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Atualmente, se os árbitros, por vezes, citam e seguem alguns precedentes, eles o fazem
sem qualquer orientação clara quanto ao seu valor e sua importância na construção dos
fundamentos das decisões.
Essa aplicação puramente ad hoc das normas jurídicas pelos árbitros, mesmo em
matérias já amplamente discutidas por tribunais estatais e arbitrais, além de produzir
decisões conflitantes em casos envolvendo, muitas vezes, a mesma matéria, a mesma
câmara arbitral e as mesmas partes, nos conduz à incerteza da aplicação do Direito, o
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O NECESSÁRIO PRECEDENTE ARBITRAL
Nesse ponto, não podemos descartar que, no futuro, a arbitragem deixe de ser um meio
atrativo de solução de controvérsias, podendo, ainda, comprometer o ordenamento
jurídico pátrio. Com efeito, na medida em que ela passar a ser o meio preferencial de
solução de controvérsias em determinadas matérias, deixaremos, gradativamente, de
ter a jurisprudência estatal e, ausente também um sistema de precedentes arbitrais, não
teremos nenhuma orientação sobre a correta interpretação das normas jurídicas sobre
estas matérias. Essa incerteza quanto às regras aplicáveis trará um sentimento universal
de insegurança e de involução do Direito brasileiro.
Seria absurdo afirmar, por outro lado, que os ordenamentos de tradição civilista não
levam em consideração as decisões anteriores. Aqui também, superado o temor de
excessiva ingerência do Judiciário no Legislativo, a observância de julgados proferidos
pelos tribunais superiores é um elemento essencial para a segurança jurídica,
notadamente quando estas decisões constituem jurisprudência constante ou dominante.
favoráveis.
Essa técnica chamada distinguishing explica porque na hipótese dos fatos fundamentais
do precedente – material facts – não coincidirem, deve-se considerar inaplicável o
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precedente ao novo caso. Dessa forma, não basta a invocação de uma súmula
formulada através de um enunciado genérico, sendo necessário comparar os casos
concretos, porque somente diante de situações fáticas similares pode-se aplicar a
mesma regra jurídica. Claro está que dificilmente haverá absoluta identidade entre as
circunstâncias de fato, mas, ainda assim, é possível que a ratio decidendi extraída do
precedente seja aplicada ao novo caso.
Preferimos adotar neste estudo a denominação “precedente arbitral” para que este
conceito não seja confundido com a noção de “jurisprudência”, bem estabelecida no
Brasil e que remete ao conjunto de decisões emanadas pelos tribunais estatais.
Ademais, a denominação precedente reforça a importância na arbitragem da submissão
da regra jurídica aos fatos concretos, pois somente a partir do conhecimento dos fatos
que levaram à adoção de determinada solução jurídica, os árbitros poderão verificar se
esta solução se aplica à nova lide.
Não obstante isso, deve-se frisar que a noção de precedente arbitral se distingue,
substancialmente, tanto da noção de jurisprudência da civil law, quanto da noção de
precedente da common law, ambas inseridas em sistemas jurisdicionais caracterizados
pela homogeneidade e pela hierarquia entre suas cortes, que os tribunais arbitrais não
têm e não podem ter, uma vez que suas decisões são autônomas.
Assim, em que pese a necessidade de se adotar uma nomenclatura clara para este
conceito inovador e autônomo de precedente arbitral, não se deve atribuir maior
relevância à palavra escolhida para denominá-lo, mas sim ao seu conteúdo. Além disso,
constatamos atualmente uma nítida aproximação entre os conceitos de precedente e de
jurisprudência, e entre as duas famílias common law e civil law, com o franco aumento
da atividade legislativa na primeira e a crescente valorização da jurisprudência na
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segunda.
Cumpre ressaltar que alguns autores, dentre os quais merece destaque Kassis,
sustentam a incapacidade da arbitragem em criar precedentes, pois lhe faltaria a
homogeneidade e a hierarquia próprias do Judiciário. Além disso, Kassis afirma que em
razão do árbitro exercer uma função que não é pública, institucional e permanente, ele
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não teria autoridade para criar precedentes.
arbitragem. Hoje, eles já estão definitivamente afastados, não cabendo mais discutirmos
se a jurisdição é uma prerrogativa exclusiva do Estado ou se apenas o Judiciário pode
criar jurisprudência, pois somente ele seria o juízo natural dotado de inevitabilidade. A
propósito, o art. 18 da Lei Brasileira de Arbitragem reconhece, expressamente, que “o
árbitro é juiz de fato e de direito”, e a jurisprudência brasileira é pacífica em aceitar o
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pleno caráter jurisdicional da arbitragem.
Nesse sentido, veremos que mesmo sem uma doutrina do stare decisis, a mera
existência de um sistema bem estabelecido e acessível de precedentes arbitrais pode
fornecer uma razão para alcançar um resultado semelhante, sem, necessariamente,
implicar qualquer valor vinculativo formal.
No que concerne o poder de persuasão das decisões arbitrais anteriores, Thomas Walde
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define o precedente arbitral em três níveis. No nível mais brando, que poderíamos
qualificar como “precedente indutor”, este serve apenas como exemplo de solução dada
por outros especialistas que já trataram de questões semelhantes, cuja experiência e
sabedoria podem servir à construção da solução mais justa para a controvérsia atual.
Nesse julgado, o Ciadi deixa claro sua posição de respeito aos precedentes proferidos
por tribunais internacionais e a importância da segurança jurídica na arbitragem: “O
Tribunal considera que não está vinculado às decisões anteriores dos tribunais
internacionais. Ao mesmo tempo, é de opinião que deve levá-las em consideração. Ele
acredita que, salvo razões imperiosas em contrário, tem o dever de adotar soluções
estabelecidas em uma série de casos consistentes”. Na mesma decisão ele afirma que,
sem prejuízo das especificidades de um tratado e das circunstâncias do caso concreto,
“tem o dever de procurar contribuir para o desenvolvimento harmonioso do Direito do
Investimento e, assim, satisfazer as legítimas expectativas da comunidade de Estados e
investidores em relação à previsibilidade da regra de direito aplicável”.
Nessa linha, as decisões anteriores têm sim impacto sobre o pensamento de árbitros
para solucionar casos futuros, mesmo que eles não façam sempre referência a elas. Este
mecanismo do precedente é fundamental tanto para a arbitragem interna quanto para a
internacional. Nesta última, ele se reveste de uma importância ainda maior em razão da
ausência de uma jurisprudência organizada que permita a interpretação harmonizada
dos tratados internacionais, aplicados por juristas oriundos de diferentes tradições
jurídicas.
Cada vez mais as partes buscam utilizar as sentenças como documentos convincentes do
resultado adequado de sua disputa. Elas podem convencionar que suas arbitragens
produzam decisões bem fundamentadas e capazes de influenciar os árbitros em futuros
processos, propiciando maior segurança às futuras transações e facilitando a resolução
de eventuais litígios. Para atingir essas metas, a convenção de arbitragem deve exigir
que os árbitros se utilizem de precedentes arbitrais e exponham, de forma clara e
abrangente, os fundamentos de sua decisão. O respeito destes precedentes implicará,
necessariamente, no respeito às legítimas expectativas das partes.
Por outro lado, uma vez instaurada a arbitragem, a parte sucumbente irá aceitar e
executar mais facilmente a solução que seja conforme às decisões anteriormente
proferidas por respeitados tribunais arbitrais. Em sentido contrário, e ressalvadas as
peculiaridades fáticas de cada caso, se a decisão for contrária à corrente dominante, a
parte sucumbente terá maior resistência em aceitá-la e buscará, mais frequentemente,
sua anulação. Enfim, o sistema de precedentes ajudará as partes a gerir seus negócios,
controlar os possíveis riscos e evitar disputas.
É certo que a posição de um árbitro sobre determinada matéria possa ser alterada, a
qualquer momento, diante de um novo argumento apresentado pelas partes ou pelos
demais árbitros, pela superação do precedente e pelas especificidades dos fatos
concretos de cada caso. No entanto, não se deve ignorar que as partes poderão escolher
um árbitro por sua posição sobre a matéria controversa, já manifestada em caso anterior
ou em trabalhos acadêmicos, o que poderia criar uma reserva de mercado para estes
julgadores ou até torná-los impedidos de apreciar determinadas controvérsias.
A propósito, os litigantes podem pactuar cláusulas contratuais que exijam dos árbitros a
observância de precedentes arbitrais, permitindo, ainda, que estes preencham eventuais
lacunas deixadas pelas partes na escolha das regras aplicáveis. Nesta dinâmica, é
plausível supor que os árbitros irão atribuir valor de precedente preponderante a
sentenças anteriores e, por consequência, se sentirão autorizados a criar regras
específicas mais adequadas ao caso concreto.
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e substitutiva do direito normalmente aplicável ao litígio.
Nesse ponto, as convenções internacionais que preveem normas jurídicas materiais são
o terreno natural para a aplicação dos precedentes arbitrais, posto que elas podem ser
interpretadas separadamente das legislações nacionais, como é o caso da Convenção de
Viena sobre a Compra e Venda Internacional de Mercadorias de 1980.
Claro está que dentro de cada tipo de arbitragem, seja ela interna ou internacional,
haverá matérias mais propensas a criar precedentes. Disputas relacionadas,
essencialmente, a fatos e dispositivos contratuais atípicos sentirão uma necessidade
menor de precedentes para disciplinar seus conflitos. Nesses casos, o resultado gira em
torno de um único conjunto de fatos e na interpretação de um contrato único que foi
negociado entre os atores privados para atender as suas necessidades específicas.
Nesse ponto, acreditamos que deva ser dado aos centros de arbitragem maior
autonomia para decidir sobre a utilidade e a oportunidade de publicar as decisões,
independentemente da vontade das partes, protegendo-se a identidade destas e os
dados confidenciais que não causem dano aos interesses públicos ou aos interesses da
parte adversa.
Ao lado da publicação das sentenças (b), outro requisito fundamental para a criação dos
precedentes arbitrais é a conscientização pelos árbitros de seu papel de intérprete do
Direito e de principal ator de um sistema jurisdicional capaz de criar normas e de
garantir a coerência esperada pelos litigantes (a).
Se, por um lado, os árbitros não têm a obrigação legal de seguir precedentes, parece
bem estabelecido, por outro, que eles têm a obrigação moral de segui-los sempre que
possível, de modo a promover um ambiente normativo previsível que permita o
desenvolvimento da arbitragem.
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Isso não quer dizer que os árbitros deveriam ser privados de seu poder discricionário na
resolução de cada caso, pois essa discricionariedade na avaliação dos fatos e na
determinação das regras jurídicas adequadas não é, de forma alguma, incompatível com
a disponibilidade de um conjunto de precedentes arbitrais em que os tribunais possam
se basear.
Se, por um lado, os árbitros não têm a obrigação legal de seguir precedentes, parece
bem estabelecido, por outro, que eles têm a obrigação moral de segui-los sempre que
possível, de modo a promover um ambiente normativo previsível que permita o
desenvolvimento da arbitragem como meio primordial de solução de litígios que
envolvem interesses eminentemente privados.
Tal esforço de coerência não é movido por uma homogeneidade estrutural da arbitragem
como sistema de resolução de controvérsias, ou por uma situação hierárquica entre os
árbitros. A força motriz do precedente arbitral é a vontade de satisfazer a expectativa
legítima das partes de que sua controvérsia seja resolvida por árbitros imparciais e de
acordo com as regras procedimentais e materiais aceitas pelo ordenamento jurídico
aplicável.
Nesse contexto, entendemos que o art. 164, IV, do PLS 166/2010 (Projeto do Código de
Processo Civil (LGL\1973\5) brasileiro na versão Emenda 1 – CTRCPC – Substitutivo), ao
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Deve ficar claro que uma sentença arbitral não é apenas o produto final do acordo entre
as partes na arbitragem, nem é simplesmente um documento privado, ela é, sim, uma
decisão jurisdicional que pode afetar terceiros e impactar sobre interesses da
comunidade empresarial em geral.
Tanto é assim, que a legislação brasileira impõe a divulgação de fatos relevantes que
possam afetar os resultados e o desempenho das companhias abertas. A CVM já decidiu
que há violação às regras de transparência e fiscalização previstas na Lei 6.404/1976 e
na IN 358/2002 da CVM, quando um regulamento de arbitragem impeça, no caso
concreto, a prestação de informações obrigatórias ao mercado. Dessa forma, a obrigação
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de comunicar qualquer ato ou fato se sobrepôs ao dever de sigilo.
Ademais, as próprias companhias – seja pela adesão às regras do Novo Mercado, seja
pela adoção voluntária de políticas de comunicação de fatos relevantes –, têm adotado a
prática de informar ao público a instauração de arbitragens, as sentenças e outros fatos
ocorridos durante o procedimento arbitral que possam influenciar o mercado.
Claro está que, embora a sentença deva, em princípio, ser publicada em seu inteiro teor,
alguns cuidados devem ser tomados antes de sua publicação. Devem, assim, ser
expurgadas todas as informações potencialmente confidenciais ou secretas, cuja inclusão
não é necessária para a compreensão da razão de decidir. Isso certamente inclui os
nomes das partes envolvidas na arbitragem, os nomes de terceiros, bem como a maioria
das informações econômicas e financeiras, a menos que sejam necessárias para o
entendimento da decisão, tais como os dados relativos às quotas de mercado e volume
de negócios em casos de antitruste. Naturalmente, as partes que desejarem poderão
sempre convencionar a publicação integral da sentença, contendo, inclusive, seus nomes
e demais dados que identifiquem o litígio.
Nessa linha, a Lei de Arbitragem brasileira não disciplina o sigilo a ser observado pelos
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Mais conservadores são os arts. 30, § 3.°, do Regulamento da LCIA e 27, § 4.°, do
Regulamento da AAA, que proíbem a publicação de qualquer parte de uma sentença sem
o consentimento de ambas as partes. Na presença de tal disposição, está fora de dúvida
que a exigência de consentimento tem de ser cumprida antes da publicação, mas isso
não significa que, necessariamente, esse consentimento precise ser dado em forma
escrita, podendo ele ser implícito através do silêncio das partes que foram previamente
notificadas da publicação.
No que tange aos regulamentos dos centros brasileiros de arbitragem, alguns permitem
a publicação das sentenças se as partes assim consentirem. É o caso do art. 15.1 do
Regulamento do Centro de Arbitragem da Câmara Americana de Comércio de São Paulo,
do art. 12.1 do Regulamento da Câmara de Arbitragem Empresarial (Camarb) de Minas
Gerais e do art. 62 do Regulamento da Câmara FGV de Conciliação e Arbitragem.
Outros adotam uma postura mais avançada que permite a publicação de extratos das
sentenças pelos próprios centros. Nesse sentido, é o art. 14.1.1 do novo Regulamento
da Câmara de Arbitragem da Câmara de Comércio Brasil-Canadá: “Para fins de pesquisa
e levantamentos estatísticos, o CAM/CCBC se reserva o direito de publicar excertos da
sentença, sem mencionar as partes ou permitir sua identificação”. Na mesma linha, o
art. 15.2 do Regulamento do Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA-RJ)
dispõe que: “O Centro poderá dar publicidade à sentença arbitral, caso previamente
autorizada pelas partes ou, em caso negativo, poderá o Centro, de qualquer modo,
divulgar excertos de sentença arbitral, desde que preservada a identidade das partes”.
Outro importante dispositivo foi inserido no art. 12.4 do Regulamento Modelo do
Conselho Nacional de Instituições de Mediação e Arbitragem (Conima), estabelecendo
que: “Desde que preservada a identidade das partes, poderá a Câmara publicar, em
ementário, excertos da sentença arbitral”. Por fim, o art. 19 da Convenção Arbitral da
CCEE dispõe que a Câmara “divulgará a seus associados extratos de todas as sentenças
arbitrais, no prazo de 5 dias contados da data em que foi proferida”.
Vale destacar o art. 7.10 do novo Regulamento da CAM que, logo após prever a
publicação periódica de um ementário, permite a publicação do inteiro teor das
sentenças proferidas sob seus auspícios, embora não especifique as circunstâncias em
que ela deva ocorrer: “A publicação das sentenças suprimirá qualquer elemento que
possibilite a identificação do procedimento”.
Nenhum sistema de precedente é provável que surja a menos que os árbitros tomem
conhecimento de sentenças anteriores, seja através de suas próprias pesquisas em
publicações jurídicas ou, mais comumente, pela citação feita pelas partes na
fundamentação de seus pedidos.
Porém, os ementários não tem vocação a criar precedentes. Por serem extremamente
reduzidas e abstratas, as ementas são, na maioria das vezes, insuficientes para orientar
os árbitros no julgamento de um caso concreto. Este sistema é próprio da noção de
jurisprudência de países de tradição civilista, onde a regra jurídica, por si só, pode servir
de orientação. Nestes países a jurisprudência apresenta características de um sistema
homogêneo e verticalmente hierarquizado, que o tribunal arbitral não tem e não pode
ter, uma vez que suas decisões são autônomas.
Por outro lado, é óbvio que a postura de alguns centros de arbitragem de publicar
decisões apenas com o consentimento das partes não incentiva a criação de um sistema
de precedentes. Da mesma forma, uma política de publicação submetida a uma
determinada linha editorial ou que publique as sentenças muito tempo após elas serem
proferidas, pouco contribui para a criação de precedentes. Este é o caso da CCI que
publica decisões proferidas há pelo menos três anos e prioriza a publicação de julgados
sobre matéria processual, a fim de harmonizar a aplicação de seu regulamento.
Nesse sentido, acreditamos que o primeiro passo rumo à ampla divulgação dos
precedentes é conceder aos centros de arbitragem plena autonomia para publicar as
sentenças, independente da vontade das partes, extraindo-se todas as informações
potencialmente confidenciais. Dessa forma, os árbitros ou o centro de arbitragem
preparariam duas diferentes versões de uma mesma decisão.
O processo de publicação da versão não confidencial começaria logo após a sentença ser
proferida. Num primeiro momento, as partes poderiam se manifestar em relação aos
elementos que considerem confidenciais, justificando a existência de um genuíno
interesse em mantê-los em sigilo. A partir das ponderações das partes, os árbitros iriam
preparar a nova versão não confidencial, decidindo, soberanamente, quais dados devem
ser excluídos antes da publicação.
Esta publicação deve ser realizada em formatos eletrônicos ou impressos de fácil acesso
a advogados e árbitros. A simples publicação não garante, contudo, que as sentenças
sejam acessíveis a todos os usuários da arbitragem. Elas poderão, por exemplo, ser
publicadas em revistas e bancos de dados dispersos e muito especializados ou, ainda
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mais grave, serem selecionadas de acordo com a linha editorial de cada um destes
veículos.
A divulgação em massa das sentenças arbitrais seria alcançada com maior facilidade se
os centros de arbitragem, além de as publicarem, alimentassem um banco de dados,
que poderia ser administrado por um órgão governamental, como o Ministério da Justiça,
ou por uma associação, como o CBAr. Este mecanismo permitirá a criação de um
repertório necessário à elaboração de um verdadeiro sistema de precedentes arbitrais,
pressupondo que um index abrangente e uma ferramenta de busca eficiente serão
disponibilizados.
2 Sobre o tema ver: LANDES William M.; POSNER Richard A. Legal Precedent: a
Theoretical and Empirical Analysis. Journal of Law e Economics, vol. 19, p. 249. Chicago:
University of Chicago Press, 1976; SEPPALA Ch. The development of case law in
construction disputes relating to Fidic contracts. In: Precedent in international
arbitration. IAI. p. 67; GERHARDT, Michael J. The Limited Path Dependency of
Precedent. University of Pennsylvania Journal of Constitutional Law, vol. 7, p. 903.
Pennsylvania: University of Pennsylvania Law Review, 2005.
4 Nesse sentido, a decisão da CCI no caso Dow Chemical c. Isover Saint Gobain.
Yearbook Commercial Arbitration, vol. 9, p. 131, 136-137. Kluwer,1984: “As decisões
dos tribunais arbitrais da CCI criam jurisprudência que deve ser levada em consideração,
pois representa soluções construídas a partir da realidade econômica e em conformidade
com as necessidades do comércio internacional, e cujas regras criadas ao longo do
tempo, especificamente para a arbitragem internacional, devem ser observadas”.
5 KASSIS, Antoine. Thérie générale des usages du commerce. Cap. VIII, Le mythe de la
jurisprudence arbitrale considerée comme une source du droit du commerce
internationale. Paris: LGDJ. p. 515. No mesmo sentido, FAZZALARI, Elio. L’arbitrato.
Torino: Utet, 1997. p. 86.
10 ADC Affiliate Limited and ADC e ADMC Management Limited v. Republic of Hungary,
ARB/03/16, 02.10.2006.
16 Nesse sentido, Emmanuel Gaillard descreve a nova lex mercatoria não como um
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sistema legal, mas como um método de evitar a aplicação de regras que sejam
incompatíveis com as necessidades do comércio internacional. GAILLARD, Emmanuel.
Trente ans de Lex mercatoria. Pour une application sélective de la méthode des principes
généraux du droit. Journal du Droit International, n. 1, p. 5. LexisNexis, 1995.
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