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Natureza dos juízos morais

A respeito deste problema há três


Valor - algo muito estimável, que merece
perspectivas teóricas distintas: o
ser defendido, procurado ou realizado, ou
subjetivismo, o relativismo e o
seja, uma meta importante a realizar.
objetivismo.
Existem potencialmente, pois para
existirem necessitam de algo onde nós
possamos colocar valor (necessita de um Subjetivismo moral
depositário e de um depositante). São
Segundo esta teoria, os juízos de valor
qualidades que atribuímos aos objetos.
exprimem/dependem das preferências do
sujeito. Se o sujeito expressa um juízo ao
Moral/Ética - domínio da ação humana no
qual diz ser verdadeiro, então é. Dados
campo da moralidade. Diz respeito à
dois juízos contraditórios, um subjetivista
diferença entre o certo e o errado, entre o
diria que ambos são verdadeiros (se os
que devemos e não devemos fazer.
sujeitos assim o disseram) e nenhum tem
mais razão do que o outro, pois cada um
Juízos - operação verbal da proposição
deles está apenas a manifestar a sua
(permite o pensamento negar/afirmar uma
preferência genuinamente. Assim, não
coisa acerca de outra coisa).
existem verdades universais, mas apenas
opiniões pessoais e cada sujeito tem a
Juízos de facto - são descritivos (visam
sua verdade, ou seja, não há verdades
descrever o modo como as coisas são).
universais mas sim individuais. E
Possuem valor de verdade pois se forem
nenhuma opinião é melhor que a outra.
descritos corretamente, são verdadeiros.
Diz ainda que os juízos morais são
Ex: O João mentiu à namorada.
manifestações/ expressões dos
Juízos de valor - são avaliativos. Através
sentimentos e preferências do sujeito. E
destes juízos pretendemos mostrar como
que não existem verdades morais
gostaríamos que a realidade fosse e não
objetivas pois TUDO É SUBJETIVO.
como ela é (são normativos). São
expressos através de sentimentos. Ex: “O
Argumentos:
João agiu corretamente ao ajudar a
- Argumento do desacordo: damos
Daniela a estudar”. (ao fazermos um juízo
nos conta que as pessoas
de valor, posicionamo-nos a favor ou
discordam. O desacordo só é
contra algo, fazendo uma avaliação e
possível porque não existem
expressando uma preferência).
factos morais objetivos pois essa
inexistência faz com que as
Neste problema, procura-se saber se os
pessoas discordem entre si (até
juízos de valor morais têm valor de
nas coisas mais simples).
verdade como os juízos de facto.

- Torna possível a liberdade


As três teorias defendem que os juízos de
individual: como só afirmamos a
valor morais têm valor de verdade.
nossa liberdade se nos for
O que as distingue é de quem diz que
possível expressar os valores e
esse valor de verdade depende.
juízos segundo os sentimentos e
Problema: “Terão os juízos morais valor
preferências de cada um, então se
de verdade?”
os juízos morais não
Se sim, levanta-se outro problema: “De
quem depende esse valor de verdade?”
dependessem de cada sujeito dessa sociedade) estabelecida em cada
violaria essa liberdade. sociedade. Assim, não devemos criticar
as outras culturas porque assim
- Promove a tolerância: como o estaríamos a achar que a cultura B é
certo e o errado dependem de pior/melhor que a cultura A. Então todas
cada um, toleramos opiniões e as culturas têm o mesmo valor, apenas
preferências dos outros porque são diferentes.
não há motivos para pensar que
os sentimentos de A são melhores Argumentos:
que de B. Assim, o subjetivismo - Argumento da diversidade cultural:
promove a tolerância, uma vez ao constatarmos que diferentes
que ninguém tem legitimidade sociedades têm padrões e códigos
para impor os seus valores a outra morais diferentes, o relativista
pessoa. argumenta dizendo que os juízos
de valor são relativos porque
Objeções: diferentes sociedades aceitam
- Não poderiam censurar ações diferentes juízos de valor morais.
claramente erradas pois segundo Essa diversidade cultural evita o
esta teoria o sujeito fez aquilo que etnocentrismo porque rejeita a
acha ser correto. Não poderíamos ideia de que há culturas superiores
condenar o Hitler, por exemplo. às outras. Assim, caso os juízos
- Torna impossível julgar de valor não fossem relativos às
moralmente (dizer que são certas sociedades, não encontraríamos
ou erradas) as ações dos outros. esta diversidade cultural.
Se todos estamos certos porque
defendemos o que sentimos, - Argumento da tolerância: ao
numa discussão, não faz sentido rejeitarmos o etnocentrismo, leva-
pretender que alguém mude de nos a ter uma atitude de tolerância
opinião ou argumentar que estão relativamente a valores de
errados. Esvazia assim também sociedades diferentes pois
de conteúdo toda a forma de nenhuma cultura está errada,
educar alguém. apenas são diferentes.

- Coesão social: o relativismo


pressupõe a coesão social, isto é,
Relativismo moral
a união dos membros da
Segundo esta perspetiva, os juízos morais sociedade e a adesão (pelo menos
são culturalmente relativos (a verdade ou da maioria) às crenças e princípios
não do juízo depende de cultura para morais estabelecidos. Fica assim
cultura). O juízo moral é verdadeiro numa garantida a sobrevivência de uma
sociedade quando a maioria dos seus sociedade.
membros acreditam que é verdadeira e é
falso quando acreditam que é falso. Para
os relativistas, na Ética não há verdades Objeções:
universais. O bem e o mal são - Não promove o progresso social
convenções ( padrões e costumes pois se nenhuma sociedade está
culturais estabelecidos na sociedade em errada, o diálogo entre culturas
que esta escolhe valores morais que seria absurdo e não haveria
passam a valer para todos os membros
mudanças nem aperfeiçoamentos da sua cultura) e universais (valem para
sociais (podemos compreender todos os seres humanos).
que a nossa cultura pode estar Para os objetivistas, os juízos morais têm
errada em certos aspetos e valor de verdade e a sua verdade é
igualmente criticar outras práticas suportada por boas justificações e razões
culturais, promovendo a imparciais. O objetivismo caracteriza-se
mudança). pela ideia de que um juízo moral é correto
quando, independentemente de gostos e
- É possível criticar de convenções, tem as melhores razões
construtivamente, numa do seu lado. Essas razões são imparciais.
perspectiva de diálogo As avaliações morais têm de ser
intercultural, alguns costumes de justificadas de uma forma que seja
outras sociedades, sem ser aceitável para qualquer indivíduo racional,
intolerante e etnocêntrico. seja qual for a sua sociedade. Para além
disso têm de ser informadas (envolvendo
- A coesão social (a minoria aceita a factos e conhecimentos). Quanto melhor
escolha da maioria) transforma os for a justificação que suporta o juízo
membros da mesma sociedade moral, mais razões temos para
conformistas porque “transforma” considerá-lo objetivamente verdadeiro.
os outros, já que têm de concordar
com a maioria. Não se opõem.
Os juízos de valor são, afinal, juízos de
- Pegando no argumento da facto sobre valores.
tolerância, os relativistas estão a
afirmar que temos de ser Argumentos:
tolerantes com a intolerância dos - Alguém pode estar errado: ainda
outros e que temos que aceitar que existam discordâncias em
práticas, mesmo que cruéis. relação a muitos valores, há, no
Exemplo: uma sociedade B adota entanto, concordância em relação
ser intolerante com a cultura A. A a muitos outros,
cultura A terá de ser tolerante com independentemente da cultura ou
a intolerância da cultura B perante de razões subjetivas (exemplo:
a cultura A. Assim, essa tolerância assassínio).
torna possível a tolerância de
determinado tipo de práticas. - Os defensores do objetivismo
alegam que este, contrariamente
ao subjetivismo e ao relativismo,
Relativistas são contra os direitos
humanos pois estes exprimem valores favorece a tolerância entre
morais universais que defendem que pessoas de sociedades diferentes,
não temos só os direitos que a cultura a já que cria condições para um
que pertencemos nos concede. autêntico debate intercultural e
Negando assim o relativismo. permite a descoberta de factos
objetivos.

Objeções:
Objetivismo moral - Divergências éticas: como as
Esta teoria defende que ALGUNS juízos sociedades têm ideias e costumes
de valor moral são objetivos (não muito diferentes. Os subjetivistas e
dependem dos sentimentos da pessoa e
relativistas dizem que se os juízos uma boa ação” é verdadeiro. Se outra
morais fossem objetivos seria de sociedade reprovar a ação de Paulo
esperar que não existissem tantas Gonçalves, então, para esta outra
divergências éticas. Assim, sociedade, o juízo “Paulo Gonçalves fez
existindo essas discordâncias, é uma boa ação” é falso. E nenhuma
porque não há factos objetivos. sociedade tem mais razão do que a outra,
Logo não há juízos objetivos. pois cada uma delas está apenas a
manifestar a sua preferência.
- Modelo da objetividade (ciência): o
uso de métodos empíricos no Um objetivista diria que a verdade do
domínio da Ética não prova a juízo “Paulo Gonçalves fez uma boa ação”
objetividade de um determinado não depende das pessoas nem das
juízo. Para que o cientista possa sociedades, pois há maneiras objetivas de
alcançar o método objetivo tem de determinar se o juízo é verdadeiro, tal
usar métodos empíricos de como acontece com os juízos de facto. O
experimentação. Assim não é objetivista não defende que todos os
possível, no domínio da Ética, de juízos de valor são objetivos, defende que
se provar a objetividade de um alguns o são.
determinado juízo.

Síntese
“Paulo Gonçalves fez uma boa ação.”

Será que podemos dizer que é verdade


que Paulo Gonçalves fez uma boa ação?

Um subjetivista diria que isso depende de


cada sujeito, pois os juízos de valor são
meras expressões das preferências das
pessoas. Se uma pessoa aprovar a ação
de Paulo Gonçalves, então, para esta
pessoa, o juízo “Paulo Gonçalves fez uma
boa ação” é verdadeiro. Se outra pessoa
desaprovar a ação de Paulo Gonçalves,
então, para esta outra pessoa, o juízo
“Paulo Gonçalves fez uma boa ação” é
falso. E nenhuma tem mais razão do que
a outra, pois cada uma delas está apenas
a manifestar a sua preferência.

Um relativista diria que isso depende de


cada sociedade, pois os juízos de valor
são meras expressões das preferências
sociais. Se uma sociedade aprovar a ação
de Paulo Gonçalves, então, para esta
sociedade, o juízo “Paulo Gonçalves fez

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