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O problema da natureza dos juízos morais

Subjetivismo, relativismo e objetivismo moral

O problema da natureza dos juízos morais

Subjetivismo Relativismo Objetivismo


axiológico axiológico axiológico
Subjetivismo moral/ axiológico
•Faz depender o valor de verdade do juízo moral única e exclusivamente do sujeito e da sua forma de
pensar

•o juízo de valor apenas expressa a posição de um sujeito em relação a um objeto (como o sujeito vê o
objeto) – reflete as suas preferências individuais

Assim, quando alguém afirma que “X é errado” está simplesmente a afirmar “eu reprovo X” e quando
alguém afirma “Y é correto” está simplesmente a dizer “eu a aprovo Y”

•reduz o juízo de valor às opiniões e sentimentos de um sujeito

• não há valorações certas ou erradas, todas são aceitáveis/válidas

•o seu valor de verdade não é independente da perspetiva do sujeito: ele é verdadeiro para o sujeito que o
emite

• reconhece que os indivíduos podem assumir posições diferentes e, por isso, deve haver respeito e
tolerância

• reconhece a pluralidade e a diversidade de posições valorativas

•Não há verdades morais objetivas e universais: não há critério para avaliar as diferentes valorações

1. O principal argumento que tem sido apresentado a favor desta perspetiva é o argumento dos
desacordos/ discordância

Baseia-se no facto de que não é muito frequente haver amplos consensos relativamente a
questões morais (aborto, eutanásia, estatuto moral dos animais, a justiça da guerra…)
O argumento pode ser apresentado assim:
P1- existem amplos e profundos desacordos no que diz respeito ao valor de verdade dos juízos morais
P2- Se além das nossas preferências pessoais e subjetivas, houvesse um domínio de factos morais ao qual
pudéssemos apelar, então tais desacordos não teriam lugar
3- logo, não há um domínio de factos morais além das nossas preferências pessoais e subjetivas (MT, 1 e
2)

2. Um outro argumento é o do conflito de valores

Nos juízos de facto, quando há discordância, há maneiras objetivas de decidir quem tem razão: observar as
coisas cuidadosamente. Mas e quando há conflitos de valores? Não parece que haja uma maneira objetiva
de decidir quem tem razão e é por isso que os valores são subjetivos

Serão estes argumentos fortes?


 estes argumentos implicam a ideia de que somos moralmente infalíveis: todos os juízos morais são
verdadeiros (para quem os emite) e, por isso, todos devem ser aceites (ou pelo menos toleráveis). Mas será
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Subjetivismo, relativismo e objetivismo moral

legítimo pensarmos que somos moralmente infalíveis? Se assim fosse, nunca teríamos boas razões para
mudar de opinião em relação a questões morais. Se assim fosse, nunca seria possível o progresso social
 obrigam a que toda e qualquer valoração tenha de ser aceite legitimando ações que atentam com os
direitos fundamentais do ser humano
 se é verdade que discordamos de muitos valores, não é verdade que discordamos de todos os valores. Há
um forte consenso quanto a questões relacionadas com a escravatura, o homicídio, a exploração de
mulheres e crianças… Pensemos por exemplo na Declaração Universal Direitos Humanos que mostra que há
um conjunto de valores fundamentais que, apesar de não estarem a ser respeitados em todos os países,
devem servir como guias orientadores
 Reduz os valores a questões subjetivas/ relativas é esquecer que há a possibilidade da chegada a
consensos por via argumentativa
 Quanto aos conflitos de valores: imagina que podemos criar uma lei que favoreça as mulheres na entrada
para a universidade. As mulheres talvez a aceitassem mas os homens não o fariam (conflito de valores). Faz
agora uma experiência mental: imagina que todos os indivíduos estariam cobertos pelo véu de ignorância.
Não seriam capazes de chegar a uma conclusão? Assim sendo, parece que encontrámos uma maneira
objetiva de resolver conflitos de valores.

Relativismo moral/ axiológico


• Faz depender o valor de verdade do juízo moral do que a maioria das pessoas de uma dada sociedade
/cultura considera correto (ao conjunto de normas acordadas pelos membros da sociedade)

• Os juízos morais são verdadeiros/ falsos no seio da sociedade em que são proferidos (para se poderem
avaliar têm de ser contextualizados na sociedade/ cultura a que se referem)

• O juízo de valor expressa o que uma sociedade considera como correto. O “certo” e o “errado” são
construções sociais e culturais

• São as convicções da maioria dos membros de uma sociedade as autoridades supremas em questões
morais

• Os juízos morais de cada indivíduo são verdadeiros se estiverem em conformidade com o que a sociedade
considera correto

• Não se devem formular juízos de valor acerca dos valores de cada cultura pois não existe nenhum critério
universal para determinar o que é correto e o que não é correto

• Todas as práticas / valorações devem ser aceites desde que estejam de acordo com a vontade da
sociedade em que estão inseridas

1. Um dos argumentos apresentados a favor do relativismo é o chamado argumento da diversidade


cultural

P1- Culturas diferentes têm códigos morais diferentes


P2- Se culturas diferentes têm códigos morais diferentes, então não há uma verdade moral objetiva, pois a
verdade dos juízos morais é sempre relativa à cultura ou grupo social onde estes são formulados, mais
propriamente a um conjunto de normas que os respetivos membros estão na disposição de acordar
3- logo, não há uma verdade moral objetiva, pois a verdade dos juízos morais é sempre relativa à cultura
ou grupo social onde estes são formulados, mais propriamente a um conjunto de normas que os respetivos
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Subjetivismo, relativismo e objetivismo moral

membros estão na disposição de acordar (MP, 1 e 2)

2. Também apresenta o argumento da tolerância

Afirma que se não aceitarmos o relativismo seremos intolerantes. Isto porque tentaremos impor os valores
da nossa sociedade a sociedades diferentes da nossa que pensamos estarem completamente erradas.
Teremos tendência para impor às outras sociedades os nossos próprios costumes e tradições como se
fossem obrigatórios. E iremos pensar que as sociedades diferentes da nossa são inferiores, primitivas ou
selvagens, quando na verdade são apenas diferentes e talvez até melhores, em alguns aspetos

Qual a tua posição acerca desta teoria? Parece-te que apresenta argumentos fortes?
 O facto de haver culturas com códigos morais diferentes não é condição suficiente para que não haja uma
verdade moral objetiva: pode dar-se o caso de haver culturas com códigos morais errados
 O facto de uma maioria dos membros de uma sociedade estar disposto a aceitar um certo código moral
não é condição suficiente para o legitimar. A maioria pode legitimar um sistema injusto e intolerante para
com uma classe minoritária. Assim sendo, o consentimento inerente a qualquer acordo é, na melhor das
hipóteses, uma condição necessária para a sua legitimidade, mas não é suficiente
 Deixaríamos de poder afirmar que há sociedades/culturas moralmente melhores do que outras. Obrigar-
nos-ia a tolerar culturas com pressuposto morais condenáveis como a escravatura, a perseguição religiosa,
a discriminação racial ou de género…
 Por outro lado, nunca poderíamos afirmar que ocorrera progresso moral/ melhoria moral pois apenas
poderia ter havido uma mudança
 Conduz ao conformismo: ao afirmar que uma prática é correta ou incorreta segundo os códigos morais de
cada cultura, apela à passividade perante os valores de uma cultura, anulando o espírito crítico e qualquer
perspetiva de evolução motivada por opiniões dissidentes

Objetivismo moral/ axiológico


• Os juízos de valor têm valor de verdade e este é independente de qualquer perspetiva: são
objetivamente verdadeiros (ou objetivamente falsos)
• Defende que existe um domínio de factos morais objetivos- não dependem da perspetiva de qualquer
sujeito, mas sim de certos padrões de avaliação aos quais os nossos juízos morais reportam
• Um juízo moral é correto é correto quando, independentemente dos nossos gostos, preferências ou
convenções, tem as melhores razões do seu lado. Por exemplo, nos finais do séc. XIX, na Europa,
discutia-se se as mulheres deveriam ter o direito de votar. Mas hoje acreditamos que o juízo de valor
de que as mulheres devem ter o direito de votar é objetivamente verdadeiro.
• Quando alguém afirma “X é errado” está a afirmar independentemente das nossas preferências
pessoais ou convenções coletivas, há boas razões para se reprovar algo; e quando alguém afirma que
“X é correto” está a afirmar independentemente das nossas preferências pessoais ou convenções
coletivas, há boas razões para se aprovar algo
• As avaliações têm de ser justificadas de uma forma que seja aceitável para qualquer individuo
racional, seja qual for a sua sociedade. Quanto melhor for a justificação que suporta o juízo moral, mais
razões teremos para considera-lo objetivamente verdadeiro
• É possível encontrarmos critérios transubjetivos que ultrapassam as perspetivas e subjetividades
individuais ou culturais e que podem ser utilizados para avaliar imparcialmente a moralidade de atos e
de práticas, podendo ser aplicados por todos os indivíduos racionais (independentemente dos seus
gostos ou interesses)
O problema da natureza dos juízos morais
Subjetivismo, relativismo e objetivismo moral

1. O argumento do objetivismo (Imparcialidade):


P1- Há juízos morais que são (não são) justificáveis de um ponto de vista imparcial
P2- Se há juízos morais que são (não são) justificáveis de um ponto de vista imparcial, então há juízos
morais objetivamente verdadeiros (falsos)
3- Logo, há juízos morais objetivamente verdadeiros (falsos) (MP 1 e 2)

P1- a Premissa 1 estabelece que certos juízos morais, como por exemplo, “A escravatura é justa” não
podem ter uma justificação imparcial (as razões que os esclavagistas apresenta a favor do seu direito a
possuir escravos não são imparciais- o escravo não defende essas razões)
Tomemos outro exemplo: a Clara defende que quem tem olhos azuis deveria ter mais direitos que os
outros. Quando lhe perguntamos porquê, ela afirma que tem olhos azuis e, por isso, esta medida ia
beneficiá-la. Parece óbvio que esta justificação não é imparcial pois beneficia o seu defensor.
Como é que podemos testar a imparcialidade de uma justificação? Usando o véu de ignorância.
P2- acrescenta que o facto de haver juízos morais com razões a seu favor que qualquer ser racional
pode assumir como suas mostra que existe uma certa forma de objetividade ética, ou seja, mostra que
há juízos morais objetivamente verdadeiros

Poderemos apresentar alguma objeção?


 alguns autores defendem que a ciência é um modelo de objetividade pois consegue-se um alargado
consenso relativamente aos aspetos fundamentais da maioria das investigações: forte indício a favor da
objetividade. Contudo, o mesmo não se verifica na ética. Os juízos éticos originam fortes
desentendimentos mesmo entre especialistas. Logo a ética não pode ser objetiva
 imaginemos que seriamos obrigados a agir sempre de acordo com princípios imparciais que não me
beneficiassem mais a mim do que aos outros. Seriamos um “Santo Moral”: uma pessoa rigorosamente
imparcial do ponto de vista moral. Teríamos uma vida pessoal totalmente realizada?

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