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A MORAL E A DIGNIDADE HUMANA NA ERA SECULAR

A MORAL SECULAR FLUIDA: Tim Keller

Como o mundo secular explica os valores morais?

"Ninguém pode impor sua visão moral aos outros porque todos têm o direito de
encontrar a verdade que está dentro de cada um".

Por que é impossível na prática ser um relativista moral coerente, mesmo quando nos
declaramos assim?
A resposta é que todos temos uma crença difusa, potente e inevitável, não apenas nos
valores morais, mas também no dever moral.
Nas palavras do sociólogo Christian Smith:

"Moral" (..) é um posicionamento em face da compreensão do que é certo e errado,


justo e injusto, que não surge a partir de nossos desejos ou preferências, mas, ao
contrário, existe à parte deles e fornece padrões com base nos quais nossos próprios
desejos e preferências podem ser julgados.”

Todos os seres humanos têm sentimentos morais. E o que chamamos de


consciência. Quando pensamos em fazer algo que sentimos estar errado,
costumamos nos refrear. Nosso senso moral, porém, não para por aí. Também
acreditamos haver padrões que "existem por si próprios" e nos servem de base
para avaliar os sentimentos morais. O dever moral é a crença de que algumas
coisas não devem ser feitas, não importa como o indivíduo se sinta a respeito delas,
independentemente do que digam o restante da comunidade e a cultura, sendo ou não
essas coisas do interesse do agente.

TEMOS A LEI GRAVADA EM NOSSO CORAÇÃO

“Até mesmo os gentios, que não têm a lei escrita, quando obedecem a ela
instintivamente, mostram que conhecem a lei, mesmo não a tendo. 15 Demonstram que a
lei está gravada em seu coração, pois sua consciência e seus pensamentos os acusam ou
lhes dizem que estão agindo corretamente. 16 Isso se confirmará no dia em que Deus
julgar os segredos de cada um por meio de Cristo Jesus, de acordo com as boas-novas
que anuncio.”
Romanos 2:14-16

Mesmo em nossa ERA SECULAR, as pessoas ainda nutrem fortes convicções


morais, mas, ao contrário de indivíduos de outras épocas e lugares, não
possuem nenhuma base visível para o porquê de acharem algumas coisas más e
outras boas.
É quase como se suas intuições morais flutuassem livremente no espaço, bem acima
do chão.

Moral e ética dizem respeito ao que DEVE SER é não ao que É.


NO MUNDO NATURALISTA E SECULAR não existe DEVER-SER, somente o que É.

É ERRADO VIOLAR A DIGNIDADE HUMANA?


POR QUE EXISTEM DIREITOS HUMANOS?
ELES SÃO ABSOLUTOS?
Existem duas tentativas de TEORIAS SECULARES para tentar explicar os valores
morais e os direitos humanos:

1) MORAL EVOLUCIONISTA:

Essa visão defende que os altruístas, aqueles que agem sem egoísmo
e com espírito de cooperação, sobreviveram em maior número do que
os egoístas e cruéis. Assim, os genes do altruísmo nos foram legados,
e agora a maioria dos indivíduos considera "certo" o comportamento
altruísta.
Existem, contudo, várias falhas nessa teoria, e ela tem recebido
críticas arrasadoras. O comportamento altruísta, de autossacrifício,
de um indivíduo em relação a um parente pode resultar em uma taxa
maior de sobrevivência para a família ou o clã desse indivíduo e,
consequentemente, em um número superior de descendentes
portadores do material genético dessa pessoa.

No entanto, acreditamos hoje que é certo sacrificar tempo. dinheiro,


emoção e até mesmo a vida em prol de um indivíduo ou de uma “tribo
de fora". Se vemos um total desconhecido cair em um rio,
mergulhamos imediatamente para salvá-lo, sob pena de nos sentir
culpados. Com efeito, a maioria de nós sentirá o dever de fazer o
mesmo, ainda que a pessoa que está em perigo seja nosso inimigo.
Como essa característica pode nos ter sido legada por um processo
de SELEÇÃO NATURAL?
Pessoas assim teriam menos probabilidade de sobreviver e transmitir
seus genes. Com base no naturalismo evolucionista estrito (a crença
de que tudo o que nos diz respeito existe em virtude de um processo
de seleção natural), esse tipo de altruísmo deveria ter desaparecido
da raça humana há muito tempo. Em vez disso, ele está mais forte do
que nunca.

2) CONSTRUTIVISMO SOCIAL:

Os valores morais são desenvolvidos ao longo do tempo nas sociedades


humanas, mas não podem ser absolutos. Isso porque o que é proibido em uma
cultura pode se apreciado em outra.

Nessa visão entende-se que as leis morais, em última análise, são arbitrárias, e
podem ser alteradas a qualquer momento, dependendo da forma como a sociedade
enxerga o mundo.

Sendo assim, o NAZISMO pode ser considerado correto, já que toda a cultura e
as leis morais de cada sociedade devem ser aceita.

Portanto, nem a teoria evolucionária nem a construtivista admite a existência de


obrigações, fatos ou absolutos morais objetivos. Isso quer dizer que embora
possamos sentir que o assassinato e o estupro são errados, sentimos isso só por eles
serem impraticáveis do ponto de vista dos nossos interesses egoístas - seja por causa
da nossa sobrevivência física, seja por causa do nosso bem-estar social.
Não são "errados" de fato, como se houvesse uma FONTE MORAL EXTERNA
aos sentimentos que nos são impostos pela biologia ou pela sociedade.

Alguns intelectuais argumentam que as intuições morais internas provenientes da


evolução ou da cultura criam sim a obrigação, mas não é verdade. David Bentley
Hart escreve que, mesmo sendo difícil resistir a desejos incutidos pela genética, NÃO
HÁ NADA QUE GERE O DEVER DE FAZÊ-LO.

FREUD ao tentar formular uma teoria secular EVOLUCIONISTA E CONSTRUTIVISTA


a respeito da moral, diz o seguinte no Livro “O Mal Estar na Civilização”:

“Após o homem primitivo descobrir que estava em suas mãos melhorar sua sorte
na Terra mediante o trabalho, não podia lhe ser indiferente o fato de alguém
trabalhar com ele ou contra ele. O outro indivíduo adquiriu a seus olhos o valor de
um colaborador, com o QUAL ERA ÚTIL VIVER. Ainda antes, em sua pré-história,
ele havia adotado o hábito de construir famílias; os membros da família foram
provavelmente os seus primeiros ajudantes. É de supor que a formação da família
se relacionou ao fato de a necessidade de satisfação sexual não mais se
apresentar como um hóspede, que surge repentinamente e após a partida não dá
notícias por muito tempo, mas sim estabelecer-se duradouramente como um inquilino.
Assim o macho teve um motivo para conservar junto a si a mulher ou, de modo
mais geral, os objetos sexuais; as fêmeas, que não queriam separar-se de seus
filhotes desamparados, também no interesse deles tinham que ficar junto ao macho
forte. Nessa família primitiva falta ainda um traço essencial da civilização; a
arbitrariedade do pai e chefe não tinha limites.
(ASSIM O HOMEM COMEÇOU A RESTRINGIR SEUS INSTINTOS – MORAL – DE
UMA FORMA UTILITÁRIA)
Em Totem e tabu procurei mostrar o caminho que levou dessa família ao estágio
seguinte da vida em comum, os bandos de irmãos. A vitória sobre o pai (MITO DO
PARRICÍDIO) havia ensinado aos filhos que uma associação pode ser mais forte
que o indivíduo. A cultura totêmica baseia-se nas restrições que eles tiveram que
impor uns aos outros, a fim de preservar o novo estado de coisas. Os preceitos do
tabu CONSTITUÍRAM O PRIMEIRO "DIREITO".

A vida humana em comum teve então um duplo fundamento: A COMPULSÃO AO


TRABALHO, criada pela necessidade externa, e O PODER DO AMOR ERÓTICO,
que no caso do homem não dispensava o objeto sexual, a mulher, e no caso da
mulher não dispensava o que saíra dela mesma, a criança. Eros (deus grego do amor
erótico) e Ananke (deusa grega da necessidade, restrição) TORNARAM-SE TAMBÉM
OS PAIS DA CULTURA HUMANA.
(...)
Essa luta (AMOR E NECESSIDADE) é o conteúdo essencial da vida, e por isso a
EVOLUÇÃO CULTURAL pode ser designada, brevemente, como a luta vital da
espécie humana. E é esse combate de gigantes que nossas babás querem
amortecer com a "canção de ninar falando do céu"!”

Afinal, "o que no geral tem sido benéfico para as espécies ao longo dos anos pode
não ser particularmente benéfico para um indivíduo no presente", e "se A
MORALIDADE FOR DE FATO UMA QUESTÃO DE BENEFÍCIO, e não UMA
OBRIGAÇÃO ESPIRITUAL QUE TRANSCENDE AS PREOCUPAÇÕES
PESSOAIS", então qualquer conjunto de diretrizes éticas, "assim como qualquer
outra ferramenta pragmática, PODE SER ADOTADO OU ABANDONADO
CONFORME A OPÇÃO DE CADA UM"

Em ambas as concepções, evolucionista ou construtivista, não há razão alguma para


não agirmos da maneira que desejarmos, se isso possibilitar nos sairmos bem
em termos práticos. ASSIM, A MORAL PODE SER ALTERADA A TODO
MOMENTO, DEPENDENDO DA UTILIDADE-NECESSIDADE DO INDIVÍDUO OU DA
SOCIEDADE.

A LEI DA MAIORIA NÃO SERVE DE BASE PARA A MORAL OU DIREITOS


HUMANOS:
(Tim Keller – Fé na Era do Ceticismo)

Se os direitos não passam de uma criação da maioria, não existe nada a que apelar
quando eles são cassados.

SE OS DIREITOS HUMANOS SÃO CRIADOS PELA MAIORIA, PARA QUE


SERVEM?
Só serão válidos se forem usados para forçar essas maiorias a honrar a dignidade das
minorias e dos indivíduos, a despeito do conceito DE “BEM MAIOR".
Sem a ideia de um BEM MAIOR não há justificativa para a maioria não impor
suas vontades.

DIREITOS NÃO PODEM SER CRIADOS. PRECISAM SER DESCOBERTOS, sob


pena de não valerem nada. Como conclui Dworkin:
«Se quisermos defender os direitos individuais, temos de tentar DESCOBRIR
ALGO ALÉM DA UTILIDADE que demande esses direitos".

OS VALORES MORAIS SÓ PODEM EXISTIR SE HOUVER PROPÓSITO NA VIDA:


(Tim Keller – Deus na Era Secular)

Porque jamais se pode fazer um juízo moral de alguma coisa sem que este venha
acompanhado de um exame de seu propósito determinado. Para defender Seu
argumento Macintyre usa a ilustração de um relógio de bolso.

Só sabemos se o relógio é BOM ou RUIM se soubermos o seu propósito.

No entanto, se não fizer ideia do propósito de um objeto, qualquer descrição dele


como "bom" ou "ruim” é inteiramente subjetiva e baseada somente em preferências
internas.
Como, então, podemos dizer se um ser humano é bom ou ruim? Só se
conhecermos o seu propósito, para o que a vida humana existe.

Se, como defende a VISÃO SECULAR, não fomos feitos para um propósito, então é
inútil até mesmo tentar falar em bem e mal moral.

O QUE É O HOMEM?

Na Filosofia Sócrates começa a pensar quem é o homem de uma forma mais racional.
Porém, a Sabedoria Hebraica (Bíblia) já pensava sobre isso muito antes:
Quem sou EU e o que me define?
O que é o BEM supremo e quem sou EU?

TRADIÇÃO CRISTÃ:

Podemos definir o homem através da Revelação Divina -


O homem é criado à imagem de Deus, com o PROPÓSITO DE SERVI-LO.

1)Relação com Deus;


2)Relação com o próximo;
3)Responsabilidade com a Criação

VISÃO SECULAR - NATURALISMO:

Não há criação do ser humano, nem propósito transcendente algum.

Podemos definir o homem a partir da comparação com os outros seres visíveis.


Ou reduzir o ser humano as áreas de estudos humanos: racionalidade,
sociologia, economia, anatomia (medicina), Psicologia.

COMO AMARRAR OU ORGANIZAR TODAS AS FUNÇÕES HUMANAS?


QUAL O ABSOLUTO?

A filosofia grega e Iluminismo quer colocar na RAZÃO.


A ciência coloca na BIOLOGIA.
A psicologia na MENTE E NOS SENTIMENTOS.
.

O CORAÇÃO HUMANO irá analisar a vida a partir do absoluto internalizado.

CORAÇÃO COMO CENTRO DAS VONTADES E PENSAMENTO HUMANO:


“Onde estiver o seu tesouro ali estará seu coração.”

Qual o BEM MÁXIMO para o ser humano? (modelo espiritual transcendente).

VISÃO SECULAR: ideal emancipatório terapêutico.


Autonomia e liberdade para fazer minhas vontades e buscar a felicidade.
Salmo 115
VISÃO CRISTÃ: O homem é a imagem de Deus e deveria se espelhar em Cristo.
Porém se buscar os ídolos irá ficar parecido com eles.
Não existe neutralidade, iremos colocar nosso coração em algo.

“O QUE DEFINE O HOMEM é esse BEM SUPREMO para qual toda existência é
lançada.” Guilherme de Carvalho

DIGNIDADE DO CORPO:

EXEMPLO: História do homem que enviou mensagem na internet oferecendo matar e


comer quem quiser. Esse homem teve várias respostas positivas, fez uma seleção e
escolheu uma pessoa. Eles jantaram juntos e depois foi morto, esquartejado e comido.
Esse homem quase é absolvido, pois a defesa alegava que foi algo consensual.
O QUE TEM DE ERRADO SE FOI CONSENSUAL?
A era secular diz que sendo consensual duas pessoas podem usar seu corpo de
qualquer forma. Tudo é correto desde que não atrapalhe ninguém.

VISÃO SECULAR: SOMENTE A LIBERDADE INDIVIDUAL É SAGRADA:


O corpo não é sagrado e não existe nenhum tipo de ordenamento sagrado.
Assim não existe nada que eu possa fazer de errado com meu corpo.
O crime de estupro não é contra o corpo, mas contra a liberdade da pessoa.

O corpo não tem um propósito. Comamos e bebamos porque amanhã morreremos.


Antigamente o problema com um corpo era resultado da visão dualista helenista de
que o corpo era impuro e o que importa é o espírito.
Hoje o corpo é utilizado para satisfação e liberdade do Eu.

VISÃO CRISTÃ: EXISTE UM LIMITE DA SOBERANIA SOBRE SI.


Ninguém existiu por si só, a vida e o corpo nos foi dado.
A liberdade é secundária em relação ao ser ou a existência, porque o que é seu lhe foi
dado.

Você não apenas tem um corpo, você é seu corpo. O Verbo se fez carne!

A DIGNIDADE HUMANA TRAZ CONSIGO UM COMPROMISSO SAGRADO PARA


COM O CORPO.
Por isso que O CASAMENTO E O SEXO REQUER UM COMPROMISSO entre as
partes.

Nosso corpo é um TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO, ele é sagrado e tem a dignidade


de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus.
Na impureza sexual o homem desonra o corpo que é o templo do Espírito.
Honra significa reconhecer o valor de algo.

Por isso que a nossa ressurreição diz respeito ao corpo tbm. A esperança cristã
não é que nossa alma sairá de nosso corpo e viveremos eternamente nesse espectro,
mas que o nosso corpo, que é parte de nós, será ressuscitado.
Cristo é o primogênito daqueles que ressuscitarão dos mortos.

O PROPÓSITO ÚLTIMO DO NOSSO CORPO É A RESSURREIÇÃO.

DIREITOS HUMANOS:
(John Stott – O Cristão em uma Sociedade Não Cristã)

A VERDADEIRA BASE PARA OS DIREITOS HUMANOS:

O conceito de direitos humanos tem uma história muito longa. Platão e Aristóteles
lutaram com as noções de liberdade e justiça, enquanto Tomás de Aquino e outros
teólogos medievais cristianizaram o pensamento dos gregos em termos de "direitos
naturais".

A Organização das Nações Unidas foi estabelecida em 1945. O preâmbulo de seu


estatuto diz: "Nós, o povo das Nações Unidas", estamos determinados a "reafirmar a
fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa
humana, nos direitos iguais de homens e mulheres e de nações grandes e pequenas
[...]" O artigo 1° fala da cooperação internacional a fim de "promover e encorajar
respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais para todos
sem distinção de raça, sexo, língua ou religião". O artigo 55 vai além e diz que as
Nações Unidas devem promover "respeito universal e observância dos direitos
humanos e das liberdades fundamentais para todos sem distinção de raça, sexo,
língua ou religião".

DE ONDE VÊM OS DIREITOS HUMANOS? EM QUE CONSISTEM?


O PODEROSO: “QUEM FOI QUE DISSE?”

O erro daqueles que argumentam com precedentes da antiguidade, a respeito


dos direitos do homem, é que eles não voltam o bastante na história. Eles não
percorrem todo o caminho. Param em alguns estágios intermediários de uns cem ou
mil anos [...] Mas, se continuarmos, chegaremos ao ponto certo; alcançaremos o
tempo em que o homem surgiu da mão de seu Criador. O que ele era naquele tempo?
Homem. Homem era seu título mais alto e único, e nenhum título maior pode ser dado
a ele.
Thomas Paine estava certo. A origem dos direitos humanos é a Criação. Os seres
humanos jamais os "adquiriram", tampouco eles foram concedidos por qualquer
governo ou autoridade. Nós os tínhamos desde o início.
Nós os recebemos com a nossa vida da mão do nosso Criador. São inerentes à nossa
Criação. Eles nos foram concedidos por nosso Criador.

Os direitos humanos têm-se tornado um importante artigo de fé de uma cultura


secular que teme não acreditar em nenhuma outra coisa. Tornou-se a língua franca
do pensamento moderno, assim como o inglês se tornou a língua franca da economia
global.

Assim, as pessoas que têm uma fé religiosa olharão para os seus ensinamentos
religiosos fundamentais à procura de sua visão sobre direitos humanos, estejam eles
no Alcorão, estejam na Bíblia, por exemplo. Essa é uma das razões pelas quais os
muçulmanos têm tido problemas com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para alguns, não há nada de universal na linguagem da declaração. Ela está arraigada
na linguagem e na filosofia do Ocidente e na sua ênfase ao individualismo e à
autonomia humana. Na verdade, quando a Declaração Universal foi redigida, em
1947, a delegação da Arábia Saudita objetou.

O que o Ocidente vê como universal pode ser encarado como ocidental pelo
resto do mundo, que tem toda a liberdade de ser crítico em relação a isso.
A linguagem dos direitos humanos é uma linguagem moral, no sentido de que é uma
tentativa de descrever o certo e o bom. Mas é, também, uma linguagem política.
Apelar aos direitos humanos não encerra um debate. Na maioria das vezes, inicia um
debate. Os direitos humanos não representam um trunfo moral.
É preciso algum arcabouço moral que vá além dos direitos humanos, do qual
eles possam extrair sua autoridade e que lhes forneça sua base.

A DIGNIDADE DOS SERES HUMANOS É AFIRMADA EM TRÊS SENTENÇAS


SUCESSIVAS EM GÊNESIS 1:27-28.

Em primeiro lugar, "Criou Deus o homem à sua imagem".


Em segundo lugar, "homem e mulher os criou"
Em terceiro lugar, "Deus os abençoou, e lhes disse: Encham e subjuguem a terra!".
Aqui, vemos a dignidade humana consistindo em três relações singulares que
Deus estabeleceu para nós por meio da Criação, as quais, juntas, compõem grande
parte da nossa natureza humana, e que foram distorcidas, mas não destruídas, pela
Queda.

1. A primeira é o nosso RELACIONAMENTO COM DEUS.


2. A segunda capacidade singular dos seres humanos diz respeito ao
RELACIONAMENTO UNS COM OS OUTROS.
3. Nossa terceira qualidade distintiva, como seres humanos, é a
RESPONSABILIDADE que temos com a terra e com suas criaturas.

RESPONSABILIDADE HUMANA- UM EXEMPLO DE CRISTO:

A Bíblia é radical nesse sentido. Ela ressalta que nossa responsabilidade é garantir
os direitos de outra pessoa. Devemos até renunciar aos próprios direitos a fim de
fazer isso.

O modelo supremo dessa renúncia responsável aos direitos é Jesus Cristo.

“Apesar de "existindo na forma de Deus", ele "não considerou que o ser igual a Deus
era algo a que devia apegar-se" (Filipenses 2:6-7). DURANTE TODA A SUA VIDA,
ELE FOI VÍTIMA DE VIOLAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS. Tornou-se um bebê
refugiado no Egito, foi profeta sem honra em sua própria terra, bem como o
Messias rejeitado pela classe religiosa de seu próprio povo, pelo qual ele tinha
vindo. Ele se tornou prisioneiro de consciência, recusando-se a aceitar um
compromisso para garantir sua libertação. Foi acusado falsamente, condenado
injustamente, torturado brutalmente e, por fim, crucificado.
E, durante todo o seu sofrimento, ELE SE RECUSOU A DEFENDER OU A EXIGIR
SEUS DIREITOS, para que, por meio de seu sacrifício próprio, ele pudesse servir aos
nossos.
"Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus", escreveu Paulo (Filipenses
2:5).
E PAULO PRATICOU O QUE PREGAVA. Ele tinha direitos como apóstolo (o direito
de se casar, o direito de receber apoio financeiro), mas renunciou a eles pelo bem do
evangelho, a fim de se tornar escravo de todos e, assim, servir aos seus direitos (veja,
por exemplo, 1Coríntios 9). A renúncia a direitos, por mais idealista que possa parecer,
é uma característica essencial da nova sociedade de Deus.
No mundo externo, pessoas afirmam seus próprios direitos e exercem autoridade.
"Não será assim entre vocês", Jesus disse. Pelo contrário, em sua comunidade,
aqueles que aspiram à grandeza precisam tornar-se servos; o líder precisa ser
escravo; e o primeiro, o último. O amor não busca seus próprios interesses, escreveu
Paulo. Essa postura fundamental, aprendida de Jesus, aplica-se a toda situação.”
JOHN STOTT

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