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ARGUMENTOS DO RELATIVISMO MORAL E OBJEÇÕES

O ARGUMENTO DO DESACORDO MORAL: Muitos sociólogos e antropólogos salientam o facto


de os indivíduos, assim como todas as sociedades, por vezes discordarem sobre assuntos
morais (Facto Descritivo). Deste facto, alguns concluem que, consequentemente, os princípios
acerca do que é moralmente correto ou errado são puramente relativos, isto é, o relativismo
moral é verdadeiro e não há verdades morais objetivas (Pretensão Filosófica).

OBJEÇÃO 1: Mesmo que encontremos desacordo moral, o que se pode concluir daí? Não se
segue do facto de haver desacordo moral sobre um assunto que não haja uma verdade moral
objetiva sobre esse assunto. Por exemplo, suponhamos que estamos em desacordo acerca do
dia do nascimento de Barrak Obama. O simples facto de estarmos em desacordo não prova que
não haja uma verdade objetiva sobre o assunto. Isto é, não se segue que Barrak Obama não
tenha nascido numa certa data, ou pior, que não tenha nascido! Então, por que razão há de ser
diferente com os assuntos morais? O simples facto de as pessoas discordarem sobre assuntos
morais não prova por si só que não haja uma verdade moral objetiva.

OBJEÇÃO 2: Suponha que um relativista moral insiste em que o simples facto de haver
desacordo sobre a objetividade dos princípios morais prova que o objetivismo moral não pode
ser verdadeiro e que, consequentemente, não há verdades objetivas em ética. Ao dizer isto, o
relativista moral está a afirmar o princípio: “O desacordo sobre X implica que não há verdades
objetivas sobre X”. O problema é que isto nega a própria posição dos relativistas. É claro que
não há um acordo universal sobre a verdade do relativismo moral! Consequentemente, de
acordo com o próprio princípio do relativismo moral [que o desacordo sobre X implica que não
há verdades objetivas sobre X] segue-se que o relativismo moral não pode ser objetivamente
verdadeiro.

OBJEÇÃO 3: O desacordo está sobrevalorizado: em muitos casos os desacordos não são de


forma alguma desacordos morais, mas antes desacordos factuais. Por exemplo, muitas pessoas
que vivem na Índia não comem vacas porque acreditam na reencarnação. Isto é, elas acreditam
que as vacas podem ter as almas de seres humanos falecidos. Nos EUA não há a tendência para
acreditar que as vacas têm almas humanas. Por este motivo nós comemos vacas – mas não
comemos a avó. Superficialmente parece que entre indianos e americanos há um desacordo
fundamental sobre este princípio moral. Esta conclusão é precipitada porque para as duas
culturas é errado comer a avó: o que se passa é que os indianos acreditam que a vaca pode na
realidade ser a avó enquanto nós não temos essa crença. Assim, o que divide os nossos hábitos
alimentares é um desacordo relativo aos factos e não um desacordo sobre princípios morais
fundamentais. (Francis J. Beckwith, "Philosophical Problems With Moral Relativism." (Christian
Research Journal, Fall 1993, pp. 20.)

O ARGUMENTO DA TOLERÂNCIA: Frequentemente os relativistas defendem a sua posição


alegando que são mais tolerantes com as outras pessoas e com as outras culturas. Numa
sociedade multicultural é preferível ser tolerante em vez de intolerante. Uma vez que os
relativistas morais não acreditam que as suas crenças e práticas morais sejam mais verdadeiras
que as verdades morais dos outros, estes podem ser tolerantes num sentido em que o
objetivismo moral não pode. Portanto, o relativismo moral é preferível ao objetivismo moral.
OBJEÇÃO: Ao apresentar a tolerância como a virtude que todos devem adotar, parece que o
relativista moral está a apresentar a tolerância como um valor objetivo e universal. Mas isto é
inconsistente com a sua posição relativista que nega a existência de qualquer verdade moral
objetiva ou universal. Por que razão deveríamos fazer da tolerância uma virtude a valorizar se
todos os valores são relativos? Mais ainda, suponha-se um relativista que pertence a uma
sociedade cujo código moral exige que os seus membros sejam intolerantes com outras
culturas. Deve então esperar-se que ele seja intolerante, não tolerante!

ARGUMENTOS QUE PROCURAM MOSTRAR O ABSURDO DO RELATIVISMO MORAL

1. O RELATIVISMO MORAL É ABSURDO PORQUE É INCAPAZ DE FAZER DISTINÇÕES


MORAIS RELEVANTES. Considere estes dois argumentos:

1. Se o Relativismo Moral fosse verdadeiro, então a Madre Teresa não é melhor


que Hitler.
2. Mas é absurdo acreditar que a Madre Teresa não é melhor que Hitler.
3. Logo, O Relativismo Moral não é verdadeiro.

1. Se o Relativismo Moral for verdadeiro, então as crenças morais de uma cultura


não são melhores nem piores que as de outra qualquer.
2. Mas então torturar ocasionalmente crianças é perfeitamente correto apenas
porque essa é a crença da cultura que tortura crianças.
3. Mas isto é irracional e absurdo.
4. Logo, o relativismo moral é absurdo.

2. O RELATIVISMO MORAL E O PROBLEMA DO REFORMISMO MORAL: Suponha que um


ativista pensa que a sociedade precisa de melhorar e sente-se obrigado a propor certas
mudanças com o objetivo de melhorar a vida dos cidadãos. Tem havido momentos ao
longo da história da humanidade em que nos deparamos com estes reformadores – e
não são poucos, estão aqui incluídos muitos dos grandes reformadores morais como
Jesus Cristo, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, etc. Admiramos estas pessoas
precisamente porque não aceitaram simplesmente a sua sociedade como ela era, mas
porque ousaram mudá-la e melhorá-la.

PROBLEMA: O Relativismo Moral Cultural proíbe tal ação porque ela requer a aceitação da
sociedade. É assim porque o que é moralmente correto é definido em relação às crenças e
práticas morais da sociedade. Portanto, quem quer que advogue uma reforma moral não só
está enganado como está moralmente errado! Mas isto é absurdo. Portanto o Relativismo
Moral é inaceitável.

3. RELATIVISMO MORAL E IRRACIONALIDADE: De acordo com o Relativismo Moral


Individual, o que quer que eu escolha acreditar é certo ou errado apenas porque eu
acredito. Posso ter motivos que suportem a minha crença, mas posso não ter. Noutros
termos, na verdade não importa se eu tenho motivos que suportem as minhas crenças
morais. Por isso é consistente com a teoria afirmar que quaisquer que sejam as crenças
morais que defendo, são verdadeiras apenas porque acredito nelas. O Relativismo
4. Moral Cultural é semelhante. A única diferença é que o que está em causa é o que uma
Cultura crê ser correto, em vez de um indivíduo singular.

PROBLEMA: O problema é que isto é completamente irracional! Pense nisso. Imagine um


Relativista Moral (ou uma Cultura de Relativistas) que acredita que tem o direito moral de fazer
tudo o que quer. Então, viola, mata e tortura pessoas – e pode justificar tudo o que faz com o
prazer que isto lhe proporciona, ou com a sua necessidade de poder e de controlar, ou nem
apresentar qualquer razão! Claro que podemos responder dizendo que ele não tem qualquer
direito de maltratar os outros desta forma. Mas qual é o problema? Não haver qualquer
diálogo racional com uma pessoa assim (ou grupo de pessoas) porque ela não tem que ouvir
ou dar razões! Este é exatamente o problema. O Relativismo Moral acaba por se condenar a ser
uma teoria ética puramente irracional (e perigosa). E é por isso que uma pessoa ajuizada não o
pode aceitar.

Factos e valores
● Os juízos de facto têm claramente valor de verdade. E o seu valor de verdade é
independente das crenças ou gostos de quem os profere. Ou melhor: é independente
da perspectiva de qualquer sujeito.
● Os juízos de facto são totalmente descritivos. Quando são verdadeiros, limitam-se a
dizer-nos como as coisas são.
● Não é óbvio que os juízos de valor tenham valor de verdade. E, se são verdadeiros ou
falsos, talvez não o sejam independentemente das crenças ou gostos de quem os
profere. Talvez não o sejam independente da perspectiva de qualquer sujeito.
● Os juízos de valor são pelo menos parcialmente normativos. De certa forma
destinam-se a indicar-nos como devemos avaliar as coisas.

Subjetivismo moral
O subjetivismo moral é a teoria segundo a qual, embora existam factos morais, estes não são
objectivos. As afirmações acerca do bem e do mal, do que é certo e errado, embora sejam
proposições genuínas, são subjetivas: são verdadeiras ou falsas, mas não o são
independentemente dos sujeitos que as fazem. Segundo esta concepção, só existem opiniões
pessoais na ética e nunca verdades absolutas. A ética é um domínio em que cada um tem “a
sua verdade”, pois nele não existem factos objectivos. Para os subjetivistas os juízos morais
descrevem apenas os nossos sentimentos de aprovação e reprovação acerca das pessoas e
daquilo que elas fazem. O certo e o errado dependem, portanto, dos sentimentos de cada um.
Resumindo, o subjectivista pensa o seguinte:

Subjectivismo: Os juízos morais têm valor de verdade, mas o seu valor de verdade depende
da perspectiva do sujeito que faz o juízo. Há assim factos morais, mas estes são subjetivos,
pois só dizem respeito aos sentimentos de aprovação ou reprovação das pessoas.

Objeções ao subjectivismo moral


Imagina que alguém te diz que queimar pessoas vivas é uma ação louvável. Tu afirmas que
não. Se aceitares o subjectivismo moral terás de aceitar que a tua opinião não é melhor nem
pior que a da outra pessoa, simplesmente porque na ética não há verdades nem falsidades
independentes daquilo que as pessoas pensam. Só há opiniões diferentes.
Mas será que estás preparado para aceitar isto? Se te parece que sim, pensa numa outra
possibilidade. Pensa numa pessoa que acha que te pode sacrificar, apesar de seres uma
pessoa saudável e normal, para salvar o seu filho, que precisa de um transplante de coração.
Achas que isto é uma questão de opinião, ou achas, pelo contrário, que ela realmente não te
pode fazer isso? Se pensas que ela realmente não te pode matar para salvar o seu filho, tens
que rejeitar o subjectivismo. A aceitação do subjetivismo suscita assim diversos problemas e
um deles diz respeito à educação moral. Se educarmos coerentemente os nossos filhos de
acordo com a perspectiva subjectivista, teremos que ensinar-lhes apenas a seguir os seus
sentimentos, a orientar-se em função daquilo de que gostam e de que não gostam. Teremos de
lhes dizer que qualquer comportamento que venham a ter é aceitável, bastando para isso que
esteja de acordo com os seus sentimentos. Se uma criança de tenra idade tiver um sentimento
profundamente negativo em relação à escola, provavelmente pensará que não há mal nenhum
em faltar às aulas. E o subjectivista terá que aceitar que, para ela, é verdade que não há mal
nenhum em faltar às aulas.

O subjetivismo compromete-nos com uma educação moral que consiste apenas em ensinar
que devemos agir de acordo com os nossos sentimentos.

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