Você está na página 1de 4

 Jurisprudência

A jurisprudência se caracteriza como o resultado de decisões


reiteradas pela prática judiciária e por muitos anos serviu apenas e
tão somente como fonte explicativa para uma suposta e adequada
aplicação do Direito.

O Código de Processo Civil, por sua vez, determina em seu art.


926 que os tribunais promovam esforços para sua uniformização e a
mantenham íntegra, estável e coerente. Desta forma, o
entendimento judicial vai consolidando um horizonte mais seguro
para o jurisdicionado, que passa a identificar um padrão de resposta
para as demandas judiciais. Essa determinação normativa, advirtase,
sofre clara influência dos vetores hermenêuticos constitucionais
e estabelece, por essa razão, que a edição de enunciados de
súmulas siga a orientação dominante do tribunal.
Pode-se mesmo afirmar, no cenário atual, que a jurisprudência,
em diversos aspectos se torna uma condição de aplicabilidade do
procedimento, pois gradativamente, essa compreensão reiterada
pelas cortes: delimita termos vagos, atualiza conceitos jurídicos e
viabiliza o diálogo de termos abertos com faticidade. Note, por
exemplo, que a proteção patrimonial do bem de família se afirma
pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, sendo
necessário acompanhá-la para identificar seus limites semânticos e
com ela, as condições para um possível enquadramento fático do
caso concreto.

 Doutrina
A doutrina se apresenta como o conjunto de lições decorrentes
dos jurisconsultos, sendo de suma importância para a formação
jurídica dos operadores em toda a sua vida acadêmica e
profissional. De fato, não se pode olvidar que antes mesmo de a
referência legislativa se fazer presente no cotidiano do jurista, o
conhecimento já se constitui pelos livros propedêuticos. Destarte,
mesmo quando formados e em franco exercício da profissão, a
doutrina se presta a esclarecer, indicar, suprir e fortalecer as
argumentações e fundamentos deduzidos em juízo. Desconsiderar a
experiência e as lições de quem pelo texto se propõe a educar, ao
que nos parece, é menosprezar a importância do outro na formação
intelectual do indivíduo, e isto não se faz sem absoluto prejuízo da
própria formação humana e intelectual.

Diante do novo sistema processual, que agora se apresenta em


fina sintonia com a Constituição, a doutrina terá de enfrentar o
desafio de propor respostas às perguntas que a vida for
apresentando aos 1.072 artigos da codificação, afinal, nenhuma lei
no mundo pode contemplar o universo de possibilidades fáticas que
o cotidiano apresenta ao Judiciário. Por esta razão, a companhia
dos livros torna-se condição para que possamos efetivar as normas
processuais.

 Súmulas
Enquanto fontes materiais e, portanto, não obrigatórias, as
súmulas são representadas por enunciados proferidos por tribunais
para ratificar um padrão de interpretação do Direito. Com elas é
possível, em tese, evocar certo grau de coerência sobre as decisões
judiciais, de sorte que casos semelhantes sigam a mesma
orientação e, por consequência disto, apresentem respostas
similares.
As súmulas vinculantes são verbetes proferidos pelo quorum de
dois terços dos Ministros do STF, em acordo com o procedimento
estabelecido no art. 103-A e seguintes da Constituição. Seu efeito
decorre da publicação e se presta a incidir sobre casos futuros,
gerais e abstratos; sua finalidade é evidenciar a validade,
interpretação e eficácia de normas específicas sobre as quais haja
controvérsia entre os órgãos do Poder Judiciário ou entre esses e os
órgãos da administração pública.
É certo que o efeito vinculante da súmula aprovada pelo
Supremo Tribunal Federal sobre matéria constitucional, em
decorrência de votação qualificada, pode imprimir uniformidade às
decisões dos tribunais inferiores, ressaltando com isto o ideal da
segurança jurídica para o jurisdicionado. Trata-se, portanto, de fonte
formal do direito processual.
Assim,
o efeito vinculante, ao implicar que as cortes inferiores
julguem de conformidade com o que foi decidido pelas
cortes superiores, coarcta a possibilidade de tratamento
desigual para situações semelhantes, garantindo
uniformidade, regularidade, segurança jurídica, eficiência e
transparência nas decisões judiciais e reforçando,
diuturnamente, o princípio da igualdade, direito fundamental
da pessoa humana e condição sine qua non de qualquer
teoria pública de justiça.23
Sem prejuízo dessas considerações, devemos observar o fato de
que a súmula vinculante não se correlaciona diretamente com o
caso que a justificou, tampouco impõe sua obediência jurídica em
razão de densa e segura fundamentação, cumprindo dessa forma
as determinações constitucionais de coerência e integridade. Ao
revés, sua vinculação decorre da publicação, e não do entendimento
sedimentado e seguro da tradição jurídico-constitucional. Não é,
pois, necessariamente, o resultado de amadurecimento histórico,
nem atrela sua incidência em casos futuros ao fato originário que lhe
garantiu aprovação.
Sobre a necessidade de contextualização para a correlata
incidência do enunciado ao caso concreto, o CPC/2015 estabelece
em seu art. 489, § 1º, que qualquer decisão, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, não estará fundamentada se limitar-se à
invocação do enunciado da súmula ou do precedente judicial, sem
antes identificar seus fundamentos determinantes e, com isso,
demonstrar o ajuste entre a peculiaridade do caso e a razão de
incidência do verbete ou precedente. Contempla o novo Código,
portanto, lição hermenêutica fundamental para a atualização do
Direito brasileiro.
A regulamentação atual, prevista pelo art. 103-A, § 3º da CF
estabelece que: “Do ato administrativo ou judicial que contraria a
súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá
reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão
judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou
sem a aplicação da súmula, conforme o caso”. Para esta hipótese,
registre-se, não se aplicam a revisão de instâncias recursais nem o

sistema difuso de controle de constitucionalidade. A decisão


reclamada não passa por tribunais superiores, pois é diretamente
avaliada pela Suprema Corte.
Diante disto, perguntamos: havendo súmula vinculante que
suposta ou flagrantemente afronte a Constituição, deverá o juiz
aplicá-la inadvertidamente, sem a possibilidade de exercer controle
difuso? Sendo assim, a súmula vinculante tem força normativa
maior que as regras aprovadas democraticamente pelo Congresso
Nacional.
Trata-se, em verdade, de um paradoxo do nosso sistema
jurídico, pois os juízes, em função do controle difuso e da
independência funcional, podem deixar de aplicar leis ou mesmo
contrariá-las. O combate de possíveis erros na interpretação e
aplicação do Direito, nesses casos, se faz pelo sistema recursal, a
exigir prazo e fundamentação. “O que os juízes não podem fazer é
contrariar súmulas. Neste caso, conforme a EC 45, não caberá
recurso, e sim reclamação... Ou seja, em terrae brasilis a lei não
vincula; a súmula sim, mesmo que seja ilegal/inconstitucional!”.

Você também pode gostar