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Ela pesquisa as regras que governam o ser, o pensar e o falar. Assim, podemos nos
referir às dimensões ontológica, psicológica e lingüística desta disciplina.
(1) As coisas (os entes, os seres) possuem logicidade, pois não podemos de modo
algum assegurar que uma palmeira seja e não seja uma palmeira, que um cofo seja e
não seja um cofo, que um homem seja e não seja ele mesmo; ora, isto violaria o
princípio de identidade e levar-nos-ia a afirmações de coisas sem sentido, pois a
simples indicação de que uma palmeira é e não é uma palmeira acusaria um discurso
que contradiz a natureza deste vegetal. O que seria um homem que não é homem?
O que seria um leão que se recusa a ser leão? Uma lebre que se recolhe do ser
lebre? Enunciados semelhantes ferem de morte a natureza das coisas, isto é,
transgridem os princípios ontológicos.
(2) Também não podemos violar determinadas leis que regem nosso pensamento.
Estamos limitados por relações que não nos permitem fugir de nossa condição de
animal que busca a verdade. Tente, por exemplo, pensar em um homem que está e
não está sentado ao mesmo tempo, em uma águia que voa e não voa sob o mesmo
aspecto ou em uma flecha que foi lançada e não foi lançada sob o mesmo aspecto e
ao mesmo tempo. O nosso pensamento repele semelhantes disparates, pois julga
impossível que algo de assombroso se dê. Destarte, os mecanismos de nossa
psicologia requerem o respeito à lógica que os governa e, em todo caso de ataque a
esses princípios evidentes, nossa mente tenta afastar de si semelhantes absurdos.
(3) A nossa linguagem também é presidida por princípios, de maneira tal que não
podemos discursar de qualquer maneira, pois corremos o risco de cair em
contradição. Não é possível que alguém, ao enunciar que o tigre é tigre e não-
tigre, tenha a mínima pretensão de ser levado a sério, pois seu juízo, conforme
expresso por essas palavras, não é possível de ser verdadeiro. Qualquer um que
atribua um predicado a um sujeito e retire esse atributo põe-se a apresentar um
discurso sem sentido. Por exemplo: quem afirma que a farinha é d’água e não é
d’água, simultaneamente e sob o mesmo aspecto, simplesmente não definiu a
natureza da farinha e a ela predicou duas características que não podem ser
simultâneas, isto é, ser e não ser d’água, pois temos por certo que algo ou é ou não
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é farinha d’água, mas nunca as duas coisas simultaneamente e sob o mesmo aspecto.
Eis o caráter lingüístico da lógica.
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PRINCÍPIOS DA LÓGICA
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Aristóteles afirmou foi que não podemos sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo
aplicar um predicado a uma coisa (o sujeito) e retirar o predicado aplicado, isto é,
não podemos atribuir e retirar o mesmo atributo simultaneamente e sob o mesmo
aspecto. Não podemos, por exemplo, afirmar que “a moça é imperatrizense” e “a
moça não é imperatrizense” sob o mesmo tempo e aspecto, pois é impossível que
alguém seja e não seja imperatrizense. Não podemos, igualmente, afirmar que “o
imperatrizense é maranhense e não é maranhense”, que “o ludovicense é bonito e
não é bonito”, que “o coco é babaçu e não é babaçu”, que “Aristóteles é estagirita e
não é estagirita”; todos os exemplos sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo.
Quem aplica um predicado a um sujeito e retira o atributo aplicado cai em
contradição.
É impossível que sejam verdadeiros dois juízos contraditórios, pois não é possível
que algo seja sujeito de atribuições que se excluem. Um gato não pode receber o
predicado persa e no mesmo instante perder o predicado. O que seria um gato que
é e não é persa? — Simplesmente não seria coisa alguma, porque SER e NÃO SER
PERSA é impossível. Em síntese: não podemos aplicar um predicado e retirar o
predicado aplicado a um sujeito sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo.
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