https://ibpc.praticascolaborativas.com.br/wp-content/uploads/2020/12/E-book-final-publicar-1.pdf. Acesso
em: 18 fev. 2021.
223
INSTITUTO BRASILEIRO DE PRÁTICAS COLABORATIVAS. Práticas colaborativas. Disponível
em: https://ibpc.praticascolaborativas.com.br/quem-somos/. Acesso em: 17 fev. 2021.
106
2.2 Mediação
Vista como mais um meio alternativo de solução de conflito, a mediação foi acolhida
pelo Código de Processo Civil como instrumento efetivo de agilização da solução de litígios,
contribuindo de forma significativa para melhorar a qualidade das relações humanas,
evitando assim o acirramento da controvérsia.
Contudo, além de servir como elemento para antecipar o final de uma demanda
judicial, a mediação também pode ser implementada mesmo antes do ajuizamento de um
processo. Ou seja, a mediação pode ser buscada espontaneamente pelas partes quando se
encontram envolvidas em um problema que não conseguem resolver por esforço próprio.
No nosso ordenamento jurídico, o instituto ganhou impulso a partir da edição da
Resolução nº 125 do CNJ.225 Também podemos destacar a consolidação do instituto nos art.
165226 e seguintes do CPC e ainda a Lei nº 13.140/2015, que dispõe sobre a mediação entre
particulares e no âmbito da Administração Pública.
Nos termos do parágrafo único art. 1º da Lei nº 13.140/2015, temos que:
Art. 1º (...)
Parágrafo único: Considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro
imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e
estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia. 227
224
INSTITUTO BRASILEIRO DE PRÁTICAS COLABORATIVAS. No Direito Cível e Corporativo.
Disponível em: https://ibpc.praticascolaborativas.com.br/no-direito-civel-e-corporativo/. Acesso em: 17 fev.
2021.
225
BRASIL. Resolução nº 125/2010 do CNJ. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/156.
Acesso em 18 fev. 2021.
226
Encontra previsão nos termos do art. 165 do CPC: “Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de
solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação
e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. § 1º A
composição e a organização dos centros serão definidas pelo respectivo tribunal, observadas as normas do
Conselho Nacional de Justiça. § 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer
tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. § 3º O mediador, que atuará
preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a
compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da
comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.” BRASIL.
Código de Processo Civil (CPC). Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 23 fev. 2021.
227
BRASIL. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm. Acesso em: 18 fev. 2021.
107
228
LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes. “Sistema Multiportas”: Opções para tratamento de conflitos
de forma adequada. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA,
Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados
de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p 46.
229
LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes. “Sistema Multiportas”: Opções para tratamento de conflitos
de forma adequada. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA,
Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados
de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p 46.
108
Por fim, vale salientar que a mediação é norteada por princípios como a
informalidade, a imparcialidade, a autonomia da vontade das partes, a confidencialidade,
oralidade, busca do consenso e boa-fé.230
Diante do grande desafio da atualidade, que necessita de um Poder Judiciário que
priorize a celeridade sem sacrificar a segurança dos julgamentos, é extremamente válido a
utilização de institutos como a mediação, que ajuda as partes a transcenderem eventuais
impasses, colaborando para que encontrem novas saídas para solucionar seus conflitos.
2.3 Conciliação
230
Encontra previsão nos termos do art. 2º da Lei nº 13.140/2015. BRASIL. Lei nº 13.140, de 26 de junho de
2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13140.htm. Acesso em:
18 fev. 2021.
231
BRASIL. Código de Processo Civil (CPC). Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 20 fev. 2021.
109
2.4 Arbitragem
232
Encontra previsão na Exposição de Motivos do Código de Processo Civil. Código de processo civil e normas
correlatas. – 7. ed. – Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2015, p. 31. Disponível em
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/512422/001041135.pdf Acesso em 18 de fev. de 2021.
233
TARTUCE, Fernanda. Conciliação em juízo: o que (não) é conciliar? In: SALLES, Carlos Alberto de;
LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação,
conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020, p. 210.
234
As partes poderão nomear um ou mais árbitros, sempre em número ímpar, nos termos do art. 13, §1º da Lei
nº 9.307 de 23 de setembro de 1996.
110
235
Encontra previsão nos termos do art. 3º da Lei nº 9.307/1996: “Art. 3º As partes interessadas podem
submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida a
cláusula compromissória e o compromisso arbitral.” BRASIL. Lei nº 9.307 de 23 de setembro de 1996.
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm Acesso em 18 de fev. de 2021.
236
LORENCINI, Marco Antônio Garcia Lopes. “Sistema Multiportas”: Opções para tratamento de conflitos
de forma adequada. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA,
Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados
de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 62
237
LORENCINI, Marco Antônio Garcia Lopes. “Sistema Multiportas”: Opções para tratamento de conflitos
de forma adequada. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA,
Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados
de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 48.
238
LORENCINI, Marco Antônio Garcia Lopes. “Sistema Multiportas”: Opções para tratamento de conflitos
de forma adequada. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA,
Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados
de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 47.
111
Porém, insta referir que a decisão arbitral tem a mesma força de uma sentença
proferida pelo Poder Judiciário, e possui a natureza de título executivo judicial, como se
infere do art. 515, VII239, do CPC. Portanto, seu cumprimento se dará pela via judicial.
Novamente, esse meio alternativo de resolução de conflitos veio a acrescentar mais
uma forma rápida e eficaz de solução de eventuais litígios que possam surgir nas relações
humanas e comerciais.
ODR é uma sigla em inglês que designa Online Dispute Resolution e pode ser
traduzida como “resolução online de conflitos”.
Basicamente, na resolução online de conflitos são utilizados os mesmos meios
alternativos de solução de controvérsia (MASCs), mas transportados para o meio digital, em
plataformas online.
Dessa forma, as partes não necessitam mais se encontrar em um ambiente físico para
solucionar a controvérsia. Nesse caso, elas se reúnem em salas virtuais. Ou seja, a tecnologia
da informação proporciona às partes mais um meio para dirimir conflitos, seja na totalidade
do procedimento ou somente em parte deste.240
No Brasil, a tendência das ODR (Online Dispute Resolution) é de crescimento tanto
no âmbito do Poder Judiciário quanto no setor privado através das legaltechs.241 Num
contexto de transformação da sociedade gerado por inovações tecnológicas e pelo uso da
comunicação em tempo real, percebeu-se a necessidade de atualização das formas de solução
de conflitos compatíveis com a realidade contemporânea. Além disso, a pandemia da Covid-
19 foi um catalisador para a adoção de métodos online, em função das restrições das
atividades presenciais e a necessidade de isolamento social.
239
Encontra previsão nos termos do art. 515, VII do CPC: “Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo
cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: (...) VII - a sentença arbitral;” BRASIL.
Código de Processo Civil (CPC). Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 03 mar. 2021.
240
O que é ODR (Online Dispute Resolution). Disponível em: https://www.mediacaonline.com/blog/o-que-e-
adr-alternative-dispute-resolution-e-odr-online-dispute-resolution/. Acesso em: 18 fev. 2021.
241
Legaltech ou Lawtech são startups voltadas para o setor jurídico que criam produtos e serviços jurídicos.
Essas empresas desenvolvem serviços e produtos para a rotina de advogados, conectam os cidadãos ao mundo
jurídico através da tecnologia.
112
242
BRASIL. Resolução nº 358/2020 do CNJ. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/3604.
Acesso em 12 fev. 2021.
113
A primeira plataforma de resolução de conflitos online foi criada pela E-bay, uma
loja virtual de compra e venda de produtos (e-commerce) que surgiu em 1995. A E-bay foi
pioneira na área de ODR (Online Dispute Resolution) e, desde sua criação até o ano de 2018
atingiu a extraordinária marca de 60 milhões de casos resolvidos.243 A plataforma
proporciona a solução de disputas entre seus consumidores e vendedores de forma online,
autocompositiva, e se refere às mais variadas questões (pagamento, entrega, defeito do
produto, dentre outros).
Esse sistema de resolução de disputas não necessita de um terceiro para intervir. No
entanto, há a possibilidade da contratação de um mediador no ambiente virtual pelo valor de
US$ 15,00 (quinze dólares) que fica a critério das partes envolvidas. A taxa de acordos atinge
90%, um percentual bastante expressivo.
No Brasil, a empresa Mercado Livre também tem se destacado por proporcionar aos
seus clientes um sistema de ODR, o denominado “Empodera”. A empresa investiu em
marketing para informar seus clientes desse sistema de solução de disputas e os resultados
se revelaram muito positivos, uma vez que a empresa conseguiu a marca impressionante de
98,9% dos casos solucionados.244
Além da referida empresa, existem diversos sistemas de Online Dispute Resolution
no Brasil. A AB2L (Associação Brasileira de Legaltech e Lawtechs) registra 17 empresas
nesse setor. Vejamos:
243
ROSA, Camila da e SPALER, Mayara Guibor. Experiências Privadas de ODR no Brasil. Revista Jurídica
da Escola Superior de Advocacia da OAB-PR. Ano 3 - Número 3 - Dezembro de 2018.
244
SILVEIRO, João Paulo Santos. Sistemas online de resolução de disputas Plataformas digitais podem
ser uma alternativa ao caos do Judiciário? Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-
analise/artigos/sistemas-online-de-resolucao-de-disputas-22092019 Acesso em: 18 fev.2021.
114
245
Disponível em https://www.consumidor.gov.br/pages/indicador/infografico/abrir. Acesso em 21 fev. 2021
246
ROSA, Camila da e SPALER, Mayara Guibor. Experiências Privadas de ODR no Brasil. Revista Jurídica
da Escola Superior de Advocacia da OAB-PR. Ano 3, Número 3, Dezembro de 2018.
115
247
A respeito, LORENCINI refere que: “Pode-se pensar que uma pessoa, diante de um conflito, tem à sua
disposição várias alternativas para tentar solucioná-lo. Pode procurar diretamente a outra parte envolvida e
tentar negociar o impasse sem a interferência de ninguém. Mas pode também procurar um terceiro e este propor
diferentes métodos de solução existentes (mediação, arbitragem, entre outros). Pode ainda procurar um ente
estatal que, dependendo do conflito, ainda que não seja o Poder Judiciário, tente intermediar o impasse. Pode,
ainda, procurar o Estado-Juiz para ajuizar uma demanda. Cada uma das alternativas corresponde a uma porta
que a pessoa se dispõe a abrir, descortinando-se a partir daí um caminho proposto pelo método escolhido.”
“Sistema Multiportas”: Opções para tratamento de conflitos de forma adequada. In LORENCINI, Marcos
Antônio Garcia Lopes. In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA,
Paulo Eduardo Alves da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados
de solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p 56.
248
KESSLER, Daniela. O novo advogado: o sommelier de procedimentos. Instituto ADR Brasil - Estudos,
Gestão e Resolução de Conflitos, 2020. Disponível em: http://www.adrbrasil.org/ Acesso em: 20 fev.2021.
249
Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/dispute-system-design-e-a-gestao-de-
conflitos-em-empresas-24072017. Acesso em 21 fev.2021.
116
Diante desse cenário, é incontroverso que os MASCs, ODRs e DSDs vieram para
ficar. Aliás, representam um importante avanço para a resolução de disputas, demonstrando
que conflitos aparentemente impossíveis de serem solucionados amigavelmente podem ser
resolvidos pela mudança de postura pelo qual se estuda e pratica o Direito.
6 CONCLUSÃO
250
FALECK, Diego. Um passo adiante para resolver problemas complexos: desenho de sistemas de disputas.
In: SALLES, Carlos Alberto de; LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves
da. Negociação, mediação, conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados de solução de
controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 73.
117
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Diogo Assumpção Rezende de. A mediação no novo código de processo civil.
Rio de Janeiro: Forense, 2015.
DIAS, Eduardo Machado. LISBOA, Isabela. Dispute System Design e a gestão de conflitos
em empresas. JOTA Info, 24 jul 2017. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-
analise/artigos/dispute-system-design-e-a-gestao-de-conflitos-em-empresas-24072017.
Acesso em: 21 fev.2021
GAVA, Melissa Felipe. Resolução nº 358 do CNJ é passo adiante na efetivação do acesso à
Justiça. Consultor Jurídico, 14 dez 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-
dez-14/melissa-gava-resolucao-358-cnj. Acesso em: 12 fev. 2021.
PAIVA, Fernanda; OBERG, Flávia Maria Rezende Nunes; ARAÚJO, Inês Guilhon de;
PASSALACQUA, Maria Stela Palhares; ALMEIDA, Tânia. Práticas Colaborativas –
Uma necessária mudança no Direito de Família. Disponível em
https://ibdfam.org.br/assets/upload/anais/305.pdf Acesso em: 18 fev. 2021.
119
SILVA, Cláudio Barros. Reflexões sobre o novo Código de Processo Civil. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2016.
SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Resolução de Disputas: Métodos Adequados para
Resultados Possíveis e Métodos Possíveis para Resultados Adequados. In: SALLES, Carlos
Alberto de; LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da.
Negociação, mediação, conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados de
solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
TARTUCE, Fernanda. Conciliação em juízo: o que (não) é conciliar? In: SALLES, Carlos
Alberto de; LORENCINI, Marcos Antônio Garcia Lopes; SILVA, Paulo Eduardo Alves da.
Negociação, mediação, conciliação e arbitragem - curso de Métodos adequados de
solução de controvérsias. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
TATAGIBA, Laís Borges. Sujeitos Sem Face. In: MENEZES, Bruna Silva; PADILHA,
Gabriel; De Lucca, Jamile Garcia. Comitê de Jovens Profissionais Colaborativos do
Instituto Brasileiro de Práticas Colaborativas. CJPC Publicações, 2020. Disponível em:
https://ibpc.praticascolaborativas.com.br/wp-content/uploads/2020/12/E-book-final-
publicar-1.pdf. Acesso em: 18 fev. 2021.