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VIRTUDES HUMANAS

Aula 4 - A Justiça

“Receber injustamente uma bofetada, meu caro Cálicles, não é a maior ignomínia.
Como também o não é cair nas mãos de um assassino ou de um ladrão, mometer
contra mim tal injúria é muito é muito pior para o seu autor do que para mim a
quem a injúria se destinavam.”

Platão coloca essas palavras na boca de Sócrates no seu diálogo, gorges. Ele está
discutindo sobre a natureza da justiça. Ora, às vezes algumas coisas nos parecem
óbvias.
Que é justo? O que é injusto? O que é injustiça? O que é a justiça? Qual a
natureza da justiça enquanto virtude? Qual a natureza das ações justas?
É um exercício interessantíssimo. Ler nos diálogos platônicos as discussões sobre
a virtude, e você vai ver que se a civilização ocidental tivesse tido como base,
sujeitos como Cálicles. Ora as coisas seriam muito diferentes do que são. Não,
porque a natureza da virtude seja uma construção social.
Mas porque é um sujeito como o Cálicles que era um defensor dos tiranos,
entendia a virtude, como simplesmente a imposição do seu poder pela força.
Ora, hoje, infelizmente, há alguns que pensam assim, Carl Schmits, ele chega a
dizer que a virtude consiste em defender os amigos e atacar os inimigos.
A virtude da justiça desculpa a justiça propriamente dita.
Esse é um um tema riquíssimo que tem reflexos na ética, tem reflexos no direito,
certo? Na psicologia, para nós, nos interessa em compreender a virtude da justiça
no sentido de que ela é uma virtude moral, e, por conseguinte, ela visa a me levar
à Felicidade. Mas ela tem uma particularidade e nós vamos começar a estudar
agora a virtude da justiça e suas particularidades.

A definição clássica de justiça é: Vontade constante e perpétua de dar a cada um


o seu direito.
Isso nos leva a uma série de reflexões. O bom das definições clássicas é que elas
não são meras frases de efeitos, meros paralamas de caminhão filosófico, como
diz o meu amigo Jeová, não, elas são o resultado de uma busca séria para
encontrar as palavras adequadas para se referir a uma realidade. Então, se a
gente for destrinchar essa definição, a gente vai compreender muito bem qual a
natureza da justiça.
Se a justiça avisa a dar a cada um o que é seu, certo, o que é seu direito.
Então existe algo que precede a justiça, existe uma discussão anterior à justiça. A
noção de que algumas coisas pertencem às pessoas.
Umas por ação, outras por natureza. Pertencer, ser devido a, eu devo a alguém.
Ser próprio de, algo que é próprio de uma pessoa, ninguém te deve nada, mas
você deve tudo a todos. Lembram-se disso?
Ora, isso que o doutor Ítalo fala é um princípio clássico da virtude da justiça. Da
noção clássica do direito, ou seja, do que dessa noção, do que é seu, aplicado a
nossa vida prática, porque o que importa para a gente é precisamente isso.

O exercício da virtude da justiça enquanto algo que vai me conduzir a Felicidade,


certo? E não é isso que a gente faz, quando a gente vai lá e ouve o Ítalo falando?
Eu quero saber como é que eu faço para ser feliz, para amar melhor as pessoas e
tudo mais. Uma família de qualidade.
Pra ser um bom pai, uma boa mãe, um bom filho.
Bom marido, uma boa esposa, tudo isso em todos esses aspectos, impera a noção
de justiça, feito.
Essa relacionalidade própria do ser humano. O fato do ser humano ser um animal
gregário de se relacionar com as pessoas.
É talvez o que torna a justiça uma virtude tão elevada, e nós vamos estudar isso
pouco a pouco aqui, paulatinamente.

Voltando aqui, a frase do Sócrates que a gente falou que no início da aula. A
justiça, a reflexão que Sócrates traz sobre justiça, pode a gente concluir que;
cometer injustiça, cometer a injustiça, ela traz mais mal àquele que comete, do
que aquele que a sofre.
Tenho certeza que por mais que você concorde com essa frase, algo de
estranheza acontece dentro de você.
Porque nós somos filhos do pensamento moderno.
Nós já sofremos com as corrupções próprias do pensamento moderno.
Mas vamos lá, lembra. As virtudes são pra? São para quê? Para Felicidade, certo?
Ora, se eu cometo um ato contrário à virtude. Certo, eu estou me desviando do
meu fim último a Felicidade, certo?
Portanto, aquele que se desvia da prática da justiça se desvia da Felicidade. É
óbvio? A justiça se prende com a integridade ontológica do homem, diz Joseph
Piper no seu livro clássico sobre virtudes cardeais e teologáis.
Ora, não é à toa. Olha que que interessante, que o Piper está dizendo aqui, existe
uma natureza humana, existe uma integridade ontológica do ser humano. Existe
uma dignidade própria da pessoa humana.
Existe a finalidade da vida humana e quando você se desvia dessa finalidade, você
se desumaniza, você se torna menos ser humano e na medida em que você se
torna menos ser humano, você se torna mais infeliz. Qual o nome que a gente dá?
Que expressões a gente usa para se referir a uma pessoa que comete muitas
injustiças graves, injustiça? Ora, a gente diz que aquela pessoa é desumana. A
gente diz que falou no edital é um monstro, não é? O que é um monstro?
Um monstro é a deformação do humano. O desumano é aquele que se desviou e
que perdeu a sua humanidade, não é? Então, o injusto é desumano. E por isso é
infeliz.
Sócrates estava certo, Cálicles que estava errado, Ponto.
Só que foi difícil para a mentalidade grega daquele período compreender, assim
como para nós, na nossa mentalidade pós metafísica. Pós-realista, pós-
antropológica, pós ética, pós-humanista.
Entender essas realidades, que são mais próprias do ser humano, mas o nosso
exercício aqui é justamente fazer o exercício, acompanhar o movimento que a
nova psicologia tem feito. A psicologia que vem ali apontando com Adler, com
Franklin, com o Martin Seligman, cada um meio ali as apalpadelas. Vamos
continuar esse processo. Eles estão mostrando que era lá atrás que estava a
ciência que conduziu o homem à Felicidade de alguma maneira, né? Pera então
vamos lá, vamos na fonte certo? Então vamos encontrar aqui que o fundamento
da justiça é a natureza humana, o expressãozinha mais atacada nos dias de hoje.
As psicologias ficam assustadas quando fala em natureza humana. Falar em
natureza humana é perigoso, é complicado, faz com que exista um padrão, faz
com que a gente ache que eu preciso adequar as pessoas a um padrão. Não, nada
disso não é incômodo, não tem como falar em direitos humanos, lembra? Dá a
cada um o que é seu direito, não tem como falar em direitos humanos sem falar
em natureza humana.

Como que eu vou falar de direitos humanos se eu não sei que o ser humano é
algo que é próprio, que ele tem sua dignidade própria, que tem natureza de
pessoa, que tem Liberdade, que tem certas características, que lhe são próprias,
que são o seu direito e que por serem lhe serem próprias e serem do seu direito
eu lhes devo.
Eu devo a um ser humano aquilo que lhe é de direito.
Então eu devo ao ser humano o respeito a sua dignidade, a sua Liberdade, a sua
personalidade.
Certo? E para isso eu preciso da noção de natureza humana. Eu não posso me
afastar da noção de natureza humana, se afastar da noção de natureza humana é
precisamente aquilo que cria as maiores atrocidades, as maiores maldades,
porque na medida em que eu desumanizo o outro, eu o objetifico, ora, não se fala
tanto hoje em dia, de objetificação da mulher, por exemplo.
Fala-se, com razão, tornar a mulher um mero objeto da satisfação dos baixíssimos
desejos dos homens é objetificá-la.
É uma injustiça. E olha que coisa interessante, na medida em que, por exemplo,
eu Homem objetifico, uma mulher, me relaciono com ela de forma injusta, ou
seja, de maneira a pensar nela como um mero objeto de satisfação dos meus
desejos.

Olha como o Sócrates estava certo.


Eu faço uma maldade, eu cometo uma injustiça contra ela, mesmo que eu não
faça nada físico com ela. Mas quem se torna pior? Eu.
Eu me torno pior, eu aquele que se relaciona com uma mulher como se ela fosse
um mero objeto, comete uma injustiça e por cometer essa injustiça se torna pior,
porque um homem que se relaciona com uma mulher como objeto não é um
homem digno, ele perde, ele cai na sua estrutura ontológica. Ele é contra a sua
própria natureza. Olha que coisa mais interessante.
Como que dentro das discussões mais clássicas nós temos as respostas para
alguns dos dilemas mais modernos?
Não é somente apesar de ser também um ato de proteção da vítima vulnerável,
mas também um ato de engrandecimento da dignidade de cada um. Lembra que
o Ítalo fala, pegando aquela expressão;
“Olhar não arranca pedaço?”
Quando as pessoas ficam andando na rua, praticamente consumindo uma pessoa
ali viva, não é? Com seu olhar lascivo, o Ítalo diz, arranca assim da pessoa que
você olhou e principalmente de você.
Cara é disso que ele está falando, essa injustiça. Ou seja, esse ato que não
corresponde àquilo que lhe é, que é próprio da pessoa, do objeto ali, da minha
ação, me desumaniza, perfeito?
Então, a virtude é o hábito operativo bom que leva a praticar coisas justas a
realizar e querer o que é justo. Aristóteles dizia que é fácil fazer o que é justo, mas
para aquele que não possui a virtude da justiça, é difícil fazer como o justo faz, ou
seja, com Alegria e sem hesitação. Veja a virtude ela é uma adequação dos afetos,
então eu tenho que querer fazer, eu tenho que fazer com Alegria, sem hesitação.
Aí sim eu vou estar sendo justo.
Perfeito? Então vamos lá.

Matéria da virtude da justiça, certo? Os atos relativos aos outros, a virtude da


justiça diz respeito aquelas coisas que são próprias da relação entre os seres
humanos.
Certo? Cícero filósofo, pagão, dizia;
“A virtude da justiça é a regra que mantém entre os homens a sociedade, e a
comunidade devida.” Perfeito?
“A Justiça...” olha que São Tomás diz;
“Desrespeito somente ao que é relativo aos outros.” A gente pode usar de
maneira figurada justiça para mim mesmo, por exemplo.
Se eu me refiro ao ser humano, um ser humano em particular em relação as suas
partes, sei lá, intelecto, apetite, então haveria justiça num homem quando a razão
governa, o apetite sensível, por exemplo. Certo?
Também quando eu atribuo a uma parte do homem aquilo que lhe convém.
Quando eu atribuo ao concupsível que ele é próprio, quando eu atribuo ao
irassível que é próprio e por aí vai.
Mas isso é injustiça no sentido figurado.
O que São Tomaz de Aquino diz aqui, justiça propriamente dito diz respeito a
aquilo que é do que é próprio da relação, é a virtude que régi as relações
humanas e por isso que ela é tão elevada.
Perfeito?
E tem uma coisa interessante na justiça. O filósofo Cícero ele dizia que, em regra,
quando a gente olha para alguém, e diz que ela é uma pessoa boa. Quando eu
olho para um para um fulano de tal para um sujeito e digo assim; “Esse sujeito é
bom, cara.”
"O Ítalo é um cara bom, Caio é um cara bom, sabe? Pô, Carol é uma pessoa boa. A
minha mulher é uma pessoa boa, meus filhos são bons, um governante x ou y é
bom.”
O Cícero diz que quando a gente diz que uma pessoa é boa, é sobretudo por
causa da justiça. Olha que coisa mais sutil e sofisticada. Vamos lá.
Digamos que a gente tem uma pessoa que é muito temperante, eu como na
medida bebo na medida e tal, tal tal beleza.
Mas digamos que eu tenho uma pessoa que é justa.
Se percebe que é mais próprio eu dizer, fulano de tal é bom e quando eu estou
falando isso, eu estou me referindo a maneira que ele lida com os outros. Em
geral, eu não penso muito nas virtudes que dele que tem a ver com ele mesmo.
Eu penso nas virtudes dele, que tem a ver com os outros.
Penso na justiça dele. Não é interessante isso? Pensa um pouquinho aí, se
geralmente, quando você pensa em elogiar alguém e dizer que ele é bom, você
não está pensando no seu caráter de justo, legal isso, né?

Pois bem, falei da matéria da virtude da justiça.


A matéria da justiça são as relações humanas, é aquilo que é relativo aos outros.
A minha relação com o outro, certo, sirva, tá bom, não enche o saco.
Interessante isso, né? Ninguém te deve nada, mas você deve tudo ao outro
estúdio da justiça, então agora nós vamos falar sobre o sujeito da virtude da
justiça, lembra o sujeito da virtude da prudência é o essencialmente racional,
racional por essência. Já o sujeito da justiça é a vontade, a potência apetitiva
racional, o apetite racional à vontade. A justiça é a retidão da vontade, retidão
observada por causa dela mesma, dizia Santo Ancelmo de Cantuária.
A virtude tem sua sede na vontade e incumbe a justiça retificar os atos que lhe
são próprios, retificar os atos da vontade. É o que é próprio da virtude da justiça.
Veja bem, a justiça não incumbe dirigir nenhum ato de conhecimento. Falamos
muito de conhecimento na prudência.
Na justiça, não é propriamente os atos de conhecimento, somos chamados justos
pelo fato de agirmos com retidão. O princípio de um ato é uma faculdade
apetitiva.

Só que não pode ser o apetite sensível, Irascível ou concupsível, porque a


percepção sensível, lembra percepção sensível, faculdade cognitivas sensíveis,
aquelas que vêm dos sentidos, externos ou internos e o apetite sensível é aquele
que responde aos bens que são apresentados pela parte cognitiva, sensível da
alma perfeito.
A percepção sensível, ela não chega a considerar a relação de uma coisa com a
outra que é própria da racionalidade, alma intelectiva, o apetite que seguia pela
razão é a vontade. Então se a justiça tem a ver com aquilo que eu devo fazer em
relação ao outro. Ora, e tem a ver com um ato e tem a ver com relação, então
tem que ter a ver com uma potência apetitiva banhada pelos objetos que são
próprios da razão no sentido razão com r maiúsculo do intelecto, da inteligência.
Então é a vontade o sujeito da justiça, só pode ser a vontade.

Então a justiça tem a ver com as ações humanas, as ações humanas, a potência
que mobiliza toda a estrutura entitativa do ser humano, para agir chama-se
vontade, ela move os outros apetites sensíveis, tudo o ser humano para provocar
uma ação.
Então, se a prudência tem sua sede no racional por excelência. A justiça tem sua
sede nas ações. Tem por objeto as ações e, portanto, sua sede na vontade que vai
guiar o ser humano para a ação.
Quem tem por objeto as paixões são as próximas virtudes que nós vamos estudar.
Tá, a gente vai falar sobre elas.
Então, veja bem.
Matéria=relações.
Sujeito= A vontade.
Objeto= As ações desta que desembocam, que desaguam nos outros, certo?
Orientação= A orientação da justiça é o que se chama na filosofia clássica de bem
comum.
Bem Comum está aí uma expressão também que foi muito corrompida. Pelo
pensamento moderno.
Bem comum, se entende como se tivesse em oposição a um bem pessoal ou
como se fosse algo é que nós todos temos que compartilhar e fazer uma divisão
aqui. Vamos lá, tudo isso pode ter seu sentido em um certo momento, mas não é
bem isso.
Bem comum é tudo aquilo que tem a ver com a relação, as relações da vida em
sociedade, aqueles bens que são partilhados, aqueles bens que eu compartilho e
que, em última análise, quanto mais eu compartilho, mais eles crescem.
Certo, esse é o bem comum e por isso a justiça supera em excelência todas as
virtudes Morais. Veja bem.
Você não disse Hugo que a prudência é superior? Mas lembre-se, a prudência, ela
é por excelência, uma virtude intelectual também uma virtude moral? Sim, mas
ela é, em primeiro lugar, intelectual. Então, quando Santo Tomás diz que a virtude
da justiça supera em excelência as virtudes Morais. Ele só está se referindo às 3
justiça, Fortaleza e temperança. Perfeito.
Então? Por quê? Por quais motivos? A virtude da justiça supera em excelência as
outras virtudes Morais? Primeiro quanto ao seu sujeito, ora, o seu sujeito é à
vontade, certo? Então esse sujeito o sujeito da justiça reside em uma parte mais
nobre do ser humano.
A dizer à vontade, que reside na parte intelectiva da estrutura, tentativa do ser
humano perfeito. Então quanto ao sujeito. Ela reside numa parte mais nobre,
então ela é mais excelente porque ela reside numa parte mais nobre, à vontade,
apetite intelectivo.

Mas ela também é superior quanto ao objeto, porque lida com os outros. O bem
comum é uma virtude bem fazeja que Visa o bem dos outros. Aristóteles dizia as
maiores virtudes são aquelas que concorrem mais para o bem dos outros. Sair de
mim é algo que me torna mais digno, me torna superior, me torna mais humano
sair de mim para querer desaguar no outro.
Entende, então, a virtude da justiça é superior primeiro porque reside em uma
parte superior do homem da vontade na parte intelectiva e segundo, porque
quanto ao objeto, ela lida com o objeto mais excelente que é o desaguar no
outro. Que é agir bem para o outro.
Perfeito.

Agora. Justiça também envolve, em alguns casos, algo polêmico, que é o julgar.
Bora, hoje em dia, existe um certo preconceito com a noção de julgamento. E
esse preconceito vem de várias raízes, né? Várias origens, às vezes de de certas
visões políticas, mas às vezes, até por exemplo, do cristianismo, né? Porque é, se
você pega na bíblia, no evangelho, você vai ter, não julgueis para que não não seja
julgado, né?
Vamos lá.
É lícito ou não é lícito julgar?
Segundo Santo Tomás de Aquino, é lícito julgar.
Desde que esse julgamento siga alguns critérios, respeite alguns critérios, alguns
requisitos, primeiro requisito.
Se esse julgamento proceda de uma inclinação vinda da justiça, ou seja, ele não é
um juízo temerário, ele é um juízo, um julgamento que Visa a um bem para o
outro.
Segundo que emane da autoridade competente. Ou seja que venha de alguém
que realmente esteja na posição de julgar.
Às vezes, na maioria das vezes, eu não sou chamado a julgar. Mas às vezes eu sou.
Vou falar mais sobre isso.
E por último, seja proferido segunda a reta, segundo a reta norma da prudência.
Certo? Veja, né.
Lá no evangelho, por exemplo, que eu citei a proibição de julgar se refere ao juiz o
temerário, que não cumpre os requisitos listados.
Agora, um particularmente importante, que eu quero falar são os nossos
pequenos juízos cotidianos.
Andar na rua.
“Nossa, fulana, tá com a saia aqui, estou vendo que não devo. Ela deve ser
uma...”
Fiz um juízo.
“Nossa, fulano de tal, tá gordo, mó panção. Esse cara deve ser um preguiçoso. Por
que que ele não malha?”
Olhei para frente. “Esse mendigo está pedindo dinheiro, nossa, que vagabundo,
né?”
“Poxa, por que que ele não arruma um emprego?”
“A dona dessa loja explora as suas funcionárias?”
“Poxa, que pessoa...” E a gente vai fazendo isso o tempo todo.

Quantos pequenos juízos foram? Façam esse exercício, passe um dia observando
e veja quantos pequenos juízos a gente faz.
Esses são os famosos juízos temerários.
Eles estão errados em vários aspectos, estão errados porque não procedem de
uma inclinação vindo da justiça.
Estão errados, porque não são proferidos segundo a reta norma da prudência e
também não emana da autoridade competência, quem é você para julgar cara
pálida? Para que tu está julgando? Que motivo você tem para fazer isso?
Não faz sentido, você não está chamado a julgar, e quando você faz isso, você se
torna menor. Você está usurpando uma função que não é sua. Você não está ali
para isso.
Perfeito.
Então, veja bem novamente, a gente percebe que.
Não agir com justiça, te tornando menor, te torna pior.
Mais do que a pessoa que está sendo julgada, por exemplo, aquela pessoa lá que
estava com a saia de tal jeito, a mecha no cabelo de tal jeito na barriga a pessoa
nem sabe o que você vai pensar, não é? Você se tornou pior naquele momento
que declarou mesmo que, internamente, aquele juízo.
Entendeu?
Classicamente se divide a justiça em duas, uma seria a justiça comutativa tá que
seria bem, lembra. Justiça tem a ver com a relação, dos outros, das pessoas
minha, com os outros, a comutativa rege as relações de parte a parte de um todo,
entendeu? De uma comunidade em uma comunidade de as relações de uma
pessoa com a outra e a justiça distributiva, que é a segunda parte da justiça ela
rege as relações do todo, da comunidade com as partes, repartindo o que é
comum de maneira proporcional, ou seja.
A maioria de nós está chamado a refletir sobre a justiça comutativa, porque ela
vai ser, em primeiro, em primeira instância o que vai reger minhas relações
mesmo com os outros, mas alguns de nós estarão em posições de governo, não
necessariamente governantes.
Governantes em vários sentidos, não é governantes executivos, governantes
legislativos, governantes judiciários, governantes que assumem papéis
importantes que se colocam na posição de julgar pelo todo. Essas pessoas têm
uma responsabilidade mais grave.
E são mais cobradas, de certa maneira, agir com justiça.
Entendeu? E eles estão no campo da justiça distributiva.

O princípio fundamental da justiça parece simples e é, mas ao mesmo tempo é


muito complexo.
Evitar o mal e fazer o bem, ou seja, no sentido de atos que se referem com
outros, ou seja, evitar o mal para os outros e fazer o bem para os outros todas ou
todos os desdobramentos da justiça tem a ver com isso, considerando sempre
aquilo que é próprio, aquilo que é devido ao outro.
A virtudes anexas da justiça são sobretudo, a religião e as virtudes sociais e aqui,
assim, tudo bem se você não for religioso, não é disso que se trata. A ideia é que a
virtude da religião, e veja filósofos pagãos falavam sobre isso Cícero falava, por
exemplo, sobre a virtude da religião, virtude da religião, seria considerando a
existência de um ser Supra excelente seja a divindade existe aquilo que lhe é
próprio, né? A virtude da religião consiste em dar a divindade aquilo que é
próprio.
As virtudes sociais são aquelas que vão especificando, dentre as minhas relações
com os outros.
Considerando aquilo que são aquilo que é próprio, aquilo que é devido a certas
pessoas, em particular, as virtudes que vão reger essas relações. A primeira delas
é a virtude da Piedade. A Piedade filial, sobretudo, ela diz respeito aos pais e à
pátria. O que eu devo a meus pais? O que eu devo ao meu país? A virtude
também do respeito, que é uma virtude mais geral.
Que eu tenho para com os outros no geral, eu devo respeito aos outros, certo?
A virtude da dulia é um respeito um pouco especial, é a honra que eu devo aos
superiores, em 2 sentidos, no sentido da autoridade constituída. Ou seja, eu
tenho, por exemplo, um patrão, alguém que me contratou para fazer um serviço.
Eu devo-lhe o serviço bem prestado, certo? Mas também as pessoas que são
excelentes eu devo à admiração.
O virtudezinha difícil nesse nosso Brasil! Pai amado, é difícil admirar alguém? É
difícil simplesmente chegar e declarar; “Fulano de tal é melhor que eu, cara.”
“Esse cara é bom!” “Essa mulher é excelente!”
Declarar, admirar, é um ato de justiça, é um ato de dulia.
Obediência. Sim, por que não?
As relações que vão se estabelecendo entre os seres humanos.Em alguns casos,
remetem a obediência, obediência de filhos para pais, obediência patronal, né?
Obediência de empregado para patrão, obediência, enfim, várias obediências,
obediência às leis do trânsito.
A virtude da gratidão, o clássico gratilux, gratiluz, gratitudo.
Gratidão, ou seja eu devo gratidão as pessoas que me fizeram bem e a ingratidão
é um baita de um vício.
A virtude da verdade ou veracidade. Ou seja, eu devo a verdade ao outro não
mentir. Falar-lhes a verdade, isso é uma virtude que tem a ver com a justiça
porque é direito da pessoa a verdade que não a omita.
A virtude da amizade eu devo às pessoas com as quais eu estabeleço uma relação
especial mais própria. Eu devo amizade.
A liberalidade que tem a ver com dinheiro, ora se eu tenho mais dindin do que os
outros eu devo ser liberal, porque eu devo aqueles que estão numa situação
difícil, a minha ajuda?
Certo, então uma pessoa que é liberal, que tem a virtude da liberalidade, ela dá o
que é dela, obviamente dentro do juiz da reta razão.
Para aqueles que precisam.
E, por fim, a epiqueia, capacidade de deixar de lado o rigor e a letra da lei, da lei
escrita para obedecer às exigências da justiça e do bem comum, ou às vezes,
cumprir a lei de forma dura e normativa é ser injusto. Então é preciso a virtude da
epiqueia, que vai moderar isso e saber com que ora às vezes não é bem assim que
eu vou agir.
Perfeito, então, novamente, reta razão no agir no que se refere à minha relação
com os outros. A virtude moral mais elevada.
Percebam como que a gente vai pegando aqui algumas coisas, umas falas que a
gente vai tendo umas frases a gente vai aprofundando o segundo, a antropologia
e ética clássica. A gente vai vendo quanto de profundidade tem nessas coisas e
ponto que essas coisas têm potencial para nos levar à Felicidade, melhorar nossas
relações e ajudar as outras pessoas a seguir esses caminhos. Perfeito.
Agora nós vamos passar a estudar nas próximas aulas as virtudes morais, que tem
a ver com as nossas paixões.

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