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31/03/2017 Envio 

| Revista dos Tribunais

  Ratio decidendi x tese jurídica. A busca pelo elemento vinculante do precedente brasileiro  
RATIO DECIDENDI X TESE JURÍDICA. A BUSCA PELO ELEMENTO VINCULANTE
DO PRECEDENTE BRASILEIRO
Ratio decidendi x legal precept. The search for the binding element in the Brazilian precedent
Revista de Processo | vol. 265/2017 | p. 419 ­ 441 | Mar / 2017
DTR\2017\428

Taís Schilling Ferraz
Doutoranda e Mestre em Direito pela PUC­RS. Juíza Federal. taisferraz@uol.com.br
 
Área do Direito: Processual
Resumo: O artigo faz uma análise crítica sobre a construção das teses jurídicas ao final dos
julgamentos de repercussão geral e de recursos repetitivos, alertando para a pouca importância que
vem sendo atribuída à identificação da ratio decidendi, elemento verdadeiramente transcendente e
vinculante em um sistema de precedentes, cuja adoção, para fins de julgamentos futuros, produzirá o
efeito de dar coerência sistêmica e previsibilidade à atuação do poder judiciário, para além do
julgamento de casos absolutamente iguais.
 
Palavras­chave:  Precedente ­ Tese jurídica ­ Ratio decidendi.
Abstract: The paper examines critically the process of ceating precepts, at the end of general
repercussion or repetitive appeals judgments, making an award about the little importance given to the
ratio decidendi identification, the truly transcendent element in a precedent system, whose use, for
subsequent judgments, will produce the effect of giving systemic coherence and predictability to the
judiciary performance, beyond of judging strictly equal cases.
 
Keywords:  Precedent ­ Legal precept ­ Ratio decidendi.
Sumário:
 
1Introdução ­ 2A fundamentação baseada em precedente ­ 3O precedente brasileiro e suas
especificidades ­ 4Ratio decidendi e tese jurídica ­ 5A possível compatibilidade entre ratio decidendi e
tese jurídica ­ 6A busca da ratio decidendi em um precedente ­ 7Considerações finais ­ 8Referências
bibliográficas
 
1 Introdução

Ao decidir, assentando tese em um recurso extraordinário com repercussão geral,1 que “é incompatível
com a Constituição a exigência de inscrição na Ordem dos Músicos do Brasil, bem como o pagamento
de  anuidade,  para  o  exercício  da  profissão”,  o  Supremo  Tribunal  Federal  deixou  claro  que  não  poderá
haver  cobrança  de  anuidade  para  o  exercício  da  profissão  de  músico,  e  dificilmente  alguém  dirá,
considerado o disposto no art. 927 do CPC (LGL\2015\1656), que juízes e tribunais poderão considerar
legítima tal cobrança.
Mas alguém se perguntará por quê? O que levou à inconstitucionalidade?
Em que medida a motivação deste precedente será relevante?
Na  tese  jurídica  enunciada  pelo  tribunal  superior,  extrato  da  decisão  que  resulta  do  precedente
brasileiro,  não  está  contido  o  motivo  determinante  para  a  solução  de  casos  subsequentes  análogos,
mas  sim  a  própria  solução,  encartada  em  preceito  de  caráter  normativo,  com  expectativa  de  ampla
aplicação, cujo suporte fático abstrai­se do caso paradigma.
Em  qualquer  caso  em  que  se  discuta  a  exigência  de  inscrição  na  Ordem  dos  Músicos  do  Brasil  e
exigência de anuidade, o preceito valerá para afastar a obrigatoriedade.
Tal  como  a  lei,  esse  preceito  tende  a  ser  adotado  como  premissa  maior  no  argumento  dedutivo  e
silogístico a ser construído na solução de casos subsequentes. Por outro lado, a motivação, a razão que
levou  o  STF  ao  julgamento  pela  inconstitucionalidade,  e  os  fatos  que  foram  objeto  de  análise  para  a
construção  da  solução  no  recurso  paradigma,  registrados  nos  votos  e,  por  vezes,  na  ementa,  não  se
apresentarão como fatores substanciais na construção do argumento de uma decisão futura.
No  caso  enunciado  acima,  decidiu­se  pela  inconstitucionalidade  porque  a  atividade  de  músico  é
manifestação artística protegida pela garantia da liberdade de expressão, daí a incompatibilidade com
a Carta da exigência de prévia inscrição na Ordem dos Músicos como condição para o exercício dessa
atividade e a impossibilidade de cobrança de anuidade.

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A formulação de uma tese jurídica, aparentemente capaz de solucionar todos os casos iguais – e talvez
a  razão  pela  qual  se  confunda,  no  Brasil,  o  sistema  de  julgamento  de  recursos  repetitivos  com  o
sistema  de  precedentes  –,  em  verdade  vem  limitando  o  espectro  de  aplicação  do  precedente  e  a  sua
própria legitimidade intrínseca, indicando que sua aplicação ocorrerá desde que o suporte fático exato
nela previsto se implemente.
Equipara­se a tese jurídica, tal como vem sendo enunciada, a uma edição de norma, porém pelo Poder
Judiciário, cuja aplicação tende a ocorrer da mesma forma que se faz incidir uma lei.
Adotada, porém, a verdadeira ratio decidendi do precedente pelo seu intérprete, a aplicação poderá ser
muito mais útil, sistêmica e mesmo abrangente, já que o fator que ensejou a inconstitucionalidade da
norma  que  estabeleceu  a  exigência  de  inscrição  na  OMB  e  a  cobrança  de  anuidade  poderá  estar
presente  em  muitas  outras  normas  semelhantes,  o  que  evitaria  que  o  STF  tivesse  que  se  debruçar
sobre todas as possibilidades de cobrança que incidirem na mesma inconstitucionalidade.
Tal  como  vem  sendo  manejado  o  sistema  brasileiro  de  precedentes,  o  caminho  que  o  intérprete
percorrerá,  em  aplicando  o  preceito  abstrato  gerado  pelo  julgamento  de  repercussão  geral,  será  o  do
argumento dedutivo, tomando­se a tese assentada pelo STF como premissa maior, como se fosse uma
lei.  Este  percurso  não  lhe  exige,  em  princípio,  perquirir  da  motivação,  compreender  por  que  caso  foi
levado a julgamento, que argumentos foram suscitados e quais foram tomados como relevantes.
É  sobre  a  necessidade  de  se  repensar  esse  modelo  de  argumento,  considerando  que  o  sistema  de
precedentes  brasileiro  ainda  está  em  construção,  que  este  artigo  se  desenvolverá,  direcionando­se  à
avaliação  crítica  e  possível  defesa  da  necessidade  de  mudanças  no  modelo  de  julgamento  dos  casos
repetitivos  e  de  repercussão  geral,  para  que  a  motivação  dos  precedentes  seja,  de  fato,  o  elemento
mais relevante para a construção de soluções nos casos subsequentes.
A  proposta  é  ingressar  mais  diretamente  sobre  a  forma  como  os  tribunais  vêm  construindo  os
precedentes e sobre os reflexos desta opção nos processos de tomada de decisão ao serem julgados os
casos subsequentes e análogos.
2 A fundamentação baseada em precedente

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal2 é absolutamente clara na classificação da exigência de
motivação  das  decisões  como  garantia  constitucional  inderrogável  e  como  poderoso  instrumento  de
limitação ao exercício do poder do Estado e de proteção das liberdades públicas, a atuar como condição
de eficácia e requisito de validade dos provimentos judiciais.
No  novo  Código  de  Processo  Civil,  esse  dever,  para  o  magistrado,  alcançou  contornos  ainda  mais
precisos,  impondo­se  que  a  fundamentação  satisfaça  a  critérios  específicos  de  racionalidade  e  de
contraditoriedade (TROIS, 2016).
Da  perspectiva  do  juiz,  fala­se  em  dever  de  fundamentação  das  decisões  judiciais.  O  seu  não
atendimento  compromete  o  próprio  caráter  jurisdicional  do  ato  decisório  (MARINONI;  MITIDIERO;
SARLET,  2014,  p.  753).  Sob  o  prisma  do  jurisdicionado  e  da  sociedade,  é  garantia  fundamental  e
instrumento de controle da atividade do Poder Judiciário.
Há, entretanto, diferentes modelos de fundamentação.
Para  os  efeitos  deste  trabalho,  considera­se  importante  trazer  à  luz  as  diferentes  características  da
argumentação jurídica com base na lei e com base em decisões dos tribunais.
Em um sistema jurídico essencialmente dogmático, que tem na lei, na sua generalidade e abstração, o
centro  gravitacional,  a  tendência  do  jurista  é  buscar  a  justificação  interna  de  seu  argumento  no
raciocínio  dedutivo,  na  pretensão  de  estabelecer  sua  conclusão  como  necessária  e  certa,  ao
pressuposto de que a veracidade desta conclusão é decorrência da veracidade das premissas adotadas,
que  se  constituirão,  como  regra,  de  uma  afirmação  normativa  (geral)  e  de  uma  afirmação  factual
(particular).
A  decisão  jurídica  surge  como  uma  construção  silogística,  onde  a  norma  (geral)  funciona  como
premissa maior, a descrição do caso como premissa menor e a conclusão como o ato decisório stricto
sensu.
A  origem  desta  forma  de  decidir  parece  situar­se  muito  longe  no  tempo,  nas  origens  da  tradição
romano­germânica.
GHIRARDI (2007, p. 31), com muita clareza, apresenta este, que pretende ser um dos pressupostos de
onde  parte  a  análise  que  ora  se  propõe,  ao  assentar  que  a  diferença  entre  o  direito  romano  e  o
common law inglês radica em duas circunstâncias ou elementos fundamentais:
“a)  em  primeiro  lugar,  no  direito  romano  o  caso  concreto  nunca  servia  como  fundamento  de  uma
sentença particular, mas apenas contribuía como elemento de origem de uma norma editalícia, norma
que  era  abstrata  e  universal;  b)  em  segundo  lugar,  a  jurisprudência  assentada  em  caso  concreto,
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jamais  foi  obrigatória.  De  sua  parte,  o  common  law  inglês,  o  case  law,  que  por  certo,  é  singular,
fornece um precedente obrigatório para os demais casos semelhantes e supervenientes. A razão grega
está  na  base  da  atitude  romana,  apesar  de  que  esta  era  mais  pragmática.  A  razão  inglesa  será
diferente;  foi  escrava  da  experiência.  Valendo­nos  de  uma  metáfora,  diríamos  que  o  juiz  inglês
buscava  a  solução  bastante  com  a  mão,  com  a  qual  só  podia  pegar  um  caso  concreto,  enquanto  que
com  o  romano,  a  solução  passava  pela  razão,  com  uma  grande  apetência  de  universalidade,  que  só
poderia  ser  dada  pela  norma  (seja  da  lei  surgida  da  primeira  assembléia)  ou  da  regra  (em  forma  de
édito do pretor) ou da resposta do jurisconsulto” (o itálico não é do original).
Na  sequência,  demonstra  o  autor  que  o  raciocínio,  no  direito  romano,  será  dedutivo.  “O  que  poderia
haver  de  indutivo  se  dá  previamente  ao  conflito,  no  procedimento  empírico  para  fixar  a  norma  edital
por parte do pretor.” (GHIRARDI, 2007, p. 33). No common law não há lei prévia, “apenas se parte de
uma  sentença  (norma  singular  e  não  abstrata  nem  universal),  expressada  em  um  caso  concreto:  o
case law, que é obrigatório para o juiz”. E prossegue (p. 33­34):
“Ressaltamos,  ademais,  que  no  common law,  a  atitude  lógica  é  indutiva:  a  busca  do  precedente,  que
conduz  o  juiz  de  caso  em  caso  até  dar  com  o  que  corresponde.  É  dizer,  seu  ponto  de  partida  é  o
singular  e  concreto  (uma  sentença)  e  não  o  geral  e  abstrato  (lei  ou  norma  editalícia).  O  sistema  do
common law  se  vale  primordialmente  da  experiência  para  ditar  a  sentença  do  caso  concreto  (norma
singular)  ainda  que  em  cada  precedente  exista  ínsito  um  princípio,  que  se  trata  de  seguir.  Em  ambos
os  casos  a  lógica  rege  o  pensar  jurídico:  no  sistema  codificado  predomina  a  dedução  (a  partir  das
normas)  e  no  sistema  do  common  law,  a  indução  (na  busca  do  precedente)”  (o  itálico  não  é  do
original).
Não  se  desconhece,  como  leciona  TÉRCIO  FERRAZ  (2004,  p.  26),  que  reduzir  o  processo  decisório  a
uma construção silogística o empobrece e não o revela em sua maior complexidade. Segundo o autor,
“a aceitação geral de que a justiça deve ser feita não leva, por si, à premissa de que a ação X é injusta
e, portanto, deve ser rejeitada. É preciso dizer o que é a justiça e provar que a ação X é um caso de
ação injusta. Eis o problema da subsunção”.
Complexo  ou  não  o  processo  de  subsunção,  busca­se,  aqui,  na  generalidade  de  uma  norma,  de  um
princípio,  a  premissa  maior  para  uma  decisão,  enquadrando­se,  na  sequência,  os  fatos  concretos  na
hipótese de incidência da norma ou princípio.
Esta forma de argumentar pressupõe o reconhecimento de que a lei, em seu sentido amplo, e com sua
generalidade e abstração, é fonte primária e mais importante do direito.
Com a reforma processual surge nova fonte jurídica primária. Os precedentes dos tribunais superiores
e  alguns  precedentes  dos  tribunais  ordinários  deverão  ser  observados,  ao  lado  da  lei,  pelos  juízes  e
tribunais  ao  decidirem  casos  subsequentes  (CPC  (LGL\2015\1656),  art.  927).  O  novo  CPC
(LGL\2015\1656) convolou os precedentes judiciais, de secundárias em fontes primárias do direito.
Essa  opção  por  tornar  vinculantes  os  precedentes,  elevando­os  à  condição  de  fontes  primárias  do
direito, requer uma ruptura com o mecanismo silogístico de construção do pensamento jurídico.
Doravante,  as  decisões  judiciais  não  mais  serão  meros  reforços  argumentativos  a  uma  decisão  já
adotada. Serão a própria razão de decidir.
Aplicar  precedente  não  é  o  mesmo  que  referir  jurisprudência,  exemplificando  como  casos  anteriores
foram decididos; é julgar com base na rule construída para a solução de um caso anterior, adotando­a
como a própria razão de decidir.
Isto, porém, não equivale a transformar decisões judiciais em normas abstratas.
Um  precedente  não  tem  a  generalidade  e  a  abstração  da  lei.  É  produto  do  exame  de  circunstâncias
concretas,  examinadas  dentro  e  à  luz  de  um  contexto  determinado.  Ainda  que  dele  se  possam  colher
um ou mais preceitos universalizáveis, esses jamais poderão ser totalmente abstraídos dos elementos
de fato e de direito que lhe deram fundamento.
Esse é outro marco teórico de onde se parte.
Decidir com base em precedentes requer muito mais que a busca de normas abstratas onde, em tese,
os fatos concretos possam ser subsumidos. O caminho a ser percorrido, doravante, parte de fatos em
particular,  exige  problematização,  análise  comparativa,  uso  da  analogia  e  construção  da  norma
aplicável a cada nova decisão, tendo por paradigmas decisões anteriores. Tais decisões foram adotadas
frente a fatos específicos, e não frente a normas em abstrato.
Assim,  para  que  possam  ter  seus  princípios  invocados  como  argumento  em  novas  decisões,  será
necessário  percorrer  um  raciocínio  indutivo,  partindo­se  da  comparação  entre  as  situações  que
originaram  o  conflito,  o  que  conduzirá  à  conclusão  no  mesmo  sentido  do  precedente  como  provável
(não necessária e certa), diante da veracidade das premissas.

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Ao  descrever  um  modelo  de  sentença  norte­americano,  FACCHINI  NETO  (2014,  p.  410)  chama  a
atenção para o seu caráter exaustivo e para a importância atribuída à problematização dos fatos e do
princípio jurídico supostamente aplicável:
“Após uma completa análise da matéria de fato, passa­se ao exame das questões jurídicas, discute­se
o princípio jurídico aplicável, examina­se a sua origem, a sua evolução, as transformações que sofreu,
as leis que o acolhem, a sua aplicação nas cortes estaduais e federais. É nesse momento que também
se  exercita  a  arte  do  distinguishing,  distinguindo­se  os  precedentes  onde  aquele  mesmo  princípio
estava  em  jogo,  mas  em  que  os  fatos  relevantes  apresentam  diferenças  marcantes  a  ponto  de
justificar  a  não  observância  do  precedente.  Invocam­se  não  somente  argumentos  jurídicos,  mas
também fundamentos extrajurídicos, inclusive razões de ordem social, filosófica e de justiça, a fim de
interpretar o alcance do princípio e chegar­se à decisão de aplicá­lo ou não”.
Percebe­se,  no  exame  deste  percurso,  uma  clara  diferença  de  método,  quando  confrontado  o
julgamento típico norte­americano com um julgamento típico no Brasil.
E qual é o caminho usualmente adotado no modelo brasileiro?
Ao  invés  da  prévia  problematização  dos  fatos  pertinentes  ao  caso  concreto  e  da  localização  dos
possíveis  precedentes,  aqui  são  identificadas,  em  um  primeiro  momento,  as  questões  jurídicas
controvertidas, especificando­se as normas legais ou constitucionais aplicáveis em tese e procedendo­
se à sua interpretação à luz da Constituição ou de outras normas.
Na  sequência,  realiza­se  a  subsunção  dos  fatos  do  caso  na  hipótese  de  incidência  das  normas,  já
devidamente interpretadas. A jurisprudência pode ser invocada como reforço aos argumentos jurídicos
utilizados para sustentar a melhor interpretação das normas, caso em que os acórdãos serão citados já
na fase da sua identificação e interpretação.
Também  pode  ser  mencionada  a  jurisprudência  para  trazer  exemplos  de  casos  semelhantes  que,  em
julgamentos anteriores, encontraram solução mediante o mesmo processo de subsunção, hipótese em
que os acórdãos correspondentes serão indicados após o processo de subsunção.
Passa­se,  então,  à  proclamação  do  resultado,  primeiramente  sobre  as  questões  discutidas  e,  ato
contínuo,  quanto  às  consequências  práticas  para  o  caso  em  julgamento,  que  são  associadas  ao
provimento,  desprovimento  ou  parcial  provimento  do  recurso;  procedência,  improcedência  ou  parcial
procedência do pedido.
Essa estrutura, que pode ser considerada tradicional nos julgamentos em um sistema dogmático, deve
ser  repensada  no  novo  modelo,  seja  para  o  adequado  processo  de  formação  de  um  precedente,  seja
para a aplicação deste precedente. É fundamental que as anteriores decisões sobre casos semelhantes
já sejam consideradas para a problematização do caso em julgamento e não como mera finalidade de
reforço argumentativo.
E, mais do que isto, é necessário, como já se teve oportunidade de assentar, romper com as amarras
do  modelo  silogístico,  em  que  os  fatos  da  causa  fazem  as  vezes  de  premissa  menor,  inclusive  em
importância (FERRAZ, 2014, p. 222).
3 O precedente brasileiro e suas especificidades
Diferentemente  do  que  ocorre  nos  países  do  Common  Law,  as  características  dos  precedentes
provenientes  dos  Tribunais  Superiores  brasileiros,  talvez  em  razão  da  tradição  dogmática  do  direito
pátrio,  revelam  um  grau  considerável  de  abstração  do  direito  aplicável  frente  aos  fatos  das  causas
eleitas como paradigmas.
As  decisões  têm  sido  proferidas  após  amplos  debates,  na  expectativa  de  trazerem  solução  para  além
dos fatos da causa, a fim de que possam solucionar todos os casos que, em tese, dependam da solução
da mesma questão de direito.
São  debates  antecedidos  ou  instrumentalizados  pela  designação  de  audiências  públicas,  pela
apresentação  de  memoriais,  pelas  sustentações  orais  dos  amici  curiae,  e  pela  análise  de  razões
provenientes de outros processos, da relatoria dos ministros, sobre a mesma questão, que permitem a
introdução de temas sequer suscitados no recurso paradigma.
O  objetivo,  de  todo  louvável,  é  que  possam  ser  considerados  e  antevistos  os  mais  variados  espectros
de incidência da decisão que virá.
Esta ampliação do thema decidendum deveria permitir o amplo aproveitamento das razões da decisão
paradigma para  a  solução  de  casos  subsequentes  em  que  fatos  análogos,  frente  a  questões  jurídicas
semelhantes  se  apresentassem,  o  que  seria  esperado  em  um  sistema  de  respeito  aos  precedentes
judiciais.
No  entanto,  não  são  as  razões  de  decidir  que,  de  regra,  orientam,  no  modelo  brasileiro,  a  solução  de
casos futuros, e sim as chamadas teses jurídicas  que  vêm  sendo  elaboradas  ao  final  dos  julgamentos

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pelos tribunais superiores. A essas teses a própria lei processual atribuiu o efeito vinculante.
A expressão foi cunhada pelo legislador, que, embora bem intencionado na pretensão de criar no Brasil
um  sistema  de  respeito  aos  precedentes,  acabou  por  permitir  a  interpretação,  inclusive  nos  tribunais
superiores, de que todo o resultado de um julgamento com repercussão geral ou repetitivo resulta em
uma norma geral e abstrata.
A  edição  de  teses  jurídicas,  tal  como  vem  ocorrendo  nos  tribunais  superiores,  além  de  resultar  em
verdadeira  construção  de  norma,  a  ser  utilizada  como  premissa  maior  em  julgamentos  subsequentes,
vem,  na  prática,  limitando  o  potencial  de  construção  do  Direito  pela  via  dos  precedentes,  diante  da
mensagem que emite aos tribunais de origem e juízes de primeiro grau.
A  tendência  é  tomar  a  norma  e  nela  subsumir  todos  os  casos  sobrestados  ou  que  venham  a  ser
ajuizados,  havendo  pouco  espaço  para  a  individualização  de  questões  e,  paradoxalmente,  sua
aplicabilidade resulta restrita aos casos que sejam iguais.
4 Ratio decidendi e tese jurídica
Algumas  teses  jurídicas  editadas  pelo  STF  ao  final  dos  julgamentos  de  questões  constitucionais  com
repercussão geral e pelo STJ ao concluir as decisões em recursos repetitivos, servem para exemplificar
o  que  acima  se  afirma.  Como  poderá  se  observar,  seus  enunciados  não  incluem  os  fundamentos
determinantes das decisões:
É inconstitucional o art. 13 da Lei 8.620/1993, na parte em que estabelece que os sócios de empresas
por cotas de responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais, por débitos
junto à Seguridade Social (RE 562.276).
Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário mínimo para as praças
prestadoras de serviço militar inicial (RE 570.177).
É  constitucional  a  fixação  de  alíquota  progressiva  para  o  Imposto  sobre  Transmissão  Causa  Mortis  e
Doação — ITCD (RE 562.045).
É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil (RE 669.069).
É obrigatória a observância pelos Estados e Municípios dos critérios previstos na Lei Federal 8.880/1994
para a conversão em URV dos vencimentos e dos proventos de seus servidores (REsp 1.101.726).
A  dispensa  de  reexame  necessário,  quando  o  valor  da  condenação  ou  do  direito  controvertido  for
inferior a sessenta salários mínimos, não se aplica a sentenças ilíquidas (REsp 1.101.727).
A  simples  propositura  da  ação  de  revisão  de  contrato  não  inibe  a  caracterização  da  mora  do  autor
(REsp 1.061.530).
Em  exceção  à  regra  geral  (...),  a  extensão  de  prova  material  em  nome  de  um  integrante  do  núcleo
familiar  a  outro  não  é  possível  quando  aquele  passa  a  exercer  trabalho  incompatível  com  o  labor
rurícola, como o de natureza urbana (REsp 1.304.479).
Ao  assentar  a  tese  de  que  é  constitucional  a  fixação  de  alíquota  progressiva  para  o  Imposto  sobe
Transmissão  Causa  Mortis  e  Doação  –  ITCD,3  o  STF  resumiu  o  conteúdo  dogmático  de  sua  decisão.
Estabeleceu um preceito.
Esse preceito será invocado nas execuções fiscais e ações de anulação de débitos fiscais, para afastar
a  alegação  de  inconstitucionalidade  e  garantir  possibilidade  da  cobrança  do  ITCD  mediante  alíquota
progressiva.
Mas  algum  juiz  ou  tribunal  irá  a  busca  das  razões  pelas  quais  o  STF  decidiu  que  a  alíquota  do  ITCD
pode ser progressiva? Sentir­se­á vinculado a essas razões, ou apenas à tese enunciada?
A ratio decidendi é que deveria ser o elemento fundamental desse precedente, com maior espectro de
incidência e, inclusive, de vinculação.
Identificados os fundamentos determinantes desta decisão – a razão para possibilidade da cobrança do
ITCD à alíquota progressiva, esse precedente poderia ser invocado para a solução de outros casos em
que  os  pressupostos  fossem  semelhantes,  relativamente  a  questionamento  de  outros  tributos,  não
necessariamente  estaduais,  que  pudessem  incidir  na  mesma  problemática  examinada,  nos  termos  e
limites da fundamentação da decisão­paradigma. Isto garantiria coerência sistêmica.
Da  forma  como  tem  ocorrido,  porém,  garante­se  apenas  a  previsibilidade  do  julgamento  de  casos
exatamente  iguais  e,  o  que  é  mais  grave,  emite­se  uma  espécie  de  convite  a  que  se  force  o
enquadramento  nesta  norma,  de  casos  que  não  seguem  os  mesmos  pressupostos  de  incidência  do
preceito  criado  no  precedente,  decidindo­se,  ao  final,  problemas  diferentes  por  uma  mesma  norma,
diante de sua pretensão de ampla aplicabilidade e sua desvinculação das razões que a informaram.

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Um  sistema  de  respeito  aos  precedentes  tem  muito  mais  potencialidades  que  resolver  casos  iguais,  e
exige do aplicador um processo muito mais estruturado de formação do argumento que a invocação de
uma norma geral.
Orienta­se  não  apenas  para  o  passado,  a  reger  conflitos  que  se  reproduziram,  mas  também  e
principalmente  para  o  futuro,  ao  garantir  que  haverá  coerência  na  aplicação  do  direito  pelo  Poder
Judiciário. Os cidadãos poderão pautar suas condutas na expectativa de como se orientam os tribunais
diante de determinadas circunstâncias. O próprio Poder Judiciário tenderá a funcionar de maneira mais
sistêmica e estável.
É  esta  inconsistência  do  modelo  de  respeito  aos  precedentes  em  construção  no  Brasil  que  deve  ser
percebida, de forma a que se procure atribuir maior valor à fundamentação dos precedentes, sua ratio
decidendi,  de  forma  que  o  sistema  concebido  seja  verdadeiramente  capaz  de  alcançar  os  propósitos
pretendidos pelo legislador, de segurança jurídica e estabilidade.
Não confundem a tese jurídica, que vem sendo retirada ao final dos julgamentos de repercussão geral
e repetitivos, e a ratio decidendi dos precedentes.
A  primeira  vem  sendo  construída  como  um  preceito  genérico  e  abstrato,  semelhante  à  lei,  que
proclama  o  resultado  de  um  julgamento,  com  a  expectativa  de  ampla  aplicabilidade  a  casos  onde  a
mesma questão tenha sido suscitada.
Ratio decidendi  é  expressão  latina  que  pode  ser  traduzida  na  expressão  razão  para  a  decisão.  A  ratio
decidendi  de  uma  decisão  é  o  princípio  (ruling  on  a  point  of  law,  nas  palavras  de  BANKOWSKI;
MacCORMICK  e  MARSHALL,  1997,  p.  338)  que  se  extrai  especialmente  (embora  não  exclusivamente,
segundo MARINONI, 2013, p. 220) da fundamentação de um julgado. São os motivos determinantes da
decisão, passos necessários para que o julgador chegue a um determinado resultado, a ser construído
à luz dos fatos da causa de onde se originou e que destes não se abstrai.
É também conhecida como holding ou rule de um caso. Uma proposição (ou mais de uma) extraída da
decisão,  e  que  é  passível  de  se  abstrair  e  se  reproduzir  para  reger  casos  fundados  em  circunstâncias
semelhantes,  por  um  processo  de  universalização  que  deve  ser  empreendido  pelo  intérprete
(GUASTINI, 2011, p. 264). É destinada a ser a porção transcendente e vinculante de uma decisão.
TERESA  ALVIM  (2012,  p.  44)  a  associa  à  rule,  ao  coração  de  um  julgamento,  à  proposition  of  law,
explícita ou implícita, considerada necessária para a decisão.
Daí  já  se  extrai  o  que  a  ratio  não  é:  Ela  não  expressa  o que  o  tribunal  ao  final  decidiu,  mas  sim  e
especialmente por que o tribunal assim decidiu.
A ratio decidendi em um julgamento traduz­se pelos princípios jurídicos, morais, políticos, sociais nos
quais  o  órgão  julgador  baseou  sua  decisão.  Trata­se  de  princípios  enunciados  a  partir  do  exame  de
fatos concretos e do conflito que estava sob apreciação do órgão que criou o precedente.
A  ideia,  nos  sistemas  que  adotam  o  julgamento  com  base  em  precedentes,  é  de  que  esse  princípio
possa ser abstraído da decisão em que foi enunciado ou construído, para ser utilizado em outros casos,
em que o mesmo contexto de fato se apresente à decisão.
É, portanto, a ratio decidendi em um precedente, o elemento essencial para a aplicação do princípio do
stare decisis.
É  o  elemento  vinculante  do  precedente  em  um  sistema  tradicional,  mas  sua  aplicação  só  poderá
ocorrer, para regular outros casos, se a nova situação de fato puder identificar­se à que foi examinada
no caso já julgado.
É por essa razão que há muitos anos Lord Dunedin, da Câmara dos Lordes do Reino Unido, advertiu que
a ratio é de observância obrigatória, “but only on the footing that it leads to that judgement”.
O  elemento  vinculante,  a  rule  a  ser  perseguida  em  um  precedente  e  que  terá  sua  aplicabilidade
avaliada  no  julgamento  de  casos  subsequentes,  não  é  a  tese  jurídica  que  vem  sendo  construída  e
enunciada  nos  julgamentos  de  repercussão  geral,  como  a  que  se  expressa  no  preceito  “são
inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5.º do Decreto­Lei 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da Lei
8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário.”
A rule, ou ratio decidendi,  ou  holding  do  caso  resultante  no  julgamento  do  RE  559.943  pelo  Supremo
Tribunal  Federal  deve  ser  buscada  nas  razões  desta  inconstitucionalidade,  nas  questões  de  fato  e  de
direito  consideradas  pela  maioria  dos  ministros  para  que  se  concluísse  que  a  norma  é  incompatível
com a Constituição e que, em consequência, essa norma não tem potencialidade para definir os prazos
de prescrição e decadência de contribuições sociais.
No  caso,  uma  lei  ordinária  invadiu  matéria  reservada  pela  Constituição  à  lei  complementar,  dispondo
sobre  prescrição  e  decadência,  que  se  qualificam  como  normas  gerais  de  direito  tributário.
Compreendido  que  foi  esse  o  motivo  da  decisão,  sempre  que  uma  lei  incorrer  no  mesmo  erro,
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incorrerá em inconstitucionalidade e não se deverá decidir de forma diversa. O julgamento pela Corte
Superior  não  precisa  produzir  efeitos  apenas  sobre  os  processos  em  que  se  discutiu  a
constitucionalidade  dos  arts.  45  e  46  da  Lei  8.212  e  o  art.  5.º  do  Dec.­lei  1.569/1977.  Aplicar
precedente é muito mais que isso.
A  enunciação  de  teses  que  não  trazem  referência  aos  seus  fundamentos  determinantes,  entretanto,
convida  as  demais  instâncias  a  reconhecer  vinculação  apenas  à  norma  enunciada  e  não  à  ratio
decidendi  dos  julgamentos.  E  por  mais  que  o  direito  brasileiro  seja  centrado  na  lei,  e  que  a  tese  da
inseparabilidade  absoluta  entre  questões  de  fato  e  de  direito  não  se  sustente  (TESCHEINER,  2015),  a
adoção  de  um  sistema  de  respeito  aos  precedentes  demanda  atribuir  maior  valor  à  motivação  das
decisões, como elemento­chave para sua aplicabilidade, o que exige percorrer os fatos que originaram
o julgamento paradigma.
5 A possível compatibilidade entre ratio decidendi e tese jurídica
Num  sistema  de  tradição  dogmática,  como  o  brasileiro,  talvez  os  conceitos  de  ratio decidendi  e  tese
jurídica possam conviver, reconhecendo­se a ambos o efeito vinculante e transcendente.
Não se desconhece que a expressão “tese jurídica” foi trazida pelo legislador, que a ela atribuiu efeito
vinculante  (CPC  (LGL\2015\1656)  arts.  927,  985,  987,  §  2.º,  1.040),  estabelecendo,  ainda,  que  sua
eventual revisão, pelas consequências que terá, deverá ser precedida de amplo debate.
Esse  mesmo  legislador,  conforme  assentado  na  própria  exposição  de  motivos  do  novo  Código  de
Processo Civil, ao introduzir um sistema de precedentes vinculantes no direito brasileiro, estabeleceu,
no art. 927 que os juízes e tribunais observarão os acórdãos (não apenas as teses jurídicas) originados
de  julgamento  de  recursos  extraordinário  e  especial  repetitivos.  Deixou  claro  que  “o  conteúdo  do
acórdão abrangerá a análise dos fundamentos relevantes da tese jurídica discutida” (art. 1.039, § 3.º).
E  no  art.  489,  §  1.º,  V,  registrou  expressamente  que  a  sentença,  ao  invocar  precedente,  deverá
identificar  os  correspondentes  fundamentos  determinantes  e  a  demonstração  de  que  o  caso  sob
julgamento a eles se ajusta, estabelecendo, também, que para deixar de seguir um precedente o juiz
deverá demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
A  expressão  “tese  jurídica”  convida,  sem  dúvida,  à  abstração,  à  formulação  e  à  posterior  busca,  pelo
aplicador do direito, de uma solução em tese, uma norma.
Esta solução adotada no julgamento paradigma, porém, não se abstrai completamente do conflito que
lhe  deu  origem  e  de  todas  as  circunstâncias  consideradas  relevantes  para  que  se  decidisse  por  um
determinado  caminho  ao  julgar.  Não  se  trata  de  uma  lei.  Trata­se  de  um  precedente  e  o  elemento
essencial de um precedente é sua ratio decidendi.
Assim,  para  além  da  tese,  é  necessário  buscar,  nos  precedentes  dos  tribunais  superiores  e  nos  que
resultarem  do  julgamento  dos  incidentes  de  resolução  de  demandas  repetitivas  e  de  assunção  de
competência,  os  fatos  e  questões  jurídicas  que  estavam  sob  apreciação  e  que  foram  considerados
substanciais para a decisão tomada.
Um  caminho  possível,  e  que  tornaria  mais  clara  esta  vinculação  da  tese  extraída  do  precedente  aos
seus  fundamentos  determinantes,  seria  construir  a  tese  de  forma  a  trazer  conjuntamente  sua
motivação  essencial.  Em  recente  estudo  sobre  o  tema  já  se  sustentou,  inclusive,  que  “o  conceito  de
tese  jurídica  adotado  pelo  novo  Código  parece  guardar  correspondência  com  o  conceito  de  ratio
decidendi” (MELLO e BARROSO, 2016, p. 34).
Para  tanto,  porém,  a  tese  deveria  agregar  os  fundamentos  determinantes  da  decisão  e  os  tribunais
superiores deveriam acolher, frente à criação de um sistema de respeito aos precedentes, a teoria da
transcendência dos motivos determinantes, no que parece haver ainda alguma resistência.4
Percebe­se  que  em  algumas  oportunidades,  ao  fixar  teses  jurídicas  após  os  julgamentos  de  questões
constitucionais com repercussão geral e de questões repetitivas, o STF teve essa preocupação. Alguns
exemplos  servem  para  demonstrar  a  diferença  entre  esta  espécie  de  formulação  e  aquela  em  que
apenas se enuncia um preceito:
A Emenda Constitucional 10/1996, especialmente quanto ao inc. III do art. 72 do ADCT (LGL\1988\31),
é  um  novo  texto  e  veicula  nova  norma,  não  sendo  mera  prorrogação  da  Emenda  Constitucional  de
Revisão 1/1994,  devendo,  portanto,  observância  ao  princípio  da  anterioridade  nonagesimal,  porquanto
majorou  a  alíquota  da  CSLL  para  as  pessoas  jurídicas  referidas  no  §  1.º  do  art.  22  da  Lei  8.212/1991
(RE 587.008).
Não  foi  recepcionada  pela  Constituição  da  República  de  1988  a  expressão  “nos  regulamentos  da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica” do art. 10 da Lei 6.880/1980, dado que apenas lei pode definir
os requisitos para ingresso nas Forças Armadas, notadamente o requisito de idade, nos termos do art.
142,  §  3.º,  X,  da  Constituição  de  1988.  Descabe,  portanto,  a  regulamentação  por  outra  espécie
normativa, ainda que por delegação legal (RE 600.885).

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É  inconstitucional  a  aplicação  retroativa  de  lei  que  majora  a  alíquota  incidente  sobre  o  lucro
proveniente de operações incentivadas ocorridas no passado, ainda que no mesmo ano­base, tendo em
vista que o fato gerador se consolida no momento em que ocorre cada operação de exportação, à luz
da extrafiscalidade da tributação na espécie (RE 592.396) (O itálico não é do original).
Nestes  e  em  alguns  outros  casos,  o  STF  não  se  limitou  a  afirmar  uma  inconstitucionalidade  ou  editar
determinada  norma.  Os  enunciados  formulados,  conforme  se  pode  observar  nas  transcrições  em
itálico, trouxeram seus fundamentos essenciais. No primeiro exemplo, não houve apenas a enunciação
de  que  a  Emenda  10/1996  violou  o  princípio  da  anterioridade  nonagesimal.  A  Corte  assentou  que  a
Emenda 10/1996 deveria observar o princípio da anterioridade nonagesimal porque majorou a alíquota
da CSLL.
Este fundamento determinante servirá não apenas ao julgamento de casos de contribuintes que foram
submetidos  à  majoração  da  CSLL  pela  Emenda  10/1996.  Em  todos  os  casos  nos  quais,  tendo  havido
aumento  da  carga  tributária  das  contribuições  (ao  que  corresponde  um  aumento  de  alíquota),  será
necessário observar a anterioridade nonagesimal, inclusive se esse aumento ocorrer em decorrência de
uma Emenda Constitucional.
Nos  demais  exemplos  também  é  possível  antever,  por  seus  fundamentos  determinantes,  que  a
aplicabilidade não ficará restrita aos casos especificamente julgados, porque a ratio decidendi é ampla.
Se determinada norma regulamentar não foi recepcionada pela Constituição, porque apenas a lei pode
definir  requisitos  para  ingresso  nas  Forças  Armadas,  a  ratio  poderá  ser  invocada  para  afastar  outros
requisitos de acesso ao serviço militar que tenham sido definidos por regulamento.
Percebe­se,  portanto,  que  é  possível  obter  uma  enunciação  com  caráter  mais  geral,  ao  final  do
julgamento  dos  casos  paradigma,  prevendo­se  sua  aplicabilidade  futura,  numa  adaptação  do  sistema
de  precedentes  à  tradição  brasileira,  sem  abrir  mão,  porém,  da  ideia  de  que  é  a  ratio  decidendi  o
elemento verdadeiramente vinculante em um precedente e que dela a enunciação do resultado não se
poderá desvincular para impor soluções em abstrato.
Esta  técnica,  porém,  foi  utilizada  em  pouquíssimos  casos  no  STF.  A  quase  totalidade  das  teses
enunciadas ao término dos julgamentos de questões constitucionais com repercussão geral constitui­se
de preceitos desvinculados de suas causas.5
O  Superior  Tribunal  de  Justiça  vem  adotando  procedimento  que  melhor  vincula  os  princípios  extraídos
dos julgamentos dos seus fundamentos determinantes. Em diversos exemplos se verifica que as teses
jurídicas, no STJ foram construídas de forma a deixar assentada as razões de decidir de uma ou outra
forma. Encontram­se, na pesquisa dos julgamentos dos temas repetitivos, enunciados que associam a
prescrição (preceito) e a descrição dos motivos que a originou:
A tese construída no julgamento do REsp 1.350.804 pode ser citada como exemplo:
“À  mingua  de  lei  expressa,  a  inscrição  em  dívida  ativa  não  é  a  forma  de  cobrança  adequada  para  os
valores  indevidamente  recebidos  a  título  de  benefício  previdenciário  previstos  no  art.  115,  II,  da  Lei
8.213/91  que  devem  submeter­se  a  ação  de  cobrança  por  enriquecimento  ilícito  para  apuração  da
responsabilidade civil”
A  ausência  de  lei  expressa  foi  o  fundamento  determinante,  no  caso,  para  que  se  negasse  a
possibilidade de execução fiscal de débitos originados de pagamento de benefício previdenciário.
Ainda assim, mesmo que se adote como procedimento trazer para o conteúdo das teses jurídicas a sua
ratio  decidendi,  será  necessária  a  leitura  do  precedente,  integralmente,  para  conhecer  as
circunstâncias em que enunciadas.
O  conflito  julgado,  seu  contexto,  as  circunstâncias  consideradas  relevantes  para  a  solução  da  causa,
são  elementos  que  dificilmente  constarão  em  um  enunciado  geral,  embora  seu  conhecimento  seja
absolutamente  necessário  quando  se  fundamenta  com  base  em  um  precedente,  ao  julgar  um  caso
subsequente.
É  fundamental  que  os  próprios  tribunais  superiores  deixem  claro  que  os  fundamentos  determinantes
dos  seus  julgados,  em  um  sistema  de  respeito  aos  precedentes,  são  dotados  de  transcendência  e  de
efeito vinculante, qualidades que não são exclusivas das teses tal como vêm sendo enunciadas.
E quando se verificar que o caso escolhido inicialmente para ser o paradigma tem especificidades que
não  recomendam  a  enunciação  de  um  princípio  de  direito  com  efeitos  expansivos,  os  tribunais
superiores deverão refrear eventual iniciativa de enunciação de tese ao final do julgamento. Isto vem
sendo  percebido  pelos  Ministros  do  STF  e  do  STJ,  que,  em  alguns  casos,  vêm  debatendo  sobre  a
conveniência  ou  não  de  fazê­lo,  já  tendo  concluído,  por  exemplo,  no  RE  580.264,  por  não  fixar  tese
jurídica, diante das peculiaridades do caso concreto.6
6 A busca da ratio decidendi em um precedente

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Procura­se  essencialmente  (embora  não  exclusivamente)  na  fundamentação  a  razão  de  ser  de  um
precedente, sua ratio decidendi.
É  necessário  saber  identificar  a  ratio,  avaliá­la,  distinguir  no  seu  contexto  o  que  foi  considerado
determinante para a decisão e o que foi apenas circunstancial (obiter dictum). Isto exige o domínio de
técnicas ainda pouco difundidas no sistema processual pátrio.
Além disso, tais técnicas não poderão ser simplesmente transpostas e aplicadas aos precedentes, sem
uma necessária contextualização ao modelo brasileiro de produzir precedentes.
O  grau  de  abstração  das  questões  constitucionais  de  repercussão  geral  e  das  questões
infraconstitucionais, que, ao final, resultam na enunciação das chamadas teses jurídicas pelos tribunais
superiores, não se identifica com o modelo adotado pela Suprema Corte dos Estados Unidos e, menos
ainda,  com  o  concebido  pelos  ingleses,  ambos  muito  mais  vinculados  aos  fatos  da  causa  eleita  como
leading case do que ao direito em abstrato.
A tese tem trazido apenas a solução da questão jurídica, encartada em preceito de caráter normativo,
com expectativa de ampla aplicação, não a causa para esta solução. Seu suporte fático facilmente, no
atual  contexto,  abstrai­se  do  caso  paradigma.  A  tese,  tal  como  vem  sendo  concebida,  responde  à
indagação: o que o tribunal superior decidiu?
A ratio decidendi, como já referido, equivale ao porquê.
O caminho do intérprete e aplicador do direito até a ratio não é tão simples. Faz­se necessária a leitura
de  toda  a  decisão  candidata  a  precedente,  das  principais  peças  do  processo  que  o  originou.  É  preciso
identificar  qual  a  principal  questão  que  estava  sendo  solucionada  pela  corte  do  precedente  e,  para
tanto,  será  necessário  conhecer  o  conflito,  saber  quais  as  questões  de  fato  e  de  direito  que  foram
debatidas naquele caso, até que a Corte chegasse a uma decisão.
Neste  processo,  o  jurista  terá  que  indagar  como  e  em  que  medida  os  fatos  do  caso  julgado
influenciaram na construção do princípio jurídico que conduziu à decisão e distinguir todas as questões
jurídicas  enfrentadas  para  que  a  decisão  fosse  tomada.  Será  fundamental,  ainda,  examinar  o  julgado
candidato a ser paradigma à luz de outras decisões, da mesma Corte ou de corte superior, de forma a
delimitar  seus  efeitos,  conhecer  as  tendências  daquele  tribunal  e  saber  se  o  precedente  ainda  está
vigente.
Só  então  será  possível  determinar,  no  conteúdo  da  decisão,  qual  a  rule  que  dela  decorreu  para
solucionar o caso.
Uma  vez  identificada  a  ratio,  a  possibilidade  de  sua  utilização  para  solução  de  casos  subsequentes
demandará percorrer um novo caminho, muito mais analógico que silogístico.
A maior ou menor extensão da ratio decidendi em um precedente ditará a sua potencial aplicabilidade
aos  casos  subsequentes.  Quanto  mais  abrangente  for  o  princípio  de  direito  que  se  extrair  do
julgamento, maior será sua perspectiva de incidência.
A probabilidade de que um caso sob apreciação seja julgado a partir do que foi decidido em outro caso
anterior  diminui  na  medida  em  que  aumentam  as  diferenças  entre  os  fatos  presentes  em  um  e  outro
caso.  Segundo  afirmam  CROSS  &  HARRIS,  “Judgments  must  be  read  in  the  light  of  the  facts  of  the
cases in which they are delivered” (1991, p. 43).
As decisões­paradigma, no sistema de precedentes brasileiro, são forjadas a partir de fundamentos de
fato  e  de  direito  advindos  das  mais  variadas  origens,  como  audiências  públicas,  recursos  repetitivos,
atuação  dos  amici  curiae,  etc.,  de  forma  que  seus  fundamentos  determinantes  não  necessariamente
serão  encontrados  a  partir  de  questões  de  fato  e  de  direito  suscitados  no  recurso  inicialmente  eleito
para ser um futuro leading case.
A busca da ratio decidendi, em tais condições, deverá ser empreendida a partir de todos os elementos
efetivamente  considerados,  de  forma  a  extrair­se,  para  efeitos  de  universalização,  o  que  for
determinante.  É  neste  processo  que  se  encontrará  o  princípio  ou  rule  do  precedente  brasileiro.  Este
princípio,  ainda  que  tenha  sido  construído  a  partir  de  elementos  aportados  de  múltiplas  fontes  ao
momento  da  decisão,  estará  sempre  relacionado  a  fatos  especificamente  analisados  e  a  questões
jurídicas  determinadas,  tratados  como  fundamentais  na  construção  do  julgamento.  Não  há  como
abstraí­lo do contexto de onde proveio, por mais amplo que tenha se tornado este contexto em razão
da sistemática de julgamento.
Este  princípio  de  direito,  informado  pelos  fatos  materiais  levados  a  julgamento,  não  estará
necessariamente  contido  no  voto  do  relator.  É  possível  que  tenha  que  ser  extraído  da  leitura  de
diversos votos dos magistrados que participaram daquela decisão. É que com muita frequência, em um
julgamento  colegiado,  no  Brasil,  chega­se  a  uma  mesma  conclusão  –  que  aqui  se  poderia  chamar  de
tese  –  porém  por  fundamentos  absolutamente  diferentes.  É  comum  ouvir  dos  julgadores  a  frase

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“acompanho  o  relator  por  outros  fundamentos”.  Este  dissenso  quanto  à  razão  de  decidir  torna  mais
difícil, em um sistema de precedentes, a identificação da verdadeira ratio do julgamento.
Uma  solução  possível,  que  tornaria  mais  simples  a  identificação  da  ratio  decidendi  e  que  não
demandaria mais que uma alteração regimental ou mesmo mudança nos procedimentos das cortes de
precedentes,  seria  a  instituição  da  figura  jurídica  da  majority  opinio  nos  julgamentos,  a  exemplo  do
modelo adotado na Suprema Corte dos Estados Unidos.
O  Relator  ficaria  com  a  missão  de  registrar,  ao  lavrar  o  voto  condutor  do  acórdão,  não  apenas  a  sua
posição,  que,  quanto  ao  dispositivo  prevaleceu,  mas  as  razões  consideradas  como  fundamentos
determinantes do julgado para a maioria da Corte, sem prejuízo de que o relator agregue seus próprios
fundamentos  excedentes  ou  diferentes,  na  condição  de  obiter  dicta.  Da  mesma  forma,  os  demais
julgadores não ficariam impedidos, sempre que desejassem, de formular seus votos em separado, mas
seria  muito  mais  seguro,  para  a  comunidade  jurídica,  ao  interpretar  aquele  precedente,  saber  que  os
fundamentos  determinantes  para  a  maioria  do  colegiado  que  construiu  o  precedente,  estarão
especialmente  concentrados  no  voto  daquele  que  foi  designado  relator  para  o  acórdão.  E,  mais  que
isso, que houve um (ou mais) fundamento determinante acolhido pela maioria, ao decidir.
Embora atribuir tal missão aos relatores venha a onerar ainda mais seu trabalho na Corte, exigindo­se
uma espécie de construção negociada de consenso quanto às razões da maioria, deve­se ter presente
que em uma verdadeira corte de precedentes, os magistrados deverão ter a possibilidade de dedicar­
se  de  forma  mais  profunda  a  cada  decisão,  ainda  que  para  isso  tenham  que  abrir  mão  de  outras
competências que tradicionalmente abraçaram.
7 Considerações finais
O novo Código de Processo Civil afasta qualquer dúvida que pudesse ainda haver quanto à centralidade
do elemento fundamentação nas decisões judiciais e nas peças jurídicas em geral.
A  introdução  de  um  modelo  de  vinculação  aos  precedentes  judiciais  no  Brasil  exige  um  repensar  do
caminho  tradicional  de  formação  do  argumento  jurídico,  essencialmente  silogístico,  já  que,
diferentemente da lei, normalmente adotada como premissa maior, a construção e posterior utilização
de  um  precedente  como  razão  de  decidir  exige  argumentação  indutiva,  dialógica  e  problematização.
Requer muito mais que a busca de normas abstratas onde possam ser enquadrados os conflitos.
Na  prática,  porém,  no  Brasil,  não  é  esse  o  discurso  que  vem  sendo  construído  na  fundamentação  de
decisões  e  demais  peças  jurídicas.  Também  não  é  pressupondo  estas  diferenças  que  os  precedentes
vêm  sendo  construídos  pelos  Tribunais  Superiores.  Editam­se,  sob  a  denominação  de  teses,
verdadeiras normas jurídicas nos julgamentos dos casos de repercussão geral e repetitivos.
E  estas  normas  tendem  a  ser  (e  vêm  sendo)  invocadas  como  premissa  maior  em  julgamentos
subsequentes,  sem  que  se  perceba  a  necessidade  de  recorrer  à  sua  origem,  àquilo  que  foi
determinante para que as cortes decidissem em um e outro sentido.
É  importante  repensar  a  enunciação  e  o  papel  das  teses  ao  final  dos  julgamentos  de  temas  de
repercussão  geral  e  recursos  repetitivos,  de  forma  a  que  se  coloque  nos  trilhos  o  sistema  de
precedentes brasileiros, que deve ter na ratio decidendi e não na proclamação da solução para o caso,
o elemento vinculante.
Não  há  óbices  a  que  convivam  a  tese  e  a  ratio  enquanto  elementos  vinculantes  no  sistema  de
precedentes  em  construção.  A  lei  orienta  para  que  assim  ocorra.  Será  necessário,  porém,  que  na
construção  das  teses  sejam  agregados  seus  fundamentos  determinantes  e  que  os  tribunais  superiores
deixem claras a transcendência e a vinculação dos fundamentos determinantes dos seus julgados, que
devem ser procurados, pelo intérprete para além do conteúdo das teses e ementas.
O uso da sistemática da majority opinio do direito norte­americano poderá facilitar esse processo.
Aos  aplicadores  dos  precedentes  vinculantes,  agora  fontes  primárias  do  direito,  será  necessário
revisitar  o  tema  da  argumentação  jurídica,  questionar  a  adequação  do  modelo  tradicional,
essencialmente  dedutivo,  frente  à  necessidade,  agora  imposta  legalmente,  de  fundamentação  de
decisões,  petições  e  pareceres  com  base  em  precedentes  judiciais,  cuja  utilização,  como  conteúdo
motivacional, exige raciocínio indutivo e dialógico.
O  sucesso  das  mudanças  implementadas  no  sistema  jurídico,  pela  criação  de  um  modelo  de  respeito
aos  precedentes,  está  na  dependência  dos  primeiros  movimentos  que  a  comunidade  jurídica  lhe
imprime,  e,  em  especial,  o  próprio  Poder  Judiciário.  Estes  movimentos  devem  ser  engendrados  de
forma  a  assegurar  consistência  e  efetividade  ao  novo  modelo,  criado  que  foi  não  apenas  para
uniformizar  a  jurisprudência  frente  a  casos  que  se  repetem,  mas  sim  e  principalmente  com  vistas  à
obtenção de maior coerência e segurança jurídica na construção e aplicação do Direito.
8 Referências bibliográficas

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1 RE 795.467 RG, rel. Min. Teori Zavascki, j. 05.06.2014, Plenário, DJe 24.06.2014.
 
2 A exigência de motivação dos atos jurisdicionais constitui, hoje, postulado constitucional inafastável,
que traduz poderoso fator de limitação ao exercício do próprio poder estatal, além de configurar
instrumento essencial de respeito e proteção às liberdades públicas. Com a constitucionalização de
esse dever jurídico imposto aos magistrados – e que antes era de extração meramente legal –
dispensou­se aos jurisdicionados uma tutela processual significativamente mais intensa, não obstante
idênticos os efeitos decorrentes de seu descumprimento: a nulidade insuperável e insanável da própria
decisão. A importância jurídico­política do dever estatal de motivar as decisões judiciais constitui
inquestionável garantia inerente à própria noção do Estado Democrático de Direito. Fator condicionante
da própria validade dos atos decisórios, a exigência de fundamentação dos pronunciamentos
jurisdicionais reflete uma expressiva prerrogativa individual contra abusos eventualmente cometidos
pelos órgãos do Poder Judiciário. HC 69.013, rel. (a): Min. Celso de Mello, 1.ª T., j. 24.03.1992, DJ
01.07.1992.
 
3 STF, RE 562.045­RG, rel. Min. Ricardo Lewandowski, Plenário, j. 06.02.2013, DJe 27.11.2013.
 
4 STF, Rcl 13.300/PR, rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19.12.2012, DJe 25.02.2013. No voto condutor, a
ministra relatora indica um grande número de precedentes em que o STF afastou a teoria da
transcendência dos motivos determinantes. Recentemente, porém, já na vigência do sistema de
precedentes, a matéria vem sendo novamente trazida a debate durante os julgamentos e, embora nas
decisões de Turma o entendimento se mantenha, deve­se ter presente que ainda não foi firmado, na
atual composição, em decisão Plenária, entendimento majoritário na Corte, especialmente nos casos de
questões a que se atribuiu repercussão geral.
 
5 É possível observar esta característica na formulação das teses jurídicas, lendo­se uma a uma, as
teses já fixadas nos julgamentos de questões com repercussão geral, que estão consolidadas em link
específico do portal do STF. Disponível em:  [www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/
abrirTemasComTesesFirmadas.asp]. Acesso em 15 dez. 2017.
 
6 No RE 580264, rel. Min. Joaquim Barbosa, discutia­se o direito à imunidade tributária pelo Grupo
Hospitalar Conceição, cuja natureza jurídica é sui generis, o capital pertence 99% à União e se dedica
integralmente á prestação de serviços de saúde pelo Sistema Único de Saúde.
     

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